Já aconteceu com vocês de estarem conversando com alguém que
gagueja muito, e de repente, você também começar a gaguejar? Ou a pessoa com quem você conversa tem a mania de passar a mão no cabelo ou coçar a orelha, e de repente, você está fazendo o mesmo? Ou ainda alguém boceja, e você boceja também?
Esta atitude de imitar os outros, de forma involuntária (e às vezes
voluntária) é um fenômeno que vem sendo estudado por pesquisadores. O chamada mimetismo social tem sido estudado como um elemento sutil mas importante no relacionamento entre pessoas.
Para que duas pessoas estranhas criem um laço social imediato, o
mimetismo é fundamental. Este mimetismo é a sincronia que usualmente é inconsciente na troca de palavras e gestos e que cria uma ligação entre as pessoas. Quanto alguém sorri para você, o que automaticamente voce faz? Retribui o sorriso.
Outro exemplo, já comprovado por pesquisa, é nossa adaptação ao
sotaque ou dialeto da pessoa com quem falamos. Em lingüística, isso é chamado acomodação. Por exemplo, se estou falando com algum professor universitário, vou usar uma linguagem mais padrão que se assemelha à maneira de falar da pessoa com quem eu estou me interagindo. Quando estou em Araxá, com minha família, eu relaxo, e deixo o dialeto mineiro tomar conta.
O mimetismo social está presente, mesmo que não tenhamos consciência
disso. Se estamos falando com pessoas que falam alto, acabamos por falar alto também. Se estamos falando com pessoas que falam bem baixinho, nossa tendência é inconscientemente imitá-las. Por que o mimetismo ocorre tão rápido e instantaneamente? Ninguém descobriu ainda. O que parece que acontece é que ele está ligado a ativação de circuitos cerebrais em que sentimentos de empatia estão envolvidos.
Mimetismo, ou imitação, é um dos comportamentos mais reconhecidos no
reino animal. Um exemplo do mimetismo biológico no reino animal são as chamadas corais falsas. Estas cobras são parecidas com as corais verdeiras porque elas possuem o mesmo padrão de cores. Imitar o padrão das corais verdadeiras é uma forma de proteção contra os predadores. Mas, ao contrário das corais verdadeiras, as falsas são inofensivas.
O mimetismo social, por outro lado, pode comunicar conecção com a
outra pessoa. O estudo do mimetismo social pode ter outras abordagens, como por exemplo, na moda, nas idéias políticas, na ideologia, e até mesmo no hábito alimentar.
Na interação interpessoal, uma coisa parece certa: o mimetismo deve ser
um processo inconsciente. Contanto que não percebamos que estamos sendo imitados, a nossa atitude com relação à outra pessoa tende a ser mais positiva, pois sentimos que temos uma conecção com a pessoa com quem estamos falando.
O mimetismo social pode funcionar como um força positiva em entrevistas
para trabalho, na vendas de produtos, para fazer amigos e mesmo em uma conversa com estranhos. É uma maneira de facilitar a interação. E nós nem precisamos fazer muito esforço, já que tudo indica que o mimetismo é uma tendência natural no ser humano.
Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers
College Columbia University (Nova York) e professora de português como língua estrangeira. dmdcame@yahoo.com Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):
Osborne, D. (2009, September 25). Imitando os outros. Clarim, Ano 14, n. 687, p. A2.