Você está na página 1de 68
PODEROSA MAFIA Ora Ud A sombria Cosa Nostra é uma | As mais notaveis construcées eee kU CE ee asc ley GN uke Rue) eee LEITURASDA #& TeV od Acapital do Império Khmer, COPE) Eire cee er cat) LENDARIAS Pe Oe Ore UC er eae neues POU CUCU ee oC OUR UE Rare ets CeCe CE Mr m acute ENTREVISTA: A RAINHA N’ZINGA E A LUTA PARA A LIBERTACAO DE SEU POVO DO DOMINIO PORTUGUES NVONQO) NN an meester NOBRASIL _ rraternipave Conheca os macgons que participaram dos processos civicos de nossa historia e saiba como se pratica a Maconaria no Brasil. VEJA TAMBEM OUTROS TEMAS DA COLECAO ARQUEOLOGIA | MONARQUIA | RELIGIAO Meany get Beene air) escdla IMAGEM PARA A HISTORIA | ReaceeteC he at A Imagem para a Histéria dessa edicdo traz dois tamulos de maos entre lacadas que tornaram célebre 0 cemité rio de Het Oude Kerkhof, em Roermond, na Holanda. Neles no esto sepultadas ersonalidades famosas nem importan- tes, mas um simples casal que se uni em 1842. Na época, JWC van Gorcum, © marido de 33 anos, era coronel da cava: laria holandesa, comissario da milicia de Limburg e protestante; ja sua espo- sa, JCPH van Aefferden, tinha 22 anos, vinha de origem nobre e era catélica. Apesar da segregacao politica-institu: ional, que determinava que cada pilar da sociedade deveria ter suas proprias instituigées sociais, _principalmente para que nunca se misturassem, ambos viveram em harmonia por 38 anos. Con- tudo, quando Gorcum morreu em 1880 € foi enterrado do lado protestante do ce- mitério, Aefferden queria, porém ja sabia que nunca iria descansar postumamente junto a ele, devido a religiao que seguia. De fato, quando faleceu em 1888, seu corpo foi levado para o téimulo de sua propria familia que ficava do lado catélico do cemitério, mas, coincidente- mente, bem atrés da sepultura do mari- do. Até entdo, se em vida o casal conse- guiu driblar a segregacao a qual foram submetidos, depois da morte estavam bem préximos, mas nao unidos como desejavam, pois um muro os separava. Diante dessa situagao, comovidos pela bela historia de amor de ambos, os pa- rentes pr6ximos idealizaram uma cons: trucdo original para conecté-los. 0 que ninguém esperava era que os ttimulos também iriam simbolizar o fim da pila- rizacdo social que, logo apés a Segunda Guerra Mundial, comecou a ruir, a pon- to de fazer os holandeses optaram por deixar de lado boa parte do sistema se- gregacionista na década de 1960. LEMTURAS DA HISTORIA | 3 Eater ee As arte irquitetura belissina, Com imensos tempt a CHINA ‘Amaioria das nacoes do continente asiatico faz fronteira coma China. Toda a costa maritima do pats 6 banhada pelo Oceano Pacifico e isto permitiu a répida expansao do dominio chinés por todo o continente. Logo no inicio da formacao das dinastias, 0s chi- rneses voltaram os seus estudos na elaboracdo de mapas, na cartogra- fia ena descoberta de novas rotas maritimas Seus portos nao $6 ofe- 22 INEVITAVEL DECADENCIA | 46 =. | feceram grandes opor- _ ae IMPOSTO DA CAPITACAO | twsitases em expancir 6 CAMILO AFONSO Entre os séculos, 16 17, noreino f de Angola, uma personagem viriase tornar um elemento de extrema relevancia na hist6ria africana. A rainha N'Zinga, soberana guerreira voluntario sa, foi de extrema importancia nas lutas para a libertacao de seu povo do dominio portugues ‘Também conhecida como Ta hepta Thaemata {as sete coisas dignas de serem vistas), a lista que foi elaborada entre os anos 150e 120 a.C., elegeu os monumentos s até entao pelas maos dos homens, que se destacavam por sua grandeza, suntuosidade, magnitude e historia os seus negocios por toda a regio, como au- xiliaram a dominagao doimpério Chinés Secdes asfixiava os brancos pobres e 0s pretos dando origem a um novo tipo de quilom- bo nas Minas Gerais dos anos setecen- tos. A guerra contra ‘Angkor, a capital do Império Khmer, foi uma joia preciosa no sudeste asiatico até o século 15. Sua queda deveu-se &prépria riqueza de seus habi- Simempen oti tantes, que despertou a cobica dos conquistado- | essas vilas organi- rese vida dissoluta que, por fim, aquelanacéo | zadas no demora- 14 Fatoseregistros veio a adotar ria a acontecer.. 20 Datas i 7 ATERRIVEL COSA NOSTRA Atiee nts Ahistéria da origem da Mafia ou 2B fanelaparao pasado Cosa Nostra, como & conhecida Popularmente, é tao sombria quan- 52 Gdahisticote Mares to.as proprias historias deseus personagens. Adjetivos nao faltam 64 Cartas para qualificar e descrever essa sociedade criminosa que, certa- 66 Genteesocedade mente, é a mais temida do mundo 4 | LETURAS DA HISTORIA EDITORIAL “A nossa civilizagao esta condenada porque se desenvolveu com mais vigor mate- rialmente do que espiritualmente. 0 seu equilibrio foi destruido,” Convergéncia cultural O antigo México era parte de uma regido muitas vezes designada como Mesoamérica - ou América do meio. £ uma regio com uma cultura nica, que inclui todo aquele pats, Belize e a Guatemala, estendendo-se em partes de Honduras. ‘A Mesoamérica, particularmente no vale do México, foi 0 coracdo das mais antigas civilizagdes do continente ea Améri- ca do Norte t8m sido apontada como a porta de entrada ~ ain- da em tempos pré-historicos ~ para os que migraram para as Américas vindos da peninsula da Sibéria através do Estreito de Bering hé 25 mil anos, por sobre uma espécie de “ponte” de terra que existiu durante a iltima Idade do Gelo. Ha também a renga de que alguns intrépidos e primitivos aventureiros pos- ‘sam ter atravessado pela 4gua, constituindo o que seria uma travessia transpacifico ~ e que levava muito tempo. Independente do meio como chegaram, os primeiros povos das Américas eram cacadores e coletores que acompanhavam ‘as migragées dos animais de caca. 0 lanoso mamute e o biséo ‘americano, por exemplo, faziam parte de sua dieta. As pessoas eram de pele escura, com cabelo e olhos escuros, com uma ca- racteristica anat6mica singular: 0 epicanto - aquela pequena dobra de pele que cobre o angulo interior do olho, junto a parte superior do natiz, caracteristica de alguns povos orientais - remetia sua origem aos mong6is siberianos. Os chineses, japo- neses e todas as pessoas de origem mongol tém essa caracte- ristica, o que nos leva a crer em um mesmo ancestral comum, Em cerca de 5.000 a.C., deu-se os primérdios da agricul- tura na Mesoamérica. Construir cidades no México antigo era lum processo lento para os mesoamericanos que nao faziam uso da roda. Bestas de carga, tais como gado e cavalos eram CONSELHO EDITORIAL ‘Abert Schweltzer (875-1965) fo! um tedlogoefldsofoalemso. desconhecidos e, ao longo dos préximos 2 mil anos, estruturas de pedra magnificase piramides seriam construidas a mao. As pedras usadas para construir essas estruturas seriam trans- portados por carregadores humanos. Ainda hoje, arqueélogos e antropélogos lutam para entender como muitas das pesadas pedras foram movidas, considerando que algumas dessas pe- dras pesavam mais de uma tonelada. Em 1500 a.C., 05 centros urbanos e cerimoniais estavam sendo construidos nas terras baixas da costa do golfo do Mé- xico por um povo conhecido como os olmecas ~ considerados, muitas vezes, como a “cultura mae” da Mesoamérica. No oeste do México por volta de 500 a.C., 0s primeiros vilarejos surgi- ram no vale de Oaxaca. Estas “cidades” constituiriam as pri- meiras sociedades politicas complexas da regio. Acsstrutura social também se tomnou mais definida durante este periods refletindo a distingao entre nobreza, plebeus e trabalhado- tes, Os periodos de crescimento cultural so definidos como pré- -classico (formativo), cssico e pés-clissico. Embora tenha havido lum avango na estrutura social e politica no decorrer desses perio- dos, a maioria das culturas mesoamericanas permaneceu agricola, Demos inicio nesta edigéo da Leituras a uma série de re- portagens que vai tratar das fascinantes civilizagées mesoa- mericanas, de seus grupos ndmades e ingénuos, até o final da {iltima civilizagao pré-colombiana, patrocinado pelos ganan- ciosos conquistadores espanhois. Boa leitura! Valter Costa leiturasdahistoria@escala.com.br (© consetho ea reda¢ao nao se responsabiizam pelos artigos ecolunas assinados por especiaistase suas opnicesneles expressas) \Valic rancisco Muar, professor doutor da LFSC responsive po discptna sobre o Brasil Colonial Misses estas, Tera da HistriaeColnizaio, Cultura eldentdade. PblicagBes mais elevates: uvntude Opera Catia: Uma Utopia Opera, Bibiogaia Cicada Etnorafla Guarani, Pade Arno Vea: etic e Utopia. Monica Grin ¢ professor adjunta em Misra Modema e Contemporinea do artamento de Histria edo programa de pds graduacio em Histra Social da Universidade Federal do Rio de anera, Aeatemstica de ensnoe peseuise: pis aboliao, eiidade relages ras, racism, antisemitism, migragaoeestudos judas. tua Esperanga Roca, doutorem Msta pela Universidade de So Plo (USP), professor de Mista Atiga nto 20 Departamento de Hist da UNESP, campus de Asis Mata Helena Capel, professor itr do Departamto de Hsia da FLCH USP professor de Histra da América Independent ro mesmo department, pesquisa rorama de pés-eraducio ens Compared (UFR eo Cons Programa dean defstuosde Reaestemacionais, Seawanae ‘Desa Naa (CA) Prodefesa)Pindpaspubcaes: Rts and Loong i S80 Pau iy 183"ILAS, Unive Glasgow, 996 Folum ds oganizades om rans Caos Teta da Siva a Encl de Guo Revlues do Século XX Esevier/Campus, 2004, LEITURAS DA HISTORIA | 5 ENTREVISTA | Camilo Afonso N’ZINGA RAINHA GUERREIRA, HEROINA LIBERTADORA Entre os séculos 16 e 17, no reino de Angola, uma personagem viria se tornar um elemento de extrema relevancia na histéria africana. A rainha N’Zinga, soberana guerreira voluntariosa, foi de extrema importancia nas lutas para a libertacao de seu colonizagao portuguesa da Africa, a0 contrario de ter sido recebida pelos negros de maneira passiva, sempre foi alvo da oposi¢ao por parte dos africanos. O 6 | LETURAS DA HISTORIA povo do dominio portugués Por Luiz Muricy Cardoso reino de Angola (ou N'gola, como era chamado) foi um em que varias lutas sangrentas se desenrolaram contra 0 dominio dos portugueses. Assim, em 1618, Ngola Mbandi, o régulo do reino de Matamba (que iia ser incorporado posteriormente a Angola) sublevou-se contra a dominacao. Foi, entretanto, derrotado pelas focas do comandante Luis Mendes de Vasconcelos Ngola tinha uma irma. A rainha N7Zinga, herdeira de Guenguele Kakom- be e de sua mae Nzinga Mbande Ngola Kiluaje, comecou a se tornar conhecida em 1621, quando foi enviada por seu ir ‘mo para uma conferéncia de paz como governador portugués de Luanda, capi tal de Angola. N’Zinga, depois, iria der- rotar os portugueses leais ao governador Jodo Correia de Sousa. Ela, que havia adotado a religido crista, tinha sido en- tdo batizada - em atengao aos portu- ‘gueses ~ como Ana de Sousa, pois tinha anteriormente feito um acordo com os colonizadores. N’Zinga, que depois iria S€ opor aos portugueses, ficou antes do lado deles na disputa para opor-sea seu irmao, que apés utilizar-se dela como mediadora, matow-Ihe o filho. Por isso ela matou N’gola Mbandi por envene- namento e tomou para si a coroa. Notem ue de escaramuca em escaramuga tan- to ela quanto o irmao mudaram de alia- dos a inimigos dos portugueses. ‘Apés aquela fase 0s portugueses destespeitaram 0 acordo que haviam estabelecido com ela. Entéo N’Zinga, aliando-se aos temidos Jagas e casando- se com o chefe deles, conquistou o rei- no de Matamba e moveu afinal a guerra contra os colonizadores com quem havia se aliado anteriormente. N’Zinga tornou-se famosa por sua ousadia. Voluntariosa, liderava ela ‘mesma suas tropas nas batalhas. Seus MENDES DE VASCONCELOS. i A RAINHA N'ZINGA CONVERTEU-SE AO CRISTIANISMO E ADOTOU © NOME PORTUGUES DE DONA ANA DE SOUSA stiditos foram obrigados a traté-la como “Rei”, ao invés de “Rainha”. Diz-se que sentavarse num trono feito de seres hu- manos e que chegou a constituir para si um harém de homens. Os Jagas, com quem se aliou, eram guerreiros ndma: des. Muito belicosos e disciplinados, vi viam em acampamentos chamados qui- Jombos, que mudavam de sitio de acordo com as necessidades criadas pela guer ra, Entre 0s Jagas recebeu o titulo mais relevante: “Tembanza”. No comando da- queles guerreiros organizou-os politica- mente e impés a hereditariedade a seus titulos de nobreza, uma pratica que no ‘eracomum entre eles. O poder de fogo de N’Zinga aliado aos Jagas foi de extrema importancia para que eles impingissem sérias derrotas as tropas portuguesas. 0 Reino de Matamba $6 foi efetivamente ‘ocupado por N'Zinga em 1630. Como ra: inha de Matamba ela, informada sobre a invastio de Angola pelos holandeses, aproveitou para se unir aqueles contra 0s portugueses. Assim, com 0 apoio dos novos aliados, estabeleceu uma rota de comércio entre Matamba e Luanda, que agora estava sob dominio holandés e passou a trocar mercadorias europeias e armas de fogo por escravos. Camilo Afonso, Diretor da Casa de Angola na Bahia e adido cultural da Em- baixada de Angola no Brasil tem uma opiniao propria sobre N’Zinga. Segundo ele hé muita mistificagdo em torno da LEITURAS DA HISTORIA | 7 ENTREVISTA | Camilo Afonso pessoa da rainha, Ele contesta as afir- mages que a identificam como uma so- berana prepotente e autoritaria. Prefere creditar essa imagem ao preconceito dos europeus e diz que muito do que se fala sobre a rainha 6 com a intengio de “es- camotear” sua imagem. Por exemplo, em relacéo a afirmacao de que a rainha costumava sentar-se sobre um trono humano, ele diz que ¢ muito ex: erada e conta que a “lenda” teve origem num acontecimento episédico em que, nu entrevista como governador de Portugal, N’Zinga teve sua honra desrespeitada ao Ihe ter sido oferecida apenas uma almo: fada para sentar-se, Entéo, ainda segun- do Camilo Afonso, uma de suas servas, numa demonstracao de humildade e pro fundo apreco a sua senhora, ofereceu seu préprio corpo como assento. Oadido cul tural angolano deplora a visio europeia sobre os povos africanos e prefere inter- pretar 0s fatos, como ele diz, “de acordo com a narracdo de nossos ancestrais”, desatrelada da visio preconceituosa dos antigos colonizadores. ras da Historia - Qual a im- portancia de Nzinga par ahistéria de Angola e do povo africano em geral? CAMILO AFONSO - A soberana Ngola Nzinga Mbande (1582-1663). filha de Ngola Mbandi Kilwanji e de Kengela- ka-Ngombe, que reinou no Estado do Filosofia AZULEJOS DA FORTALEZA DE LUANDA REPRESENTANDO: i) Barismo ba RAINHA N'ZiNGA EM 1622, NAIGREJA MATRIZ DE LUANDA, @) RECEPGAODO GOVERNADOR JOAO Correia De SOUSAA RAINHA N’ZINGA NO PALACIO DO GOVERNADOR DE LUANDA, Ndongo, hoje fazendo parte da Repé: blica de Angola, ao converter-se ao cris- tianismo, ficou batizada com o nome de Ana de Sousa, que tomou de emprésti mo da sua madrinha, D. Ana de Sousa, esposa do entao Governador de Luanda, Joo Correia de Sousa. A Ngola Nzinga Mbande, para a historia de Angola é uma figura incontornavel, ela faz parte da grande gesta de herdis nacionais, que logo nos primeiros momentos da presen: (6a portuguesa, nos espacos do estado do Ndongo e Matamba, sobretudo, em pleno século 17, no periodo tao c do trafico dos escravizados, em qu filhos destes espacos foram arrancados a forca e trazidos aos milhares para 0 Brasil, América e Caribe. Ela se opds de forma enérgica ao to hediondo sistema de tréfico de escravizados imposto aos africanos e bateu-se de corpo e alma para por fim ao comércio de escraviza- dos nos espagos sob sua jurisdigéo a saber, Ndongo, Matamba e Kassanje ~ sendo este diltimo um espaco fronteitigo entre os Ambundu e os Cokwe/Tehok- ‘we, na parte leste de Angola, que foi um mercado privilegiado dos portugueses e seus pombeiros na “compra” de vidas humanas. Ngola Nzinga Mande, repre- senta para a hist6ria de Angola, a figura primaz da mulher angolana nas lutas de resisténcias travadas contra 0 colonia- lismo portugués em Africa. Simbolo da mulher angolana, pelo seu exemplo e firmeza contra o opressor, pela sua bra- vura nas lutas de resisténcias, pela sua atitude e astticia diplomatica perante as entidades portuguesas, 0 que afinal Ihe a lugar de ser considerada a mulher di- plomatica de Angola e da Africa. LH-Comoelaatuow efetivamente na politica? CAMILO ~ Ela fez negociagoes di plométicas no sentido de normalizar relacées entre 0 Estadio do Ndongo e os ortugueses que cobigavam os vastos territérios do seu estado e das si quezas, sobretudo as humanas e mine- rais, Ajudou as formar coligagdes com 08 Estados vizinhos, do Kongo, Kissa- ma, Benguela e outros préximos, para a constituicgo de uma frente tinica de luta contra os invasores portugueses. Soube demonstrar aos portugueses que amulher africana tem capacidades para ombrear com os homens em todas as frentes de lutas. Dai, muitas das jovens mulheres angolanas no perfodo da luta de libertagao nacional e das novas gera- Ges terem abracado seu exemplo de luta e de resisténcias, e entregarem-se de corpo e alma nas diferentes frentes de lutas havidas em Angola contra 0 colo- nialismo portugués. E como prova mais que evidente, para quem visita Angola, encontra erguida numa das pracas, da ENTREVISTA | Camilo Afonso Nii 1, vl i ie pos A RAINHA N'ZINGA EM NEGOCIAGOES DE PAZ COM 0 GOVERNADOR PORTUGUES EM LUANDA, EM 1657 nossa capital, o Memorial das Mulheres Heroinas de Angola. Fla ajudou a sedi: mentar os pilares da formacao da cons: ciéncia nacional da mulher angolana e do Povo Angolano, pela sua coragem e bravura, até ao aleance da Independén- cia Nacional de Angola. Para a historio- grafia africana, Ngola Nzinga Mbande faz parte das principais figuras das mu- Iheres africanas que se bateram nas di: ferentes frentes de lutas, e sob todas as formas de resisténcias ede emancipacao da mulher africana. LH - Diante de tantas conquis- tas é correto dizer que ela figura entre as mulheres mais proeminen- tes da Historia? CAMILO - Ela faz parte do pantedo do nacionalismo africano. Nao fica a ESTATUA DA RAINHA N’ZINGA, EM LUANDA, ANGOLA 410 | LEITURAS DA HISTORIA perder nada, se for colocada ou compa- rada a uma Joana D'Arc, Cleépatra, Ze- ndbia, Semiramis etc., de outras figuras femininas que se destacaram por todos lados do mundo, e que fizeram a mes- ma historia, apesar de ser em contextos diferentes. Ela é filha de Africa e como tal, @ estudada e dignificada no seu papel de mulher na luta libertadora do continente afticano e do nacionalismo africano. £ uma personalidade femini africana das mais fascinantes da ria da Africa. Na diéspora africana, a soberana Ngola Nzinga Mbande é muito conhecida e respeitada pela sua trajet6- ria de luta no contexto africano contra a invasao colonial portuguesa, do trafico de escravizados e do respeito pela digni- dade da pessoa humana, sobretudo, do Homem Africano, LH — A rainha Nzinga deixou descendente? CAMILO ~ A rainha Ngcla Nzinga Mbandi teve um Gnico filho ao longo da sua vida, que muito cedo foi morto pelo seu irmao Ngola-a-Mbandi. Este temen do vir a ser substitufdo pelo sobrinho, segundo as regras de sucessao em Afri- ca, do sobrinho filho da irma herdar ou substituir 0 tio no exercicio do poder. Pois, temendo a sua sucessioe a dispu- ta pelo poder decidiu matar o sobrinho. ‘As outras duas irmas, para além da Ngola Nzinga Mbandi, a Kambo e a unji, nao deixaram descendentes, Pois, existem as familias da linhagem dos Ngola, na Provincia de Malanje em An- gola, que sao a sede dos antigos espagos do estado do Ndongoe de Matamba. LH - Nzinga é muito estudada nas escolas em Angola? CAMILO - 0 programa deensino da historia de Angola e os seus programas curriculares t8m nos seus contetidos as matérias referentes ao estudo das Lutas de Resisténcias contra a ocupacao colo- nial portuguesa, e dos heréis aacionais. Logo, a Ngola Nzinga Mbandi, consta das matérias de estudo da hist6ria de Angola, desde os manuais do ensino de base (fundamental no caso do Brasil), do ensino médio até as Universidades. Isto 6, para as Faculdades de Letras, eee eee SS oe ee Ree Tee) Co ee eR On Rat ced ea nee ee o eR es ene ay Tee Min eet ome e eo eee as escolas brasileiras ensinam tudo sobre a Hist6ria e a cultura europeia, mas De ee eS PAL ee ee ec Pee een ee ee ee eee se Ed BROCE Ee ec ele Pol ih ti Pee en eee ee Se eee eT Oe Oe eet eon era mais de trés anos desde 2006 e foi reapresentada em 2013. 0 espetaculo foi pa- Se ee Cece ca eid poe eee PCa tare Ce ee ed ‘ginga (que é a prondincia mais correta de seu nome) remete a sua personalidade eC ec tenn ieec ae eT Oe Faculdades de Ciéncias Sociais e Huma- nas, do Instituto Superior de Ciencias de Educagao e outras instituigdes afins que se vo criando no pais. LH - Ha alguma data em que ela éreverenciada em Angola? CAMILO AFONSO ~ Claro que sim, Sendo ela uma heroina nacional, a sua data de nascimento € comemorada em todas as frentes culturais, na poesia, na danga, no teatro, no cinema, nos escritos lilerdrios e com vérias obras e artigos so- bre esta nobre filha de Angolaeda Africa. Lil ~ Em 1982 completou-se 400 anos de nascimento. Como foram as comemoragoes? CAMILO ~ Em relagdo as comemo- rages alusivas a esta grande figura his- torica angolana, 0 Governo Angolano, or meio do seu Ministério da Cultura e do apoio da UNESCO elaborou um vasto Programa cultural, a0 qual se agregou uma outra figura historica da diaspo- a africana de Martinica, Aimé Cesaire =o homem da negritude que, por esta altura, completou o seu centenario de nascimento. Porém, da_justificativa desta dupla comemoracéo, sobressai 0 seguinte: “A celebracio dupla concorre para aumentar 0 conhecimento do pa- pel de Figuras da Historia comum que influenciaram diretamente ou indireta- mente 0 atual estado dos paises africa- nos, livres e soberanos, que se livraram. da saga da colonizagio. Como o conti- A RAINHA N'ZINGA COM SUA COMITIVA DE SOLDADOS, MOSICOS E PORTA-ESTANDARTES, nente afticano se revé na ago de figuras da resisténcia 4 ocupacao colonial que tem na soberana Nzinga Mbande, como fcone dessa luta, e cujo eco transcende as fronteiras de Angola e se repercute nas Américas e no Caribe para onde fo- ram levados os milhares de africanos, que naqueles territ6tios recriaram a Cul tura ea Historia Africana”, LH ~ Quais foram os objetivos dessa fuso de homenagens a essas figuras histéricas? CAMILO ~ Eram varios! Procurou- se divulgar, valorizar estas grandes figuras da Historia Universal, no pais e no estrangeiro; aprofundar o conheci- mento historico sobre estes dois fcones da resisténcia africana; reconhecer 0 contributo da soberana Nzinga Mban- de e de Aimé Cesaire para consolidar os valores endégenos africanos pela reabilitagao dos lagos entre a Africae a Diaspora; resgatar e reconstituir a me- méria ea identidade enquanto processo de construgao da histria da Africa; re- LEMURAS DAHISTORIA | 11, ENTREVISTA | Camilo Afonso RAINHA N'ZINGA, visitar a tematica sobre Nzinga Mbande a merecer novas leituras face a maior disponibilizacao das fontes escritas, e maior possibilidade de recurso as fontes orais; contribuir para uma correta leitu- ra do papel desempenhado pela perso- nagem Nzinga Mbande no quadro geral da histéria de Angola, outrora muito prejudicada pelas correntes conserva doras; promover junto dos jovens inves tigadores angolanos o interesse para os estudos sobre a histéria da soberana e da sua época; promover a realizagao de manifestagdes artisticas e culturais, a partir do legado historico e cultural da soberana Nzinga Mbande; além de con: tribuir para a educacéo patridtica dos jovens angolanos; para o resgate dos va- lores, morais, c e para a supressio dos antagonismos do passado, a divisio, a dominacao, os e tereétipos, no contexto da globalizacao hoje, oferecendo ao continente africano como a didspora um projeto de afirma- ‘do coletiva e de didlogo para o renasci mento cultural africano, LH - Culturalmente falando foi um projeto bem amplo. Como foi possivel desenvolvé-lo abordando todas essas frentes? CAMILO - 0 programa constou com das fases, na 1* Fase, em Luanda, hou: ve exposi¢ao documental e iconografica Itinerante sobre Nzinga Mbande e Aimé Cesaire a partir de documentos origi- nais da época. Produziram uma Moeda ou Medalha Celebrativa do aniversario de morte da soberana Nzinge Mbande, além de um selo celebrativo. Fot orga- nizado o Seminario Internacional Plurt- disciplinar (Heranga intelectual), além de Conferéncias e Palestras no pais ¢ no estrangeiro sobre o papel desempe- nhado por Njinga Mbande e Aimé Ce- saire na Histéria de Libertacao de Afri ca, J@ na segunda fase, com 0 apoio da UNESCO, em Paris, houve um Coléquio Internacional sobre Nzinga Mbande e Aimé Cesaire, com o objetivo de valori- zar os aspectos como ética, estética ea espiritualidade na heranga emblemati ca desses personagens. E também uma exposigio itinerante em paises de trés continentes ~ Africa, América e Europa. LH - Existem monumentos em ho- menagem a Nzinga? Onde estao eles? CAMILO AFONSO - Em Angola ha monumentos em homenagem a so- berana Ngola Nzinga Mbande e outras figuras herdis das lutas de resisténcias contra a colonizago portuguesa. Na ci dade Capital, Luanda e nas provincias O FIM DA VALENTE ANGOLANA Peer ne tC mG ace eer oh bane MCR ea ewe re tte Petcare Cree tere nee nee eee ed Tie ere ore een eerste ree eer tt me menos da forma como era conhecida, 0 fato parece ser que a rainha de Angola também apresou e comerciou com escravos Demon C cn Rene k: fret eee ieee eres eee tee Cte ee tie ees ue eat ecm terre et eect nearer Porta tenes oo ee er en eer seen reer tee enc er Meer eee a aconteceu uma derrota das forcas leais rainha. Gaspar Bur dade tantas v lutadora, ainda que movida tant up Pee tts cee ets cmt Tete teenie Cee eG Cetera Toe Foi entre 1641 e 1648 que os holandeses ocuparam Luanda. Com 0 apoio das tropas leais a N Sete tea jaemi64; ges de Madureira, o comandante portu Pete n ean mi nee ene te erected Pere ecu cO erect een anc noe COR eet fen occas ent grou ex-escravos e praticamente extinguiu o trafico de c ort verre de e forca moral entre os portugueses. Apés a morte de N ee re COT eon eect) no Brasil nnte dominio de Portugal sobre Ang ee ore? Setar tars ern ee eerie etecet Je Sorat Sewer once 42 | LETURAS DA HISTORIA de Cuanza-Norte e Malanje. Por outo lado, existe no pais um projeto cultural em curso, que visa a Valorizagdo do Pa- triménio Cultural e das Figuras Histor cas Nacionais. Claro, que a progressio se vai registando mediante o projeto de desenvolvimento socioeconémico de cada regiao ou provincia. LH - Que ligdes a vida de Nzinga pode dar ao negro e para a humani- dade em geral? CAMILO AFONSO - Ao povo ne- ‘g10 que tem lido sobre a soberana Ngola inga Mbande, que tem jé dentro de si oespirito da mulher lutadora, basta ver eller os escritos sobre ela, na literatura, na Capoeira Nzinga, no teatro, a comi: da da Nzinga, no cinema, enfim, o seu espirito de lutas de resisténcias contra oopressor, o seu espirito humanista de liberdade e independéncia, a defesa dos direitos humanos, tudo isto se resume na defesa da dignidade humana, no seu todo. Sem discriminagbes e sem 6dios e nem rancores. 0 mundo é de todos nos. E deve ser cuidado por todos nés, tal como se cuida 0 Ovo! 0 adagio africano ensina-nos que uma dinica pulseira no braco nao pode cintilar. A unidade faz cintilar as demais! LH - Desde quando o senhor esta no nosso pais? CAMILO AFONSO - Estou no Brasil desde Outubro de 2009, LH - Qual sua opiniao sobre o povo brasileiro e baiano? CAMILO AFONSO - Eum povoarco- {ris como dizia Mandela, em relacao a Africa do Sul. £ um povo tricolor e da alegria que Ihe veio trazida pelos escra- vizados, com 0 Samba irma do Semba de Angola, da gastronomia, da influén- cia das Iinguas de Angola, 0 Kikongo, (© Kimbundu e 0 Umbundu (lingua de Benguela) no portugués do Brasil, da religiosidade afticana, expressa no seu Candomblé, que tem a ver coma sta for- ma de espiritualidade e de reza, muitas vezes mal entendido e interpretado. E a forma africana de dialogar com o Nzam- bi-a-Mpungu, 0 Deus Todo Poderoso, Invisivel e 0 Unico. Por isso, nds os Afri- DANGA FOLCLORICA AFRO-BRASILEIRA canos somos monoteistas e alegres! A quando dos trabalhos da elaboragao da Hist6ria Geral de Africa, depois de todos 08 debates sobre o continente africano, perguntou-se ao Mestre Amadou Ham- até Ba, o Homem da Palavra Oral Afri- cana, o que é que a Africa tinha a dar a europa ou ao mundo? Este respondeu di- zendo, “aalegria que vos falta!” 0 Brasil, 6 Brasil pela alegria que Ihe faz tricolor! © Baiano tem tudo quanto os seusances- trais afticanos trouxeram de meméria e recriaram em Terras de Vera Cruz, dando © Samba de Roda, 0 Caruru, 0 Candom- biéea ginga da mulherafticana. A maior manifestacao cultural que se expressa no seu Carnaval é fruto desta beleza do povo brasileiro e baiano. m SOBRE O ENTREVISTADO CAMILO AFONSO, DIRETOR GERALDO CENTRO CULTURAL CASA DE ANGOLA NA BAHIA E ADIDO CULTURAL DA EMBAIXADA DE ANGOLA NO BRASIL. FORMADO E POS-GRADUADO EM HISTORIA (AFRICA); DOUTORANDO NO PROGRAMA DE POS-GRADUA ‘GAO Em EDUCAGAO CONTEMPORANEIDADE ~ PPGEDUC, DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BakiA ~ UNEB, SALVADOR. SAIBA @ AGUALUSA, José Eduardo. A rainha Ginga: e de como os africanos in- ventaram 0 mundo (2014) MONTECUCCOLO, Cavazzi de. Des- cricdo hist6rica dos trés reinos do Congo, Matamba e Angola (1965) DIAS, Gastio Sousa. Heroismo e lealdade: quadros e figuras da res- tauracdo em Angola (1943) MELLO, Ant6nio Brandao de, Breve historia darainha N’Zinga Mbandi, D, Ana de Sousa (1945) GONCALVES, Domingos. Noticia me- moravel da vida e accoens da inha Gina Amena, natural do reyno de Angola (1749) LEMURAS DAHISTORIA | 13, Le aCe) RECORDE EM RECICLAGEM F CEQ, Além de ja ser tido como 0 maior cole tor de latas de aluminio do mundo, 0 nosso pais superou em 2014 seu proprio recorde em reciclagem desse tipo de ma- terial, com 98,4% de reutilizacdo, devi- do a alta do preco da energia que, por sua vez, encareceu a produ¢ao primaria dealuminio, Emboraa reciclagem tena ganhado forca e os némeros sejam posi- tivos para o meio ambiente, segundo a Associagéo Brasileira do Aluminio (Abal), ambos também refletem a situa- do fragil da economia brasileira que, desde ano passado, sofre com uma do- lorosa ago de arrefecimento, recesséo doProduto Interno Bruto (PIB) einflagéo que, por sua vez, ja dobrou a meta esta- belecida para 2015. DE ALUMINIO RE ae So NOVO DINOSSAURO RAPTOR E ENCONTRADO NOS EUA f F Paleont6logos da Universidade do Kansas localizaram na zona geolégica de Hell Creek, local dos famosos Tiranassauros rex dos Triceratops, em Dakota do Sul, f6s. seis de um novo tipo de dinossauro raptor, ja batizado de Dakotarraptor que, além de ser absolutamente letal, tinha cerca de 6 metros de comprimento, penas, asas e gar ras afiadissimas. Segundo 0 que divulgou o lider da investigacéo, Robert DePalma (na imagem, trabalhando na reproducao da garra do novo réptil), a espécie perten- Cente ao periodo Cretaceo e tinha uma morfologia muito leve que, provavelmente, 0 fazia téo Agil como os ter6podes pequenos — como o Velociraptor. Em complemento a tal informacao, David Burnham, coautor do estudo, ainda acrescentou que “este novo dinossauro predador também preenche a lacuna do tamanho corporal entre os grandes tiranossauros e os pequenos terépodes” que viveram no mesmo period. AUMENTA O NIVEL DE GASES DO EFEITO ESTUFA ‘Segundo relat6rio da Organizagaio Me- teorolégica Mundial (OMM), em 2014, concentracéo atmosférica de CO2, princi pal gas de efeito estufa de longa duracao, alcangou 397.7 partes por milhao (ppm), sgicos extremos (como ondas de calor, lon- 05 periodos seca etc), a fusie do gclo, 0 aumento do nivel do mar e o aumento da acidez dos oceanos. Ainda segundo o do- cumento tais efeitos perduram por sécu- com previsio de que supere as 400 ppm em 2016. 0 montante ja contribui tanto para a destruicdo da camada de oz6nio, que protege a Terra dos raios ultravioleta ocivos, quanto para o aumento das tem- peraturas mundiais, provocando um maior némero de fendmenos meteorold 44 | LETTURAS DA HISTORIA los. “O di6xido de carbono permanece na atmosfera durante centenas deanos enos oceanos ainda muito mais. As emissGes passadas, presentes e futuras terao um efeito acumulativo tanto no aquecimento da Terra como na acidificagac dos ocea- nos”, frisa o relatorio. 269 ANOS DO NASCIMENTO DE TIRADENTES BB Joaquim José da Silva Xavier, o mar- tir da Inconfidencia Mineira, nasceu em 12 de novembro de 1746, na Fazenda Pombal (que fica no atual municipio de Ritépolis, Minas Gerais). Apés a perda Ptematura dos pais, sob a tutela do tio, Padrinho e dentista Sebastiéo Ferreira Leitdo, aprendeu 0 oficio que the valeu o apelido de Tiradentes. Em 1789, alistou- -se na tropa da Capitania de Minas Ge- rois, Embora tenha sido nomeado co- ‘mandante do destacamento dos Dragdes na patrulha do Caminho Novo, sem con- seguir outra promocdo na carreira mili- tar, comegou a se aproximar de grupos que criticavam o dominio portugues. Ao Perder a fungdo que exercia, licenciou- -se da cavalaria e juntou-se aos inconfi- dentes. Delatado pelo companheiro Sil- vério dos Reis, foi preso em 10 de maio de 1789 no Rio de Janeiro, cidade onde procurava adeptos para seus planos de independéncia (na imagem A prisdo de Tiradentes, obta de 1914, elaborada por Antonio Parreiras, pertencente ao Mu- seu Jilio de Castilho de Porto Alegre). FIM A POLITICA DO FILHO UNICO Wo Partido Comunista da China (PCCh), ao anunciar que todos os ca- sais do pais poderao ter até dois filhos, colocou um fim a mais de 30 anos da olémica politica do filho tinico. A im- osico que entrou em vigor em 1979 visava reduzir os problemas de super- Populacao da China - que atualmente conta com aproximadamente 1,3 bilho de habitantes. Mas, segundo 0 governo ESQUELETO DE CAVALEIRO MEDIEVAL E ESCAYADG NO REING UNIDO Wi Descoberto por uma equipe de arquedlogos, o cavaleiro que tinha um grande nt. mero de ossos quebrados estava enterrado na catedral de Hereford, ao lado de cerca dde 2500 esqueletos. Entre eles havia um leproso e uma mulher com a mao decepada. Conforme explica Andy Boucher, gerente regional de uma empresa de arqueologia comercial do Reino Unido, “pela lel da igreja, qualquer um que morresse nos arredo- res tinha de ser enterrado no solo da catedral construfda no século 12. Apesar disso, ‘como leprosos nao podiam ser sepultados junto a outros mortos, especialistas defen dem que ele poderia ter sido o bispo local. Jé a mulher com améo decepada permane- ce enigmatica. Na época, apenas ladrdes sofriam essa punicdo. Mas se ela se enqua- drasse nessa condi¢o, néo poderia estar ali. Em meio as duvidas, os especialistas, esto armazenando 0s esqueletos em um lugar limpo e seco para anélises e, depois, iro traté-los de acordo com os desejos da catedral. se, até entdo, a restri¢go imposta aos casais contribuiu para 0 desenvolvi- mento da nacdo, entre outros aspectos por ter tirado mais de 400 milhées de pessoas da pobreza somente nas tlti- mas trés décadas, ela também provo- cou 0 répido envelhecimento da popu- lagao que, em consequeéncia, alcangou um patamar semelhante a dos paises mais desenvolvidos. LEMURAS DAHISTORIA | 15 LOE a CLO) HOMICIDIOS DE MULHERE CRESCE 21% EM 10 ANOS Hi De acordo com Mapa da Violéncia 2015: Homicidio de Mulheres, divulgado em novembro, o néimero de feminicidios no Brasil cresceu 21% em dez anos, pasando de 3937 em 2003 para 4762 em 2013. Ao atingir um indice de 4,8 homicidios para cada 100 mil mulheres com idade acima de 10 anos, 0 nosso pais passou a apresentar a quinta maior taxa de mortes femininas violentas no mundo, entre as 83 nagdes com estatisticas disponiveis na Organizacao Mundial da Satie (OMS). Apenas El Salva dor, Colombia, Guatemala e Rassia tém taxas maiores. Entre as vitimas, o assassina to de mulheres negras aumentou bem mais: de 1864 em 2003 para 2875 em 2013, en- quanto o de brancas caiu de 1747 para 1576 no mesmo period. De um modo geral, 50,3% dos homicidios s4o cometidos por parentes e 33,2% por parceiros ou ex-par- ceiros, que usam armas de fogo, objetos cortantes, perfurantes e estrangulamento, principalmente em cidades pequenas com baixos niveis de satide e educacio. CONTINUA A BUSCA POR NEFERTITE 16 | LETTURAS DA HISTORIA RECONHECIMENTO POSTUMO A LUIS GAMA Hl pos 133 anos de sua morte, que se deu em Sao Paulo no dia 24 de agosto de 1882, 0 rébula, orador, jornalista e escritor, em cerim@nia organizada pela Ordem dos Ad vogados do Brasil (OAB), foi finalmente reconhecido como advogaclo em 3 de no: ‘vembro, Ainda jovem, embora tenha ten tado frequentar 0 curso da Faculdade de Direito do Largo do Sao Francisco, foi im- pedido de fazé-lo por ser negro. Apesar disso, néo deixou de estudar e, assim, pode usar das leis tanto na luta contra a escravidao quanto para conceder a liber: dade a mais de 590 escravos, Segundo Marcus Vinicius Furtado Coelho, presi dente da OAB, a iniciativa é uma repara- Gao histrica que distingue a atuagao ju dica do chamado Apéstolo Negro da Abo: ligao, “Trata-se de uma justissima home- nagem a quem tanto lutou pela liberdade, igualdade erespeito”, disse na ocasido (na imagem, Luis Gama por volta de 1860). Hl De acordo com Mamduh al Damat, ministro de Antiguidades egipcio, ra- dares sero usados pela Comissau Per- manente de Antiguidades do Egito na tentativa de confirmar a presenga de duas camaras funerérias ocultas na tumba do fara6 Tutancamon. Gracas & tecnologia que nao afetara o estado dos muros interiores do sepulcro do fa- ra6 menino, também podera ser con- firmada ou nao a teoria do egipt6logo britanico Nicholas Reeves, que susten- ta que a rainha Nefertiti, madrasta de Tutancdmon, esteja enterrada junto a0 seu enteado. ACRA PODE TER SIDO eee IB Arqueélogos que encontram resquicios de uma antiga fortaleza grega de dois mil anos no lado externo dos muros da Cidade Velha de Jerusalém, ja defendem que eles pertencem a cidadela de Acra, devido as moedas e al¢as de jarras de vinho referentes a0 tempo de Antioco ~ que viveu entre 215 ¢ 164 a.C. ~ que, por sua ver, estavam misturadas apedras de estilingue de chumbo e pontas de flecha de bronze, objetos que se ori ram de provéveis batalhas entre forcas pré-Grécia e rebeldes judeus que tentavam tomar local, Citada no livro biblico dos Macabeus, a cidadela vinha sendo buscada ha quase ‘um século. Mas, até entdo, todos acreditavam que ela estaria sob a Velha Jerusalém ou junto a colina que hoje abriga o complexo da mesquita de Al-Aqsa. “Este é um exemplo Taro de como rochas, moedas e terra podem se juntar em um epis6dio arqueolégico dini- ,afirmou Ben- co para abordar realidades historicas especificas da cidade de Jerusalén ‘Ami, responsavel pela escavacao, 58 ANOS DA MORTE DA CELEBRE LAIKA APROVADA RESOLUCAO CONTRA A PERSEGUICAO A SNOWDEN 8 0 Partamento éaroped ‘aprovoi uma resolucdo que exige que todos os patses membros da Unio Europeia deixem de perseguir Edward Snowden, ex-agente da Agéncia Nacional de Seguranga dos EUA (NSA), que atualmente vive na Ris- sia, nacdo que Ihe concedeu asilo tem- pordrio, A decisdo que também garante a defesa juridica dele e ainda expressa preocupacées com a legislacao na area da inteligéncia em varios paises do blo- co, foi tomada por 285 parlamentares, contra 281 votos contrarios. 3 BEA cadela que vivia solta nas ruas de Moscou e que era chamada de Kudryav- ka, Zhuchka eLimonchik, depois derece- ber o nome de Laika e se tomar célebre como o primeiro ser vivo a orbitar o pla- neta Terra, segundo pesquisas recentes, morreu algumas horas apés o langamen- to da nave soviética Sputnik 2, em 1957, em decorréncia de uma combinagao de estresse e superaquecimento ~ provavel- mente ocasionado por uma falha nosiste- ma de controle térmico da nave. Todos sabiam que ela nao retornaria da viagem, mas sua perda causou grande comordo, inclusive na equipe do programa espa- ial soviético. Até mesmo o Dr. Oleg Ga- zenko, responsavel pelo treinamento dela lamentou a morte. “Quanto mais 0 tempo passa, mais eu sinto que nao deve- ria tereito isso, pois nésndoaprendemos osuficiente coma missio para justificara morteda doce cadela”, declarou o cientis- taaimprensa antes do proprio falecimen- to que se deu em novembro de 2007. LEMURAS DAHISTORIA | 17 Le aCe) CIENTISTAS ENCONTRAM ESTRELA MORTA QUE “ENGOLE” CORPOS CELESTES Wi imagens do telescdpio espacial Ke- pler e outros observatérios terrestres ajudaram pesquisadores da Universida de de Warwick, no Reino Unido, a detec: tarem um sistema estrelar no qual uma ana branca, em sua diltima fase de vida, “engole” restos de pelo menos um pla neta rochoso com composico quimica parecida com a da Terra e outros corpos celestes, que ainda orbitam ao seu re- dor, devido a alta radiagao e a forca da gravidade, A movimentacao dos objetos jd bloqueia 40% da luz emitida pela ana 38 | LEITURAS DA HISTOR, branca que, por sua vez, apresenta um disco de particulas de elementos pesa dos como magnésio, aluminio, calcio, ferro e niquel. Os cientistas dizem que esse pé foi gerado no iiltimo milhao de anos por choques entre corpos rochosos de pequenotamanho, em um cendriose melhante ao que ocorreré com o sistema solar em um futuro distante, quando es gotar todo o combustivel do nosso Sol (na imagem, concepeao artistica da es- trela WD 1145-017, “engolindo” os cor- pos que a orbitam). ENCONTRADO TUMULO E OLARIA PRE-ROMANOS NA ENTRADA DE POMPEIA Wl segundo uma equipe francesa de ar- queblogos da Berard Jean Centre, de Na- poles, os achados que foram localizados junto a porta de Herculano datam do sé- culo 7*a.C, Ambos apresentam um esta~ do fisico impecavel e pertenceram aos samnitas, povo que viveu na Peninsula Itdlica antes do dominio romano. Dentro da sepultura, ainda havia um esqueleto de uma mulher de cerca de 30 anos, além de varias anforas extremamente conservadas. “E uma descoberta excep- cional para Pompeia, porque lanca luz sobre a cidade pré-romana sobre a qual sabemos muito pouco, Os objetos de se- pultamento, por exemplo, ir mostrar- ‘nos muito sobre o papel das mulheres na sociedade Samnite e ainda podem fornecer uma visdo social da época”, afirmou Massimo Osanna, superinten- dente arqueol6gico de Pompeia. MAIS DE 90% DOS CRIMES CONTRA JORNALISTAS FICAM IMPUNES BA informagao foi divulgada pela Or- ganizagio das Nagdes Unidas para a Educacao, a Ciencia ea Cultura (Unesco) no inicio de outubro, durante uma cole tiva na Costa Rica, pais que reuniu 60 especialistas internacionais em uma conferéncia que debateu prevencdo, protecao aos profissionais ameagados busca por uma justica eficiente. “A im. punidade é a diltima etapa de uma rede de atos contra a liberdade de expresso e informagio, mas ¢ importante porque alimenta 0 circulo perverso da violén- cia”, explicou Guilherme Canela, asses- sor de comunicagao e informacdo da Unesco, organizacio que, desde 2006, contabilizou o assassinato de 754 comu- nicadores que, de um modo geral, com- provam a existéncia de um elo entre 0 crime eo trabalho de jornalista. ACAO DE LADROES REVELA CAMARA GRECO-ROMANA EM ASWAN I Segundo oministrode Antiguidades do Egito, Mamdouh El-Damaty, uma escava- $20 ilegal feita em lugar préximo ao Tem- plo de Edfu (na imagem), que fica na cida- de de Aswan, revelou uma camara do pe- rfodo greco-romano da Dinastia Ptolem: ca (33230 a.C.), com suposta extensao de 12 mettos, onde se destaca uma entrada abertaem muro, cujas paredes estio reple- tas de vestigios de gravuras que represen- tam o rei Ptolomeu VIII (século 2° a.C.), a deusa Maat que simbolizava a Justica, 0 deus Horus ea deusa do amor eda alegria Hathor em cenas variadas. Nos tiltimos ‘anos, a policia prendeu varios moradores que vivem nas proximidades de areas ar queolégicase desenterraram antiguidades para vendé-lasa contrabandistas. Além de ilicito, 08 trabalhos so perigosos, tanto que dezenas de cacadores de tesouro ja ‘morreram nos desmoronamentos dos 1o- cais escavados clandestinamente, INFLACAO DE JANEIRO A OUTUBRO E A MAIOR DESDE 1996 BH A inflacdo medida pelo Indice de Pre- ‘cos ao Consumidor Amplo (IPCA) ja acu- ‘mula uma alta de 8,52% nos dez primei- ros meses deste ano, a maior para o pe- riodo de jant a outubro desde 1996, quando ficou em 8,70%. Se em setembro ela era de 0,54%, em outubro, alcancou 0,82%, devido ao aumento dos precas de habitacao, alimentacao e combustiveis. Com base nestes indices, 0 indicador previsto para o fim de 2015 é estimado em 9,93%, percentual também conside- rado o mais elevado desde 2003, quando chegou a 11,029. Na andlise por regio, ‘© maior IPCA ficou com Brasilia (1,24%) €0 menor no Rio de Janeiro (0,59%). DEGELO DA ANTARTIDA PODE ELEVAR NIVEL DO MAR EM 3 METROS IB Na intengao de constatar que a ins- tabilidade das camadas de gelo no mar de Amundsen (na imagem) realmente J comecou, os cientistas Johannes Feldmann e Anders Levermann, do Potsdam Institute for Climate Impact, a Alemanha, empreenderam uma sé- rie de estudos que teve como base mo- delos de simulacées realizados pelo Parallel Ice Sheet Model, programa computadorizado idealizado pela pré- pria instituiggo em parceira com a Universidade do Alasca. A partir dai, eles também concluiram que se a ca- mada de gelo da Antartida Ocidental dos iiltimos 60 anos, inevitavelmente ela também entraré em um colapso ir reversivel que provocard tanto a eleva- ao do nivel do mar em até trés metros quanto sua completa desintegracdo em longo prazo. = LEMURAS DAHISTORIA | 19 HH: de janeiro de 1995 - Fernando Henrique Cardoso (FHC) assume a presi- dncia do Brasil. Suas principals marcas foram a consolidacao do Plano Real, ini- ciado no governo Itamar Franco e a re- forma do Estado brasileiro, com a priva- tizagdo de empresas estatais. INl3 de janeiro de 1961 ~ Estados Uni- dos rompem relagdes diplomaticas com Cuba. 0 presidente John Kennedy assi nou o decreto que oficializou o bloqueio econdmico de seu pafs contraa ilha cari- benha, embora desde 19 de outubro de 1960 jé houvesse sido decretado o em- bargo de todo tipo de mercadoria dest nada a nago cubana a partir dos EUA. ... E5 DA METADE FINAL DO MES. liz de janeiro de 1899 - Nasce em Nova lorque, Alphonsus Gabriel Capo ne, ou simplesmente Al Capone, consi derado um dos maiores gangsteres dos Estados Unidos. Ele também era conhe cido como Scarface (“Cara de Cicatri por conta de uma cicatriz no seu rosto. FC) Nad 20 | LEITURAS DA HISTORIA IN6 de janeiro de 1412 - Nasce Joana D’Are, santa padroeira da Franga e con- siderada heroina da Guerra dos Cem Anos. O Parlamento francés criou em 1922 uma festa nacional em sua honra no segundo domingo de maio. 10 de janeiro de 1920 - Um dos capi- tulos mais importantes da derna teve sequéncia quando fot ratifi- cado 0 Tratado de Versalhes pela entéo recém-criada Liga das Nagées. Tratava sse de um acordo de paz das poténcias europeias, que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. jst6ria mo- Wi 1s de janeiro de 1985 ~ Brasil volta a ter um presidente civil ap6s longos 21 anos de regime militar. Por uma eleicao indireta, 0 escolhido para o cargo foi Tancredo Neves, ex-governador de Minas Gerais e candidato da Alianga Democratica. No plei- to, ele venceu o deputado Paulo Maluf, do PDS, por 480 contra 180 de um total de 686 votos do Colégio Eleitoral. 19 de janeiro de 1809 - Nasce Edgar Allan Poe, um dos primeitos escritores de Contos dos Estados Unidos e consideradoo inventor do género fic¢ao policial. Autor, poeta, editor e criticoliterario ele fez parte domovimento romantico norte-americano. Wi 21 de janeiro de 1924 - Morte Vladi- mir Ilyich Ulyanoy, lider da revolugao bolchevique e principal lider da Unido Soviética, mais conhecido como Lenin, jtima de uma hemorragia cerebral. Apés sua morte, o poder passou as maos de Joseph Stalin, que disputava a lide ranga da URSS com Leon Trotsky. Wi 27 de janeiro de 1933 - 0 presidente da Alemanha, Paul von Hindenburg, no- meia Adolf Hitler, lider ou “Fiihrer™ do Partido Nacional Socialista dos Trabalha- dores da Alemanha (ou Partido Nazista), como chanceler da Alemanha. Wl 30 de janeiro de 1969 - Em uma tar. de fria de janeiro, em Londres, 0s Bea- tles realizaram sua diltima apresentacao ao vivo, no terraco do edificioda Apple. A performance era parte de um projeto cinematogréfico que documentaria a realizacdo da proxima gravacdo do quarteto de Liverpool. Barbarie anunciada “A Sombra da Figueira”, de Vaddey Ratner; Editora Geraco, 360p. - Pre- ‘$0: RS 49,90 Camboja, Sudeste da Asia, 1975. A ditadura mais sanguindria do século, li derada pelo sAdico Pol Pot, executa um plano totalmente insano: transformar 0 pais num modelo comunista agrario, ain- da que a custa do exterminio de milhares de pessoas. Um terco da populacdo vai ‘Morrer nesse processo. Um exército de jo- vens incultos e fanaticos se encarrega de esvaziar as cidades elevar populagées inteiras para as areas rurais, onde trabalharao como escra- vas € serdo torturadas ‘e mortas, se consideradas improdutivas. Dos livros que tratam das conse- quéncias de guerras e revolugdes na vida das pessoas, A Sombra da figueira, da cambojana Vaddey Ratner, é, sem davida, um dos mais comoventes e poé- ticos ~ apesarda extrema e absurda bru- talidade dos fatos que o geraram. ‘Vaddey Ratner - Sobrevivente do Kiimer Vermelho no Camboja, a autora consagrou se com A sombra da fgueira, best-seller que Ie ren {eu uma posicao fin a Ii “OPassado que nao Passa”, de An- tOnio Costa e Pinto e Francisco Carlos Palomanes; Editora Civilizacio Brasi- leira, 336p. ~ Prego: RS 40,00. Muitas memérias foram cons- truidas sobre os horrores cometidos durante as ditaduras europelas e latino-americanas no século 20. Os textos memorialisticos escritos pe- los que viveram essas experiéncias desumanas séo muito importantes, tanto no que se refere a preservacdo 1“0 Advogado ¢ o Imperador - A Hist6ria de um Heré@i Brasileiro”, de Gilberto de Abreu Sodré Car- valho; Editora Duna Dueto, 144p. = Preco: RS 29,90. ‘A condic&o degradante dos negros no Brasil do século 19, apds trés sé- culos de escravidao, e cujos reflexos ainda hoje estao presentes em nossa. sociedade, é retratada numa prosa poética bastante singular em 0 advo- gado eo imperador - A hist6ria de um heréi brasileiro, langamento da Duna Dueto Editora. Seu autor, 0 advogado Prngorpesuleador em Novembro/205, das lembrancas de um tempo “som- brio” como para impulsionar a cons- ciéncia coletiva durante os processos de redemocratizagao. A produgao do conhecimento historico sobre as me- mérias construfdas sobre as ditadu- ras exige uma postura critica frente a elas, Este foi o objetivo que orientou a feitura deste livro composto de uma coleténea de textos que analisam as formas pelas quais, apés os periodos de redemocratizacio, 0 passado foi € escritor Gilberto de Abreu Sodré Car- valho, recria neste romance historic a vida do abolicionista Luiz Gama eo coloca no lugar de protagonista como, ‘um her6i brasileiro. 0 processo que levou abolicéo da escravatura 6 um tema muito atual € pertinente, que merece ser revisto € discutido, A relagao entre Luiz Gama 0 imperador Dom Pedro Il coloca em foco questées como liberdade e justica social. Mais do que isso, aponta tam- ‘bém a omissao do imperador em rela- cdo & questio escrava e a criagao de ista para o prémio Pen/Hemingway em 201) edo prémio Escolha do livro do ano de 2013 pelo Indies Choice Book, «foi traduzido para nove linguas. Fugindo do regime, refugiow-se no Missouri rural, na América, e acabou também graduada na Universidade {de Cornell, onde ocupa acadeira da especialidade de historia literatura do Sudeste Astatico revisitado, visando a luta por justica e também os legados autoritarios que ainda estao espera de interpreta- des histéricas. A obra é resultado do trabalho de dois historiadores, especi listas noassunto, que, atuan- do em perteita sintonia nas duas margens do Atlanti- co, conseguiram organi- zar uma obra comparativa de dificil composiao. ‘um projeto de pais que inclufsse todas as pessoas. ‘Segundo 0 autor, Dom Pedro I re- presentava 0 passado, acreditava no escravismo como um “mal necessario” etinhaa clara intengao de ~branquear” a populacao brasileira. Acreditava que trazer imigrantes europeus brancos se- ria uma estratégia de governo para ajudar a dizimar a_populacao negraanalfabeta. LEMURAS DAHISTORIA | 24 ESPECIAL | A suntuosa civilizagao de Angkor Orcs 22 | LEITURAS DA HISTORIA INEVITAVEL DECADENCIA Angkor, a capital doImpério Khmer, foiumajoia preciosa no sudeste asiatico até o século 15. Sua queda deveu- -se prépria riqueza de seus habitantes, que despertou a cobica dos conquistadores e a vida dissoluta que por fim aquela nacao veio a adotar. A regiao onde se situava, atual Camboja é, violentos conflitos Por Luiz Muricy Cardoso jomo pode uma civilizagao pros- 10 que explica a sdbita decadéncia de um povo soberano que viria a esta- belecer um império suntuoso em que 0 luxo eo refinamento marcavam a vida de seus habitantes? A civilizacdo de An- skor, no Camboja, viu seu apogeu por volta do século 12 e apés sua queda dei xou vestigios que sio reliquias hist6ri- cas valiosissimas em forma de palacios e templos enormes, portentosos, naque- Ie pais que hoje é um exemplo de insta- bilidade econdmica do extremo oriente. \VisKo AEREA D0 TEMPLO DE ANGKOR WAT tra nalmente, sujeita a Os primeiros ocidentais a conhecer Ang: kor foram missionarios portugueses. No século 16, visitando o templo de Angkor Wat, a soberba construcdo do sécuilo 12, ficaram impressionados com o fato de uma tal civilizacao ter existido e desa- parecido como por encanto. A cidade de Angkor, capital do Impé rio Khmer, possufa cerca de mil templos dedicados as divindades hindus! Ang kor Wat, o principal deles, 6 um santué: rio usado ainda hoje pelos fiéis hindus. A familia linguistica mon-khmer & a base cultural das civilizagSes indiana, LEMURAS DAHISTORIA | 23, ESPECIAL | A suntuosa civilizagao de Angkor PHNOM BAKHENG € UM DOS TEMPLOS 00 SITIO ARQUEOLOGICO DE ANGKOR, NO CAMBOIA indo-malaia, vietnamita, tailandesa e chinesa. 0 povo Khmer, que ainda hoje habita as imediagdes de Angkor, em ruinas, possui parentesco com hindus e chineses e sua caracterfstica étnica 6 resultado de miscigenacao racial e cultural que se desenvolveu ao longo de séculos, Oriundo da Tailandia, esse povo chegou ao rio Mekong cerca de 2 mil anos antes de Cristo. Tendo recebido influéncia cultural da civilizagéo hindu, vizinha, sua religiosidade é baseada nas, escrituras religiosas da India, como 0 Mahabharata e 0 Ramayana, clissicos da literatura que fazem parte dos livros conhecidos como Vedas, que professam uma £8 reencarnacionista profunda mente idélatra e politeista, © povo Khmer habita ainda hoje aquela regido. Constituida por humil: des rizicultores, aquela populacao vive em palafitas precérias erguidas para enfrentar as inundagdes frequentes do vero, estacdo das chuvas. 0 povo, ci so de sua religiosidade hindu, preserva habitos milenares e vive ameacado pela guerra. Camboja e Tailandia disputam as fronteiras daquela regido e escara 24 | LETURAS DA HISTORIA qnoegentar rere gs hs SANTA perenne ee bcs oda fee cots re UT oR TO AM: ene Soca gRnehiaent stort sii bord arate attasresraea rasescth Set Renter het aetstr Season HN seeriiteet oI NTN TE: ee aan eS sa seo UMA PAGINA D0 RIGVEDA, 0 PRIMEIRO E 0 MAIS IMPORTANTE VEDA BAILARINAS NA VISITA DO REI H.M. SISOWATH AS RUINAS DO TEMPLO DE ANGKOR WaT mugas entre as duas forcas acontecem de vez em quando. Nos anos 60 € 70 0 ‘Camboja foi teatro de guerra entre fac- es direitistas e forgas conservadoras. Aguerrilha cambojana conhecida como ymer Vermelho é famosa por ter assas- sinado, segundo a Historia, um milhiio de adversarios. Chefiada por Pol Pot, re- vVolucionario que veio a falecer em 1998, a guerrilha é tido como a responsavel por um dos capitulos mais sangrentos da Hist6ria humana. Ao povo Khmer so atribuidos até hoje costumes barbaros, como o habito de beber bile humana, se- ‘gundo eles para insuflar coragem. Existem tentativas de explicacao para a decadéncia do Império Khmer. Alguns propéem que Angkor sucumbiu ao império das condigées climaticas; as Inundagdes teriam, desse modo, venci- do, enfim, a capacidade técnica desse povo que havia aprendido a domesticar ‘as emblematicas cheias sazonais do su- deste asidtico que, afinal, destrufram suas plantagées de arroz, 0 principal pro- dito agricolae base da economia do pais. ‘Também se atribui a decadéncia a inva- ‘sOes perpetradas por povos adversérios. 0 inicio da predominancia da economia baseada no comércio maritimo, que teria estancado a economia daquela civiliza: cio interiorana também pode ser uma explicacao, além de influéncias culturais, ereligiosas adversas motivadas pelo con- tato com outros povos. No entanto, 6 de se admirar que, dentre as cerca de 1.300 inscrigbes em peda que existem nas ruf- nas do Império Khmer, nada seja dito a respeito da decadéncia daquela civiliza- 80, que prosperou entre os séculos 5% 15 denossa era. Riqueza arquiteténica Entre grande profusio de estruturas arquiteténicas erguidas em Angkor e outros sitios da regido est 0 Banteay Sa- re, construfdo ap6s ano 1100 em hon- ra de Vishnu, deus hindu. Acredita-se que esse luxuoso edificio fosse arrodea: do por um enorme lago para simbolizar 0 ‘oceano, que circundao monte Meru, con- siderado pelos crentes a morada dos deu- ses hindus. Angkor e outras cidades com seus templos podem ser comparadas, na sanha de erguer santuarios, com o Egito antigo, devido a grande quantidade de- les. A beleza e 0 luxo do Angkor Wat, 0 templo principal, é impressionante! Tra ta-se de um edificio enorme, obra-prima da arquitetura Khmer e um dos princi- pais monumentos religiosos do planeta. ‘As ruinas de Angkor foram redesco bertas em 1860 por Henri Mouhot, pes- quisado francés. Ocupavam uma area de 400 km2, Tendo o luxo marcado a vida dessa civilizac8o requintada, havia, cer- cadios pelas muralhas de Angkor Thom, a iitima cidade construida, cerca de 20 templos que, no auge do Império Khmer, possuia telhados laminados a ouro! 0 sistema de abastecimento d’égua e ir rigagdo que os Khmer construfram era, antes da decadéncia, um exemplo da en- genhosidade daquele povo rico. Diver- sas colheltas de arroz eram realizadas por ano devido a eficiéncia das barra- sgens e canais, Atualmente o Camboja é ‘um dos paises mais pobres do mundo e sua economia, fundada basicamente na agricultura, € profundamente depen- dente da exportacdo para seus vizinhos. Limitado pelo Vietna, Laos e Taildndi possui uma érea de 180 mil km LEMURAS DAHISTORIA | 25 ESPECIAL | A suntuosa civilizagao de Angkor Ascensao e decadéncia Segundo se acredita, o primeiro Estado da regio foi fundado por um brémane indiano. Funan, o reino que surgiu no século 1°, decaiu no século 6, conquistado pelos chenlas, povo que era governado pelo principe Ja- yavarman I, préximo ao rio Lancang Jian. Depois o rei Jayavarman II, ao proclamar-se soberano divino, impos 0 culto a Shiva, fundando assim o Impé- rio Khmer. Morto 0 soberano, seu filho Jayavarman III reinou em seu lugar e, em 877 D.C., foi substituido por Indra- varman I que, alongando as fronteiras do Khmer, construiu uma grande repre- sa e 0s templos de Bakong e Preah Ko, tidos como os mais antigos daquela ci- vilizagao. Depois, a partir de 889, com ‘a morte de Indravarman I, reinou Yaso- varman I, que fundou Yasodharapura, a nova capital. Yasovarman I governou uma época de grande prosperidade. Porém, ja no fim do século 12, 08 cham, povo titere, se rebelou e saqueou Ang- kor em 1177. Apesar da destruicao da ci- dade, o império subsistiu. Liderada por layavarman VII, a populacdo atacou os cham e os derrotou. O soberano entio fundou anova An- gkor Thom, que abrigava 750 mil habi tantes, uma populacao enorme naquela época. Duzentos mil operérios foram empregados na construcdo de um re- servatério d’égua de 2 km e uma rede de canais avancadissima para a época. Foi construida ainda uma grande mura- tha para cercar uma area de 6 km onde ficavam alguns templos e o palacio real. Sendo a religido a base cultural em que se fundamentava o Estado e 0 governo do Khmer, era muito grande a impor- tancia dos templos. L4, sdo encontra- das hoje divindades hindus convivendo com estétuas de Buda, pois Jayavarman VII acabou se convertendo ao budismo, tornando-o religiao oficial do império. 0 fausto de suas construgdes ea quantida. de de ouro armazenado nelas foi um dos motivos que levaram diversos invasores a saquear Angkor. Em 1431 a capital do império foi mais uma vez invadida, mar- cando o fim da civilizagdo de Angkor. i DETALHE DA TORRE-FACE D0 PORTAO SUL DE ANGKOR THOM. DE ACORDO COM A OPINIAO Um fator que seguramente contri- ‘COMUM DOS HISTORIADORES, 0 ROSTO RETRATA 0 BODISATVA AVALOKITESHVARA buiu para o fim do Khmer foi a deca- 26 | LEITURAS DA HISTORIA CRANIOS DAS VITIMAS DO KHMER VERMELHO déncia moral. Sabe-se que, por volta da época final daquela civilizagao os homossexuais davam-se abertamente em prostituigao nas ruas de Angkor, em- pestadas pela fumaca do épio, que era Uusado até pelas criangas! 0 vicio na dro- a, como frequentemente acontece, foi introduzido na civilizagdo com o efeito de leva-la & decadéncia e ser conquista- a pelos invasores que dominaram seus cidadaos, impassi Ja durante a Guerra Fria, um proble- ma gravissimo pairava sobre a popula cdo camponesa e urbana do Camboja. Era a guerra civil. Os partidérios do revolucionério Pol Pot, chefe do grupo guerrilheiro Khmer Vermelho, opu- nham-se as autoridades constituidas. Pol Pot, cujo nome verdadeiro era Saloth Sar, era filho de uma familia rica, Tendo estudado na Franga, leu a obra A Gran de Revolugéo, do russo Kropotkin, que identifica a revolugéo francesa como ‘um preniincio da revolucao socialista, segundo acreditam os comunistas, 0 co: roamento, o final do processo histérico. 0 contato com o livro levou-o a adotar ideias comunistas, isso apés ter perdido uma bolsa de estudos em seu pafs por ter se oposto ao governo do rei Norodom Sihanouk, que governava 0 Camboja. Tendo se filiado ao Partido dos Traba- Ihadores Khmers, logo chegou a chefia daagremiag&o, mudando seu nome para Partido Comunista Khmer. Em 1966, ten- do feito uma viagem a Pequim, obteve 0 apoio dos chineses para sua causa. ‘Tendo o general Lon Nol derrubado, posteriormente o rei Sihanouk, comeca a sangrenta guerra civil. © Khmer Verme- Iho recebe entdo o apoio dos monarquis tas que haviam sido derrotados contra © governo recém-instalado. Em abril de 1977 0s comunistas ocupam a capital Ph. nom Penh e, uma vez no poder, mudam ‘© nome do pais para Repiblica Demo: cratica do Camboja. Logo, uma multidao imensa de opositores a0 novo regime foi executada pelas forcas comunistas de Pol Pot. Em 1979, com a invasao vietna- mita ao Camboja, o Khmer Vermetho foi destruido. Apés ser condenado a prisio perpétua, Pol Pot morreu, segundo a ver sio oficial, de ataque cardiaco, m Pot Pot, DER DO KHMER VERMELHO LEMURAS DAHISTORIA | 27 i Ke) (3 Fl Es O alemfo rapido e barato Embora muitos acreditem que o design do lendario ‘Volkswagen Beetle ~ mais conhecido como Fusca no Brasil ~ seja do ditador alemao Adolf Hitler, ha indicios de que nho original do veiculo pertencia ao engenheiro judeu Josef Ganz que jé criticava os carros-conceito de 1920 e, em 1930, construiu o primeiro prot6tipo que tinha um chassi ‘com um motor independente central, eixos oscilantes, sus penso e um corpo aberto em forma de besouro, Testado pela Mercedes-Benz alema, o carro que ideali zou foi apresentado no Saldo do Automével de Berlim, cuja abertura foi realizada pelo Fihrer em fevereiro de 1933. A partirdaf, asorte de Ganz mudou, Proibido pela Gestapo de cereer seu cargo de engenheiro-consultorna indéstria au. tomobilistica, além de ser preso, assistiu a Fernand Porsche melhorar sua invengdo que, a partir de 1937, comecou a ser omercializada em uma nova versao. Ao mesmo tempo, na tentativa de apagar qualquer ligacdo judaica coma historia do Volkswagen, os nazistas proibiram qualquer meno a Ganz, principalmente na midia (na imagem, Porsche apre- sentando a Hitler 0 projeto melhorado do carro do povo). = CAPA | Mesoamérica GEOGRAFIA DAS CIVILIZACOES PRE-COLOMBIANAS As sociedades mesoamericanas estado longe de serem povos ignorantes e barbaros. Ao contrario, nos deparamos com grandes civilizagdes, com um rico sistema social e cultural, com distintas camadas sociais, que acumularam riquezas e desenvolveram uma arquitetura belissima, com imensos templos em forma de piramides. Esses Ppovos possuiam um sistema de escrita que se desenvolvia em ritmos variados de povo para povo, mas com o qual é possivel decifrar a arte dessa regiado Por Luiz Muricy Cardoso 30 | LEITURAS DA HISTORIA jonforme a etimologia grega, Me- Cen significa aproximada- mente América intermédia, regiéio essa que compreende grande parte do continente americano e inclui o sul do ‘México ~ a partir de uma linha imagind- tia que parte do rio Fuerte, se prolonga até ao sul, onde se localizam os vales do baixo mexicano e ruma, depois para 0 norte, até 0 rio Panuco -, 0s territ6rios da Guatemala, Fl Salvador, Belize e as porgées ocidentais da Nicaragua, Hon- duras e Costa Rica. Apesar dessa su- posta delimitacao geografica, o termo é mais empregado com conotacao histéri- a, antropolégica e arqueolégica. Embo- 1a 08 fésseis humanos encontrados por 14, datem de 9.000 a.C., época em que, ‘os homens que até entdo eram cacadores némades, devem ter comecado a se fixar ‘em determinadas regiées, segundo es- pecialistas, a ocupacdo territorial se dew bem mais cedo, por volta de 20.000 a.C. Ainda de acordo com estudos arqueol6- gicos, a populacao mesoamericana ape- nas comecou a se estabelecer em vilas e a cultivar a terra, de fato, aproximada: mente em 5.000 a.C. No entanto, somen- te por volta de 2.300 a.C., eles iniciam um processo civilizatétio, identificado pela existéncia da ceramica. AS DIVERSAS CIVILIZACOES Por muitos séculos, nessa vastidao territorial desenvolveram-se varias i vilizag6es pré-colombianas (nome dado as civilizacdes, cujas existéncias sio anteriores ao descobrimentoda América pelo navegador genovés Cristévaio Co- Jombo), consideradas avancadas e com- plexas, comoa dos olmecas, teotihuaca- nos, astecas e maias. Em conjunto, elas apresentavam uma grande diversidade 6tnicae Linguistica, mas de acordo com Paul Kirchhoff (Horste, 1900; Cidade do México, 1972), filésofo e antropélogo alemio que dedicou a vida ao estudo da etnologia mexicana (ciéncia que es- tuda os fatos e documentos levantados no ambito da antropologia cultural e social, para buscar uma apreciacéo analitica e comparativa das culturas), todas mantinham um traco de unidade cultural que foi definido como complexo LEMURAS DAHISTORIA | 31 CAPA | Mesoamérica MAPA COM A EXTENSKO DA MESOAMERICA mesoamericano que, por sua vez, inclui a agricultura do milho, 0 uso de dois calendarios, os sacrificios humanos ea PAISAGEM DAS TERRAS ALTAS, 32 | LEITURAS DA HISTORIA organizagao estatal das sociedades, ca racteristicas esas que também servem para distinguir 0s povos da Mesoamé: ca de outros, que os circundavam, como os da Aridoamérica e Oasisamérica, No que se refere ao aspecto geogra- fico, como as terras mesoamericanas si tuam-se entre 10° e22° de latitude norte, nelas ha uma combinacdo intrincada de varios sistemas ecol6gicos, que foram agrupados em dois nichos, chamados de terras altas (situadas entre 1000 € 2000 m de altitude) e terras baixas (si- tuadas abaixo dos 1000 m de altitude), Atualmente, no primeiro nicho que é re- pleto de planaltos, destaca-se a grande diversidade climatica que inclui desde o clima frio de montanha até o tropical seco, com predominancia do temperado com chuvas moderadas. Alguns dos vales das terras altas possuem solos férteis, propicios a agri- cultura, como o vale de Oaxaca, de Puebla-‘Tlaxcala e do México. Mas de- vido a localizacao entre as montanhas, a passagem das nuvens ¢ impedida e, além da escassez de chuva, existem poucos cursos de agua de caudal. De PAISAGEM DAS TERRAS BAIXAS inicio, as primeiras investigagbes ar- queolégicas indicaram que o clima da Mesoamérica teria sido mais benigno no passado. No entanto, com 0 apro- fundamento do conhecimento sobre a regio, foi verificado que o clima nao era muito diferente do atual Ainda que 0s ecossistemas de hoje mostrem um grau de desgaste maior, devido a atividade humana, boa parte das terras altas apresenta evidéncias de uma desflorestagao antiga que provocou o desaparecimento de varias espécies € até 0 éxodo humano. Considerando tais circunstncias, @ certo que os antigos habitantes das terras altas tiveram que aprender a aproveitar os recursos de que dispunham em seus nichos ecologicos. vido & agricultura, além de armaze- nar e conduzir a agua de suas fontes, ‘nas montanhas, atés terras de cultivo, também tiveram que aprender a contar ‘tempo, uma vez que, o periodo no qual Podiam semear estava intercalado entre duas temporadas, aseca e quente do ini- cio da primavera, ea fria, que coincidia ‘com as geadas do inverno, Em contraposicéo a essas caracte- risticas, ainda hoje, nas terras baixas predominam os climas subtropicais ou tropicais, como os da costa do Golfo do México e do Mar das Carafbas. Nessas regides, como as selvas tropicais de ve getacao espessa, antigamente, cobriam uma grande parte das planicies costet ras, junto com as chuvas abundantes, elas representavam um obstculo ao desenvolvimento da agricultura, Dian- te de tais condigées, os antigos mesoa- mericanos foram obrigados a idealizar sistemas de drenagem, cujos vestigios ainda podem ser observados na regio de Chontalpa, em Tabasco. RIO No que se refere a fauna, os animais mesoamericanos nao eram facilmen- te domesticéveis. Os povos da regiao, embora fossem agricolas, néo tinham animais de carga nem cartos de roda. As Gnicas espécies que possufam eram © xoloitzcuintle (atualmente chama: NAS BANCAS! | Ace cr CAPA | Mesoamérica 34 | LEITURAS DA HISTORIA do de Pelado mexicano, é um cachorro raro, sem pelos que pode ser encontrado em diferentes tamanhos. Sua presenca na Mesoamérica data de mais de 3.500 anos. Entre as varias civilizagdes, ele eta mantido como bicho de estimagéo, aquecedor de leito e animal sagrado que tinha a capacidade de conduzir seu mestre ao mundo dos espiritos) eo peru. Mas nunca, nenhum dos dois fez parte da dieta ou da economia da maioria do povos, que preferiam cagar outras espé: cies (como veados. coelhos, aves e al- ‘guns insetos), tanto para complementar a alimentagdo quanto para ter artig de luxo (como peles de felinos, entre as quais, a do jaguar, e aves de plumagens vistosas, como o quetzal) Tal fragmentagdo ecol6gica, nao permitiu que nenhuma sociedade me- soamericana fosse autossuficiente e Sse fato também explica por que, desde 05 iiltimos séculos do periodo arcaico, 03 povos da regiao especializaram-se na exploragao de certos recursos natura abundantes em sua vizinhanca ime- diata e no estabelecimento de redes de trocas comerciais, que visavam sanar as caréncias do meio ambiente. Dentro desse contexto, se os povos do ocidente da regiao empenhavam-se na produgao agricola e na confeccao de artefatos de cerdimica; 0 sal, o peixe seco, as concha: marinhas e os pigmentos (como a ptir- AS GNICAS ESPECIES QUE OS MAIAS POSSUIAM ERAM O PERU E 0 XOLOITZCUINTLE CAPA | Mesoamérica 36 IWATA ethene mica, convém notar que o desenvolvimento da olaria na rea maia se deu, inicialmente, na parte sul, local onde errant eee oso eee CeCe een oa Pesce eater toned ees Coe eee kero cidades no periodo classico. Entre elas, destacaram-se Ka: minaljuyd e Tikal que, por sua vez, se tornou a maior das Creo teat ee wt ar ke Peer a re ort CSCS Renee emer eRe rte mtr? Noreen ere meee as Poet eet att eer uc ore ota eC Piet sey Ne eR Cerna eee partes: a peninsula de Yucatan, ao Corea ou cetce Cee OTN Pete eee acy Penne aes eee lize, zonas de terras baixas e clima Oterem en erie cree er Cees een tes do Mar das Caraibas. Por sua Sea Ccer coerced Cen Ren ek een ice eens Onn eee te eee een nice encanto Re ace ee seed Coa Toe cerrtcterd Pe ecu ecm ed POEs ne te ttn ices erence a ears 0 TEMPLO DE KUKULKAN EM CHICHEN IT2A, 0 S{fI0 Prot taretr rca Tens SCM Msi ee Reet oe eT OnOn eas ner cidades e, em consequéncia, a cultura da civilizago Maia Pee Oe RCTs Oe POeeeceeerce es et ees ete Micra RnR RC Mec us Pienectere ete arctic: Rea ee Per ee ees gada dos espanhdis a América Central foi deterninante Renae onr Say Pie sor ea Soe nee et at Rete detent ieee Ten LeMTURAS D Punta Maroma, MExico, MAR 00 CARIBE pura), provinham das costas litoranea: ‘enquanto das terras baixas da Area Maia edo golfo do México partiam 0 cacau, a baunilha, as peles de jaguar e as aves preciosas como o quetzal ou a arara; e, do centro saia grande parte da obsidia- na (rocha vulcénica, formada pelo res- friamento répido do magma) utilizada na fabricagao de armas e ferramentas. Gracas a esse intercdmbio, as re- gides habitadas ainda passaramacom- partilhar varios elementos em comum, entre os quais, se destacavam 0 uso de dois calendérios (um ritual de 260 dias e outro de 365 dias), o sistema de nu- meragiio de base vinte e a escrita picto- gr4fico-hieroglifica. Eles também man- tinham a pratica da escravatura e do secrificio humano; e, 0 culto a certas divindades, como a da Agua, do fogo © da Serpente Emplumada etc. Mas convém lembrar que, embora agrupa- dos numa mesma area cultural, esses Povos ndo constituiam uma unidade €tnica, jé que em muitos casos, nem 0 idioma compartilhavam. Porém, mes- mo diante da diversidade, eles foram capazes de conferir a Mesoamérica um grau de relativa homogeneidade entre as to distintas regides. m REPRESENTAGAO DE XIUHCOATL, A SERPENTE EMPLUMADA LEMURAS DA HISTORIA 37 CULTURA | Mistérios do Mundo Antigo Anteriormente, como todas as Maravilhas do Mundo Antigo eram de c izagoes mediterranicas, surgiram imitagdes da lista original e, entre elas, algumas chegaram a misturar obras da natureza com realizagdes humanas Por Morgana Gomes Peete tat cio tas célebre lista das 7 Maravilhas Ae Mundo Antigo redne as mais notaveis construgdes da Anti- guidade. Entretanto, essa ndo é a tinica tentativa de enumerar as maiores reali: zacbes da humanidade ou da natureza. ‘A organizagio suiga New Open World Foundation, por exemplo, promoveu em 2005, um concurso internacional para eleger as 7 Maravilhas do Mundo Modero, que contou com mais de cem milhdes de votos, dados por celulares e internet de todas as partes do mundo. Nesse concurso, havia 200 monumentos inscritos, mas, ap6s.a votacao, sobraram apenas 21, que ainda foram reduzidos a sete, de acordo com critérios de beleza, complexidade, valor histérico, relevan- 38 | LEITURAS DA HISTORIA cia cultural e significado arquitetonico. Os finalistas (entre os quais se inclui 0 Cristo Redendor do Rio de Janeiro) que agora compdem a lista das 7 Maravilhas do Mundo Moderno, foram anunciados em 7 de julho de 2007, no Estadio da Luz, em Lisboa, Portugal Embora essas listas ndo tenham al- cangado popularidade, as mais conhe- cidas so a do site Hillman Wonders, que elencou 100 maravilhas ~ na qual se destaca a Grande Muralha da China, em primeiro lugar, e a ilhas Galapagos, em quarto; e a da Sociedade Americana de Engenheiros Civis, que enfatiza o Eu- rottinel e o Empire State Building, como ‘maravilhas modernas. Embora tenham sido escolhidas, obviamente, pelos gregos, a origem da lista das antigas maravilhas ainda con- tinua sendo um mistério. Alguns atri- buem a autoria da lista aos historiadores gtegos Herédoto e Antipatro de Sidon ‘que, por sua vez, utilizando suas abili- dades poéticas, descreveu as estruturas que impressionavam os homens de seu tempo. Outros preferem apontar Phi- lon de Bizancio como seu autor porque, além dele ter sido um importante enge- nheiro da Antiguidade, tambsm foi um dos poucos que destacou em seu livro De Septem Orbis Miraculis, a lista original das 7 maravilhas do Mundo Antigo que inclufa o Farol de Alexandria, 0 Templo de Artemis, 0 Colosso de rodes, 08 Jar- dins Suspensos da Babilénia, o Mauso- Téu de Halicamasso, as Pirémides do Bgito e a Estétua de Zeus que, curiosa- ‘mente, eta 0 «nico monumento que se situava em terras gregas. ‘Também conhecida como “Ta hep- ta Thaemata” (as sete coisas dignas de serem vistas), a lista que foi elaborada aproximadamente entre os anos 150 € 120 a.C., elegeu os monumentos erigi- dos até entdo pelas méos dos homens, que se destacavam por sua grandeza, suntuosidade, magnitude e historia. Tais edificagdes resistiram ao tempo, nao somente por terem sido monumen- is, mas principalmente por suas belas historias que ainda ecoam na eternida- de e provocam certo questionamento. Atualmente, dentre as 7 maravilhas do mundo antigo, a Gnica que resistiu aos séculos foram as Pirdmides de Gizé, um ‘monumento digno de ser visto. Consi derado mundialmente como “um lugar comum de cultura e heranga que merece um status especial”, ele se localiza a uns 20 quilmetros ao sudoeste da cidade do Cairo, no Egito. AS PIRAMIDES DE GIZE Existe um provérbio 4rabe que faz teferéncia as Pirdmides: “[O0] Homem teme [0] Tempo, [e] ainda [o] tempo teme as Piramides”. As piramides de Gizé es- tao localizadas na esplanada que leva ‘© mesmo nome, na antiga necrépole da cidade de Ménfis e, atualmente, elas integram o Cairo, no Egito. Resistindo ao tempo e as intempéries da natureza, OBSERVE A PROPORCAO ENTRE 0 TAMANHO DE UM HOMEM E 05 BLOCOS ill COM QUE FORAM CONSTRUIDAS AS PIRAMIDES DE Gizé Quéops, Quéfren e Miquerinos ocupam a primeira posigio na lista das sete ma- ravilhas do mundo antigo. Elas foram constrtiidas como tumbas reais para os reis homénimos (pai, filho e neto).. A primeira delas, Quéops, foi edifi- cada ha mais de 4.500 anos, por volta do ano 2550 a.C. Chamada de A Gran- de Piramide tem 147 metros de altura ¢, durante mais de quatro mil anos, foi ‘a major construcdo feita pelo homem. Somente no século 19 (precisamente ‘em 1889) foi superada pela torre Eiffel de Paris (Franca). Por sua vez, Quéfren mede, nos dias de hoje, 143 metros de al- tura, No entanto, suas paredes erguem- -se menos ingremes que as da Grande Pirdmide. J4 Miquerinos é a menor em (05 BLOCOS USADOS NA CONSTRUGAO DA GRANDE PIRAMIDE, EM MEDIA PESAMM DUAS TONELADAS E MEIA, EMBORAALGUNS CHEGUEM A 15, tamanho e a terceira dentre as mais fa- mosas pirdmides do mundo antigo. As tr8s encontrando-se em relativo bom es- tado e, por este motivo, ndo necessitam de historiadores nem poetas, para serem conhecidas, ja que podem ser visitadas. Apesar da natureza mistica, durante a construgao delas, também foi usada uma série de conhecimentos de trigono- metria relacionados com as dimensoes da Terra e certas projecdes celestiais, tanto que é possivel constatar que, se a meridiana do ponto em que se encon- tram até a intersecao do indico com 0 continente africano, fosse dividida em 6.666.666 unidades, cada uma equiva- leria tanto ao metro padrao quanto a sexta parte da circunferéncia da Terra, Engenharia Fascinante © conjunto de construgées mais. antigo do mundo se mantém moderno, mesmo para os padres atuais. Ja foi constatado que as piramides estao sujet- tas a movimentos de expansao e contra- 0 sob a aco do calor ou do frios tem proteco contra terremotos, intempéries e outros fendmenos da natureza; e seus alicerces contém esferas e cavidades, tais quais as pontes do século 20. Seu revestimento original de alabastro foi feito com 144 mil pedras ao todo e era tao brilhante que poderia ser visto a qui ‘émetros de distancia. 0 tipo de material utilizado para manter unidas as pedras também se destaca por estarintactoe ser LEMURAS DAHISTORIA | 39 mais resistente que 0s proprios blocos que unem. Consequentemente, a edifi cago das pirdmides revela um grande conhecimento por parte de seus cons: trutores, inclusive de geografia, histé- ria, astronomia, geologia, matematica € outras ciéncias, devido a localizacao, medidas, inclinagdo e curvatura. Por isso, durante séculos, as piramides tam- bém foram denominadas como “o centro das dimens6es e do conhecimento”. Hoje, em pleno século 21, elas coe- xistem com diversos avancos tecnolégi- cos, porém, mesmo utilizando as mais complexas técnicas que conhecemos, nio seria possivel reproduzi-las. Tais as- pectos explicam tao longa duragao, di ferentemente do que ocorreu com as ou- tras maravilhas do mundo antigo. Mas, infelizmente, quando os exploradores modernos entraram na Grande Pirémide de Gizé, os tesouros que haviam sidos enterrados juntamente com Quéops, bem como 0 revestimento de calcério das pedras j4 tinham sidos roubados. Logo, toda a majestade e complexida de das piramides apenas resguardam a sabedoria de séculos, embora tudo in- dique que varios mistérios ainda repou- sam sob suas imensas pedras. CONCEPGRO ARTISTICA DOS JARDINS SUSPENSOS DA BABILONIA, CONFORME MAARTEN HEEMSKERK (1498-1574), UM DOS PRINCIPAIS PINTORES HOLANDESES DO SECULO 16 a é 40 | LEITURAS DA HISTORIA FOTO DAS RUINAS DA CIDADE DA BABILONIA, FEITA EM 1932 JARDINS DA BABILONIA Além de poucos relatos, ndo ha ne- nhum sitio arqueolégico que possa in- dicar qualquer vestigio dos Jardins Sus- pensos da Babildnia. 0 tnico que pode ser considerado “suspeito” ¢ um poco fora dos padrdes, que se imagina ter sido uusado para bombear 4gua. Provavelmen- te, 08 jardins foram construidos por volta de 600 a.C.), as margens do rio Eufrates, na Mesopotamia. Na verdade, eles eram seis montanhas attificiais feitas de tijolos de barro cozido, com terracos superpos- tos onde havia érvores e flores plantadas. Calcula-se que estivessem apoiados em colunas, cuja altura variava de 25 a 100 metros. Para se chegar aos terragos su- bia-se por uma escada de marmore, Esti- ma-se também que ficavam préximos ao palécio do rei Nabucodonosor II, que os teria mandado construir em homenagem & mulher, Amitis, saudosa das florestas de sua terra natal. Tanto Iuxo tem uma explicagdo. A Babildnia, nessa época, era a cidade mais rica do mundo antigo. Vivia do comércio e da navegacdo, mas como no dispunha de pedras, usava tijolos de barro cozido e azulejos esmaltados em suas construgées, No século 5° a. segundo historiador Herédoto, ela “ul- trapassava em esplendor qualquer la de do mundo conhecido”. Mas em 539 a.C. 0 Império Caldeu foi conquistado pelos persas e dois séculos mais tarde passou a ser dominado por Alexandre, © Grande, tornando-se parte da civili- zacdo helenistica. Depois da morte do grande conquistador, a cidadedeixou de ser a capital do império e entrou em de- cadéncia, Nao se sabe quandoos jardins foram destruidos; mas sobre as ruinas da Babilonia ergue-se, hoje, acidade de Al-Hillah, a 160 quilémetros de Bagdé, capital do traque. Os jardins existiram? 0 gedgrafo grego Strabo escreven que eles se constituiam de terragos superpos- tos, erguidos sobre pilares ocos em forma de cubo que eram preenchidos com terra. Complementando essa informasao, no sé- culo 1° a.C., 0 historiador Diodoro Siculo, registrou que os jardins tinham cerca de 400 pés de comprimento, 400 pés de ar largura e mais de 80 pés de altura. Por sua vez, em 1899, o arquedlogo aleméo Robert Koldewey localizou a cidade da Babilé- nia, na regio central do Traque moderno ea escavou por 14 anos, perfodo em que, debaixo de toneladas de areia, descobriu suas muralhas exteriores e interiores, a fundagdo da torre sagrada ou Zigurate de Babel, 0s palacios de Nabucodonosor e a avenida principal que passava pelo centro da cidade, com 0 famoso Portal de Ishtar, ‘que dava acesso ao complexo de templos e alacios do local. Posteriormente, ao esca- var acidadela do Sul, encontrou uma area de subsolo com 14 salas de grande tama- rho com tetos em abébadla. Registros antigos indicavam que apenas duas localizagdes na cidade feziam uso de pedras, as muralhas da Cidadela do Norte e os Jardins Suspen- sos. A muralha norte da cidadela ja ha- via sido descoberta e continha pedra. Portanto, como tudo indicava que ele havia encontrado o subsolo dos Jardins, a exploracdo da area continuou até que ‘muitos detalhes citados pelo historiador Diodoro foram desvendados. Finalmen te, Koldewey desenterrou uma sala com {rs grandes e estranhos furos no solo € concluiu que essa era a localizagao das roldanas e correntes que levavam aagua até a superficie, onde se encontravam 05 jardins. As fundagdes que o arqueé- logo descobriu mediam 100 por 150 pés 48 por 45,72 m). Menor do que as dimens6es citadas pelos historladores, mas ainda de causar assombro. No en tanto, 0 Ginico legado dessa maravilha encontra-se na mente humana, sobre a forma de pensamentos e sensagbes que traduzem a beleza, dessa extraordinaria obra da Antiguidade. ESTATUA DE ZEUS, REPRESENTADA ARTISTICAMENTE POR MAARTEN HEEMSKERK Construida no século 5° aC, pelo escultor Fidias (Atenas, 490 a.C. ~ prova- velmente Olimpia, 430 a.C.), ela homena- geava 0 deus dos deuses. A obra-prima de Fidias foi esculpida na cidade grega de Olimpia, na planicie do Peloponeso. Ela representava Zeus, sentado em seu trono, como o senhor do Olimpo, morada das di vindades. Toda feita em ouro e marfim, ela teria de 12 a 15 metros de altura, o equiva- lente a um prédio de cinco andares. Zeus, ccujos olhos eram de pedras preciosas, na mao direita levava a estatueta de Nike, deusa da vitéria; e na esquerda, uma esfe- rasoba qual se debrucava uma éguia. Su- pOe-se que Fidias levou cerca de oito anos em sua construgdo e os gregos passarama considerar a escultura como uma espécie de revelacao aos homens, da imagem do deus dos deuses. Porém, na época em que a estatua estava sendo construida, Atenas e Es- parta ja se rivalizavam pela hegemonia no Mediterréneo. Em consequéncia, a Grécia continental mergulhou seus ci- dadaos numa sucessao de guerras. No entanto, 0s combates ndo prejudicaram as realizagées culturais e artisticas do periodo, Muito pelo contrario, o século 5° aC. ficou conhecido como o século de ouro na historia grega, devido ao ex- traordinario florescimento da arquitetu- ra, escultura e outras artes. Apesar das escassas referéncias concretas a escul- tura, alguns historiadores ainda dizem que, como em representagées de outros RUINAS DO TEMPLO QUE, PROVAVELMENTE, ABRIGOU A ESTATUA DE ZEUS EM OLIMPIA artistas, 0 Zeus de Fidias também mos- trava 0 cenho franzido. Segundo uma Jenda, quando o deus franzia a fronte, © Olimpo todo tremia. Curiosamente, apés 800 anos em Olimpia, a estétua de Zeus foi transferida para Constantinopla (hoje Istambul), onde se acredita ter sido destruida em 462 a.C., por um incéndio, provocado por um terremoto. Representada em formato monu- mental, a estitua de Zeus destacava-se no Templo de Olimpia ~ cidade famosa por suas construgdes e monumentos ligados aos jogos olimpicos, que eram realizados de quatro em quatro anos para homenagear justamente o deus Zeus. Embora exista certa controvérsia sobre a datacéo da estétua em posigao dominante no templo, algumas fontes afirmam que ela foi colocada lé em 450 a.C., enquanto outras dizem que foi em 430 a.C. Mas dada ameaga cada vez maior do cristianismo aos deuses anti- gos, alguns gregos pagaram para que a representacao de Zeus fosse removida e protegida em Constantinopla. Apos 0 fato ter sido consumado, em 391 d.C., 0 imperador romano Teodésio realmente baniu os jogos olimpicos da Grécia e fe- chou o templo de Olimpia. Entretanto, a estétua foi preservada ¢ ficou em segu- ranca até 0 ano de 462 0U 475 d.C.. Apesar de sabermos pouco sobre ela, algumas moedas gregas que resistiram ao tempo, trazem uma imagem de referencia, LETURAS OAHISTORIA | 41 ‘com detalhes sobre a expressdo de Zeus e seu trono, que continha relevos com a mi tologia dos deuses, semideuses outros herdis. Posteriormente, jé em meados do século 20, surgiu uma importante desco- berta arqueol6gica. O Dr. Emil Kunzeesua ‘equipe localizaram os restos da oficina de escultura de Fidias perto das rufnas do templo. Usando indicios obtidos de moldes, de terracota e ferto, 0 arquedlogo alemao conseguiu reconstruira aparéncia da esté- tua e o método pelo qual ela pode ter sido construida. Conforme defende Kunze, ela foi feta de placas finas de ouro estendidas ‘emtorno de um modelo de madeira, TEMPLO DE ARTEMIS Localizado em Efeso (atual Turquia), foi o maior templo do mundo antigo e, durante muito tempo, o mais significativo feito da civilizacdo grega. Quando os colo- nizadores gregos encontraram os habitan- tes da Asia Menor cultuando uma deusa que se identificava com Artemis, a deusa grega dos bosques, da caca e dos animais selvagens, eles resolveram construir um pequeno templo que, sucessivamente, passou ser aumentado, até que na quarta expansao, apés 120 anos, foi incluido na lista das sete maravilhas do mundo antigo. O templo, erguido pelo arquiteto CONCEPGAO ARTISTICA DO TEMPLO DE ARTEMIS, SEGUNDO MAARTEN HEEMSKERK 42 | LETURAS DA HISTORIA cretense Quersifrdo e seu filho Metage- nes, em 550 a.C., era composto por 127 colunas de marmore, com 20 metros de altura cada uma. Ele media 138 metros de comprimento por 71,5 m de largura e, além deabrigar muitas obras de arte, en- tre elas a escultura da deusa em ébano, ouro e prata, também passou a receber visitas e oferendas. Mas ele foldestruido em 356 a.C. por Heréstrato, que acredi- tava que agindo assim, teria seu nome espalhado pelo mundo. Anos mais tarde, Alexandie, 0 Gran- de, resolveu restauré-lo, porém o templo 86 comecou a ser reconstruido em 323 a.C., anoda morte do macedénio, Em 262 4.C., ele foi novamente destruido, dessa vez, por um ataque dos godos que tam- bém o saquearam. Posteriormente, com a conversio dos cidadios da regio a0 cristianismo, 0 templo foi periendo im- portdncia até que veioabaixo em 401 d.C. Hoje, existe apenas um pilar da constru- 40 original em meio a ruinas, entretan- toas esculturas e objetos do templo, que atravessaram os séculos, encontram-se expostos em Londres (Inglaterra). Templo dnico Em termos de aparéncia, ele era se- melhante aos templos gregos clissicos. Segundo relatos, 0 templo tinha uma estrutura retangular sustentada por co- Junas. Suas medidas eram 107 m x 55 m., Visto de fora, sua caracteristica mais, notavel eram as mais de 100 colunas de mérmore, decoradas tanto com escultu- ras em alto relevo em suas bases quanto com rosetas nos capitéis. Duas fileiras delas se estendiam ao longo da porcao frontal do templo, distanciadas por 6,4 metros, e a intervalos de 5,18 metros no eixo frontal-traseiro da edificagio. Ca naletas decoradas por esculturas em for- mato de cabeca de ledo acrescentavam outro elemento de estilo, bem como as estétuas de amazonas de expresso s6- bria que ladeavam a porta do pedimento (ou base) do templo. Do lado de dentro, estava mais fas- cinante de suas vistas: a estatua de Ar- temis, feita de ouro, prata, ébano e ou- tras pedras. 0 manto que ela vestia foi decorado por imagens de animais. No entanto, o aspecto mais interessante da imagem era a fileira de bulbos que pen- diam de seu corpo. Estudiosos debatem © que exatamente eles representariam: seios ou testiculos? A teoria de que eram seios corresponde & representacdo de Artemis como deusa da fertilidade, mas a probabilidade de que representassem testiculos de touros sacrificados é ainda maior, porque os devotos da deusa cos ‘tumelramente sacrificavam tais animais ela, Alguns relatos ainda afirmam que oculto de Cibele, a deusa que serviu de modelo a estatua, era comandado por sa cerdotes que se castravam para melhor emulé-la. Lendas também narram que escravos fugitives dormiam a sombra da deusa, enquanto peregrinos viajavam longas disténcias para vé-la, Sabe-se também que a estétua era to popular que a economia local se sustentou, por muito tempo, tanto pelo turismo ao tem: Pio quanto pelas réplicas que os visitan- tes adquiriam como suvenires. MAUSOLEU DE HALICARNASSO Construido entre 353 € 350 aC, atualmente seus fragmentos estéo no Museu Britanico, em Londres, e em Bo- drum, na Turquia. © suntuoso timulo foi um tributo que a rainha Artemisia IL da Céria, mandou construir em Halicar- nasso (atual Bodrum, Turquia), sobre os restos mortais de seu irmao e marido, Mausolo, um rei provinciano do Império Persa. Sua estrutura, que tinha aproxi madamente 45 metros de altura, foi de- senhada pelos arquitetos gregos Satiro € Piri adornado por relevos criados pelos es- Cultores Bridxis, Escopas de Paros, Leo- carés e Timéteo. Segundo Antipatro de Sidon, a estrutura finalizada ja era uma espécie de triunfo estético. e cada um de seus quatro lados foi O MausoLéu DE HALICARNASSO, A PARTIR DE DESCRIGOES HISTORICAS Edificado sobre uma coluna, com vista panoramica para a cidade, 0 mau- soléu ficava num patio fechado cujo centro abrigava a tumba do rei que, por sua vez, fol feita com um bloco quadra- do de marmore que media um terco da altura (135 pés) do proprio edificio, Essa parte ainda era coberta de esculturas em relevo que exibiam cenas de aco da mitologia grega, como a batalha dos centauros com os lapitas e gregos lutando contra amazonas, uma raga de mulheres guerteiras. No topo desta seco havia trinta e seis colunas delga- das, nove em cada lado, que se erguiam por outro terco da altura do tumba. Eretas, entre cada coluna, destacavam estétuas. O telhado, que englobava 0 terco final da altura da construcdo, era uma pirdmide, que sustentava quatro massivos cavalos que puxavam uma biga, em que se ressaltavam as imagens de Mausolo e Artemisia. A construcéo resistiu por 16 séculos, até 15 d.C. @ Ostentacao Tido comoexcessivo, depois da morte de Artemisia, ele se tornou uma exibigao competitiva entre artistas determinados a ostentar suas obras. Certamente, ele se transformou numa mistura de esculturas em marmore, entalhes e colunas que se erguiam sobre uma base de 32 metros, onde se incluia uma piramide de 24 de graus e sete metros de altura. Enciman do 0 conjunto, ainda havia uma estitua de seis metros de altura, De acordo com © historiador Plinio, o perimetro do mo: ‘numento tinha 134 metros. Ap6s a morte domarido, segundo uma lenda, a tristeza da rainha foi to grande que ela ordenou que as cinzas de Mausolo fossem mistu: radas 4 sua agua e comida, para lamen- tar sua perda. Mas como Arte ia mor ‘O.e0 sare TELA DE FRANCESCO FURIN! (1646), REPRESENTANDO ARTEMISIA SE PREPARANDO PARA BEBER AS CINZAS DO MARIDO .ETURAS OA HISTORIA | 43 reu dois anos depois de seu amado, além de ser sepultada ao lado dele, também ‘nao pode ver 0 monumento pronto. A construcdo resistiu por 16 séculos até que, no século 15 d.C., 08 hospital’- rios invadiram a regido e edificaram um castelo, usando parte de suas pedras. Posteriormente, rumores de uma inva- io turca fizeram com que os cruzados reforgassem a construcdo, Nessa oca- sido, 0 restante da tumba foi desman- chado e suas pedras passaram a engros- sar as muralhas do castelo. Ja no século 15, varios terremotos abalaram a fundacdo da tumba, que comecou a despencar lentamente, até que, por volta de 1494, seus restos co- mecaram a ser usados para reforcar 0 castelo construido pelos hospitalarios que invadiram a regiao e edificaram um castelo, usando parte de suas pe- dras ~ eles ainda queimaram as colu- nas de marmore para obter argamassa. Posteriormente, rumores de uma inva- so turca fizeram com que os cruzados reforcassem a construgao. Nessa oca- sido, 0 restante da tumba foi desman- chado e suas pedras passaram a en- grossar as muralhas do castelo. Posteriormente, escavagdes no local localizaram coisas bastante interessan- [ATUALMENTE, A TEORIA TRADICIONAL DE QUE 0 CoLOsSO DE RODES VIGIAVA A ENTRADA NO PORTO, COM AS PERNAS [ABERTAS E UM PE EM CADA MARGEM DO CANAL, PASSA POR REVISOES ‘46 | LETURAS DA HISTORIA tes, Em 1522, relatos indicam que Char- es Guichard encontrou a camara de sepultamento da rainha, que continua um sarcéfago de alabastro, mas, miste- riosamente, nenhum cadaver. Bem de- pois, nos fim dos anos 1960, uma equipe dinamarquesa descobriu restos de ovos, pombas, carneitos e bois, que possivel- mente foram oferecidos ao rei e rainha como alimentos pés-morte. Entre 1966 € 1977, outra equipe dinamarquesa ainda revelou que a construcdo tinha de 30 a 36 metros, com 36 colunas de sustenta- Gao, Atualmente, alguns restos das es- culturas e frisos do mausoléu podem ser vistos no Museu Britanico. COLOSSO DE RODES A fabulosa estétua de Hélios, deus grego do Sol, foi construida entre 292 a.C. e 280 a.C., pelo escultor Carés de Lindos. Segundo relatos histéricos, © povo de Rodes mandou construir 0 monumento para comemorar a reti- rada das tropas do rei macedénio De- métrio (filho do general Antigono, que herdou de Alexandre, uma parte do Império Grego), que havia promovido tum longo cerco ilha na tentativa de conquisté-la. Como o material utiliza- do na escultura foi obtido da fundicao dos armamentos que os macedénios ali abandonaram, ao ficar pronto, 0 colos- so apresentava 30 metros de altura, 70 toneladas e, embora fosse oco, na mao direita, ainda trazia um farol que orien- tava as embarcacées a noite. Era to imponente que, além de de- morar 12 anos para ser concluido, um homem de estatura normal nao conse- guia abracar seu polegar. Mas, dessa forma, qualquer embarcagao que che- gasse a Rodes, teria que passar obri- gatoriamente sob as pernas éa estatua de Hélios, ja que ela tinha um pé em cada margem do canal que dava aces: so ao porto, Embora 0 colosso tenha sido considerado uma maravilha, Carés suicidou-se logo apés té-lo terminado, desgostoso com 0 pouco recorhecimen- to piblico. Porém, a estatua também s6 ficou em pé por 55 anos, quando um. terremoto a atirou no fundo da bafa de Rodes, onde ficou esquecida até 0 sécu- 107°, época em que os arabes chegaram a regido ea venderam como sucata. Po- rém, 0 volume do material era téo gran- de que foram necessarios novecentos camelos para transporté-lo. Grandiosa estatua Segundo relatos histéricos, apés 0 terremoto ter jogado a esttua na baia de Rodes, como sobre seu pedestal ficaram mais que restos dos membros inferiores, um comerciante da regido acebou com- prando-os para utilizar 0 ferro na fundi- G0. Logo, nio sobrou nenhum vestigio do colosso, além dos que possivelmente poderiam estar submersos. No entanto, em 2008, apés afirmar que todas as bus- cas no porto, inclusive as submarinas, nao mostraram nenhum resultado sobre resquicios da estatua ou de suas funda- 68es, a arquedloga alema Ursula Vedder decidiuampliar seu raio de investigagaoa RUINAS 00 MONTE SMITH, ONDE SUPOSTAMENTE PODE HAVER INDICIOS 00 COLOSSO bos RovES. ‘outras partes da ilha, Dessa maneira, ela foci parar em um complexo de templo e es- tédio esportivo, que se encontram situa- dos no monte Smith, montanha em cujos Pés, localiza-se 0 povoado de Rodes. Anteriormente varios arque6logos consideravam que, apesar desse templo ser dedicado ao deus Apolo, no estédio se realizavam diversas competi¢Ges em homenagem Hélios, deus grego do Sol. Mas Vedder resolveu afirmar que, na realidade, 0 templo era um santudrio de Helios e que sua estétua deveria es- tar sobre uma grande coluna, que esta bem conservada e, cuja funcdo, até en- téo era desconhecida. Ainda de acordo ‘com a arque6loga, 0 Colosso de Rodes fei colocado sobre esse pedestal de pe: dra, situado exatamente a meio cami- nho entre o estadio e a pista de corridas do santuario, local de onde poderia ser vistoa distancia pelas embarcacdes que Se dirigiam ao porto da cidade. Hoje, além de esperar que novas escavacdes no monte Smith possam confirmar sua teoria, Vedder também se mantém con: victa sobre a possibilidade de encontrar algum indicio da mitica estétua. FAROL DE ALEXANDRIA Considerado uma das maiores produ- ‘es técnicas da Antiguidade, ele foi cons tnufdo em 280 a.C. A torre de marmore, situada na iha de Faros (por isso farol), {ci edificada a mando de Ptolomeu, proxi ‘mo ao porto de Alexandria (Egito), tanto como marco de entrada para 0 porto da clade quanto como farol, ja que em seu topo ardia uma chama que, por meio de espelhos, iluminava até 50 km de distan- cia, Sua base era quadrada, mas 0 resto do edificio se erguia de forma octogonal a ‘uma altura que variava entre 115 € 150 me- ‘rps, divididos em trés estagios, cada um, construido sobre o topo do outro. O pri- meiro, provavelmente, tinha mais de 200 ésde altura e 100 pés quadrados. Nele fi cavam centenas de armazéns e uma gran- de rampa em espiral que permitia que os ‘materiais fossem levados ao topo, sobre 0 Tembo de cavalos. No segundo havia uma seta com aparador, utilizados para trans: Portar combustivel até 0 fogo. No topo destacava-se um cilindro que se estendia para uma céipula aberta, na qual 0 fogo que iluminava o farol era queimado. De acordo com relatérios histéricos, também havia um grande espelho encur- vado, talvez feito de metal polido, usado para projetar a luz do fogo. No telhado da cdpula ainda havia uma enorme esté- tua de Poseidon, Sup6e-se que os navios podiam perceber, noite, a luz da torre ou a fumaga do fogo, durante o dia. Por mais de cinco séculos, 0 farol manteve-se entre as mais altas estruturas feitas pelo homem. Em 1375, ele foi destruido por um. terremoto, mas, com excecdo das Pirdmi- des de Gizé, foi o monumento que mais tempo durou entre todas as outras mara- vilhas. Ja no século 20, mais precisamen- te em 1994, suas ruinas foram encontra- das por mergulhadores, fato que depois foi confirmado por imagens de satélite. Maravilha pratica Conforme os estudiosos, o farol ti nha um propésito exclusivamente uti- litério, A hist6ria da obra comeca com Alexandre, 0 Grande: de acordo com Plutatco, 0 macedénio teve um sonho no qual foi instruidoa procurar a peque- na ilha de Faros, na costa do Egito. Mas como ele escolheu Ptolomeu I, um de seus generais de exército, para liderar a colonizacao da ilha, o mesmo decidiu que Faros precisava de algo que a iden tificasse, simbélica e literalmente, pois a costa era de dificil navegacao. Embora no se saiba ao certo quem realmente foi © construtor do farol, o engenheiro Sos trates de Cnido teve um papel decisivo no processo de edificacao, tanto que al- guns relatos 0 apontam como patrocina- dor financeiro da obra. Estudos da Antiguidade ainda afir ‘mam quea maravilha pratica custou cerca de 800 talentos, o equivalente a cerca de US$ 3 milhdes, Tal valor foi bem empre- sgado, porque o farol sobreviveu a mais de 22 terremotos, antes de vir abaixo em 1375. Porém, como as pessoas da ilha 0 ama: vam, principalmente por ele ter se toriado fonte de receita e poder para Faros, entre 0s séculos 9° ¢ 13, elas tentaram conserté: slo e restauré-lo, até que se tornou claro que nao seria mais possfvel salvé-lo. Posteriormente, a identidade de Fa: 108 $e misturou tanto & do Farol que esse terminou por se tornar conhecido como Faros de Alexandria. Historias também narram que Séstrates se mostrou téo oF gulhoso de sua criag&o que pediu para ue seu nome fosse inscrito no farol. Mas Ptolomeu II, que havia sucedido ao pai como soberano da ilha, recusou o pedido do construtor, que mesmo assim inscre- veu seu nome na edificago, recobrindo- ‘0 com uma inscrigdo em gesso que por tava o nome de Ptolomeu. Com o tempo, co gesso se desgastou e desapareceu, reve- Jando aartimanha do homem de Cnido.s REPRESENTAGAO ARTISTICA D0 FAROL DA ALEXANDRIA \VISAO NOTURNA DA CIDADE DE ALEXANDRIA NA ATUALIDADE LETURAS OAHISTORIA | 45, HISTORIA DO BRASIL | Imposto da Capitacao DO CAMPO GRANDE O Imposto da Capitacao que asfixiava os brancos pobres e os pretos deu origem a um novo tipo de quilombo nas Minas Gerais dos anos setecentos. A guerra contra essas vilas organizadas nao demoraria a acontecer... Por Tarcisio José Martins 46 | LETRAS DA HISTORIA jendo instrumentalizado os ca Tt do mato como principais agentes da cobranga da Capita cao, Gomes Freire e seus comparsas conseguiram legislacao do Ultramar, em que mudaram o conceito de quilom- bo e dobraram as tomadias a serem pa- gas a esse nao fosse um escravo, além de blindé-tos contra qualquer acusacao de crime no exercicio do combate aos quilombolas e aos sonegadores. Como era de se esperar, com a Ca pitagdo, os ricos comerciantes portu Bueses, ndo precisavam mais pagar 20% para tirar 0 ouro para fora das Mi- nas, Também, como era de se esperar, 8 brancos pobres e pretos que tinham oucos escravos e/ou que trabalhassem com as préprias maos, comecaram a fugir das vilas oficiais a procurar, jun- tamente com seus escravos, 0s sertdes onde criavam vilarejos escondidos e li vies da Capitagao. Assim, se misturaram fugidos da Capitaco e fugidos do escra- vismo, gerando um novo tipo de quilom- bo nas Minas Gerais dos anos setecen tos, cuja confederagio ficaria conhecida como Quilombo do Campo Grande, cuja capital era 0 Quilombo do Ambrosio lo- calizado na regio das atuais cidades de Formiga (MG) e Cristais (MG). Em 1741, publicada a “Lei da Marca em F” e suas leis auxiliares, todos os pre- tos (escravos ou fortos) encontrados vo- luntariamente nos quilombos, presos, re- ceberiam uma marca em “F” na espadua; numa segunda vez, se Ihes cortava uma orelha; numa terceira, eram condenados & morte. Assim, conjuntamente ao arto cho na cobranga da Capitagao, sucede- ram-se as guerras contra os quilombos. No periodo de 1741 a 1742, foram ata- cados os quilombos localizados no Sertao das Contagens para fora, atéo Rio Grande, Possivelmente localizados em territ6rios das atuais cidades de Pequi (MG), Divi- nbpolis (MG), So Gongalo do Paré (MG), Pedra do Indaia (MG), Sao Sebastiéo do Oeste (MG), Itapecerica (MG), Claudio (MG), Carmo da Mata (MG), Carmépolis de Minas (MG), Passa Tempo (MG) etc. A partir de 1743, dentro do contexto do expansionismo reinol, visando a abo- canhar da Capitania de So Paulo o atual sudoeste de Minas, apés a tomada de um GOMES FREIRE DE ANDRADE arraial semelhante a um quilombo, em territério da atual Campanha (MG), 08 qui- Jombos atacados foram aqueles situados em lugares hoje compreendidos nas atu- ais cidades de Carmo da Cachoeira (MG), Nepomuceno (MG) e Trés Pontas (MG). O rei Ambrésio devia ser um preto foro ou livre, pois, apesar de Gomes Freire de Andrade ter qualificado o seu arraial como um quilombo, este conti- nuow a se chamar Primeira Povoacéo do Ambr6sio, como comprova 0 mapa do Capitéo Anténio Francisco Franca feito Marques DE PomBAL, CAMARA MUNICIPAL DE OEIRAS em 1763 a partir de informacdes de Ma- nuel de Souza Portugal, um dos atacan- tes deste quilombo na guerra de 1746. Ant6nio Joao de Oliveira, nomeado capitdo-governador por Gomes Freire de Andrade, com sua tropa de 400 homens, a cavalo e armados com armas de fogo e granadas, foram encarregados de des- truir os quilombos do Campo Grande, especialmente 0 Quilombo do Ambrésio. O palanque fortificado do Ambrésio se localizava onde hoje esto municipio de Formiga (MG), e 0 Quilombo do Ambr6- sio ao norte da atual cidade de Cristais (MG). Os demais quilombos de 1746 se localizavam em territ6rios das atuais ci- dades de Arcos (MG), Pains (MG), Guapé (MG), Pimenta (MG), Capitélio (MG), Piu- mhi (MG), Alpinépolis (MG) e Carmo do Rio Carmo (MG). Apesar de terem sumido para sempre das lstas de Capitagao de 1746 para 1747 cerca de 3.500 escravos e de terem sido presos menos de 100 quilombolas adul- tos e criangas, as evidéncias documen: tais so as de que as tropas de Gomes Freire teriam sido derrotadas e desi LETURAS OAHISTORIA | 47 HISTORIA DO BRASIL | Imposto da Capitacao “Por obra do traidor paulista Alexandre de Gusmao, conseguiu que fosse extinta a Capitania de Sao Paulo a partir de 1748. Sim. Capitania de Sao Paulo passou a ser um simples distrito do Rio de Janeiro, sem qualquer poder politico” do ataque aos demais quilombos, em que pesem as noticias de que os quilom- bolas continuaram a dominar a regio ‘que, por isso, continuou devoluta e sem sesmatias. 0 rei Ambrosio néo morreu nessa guerra e continuow a reinar. Em razdo de sua derrota, Gomes Frei- re se empenhou para que esse fato fosse esquecido e apagado da Hist6ria. Antes de morrer, contratou Inécio Correia Pam- plona para adulterar as datas ea geogra- fia desses fatos, como se tivessem acon- tecido dentro do atual Triangulo Mineiro que, até 1748, pertenceu Capitania de ‘Séo Paulo, a partir dai até 1815, perten- cou a Capitania de Goids, ACONTECIMENTOS IMPORTANTES ATE 1755 Gomes Freire, em razao da Morte do conde de Sarzedas, governador da Capitania de Sao Paulo em 1737, gover- nou também essa Capitania até 1739. Foi ai que descobriu os pontos fracos dos paulistas e pés em acao o plano de Ihes abocanhar o territ6rio do atual sudoeste de Minas. Alias, essa foi mais uma razéo para mandar destruir a Pri- meira Povoacdo do Ambrésio, como se ela fosse um quilombo: essa povoagao vivia da agricultura e seus paidis, pro- vavelmente, supriam todos os paulistas que resistiam a invasao da atual cidade de Campanha, Rio Sapucai acima e Rio Grande abaixo, abrangendo todo 0 atu- al sudoeste mineiro. Impetrou uma aco reivindicando esse territério, mas a perdeu. Porém, por obra do traidor paulista Alexandre de Gusmao, conseguiu que fosse ex- 48 | LETRAS DA HISTORIA tinta a Capitania de So Paulo a partir de 1748. Sim, Capitania de Sao Paulo passou a ser um simples distrito do Rio de Janeito, sem qualquer poder pol co, Mandou imediatamente proceder a uma demarcagio e usurpou da entéo extinta Capitania de Séo Paulo o atual sudoeste de Minas. Em 1750, morreu 0 rei dom Joao V, sendo sucedido por dom José Ique fez de seu primeiro mineiro 0 futuro marqués de Pombal, cujo primeiro ato para as Minas Gerais foi o de mandar extinguir 0 Sistema Tributario da Capitacdo, isso, sob a comprovada afirmacio de que as Minas tinham sido reduzidas @ ultima miséria por esse imposto, pois © povo Pr" ca ‘hievsot desertara de suas vilas oficiais, deixan- do-as desertas. Em outras palevras, afir- mou que ou se extinguia a Capitacdo, ou Portugal cottia 0 risco de perder nao 66 Capitania das Minas, mas também de perder 0 proprio Estado do Brasil Os magnatas portugueses descobri- ram que seu apoio & desastiosa Capi- taco equivaleu a terem matado a ga- linha de ovos de ouro. Nao tardaram a reimplantar em seu lugar o sistema de quintos cobrados por Casas de Fundi- ‘¢€0, com a quota fixa de 100 arrobas de ‘ouro anuais, culminada com a pena de derrama a ser aplicada somente contra ‘9s homens-bons, em caso do nao atingi- mento anual da quota fixa. - dedi. Ferre rt ts sada: spe Bees fe ap sz Big in miht Faivske Mme cdilios Cotcsrbe pled Vise Cet. Imgorst Mes anrtret ber i, Umea pty armenian omaha = CCARTA ORIGINAL 0A Le! AUREA ay dae Pau ameioaw dt -weci: = ft terete at tle dé bn come nC tute crbd Fn rita ssnimstermonronhmacmamsec si! q lage: creat a tin aps iow ac ae Os escravizados pretos, apesar dos Percalcos, alargaram em muito 0s seus direitos em razdo dos ja mencionados fetores: particularidades do trabalho na mineracdo, militarizagao em tergos de Pretos forros e a grande miscigenacéo, além de institutos juridicos como a quar. tacdo e 0 diteito a liberdade em caso de lecalizagao de um grande veio ou de um grande diamante. Tiveram um retrocesso com a Lei da Ignominia de 1725, mas com o Sistema Tributario da Capitacio, houve a conso- lidagao da integragao social dos poucos pretos que conseguiram pagar sempre a Capitacao. A propria capitacio trouxe muitas alforrias comridas de diteito, com registro em cart6rio, mas, principalmen: te alforrias de fato em razao de terem fu 8ido senhor e respectivos escravos para 05 quilombos do Campo Grande. Além disso, apés a guerra de 1746, 0 Ultramar Comecou a legislar em favor dos pardos, com o claro intuito de fazé-los voltar Para as vilas oficiais. As vilas comecaram a se entupir de Pretos forros ou supostamente forros, que segundo o medo branco, como uma onda ‘negra andavam armados sob a alegacao de que eram ou trabalhavam para capt tées do mato, desrespeitando os brancos. As cAmaras das vilas, ouvidores ¢ © Ultramar cuidaram de legislar os cui dados a serem tomados no sentido de desarmar esses pretos e exigir deles a comprovacao de que eram forros ou de que eram mesmo engajados a alguma es- quadra de capitaes do mato. Mas, esses pretos continuaram a circular livremente pelas vilas, pelas vendas e lojas de suas malungas donas de lojas, de vendas, onde se podia batucar, comer e beber ca- chaga até altas horas da noite. Melhor que comentar é transcrever para 0 portugués atual o alvara sobre po- derem casar os vassalos de S, Majestade do reino de Portugal e da América com {indias dela e que por isso ndo fiquem os ditos vassalos com infamia alguma (APM SC50, fl. 7172, de 24.4.1755). “Bu, EL-Rel fago saber aos que este ‘meu alvaré de lei virem que consideran- do o quanto convém que em meus reais dominios da América povoem e que para este fim pode concorrer muito a comunt- cago com os indios por meio de casa- -mentos, sou servido declarar que: Os meus vassalos deste reino eda América que casarem com as indias, de- Jas néo ficam com infamia alguma, antes se farao dignos da minha real atengéo ‘nas terras em que se estabelecerem;” Como se vé, enquanto 0 sangue dos pretos continuou manchado pela igno- minia da Lei de 1725, 0 sangue do indio foi reconhecido sem qualquer infamia e digno de toda a cidadania e vassalagem, podendo ocupar todos os cargos e che- gar atéa nobreza. Serio para aqueles lugares e ocupagées na graduagio das suas pessoas e que seus filhos e descen- dentes sero habels e capazes de qual- quer emprego, honra ou dignidade sem que necessitem de dispensa alguma em razéo destas aliancas em que sero tam- ‘bém compreendidos os que jése acharem feitos antes desta minha declaragaoe...” Como se vé acima, os indios e seus descendentes ganharam, com retroativi- dade a 1755, uma espécie de quotas so- ciais nos empregos piblicos. Outrossim, os ditos meus vassalos casados com indias e seus descendentes que praticarem o contrério, sendo-Ihe assim legitimamente provado perante os ouvidores das comarcas em ‘que assistirem, serdo por sentengas des- tes, sem apelacao (...) grau e mandados sair dita comarca dentro de um més eaté mercé minha, 0 que se executard sem falta alguma, tendo, porém, o ouvidor, 0 cuidado de avaliar a qualidade das pro- vas e das pessoas que pesarem nesta ma- téria, para que se no faca violencia ou injustica a este pretexto, tendo atendido que sé hao de admitir queixa do infuria doe néo de outa pessoa; LETURAS OAHISTORIA | 49 HISTORIA DO BRASIL | Imposto da Capitacao 3 PAULISTAS ESCOLTAM FAMILIAS INDIGENAS RETIRADAS DE SUAS TRIGOS Veja que a “Lei Aurea dos indios” Ihes trouxe a defesa contra a discrimina- ‘¢do racial, com pena prevista a quem os ofendesse, fosse mazombo ou reinol. “D ~ O mesmo se praticaré a res- eito das portuguesas que se casarem com os indios e a seus filhos e descen- dentes e a todos concedo a mesma preferéncia para os oficios que hou- verem na terra em que viverem, e quando suceda que os filhos ou des- cendentes destes matriménios te- nham algum requerimento perante mim, me faré saber esta qualidade para em razéo dela mais particular- mente o entender.” Complementa-se aqui 0 dispositivo transerito na alinea “B” anterior, nao deixando diivida de que os indios, in- dias e seus descendentes ganharam mesmo quotas nos empregos pablicos, além de atendimento diferenciado pe- rante as autoridades. “E = Ordeno que esta minha real re- solucéo se observe geralmente em todos os meus dominios da América. Por isto ‘mando ao vice-rei e capitéo-general de mar e terra do Estado do Maranhao Pard e mais conquistas do Brasil, capi- taes-mores delas e chanceleres, desem- bargadores da Relagéo da Bahia e do Rio de Janeiro, ouvidores das comarcas, Jutzes de fora, ordinérios e mais justicas dos referidos Estados, cumpram e guar- dem o presente alvaré de lei, e 0 facam 50 | LETTURAS DA HISTORIA cumprir e guardar na forma que nele se contém, 0 qual valeré como consta, pos: to que seu efeito haja de durar mais de um ano, ese publicaré nas ditas cdmaras de minha Chancelaria da Corte e reino, donde se registraré, como também nas demais partes em que semethante alvaré costuma se registrar o proprio se lanca- na forma do tombo lex quatro de abril de 1755. (..) Foi publicado este alvaré de Jei na Chancelaria-morda Corte e reinoa 9 de abril de 1755 // dom Sebastigio Mal: donado // Registrado na Chancelaria: -mor da Corte e reino das leis p. 83, Lis- Lisertacio Dos Escravos boa, 14 de abril de 1755// Rodtigo Xavier Alves de Moura // Teodorico de Cubelos Pereira o fez // Foi impresso na Chance- laria-mor da Corte e reino”. Esse direito realmente foi imposto praticado pelas autoridades das Minas Ge- rais dos anos setecentos, sendo vejamos: “(..) Leonor, seus filhos José, Manuel e Severina e seus netos Félix, Mariana, Narcisa e Amaro, todos de ‘geragdo ca- 16’, requereram ao governador dizendo que, em fangaodas leis de 1755, deveriam ser considerados ‘libertos e isentos de escravidéo em que se achavam os ditos carijés’, que Domingos de Oliveira conti- smuava conservando sob seu poder como se ainda fossem escravos. Estalv cieute de que transgredia a lei, o tal Domingos de Oliveira colocara es indios, sob suar- da por ocasiao da visita do governador 4 freguesia, impedindo-os assim de pro- testarem seu direito a liberdade.(...) 0 governador ordenou que uma escolta fosse libertar os cari’ “Marla Moreira, nascida de ‘pais li- vres por serem de cabelo corredio, tam- bém se achava indevidamente escravi- zada, e suplicava ao governador que Ihe fosse concedida a liberdade de sair da casa de seu senhor para poder tratar de seu requerimento. O governador concor- dou, advertindo-a de que seria punida caso se afastasse de ‘viver com a regula- ridade devida’ - adverténcia que parece FUGA DE ESCRAVOS, OLEO SOBRE TELA POR FRANGOIS AUGUSTE BIARD (1859) querer lembrar a suplicante que seus dis: sabores e insegurangas de mulher pobre no cessariam com a liberdade.” A pattir de entdo, as pretas e pretos forros, principalmente os que conse guiam alcangar bom equilfbrio financei 10, para ndo perder as chances de subir na vida, adquiriram o habito de justificar sua pele morena com a explicagao de que ‘Uyeram uma av6 india apanhada a laco, Por que uma avé e nao um avo? Av6 india, a partir de 1755, passou a significar que se sua avé fora uma india, sua mae a nascera livre, sendo ele ou ela, por: tanto, a terceira geracao de gente livre, livrando-se, assim, da pecha de forro ou liberto, condigao de quem teria nascido de ventre escravo. £ por isso que quase todos os minei- 10s e mineiras, até os dias de hoje, dizem invariavelmente que tiveram uma av6 india apanhada a laco. Para atender ta- manha demanda, Minas deveria ter tido a maior populacao de indios do Brasil, o que, como se sabe, nunca foi verdade. As evidéncias documentais induzem a queo Pai Ambrésio, depois Rei Ambr6: sio, nao era escravo e sim um preto forro ou livre que, com a sua Primeira Povoa- do do Ambrésio, ganhara muita riqueza € notoriedade. A legislacao. pré-forros impetrada apés a guerra de 1746 moti- vou 0 retomo de muitos brancos pobres e pretos forros de fatoe de diteito para as vilas oficiais, onde passariam a ter uma vida de forro comum. A perda que a Confederacéio Quilom- bola do Campo Grande teve de forros que abandonaram a vida quilombola e volta: ram para as vilas oficiais, foi totalmente superada e com sobras pelas novas fugas de escravos que passaram a ver na pessoa do rei Ambrésio um refiigio seguro para escaparem do inferno da escravidao, Ambrésio teria mudado 0 seu qui- lombo da atual regido de Cristais (MG) para a regido da atual Ibia (MG), entre 1747 € 1752, como comprovam as varias referéncias em documentos manuscritos e mapas do Campo Grande. SAIBA @ MARTINS, Tarcisio José. Quilombo do Campo Grande: a historia de Minas que se devolve ao povo. Contagem: Santa Clara, 2008. 1032 p. SOUZA, Laura de Mello E. Desclassificados do Ouro. Graal Editora, 2004. 324 paginas LETURAS OA HISTORIA | 51 GUIA HISTORICO | De “A” a “Z” MAOME EO ISLAMISMO Maomé é 0 fundador da religiao conhecida por Maometismo ou Muculmanismo, denominada por ele de Islamismo — de /slan, que significa sujeigado a vontade divina Daredacao 52 | LENIURAS DA HISTORIA ‘ascido em Meca, em 570, Mao- mé pertencia & nobre tribo dos coraixitas, a mais importante da Arabia, por ser a guardid da Caa- ba, templo nacional do povo drabe. Orfao aos seis anos, foi criado por seu tio Abu-Talib e, quando moco, passou a ganhar a vida dirigindo caravanas. Nesta atividade esteve em contato com grupos e povos diversos. Conheceu a Siria, o sul da Arébia, aprendendo a lingua e os costumes dos beduinos. Ca- sou coma rica vitiva Khadidja, 15 anos mais velha do que ele, terminando sua vida errante. Depois de 15 anos de retiro de me ditacdo, em 610, Maomé anunciou a stia nova doutrina religiosa, que dizia terlhe sido revelada pelo arcanjo Ga- briel. Sua esposa, seu genro Ali, seu amigo Abu-Béquer, com cuja filha Ai cha o profeta casou, foram os primei tos crentes da nova religido. Por volta de 616, Maomé comecou a pregar em praca piiblica, provocando forte rea- Gio entre a classe dirigente de Meca. Anova doutrina, que combatia 0 culto dos {dolos, surgia como umaameaga e ‘um perigo social. Em 622, 0s coraixitas expulsaram Maomé da cidade, obrigando-o a fugir para latreb, que passou a ter o nome de Medina-al-Sahib ~ Cidade do Profeta. Essa fuga é conhecida por Hégira (emi: Braco ou retirada) e marca 0 ponto inicial da cronologia maometana. Em Medina, pos em pratica sua religiao, modificando-a e adaptando-a ao novo niicleo, introduzindo preceitos do ju daismo dominante na cidade: o jejum, a abstinéncia da came de porco ete Comecou a pregar a Guerra San- ta, cujo fim era implantar a religiao do Isla em todos os cantos do mundo, com 0 poder das armas. Os povos ven cidos deviam escolher entre tornar-se maometanos 0 conservar sua religio © pagar pesados tributos. Seis anos ap6s a Hégira, Maomé regressou a Meca em Triunfo, acompanhado de um exército de 10 mil partidarios, des: truindo numerosos idolos da Caaba e transformando o templo em santuario da nova religiao. =e e Se StS TS baagane AA Cimad AA Ai O NASCIMENTO DE MAOME No SivERt NEBI, EPICO TURCO SOBREAVIDA DELE Maomé, senhor de quase toda a Ardbia, preparava-se para impor sua doutrina aos diversos povos do Oriente quando morreu de uma febre maligna, em Medina, em 632. ae best _aLBTURASDA HISTORIA 53. GUIA HISTORICO | De “A” a “Z” CORAO OU ALCORAO )UR’AN, QUE SIGNIFICA LEITURA, £0 LI- Ponta GAGOES. APC Ol Ceo amet} RON NOR CaO OE) UMA naa IN nrmene aia Neneh to) Days ru canoe roe sant sane ere a Teor ea UTES OU CAPITULOS. A ESSE TEXTO FORAM ACRES Te Meee, Oe Oro RAPRESENTAGAO € VELADO O ISLAMISMO A religido foi fundada no século 7° por Maomé, Sua denominacao sugere submissdo a vontade de Deus - Islan - e surgiu como revelapao divina a Mao- 5 | LENTURAS DA HISTORIA mé, que foi inspirado pelo Judaismo e, parcialmente, pelo Cristianismo. © Islamismo ensina a existéncia de um s6 Deus, Ala, que enviou a Terra varios profetas como Abrao, Moisés, Jesus, sendo Maomé o tiltimo e o maior de todos. Os islamitas devem observar certas regras, semelhantes aos 10 man- damentos: devem crer na imortalidade da.alma, no juizo final, na existéncia dos anjos e do inferno etc., sendo que Ala tem’o destino dos homens escritu ~ fata~ lismo. Aqueles que forem bonsou morte rem lutando pela causa dle Ala iro para uum paraiso cheio de prazeres materiais. 0 Islamismo permite a poligamia, recomenda cinco oragées por dia com a face do crente voltada para Meca e uma peregrinagao na vida, pelo menos, a essa cidade - todos aqueles que tive- rem condigdes para tal. Sao proibidas bebidas alcodlicas e a carne de porco. O crente deve jejuar todos 05 anos no més de Ramada, quando nada poderé ‘comer desde o nascimento até 0 ocaso do Sol. Os preceitos do Islamismo estao reunidos no Cordo, livro sagrado dos islamitas, cédigo religioso social e po- litico do povo arabe. AS CRUZADAS 0 avanco islamico teve profundas Tepercussdes para o Cristianismo. A maior, mais prolongada e mais san- gtenta confrontacdo entre cristos e islamitas foram as famosas Cruzadas, ‘que se estenderam por quase duzentos ‘anos, entre 1096 e 1291 As expedig&es militares organiza- das pelos cristios, dos fins do século 11 até quase o fim do século 13, com objetivo de libertar Jerusalém do poder dos mugulmanos, ficaram conhecidas PAPA URBANO Il PREGANDO A PRIMEIRA (CRUZADA, NO CONCTLIO DE CLERMONT como Cruzadas. Sio também descri tas com esse nome as incursdes feitas contra os arabes da Espanha, contra os eslavos da Germania, e contra os albi- genses, hereges do sul da Franca. © nome Cruzada se originou em Virtude da cruz vermelha que os expe- dicionarios usavam no ombro direito, no peito e nas bandeiras. As cruzad: orientais tiveram muitas causas: a in- tolerancia religiosa dos turcos seldjé Cldas que perseguiam e torturavam os SALADINO SULTAO DO EGITO E DA SIRIA (ESI MC e Um mace IRAQUE, EM 1170, TORNOU-SE VI- La creme eae] PS Oma na CUP ny eee llc N ie} Ca OCLC Pa eS Ra yume ene nas Boa Xtc eb e)WBL ODD PNB USN Se) OBL} MAIS PODEROSOS REIS CRIS SVC run eD eNUAUMRUaTNCLm Oa peregrinos que iam a Jerusalém; o re ceio de que os turcos viessem a invadir a Europa; as indulgéncias e privilégios concedidos pelos papas e pelos reis aos cruzados; a existéncia da cavalaria, classe militar cuja finalidade era a de- fesa da fé; o desejo de conquistar rique za e poder; eo espfrito aventureiro. As cruzadas foram iniciadas pelo Papa Urbano Il, quando no Concilio de Clermont, em 1095, recorreu aos cris- tos a fim de libertar 0 Santo Sepulcro. A multidao entusiasmada parti para a = Terra Santa, chefiada por Gualtério Sem Haveres e Pedro, o Eremita. Sem esta rem preparados para guerra, foram di- zimados pelos hingaros e biilgaros. Se- guiram-se outras expedicdes, chefiadas por senhores feudais experimentados, chegando muitas atingir Jerusalém, = 1? GRANDE CRuzADA (1096-1099) era formada por cerca de 1 milhdo de pessoas. Depois de enfrentar nume rosas dificuldades, a vanguarda das cruzadas, comandada por Godofredo de Bulhao tomou, em 1099, a cidade de Jerusalém. 0 Duque Godofredo recusou o titulo de Rei de Jerusalém, preferindo ser chamado Bardo do Santo Sepulcro. Oteino de Jerusalém durou 87 anos. = 28 CRUZADA (1147-1149) foi oF- ganizada porque o reino de Jerusalém estava ameacado novamente pelos tur- Sey cos. Luis VII da Franga e o imperador Conrado III da Alemanha foram seus comandantes e eles foram derrotados pelos turcos. Em 1187, 0 Sultdo Saladi- no apoderou-se de Jerusalém. ~ 38 CRUZADA (1189-1193) foi che- fiada pelo os maiores soberanos da época: Ricardo Coracao de Leao, da Inglaterra; Frederico Barba-Ruiva, Im: perador da Alemanha; e Filipe Augus- to, rei da Franca. Devido as rivalidades surgidas entre esses monarcas, Saladi no continuou triunfante. - 48 CRUZADA (1202-1204) foi che fiada por Balduino de Flandres que, a0 chegar em Constantinopla, desis- tiu de ir a Jerusalém, apoderando-se do Império do Oriente, que passou a chamar-se Império Latino. = 58 CRUZADA (1217-1221) foi co mandada por André Il da Hungria Joao de Brienne, que queria o trono de Jerusalém. Também nao teve éxito. - 68 CruzavA (1228-1229), dirigi da por Frederico II, obteve, mediante negociagdes em Jafa, com 0 sultéo do Fgito, a libertaco de Jerusalém Belém e Nazaré. Em 1234, novamente Jerusa- lém foi invadida pelos egipcios, deter minando com isso novas cruzadas. - 72 CRUZADA (1248-1254) foi chefi da pelo Rei Lufs IX da Franca, que c prisioneiro dos turcos, sendo libertado apés o pagamento de um resgate. -8® CRUZADA (1270) foi também rea lizada por Lufs IX, que desembarcou na ‘Tunisia, ai morrendo poucas semanas depois, vitima de uma epidemia. As cruzadas contribuiram para 0 enfraquecimento do Feudalismo ~ pois muitos nobres perderam seus domi nios ~ e o consequente fortalecimento do poder real; aumentaram as relacdes comerciais com 0 Oriente; detiveram por quatro séculos a queda de Cons- tantinopla. Os contatos culturais & cientificos deram oportunidade os eu ropeus de conhecer civilizagées mais ntadas, tais como a dos arabes ¢ a bizantina. O desenvolvimento da nave ago e do comércio atingindo varias cidades do Mediterraneo, em especial Genova e Veneza, foi outro resultado importante das Cruzadas. _aLBTURASDA HISTORIA 55 vy SOCIEDADES SECRETAS | Cosa Nostra MAFIA Associacao criminosa com ramificagdes mundiais. A lista é grande: 0 Polvo, a Onorabile Societa ou, ainda, a terrivel Cosa Nostra. Adjetivos nao faltam para qualificar e descrever esse tipo de sociedade secreta criminosa que certamente é a mais temida do mundo Daredacao 56 | LETTURAS DA HISTORIA historia da origem da mafia ou Cosa Nostra, como é conhecida popularmente, & téo sombria quanto as proprias histérias de seus personagens. Ligada maciga imigra cio italiana na segunda metade do século 19, essa organizagdo chegou a ter um verdadeiro exército de 3 mil integrantes divididos em 25 familias. Suas atividades sto amplas: trafico de drogas, armas e pessoas; roubo, prosti tuigdo, sequestro, extorsao, lavagem de dinheito, propina em obras e servigos Piblicos, além de exploracao de jogos de azar. £ uma organizacao bem estru- turada, com conexdes funcionais entre grandes grupos, com células e clas em varias partes dos Estados Unidos. s mento desses personagens tao misterio: sos €, mesmo assim, de forma branda e romanceada com os filmes: O Poderoso recentemente tomamos conheci- Chefao e Os intocdveis. Neles, as soci dades secretas criminosas so mostra dos como poderosas e com ramificagoes mundiais. Os participantes dessas socie dades so homens que, apesar de con traventores, mostram verdadeiro amor pela familia eseus compatriotas. Mas, se investigarmos mais a fundo a estrutura da mafia bem como suas origens, pode mos seguir por um paralelo mais social da questéo. Nao que isso minimize as atrocidades e perversidades dessas so- ciedades secretas criminosas. Alguns historiados, como Lauren Carter, relatam, no entanto, que a mafia Do FiLme Os InrocAvels se originou ha tempos na Sicili da Itélia, durante a Idade Média ~ sen do criada para proteger os setores mais pobres da sociedade de forcas invaso- ras, bandidos locais, senhore excessivamente zelosos e, em anos pos- teriores, de senhores de governo como a policia. Os mafiosos tinham a reputacao quase mitol6gica de “Robins Hoods” si cilianos, pois tinham a fungio de prote ger seus vizinhos e amigos. Foi dessa, vi sio idilica, inclusive, que surgiu a ideia de que eles eram “homens de honra que atuavam em prol do bem maior da sua comunidade. A estrutura mafiosa era tdo forte na Itélia que em meados do século 19, prati- camente toda a cidade da Sicilia tina um chefe de operagées ~ ou capo -, embora, em 1922, Mussolini, ao subir ao poder, fez com que 0 conhecido “Prefeito de Ferro”, Cesare Mori, perdessea maioria desses ho: mens. £ claro que fascismo e mafia tinham ‘muito em comum, mas Mussolini no pre tendia dar forgas ao concorrente ~ afinal, no sul de terras SOCIEDADES SECRETAS | Cosa Nostra Don Vito, Vito CASCIOFERRO, BOSS DA MAFIA SICILIANA E AMERICANA, PRESO POR CESARE MORI, 0 “PREFEITO DE FERRO” Pr Tes e F ai) =D iia’ 58 | LETTURAS DA HISTORIA ele sabia o poder que a mafia possuia, Se, por um lado, a Sicilia foi o berco da mafia, por outro, foi na América que ela ganhou asas e se desenvolveu ~ e foi durante a década de 1880, com a migra- cio em massa, que ganhou corpo. Ihares de sicilianos abandonaram aque- la regiao em busca de uma nova vida do outro lado do Atlantico. A maioria dos Imigrantes italianos vinha dos campos, era desconfiada, jé havia sofrido muito nas mos de seus senhores e nao acre ditava nas instituigdes oficiais, enca rando essas organizagdes como policia e governo local. 0 fato é que eles s6 con Lucky Luciano fiavam em seus chefes comunitatios, fato decorrente do descrédito natural diante das Leis locais da América. Eles traziam em suas malas, além de sonhos, © costume antigo originario dos feudos que os estimulava a se unir em grupos. Nos EUA havia todo um cenario pro- picio ao fortalecimento da estrutura das mafias. A suposta oportunidade atraia milhares de italianos, mas também os iludia com uma realidade bem diferente daquele que os seduzia inicialmente. Na América, acabavam morando nas peri ferias das cidades e eram excluidos dos bons empregos/oportunidades. Como @ ‘comum aos imigrantes em qualquer par: te do mundo, eles terminavam se agru- pando, procuravam outros italianos que vieram em busca do sonho também e em muitos casos esse processo formava uma familia mafiosa, com o objetivo de, & for- 6a, conquistar o sonho da riqueza. Em geral eles ficavam ligados & seus préprios compatriotas, aceitando as regras estabelecidas pela “Cosa Nostra”. Embora ‘a mffia tena tido a sua origem nessas co: munidades, com o tempo, transformou-se em uma alianga nacional de criminosos, que estava muito distante de proteger 0 seu povo, mas, ao contrario, torné-lo a sua propria vitima, Foi na década de 1920 que mafiosos, ‘como Giuseppe ‘Joe The Boss", Masseria e Salvatore Marazano, chegaram & América ©, com Joseph Bonanno, Lucky Luciano, Ice Profaci e Carlo Gambino, estabelece- Tam um empreendimento criminoso em escala regional. 0 impulso maior do negécio da mafia surgi aps o fim da 1° Guerra Mundial, para di- minuir a criminalidade, resolveu proibir a \do governo dos Estados Unidos, que JOE THE Boss fabricagao ea venda de bebidas alcodlicas. Essa medida foi chamada de “Nobre Expe- riéncia” por Herbert Hoover, a 18° Emenda 4 Constituigao ~ mais conhecida como Lei Seca, ot Ato de Volstead -, entrou em vi gor em 17 de janeiro de 1920. Fra tudo 0 que os gangsteres prect- savam para ganhar dinheiro de maneira arto GAMBINO Eles criaram lugares chama- dos speakeasies, onde vendiam bebidas alcodlicas clandestinamente, além de explorar jogos e promover a prostituicao. sistematic As organizacées criminosas se carac- terizam pelos seguintes tracos: a) aestabilidade e permanéncia; b) a composi¢ao minima de trés membros; ¢) .ETURAS OA HISTORIA | 59 SOCIEDADES SECRETAS | Cosa Nostra CORLEONE (PALERMO) 60 | LEITURAS DA HISTORIA a estruturacao empresarial e hierarquica (com molde e planejamento empresarial, hierarquia, lideranga definida, sistema denormas comportamentais, regime pr0- prio de disciplinamento, espectalizagao € divisao de tarefas, selegao rigorosa de novos membros, tendéncias expansivas € monopilicas); d) o fim de perpetracio de infragées penais para a consecucio do objetivo prioritario de lucro e poder; e) a conexao estrutural ou funcional com 0 Poder Pablico ou com alguns de seus re- presentantes, como autoridades piblicas € politicos, sobretudo pela corupcao, visando & neutralizago da persecugao penal e da acio politica e govemamental direcionada a repressio, para a sobrevi- véncia e otimizacao de seus negécios ea garantia de impunidade (caracteristica imprescindivel); f) a penetracdo no siste- ma econdmico via formacao de um mer- cado econémico paralelo e infiltragao no ‘mercado econdmico oficial, mediante a utilizagao de empresas legitimas; g) a grande capacidade de pratica de fraude difusa; h) 0 considerdvel poder de inti- midagao (regra do siléncio, recurso a violéncia ou a ameacas contra pessoas vistas como “obstéculos"); i) 0 uso de instramentos e recursos tecnolégicos sofisticados (telecomunicagao, informa tica, armas); j) o emprego do assistencia lismo, objetivando “legitimago social” (caracteristica eventual); k) 0 cultivo de valores e padrdes comportamentais compartithados por uma parcela social; Da territorialidade; m) o estabelecimen to de uma rede de conexdes com outras associagées ilicitas, instituigdes e seto- res comunitirios; e n) a transnacionali dade ou tendéncia a transnacionalidade ivel falar de mafia sem ci tarDon Corleone. E ele quem figura como Ottipico chefe dessa organizagao e o mais poderoso de todos os chefes mafiosos. Entretanto, Corleone nao é a designacao de uma pessoa, mas sim de um lugar da Itélia, ao sul de Palermo. Corleone, cujo nome se acredita de- rivar de Kurliyun (Coraciio de Leo), um guerteito arabe que a conquistou em 840, tem a tradicdo de lutar por seus direitos. Segundo John Follain, nas vés- eras sicilianas em 1282, quando a ilha se rebelou contra os dominadores fran cceses, Corleone matou mais im que qualquer outra cidade recendo a alcunha de: 0 feroz. res do zinha, me 0 povo passou a chamar Don Michele Navarra, um dos oito filhos de uma fig: ra influente da cidade de fundador do cla Corleone, Ele dominaria a mafia e também desempenharia a fungao de médico, Mas a sua hist6ria comeca muitos anos antes. Navarra nasceu em 1905, em uma 6poca que Corleone nao havia mudado muito. 0 lugar era tipico de camponeses mantinha relagées de solidariedade entre as familias. Navarra era um privi- legiado desde 0 comeco, devido a posi- 40 de seu pai, que mantinha ligagées da familia com uma associagao criminosa secreta em Corleone. Seu tio era membro dos Fratuzzi (os Imfos), rétulo dos pri- meiros mafiosos da regio. Ouviu-se falar dessa organizacéo pela primeira vez no inicio do século 19 e entre seus membros estavam capatazes autoritarios e milicia- nos particulares armados. (MICHELE NAVARRA ij DOS EDITORES - a VISTA ND DRIVER NAS BANCAS E LIVRARIAS ou www.escala.com.br 24 SOCIEDADES SECRETAS | Cosa Nostra 'STRAGE DI VIALE LAZIO, CONFRONTO ENTRE GRUPOS MAFIOSOS, 1969 O tio de Navarra estava entre os que tomaram parte de um ritual de filiagao. Ele consistia em conduzir 0 participan- te & presenca dos chefes da associacao, com uma adaga, fazia-se um pequeno corte no lébio inferior, seu sangue de- via pingar em um pedaco de papel com uma caveira desenhada. Os membros reconheciam-se uns aos outros por meio de uma senha ou tocando os dentes in- cisivos superiores como se estivessem sentido dor. ‘AS MAFIAS ATUAIS Recentemente, foi publicado o livto Gomorra, do jornalista Roberto Saviano, Na obra, 0 autor conta como funcionam (0s bastidores de uma das mais poderosas e cruéis mafias, a napolitana. Esse é um retrato atual do que acontece no mundo dos gangsteres. Gomorra comeca com uma descricao aterradora da abertura de um contéiner no Porto de Napoles e 0 desmoronamento de milhares, dezenas de corpos de mulheres ¢ homens chine ses saindo de dentro de suas portas. Quando se Ié os relatos da a impres: séo de serem o de um filme de ficgao. Mas nao sdo. Sao as realidades nuas e ctuas de uma mafia ainda em aco, e mais viva do que nunca. Saviano conta a rotina da organizacao criminosa co- nhecida como Camorra, que, na verda- de, chama-se Sistema de Secondigliano, que se tornou um dos mais poderosos do mundo, Suas influéncias esto pre- sentes no mundo inteiro, Varias fami- lias fazem parte dessa organizacio e a computacdo de mortes causadas por es- ses criminosos ultrapassa 0s 3600 mor- tos, contando a partir do nascimento de Saviano, em 1979. A camorra matou mais do que a mafia siciliana para se ter uma ideia. Em Gomorra, Roberto tras um dado novo, a presenca de mulheres na orga- nizagdo mafiosa e todo um sistema que mantém as familias, noivas e até namo- radas dos gangsteres. Mulhetes como Anna Mazza sio consideradas como uma das grandes cabegas da Camorra, Enfim, para quem pensa que os gangs- teres so personagens do passado, Go- morra mostra justamente ao contratio. A mafia e os gangsteres esto mais vivos do que nunca, e 0 pior, com bracos no mundo inteiro. A crueldade dessa orga- nizagdo criminosa néo mudos, tornou- -se mais potente e perversa. CENA DO FILME GOMORAA, BASEADO NO LIVRO DE ROBERTO SAVIANO SAIBA @ Lauren Carter, Os Gangsteres Mais Perversos da Histéria, Editora Planeta, 288 p. John Follain, Os Ultimos Mafiosos: a Ascensdo e Queda da Familia Mais Poderosa da Mafia, Editora Larousse, 2010, 367 P.- 62 | LETURAS DA HISTORIA O CLASSICO da literatura mundial Escrito durante 0 século 4° a.C., A Arte da Guerra é um classico da literatura mundial por ser o primeiro tratado militar de que se tem noticia. Atribuido ao general Sun Tzu, 0 livro retine taticas militares que atravessa- ram milénios sem serem esquecidas. Acredita-se que lideres como Mao Tsé -Tung, Napoledo e Hitler se basearam nos. ensinamentos de Sun Tzu para conquistar suas batalhas. Dividido em 13 capitulos, 0 tratado se baseia em conceitos orientais muito di- fundidos pelo mundo, como o Taoismo. Principios como serenidade e raciocinio légico norteiam as taticas para vencer o inimigo e ensinam o leitor a lidar de ma- neira inteligente com os obstaculos, seja na guerra, seja no dia- a- dia. Traduzido para dezenas de idiomas e lido por milhées de pessoas, A Arte da Guerra é um livto essencial para quem de- seja obter sucesso nas relacdes pessoais e profissionais ou até mesmo para os apre- ciadores do tema. Livro: A arte da guerra “O bom guerreiro nao é belicoso, Namero de paginas: 116 o bom guerreiro nao se enraivece, Editora: Escala aquele que conquista 0 inimigo nao tripudia sobre ele” - sun zu Avenda nas bancas e livrarias. Veja mais informacoes em www.escala.com.br MOMENTO DO LIVRO 9 LETURAS DAHISTORIA | 63 eee A redagao agradece as mensagens recebidas, que poderdo ser resumidas para a publicagao, Para falar com a LH: leturasdahistoriag@escala.com.br. Heréis ou vilbes? Pior que 0s _ bandeirantes, definidos primorosamente no artigo (LH 88) como os protagonistas mais mitologicos e paradoxais da histéria do Brasil, é saber que geragées foram enganadas com historias fantasiosas sobre 0 nosso pais! Mas também nao hé como negar que os relatos oficiais séo escritos sob 0 ponto de vista daqueles que se beneficiam do contexto vivenci do, fato reforcado pela falta de reflexio do povo que aceita tudo que Ihe imposto como verdade absoluta, sem nunca questionar nada. Ana Paula Oliveira, por email, So Paulo, SP. Yalta, a diviso da Europa De forma realista, a Conferéncia de Yalta (LH 88) apenas dividiu 0 mundo por zonas de influéncia, pois dentro do sistema internacional o que sempre se evidenciou e ainda se evidencia é 0 caos generalizado, que ultimamente ainda vem sendo fortalecido pela omisséo da ONU que, por sua vez, apenas expressa 0s desejos das grandes poténcias que a fundaram por meio de discursos dabios de apoio aos povos oprimidos. Também se considerarmos que a equipe da organizagaio € maior nos Estados Unidos do que em qualquer outra nacdo participante, muitos fatos ocorridos e ‘que ja nos deixaram constrangidos pela total falta de acdio se explicariam por si sés! Haroldo Vaz de Abreu, por iPhone, Santo André, SP. Davi europeu medieval A hipocrisia reinante em nome de Deus é capaz de tudo, inclusive de transformar um rei que foi um grande politico em umsanto!Deum modofrio, LuisIX usou a religiioea fésomente para impulsionar sua propria ambigao ~ como também fazem 8 radicais de atvalidade (LH 88), Para demonstrar seu fervor, construiu templos eligiosos eagradou os fidis que favoreceram sua legitimidade. Mas como um bom cristao, ele deveria amar 664 | LETURAS DA HISTORIA 65 outros como a si mesmo! No entanto, ao participar das cruzadas, como 0 artigo diz “moveu rudes batalhas contra 0s infigis e fez violencia marcial contra povos considerados bérbaros e de temperamento extremamente belicoso & selvagem”, Fica a questo: quem eram esses infigis ebarbarus? Apenas aqueles que nao acreditavam no Deus supostamente cultuado por ele? Além disso, depois que convenceu estrategicamente os nobres franceses a participarem da expedicao a chamada Terra Santa, poucos voltaram. Aqueles que sobreviveram estavam completamente arruinados dependiam dele. Consequentemente Luis IX aumentou ainda mais seus poderes, momento em que se autointitulou como rei de diteito divino e, assim, péde garantir 0 proprio poder, que ainda foi repassando aos seus ascendentes, que continuaram, a subjulgar unicamente pela forca. Paulo Miguel de Vasconcelos, por e-mail, Juiz deFora, MG. Conhecimento profundo Falar de sociedades secretas na atualidade & cair no campo fértil das especulagées, do qual brotam as teorias conspiratérias que simplificam tudo (LH 88). No caso dos Tuminati, por exemplo, embora o historiador Paul H. Koch. tenha dito que eles se utilizavam de suborno e ameacas para controlar varios lideres mundiais e quando tais medidas nao davam certo, eles simplesmente os eliminavam, atribuir morte Abraham Lincon e John F. Kennedy a eles. j4 € um. pouco demais em vista do panorama politico viverciado por ambos. Outra coisa que nao entendi foi a razo da Ku Klux Klan ter sido citada como uma sociedade secreta. 0 que uma organizacao racista norte-americana, de supremacia branca e que apoia o protestantismo tem em comum, por exemplo, com a esotérica Sociedade Teoséfica que, por sua vez, prega que todo mal provém da ignorancia? Andressa Soares, por email, Pinhais, PR. VEJA NA PROXIMA LEITURAS IMPERIO MAURYA Em torno de 305 a.C., Seleuco I, um destacado oficial de Alexandre Magno, e fun- dador da dinastia Seléucida (um dos mais importantes impéri guidade), deveria estar um tanto estarrecido com o que acabara de assistir: as po- derosas forcas Greco-macedénicas, temidas em todo Oriente, foram definitivamente derrotadas por um exército indiano, com seus magnificos elefantes e seus terriveis *, casta cuja fungao social e religiosa era nascer para lutar ~ consolidando a ascensao de um novo poder asiatico: o Império Maurya 322185 a.C.). Era a época de ouro da India Antiga. edecididos guerreiros - os “Xatria: CAVALEIROS TEMPLARIOS AOrdem dos Templétios foi uma socieda- de com natureza espiritual de cavaleiros fundada em 1119 para proteger os lugares santos da Palestina e também os cristaos peregrinos. Ela foi criada pelos franceses Hugo de Champagne, Hugo de Payns Sio Bernardo. Eles se tornaram muito po: derosos. A ordem tinha a autorizagéo de receber dizimos, tinha cemitérios exclusi vo para enterrar seus mortose, depois das batathas contra inimigos, eles passaram ater direito a uma parte dos despojos. PAIS DE GUERREIROS? No século 19, os argent que a Historia nao é bem assim... 105 criaram a tradi¢ao de um pais corajoso, valente e vencedor. No entanto, escritores argentinos contemporaneos, como Martin Kohan, nos mostram helénicos da Anti- ‘Ano Vi- Edicdo 89 DIRETORA EDITORIAL, PUBLICIDADE - GRANDES £ MEDIAS AGENCIAS WRC TORA CE PUBLICOADE Rei De PUBLICIOADE - PEQUENAS AGENCIAS E DIREOS ares Regina ras: Soo cde Beh CGERENCIA DE PRODUTO MARKETING E COMUNICAGKO IMPRENSA.imorenesoenninconte 'ATACADO DE REVISTAS E LIVROS Funan "WERESSKOE ACABAMENTO Orsemoro2015 —=. REALIZACAO courcoo EonunteasHo - we -vioco ‘Protas Kl 55 Casa Vege ~CEP 0251-000 - So anunclar@escala.com.br shoPaue (ss) nse2279 SP wrencn-cans(055 9 ASS058 Runossatzzze0095 Ea(058127 3229906 PRESS) Axes RSLS) 1908-008 55) 4730443323 RASA: (58) 632628 ‘Tego: teri publidadesescincomte (435) 13885 217 -wemarsneeseaiscom.br ‘ui as eigbes aterioes de quaguer evista fu puta oa scala (#95) 38554009 twmiaclacombe tga cipnie oom) De seg. ser, das 9 3 8h (5) 3855-009 Foe (551138579608 senainenbeescaaom br Cone as fers deine erevas- wwmescalacom.e LETURAS DAHISTORIA | 65 (haat | A cada época uma profissao Se vocé acha que acordar com 0 som de um despertador é a pior coisa do mundo, imagine o terror que de- veria ser cumprir a funcdo de rel6gio humano, profissio que existiu tanto na Gra-Bretanha quanto na Irlanda, desde o inicio da Revolucao Industrial até meados da década de 1950. Con- tratados pelos préprios empreendedo- res da época, cabia a cada um desses profissionais acordar os operarios na hora certa para que pudessem ir a0 trabalho a tempo. Para tanto, se uns carregavam uma 6 | LETRAS DA HISTORIA Tonga vara com um pedaco de metal na ponta para bater nas janelas mais altas, outros jé usavam uma espécie de casse- tete para golpear as portas. No entanto, ainda havia quem preferisse utilizar um canudo de borracha com o qual atirava ervilhas secas contra as vidragas dos mais sonolentos, como nos mostra a imagem de 1931. Captada pelo policial ¢ fotdgrafo John Topham, ela registra 0 trabalho que Maria Smith, junto pro- pria filha, Molly Moore, realizava em East End, em Londres. 0 esforco aparentemente era min mo, mas ser um rel6gio humano impli- cava em pular da cama por volta das 3 horas da manha, em troca de apenas alguns trocados por semana. Por isso, normalmente, esse tipo de trabalho era executado por homens e mulheres ido- 0s que, com paciéncia, nao deixavam de concluir a tarefa, sem se certificar que seu intento havia sido realmente aleancado. Por vezes, alguns policiais que almejavam complementar a sua re- muneracéo também desempenhavam 0 mesmo papel durante as patrulhas que faziam antes do amanhecer m ESTRATEGIAS E TECNICAS PARA SE DIFERENCIAR DA CONCORRENCIA, ENFRENTAR OS DESAFIOS DO MERCADO E FAZER ACONTECER ATE MESMO EM MOMENTOS DE CRISE Ue uN \ paneer AN aN vs MAIS V/s a Cairn = 1029 NAS BANCAS E NO SITE ESCALA Acesse www.escala.com.br EDNORA FF /RevistaGestaoeNegocios escadla

Você também pode gostar