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TRIBUNAL DE JUSTIGA DO ESTADO DO PARA 4® VARA DO JUIZADO ESPECIAL DAS RELACOES DE CONSUMO TERMO DE AUDIENCIA. 5 PROCESSO: 001.2010.900.797-9 RECLAMANTE: ANA CAROLINA CAMARAO PROENCGA RECLAMADO: BANCO BANKPAR - AMERICAN EXPRESS DO BRASIL RECLAMADO: AMERICAN EXPRESS - TEMPO SERVIGOS ‘Av’ 10 dias do més de marco do ano de dois mike onze, as 12:50 horas, nesta cidade de Belém, Capital do Estado do Para, na Sala de Audiéncias do Gabinete da 1° VARA DO JUIZADO ESPECIAL DAS RELAGOES DE CONSUMO, perante a MM. Juiza de Direito Dra. CAROLINA CERQUEIRA DE MIRANDA, acompanhado da Auxiliar de Secretaria Aline 8! Vieira, aborta a audiéncia de Conciliagao, Instrugao ¢ Julgamento, nos Autos da Agio e entre as partes supra referidas, feito o prego, verificou-se a presenca do(a) autor(a) Sr. (a). ANA CAROLINA CAMARAO PROENGA, RG 1419499, SSP/PA, CPF 145.498.752-91, assistido(a) pelo(a) advogado(a). Dr(a). Gisele Aline de Aquino Cabega, OAB/PA 7426. Ausente o8(as) reclamado(a) BANCO BANKPAR — AMERICAN EXPRESS DO BRASIL, AMERICAN EXPRESS - TEMPO SERVIGOS, ‘apesar de regularménte intimados, conforme Termo de Audiéncia constante no evento n°. 35. Aberta a audiéncia, passou-se a instrugo do feito com a producao da prova oral, tendo a’MM. Juiza passado a oitiva da PARTE AUTORA, A QUAL INQUIRIDA PELO JUIZO, RESPONDEU: que sente que sofreu abalo moral por conta das cobrangas através de ligagGes insistentes, as quais era reportada nao s6 para seu celular, como também para sua residéncia, inclusive a noite é para seu trabalho, sendo dexado recados com terceiros; que continuou recebendo tais ligagdes mesmo apés o ajuizamento da presente ago; que teve éxito em negociar a divida com a ltaucard, mas nao com os reclamados; que os pagamento passaram a ser feito no minimo a partit-de dezembro/2008. ~ . AS PERGUNTAS DE SUA PATRONA, A AUTORA RESPONDEU: que acredita que seu nome chegou a ser inscrito no Serasa, mas néo possui qualquer ‘comprovagdo; que nesse periodo ndo precisou utilizar seu nome para aquisig&o de nenhum crédito; que @ sécia de uma radia e' teria prejulzos para seus negécios com: eventual inscrigao de seu nome, inclusive apresentou para o administrador os termos da presente ago. . _Inexistindo testemunhas a serem ouvidas, foi encerrada a instrugéo processual, passahdo-se a sentenca do feito: > SENTENGA (TIPO A) Vistos etc. . Dispensado 0 relatério, nos termos do art. 38, da Lei n® 9.099/95. Inicialmente, decerto a revelia dos reclamados, vez que, a despeito de regularmente citados, nao compareceram & audiéncia de conciliagao, instrugo e julgamento ou justificou sua auséncia, pelo que decreto sua revelia, nos termos do art. 20, da Lei n° 9099/95. : ’ No mérito, entendo que a relagéo contratual em. debate sujeita-se & aplicabilidade- das ‘regras consumeristas, pois verifico a possibilidade de submisséo das operadoras de cartéo de crédito aos principios e regras do CDC, nos exatos termos do que foi decidido no Resp n° 450.453/RS, em cujo julgamento a Segunda Seco do ST firmou 0 , entendimento de que “as administradoras de cartéo de crédito s8o-consideradas instituigbes financeiras’, razo pela qual esto sujeitds a Simula n. 297 do STV: "O Cédigo de Defesa do Consumidor é aplicavel as instituig6es financeiras" Consoante se extrai do Resp. 1061530/RS que examinou a materia em questo, a revisdo da taxa de juros deve ser admitida em situagbes excepcionais, desde que caracterizada a relagao de consumo e que a abusividade (capaz de colocar 0 consumidor em desvantagem exagerada — art. 51, § 1°, do CDC) fique cabalmente demonstrada, ante as peculiaridade do julgamento em concreto, met A situagao fatica exposta nos autos caracteriza-se como relagdo de consumo e, * portanto, estd sujeita as regras do Cédigo de Defesa do Consumidor, cabendo assim, a andlise da abusividade da taxa contratada, a autorizar a reviséio do contrato, a teor do que noat expressamente os artigos 6°, inciso V, 39, inciso V e 51, inciso IV e § 3°, inciso III, do CDC. . A intervenco judicial s6 6 autorizada, porém, nos casos mais graves e de alcance muito geral. Para que ela se legitime, amenizando 0 rigorismo contratual, necesséria a ocorréncia de imperatives de ordem publica, adequando os principios constitucionais da liberdade e da isonomia das partes contratantes, procurando-se impadir 0 locupletamento e vedando-se o abuso. Dadas estas consideragdes, tem-se que as partes, quando contratam, tam inicialmente em vista o cardfer irretratvel do vinculo juridico que esta sendo formado. Contudo, acima das vontades particulares, ou das representacdes psiquicas dos estipulantes, & preciso colocar os principios superiores da boa fé, isoriomia e fungo social, mitigando o cardter definitivo e irretratdvel do contrato ura vez celebrado, e das obrigagdes que dele deriva, ‘Sem perder de vista a fungao social que deve sempre nortear os contrates em geral, a seguranga juridica esta justamente em fazer valer as regras pactuadas entre as partes, observados os principios e regras que norteiam a matéria e as peculiaridades do instituto obrigacional, ou seja, o instituto trabalha com a conjugagao de varias regras, principios e diplomas legais distintos. Neste contexto,’ cabe trazer 4 balha os ensinamentos de Emilio Beti, (in Novissimo Digesto Italiano, Turim: Utet, 1958, vol. 12, p. 1.559), onde leciona, verbis: “autonomia significa, em geral, atividade e poder de dar-se um ordenamento, de dar ordem as préprias relagdes e interesses, definida pelo proprio ente ou sujeito a quem aquelas ¢ estes respeitem”. Destarte, a autonomia da vontade é uma parte do principio geral da autodeterminagéo das pessoas que tém nele um principio prévio ao ordenamento juridico e que 0 valor que com ele deve realizar-se esta reconhecido pelos direitos fundamentais. Conclui-se entéo, que ninguém esta sujeito as obrigagdes .que nao tenha querido, implicando em via transversa que os individuos devem respeitar todas as obrigagdes em relaggo as quais tenham dado seu consentimento, cumprindo ao Estado intervir apenas e tao somente para assegurar o equilibrio entre as partes contratantes, seja pelo dirigismo contratual, seja pela delimitaco dé vontade, ou mesmo disponibilizando aquele em desvantagem, instrumentos de defesa aos seus direitos ameagados de violapao. © Superior Tribunal de Justiga (ST4) ja decidiu ser possivel e legitimo o Poder Judiciério verificar "em cada caso, 0 abuso alegado por parte da instituig&o financeira" na cobranga de juros. —* . ‘Ao permitir a verificagao, em cada caso, da abusividade dos juros, o egrégio STU demonstra evidente sinal de que a surrada tese defendida pelas instituiges financeiras de que gozariam de direito 4 cobranga de juros ilimitados esta ultrapassada. E nao ha de ser diferente, porque, segundo a Lei Federal n. 8.884, de 1942, o aumento arbitrario dos lucros constitui infracao da ordem econdmica, independentemente de culpa. Assim, verifica-se que a taxa média dos juros praticada pelas Instituigdes Financeiras, .cuja tabela é elaborada pelo Banco Central do Brasil - BACEN (www.bacen.gov.br), serve como parémetro, a0 Magistrado, na tarefa de proctamar ou nao a abusividade na lide posta a apreciag&o. Observe-se, neste “particular, que 0 Superior Tribunal de Justiga j4 decidiu que a SELIC nao representa a taxa média praticada pelo mercado, sendo, portanto, invidvel sua utilizago como parametro de limitagao de juros remuneratérios (Resp 865.977/RS, AgRg no Resp 704813, AgRg no Resp 509577). Gr Assim, no tocante aos juros praticados por instituigSes financeiras ou administradoras de cartéo de crédito, deve ser observada a taxa média operada no mercado, porquanto dentro de patamares do que se considera razoavel, sob pena de exorbitar as vantagens da uma das partes, causando patente desequillbrio contratual. Ressalte-se, por oportuno, que 0 STJ consolidou entendimento no sentido de que nao se aplicam as instituigdes financeiras a limitagdo de juros no patamar de 12% ao ano, nfo te sujetando ao Decrete-Letn, 22626, de 1853, de conformidade com a SOmula 569 do STF: 7 “As disposigdes do Decreto-lei n. 22.626, de 1933, ndo se aplicam as taxas * de juros e aos outros encargos cobrados nas operacies realizadas por instituiges publicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional.” Portanto, a cobranga de taxas que excedam o prescrito na Lei de Usura, desde que autorizada pelo Banco Central do Brasil, ndo é ilegal, sujeitando-se aos limites fixados pelo Conselho Monetério Nacional, nos contrafortes da Lei n. 4.595, de 1964. Ou seja, em se tratando de contratos de empréstimos ou de financamentos firmados com instituicdes financeiras, os juros devidos sdo os pactuados pelas partes, desde que .ndo abusivos, considerando-se estes como aqueles superiores a media do mercado. Esse ‘entendimento ‘estou pacificado com a entrada em vigor da Lei n. 14.672/08, que regulamentou o procedimento dos recursos repetitivos e, culminou no julgamento do Resp. 1.061.530-RS, da relatoria do Ministro Ari Pargendler (2* seg&o do ‘ST4J), que tratou da questo referente aos juros remuneratérios da seguinte forma: “a) As instituiges financeira no se Sujeitam a limitagéo dos _juros remuneratérios estipulada na lei de usura (Decreto 22.626/33), simula 586 do STF, . b) A estipulagao de juros remuneratérios syperiores a 12% ao ano, por si 86, nao indica abusividade; ¢) so inaplicdveis aos juros remuneratérios dos contratos de miituo bancério as disposigdes do art. 591 cl art. 408 do CC/02; d)E admitida a reviséo das taxas de juros remuneratérios em situagbes excepcionais, desde que caracterizada a relacéo de consumo e que a abusividade (capaz de colocar 0 consumidor em desvantagem exagerada — art. 51, § 1°, do CDC) figue cabalmente demonstrada, ante &s peculiaridades do julgamento em concréto.” Vé-se, portanto, dentro do cenario juridico atual que o julgado que tratar de matéria repetitiva, como 6 0 caso dos juros remuneratérios, devera forgosamente ser observado pelos Tribunais e Juizes singulares, com forga de sumula vinculante. Consoante afirmado anteriormente, conclui-se que so consideradas abusivas as taxas contratadas que excedam a taxa média de mercado. Logo, se a taxa de juros remuneratérios ‘prevista no contrato estiver acima da taxa média de mercado resta caracteriza a abusividade, sendo, portanto, possivel a reviséo do contrato e a consequente redugo da taxa dos juros. Contudo, por consequéncia légica, se a taxa prevista no contrato estiver abaixo da taxa média de'mercado, assim considerada aquela prevista na data da celebragdo do contrato, nao deve ser admitida a reviséo contratual, por nao restar caracterizada_nénhuma’abusividade, devendo, entdo, prevalecer a taxa estipulada no contrato. Confira a respeito alguns julgados: . “RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCARIO. AGAO REVISIONAL. DISPOSIGOES ANALISADAS DE OFICIO. IMPOSSIBILIDADE. JUROS REMUNERATORIOS. _LIMITAGAO . AFASTADA. COMISSAO DE PERMANENCIA. LICITUDE DA COBRANGA. -CUMULACAO VEDADA. CAPITALIZACAO MENSAL DE JUROS.. PACTUAGAO EXPRESSA. NECESSIDADE, 1. Nao cabe ao Tribunal de origem revisar de oficio cléusulas contratuais tidas por abusivas em face do Cédigo de Defesa do Consumidor. 2. A alterac&o da taxa de juros remuneratérios pactuada em Qt ‘ mutuo bancario depende da demonstragao cabal de sua abusividade em relagdo taxa média do mercado. (...) (AgRg no REsp 995990/RS, Ministro JOAO OTAVIO DE NORONHA, 4* Turma, Data do Julgamento 18/12/2008 Data da Publicagdo/Fonte DJe 02/02/2009) (destacado) : AGRAVO| REGIMENTAL. ALEGACAO. DE - IRREGULARIDADE NA REPRESENTACAO PROCESSUAL. EVENTUAL VICIO EXISTENTE NA CORRETA DEMONSTRAGAO DA CAPACIDADE. POSTULATORIA DEVE SER ARTICULADO E ‘PROVADO NO DEVIDO TEMPO, ISTO E, NAS - INSTANCIAS ORDINARIAS, OU NA PRIMEIRA OPORTUNIDADE QUE A PARTE TEVE ACESSO AOS AUTOS. PRECLUSAO. INEXISTENCIA DE PREQUESTIONAMENTO DA MATERIA. ALEGACAO DE DESERCAO. PREPARO DO RECURSO ESPECIAL REGULAR. AFASTAMENTO DA LIMITAGAO DOS JUROS REMUNERATORIOS EM 12% AO ANO. INAPLICABILIDADE, NO CASO, DA LE! DE USURA. INCIDENCIA DA LE! N° 4,595/64 E DA SUMULA S96/STF. INEXISTENCIA DE ABUSIVIDADE DO PERCENTUAL AVENCADO ENTRE AS PARTES EM RELACAO A TAXA MEDIA DE MERCADO. POSSIBILIDADE DE CONTROLE E REVISAO, PELO PODER. JUDICIARIO, EM CADA CASO, DE EVENTUAL ABUSIVIDADE, . ONEROSIDADE EXCESSIVA OU ‘OUTRAS DISTORGOES NA ' " COMPOSIGAO CONTRATUAL DA TAXA DE JUROS, NOS TERMOS .DO CODIGO CIVIL. APURAGAO QUE DEVE SER FEITA NAS INSTANCIAS ORDINARIAS, A VISTA DAS PROVAS PRODUZIDAS. APLICAGAO DA TAXA PREVISTA.NO CONTRATO. RECURSO IMPROVIDO.(AgRg no REsp 1046651/MS, Ministro LUIS FELIPE SALOMAO, 4° Turma, Data do Julgamento | 18/12/2008 Data da Publicagdo/Fonte DJe 26/02/2009) (destacado) - . Ocorre que os juros remuneratérios podem ser cobrados cumulativamente com 08 moratérios, sendo correto que este Ultimo deve observar 0 limite maximo de 1% ao més, conforme Stimula 379 do Superior Tribunal de Justiga: “Nos contratos bancérios no regidos por legislagao especifica, os juros moratérios poderao ser fixados em até 1% ao més.” © cenajio 6 0 seguinte: 4 taxa de juros moratorios nao pode exceder a 1%, porém estes podem ser cobrados cumulativamente com os juros remuneratérios, cujo peréentual ndo sofre a limitagao de 12% a.a., podendo ser livremente pactuado entre as partes, desde que ndo ultrapasse a taxa média apurada pelo Banco Central, sob pena de abusividade. No caso vertente, verifico que os juros moratérios cobrado pelo requerido esta ‘em conformidade com 0 entendimento manifestado linhas atrés, pois as faturas anexadas com a inicial demonstram que 0'percentual langado sobre 0 débito do requerente é da ordem de 1% ao més. © mesmo no ocorre quanto aos juros remuneratérios, pois constato qiie,o autor alega que 0 requerido esta efetuando a sua cobranga em patamar superior & média do + mercado, qual seja a taxa de 13,95% ao més. : Em condulta formulada junto ao site do Banco Central do Brasil http://www.bcb gov.br/7TXCREDMES - Tabela XVI), é possivel constatar que a taxa de juros nas operagées de crédito pessoal praticada desde o més de dezembro/2008 (inicio do débito da autora) até a presente data, nao foi superior a 4,02%. Conclui-se, entdo, que a taxa de juros superior a 12% adotada pelo requerido mostra-se abusiva, uma vez que em patamar altamente elevado em consideragdo a média praticada pelo mercado, conforme “apuragao feita pelo'Banco Central do Brasil. ‘A média operada pelo mercado deve ser observada, seja nos casos em que haja percentual expresso no contrato, seja nos casos em que o instrumento firmado entre as partes mostra-se omisso no ponto, sob pena de nulidade, passive! de reconhecimento ox officio pelo judiciério, conforme artigo 51, inciso IV do CDC. Neste sentido, imperioso reconhecer o direito a revisao contratual pleiteado pela autora, devendo o requerido realizar novo céilculo do débito, considerando a taxa de juros morat6rios de 4,02% ao més, percentual este correspondente & média apurada pelo Banco Central a partir do més de dezembro/2008 até a presente data. No que se refere multa, verifico que 0 percentual aplicado pelo requerido é da ordem de 2%, estando de acordo com o artigo 52, § 1° do Cédigo de Defesa do Consumidor, nao havendo que se falar em revisao contratuatneste ponto. No tocante & capitalizagao de juros, entendo ser possivel a sua incidéncia desde que expressamente pactuada entre as partes e nos contratos bancérios celebrados apés 31.03.2000, data da publicagao da primeira medida proviséria com previsdo dessa cldusula (MP 1.963/2000). Tal entendimento foi manifestado recentemente pela Segunda Sego do STJ no julgamento dos Embargos de Divergéncia no Resp n° 917.570-RS, que pacificou 0 entendimento divergente entre a 3",e a 4* Turmas, cuja ementa transcrevemos: EREsp 917570 / RS EMBARGOS DE DIVERGENCIA NO RECURSO ESPECIAL 2007/0146410-6 Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) - Orgao Julgador S2 - SEGUNDA SEGAO - Data do Julgamento 28/05/2008 - Data da Publicagdo/Fonte DJe’ 04/08/2008 - EMBARGOS DE DIVERGENCIA NO RECURSO ESPECIAL. BANCARIO. CONTRATO DE CARTAO DE CREDITO. JUROS. CAPITALIZAGAO ANUAL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. - Autoriza-se a incidéncia de capitalizagao anual dos juros “nos contratos de cartdo de crédito, na linha da jurisprudéncia da Corte. Dado provimento aos embargos de divergéncia. Ocorre que no caso dos autos no ha demonstrago de previséo contratual ~ autorizativa da inoidéncia de capitalizacao mensal de juros, o que significa presumir que nao houve pactuagao entre as partes neste ponto, sendo inaplicavel os juros sobre juros com periodicidade mensal. A propria relatora, Ministra Nancy Andrighi, declarou no, voto vencedor ‘dos Embargos de Divergéncia acima mencionado que entende “ser possivel a capitalizagao mensal de juros nas operacdes realizadas com instituigdes integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desde que pactuada nos contratos bancérios celebrados apés 31.03.2000" (grifos nossos). Logo, somente esté autorizada a capitaliza¢éo mensal quando expressamente ~ pactuada entre as partes, sendo vedada a sua incidéncia quando omisso o instrumento contratual. Em relagao aos danos morais, na aplicagéo da responsabilidade objetiva, . como in casu, para que haja o dever de indenizar é irrelevante a conduta do agente (culpa ou dolo), bastando a existéncia do dano e 0 nexo de causalidade entre 0 fato eo dano. Nesse ponto,. entendo que, ainda que a autora tivesse comprovado a “negativagao de seu nome, a mesma teria sido regular, ante a inadimpléncia por longo * perlodo confessada, ao mesmo tempo em que néo se configura pratica ilegal a emissao de carta de cobranga para pagamento integral do débito. c Por outro lado, déstaco que os arts, 42 e 71 do CDC prevéem a protecdo civil e criminal do consumidor, em casos de utilizagao de meios abusivos para a cobranga de dividas, send vejamos: “Art. 42. Na cobranga de débitos, o consumidor iniadimplente no serd exposto a ridiculo, nem sera submetido a qualquer tipo de constrangimento ‘ou ameaga.” “Art... 71. Utilizar, na -cobranga de dividas, de ameaga, coagao, constrarigimento fisico ou moral, afirmagées falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridiculo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: ae Gd Pena Detengdo de trés meses a um ano e multa.” No caso vertente, a autora alega que de fato possui divida pendente com o banco réu, mas entende que sofreu abalo de ordem moral,em face das ligagdes de cobranga efetuadas para a sua residéncia, realizadas de forma insistente ao longo de meses, tendo sido, inclusive se voltado para o seu local de trabalho e em hordrios De fat6, entendo que, apesar da inadimpléncia da autora, ndo pode 0 credor subtrair-lhe a tranquilidade com ligagdes em horarios néo comerciais, tampouco com uma insisténcia exagerada, muito menos repassando a terceitos informagées do débito, pelo que tal pratica deve ser coibida, vez que capaz de gerar intranqUilidade e sentimento de impoténcia capazes de gerar abalo moral indenizavel, mormente quando relativa a cobranga - em valores excessivamente cobrados. i Nesse sentido; APELAGAO CIVEL. ACAO ‘DE INDENIZACAO. COBRANCA DE DIVI- DA JA ADIMPLIDA. LIGACOES FREQUENTES PARA O AUTOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO. SITUAGAO VEXATORIA. ART. 42 DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DEVER DE INDENIZAR EVIDENCIADO. QUANTUM INDENIZATORIO. MINORACAO CABIDA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Configura dano moral indenizével a cobranga vexatéria dedivida no local de trabalho do devedor, bem como ligagGes e visitas frequentes a familiares e terceiros, independentemente de comprovagao do prejuizo material softido pela vitima ou da prova objetiva do abalo a sua honra e sua reputacdo, porquanto séo presumidas as consequéncias danosas resultantes desses fatos (AC n. 2008,041907-9, Des. Subst. Henry Petry Junior). (TISC: = Apelago Civel| AC -634303 SC 2009.063430-3, - Relator(a): Sérgio Izidoro Heil, Julgamento: 08/03/2010, Orgao Julgador: Segunda CAmara de Direito Civi, Publicagao: Apelacdo Civel n. 2009.063430-3, de Indaial) CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. COBRANCA DE DIVIDA. AMEAGAS VERBAIS. LIGAGOES TELEFONICAS PARA O LOCAL DE TRABALHO DO DEVEDOR VISANDO COAGI-LO A PA- GAR A DIVIDA. SITUAGAO VEXATORIA: OBRIGACAO DE INDENI- ZAR CARACTERIZADA. CRITERIOS PARA O ARBITRAMENTO DA VERBA. EXAME DAS PECULIARIDADES DA ESPECIE E RAZOABILI- DADE. PROCEDENCIA DO PEDIDO. RECURSO PROVIDO. Configura dano moral a cobranga vexatéria de divida no local de trabalho do devedor, independentemente de comprovagao do prejulzo material sofrido pela vitima ou da prova objetiva do abalo a sua honrae sua reputagdo, porquanto presumam-se as consequéncias danosas | resultantes desses fatos. A indenizacao por dano moral, revestida de carater pedagégico, ha que ser arbitrada com efeitos de corrigenda, com a intengao de demové-lo de propésitos menos nobres, pondo-Ihe freios que o impegam de seguir na pratica de atos acarretadores de feridas e dores morais a terceiras pessoas. De outro lado, deve servir de lenitivo para a vitima, devendo o juiz cuidar para n&o enriquecer indevidamente 0 ofendido. (TUSC.- Apelagéo Civel: AC 745005 SC 2008.074500-5, Relator(a): Luiz Carlos Freyesleben, Julgamento: ~ 97/05/2010 Orgao Julgador: Segunda Camara de Direito Civil, Publicagéo: Apelagao Civel n. 2008.074500-5, de Cricitima) Assim, ainda que a ligagdo telefénica’ seja meio frequentemente _utilizado pelas empresas em.antecipacao 4 execucao judicial da divida, a qual, inclusive, é, muitas vezes, mais onérosa ao cliente, ndo se permite que o fagam de forma violadora aos direitos do consumidor, enquanto que, no caso conereto, a empresa ré se furtou em fazer contra prova'do.alegado, se omitindo durante toda a instrugéo processual, devendo, assim, suportar os efeitos da revelia. 0 ato lesivo praticado pelo réu impde ao mesmo o dever de reparar o dano. Logo, configurada a responsabilidade civil, visto que devidamente demonstrado 0 nexo causal entre a conduta praticada e 0 fato lesivo, impde-se ao réu 0 dever de indenizar. Em verdade, tal, reparago possui cardter diplice: satisfatério ou compensatério vitima, e punitive e educativo ao ofensor, visto ser encargo suportado por quem causou 0 dano, com a finalidade de desestimulé-lo de novas préticas lesivas. Compensagao ao ofendido e punigao ao ofensor, eis 0 binémio que rege o dever de indenizar. - -Com efeito,a indenizago ‘por perturbagSes de ordem imaterial deve ser quantificada com.base nas condiges pessoais das partes envolvidas, o bem juridico tutelado, a extensdo e duracdo dos darios, a repercussdo da ofensa e a retratacdo espontanea do agente, tudo a fim de que seja proferida a deciséo mais justa e equanime para 0 caso concreto, de forma que a reparacdo alcance-o seu cunho social e cardter duplice: satisfatério ou compensatério a vitima, e punitivo e educativo ao ofensor, pelo que fixo, no caso dos autos, o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), a titulo de reparagao por danos morais. - Ante ao exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos iniciais para deciarar a abusividade da cobranga de juros remuneratérios no percentual superior a 12% a.m., bem como da cobranga. de capitalizagSo mensal de juros, determinando ao requerido que realize o célculo da totalidade da divida do autor utilizando como taxa de juros remuneratérios 0 percentual de 4,02% ao més, sem a incidéncia de capitalizagdo mensal de juros, descontados todos os valores ja pagos, encaminhando o boleto para pagamento ao enderego da reclamante no prazo de 15 dias, a contar do transito em julgado, bem como juntando aos autos a planilha de célculo detalhada da operagao. Condeno o reclamado, ainda, a pagar & autora ANA CAROLINA CAMARAO PROENCA indenizagao por danos morais no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), corrigido monetariamente pelo INPC a partir desta data e acrescido de juros de 1% ao més a conter da citagdo, no prazo de 15 dias, mediante depésito judicial junto ac Banparé. Embora o percentual de juros moratérios (1% a.m.) e da multa (2%) ndo sejam abusivos, “conforme as razées aduzidas na fundamentacdo, 6 certo que a mora esta descaracterizada, ante o reconhecimento da cobranga de parcelas ilegais nesta sentenca, razSo pela qual so inexigiveis os encargos moratérios, devendo 0 requerido. excluir do cdlculo da divida do autor os juros moratérios @ a multa. Somente so exigiveis os encargos moratérios na hipdtese de ocorrer a mora a pattir desta reviséo, Diante’ desta decisao, extingo 0 processo com apreciagéo do mérito, com fundamento no art. 269, | do CPC. ‘ . Sem custas e honorérios nesta instancia, em consonancia aos arts: 4 @ 55 da Lein? 9,099/95. Publicada em audiéncia. . Nada mais havendo, foi encerrada a presente audiéncia as 13h20min, sendo lavrado este termo que vai por todos assinado. wuzaepireito: (A g rectamanre: ff Ay eal ADVOGADA: Wr collabo .

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