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| Carlos Alberto Faraco LINGUISTICA HISTORICA uma introdugao ao estudo da historia das linguas ae ee LingUistica hist6rica nlio 6 As pesoas que se aproximam hist6rla da linglfetion ds lngdises tien pela Drimeira ver costumam con fundir, de inca, ua dlecptinas cenifinsdistntas: a historia da lingostic e Hngsti histrie, ‘Elmmportante,entfo, esclarecer de sida esa questo. Ums co sa ¢estudarahistria de una tcl, reeuperando suas origens eto ‘desenvolvimento no tempo — € o que se fez na Msdra da nga x, Outra coisa ¢ estar as mudansas que ocorrem nas linguss hu. ‘manasa medida que o tempo passa, avidade especfica dos estudlo. de Ungtieshistrica, [Neste lio, estamos cavolvdesfundamentlment com eta s- sgunda discipling, so €, com o estudo das mudaneas porque pasar 1s linguas humanas no elxo do tempo. Contudo, faemos também lum pouco de histéra da lingUisca, ao apresenta, no Capitlo 5, ‘o¥ momentos mals importante da consrupdo da ingscahstrica como disciplina centia, ‘Uma tal aprerentasio 6, sem dvida,indiepensivel num veo ‘come eae: diflientealguém pode se inroduir com provelto nu ‘a discipline clnufce sem conhecer tas origen ¢ seu desenvol- ™~ 2 A percepcao da mudan¢a ‘As linguas mucam ‘A realidade empitica central da ‘com 0 passar do tempo inghisica hstrica 60 fato de ce at Lnguse humanas mudam ‘om passat do tempo, Em outaspalavras snguas humanas ao const to conic, sun configura et {urdl sf alter contnuamente no tempo. E ¢ essa dindmica Que cont tal Tebjet de estado da Hingis hse, ‘Os falanes normalmente ndo ttm consiénca de que sus Ui ua etd mudando, Parece que, como flantes,consraimos uma ia. fem da nossa lingua que repousa antes na sensago de permandncla fo que na sensapio de mudanca ‘Muitar #80 as raades para se cla um ta imager da lingua Entre elas, o propio fato de que as mudangaslngustess,emtora ecorrendo continuamente, se do de formaleniaaaaue faz com que ‘So eacepcionalmente perecoamos ee Hun hlsrleo no not cot iano de falants, ‘Além disso, as mudangasatingem sempre pares e nfo 0 todo a linguao que significa que »histéria des inguae te val fazendo num complexo jogo de motagdo e permanénca,reforzando aquela Imagem antes estdtica do que dindmice que os falantes ttm de sus lng. Por outro lado, as cultura que operam com a excita — que 6 por suas propriedades, histériae funedes socials, uma reaidade ‘als estdvel e permanente que a lingua falada — desenvolvern um padeio de lingua que, codificado em gramétias,cultivado pelos le- feadose ensinado pelas escoas, adquire um estaiuto de estabilidade « permanéncla maior do que as outras varledades da lingua, funcio- ‘nando, conseqentement, no s6 como refreadortemporério de mu- 38) [Num pals como o Bras, por exemplo, um grupo de peseadores do tora tm uma histéra ena experitcia multe diferentes da- ‘uela vividas por um erupo de vaqueios do sero. Assim também, {im grupo que vive na campo tem historia e experiacias muito dives- ts dos grupos que vivem nar aande cidadex. No conteto ds lds des, os grupos socloesonomicor mais privilepiados se diferencias, Histiaeexperéncas, dos grupos menos prvileiados. O mesmo se pode dizer de comunidades sastadas no tempo, como os brallelros {o inicio do scula XVI e o braslios dos fins do séclo XX. Des ‘2 diferencselo decore o fet de cada um destes grupos falar die ( portuguts assim, falado dferentemente por fants de al- vvadore por flants de Porto Alegre. Em Salvador ouem Porto Ale {re falantes decease scloncondimice ala falam diferente de flan- {es da cass econdmica bairs, Or falanesfalam diferentemente em ‘Stuagbes formals (gum dscuso, por exemplo) e em situaeBesinfor- mals (ouma conversa de bar, por exemplo). As falas eurasdiferem das urbana. Falants do seeulo XII falavam dferentemente de nos Bos exemplos se sucedem,revelando uma complesa rede de correla ‘oes entre variedadeslingitea fatores socal, cukurls, geoers Fico, esilitcos e temporal. ‘Do ponto de visa exchsivamente ngico (to, estruturl, Imanent), evariedades se equlvalem e nlo ha como diferencilat fm ermos de melhor ou plo, de certo ou erado: todas ttn organi- ago (das tdm gramdtica) todas servem para articular a expeién- a do-erupo que as usa ‘A diferenga de valoracho das variededes (a qual nos referimos cima) se ria sociamentealgumasvariedades, por razdes pola, Socials e/ou cultures, adquitem uma marea de prestigio (normalmente ttstase daquensvaredadesfalades por grupos pevileiados na es trata social de pods) e outeas nao (ef. Gnerce, 1985). ‘No caso a sociedadebrailera, por exemplo, as variedades ru tendo tim preg socials 6 algumesvarledadesurbanas (a0 to as) € que tem. Bsus vaiedadesprestigiadas constisuem o qu ch ‘amos de norma ou variedade pedro; las representam um deal de 4 ( lingua cuvado peta elite inteectul, pel sister escola, plot ior de comunlcapso scl. Sto esa format preisindas Que rk ooot- fer prelerenlaimente na ein, (0 procpsende mudangardlngunemergt— como veremos em ‘vise pontos deste tivo — dss heteropbneo quae inghitic, a ‘medida em que duas ou mais vatedades pasa se confronts da lecamente no intinendo aniverro da ctagbees6io-nteraconas ‘O ext desis acedadae-ealicade por tiferener cin ayn pea cc to) Fe ens per a iaie nee © que pode mudar nas linguas Qualguee parte da is sapectos da prondnca act atpectos de aun organiza termi ¢ preamatica "Achhsifiasto gral das mudangas¢ fea utlzandoe o dif. rents niveiscomuns no bal de andl ingstc. Astin, na is ‘Gra duma lng, pode haver midangasfonécofonalgiss, or folds, sinthicas,semintas, leas, pragma, ivi tenico correate etre os lagsas para fazer fertnci seven. tor de mudasga sonora, ‘Nos demas nv, os etudoesto,em geal menos devenolv os; a teminoloia& em conseqanla, mais preci et modan- ‘so abordadas de odo anda multo fragmentado (sta defo) “Vamos, peste tem, da exempls de mudaneas que podem oxo rer ns linguss,dstibuindo-as pelos diferentes niels de andlse ' importante dizer que o objeivo dea excmplifiaeto ape. ras stu um pouco lltor no univers das madangas, Fazemos, or iso, uma lstagem de casos sem, evidentemente, preocupasto ‘raustivae,o mals importante, sem malores compromsos com tt ‘rentualiterpretzeto no interior desta ou daqula orienta teria, ‘ letor desde Jd deve esta alert pura 0 ato de que aio hd lnterpeetases Unless e absolutes pes mdanca es interpretardes ‘lo depender sempre da oletap tedice que o pesgusadoradots >» ‘A iso voltaremos em vérios pontos do lve. Ret orabasa qu 42 Dereeba que as mudaneas poder crore em qualuer sare da cr ‘Saeta dua lingua. "Mudangas fonético-fonolleas [Nos ests lingiscos, tanto a fondulea quanto a fonotog cocapam-te oom arealigade sonora des Unguas, sas de pont telvesos. A fontla exude face fica «arulara dessa eal fade (os sons ds fla sua producto equalidadesartsas) ea fon login estuda a face eiruturl ou se, osstema de principio else es que dl organisapto 4 realdade sonora de cada Ingo ‘Diane des cfrers,cotuma-e dings, em ngs ite ‘rin, a mdanga fonda que, em pcp, conte apenas nus Seago da pronincia de os segentos em determinades amen tes.dnpalavea ~ da mudangafonloglce — que evolve aerasSe, por ‘employ no mero de undades spores dts (os chamades fo | Thomas) portant, no stema de velagbs ene sus Una, ‘Asim, asubstuigfo de [| por || no fim de aba no postu. guts bras alterow a proninci de palavas come aio, mula, 0 ‘dado, tas no alterou o mimeo de fonemas do poraguts (0 | cox {Unud extindo como unidade sonora stint) Porm ves, 0 desaperesimento no portugués moderna de || « |de|,unidadssonorasdistiavas no portguts medieval, alters sistema com aredugso do nmero de sus fonemar. News mesma perspectva,osurgimento de [ne | na pasagem do lal ao por {agus alter o sistema antigo plo acréscimo de dois fonemas no ‘or que cotrestam, com poder distiativo, com [ne I/| respective: tment, conforme exemplificedo pelos pars manhe % mana maha Mudengas mortlégieas ‘A morfologia trata dos prinipis qu rgem a estratura inte: na das palavras: seus componentes(chamados de morfema) 0s pro- tessosdrivacionais es formas de se obternovaspalavras)¢ elo. thas (as formas de se marar, no interior da pave, a cteperlas tramatias come ginero,nlinro,aspecto, vor, 1empo, pesto). Diferentstipes de mudanga podem ocorter nese nivel, dente or quais cmos fr sf_emootmn 4) as palavras autnomas podem setomarmorfemas derlvaco- fais. A este rexpeto, Chmara J. (1979, p. 116) mostra como adver bios do antigo Indo-europeu passiram a ser prefixos em lati, de- pols de se anteporem ao verbo ea ele a alutinarem, Por ese pro- ‘exo, de placare ("scalar a ira de alguém")obteve-se, pela ante- posigio do advérbio sub e sua aplutinasso ao verbo, supplicare (os ‘felts sonoros da agitinagto ~ |d| ~ [p| lal ~ [il — decor tem de aspectos fOnicos gerals no latin); 'b)sufixos poder destparter Bina morfentsdetintox pasean- os integrar a raz da palaves-B- exso do sufixo lating =, indi tador de grau diminutivo, que perde se carder sfx integroc Arsiz das palavas,cransformando, dese modo, uma palavra origi nalmente derivads numa palara simples que velo esubtitue a ati: 8 palavraprmliva. Temot, hole, por exempla, em portugues, & p= favra abefha que ndo vem do lati api, mae do diminutive apie 9 oststent Msol pode made, Na paste patie as linguas romfnicas, por exemploweetibareen ° ‘deeasa Ei lim, a funedo sinttic da palavranasentenss ~ sa relagdo de sueto ou complement do verbo — era mareada no inte. Hor da palavra por melo de terminapbes expecta, dsrbuldas em vrakdecinagbes. Assim, um substantive petencente& segunda de linaglo tinha a terminagio -us, do nominative, se ocoresse come self (ypu); a terminaedo 0, do datvo, se ocorresse como objeto Inireto (pe); a terminagdo “um, do acusatvo, se ocoresse como ‘objeto dete (ypu); e assim por dante. Nas ingvasromnica, es 85 fungbes sto mareadas pla dem —sujeito, em gral, antscede © verbo ¢ o objeto direto 0 segue; ou com prepasgdes ~ 0 objeto Inireto em portugués, por exerplo, & acompanhado da preposicto sou pare. Diese atin, dere po alent eae em por tugués der alimento a lobo. . Mudengas sintétons ° ‘A sintaxe € 0 estudo da organizacZo das sentengas uma lin 0a, Para dar um exemplo de sinaxe histérica, pode-sefomar a quer {io da ordem dos constitulntes no interior da ertrutura da sentenga [Nessa perspectiva, um fato para qual ha sempre referencia nos mi uals €'afiragdo a ordem dos constitutes na pasagem co lati, para as linguas romanicas: numa lingua como o atm, em Gue as layras ttm, como vimos acima, exo de caso para indica su fin lo sintdtes, sus ordem na estraturasentencil& mals ve, Perdide ‘5st flexio, a ordem se tora mals rigid, como nas linguss roma. ‘Assim, era possvel der em latin Paulum Maria.amat (Marie claramente sujeito e Paulum claramente objeto, mas em portupuée tems de dizer Maria ama Paulo. "Mudangas seméntices 10 é, como um processo que altera o significado da palavra ‘varias taxionomias des alteragbes que sio, em geral,dis- ‘eutidas em conjunto com as chamadas figuras de inguagem (metafo- Fa, metonimla, hipsrbol), pore se acredita que o proceso de cra ‘40 de figuras, na medida em que € um processo‘gerador de novas Senifcagbes, tem conseqinca para a mudanga de sgnfieado das palaveas. "Na semnuicahistérica, false, por exemplo, de pracessos que reduzem (estringem) o-tignificado da palavea.e de outros que am: pliam significado. Do primeio ipo #0 cao da eco do ssf. ‘ado da palavraarelo que, no portugués medieval, designava qual- ‘quer enfete, adorno, aparethamento e que hoje designa apenas 0 con- Junto de pecasnecessrias & montaria do cavalo ou a seu trabalho Ge cargu eto ¢, design apenas 0 aparlsamento do cavalo para mon. ‘aria ou carga) ‘Um exerplo do segundo tipo ¢ a palavra revolupd. Original: ‘mente era um termé astronémico que designava movimenio regular, sistemético e cei dos corposeeleses. Seu significado ampliouse a0 ser introduzido no campo semAntico da politica, pateando a de- Slgnar também movimentos seis alteradores dima ordem estabe- Tesida. Hanna Arendt, em seu livvo Da revolupo, fas, Da perspeci- ‘edo centsta social, um estudo dessa evelugio, mostrando gomo no inicio dessa expansto semfatice 0 term tinhs um signifiado de ‘movimento socal esaurador dum ordem anterior (ligndo 20 sigi- ‘cade orginal de cielo, volta) , x6 mais tarde, adgulia seu sigsi- ‘ado atual de desruigdo de uma veh ordem e contigo de um min da nova, ‘Un estado radslonal nese ren. etimologa, que busca ts ‘cuperar a hstria de cada palave, isto &, as eelapdes que um pala: ‘ra tem com a unidade lexieal de que se crigin. Os resultados deste \ tipo de investigapto sto, normalment, reunidos em dicionérios eti- ‘molégicor. Por meio do estudo etimoldgeo,¢ postive recuperar, multat vers, a seqlncia histérica das alteapSes do significado das pl vras Assim, por exemplo, a palavra rubric, que hoje tem 0 signii- cado de “asinstura abreviada”,sgnfiou orgialmente "tera ver- mmelha; depois, “tinta vermela; mai tarde, “tule dos capitlos das les escrito, nos antigos manvtcritos, em tntavermelha™ ( ‘manece ainda hoje o significado generico de "tla" ou entrada”); ‘em seguld, “sina, marca” (anda hoje corrente,chegatdo ft nalmene a0 significado de “assinature abreviada” (ef, Guia, 1937, 3. 15, "Mudangas pragméticas A pragmdticacostuma-se atrbulr a tarefa de eatudar 6 uso dos lementoslingliscos em contrate com o extudo das propriedades tstruturais dsse elementos. Umvexemplo de praganiticntstoica € ‘investiga do uso do terma voce no tatements do interlocutor, \ bscrvando quem ¢ tratado por yoct.nosdiveron momentos da hs {ria do portuguts do fim do.perodo medieval até nassos das, Outro exemplo & 0 etude da evolusdo das formas de reportar ‘9 lscurso de outrem na prose de linguas europias moderns, como {ez Bakitin (1979, parte ID, oale Mudnoa ‘As palavras, como uma das unidades de lings, sho extudadas ‘em todas as dscplinaslingistias:enfoca-t sus forma sonora (f névea/fonologa), sua estrcura Interna (morfologia), ua ocorrtn cia como constuate da sentenga(sntaxe), seu significado (Sema 8), seu w30 (pragmatic), (© mesmo se dé em lingtisicahistérica, como o letor $8 deve ter pereebido, Pode-e enfocar as mudanpassonoras, morfolsieas, sincitces, semdticas © pragmaticas uma pales Por outro lado, pode-se estudar hstoicamente a composicio do éxeo,abservando Sua origem (a base latina do léxico portasts, nor explo) eos divest esiorporato depatran e O teas lingua (os chamados emprésimas-Essetipo de estudo no exo ‘do tempo se corrlabisha normelmetts coun o extudo mais amo da arpcegio oa mnincs histria cultural da) comunidade() Lingo), na medida em que 6 lice eum dos pont em que mals claramente ve pereebea intima Sade das telapder entre lingua ecultura ‘Pata fnaliar este item sobre o que pode mudar na histria du- sma ingua, uma iim palava. A clasifiepfo que apresentamos ac ima nto deve suger a leitor que as mudangas se dio de forma es fanque em ead nivel, Os nivls so divisdsfitas pelos inglistas com ‘objetivosanaitios,enquanto a realidad ingistia € uma totlid ey ato & deve estat alas tanto para o fato de que as muda ‘es poem ocorer em ris artes da ingua, quanto pare ofato de ‘Soe eas diversas midanas podem esta todo sistema de casos do latim na passagem pars as, Costumam os esudiores dizer que © proceso se iniiou com 0 nfeaquesimento dos rons no final das palaras (uma mudanga son0: ‘a portant) que afetou, em conseinia, os marfemas de caso (um nidange morfoldpea)e que culmou com a fixapio duma ordem nals igida dos constitintes a orapdo (uma mudanga sinttic) Uma obiiviagso tetminolégica Ness como om outros Capos aparece os {eos novedoreconservador para desiana eopecivamente 0 ee- tremo too, so & avant que se expands alterandoaspetos da nigra a lagu eo eemeno veo, io fy variate quer rcrenta x configures satan mg Ear ‘que queremos ressaltar aqui ¢ que 0s dois termos aio tém, em ogulsie he, qualquer dimestovloraiva no be in Sdorum tom post, nes em conervador um fom negative. Sto {eos apenas decries.

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