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i ae ot CIENCIA E APLICAGAO Ge eee ee | TERCEIRA EDICAO w NUL LSEU yt eMC Rec ae hog ere UES Coe aE ea ee é um livro de cabeceira para os Pee CK: Rel UE Las recursos hidricos no Brasil. Idealizado como um livro-tex- to para os cursos de graduacao, tem a profundidade e a clareza para uma abordagem introduto- ria aos cursos de pos-graduacao. A obra trata dos principios ba- sicos e de aplicacoes praticas. Detalha os componentes do ciclo hidrologico precipitagao, infiltra- Gao, movimento da agua no solo, €scoamento superficial e evapo- transpiracao e os aplica em pro- blemas de cheias e secas, de se- dimentos e erosao, de disponibi- lidade e demanda, de PETE mento e gestao de recursos hi ble eck alert] exemplos brasi- leiros. Sua linguagem é hetero- genea, o que reflete a bColgiit-[et-{e) €0 ponto de vista de seus varios autores brasileiros e estrangei- fos, mas esta exposta com io e clareza, o que nos fasci- a Por permitir a compreensao fo [= bolt slic pee epee] que trata Vice-Reitor e Pr6-Reitor de Ensino José Carlos Ferraz Hennemann Pr6-Reitor de Extensao Fernando Setembrino ‘Cruz Meirelles Vice-Pré-Reitora de Extensao Renita Klisener ia EDITORA DA UFRGS Diretora Jusamara Vieira Souza CONSELHO EDITORIAL Antonio Carlos Guimaraes "% CIENCIA E APLICAGAO CARLOS E.M.TuccI ORGANIZADOR a TERCEIRA EDICGAO — urhes * EDITORA ABRH © dos autores I* edig&o: 1993 Direitos reservados desta edigao: Universidade Federal do Rio Grande do Sul ‘Capa: Carla M. Luzzatto Tlustragfio da capa: Rio Araguaia. Imagem SPOT, de 15) Revisdo: Maria da Graga Storti Féres ‘Anajara Carbonell Closs Maria da Gloria Almeida dos Santos Claudia Bittencourt 5/7/1986, L'Institut CRSIOM Bio de recherche scientifique ua 3 pour le développement Hidrologia: ciéncia e aplic I iplicagao / organizado Porto Alegre : Editora da UFRGS / ABRH, (Colegio ABRH de Recursos AGRADECIMENTOS Este livro contou com a contribuigao de um grupo numeroso de pessoas, além dos autores, Estas contribuigSes foram na revisio do texto, identificag’o de crros, digitagHo, desenho, edig&o, ou seja nas diferentes larefas que envolvem a produgiio de um texto desta magnitude. Sem estas pessoas certamente o livro no seria conclufdo ¢ muito menos em trés ‘anos. Portanto, os autores desejam agradecer nominalmente a todas as pessoas abaixo relacionadas que permitiram a conclusio deste livro. Agradecemos pela revisio e sugestdes aos seguintes profissionais: Antonio Righetto, Marcos Ledo, Mario Wregue, Franz Semmelman, Nelson Caicedo, David Marques, Robin T. Clarke, Mario Simées Lopes, Juan C. Bertoni, Olavo Pedrolio, Adolfo Villanueva, Femando Genz, Eduardo Savio, Luis Brusa ¢ Blisa Chaves, A contribuigdo de Andréa Germano, Fernando Genz e Fernando Steffon ¢ das bibliotecdrias Jusara Silva ¢ Jussara Barbieri foram inestimdveis na produgto dos originais enviados a editora. Os desenhos foram elaborados pelo setor de Desenho do IPH/UFRGS com a dedicagio dos desenhistas Marcia Feij6, Olasio Mendes, Dagoberto Weimar e dos funciondrios Geraldo Godoy e Marcia Nelci Feijé. PREFACIO a ¢ ao desenvolyimento econémico-social das nagGes. Trata-s¢ de um recurso natural renovdvel que pode tomar-se escasso com o crescimento das populagdes, das indtistrias ¢ da agricultura. Os pesados investimentos exigidos no setor dos recursos hidricos para al com os requisitos apropriados, em termos de ter esse recurso natur: ropriados quantidade © qualidade, representam uma parcela significativa dos orgamentos nacionais € regionais. ‘ Pela sua importéncia estratégica, este setor ressente-sc ainda da necessidade de desenvolvimento ¢ aprimoramento de métodos e técnicas préprias que possibilitem a sua utilizagdo racional na promogao do crescimento econémico ¢ do bem estar social do pats. A ABRH, atenta para essa demanda, vem dedicando um considerdvel esforgo na publicagio de periddicos ¢ livros técnicos que possam contribuir para 0 aprimoramento ¢ qualificagao profissional do pessoal envolvido com a ciéncia dos Recursos Hidricos. livro que agora apresentamos,"Volume IV da Colecfio ABRH", € o mais novo esforgo da Associagao nesse contexto da construgao de maior capacidade técnica de nossos profissionais, recomendada de forma prioritéria na Conferéncia Internacional das Nagdes Unidas realizada no Rio de Janeiro em 1992, Trata-se de um livro que todo profissional da area deve conhecer para melhor desempenhar sua contribuigio na solugSo dos problemas dos Recursos Hidricos. E um livro extenso, de 24 capitulos, que organiza de uma forma tedrica e aplicativa os conhecimentos hidrolégicos, oferecendo aos leitores uma Util fonte de consulta e aprimoramento. Uma vez que a ABRH dedica o biénio 92/93 ao ensino da ciéncia dos wRecursos Hidricos, esse esforgo editorial nfo poderia deixar de contemplar Rossa preocupag io com os cursos de graduaco e pés-graduacgio de nossas Universidades. Dessa forma, os autores convidados a escrever os diversos capitulos procuraram também deixar em seus textos uma seqiiéncia ldgica que devera permitir que o livro venha a atingir esse piiblico. A cada um dos autores ¢ a todos que contribuiram para a publicagiio desse livro, a diretoria nacional da ABRH deixa, em associ: mais fortes agradecimentos. : ee = ae A gua é um bem essencial a vidi APRESENTAGAO Inicialmente pretendfamos organizar um texto de apoio ao ensino de pés- graduagio de Hidrologia, mas a grande diversidade de formagao dos alunos que concorrem a esse programa exige que o curso de Hidrologia Basica contenha os elementos do graduago ¢ a introdugo para um programa mais avangado, Dessa forma 0 texto pode ser utilizado tanto no graduagao como num curso inicial do p6s-graduagio, diferenciando-se pela profundidade utilizada em cada capftulo ou pela escolha de capitulos que atendam ao programa desejado. Os resultados foram promissores, em apenas quatro meses foram preparados doze capitulos utilizados num curso introdutério de Hidrologia do pés- graduacio de Recursos Hfdricos e Saneamento do IPH/UFRGS. Esta primeira versio serviu de base para um projeto maior, o de preparar um livro que contivesse tépicos bisicos ¢ aplicados de Hidrologia ¢ fosse utilizado também nos cursos de graduagiio, Com essa ampliagao ¢ no aprimoramento dos cap{tulos anteriormente elaborados, este livro foi conclufdo através da participagdo de dezesseis qualificados professores. O desenvolvimento do texto, revisdes ¢ edic&o da minuta entregue A editora da UFRGS levou cerca de dois anos ¢ meio. Quando um curso ou texto sobre um assunto ¢ organizado, existem duas formas basicas de desenvolvé-lo, segundo a teoria ou com base nas aplicacdes. Os conceitos que formam a teoria, em geral, so mais dridos dificultando o ensino ¢ o aprendizado, enquanto a aplicagio € sempre mais fdcil de interessar o Ieitor. No ensino de graduagdo de Hidrologia o interesse do aluno tem sido reduzido, principalmente devido & seqiiéncia de conceitos que envolve 0 ciclo hidrolégico. Quando este assunto € visto dentro de uma dtica de aplicagio passa a ter maiores atrativos, O dilema, no entanto, decorre que sem os conceitos fundamentais n&o ¢ possivel que os profissionais tenham uma formagao aplicada coerente, Este livro foi dividido em duas partes, a primeira, que envolve os treze primeiros capftulos, procura ensinar os Principais elementos do ciclo hidrolégico, utilizando-se de exemplos praticos. Na segunda parte sfo apresentados capftulos organizados segundo aplicagdes, que utilizam técnicas descritas nos primeiros capitulos.. O primeiro conjunto de capitulos pode ser utilizado em uma disciplina bdsica do graduacglo ou pés-graduagao, de acordo com a profundidade utilizada do texto, © segundo grupo de capitulos pode ser utilizado para disciplinas aplicadas opcionais destes niveis de formago ou como a segunda parte do curso bdsico. Evidentemente que os temas, dentro de cada capftulo, nao foram esgotados. A orientagao do texto nfo foi a de explorar totalmente cada tema, mas a de introduzir o leitor no conhecimento de uma literatura especifica. A Hidrologia nfo se resume na descrigfo ¢ quantificagao dos processos envolvidos em parte do ciclo hidrolégico, mas qualquer profissional que atue nesta 4rea deve conhecer qualitativamente ¢ quantitativamente os processos fisicos enyolvidos, para que possa melhor utilizar ferramentas sofisticadas Apresentagio 0 dos Recursos Hidricos. Em Hidrologia atuam profissionais de diferentes formagdes, combinando técnicas eee estatisticas, processos quimicos, fisicos e biolégicos. Para a todas essas informagScs scjam utilizadas corretamente torma-se necessfrio um bom conhecimento dos fundamentos envolvidos. . ‘i : No primeiro capitulo € apresentada uma visio de. conjunto da Hidrologia como ciéncia e aplicagiio, procurando identificar as diferentes dreas de desenvolvimento ¢ os desafios. O segundo capitulo reune a visio macro do ciclo hidrolégico, quantificando o balango do globo terrestre, com os elementos fisicos da bacia hidrogrdfica. O relevo ¢ a sua influéncia no comportamento sobre © escoamento resultante da bacia so elementos que a ciéncia procura melhor explicar e alguns destes aspectos sio introduzidos nesse capitulo. O capitulo seguinte trata dos elementos de hidrometeorologia busca introduzir o leitor nas principais varidveis e processos necessdrios A compreensiio de algumas condigdes climdticas e A descrigao de metodologias utilizadas em outros capitulos. © quarto capitulo trata de Hidrologia Estatistica ¢ devido a sua grande importancia dentro de qualquer curso de hidrologia foi mais detalhado ¢ ocupou um espago maior neste livro. As estatisticas bdsicas, os elementos de probabilidades, regressio e correlagiio foram introduzidos para o leitor Icigo, Esses conceitos foram exemplificados com problemas de hidrologia, mas sao utilizados em outros capitulos. No capitulo 17 alguns dos elementos desses capitulos sio aprofundados visando o Ieitor interessado em aprimorar seus conhecimentos. © quinto capitulo inicia a seqiiéncia dos processos do ciclo hidrolégico com a Pree i¢o. O mecanismo da precipitagfo, suas medidas ¢ andlise dos dados bdsicos sio tratados inicialmente, Os aspectos de coleta de dados sao ee no capitulo 13 que engloba toda a aquisig#o de dados de bacias idrogrdficas. A seguir neste capitulo sio apresentados os _principais Ganges i ce média ¢ maxi a. A interceptagdo ¢ tratada no depressdes do solo si 4 aint ce tee eee eaaamee descritas no capitul See ce evi po eA pitulo 7, sto apresentadas através dos principais métodos, dando-se énfase ao método de Penman, baseado no balango de energi : - A parte do ciclo hidrolégico em que a Agua escoa’ ; separada em duas partes fundamentais, No capitulo Principais caracterfsticas do escoamento . . enquanto que no capitulo 9 é ae quantidade de agua que c do solo onde, em armazenamento na avaliagdo e Planejament Hidrologia superficie, ¢ 0 escoamento em ios ¢ canais com grande profundidade ¢ Jargura definida, No capitulo 10 sio apresentados os fundamentos do escoamento nao- permanente, no qual sio bascados os métodos utilizados para represeptar este escoamento tanto na superficie como nos rios. No capitulo 11 sao descritas as metodologias de andlise do escoamento superficial, desde a separagiio desse escoamento a partir do hidrograma, cdlculo da precipitagao efetiva, que gerou © escoamento superficial até a utilizag%o do hidrograma unitdrio, No capitulo 12 € deserita inicialmente a metodologia de célculo de linha de agua em regime permanente em rios, que em geral nao € abordada nos cursos ou livros de mec&nica de fluidos. A seguir sio descritas as metodologias de simulagao do escoamento em reservatérios € rics. © capitulo £3, que trata da Aquisigdo de Dados Hidrolégicos, poderia aparecer no inicio ou no final do grupo de capftulos que retratam o ciclo hidrolégico. A inclusio do capitulo nesta seqiiéncia permite que 0 leitor, apés conhecer os processos, tenha melhores condigdcs de entender como realizar a aquisigéo de informagdes. O capitulo busca dar a viséo de uma bacia ¢ analisar principalmente a coleta das duas varidveis principais, a precipitagio ¢ a vazio. Evidentemente que outras varidveis poderiam ser incluidas, mas os objetivos deste livro e o espago disponivel nao permitiram. Como mencionado anteriormente, os treze primeiros capitulo compdem a base conceitual de Hidrologia para o nfvel introdutério. Os capitulos que seguem nao possuem necessariamente seqiiéncia e podem ser utilizados como compartimentos estanques, apesar de existirem algumas referéncias entre si (por exemplo, capitulo 14 € 16, 14 € 21). Esses capftulos representam a utilizagao da hidrologia em problemas de engenharia, No capitulo 14 é tratado um problema tradicional de recursos hidricos, a vazao ou seqiéncia de vazdes (hidrograma) para dimensionamento de uma obra hidrdulica. O capitulo separa a determinagao da vazao maxima, quando somente esta € desejada, ¢ o hidrograma de projeto, quando tanto a méxima como a evolugao das vazdes sao necessirias. O capitulo 15 trata da regionalizagao de vazées que € um conjunto de técnicas utilizadas para estimar as vazdes em locais com deficiéncias de dados. Essas técnicas sio importantes na realidade brasileira em fungdo do custo da obtengio dos dados ¢ do tamanho do pais. Como se observa, estes dois capitulos sio bdsicos para conhecimentos de varidveis de projetos de engenharia, A enchente € um dos problemas freqiientes da cidades que se expandem. No capitulo 16 sdo apresentados os principais aspectos necessdrios ao controle de enchentes, através de metodologias descritas nos capitulos anteriores ¢ complementadas nesse capitulo, O capitulo 17 est integrado com 0 capftulo 4 ¢ representa um passo mais aprofundado dentro da Hidrologia Estatistica ¢ € recomendado ao leitor que necessita de aprimorar seus conhecimentos no assunto e explorar mais as técnicas estatisticas. Apresentagao © capitulo 18 trata de outro problema tradicional de engenharia de recursos hidricos, que é o dimensionamento do volume de um aie ° capitulo € conceitual ¢ mostra passo a passo a determinagao da relagao entre demanda e armazenamento. Esse capitulo evita 0 uso dos tradicionais métodos graficos, jf que com as disponibilidades computacionais hoje disponfveis nao mais se justificam. A gestiio dos recursos hfdricos € hoje uma necessidade para uma sociedade que explora esse recurso limitado. O capitulo 19 inicia tratando de identificar os principais usos dos recursos hidricos, caracteriza scus miiltiplos usos e apresenta os principais elementos da gestio dos recursos hidricos. A Drenagem de Aguas subterrfneas, tratada no capftulo 20, complementa os elementos apresentados no capitulo 8, descrevendo os principais aspectos de drenagem superficial e da exploragio de pogos. No .capftulo 21 a drenagem urbana € apresentada iniciando com os princfpios do plano diretor de drenagem, que enfatiza a necessidade de evitar a ampliagao das vazdes para jusante. O capitulo separa o assunto em macro ¢ microdrenagens e descreve as principais metodologias utilizadas na prdtica, concluindo com o uso integrado dos métodos representado pelo modelo hidrolégico. © capitulo 22 tem um titulo ambicioso para ser tratado em tio poucas paginas, no entanto, o objetivo foi o de introduzir o leitor nos principais tdpicos onde os usos dos Recursos Hidricos interferem no meio ambiente aquatico. O capitulo menciona novamente os Principais usos da dgua e a sua intereferéncia com o meio ambiente, concluindo com um roteiro do RIMA, Relatério de impacto ambiental de um projeto de irtigagao. a oO capitulo 23 trata do Uso de Radar, técnica que tem cada vez mais utilizagao em hidrologia, com aplicagio em diferentes reas. No Brasil 0 seu uso ainda ¢ limitado devido ao alto custo de implementago € operagao desse sistema, no entanto, certamente haverd a tendéncia de sua ampliagao de ea o contetido do capitulo busca informar os princfpios bdsicos, gens ¢ limitagées, concluindo com a ilustragdio de diferentes aplicagoes. O capitulo 24 encerra este livro tratando da Engenharia de Sedimentos, aue tem um efeito importante sobre algumas varidveis do ciclo hidrolégico ¢ telagdo direta com a ocupagio do espago pelo homem, | C metodologias de estimati edi a - va dos sedimentos em. ore Hidrologia Educagio de 27/4/76, que define o curriculo minimo de varias carreiras, inclusive da Engenharia Civil, a Hidrologia é citada explicitamente. O contetido previsto nessa resolugio € 0 seguinte: “Ciclo hidrolégico, precipitagao, recursos hfdricos superficiais ¢ subterrdncos € evaporacio.” Esta descrigio € resumida e limitada. O programa, aplicado em parte significativa dos importantes cursos das universidades brasileiras, contém, em sintese, o seguinte: Ciclo hidrolégico, bacia hidrogrdfica, precipitagdo, evaporagio ¢ evapotranspiragio, agua subterranea, _infiltragio, escoamentos, hidrometria, regularizagdo de vazio e vazio de projeto. Este programa €, em geral, apresentado num semestre com 60 horas de aula, correspondendo a 4 créditos, Algumas Universidades possuem disciplinas complementares optativas que se inserem dentro da concentragio de Recursos Hidricos e apresentam contetido complementar mais aplicado sobre Hidrologia, © contetido deste livro pode ser utilizado numa seqiiéncia de disciplinas dentro desta op¢do, atendendo primeiramente & disciplina obrigatéria ¢ depois Aguelas optativas que utilizem combinagGes dos capitulos apresentados. Na tabela 1 abaixo, sugerimos um programa para a disciplina com os itens te livro que poderiam ser utilizados Este programa € ambicioso devido A quantidade de contetidos ¢ o tempo previsto. Adaptag6es a cada realidade devem ser realizadas. Q quadro apresentado € somente uma das muitas alternativas existentes. Carlos E.M. Tucci Apresentagao Tabela 1, Sugestio de programa para um curso de Hidrologia na Engenharia Civil ‘tulos do programa recomendado Sugestdo quanto ao contetido 3-Elementos de hidrometeorologia }4-Elementos de Estatistica \7-Evaporagao e Evapotranspiragio 8-Agua Subterranea 19-Infiltragao, 10-Fundamentos do Escoamento 11-Escoamento superficial 12-Escoamento em rios ¢ canais 13-Aquisigao de Dados hidrolégicos 14-Vazio méxima . 15-Regularizagao de vazio ido livro capitulo 1 capitulo 2 icapitulo 3 até 3.2 capitulo 4: 4.1 a 4.3,4.4.2 \(selecione algumas distribui¢des), 4.5.1. capitulo 5 sem os ftens: lvetor regional, PMP ¢ lcapftulo 10 (sem dedugdes) capitulo 11 (sem HUI) capitulo 12 (sem Re AUTORES CARLOS E. M. TUCCI, PhD Professor Titular do Departamento de Hidromecanica e Hidrologia do Instituto de Pesquisas Hidrdulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ANDRE L. L. DA SILVEIRA, Dr. Professor Assistente do Departamento de Hidromecanica e Hidrologia do Ins- tituto de Pesquisas Hidrdulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ANTONIO BENETTI, MSc Professor Assistente do Departamento de Obras Hidraulicas do Instituto de Pes- quisas Hidraulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ANTONIO E. L. LANNA, PhD Professor Adjunto do Departamento de Obras Hidrdulicas do Instituto de Pes- quisas Hidrdulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. FRANCISCO BIDONE, Dr. Professor Assistente do Departamento de Obras Hidrdulicas do Instituto de Pes- quisas Hidraulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. FRANZ SEMMELMAN, Dr. Professor Adjunto do Departamento de Obras Hidrdulicas do Instituto de Pes- quisas Hidraulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. JOSE A. LOUZADA, MSe Professor Assistente do Departamento de Obras Hidraulicas do Instituto de Pes- quisas Hidrulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. JUAN C. BERTONI, MSe Professor Assistente do Departamento de Hidromecnica € Hidrologia do Ins- tituto de Pesquisas Hidrdulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. KAMEL ZAHED FILHO, Dr. Professor da Escola Politécnica da Universidade de Sao Paulo - USP ¢ enge- nheiro da Companhia Estadual de Saneamento Basico do Estado de Sao Paulo. LAWSON F. S. BELTRAME, MSe ‘ Professor Adjunto do Departamento de Obras Hidréulicas ¢ Diretor do Institut de Pesquisas Hidrdulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. MARC P. BORDAS, Dr. ' ; j ‘ Professor Titular do Departamento de Obras Hidrdulicas do Instituto de Pesqui- sas Hidrdulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. MARCOS L. PESSOA, PhD S Engenheiro da Companhia Paranaense de Energia Elétrica - COPEL; professor visitante do programa de pés-graduagao de Engenharia Hidraulica ¢ Sanitaria da USP NELSON L. CAICEDO, PhD Professor Titular do Departamento de Hidromecanica e Hidrologia do Instituto de Pesquisas Hidréulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. PIERRE CHEVALLIER, Dr. Diretor de pesquisa da ORSTOM Instituto Francés de Pesquisa Cientifica para o Desenvolvimento em Cooperagao ¢ pesquisador visitante no Instituto de Pes- quisas Hidrdulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul _ RUBEM L. PORTO, Dr Professor da Escola Politécnica da Universidade de Sao Paulo - USP e enge- nheiro do Centro Tecnoldgico de Hidrdulica do Departamento de Aguas e Ener- gia Elétrica do Estado de Sao Paulo, CTH Bie seas ROBIN T. CLARKE, DSc f Professor Visitante do Departamento de Hidromecdnica e Hi de Pesquisas Hidraulicas (IPH) da Universida SUMARIO 1- HIDROLOGIA: CIENCIA E APLICAGAO Carlos E.M. Tucci 1,1 Introdugao 1.2 Histérico 1.3 Ciéncia hidrolégica 1.4 Hidrologia aplicada 2 - CICLO HIDROLOGICO E BACIA HIDROGRAFICA André L. L. da Silveira 2.1 Introduco 2.2 Deserigao geral do ciclo hidrolégico 2.3 Quantificagao geral dos fluxos ¢ reservas de Agua “22.4 Bacia hidrografica 3 - ELEMENTOS DE HIDROMETEOROLOGIA. Juan Carlos Bertoni 3.1 A atmosfera terrestre 3.2 Umidade atmosférica 3.2.1 Relacao entre o vapor de 4gua ¢ a temperatura do ar 3.2.2 Indices da umidade do ar 3.2.3 Relag6es entre os diferentes indices de umidade 3.2.4 Determinacao da pressio de vapor de agua 3.3 Processos de transporte 3.4 Transformagoes adiabiticas 3.5 Estabilidade atmosférica 3.6 Temperaturas associadas a processos convectivos 3.7 Altura de agua precipitével ou condensvel 4 - ELEMENTOS DE ESTATISTICA E PROBABILIDADES Antonio Eduardo Lanna 4.1 Introdugao 4.2 Tratamento estatistico de variaveis Se 4.2.1 Representagao grafica 4.2.2 Representacio numérica 4.3 Modelos probabilisticos em hidrologia 25 27 29 Si 36 38 40 me} 54 56 58 60 61 62 65 67 nA rs 4.3.1 Conceitos basicos de probabilidades 4.3.2 Fungdes densidade e cumulativa de probabilidade 4.3.3 Estimativa dos parametros das distribuigdes tedricas 4.4 Principais modelos probabilisticos 4.4.1 Modelos probabilisticos discretos 44.2 Distribuigdes continuas 4.5 Avaliagio do ajuste de modelos probabilisticos 4.5.1 Posigdes de locagao de amostras 4.5.2 Papéis probabilisticos de algumas distribuigdes tedricas 5 - PRECIPITAGAO Juan C. Bertoni e Carlos E.M.Tucci $.1 Introdugaio 5.2 Mecanismos de formagio das precipitagées 5.3 Classificagao das precipitagdes 5.4 Pluviometria 5.5 Andlise dos dados de precipitagao 5.5.1 Preenchimento de falhas 5.5.2 Andlise de consisténcia de séries pluviométricas 5.6 Precipitagdo média numa drea 5.7 Anidlise de freqiiéncia de séries mensais ¢ anuais 5.8 Precipitagdes mdximas 5.8.1 Determinagio de curvas de intensidade-duragao- freqiéncia 5.8.2 Precipitagfo mdxima provavel 5.8.3 Distribuigdo temporal 5.8.4 Distribuicdo espacial 6-INTERCEPTACAO Carlos E.M. Tucci 109 113 11S 120 120 128 161 162 164 7.2.1 Métodos de transferéncia de massa 7.2.2 Balango de energia 7.2.3 Equagdes empiricas 7.24 Evaporimetros 7.25 Balango hidrico 7.3 Evapotranspiragio 7.3.1 Medidas diretas 7.3.2 Métodos baseados na temperatura 7.3.3 Métodos baseados na radiagio 7.3.4 Método Combinado 7.3.5 Balango hidrico 8 - AGUA SUBTERRANEA Nelson Luna Caicedo 8.1 Conceitos bésicos de hidrogeologia 8.2 Lei empirica de Darcy 8.3 Equagdes fundamentais do fluxo subterrfneo 8.4 Interago de dguas superficiais ¢ subterraneas 9 - INFILTRACAO E ARMAZENAMENTO NO SOLO. André L. da Silveira, José A. Louzada e Lawson Beltrame 9.1 Infiltragao 9.1.1 Capacidade de Infiltrago ¢ taxa de infiltrago 9.1.2 Equacionamento geral da infiltragio 9.1.3 Equag6es para cdlculo da infiltragio pontual 9.2 Armazenamento de 4gua no solo 9.2.1 Redistribuigao interna 9.2.2 Umidade do solo: conceitos ¢ métodos 9.2.3 Curva de reten¢do da 4gua no solo 9.2.4 Perfis de umidade 19 - FUNDAMENTOS DO ESCOAMENTO NAO-PERMANENTE Carlos B. M, Tucci 10.1 Introdugiio 10.2 Equagdes do escoamento 10.3 Simplificagdes das equagdes do escoamento 10.4 Classificagao dos modelos de escoamento 254 255 264 265 267 269 271 273 275 276 277 289 300 306 316 335 336 337 341 356 356 358 360 365 11 - ESCOAMENTO SUPERFICIAL Carlos E. M. Tucci 11,1 Componentes do hidrograma 11.2 Separagao do escoamento superficial 11.3 Determinago da precipitacio efetiva 11.4 Modelos do escoamento superficial 11.5 Modelo Linear 11.5.1 Hidrograma unitdrio instantaneo 11.5.2 Hidrograma unitério 11.5.3 Hidrograma unitério sintético 11.5.4 Transposi¢ao de hidrograma unitdrio 12 - ESCOAMENTO EM RIOS E RESERVATORIOS Carlos E.M. Tucci 12.1 Escoamento em regime permanente: remanso 12.2 Escoamento nfio-permanente:contribuigao lateral 12.3 Escoamento nao-permanente em reservatérios 12.4 Escoamento em rios 12.4.1 Modelo Muskingun 12.4.2 Modelo Muskingun-Cunge 13 - AQUISICAO E PROCESSAMENTO DE DADOS. Pierre Chevallier 13.1 Introdugio et Os parametros da hidrologia 1.2 As dimensdes temporal ¢ espacial 13.1.3 Representagiio espacial: informagio 13.2 Aquisicdo de dados de Precipitagdes 13.2.1 Generalidades 13.2.2 Instalagio do aparelho 13.2.3 Pluviémetro 391 395 399 411 412 414 428 437 te asgass 13.5.1 Objetivos 13.5.2 Exemplo de uma rede nacional: o DNAEE/CGRH 13.5.3 Exemplo de uma rede de protecio da satide humana 13.5.4 Exemplo de uma rede de prevencao contra cheias catastroficas 13.6 Bancos de Dados 13.6.1 Princfpios 13.6.2 Exemplos: Hydrom e Plaviom 14 - VAZAO MAXIMA E HIDROGRAMA DE PROJETO Carlos E. M. Tucci 14.1 Conceitos 14.2 VazGes maximas 14.2.1 Vaz6es maximas com base em série histérica 14.2.2 Vazao maxima com base na precipitagdo: Método Racional 14.3 Hidrograma de projeto 14.3.1 Hidrograma de projeto com base na vazio 14.3.2 Hidrograma de projeto com base na precipitagao 15 - REGIONALIZACAO DE VAZOES Carlos E. M. Tucci 15.1 Introdugao a regionalizagao 15.2 Analise dos Dados basicos 15.3 Regionalizacdo da vazio maxima, média e minima 15.3.1 Definicao das variéveis 15.3.2 Fases do desenvolvimento da regionalizacao 15.3.3 Selecao dos Dados 15.3.4 Curva de Probabilidade adimensional das vaz6es 15.3.5 Equacgdo de regressao 15.3.6 RegiGes homogéneas 15.3.7 Estimativa da vazao ¢ sua variancia 15.3.8 Vazao maxima instantanea 15.3.9 Mapeamento da vazao especifica 15.4 Regionalizacéo da curva permanéncia 15.4.1 Curva de Permanéncia 15.4.2 Regionalizagao. 15.5 Regionalizagao de curvas de regularizacao 15.5.1 Regularizagao de vazées 15.5.2 Regionalizacao 519 520 520 521 522 522 523 527 529 529 539 545 545 348 573 576 577 577 579 580. 581 S86 589 593 598 16 - CONTROLE DE ENCHENTES Carlos E.M. Tucci 16.1 Enchentes 16.2 Avaliagfo das enchentes 16.3 Medidas para controle da inundagao 16.3.1 Medidas estruturais 16.3.2 Medidas nfo-estruturais 16.4 Controle de inundagao com obras hidrdulicas 16.5 Zoneamento de dreas de inundagio 16.5.1 Mapa de inundagio de cidade 16.5.2 Zoneamento 16.6 Avaliagio dos prejufzos das enchentes 16.6.1 Curva nivel-prejuizo 16.6.2 Método da curva de prejufzo histérico 16.6.3 Equagio do prejuizo agregado 17 - HIDROLOGIA ESTATISTICA Robin T. Clarke 17.1 Conceitos de Hidrologia Estatfstica 17.1.1 Variabilidade hidrolégica 17.1.2 Modelos Estatfsticos 17.1.3 Modelos Estatfsticos usando varidveis explicativas 17.1.4 O componente aleatério e 17.1.5 Parciménia na construgiio de um modelo estatfstico ine Alguns usos hidrolégicos de modelos estatisticos -1.7 Programas computacionais Para ajustes r4pidos modelos estatfsticos oe - 17.2 Ajuste de distribuigdes estatisticas 17.2.1 Modelo nulo 17.2.2 A fungio de verossimilhanga 17.2.3 Método dos Momentos 1724 As distbuigées Gamma de dois ¢ tts partmetros sao log-normal e gam 17.25 Escolha entre distribuigdes 17.26 Distribuigéo Gumbel it 172.7 Distribuiggo Wei 621 623 624 627 629 630 637 637 642 650 650 651 652 18 - REGULARIZACAO DE VAZOES EM RESERVATORIOS Antonio Eduardo Lanna 18.1 Introdugao 18.2 Problema simplificado de dimensionamento de reservatério 18.3 Problema real de dimensionamento de reservat6rio: método da simulagao 18.4 Relacao demanda suprida versus capacidade util 18.5 Garantia de atendimento 4 demanda 18.6 Método baseado nas diferencas em relagio a seqiiéncia de deflivios minimos 18.7 Extensao & consideragio de risco de desatendimento 19 - GESTAO DOS RECURSOS HIDRICOS Antonio Eduardo Lanna 19.1 Introdugao 19.2 O processo de formacdo de capital 19.3 Elementos de andlise de projetos dos pontos de vista social e privado 19.4 Engenharia dos Recursos Hidricos 19.4.1 Tipos de uso 19.4.2 Usos miiltiplos 19.5 Definicdes 19.5.1 Interdisciplinaridade da gestio dos recursos hidricos 19.5.2 Principios orientadores da gestio dos recursos hidricos 19.5.3 Organizacao da atividade de planejamento 19.5.4 Jurisdigdes de planejamento 19.5.5 Planejamento quanto aos setores 19.5.6 Estagios de planejamento 19.5.7 Composicao das categorias de planejamento 19.5.8 Vantagens do planejamento 19.6 Gerenciamento dos recursos hidricos 19.6.1 Fungdes do gerenciamento dos recursos hidricos 19.6.2 Dificuldades de implementacao de um sistema de gerenciamento dos recursos hidricos 20 - DRENAGEM DE AGUAS SUBTERRANEAS Nelson Luna Caicedo 20.1 Conceitos basicos 20.2 Solugées analiticas no regime permanente 20.3 Escoamento radial transitério 703 704 707 713 715 718 720 727 728 729 733 734 739 744 746 747 751 Toa 754 755 759 759 761 762 764 769 772 778 20.4 Determinagao de caracteristicas hidrogeotégicas 20.5 Escoamento superficial 21 - DRENAGEM URBANA : Rubem L. Porto, Kamel Zahed Filho, Carlos B. M. Tucci e Francisco Bidone 21.1 Conceitos 21.1.1 Impactos da urbanizagao 21.1.2 Planos diretores de drenagem urbana 21.2 Hidrologia Urbana 21.2.1 Bacias pequenas e médias 21.2.2 Escolha do perfodo de retorno 21.2.3 Calculo do tempo de concentragao 21.2.4 Efeitos da urbanizagao 21.3 Caracteristicas da drenagem urbana 21.4 Microdrenagem urbana 21.4.1 Terminologia dos elementos basicos 21.4.2 Elementos fisicos do projeto 21.4.3 Definicao do esquema geral do projeto 21.4.4 Vazées de projeto 21.4.5 Dimensionamento hidraulico 21.4.6 Galerias 21.5 Macrodrenagem 21.6 Reservatérios de detengao 21.7 Modelos matemiticos de drenagem urbana 22 - O MEIO AMBIENTE E OS RECURSOS HIDRICOS Antonio Benetti e Francisco Bidone i 22.1 Introdugao 781 792 805 806 810 811 812 813 815 820 822 823 823 824 824 828 829 836 836 838 842 22.5.1 Fontes de poluigao 22.5.2 Aspectos fisicos, quimicos e biolégicos da poluigao 22.6 Monitoramento da qualidade da agua 22.7 Planejamento ambiental 22.7.1 Tratamento de Aguas residudrias 22.7.2 Medidas preventivas de preservagao dos recursos hidricos 22.7.3 Aspectos polftico-administrativos do controle da poluigao das aguas 22.8 Sistematizagao para avaliago de impactos ambientais 23 - HIDROMETEOROLOGIA COM RADAR Marcos de Lacerda Pessoa 23.1 Introdugao 23.2 Prinefpios do radares 23.3 Mapas indicadores de posicao no plano @ altitude constante 23.4 Fatores que afetam a precisdo das medidas realizadas através de radares meteorolégicos : 23.5 Algumas aplicagoes hidrometeorolégicas dos radares 24 - ELEMENTOS DE ENGENHARIA DE SEDIMENTOS Marc P. Bordas e Franz R. Semmelman 24.1 Ciclo hidrossedimentolégico 24.2 Processos e componentes do ciclo hidrossedimentolégico 24.3 As alteragGes do*ciclo hidrossedimentolégico 24.4 Erosao ou depésito 24.4.1 Capacidade de transporte 24.4.2 Descarga sdlida de abastecimento 24.5 Medicao da descarga sélida 24.5.1 Medigao do transporte de sedimentos em arraste 24.5.2 Medicao do transporte de sedimentos em suspensio 24.5.3 Simplificagao de programas de amostragem da descarga sélida em suspensao 24.5.4 Outras medigoes 24.6 Morfologia fluvial e engenharia costeira 877 878 884 889 896 915 916 918 922 923 925 931 933 936 938 939 939 Capitulo 1 HIDROLOGIA: CIENCIA E APLICACAO Carlos E. M. Tucei 1.1 Introdugio Hidrologia ¢ a ciéncia que trata da agua na Terra, sua ocorréncia, circula- Gio e distribuicao, suas propriedades fisicas e quimicas, e sua reagio com 0 meio ambiente, incluindo sua relaco com as formas vivas (U.S. Federal Coun- cil for Science and Technology, citado por Chow,1959). £ uma disciplina consideravelmente ampla, abrangendo uma grande parte do conhecimento humano, Algumas das éreas em que a Hidrologia, foi subdivi- dida sao as seguintes: Hidrometeorologia - € a parte da ciéncia que trata da dgua na atmosfera;- Limnologia - refere-se a0 estudo dos lagos ¢ reservatérios. Potamologia - trata do estudo dos arroios ¢ trios. Glaciologia - & a érea da ciéncia relacionada com a neve e o gelo na natureza Hidrogeologia - é 0 campo cientifico que trata das aguas subterraneas. A Hidrologia € uma ciéncia interdisciplinar que tem tido evolucao signifi- cativa em face aos problemas crescentes, resultados da ocupagéo das bacias, do incremento significativo da utilizagao da 4gua ¢ do resultante impacto sobre o meio ambiente do globo. Profissionais de diferentes dreas como engenheiros, agronomos, gedlogos, matemiticos, estatisticos, gedgrafos, bidlogos, entre ou- tros atuam nas diferentes subareas dessa ciéncia. A Hidrologia evoluiu de uma ciéncia preponderantemente descritiva ¢ qua- litativa, para uma drea de conhecimento onde os métodos quantitativos tém sido explorados através de metodologias matemiticas ¢ estatisticas, melhorando de um lado os resultados ¢ de outro explorando melhor as informag6es existentes, No Ambito da utilizagao de Hidrologia em Recursos Hidricos ou como € as vezes chamada de Engenharia Hidrolégica (figura 1.1), a mesma € en- tendida como a 4rea que estuda o comportamento fisico da ocorréncia e o 26 Hidrologia aproveitamento da 4gua na bacia hidrografica, quantificando Os recursos hidricos no tempo e no espago e avaliando o impacto da modificagao da bacia hidrogréfica sobre o comportamento dos processos hidrolégicos. A quantificagao da disponibilidade hidrica serve de base para 0 projeto © planejamento dos recursos hidricos. Alguns exemplos so: produg&o de energia hidrelétrica, abastecimento de Agua, navegacdo, controle de enchentes e impacto ambiental. Agricultura Economia Floresta Legis 1 agao Planejamento| Ciéncia Polftica dos i. Recursos Hidricos . Mecanica dos (Tomada de e Fluidos Decisao) Engenharia Engenharia Hidrdulica zi i Me teoro logia Tes Estatfstica Ciéncia Atmos férica Ciéncia - | Geologia Hidrolégica | Geoquimica (entendimento)) Ciéncia do Solo Hidrologia: Aplicagio e Ciéncia 27 escala da bacia hidrogréfica nos anos 70, enquanto que atualmente o problema estd na escala do globo terrestre, em decorréncia dos potenciais efeitos globais da modificag&o do clima. A complexidade dos sistemas hidricos cresceu devido A diminuig&o da disponibilidade dos recursos hidricos e deterioragio da qualidade das Aguas, Como conseqiiéncia, projetos com miltiplas finalidades tenderam a ser desenvolvidos, além do aumento do interesse piblico pelo impacto dos aproveitamentos hfdricos sobre o meio ambiente. O planejamento da ocupacao da bacia hidrogrdfica é uma necessidade numa sociedade com usos crescentes da dgua, e que tende a ocupar espagos com riscos de inundagio, além de danificar o seu meio. A tendéncia atual envolve desenvolvimento sustentado da bacia hidrogrdfica, que implica 0 aproveitamento racional dos recursos com 0 minimo dano ao ambiente. A Ciéncia Hidrolégica trata processos que ocorrem em sistemas moldados pela natureza. Os processos fisicos ocorrem num meio que o homem nao projetou, mas ad qual deve-se adaptar, procurando conviver com o comportamento deste meio ambiente. Para o entendimento desses processos ¢ necess4rio interagir com diferentes éreas do conhecimento que influenciam o ciclo hidrolégico (figura 1.1) NRC(1991) concluiu que o desenvolvimento da ciéncia hidrolégica tem sido influenciado por aspectos especfficos do uso da 4gua, como atendimento da demanda de Agua e controle de desastres. A comissio menciona a necessidade de instruir-se profissionais com formagao mais ampla, que englobe conhecimentos de matemitica, fisica, quimica, biologia e geociéncia, para desenvolver uma ciéncia dentro de um contexto mais amplo. 1.2 Histérico A Hidrologia é uma ciéncia que se baseia na observagiio dos processos envolvidos no meio fisico natural. Para analisar a sazonalidade da ocorréncia de precipitagSes, num determinado local, utilizam-se observagdes realizadas no passado, uma vez que os fenédmenos provocadores dos processos hidrolégicos na bacia hidrogréfica sio os eventos meteoroldgicos, cuja previsio a médio ¢ longo prazos, 0 conhecimento atual ainda nao dispde de explicagées deterministicas suficientes. O homem, desde a sua origem, convive com as condigdes naturais do planeta, tanto no seu uso como na sua sobrevivéncia, Filésofos gregos tentaram erroneamente explicar 0 ciclo hidrolégico, apenas Marcus Vitruvius Pollio 100 a.C. apresentou conceitos préximos do entendimento atual do ciclo hidrolégico, Admitia-se que o mar alimentava os rios através do subsolo. Até no infcio deste século ainda existiam pessoas que questionavam o conceito modemo do ciclo hidrolégico. Mesmo nfo conhecendo a origem da 4gua ¢ o funcionamento dos fendmenos naturais, as civilizagSes antigas puderam explorar os recursos hfdricos 28 Hidrologia através de projetos de irrigagdo como os do Egito ¢ Mesopotdmia, aquedutos para abastecimento de dgua romanos ¢ irrigagao ¢ controle de inundagao pelos chineses. ' “ Somente a partir do século 15, com Leonardo da Vinci e Bernard Palissy ° ciclo hidrolégico passou a ser melhor compreendido. A dificuldade era aceitar que a precipitagao tinha um volume maior que a vazio ¢ que os Tios sdo mantidos perenes pelo retardamento do escoamento do subsolo. Pierre Perrault, no século 17 (1608-1680), analisou os componentes da relagdo precipitagao- yazo, ou seja a precipitagio, evaporacdo ¢ capilaridade da bacia do rio Sena e comparou estas grandezas com medigdes de vazio realizadas por Edmé Mariotte, constatando que a vazdo era apenas cerca de 16% da precipitagao. No século 19 inicia-se de um lado as medigGes sistematicas de precipitagio € vazSo e de outro o desenvolvimento te6rico © experimental da hidrdulica. Nos Estados Unidos a coleta sistemdtica de precipitagao iniciou em 1819, enquanto que a de vaz6es iniciou em 1888. No Brasil os postos mais antigos de precipitago so do final do século passado, enquanto que a coleta de dados de nfveis e vazio iniciou no comego deste século. Até a década de 30 a Hidrologia tinha como base elementos descritivos do funcionamento dos fendmenos naturais e férmulas empiricas de processos especificos, tais como as equages de Chezy, para movimento uniforme em canais, e 0 método racional para célculo de vazdo méxima em pequenas bacias. Essa década marcou o inicio da hidrologia quantitativa com os trabalhos de Sherman em 1932, que apresentou os conceitos do hidrograma unitério utilizado para o escoamento superficial; Horton em 1933 apresentou uma equagao empirica para o célculo da infiltrag&o, permitindo a determinagao da precipitagao efetiva; ¢ Theiss em 1935 desenvolveu uma teoria para a hidréulica de pogos. Outros métodos quantitativos foram apresentados a partir desta €poca, permitindo a ampliag&o considerdvel dos conhecimentos nessa ciéncia. Apesar da grande quantidade de dados coletados diariamente, os métodos utilizados na Hidrologia até a década de 50, praticamente limitavam-se A indicadores estatisticos dos processos envolvidos. Com o advento do computador, aprimoramento e experimentagio das técnicas numéricas e estatisticas, houve desenvolvimento acelerado de algumas subdreas da Hidrologia. Os modelos semiconceituais de transformagfio precipitagiio-vazio agregaram 0 conhecimento de diferentes processos na bacia hidrogréfica para, numa macroandlise, simular matematicamente essa parte do ciclo hidrol6; ‘ico. Os primeiros modelos foram apresentados por Mero (citado Clarke, 73) 6 au P : ‘(Citado por , 1973) & (Rockwood, 1958) aplicados no rio Columbia, A Hidrologia Estatistica, que teve impulso no comego do século com o estudo da freqiiénci eine . z 0 ‘ia de cheias, volveu-se depois com a quantificago de séries temporais (Hidrologi Estocdstica) para dimensionamento de reservatéri ee oe Outros aspectos da Hidrologia tai © escoamento can sie lagoe esesuieseldeeea votre a Soe ne com a observagio e quantificago. Hidrologia: Aplicagao ¢ Cigncia 29 das varidveis envolvidas, aprimoramento de técnicas matemiticas e 0 aumento da capacidade do computador. Quanto a Hidrologia Experimental, foram criados em diferentes pajses, bacias representativas ¢ experimentais visando ao entendimento e quantificagao de processos fisicos que ocorrem na bacia, tais como reflorestamento ¢ desmatamento, erosio do solo e escoamento superficial. Os estudos visam a um melhor entendimento desses processos ¢ a embasar 0 planejamento do uso da bacia hidrogrdfica. O desenvolvimento na hidrologia modema estd ligado ao uso da agua, ao controle da ago da mesma sobre a populagio e ao impacto sobre a bacia ¢ o globo terrestre. 13 Ciéncia hidrolégica Dooge (1988) caracteriza que a Hidrologia Cientifica esté dentro do contexto do desenvolvimento classico do conhecimento cientffico, enquanto que a Hidrologia Aplicada estuda os diferentes fatores relevantes ao provimento de dgua para a saude ¢ para a produgo de comida no mundo. ‘A Hidrologia é uma ciéncia que se consolidou apenas na segunda parte do século 20, através do desenvolvimento de programas de observagio e quantificacio sistemdtica dos diferentes processos que ocorrem no ciclo hidrolégico. A subdivisdo apresentada na introdugio se expandiu, surgindo subareas mais especializadas, como resultado da necessidade crescente da utilizagio e preservagao da bacia hidrogréfica. Algumas das subdreas que tratam da andlise dos processos fisicos que ocorrem na bacia sio: Hidrometeorologia: j4 definido anteriormente na introdugdo; -Geomorfologia: trata da andlise quantitativa das caracteristicas do relevo de bacias hidrogrdficas e sua associagdo com o escoamento; Escoamento superficial: trata do escoamento sobre a superficie da bacia; Interceptacao vegetal: € a subérea do conhecimento que avalia a interceptago de precipitagao pela cobertura vegetal na bacia hidrogréfica; Infiltragao € escoamento em meio n4o-saturado: trata da observagio e previsiio da infiltragao no solo ¢ do escoamento no solo nao-saturado; » Escoamento em meio saturado: envolve o estudo do comportamento do fluxo em agiifferos, camada do subsolo saturada; a Hidrologia trata da andlise do escoamento em rios, canais e Escoamento em rios e can: reservat6rios; Evaporacdo e evapotranspiragdo: trata da avaliacio da perda de Agua por evaporagio de superficies livres como reservatérios lagos, evapotranspiragao de culturas e da vegetagdo natural; Fluxo dinamico em reservatérios, lagos e estudrios: trata do escoamento turbulento em meios multidimensionais; Producao e transporte de sedimentos: trata da quantificagao da erosio de solo e do transporte de sedimento, na superficie da bacia e nos rios, devido as condigdes naturais e do uso do solo . Qualidade da 4gua e meio ambiente: trata da quantificagfo de parametros fisicos, quimicos e biolégicos da d4gua e sua interagfo com os seus usos na avaliagdo do meio ambiente aqudtico. A Hidrologia como ciéncia esté voltada para a representacdo dos processos fisicos que ocorrem na bacia hidrogrdfica. Em diferentes partes do mundo foram equipadas bacias representativas e experimentais que permitem observar em detalhe 0 comportamento dos diferentes processos. Com base no registro das varidveis hidrolégicas envolvidas € possivel entender melhor os fenémenos ¢ procurar represent4-los matematicamente, Dooge (1988) ressalta que a caracterizagio dos processos hidrolégicos tem sido desenvolvida para a microescala ( 10-8 a 10m), enquanto que para a mesoescala (10? a 104m) ¢ macroescala (105 a 10?’m ) existem muitas dificuldades, principalmente na transfer€ncia da teoria usada de uma escala para outra, A representaco matemética dos processos evoluiu dentro de dois aspectos Principais: 0 determinfstico para os fendmenos fisicos que podem ser descritos por equagdes diferenciais que retratam o comportamento do processo; € © estocdstico onde esto envolvidos os aspectos probabilisticos das varidveis, O National Research Council (Estados Unidos) apresentou um relatério sobre a ciéncia hidrolégica (Eagleson, 1990), onde Tessalta o seguinte: “Para estabelecer a identidade Para a Hidrologia como uma ciéncia separada da Geociéncia 0 comit® definiu que ciéncia Geshe inclui: 1) Processos fisicos e quimicos do ciclo continental da dgua em todas as escalas, assim como os processos biolégicos que interagem signifi-cativamente com o ciclo hidrolégico; 2) As caracterfsticas Hidrologia: Aplicagio ¢ Cigncia 31 temporais e espaciais do balango global da dgua ¢ suas partes no sistema terrestre." NRC(1991) ressaltou as seguintes prioridades cientificas em Hidrologia, sem ordem hierarquica: a) componentes quimicos e biolégicos do ciclo hidrolégico: envolve o melhor conhecimento dos processos geoquimicos; b) a escala dos processos dindmicos: a dificuldade de transferéncia entre Processos que ocorrem em diferentes escalas;,c) interagfio entre superficie ¢ atmosfera: a interagfio entre as varidveis climéticas ¢ as superficies; d) conhecimento ao nivel global do armazenamento e fluxos de dgua e energia; ¢) efeitos hidrolégicos devido a atividades humanas. - \C 1.4 Hidrologia Aplicada A Hidrologia Aplicada estd voltada para os diferentes problemas que envolvem a utilizag3o dos recursos hidricos, preservagdo do meio ambiente e ocupacao da bacia. No primeiro caso esto envolvidos os aspectos de disponibilidade hidrica, regularizagao de vazio, planejamento, operagZo e gerenciamento dos recursos hidricos. Dentro dessa visio os principais projetos que mnormalmente sao desenvolvidos com a participagio significativa do hidrlogo sio: apro- veitamentos hidrelétricos, abastecimento d’dgua, irrigagiio e regularizagao para navegacao. Quanto a preservagio do meio ambiente, modificagdes do uso do solo, regularizago para controle de qualidade da gua, impacto das obras hidrdulicas sobre o meio ambiente aquatico ¢ terreste, sio exemplos de problemas que envolvem aspectos multidisciplinares em que a hidrologia tem uma parcela importante. ~~» A ocupagao da bacia pela populagao gera duas preocupagdes distintas: a) © impacto do meio sobre a populagdo através das gnchentes; ¢ b) o impacto do homem sobre a bacia, mencionado na preseryacio do meio ambiente. ~~ ~~ ~ Aagdo do homem no planejamento e desenvolvimento da ‘ocupagio do espago na Terra, requer cada vez mais uma visio ampla sobre as necessidades da Populago, os recursos terrestres e aqudticos disponivcis ¢ o conhecimento sobre © comportamento dos processos naturais na bacia, para racionalmente compatibilizar necessidades erescentes com recursos limitados, No Brasil algumas das principais areas do desenvolvimento da Hidrologia Aplicada encontram-se nos seguintes aspectos; Planejamento € gerenciamento da bacia hidrogréfica: o desenvolvimento das Principais bacias quanto ao planejamento ¢ controle do uso dos recursos naturais requer uma ago ptblica e privada coordenada; 32 Hidrologia Drenagem urbana: atualmente 75% da populacdo do Brasil ocupao espago urbano. Enchentes, produgio de sedimentos e qualidade da 4gua s4o problemas sérios “encontrados em grande parte das cidades brasileiras; » Energia: a produgfo de energia hidrelétrica representa 92% de toda a energia produzida no pais. O potencial hidrelétrico ainda existente € significativo. Esta energia depende da disponibilidade de Agua, da sua regularizagdo por obras hidrdulicas e o impacto das mesmas sobre o meio ambiente; © uso do solo rural: a expansio das fronteiras agricolas e o intenso uso agricola tém gerado impacto significativos na producdo de sedimentos e nutrientes nas bacias rurais, resultando em perda de solo fértil e assoreamento dos rios; Qualidade da 4gua: o meio ambiente aqudtico (oceanos, rios, lagos, reservatérios e aqiliferos) sofre com a falta de tratamento dos despejos domésticos ¢ industriais e de cargas de pesticidas de uso agricola; Abastecimento de 4gua: a disponibilidade de dgua, que apesar de farta em grande parte do pafs, apresenta limitagdes nas regides dridas e semi-Aridas do nordeste brasileiro. A redugdo da qualidade da dgua dos rios e as grandes concentragSes urbanas t¢m apresentado limitagdes quanto A disponibilidade de gua para o abastecimento; Irrigagéo: a produgfo agricola nas tegides dridas e semi-dridas depende essencialmente da disponibilidade de 4gua. No sul, culturas como o arroz utilizam quantidade significativa de 4gua. © aumento da produtividade passa pelo aumento da irrigagdo em grande Parte do pafs; Navegacao: a navegacio interior € ainda pequena, mas com grande ii transporte, principalmente nos rios Jacut, Tieté/Parané, et Eeaceaey = Amaz6nia. A navegagio Pode ter um peso significativo no desenvolvimento nacional. Os principais aspectos hidrolégicos sio: disponibilidade hfdrica para calado, previsio de niveis ¢ Planejamento e fio de ob hidréulicas para navegagio. tee ioe. REFERENCIAS L-CLARKE, RT, 1973. Mathematical models in h rigation and Drainage Paper, 19), eee 2-CHOW, V.T., 1959. Handbook Paginagao irregular, Rome: FAQ, 282p. of applied hydrology, New York: McGraw-Hill. Hidrologia: Aplicagio ¢ Ciéncia 3-DOOGE, J.C., 1988. Hydrology in perspective. Hydrological Sciences Journal, ‘Oxford, v.33, n.1, p.61-85, Feb, 4-EAGLESON, P., 1990. Opportunities in hydrological wishes Newaleers TAHS, 0.40, Set. S-NRC, 1991. Opportunities in the hydrologic sciences, Washington: National Academy Press. 348p. 6-ROCKWOOD, D.M., 1958, Columbia Basin streamflow routing by eotapater Journal of the Waterways and Harbors Division. American Civil Engineers, New York, v.84, n.5, Dec. Capitulo 2 CICLO HIDROLOGICO E BACIA HIDROGRAFICA André L.L. da Silveira 2.1 Introducao O ciclo hidrolégico € o fenémeno global de circulagéo fechada da 4gua entre a superficie terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela energia solar associada & gravidade e A rotagdo terrestre. A superficie terrestre abrange os continentes ¢ os oceanos, participando do ciclo hidrolégico a camada porosa que recobre os continentes (solos, rochas) € 0 reservatério formado pelos oceanos. Parte do ciclo hidrolégico é constituida pela circulagao da dgua na prdpria superficie terrestre, isto é: a circulagio de dgua no interior e na superficie dos solos e rochas, nos oceanos © nos seres vivos. A aimosfera também possui uma diversidade de condigdes fisicas importante. Entretanto, a maioria dos fenémenos meteorolégicos acontece na fina camada inferior da atmosfera com 8 a 16km de espessura, chamada de troposfera, onde esté contida a quase totalidade da umidade atmosférica, cerca de 90%. Logo acima da troposfera est4 situada a estratosfera, com espessura entre 40 ¢ 70km, cuja importdncia reside no fato de conter a camada de ozénio que € reguladora da radiago solar que atinge a superficie terrestre, principal fonte de energia do ciclo hidrolégico, A agua que circula no interior da atmosfera constitui-se numa fase do ciclo hidrolégico. Este processo € devido as correntes aéreas, deslocando-se tanto no estado de vapor como também nos estados liquido ¢ sélido. A no esi de v: é invisivel, sendo as nuvens um conjunto de aerosséis visiveis de microgoticolas de gua, mais umidade, ¢, dependéndo da regito ¢ estate do no, particulas de selo intercambio entre as circulagdes da superficie terrestre e da atmosfera, fechando o ciclo hidrolégico, ocore em dois sentidos: a) no sentido superficie-atmosfera, onde o fluxo de 4gua ocorre fundamentalmente na forma de vapor, como decorréncia dos fendmenos de evaporagio e de transpiragdo, este wiltimo um fenémeno bioldgico; b) no sentido atmosfera- superficie, onde a transferéncia de dgua ocore em qualquer estado fisico, sendo mais significativas, em termos mundiais, as precipitagées de chuva e neve. cea ~~" ciclo hidrolégico 56 € fechado em nivel global. Os volumes evaporados Hidrologia 36 em um determinado local do planeta nao precipitam Appear ess) eee local, porque hd movimentos continuos, com ee dist atmosfera, e também na superficie terrestre. Da De oe Se continentes, por exemplo, somente parte é af evapora ee oe escoando para os oceanos. A medida que se considere eas ake drenagem, fica mais caracterizado o ciclo hidrolégico como um ciclo fvel local. ae “ Entre os fatores que contribuem para que haja uma grande ee nas manifestagdes do ciclo hidrolégico, nos diferentes pontos do globo terrestre, pode-se enumerar: a desuniformidade com que a energia solar atinge os diversos locais, 0 diferente comportamento térmico dos continentes em relagio aos oceanos, a quantidade de vapor de dgua, CO, e ozénio na atmosfera, a variabilidade espacial de solos e coberturas vegetais, ea influéncia da rotagio e inclinagio do cixo terrestre na circulacao atmosférica, sendo esta ultima a razdo da existéncia das estagdes do ano. 2.2 Descri¢ao geral do ciclo hidrolégico Pode-se comegar a descrever o ciclo hidrolégico a partir do vapor de gua presente na atmosfera que, sob determinadas condigdes meteoroldgicas, condensa-se, formando microgoticolas de gua que se mantém suspensas no ar devido a turbuléncia natural. O agrupamento das microgoticolas, que sao visiveis com 0 vapor de gua, que ¢ invisivel, mais eventuais particulas de Pocira ¢ gelo, formam um aerossol que € chamado de nuvem ou de nevoeiro, quando © aerossol forma-se junto ao solo. Através da dinamica das massas de ar, acontece a principal transferéncia de 4gua da atmosfera para a superficie terrestre que ¢ a precipitagao, A precipitagdo, na sua forma mais comum que € a chuva, ocorre quando complexos fenémenos de aglutinagZo © crescimento das microgoticolas, em nuyens com presenga significativa de umidade (vapor de dgua) e niicleos de condensa¢ao (poeira ou gelo), formam uma Srande quantidade de gotas com gelo © estes atingem tamanho e peso ‘a forma de neve ou granizo. le terrestre a ‘ipi j evaporacao. Em algumas Tegides esta evaporagiio ee ete existindo casos em que a precipitacao é totalmente vaporizada, Caindo sobre um solo com cobertura vegetal, parte do volume precipitado Sofre interceptacdo em folhas ¢ caules, de onde evapora. Excedendo a capacidade de armazenar gua na superficie dos vegetai Ventos, a dgua interceptada pode-se Teprecipitar mee A ai suficientes, a Precipitac&o pode ocorrer n: No trajeto em direg3o a superfici Ciclo Hidrolégico e Bacia Hidrogréfica 37 € um fenémeno que ocorre tanto com a chuva como com a neve. : A 4gua que atinge 0 solo segue diversos caminhos. Como o solo € um meio poroso, hé infiltragdo de toda precipitagao que chega ao solo, enquanto a superficie do solo nao se satura. A partir do momento da saturagéo superficial, & medida que 0 solo vai sendo saturado a maiores profundidades, a infiltragdo decresce até uma taxa residual, com 0 excesso nao infiltrado da Precipitagao gerando escoamento superficial. A infiltragio ¢ a percolagio no interior do solo séo comandadas pelas tensdes capilares nos poros ¢ pela gravidade. A umidade do solo realimentada pela infiltragio & aproveitada em parte pelos vegetais, que a absorvem pelas raizes ¢ a devolvem, quase toda, a atmosfera por transpiracdo, na forma de vapor de 4gua. O que os vegetais nao aproveitam, percola para 0 lengol fredtico que normalmente contribui para o escoamento de base dos rios. © escoamento superficial & impulsionado pela gravidade para as cotas mais baixas, vencendo principalmente 0 atrito com a superficie do solo. O escoamento superficial manifesta-se inicialmente na forma de pequenos filetes de Agua que se moldam ao microrrelevo do solo. A erosao de particulas de solo pelos filetes em seus trajetos, aliada A topografia preexistente, molda, por sua vez, uma microrrede de drenagem efémera que converge para a rede de cursos de Agua mais estdvel, formada por arroios e rios. A presenga de vegetagéo na superficie do solo contribui para obstaculizar o escoamento superficial, favorecendo a infiltragdo em percurso. A vegetagio também reduz a energia cinética de impacto das gotas de chuva no solo, minimizando a erosao. Com raras excegées, a 4gua escoada pela rede de drenagem mais cstavel destina-se ao oceano. Nos oceanos a circulacao das 4guas é regida por uma complexa combinagao de fendmenos fisicos e meteoroldgicos, destacando-se a rotagao terres, os ventos de superficie, variagéo espacial © temporal da energia solar absorvida e as marés, Em qualquer tempo e local por onde circula a agua na superficie terrestre, s¢ja nos continentes ou nos oceanos, hd evaporagdo pata a atmosfera, fenémeno que fecha o ciclo hidrolégico ora descrito. Naturalmente, por cobrir a maior parte da superficie terrestre, cerca de 10%, a contribui¢ao maior € a dos oceanos. Entretanto o interesse maior, por estar intimamente ligada a maioria das atividades humanas, reside na agua doce dos continentes, onde € importante o conhecimento da evaporagdo dos mananciais superficiais liquidos e dos solos, assim como da transpiragdo vegetal. A evapotranspiragao, que € a soma da evaporagio ¢ da i da radiagao solar, das tensées de Vapor -do-ar dos ventos. ciclo hidrolégico, Em certas regides da Terra o ciclo hidrolégico manifesta-se de forma bastante peculiar. Por exemplo, nas calotas polares ocorre Pouca precipitacaio & 38 Hidrologia © a evaporagio é direta das geleiras. Nos grandes desertos também sio raras as precipitagdes, havendo 4gua permanentemente disponivel somente a grande profundidade, sem trocas significativas com a atmosfera, tendo sido estocada provavelmente em tempos remotos. A cnergia calorifica do Sol, fundamental ao ciclo hidrolégico, somente é aproveitada devido ao efeito estufa natural causado pelo vapor de dgua € Co, que impede a perda total do calor emitido pela Terra originado pela radiagao solar (ondas curtas) recebida. Assim a atmosfera mantém-se aquecida, possibilitando a evaporagao ¢ transpiracdo naturais. Como cerca da metade do Co. natural é absorvido no processo de fotossintese das algas nos oceanos, verifica-se que € bastante importante a interag&o entre oceanos e atmosfera para a estabilidade do clima e do ciclo hidrolégico. penne Si LET EG Precmragzo MANOR E444 Ly evan omera Ciclo Hidrolégico e Bacia Hidrogréfica 39 apresentam entre si discrepancias marcantes. Um exemplo destes trabalhos é ° apresentado por Peixoto ¢ Oort (1990) cujos valores sio comentados a seguir. Para as reservas de 4gua os valores apresentados sfo os seguintes: Oceanos 1350 x 10'° m° Geleiras 4 io ae Aguas subterrineas 8,4 x 10 m° Rios ¢ Lagos 02°. doa Biosfera 0,0006 x 10'° m? ‘Atmosfera 0,0130 x 10° m° Essa quantificago estdtica nfo deixa transparecer a importéncia relativa de cada reserva na dindmica do ciclo da 4gua. Por exemplo, a atmosfera armazena uma quantidade infima da 4gua disponivel no planeta, mas da origem & precipitagao que ¢ uma fase fundamental na dinamica do ciclo hidrolégico. Outro exemplo de desproporgao entre a importancia dinamica ¢ a quantidade armazenada € a que se observa nas camadas superiores dos solos, normalmente no-saturadas: apenas 0,066 x 10'°m°(0,08% das Aguas subterraneas) esto presentes nestes locais, em contraposigfo A sua importancia no ciclo hidrolégico, no fenémeno da infiltragao. No que diz respeito aos oceanos a quantidade de gua armazenada (97%) € tio significativa quanto 0 seu papel no ciclo hidrolégico, O equilfbrio médio anual, em volume, entre a precipitagio e a evapotranspiracao, que sao os dois fluxos principais entre a superficie terresire ¢ a atmosfera, em nivel global apresenta o seguinte valor: P= E = 423 x 10"? m°/ano a) A evaporagao direta dos occanos para a atmosfera corresponde a 361 x 10'7m?, cerca de 85% do total evaporado, sendo os 15% complementares, 62 x 107m’, devidos a evapotranspiragao dos continentes, No balango da precipitagio os percentuais diferem um pouco, com a atmosfera devolvendo 208 oceanos 324 x 10'7m° por ano, cerca de 77% do total precipitado, eabendo 40s continentes receberem os restantes 23% ou 99 x 10!7m°, A diferenga entre © que € precipitado anualmente nos continentes (99 x 107m) € 0 que é evapotranspirado pelos continentes (62 x 107m?) corresponde ao escoamento 40 Hidrologia para os oceanos (37 x 10'7m’). Na figura 2.2 é apresentado um grafico com os valores das reservas e fluxos de 4gua: ~>\2.4 Bacia hidrografica O ciclo hidrolégico € normalmente estudado com maior interesse na fase terrestre, onde o elemento fundamental de andlise é a bacia hidrogrdfica. A bacia hidrogréfica é uma 4rea de captagao natural da 4gua da precipitagfo que _ faz convergir os escoamentos para um tinico ponto de safda, seu exutério. A bacia hidrogrdfica compée-se basicamente de um conjunto de superficies vertentes ¢ de uma rede de drenagem formada por cursos de 4gua que confluem até resultar um leito tinico no exutério (figura 2.3). 13. 10'° m3 Ciclo Hidrolégico ¢ Bacia Hidrogréfica 4 A mesma caracterizagao da yertente como fonte produtora ¢ a rede de drenagem como transportadora pode ser usada com respeito aos sedimentos. As vertentes “produzem" os sedimentos por fenémenos de erosio ¢ estes sio tranportados com a dgua pela rede de drenagem, junto com a carga significativa de sedimentos produzida nos préprios leitos dos rios. Na realidade, nfo € possivel considerar as vertentes ¢ os rios como entidades totalmente separadas, uma vez que est&o continuamente em interagdo para adaptagao da bacia hidrogréfica’ As solicitagdes da natureza. Figura 2.3. Bacia hidrogréfica do arroio Taboao/RS Bacia como sistema A bacia hidrogréfica pode ser considerada um sistema fisico onde a entrada € 0 volume de Agua precipitado ¢ a saida é o volume de Agua escoado pelo exut6rio, considerando-se como perdas intermedidrias os volumes evaporados ¢ transpirados ¢ também os infiltrados profundamente, Em um evento isolado pode-se desconsiderar estas perdas ¢ analisar a transformagao de chuva em vaziio feita pela bacia com a ajuda da figura 2.4, onde sao representados o hidrograma (safda) ¢ 0 hietograma (entrada), A figura 2.4 espelha bem o papel hidrolégico da bacia hidrogréfica que é o de transformar uma entrada de yolume concentrada no tempo (precipitacao) em uma saida de dgua (escoamento) de forma mais distribuida no tempo. Na mesma figura é feita uma diferenciagao entre um escoamento mais lento ¢ outro mais 42 Hidrologia r4pido, este facilmente identificdvel pela forte elevagao das vazbes em curto espaco de tempo, que, apés atingir um pico, decresce também rapidamente, mas geralmente em tempo maior que o da elevacdo. A este escoamento répido normalmente € atribuido o nome de escoamento superficial, embora esta designagio seja cientificamente inexata, dada as intimeras oportunidades de infiltrag3o e afloramentos de Agua sucessivas nos diferentes caminhos que a Agua pode percorrer até fazer parte do escoamento que passa no exutério. Em termos prdticos a separacio entre escoamento rdpido, ou superficial e escoamento lento, ou subterrdneo, € conveniente, porque permite quantificar ¢ analisar separadamente 0 escoamento geralmente de maior magnitude numa cheia, © escoamento superficial, que € explicado mais facilmente numa relagao de causa ¢ efeito com a precipitagao. Isto é vélido em bacias de regime pluvial. As técnicas de separagiio de escoamentos em um hidrograma so apresentadas no capitulo 11. A parcela da chuva total com mesmo volume de escoamento superficial € denominada de chuva efetiva. A chuva efetiva e o correspondente escoamento superficial estéo representados na figura 2.4 como 4reas hachuradas. Génese do hidrograma de saida Como o hidrograma de safda de uma bacia hidrografica atinge determinado formato, tal como o da figura 2.4, € uma questo cientifica ainda nao resolvida, mas que tem sido tratada por métodos Praticos baseados na andlise do histérico de eventos (volumes Precipitados e escoados) e caracteristicas fisicas das bacias. PRECIPITAGAO. FLUXOS INFILTRAGAO [Ezz] Youume escoaoo SUPERFICIALMENTE = Ciclo Hidrolégico ¢ Bacia Hidrogréfica (43 ‘Uma maneira consistente de explicar a dispersdo do hidrograma no tempo é considerar 0 efeito de translagdo. Analisando-se uma lamina L precipitada sobre uma bacia de area A em um pequeno intervalo de tempo, € razodvel supor que a precipitagao ocorrida perto do exutério gerard um escoamento que chegaraé mais cedo a este ponto, enquanto que o escoamento gerado em locais mais distantes passaré mais tarde pelo mesmo exutério. Desta maneira, hd um escalonamento de chegada dos volumes a segfio de sada, que reproduz, em parte, o efeito de "“espalhamento" das vazées no tempo. Para ilustrar, considere a situag&o da figura”2.5 onde a, representa uma faixa de area de onde o volume de d4gua leva um tempo entre tet | para chegar ao exutério. Os tempos ‘identificam linhas de mesmo periodo de deslocamento até a saida, ou, simplesmente, linhas isécronas. Se o intervalo de tempo entre as isécronas € constante, quando as goftas de dgua que estavam na posig¢ao 1 atingem © exutério, as gotas que estavam na posi¢io 4 atingem a posi¢ao t, as que estavam em t, chegam a te assim por diante. Em termos de volume, o que passa inicialmente pelo exutério na figura 25 € La, , 0 que comresponde a uma vazio média de La,/dt, sendo dt 0 intervalo de tempo entre duas isécronas sucessivas. No dt seguinte o volume que passa pelo exutério € La, » pois no dt anterior este volume avangou uma faixa. Sucessivamente a situacao se repete com os volumes La, . La, e la, chegando a faixa a) ¢ escoando pelo exutério.O hidrograma assim resultante pode ser visto na figura 2.6, onde claramente se verifica o efeito de distribuigao das vaz6es no tempo causado pela translagao O volume escoado na figura 2.6 tem o mesmo valor do volume precipitado LA. Portanto é uma andlise que se aplica ao escoamento superficial e a precipitagao efetiva que © causou. Outro fenémeno que contribui para a conformag&o do hidrograma de safda da bacia € o fenémeno hidrdulico do armazenamento. Nas condigdes naturais, com atrito, quanto maior o volume a escoar na bacia tanto maior é a carga hidrdulica necess4ria para haver este escoamento, ¢ Pportanto, tanto maior é o volume armazenado temporariamente na bacia. Uma analogia pode ser feita com um vertedor que, para verter maiores vazdes, necessita de maiores laminas de Agua sobre a soleira, isto ¢, necessita de maiores volumes armazenados sobre a soleira. Numa bacia hidrogréfica o efeito de armazenamento é mais significativo na rede de drenagem, que promove um abatimento na onda de cheia Por armazenamento nos seus canais, fazendo chegar ao exutério um hidrograma mais distribuido no tempo. O abatimento do hidrograma é mais intenso se o escoamento atinge as zonas de inundagao (leitos maiores) dos cursos de 4gua. 44 Hidrologia © efeito de armazenamento é um fator que impede a existéncia de isécronas estaveis na bacia. PREC. Figura 2.5, Linhas isécronas Lag /dt Ciclo Hidrolégico e Bacia Hidrogréfica 45 (vertentes e¢ a rede de drenagem. Entretanto, os métodos cldssicos da 4 hidrologia para cdloulo do hidrograma de safda nao. explicitam os papéis das \vertentes ¢ da rede de drenagem, preferindo tratar a bacia como um sistema que funciona a base da translagfio e/ou armazenamento, Baseado na translagéo existe o método do "histograma tempo-drea" de Ross (1921); no armazenamento tem-se o método de Clark (1945), e, com ambos fenédmenos implicitos, o método do hidrograma unitério de Sherman (1932). Mais recentemente Rodriguéz-Iturbe e Valdés (1979) desenvolveram uma metodologia que introduz quantitativamente o efcito da geomorfologia da rede de drenagem na teoria do hidrograma unitdrio instantineo. O hidrograma unitério instantineo geomorfolégico, HUIG, como passou a ser chamado, foi interpretado como uma fungdo densidade de probabilidade do tempo gasto por uma gota de chuva até atingir o exutério da bacia, fungiio esta que, por sua vez, depende da geomorfologia. A geomorfologia é introduzida no HUIG geralmente através de indices da rede de drenagem como os de Horton (1945) ¢ Strahler (1957). indices deste tipo so obtidos da rede de drenagem desenhada em planta nos mapas topo-hidrogréficos. Como o HUIG é fundamentalmente um operador de translagSo, normalmente ¢ simulado o efeito de armazenamento nos canais da rede de drenagem através de reservatérios lineares. Para levar em conta também o funcionamento das vertentes, jf que o HUIG contempla sé a rede de drenagem, € possivel agregar 4 estrutura do HUIG uma fungio representativa baseada nos mecanismos fisicos de geragio de escoamentos nas vertentes (Mesa e Mifflin,1986). Outra abordagem sobre a contribuigéo das vertentes na geragio do hidrograma de saida da bacia € dada por Beven e Kirkby (1979). A partir da constatagao -de que diferentes partes da bacia tém normalmente diferentes capacidades de infiltragfo ¢ teores de umidade, fazendo com que as vertentes gerem escoamentos de diferentes magnitudes, os referidos pesquisadores relacionaram este fato com um indice topogrdfico de declividade. Este indice topografico € correlacionado com a umidade subsuperficial do solo e, quando € obtido para diversas partes da bacia, conduz a um diagrama que identifica a porcentagem da drea da bacia que est4 efetivamente gerando escoamento superficial. A simulagio matemética com modelos que discretizam a bacia de forma disiribulda, isto €, que calculam o escoamento na rede de canais, trecho a trecho, € 0 aporte a estes trechos, considerando diversas sub-bacias, é outra maneira de obter o hidrograma, levando em conta os efeitos de translacio ¢ armazenamento ¢ os papéis das vertentes ¢ dos canais, Fisiografia da bacia hidrogrdfica Consideram-se dados fisiogrdficos de uma bacia hidrogrdfica todos aqueles dados que podem ser extraidos de mapas, fotografias aéreas ¢ imagens 46 Hidrologia de satélite. Basicamente sio areas, comprimentos, declividades ¢ coberturas do solo medidos diretamente ou expressos por indices. A seguir sfo comentadas algumas destas medidas ¢ indices mais utilizados. Area da bacia - representada normalmente por A, a drea éum dado fundamental para definir a potencialidade hidrica da bacia hidrogrdfica, porque seu valor multiplicado pela lamina da chuva precipitada define o volume de agua recebido pela bacia. Por isso considera-se como a drea da bacia hidrogréfica a sua rea projetada verticalmente. Uma vez definidos os contornos da bacia, a sua 4rea pode ser obtida por planimetragem direta de mapas que j4 incorporam a projegio vertical. Também € possivel determinar a area de uma bacia por cdlculos matemdticos de mapas arquivados eletronicamente através do SIG (Sistemas de Informag4o Geogrdfica). - Indices de drenagem - a rede de drenagem podem ser atribufdos diversos indices. O mais simples trata apenas da medi¢&o em planta do comprimento L do curso de dgua principal. Outros procuram representar a totalidade da rede de drenagem como os resultantes do trabalho de Horton (1945) que demonstrou a validade das seguintes relagdes empiricas, que tendem a ser constantes em uma bacia: N R=y “ relagao de bifurcagio (2.2) uth L, f RK. = rere telagio dos comprimentos (2.3) sendo Ny ‘o nGimero total de cursos de 4gua da rede de drenagem com ordem u, ¢ L » a média dos seus comprimentos em planta, Os subindices u+l ¢ uw-l Tepresentam, respectivamente, uma ordem imedi: : S 5 imediatamente inferior a u., O Sue er ee peeret Schumm (1956) propos ci andloga as # relacionar reas de antisieee, tenes eee Ciclo Hidrolégico e Bacia Hidrografica 47 bacia hidrografica, destacam-se os de Horton (1945) ¢ Strahler (1957). No sistema de Horton os canais de primeira ordem sao aqueles que nao possuem tributdrios; os canais de segunda ordem tém apenas afluentes de primeira ordem; os canais de terceira ordem recebem afluéncia de canais de segunda ordem, podendo também receber diretamente canais de primeira ordem; sucessivamente, um canal de ordem u pode ter tributdrios de ordem u-1 até 1. Isto implica atribuir a maior ordem ao rio principal, valendo esta designagao em todo o seu comprimento, desde o exutério da bacia até sua nascente. No sistema de Strahler é evitada a subjetividade de classificagao das nascentes, Para Strahler, todos os canais sem tributdrios sfo de primeira ordem, mesmo. que sejam nascentes dos rios principais ¢ afluentes; os canais de segunda ordem so os que se originam da confluéncia de dois canais de primeira ordem, podendo ter afluentes também de primeira ordem; os canais de terceira ordem originam-se da confluéncia de dois canais de segunda ordem, podendo receber afluentes de segunda ¢ primeira ordens; sucessivamente, um canal de ordem u € formado pela unido de dois canais de ordem u-1, podendo receber afluéncia de canais com qualquer ordem inferior. Portanto, no sistema de Strahler, o rio principal ¢ afluentes nao mantém o nimero de ordem na totalidade de suas extens6es, como acontece no sistema de Horton que tem problemas praticos de numeragao. Na figura 2.7 estao presentes exemplos de ordenacio dos canais de uma rede de drenagem pelos dois sistemas apresentados. Outros indices referentes 4 rede de drenagem, usados em regionalizagao de vazGes, sio os que medem a densidade de drenagem de uma bacia. A densidade de drenagem € definida como DD = L/A, onde L ¢ 0 somatério dos comprimentos de todos os canais da rede e A € a drea da bacia. Uma forma mais simples de representar a densidade de drenagem é calcular a densidade de confluéncias DC = NC/A, onde NC € 0 ntimero de confluéncias ou bifurcagdes apresentadas pela rede de drenagem. E importante salientar que qualquer indice ou medida de fisiografia referente 4 rede de drenagem € profundamente dependente da escala do mapa utilizado, Portanto, uma precisa identificagdo do mapa fonte e da sua escala € um dado que deve acompanhar os indices de drenagem, Indices de declividade - podem ser determinadas declividades referentes aos cursos de agua da rede de drenagem ¢ As vertentes. Para os cursos de Agua desenha-se o perfil longitudinal para detectar trechos com declividades diferentes. No caso de ter-se que atribuir uma Gnica declividade para todo o curso de dgua deve-se desprezar os trechos extremos se estes apresentarem declividades discrepantemente altas (cabecciras) ou muito baixas (perto da segao de safda). Para levar em conta todo 0 perfil Pode-se usar o conceito de declividade equivalente constante, isto é, aquela declividade constante cujo tempo de transla¢ao, para 0 mesmo comprimento do curso de dgua em ta, seria igual ao do perfil acidentado natural. Partindo da férmula de que 48 Hidrologia aponta o tempo como uma fungio do inverso da raiz quadrada da declividade, pode-se che gar a seguinte expresso para 0 célculo da declividade equivalente constante: 2 L ry” I= (25) onde L é 0 comprimento total, em planta, do curso de Agua, ¢ ]j e Ij sio 0 comprimento ¢ declividade de cada subtrecho, com j= 1, 2,., n, sendo n ntimero de subtrechos considerado no cdlculo. Uma forma indireta utilizada para quantificar a declividade do curso de Agua principal da bacia € apresentar separadamente as medidas do comprimento L e do desnivel maximo H. 49 Hidrologia onde Al é a diferenga de altitude padrio entre duas curvas de nivel; wj= largura entre duas curvas de nivel; a= a drea entre as curvas de nivel; A= area total da bacia; n= nimero de intervalos de curva de nivel. A declividade das vertentes foi utilizada por Beven e Kirkby (1979) para estabelecer um indice em diversos pontos da bacia, cujo mapeamento, segundo comprovaram estes pesquisadores, se assemelha muito ao mapeamento da tendéncia de maior ou menor saturagio superficial nas diversas partes da bacia. O diagrama resultante do mapeamento espacial na bacia desse indice de referéncia foi utilizado por Beven e Kirkby para estimar a porcentagem da rea total da bacia que estd saturada superficialmente num determinado momento €, portanto, gera escoamento superficial. O indice de Beven ¢ Kirkby, calculado para cada verténte ou microbacia interna bacia de interesse, é dado por In (G/tan 8), onde a ¢ a 4rea por unidade de largura da vertente e B © ngulo de inclinagdo da yertente. Classificando-se as vertentes segundo diferentes faixas de valor, pode-se obter um mapa temético da bacia com diversas regides cada qual identificada por uma faixa de variagio para In(q/tan 8). Planimetrando-se as 4reas abrangidas para cada uma destas faixas pode-se construir um diagrama que relaciona a porcentagem da drea da bacia que tem um valor maior que determinado valor de In (o/tan B). Uma vez identificado o estado fisico de saturagdo superficial da bacia busca-se o correspondente valor de In (o/tan f), segundo modelo de escoamento de Beven e Kirkby (1979), nfo descrito aqui, para determinar a rea efetiva de contribuicao superficial. Na figura 2.8 ¢ apresentado o diagrama do indice em questo feita pelos autores para uma bacia da Inglaterra, ° 2 4 6 8 90 412 14 46 ee ee fn (ton B) Figura 2.8. indice de Beven e Kirkby (1979) Modelo numérico de terreno - atualmente é possivel arquivar eletronicamente a Apresentago 2 superficie de uma bacia hidrogrdfica ¢, a partir das informagocs gravadas, estudar sua fisiografia. Um arquivo digital representative da variago real continua do relevo de um terreno costuma ser chamado de Modelo Numérico de. Terreno ou, simplesmente, MNT. O MNT mais simples constitui-se de uma grade digital de células quadradas onde em cada né é conhecida a altitude. A obtengio de MNT pode ser feita diretamente por medigGes sobre pares estereoscépicos de fotografias dereas ou por interpolagdes de levantamentos topogrificos. Pode-se obter 0 MNT a partir de imagens de satélite com limite de resolugao. Para qualquer a fonte, a representatividade de um MNT de uma bacia esté dirctamente ligada a resolugdo espacial. Normalmente, quanto menor a resolugdio mais representativo é 0 MNT, mas melhores equipamentos, softwares informaticos ¢ informagées so exigidos. Como exemplo apresenta-se, na figura 2.9, um MNT da bacia do arroio Tabodio/RS (105 Km?) feito por Risso ¢ Chevallier (1991), com resolugdo de 100 x 100m. 51 Hidrologia 3 - CLARK, C.0. 1945. Storage and the unit hydrograph. Transactions of the American Society of Civil Engineers, New York, v.10, p. 1419-46. 4 - HORTON, R. 1945, Erosional development of streams and their drainage basins: hydrophysical approach to quantitative morphology. Geological Society of American Bulletin, New York, v.56, n.3, p. 275-370. 5 - MESA, 0.J., MIFFLIN, E.R. 1986. On the relative role of hillslope and network geometry in hydrologic response. In: GUPTA, V.K.; RODRIGUES- ITURBE, 1, WOOD, EF. (Ed.) 1986. Scale problems in hydrology. Dordrecht: D, Reidel. 246p. p.1-17. 6 - PEIXOTO, J.P., OORT, AH. 1990. Le cycle de I’cau et le climat. La Recherche. Spécial: L'eau, v.21, p. 570-79, mai. 7-RISSO, A., CHEVALLIER, P. 1991, Uso de um modelo numérico do terreno para a obtengdo dos parfmetros topogrdficos da equacao universal de perda de solo modificada. In: SII SIO BRASILEIRO DE RECURSOS H{DRICOS, 9., 1991, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: ABRH/APRH. 4y. v.1, p.487-96. 8 - RODRIGUEZ-ITURBE, I., VALDES, J.B. 1979. The geomorphic structure of hydrologic response. Water Resources Research, Washington, v.15, n.6, p. 1409-20. 9 - ROSS, CN, 1921, Calibration of flood discharge by the use of a time- contour plan. Transaction Inst. Engineers, v.2, p.85. 10- SCHUMM, S. 1956. Evolution of drainage systems and slopes in badlands of Perth Amboy. Geological Society of America Bulletin, New York, v.67, p.597-646. 1l- SHERMAN, LK. 1932. Streamflow from rainfall from the unit hydrograph method. Engineering News Record, y.103, p. 501-05, 12- STRAHLER, AN. 1957. Quantitative analysis of watershed geomorphology. Transactions. American Geophysical Union v.38, p. 913-920, Capitulo 3 ELEMENTOS DE HIDROMETEOROLOGIA Juan Carlos Bertoni 3.1 A atmosfera terrestre A atmosfera terrestre € a camada gasosa que envolve a Terra € a acompanha em seus movimentos. A atmosfera ¢ considerada subdividida em camadas superpostas. Existem duas camadas principais, denominadas alta ¢ baixa atmosfera. A divisio entre ambas ocorre aproximadamente aos 20km de altitude, na interface conhecida como estratopausa. A alta atmosfera possui particular importancia devido @ presenga no seu interior de elementos especiais, camadas ionizadas, reagdes fotoquimicas, etc., ¢ pelos efeitos que a mesma produz sobre atividades tais como: exploragao do espago € as comunicagées. Para o hidrdlogo, entretanto, dado que esta camada possui apenas influéncia indireta sobre a distribuig&o das Aguas superficiais, apresenta maior interesse o estudo da baixa atmosfera. A baixa atmosfera subdivide-se em duas camadas separadas pela tropopausa: estratosfera: localiza-se entre a tropopausa ¢ a estratopausa, possui espessura varidvel ¢ caracteriza-se por apresentar menor variagao vertical da temperatura do que as camadas mais préximas da terra. Nas regides clevadas da estratosfera encontra-se a subcamada de oz6nio (O,), responsdvel pelo controle da quantidade de radiagao ultravioleta de origem solar que atinge a ‘Terra; troposfera: compreendida entre a superficie terrestre ¢ a tropopausa, a mesma apresenta maior espessura no equador (aproximadamente 16000m) ¢ menor nos polos (em média 8000m). Esta camada € 0 principal meio de transporte de massa (agua, particulas s6lidas, poluentes, _ete.), energia (energia térmica recebida do sol), ¢ quantidade de movimento (ventos) sobre a superficie da terra, dando origem assim aos i meteoroldgi interesse na hidrometeorologia. a — ee Por estar em contato direto com fontes de particulas sdlidas, a tropostera possui, com relagio as outras camadas, maior conteside de matical solide. Segundo observagGes, a concentragio de particulas sdlidas decai com a Hidrologia 54 gradiente diminui com a ufda na atmosfera pode-se rtamento similar ao das altura, conforme um gradiente exponencial. Este altura até tomar-se quase nulo. Para a 4gua distrib admitir, como primeira aproximagio, um compo i idas. “ cae ae temperatura, observa-se, cm média, valores mais altos nas camadas préximas A superficie terrestre. Isto indica que a fonte priméria de. aquecimento do ar atmosférico é a prépria terra. Obviamente, a fonte original € 0 Sol, mas, devido aos processos associados com o espectro de absorgao da atmosfera e os diferentes comprimentos de onda entre a energia incidente ¢ a emitida, s6 uma pequena parte do calor atmosférico provém diretamente do Sol. As camadas inferiores do ar, por conterem maior quantidade de vapor de Agua, gotas e particulas sdlidas, tormam-se mais eficientes para absorver a radiagio terrestre do que as camadas altas. Isto acentua o aquecimento relativo das camadas mais baixas. Origina-se assim um gradiente vertical de temperatura que permanece relativamente constante na troposfera. Na estratosfera, entretanto, as variagdes de temperatura so menores e dependem, em muito, da quantidade de ozénio. Esta quantidade varia com a latitude e a estagdo do ano. Quanto A pressio, admite-se que na troposfera a mesma varie com a altura segundo um comportamento hidrostatico (observe-se que no caso do ar a massa especifica varia com a altura). A figura 3.1 ilustra os comportamentos citados. Ar atmosférico: 0 ar atmosférico € uma mistura de gases que se constitui do ar seco acrescido de vapor de Agua. A distingo entre gases e vapor de dgua tem a ver com 0 comportamento desses dois tipos de substancias, E considerado um gs, qualquer substéncia gaseiforme que se encontre a uma temperatura maior que a sua temperatura critica; caso contrario é considerado um vapor. Temperatura critica é a temperatura acima da qual o gas nao pode ser liquefeito por compressdo. Logo, os res liquefeitos por compressio, os gases nao. : : Na composigao volumétrica do os itrogénio oxigénio (20,95%). A proporgdo een me constante com a altitude. O vapor de égua, ees p on = Ps Elementos de Hidrometereologia 55 Tanto 0 ar seco como o vapor de gua nas condigées de pressio ¢ de temperatura observadas na troposfera comportam-se como gases perfeitos. Sio ditos gases perfeitos aqueles que cumprem com a relagao PV = aT GB.) onde p = a pressao absoluta do gas; Vjyo} = ao seu volume molar; T = a sua temperatura absoluta; ¢ #@= a constante universal dos gases que, conforme a Tei de Avogrado, pode-se expressar por R=MR G.2) onde M = a massa de um mol de gds (massa molar) ¢ R = a constante caracteristica de cada gas (j4 ndo mais universal). Uma expressao altemativa para a equagio 3.1 é pv=RT (3.3) onde v = o volume especifico da substancia, definido como a relagio Pressdo, psia 8 10 12 14 16 18 20 Estratopausa Estratostera Altitude (km) (ilies Ss -70 -60 -80 -40 -30 -20 -20 6 10 Temperatura (°C) Figura 3.1. Perfil fisico tipico da atmosfera (Eagleson,1970) Hidrologia 56 i (3.4) veviy/M Pode-se observar que a relagdo 3.4 ¢ a inversa da massa especifica da substincia, p. . Para a mistura de gases perfeitos, a lei de Dalton estabelece que, num dado volume, cada um deles exerce uma pressio parcial, independente da dos outros gases, igual A pressio que exerceria se fosse o tinico gds a ocupar o volume. Sendo p a pressiio atmosférica e p, a pressio do ar seco, 0 vapor de Agua exerce na atmosfera uma pressio “e" : e=p-P, (3.5) A pressiio "e" € dita pressiio parcial do vapor de dgua, ou simplesmente pressGo de vapor. A pressio do vapor de agua € considerada uma medida da quantidade de vapor de dgua presente no ar. As unidades usuais de "e" so: milibar (mb), milimetro de merctrio (mm Hg) ou Pascal (Pa). 3.2.1 Relagdo entre o vapor de 4gua e a temperatura do ar Dado que nos movimentos habituais das massas atmosféricas as variagGes de temperatura so mais significativas que as de Ppressiio, pode-se considerar que a quantidade de vapor de 4gua que um certo volume de ar pode conter depende, basicamente, da temperatura relativa do ar © aumenta com o aumento desta tiltima, Esta relaco segue um comportamento aproximadamente exponencial (figura 3.2), Para uma dada temperatura existe uma quantidade maxima de vapor de s, que o ar pode conter. Quando um certo volume de ar, eae pe temperatura, encerrar essa quantidade maxima, diz-se que o vapor € saturante ou que a porcentagem de saturagiio ¢ de 100%. Conforme observa-se na fig 3.2, & medida que a Pe gradiente de es. aumenta, hé um Elementos de Hidrometereologia (polegadas) PRESSAO DE VAPOR ° 10 20 30 40 (sc) Figura 3.2.Relagao tipica entre a temperatura relativa do ar e a pressdo de vapor Quando por resfriamento, em temperaturas positivas, o ponto de saturacfo for atingido, 0 excesso de vapor passa a condensar-se sob a forma de minisculas gotas liquidas que vo constituir, na atmosfera, as nuvens ¢ o neyoeiro. Esse fendmeno libera calor latente de condensacdo, sendo aproximadamente de 600 calorias (2511,3 Joules) por grama de 4gua condensada, A temperatura A qual uma massa de ar de temperatura T © pressio p deveria ser isobaricamente resfriada para atingir a condigfio de saturagio do seu vapor de 4gua € denominada temperatura do ponto de orvalho, Ty. Nao se deve confundir ponto de orvalho com orvalho, pois a primeira ¢ uma temperatura, associada A condigao de saturagao do ar, enquanto que a segunda € um tipo de precipitagao. Para temperaturas abaixo do ponto de congelamento a tensdo de Saturago 58 Hidrologia sobre o gelo apresenta valores inferiores Aqueles sobre a 4gua em estado de sobrefusio! (figura 3.4). Esta caracteristica permite a formagdo de nuvens ¢ precipitagdes em regides frias e ¢ a base da teoria de Tor Bergeron de formacao de precipitagdes. : Valores da tensfo saturante de vapor es podem ser obtidos em fun¢gao dos valores da temperatura do ar T a partir de gréficos, tabelas ou férmulas, como a de Tetens (Occhipinti, 1989): exo 100 OAD GB.6) onde es = a tensdo saturante do vapor em mb, T representa a temperatura do ar em °C e ae b sio valores constantes para a 4gua (a=7,5 ; b=237,3) € para o gelo (a=9,5 ; b=265,5). 3.2.2 Indices da umidade do ar Além da pressio de vapor de 4gua existem outros indices para avaliar a umidade do ar, Os mesmos sfo apresentados a seguir. Elementos de Hidrometereologia ESTADO Liauioo: ESTADO SOLID Ponto triplo 6,1l}-----~----- ESTADO DE VAPOR Tensdo saturante de vapor de dgua es (mb) Temperatura do or (°K) Figura 3.4. Representagdo entre os diferentes estados de 4gua a tens&o saturante de vapor (Raudikivi,1979). Umidade absoluta (p,): € definida como a relagfo entre a massa de vapor de gua, m,, ¢ 0 volume de ar que a contém, Py = my/V G2) Este indice recebe também outras denominagées tais como: massa especifica de vapor, densidade do vapor ou concentragéo de vapor de gua. Umidade relativa (U): € a relagdo percentual que expressa a quantidade real de vapor no ar em termos relativos ao valor da saturagao, para a mesma temperatura. U (%) = 100 « (ef - 68) Umidade especifica (q): ¢ 0 quociente entre 4 massa de vi de ca massa de ar Gmido de densidade p que a contém ge = Hidrologia 4 = m/(mtm,) = py/(P,+Py) = Pu/P ste sendo m, a massa de ar seco e p, a sua massa especifica. Razao ou teor de mistura (w): € a razdo entre a massa de vapor de 4guaca massa de ar seco com a qual o vapor se mistura. w = m,/m, = Py/Py 3.10) 3.2.3 Relagées entre os diferentes indices de umidade Aplicando a expresso 3.3 ao ar seco e ao vapor de 4gua obtém-se as seguintes equagdes: P, =P," RT @.11) e =p, RT 3.12) onde R, ¢ R, sao, respectivamente, as constantes especificas do ar seco e do vapor de Agua, ¢ as demais varidveis mantém o significado dado anteriormente, Adotando-se o valor 8,314 J/mol °K para @ (este valor nao é constante, varia ligeiramente para cada gs), e considerando a mass: molecular do ar seco, M, = 28,98 g/mol, e a massa molecular do vapor de égua, M, = 18,01 g/mol, resulta a relagao Elementos de Hidrometereologia 61 expresso 3.9, a umidade especifica, q, resulta q = (€ > o)/[p - (1-€)-e) (3.16) Admitindo-se novamente ¢ << p, obtém-se q=e° ep 17) Portanto, na pratica adota-se qew (3.18) De acordo com as equagdes 3.15 ¢ 3.17 a umidade relativa, U, resulta U (%) = 100 + w/w, = 100 a/a, 3.19) onde w, € q, se referem A condi¢ao de saturagio. 3.2.4 Determinacao da pressao de vapor de 4gua Na pratica corrente, a umidade do ar é medida por meio de psicrémetros. Os psicrémetros possuem dois termémetros convenientemente ventilados por um fluxo de ar, a uma velocidade da ordem de 10 m/s. Um destes termémetros é simples e utiliza-se para determinar a temperatura do ar, T. O outro € envolto em uma gaze permanentemente umedecida por capilaridade ¢ a sua leitura determina a temperatura do bulbo timido, Ty. Se o ar nao est4 saturado, ao fluir pelo psicrémetro produz evaporagdo de Agua do bulbo timido. O calor latente necessdrio para essa evaporagio é retirado do fluxo de ar que yentila 0 bulbo timido. Como conseqiiéncia, o ar se resfria, e 0 bulbo tmido passa a indicar uma temperatura T,< T. Se o ar estiver saturado ter-se-4 Ty = T. A diferenga (I-T,) denomina-se depressao psicrométrica e € proporcional ao déficit de umidade do ar, representado pela diferenga (w,-w). Para determinar a pressio de vapor de 4gua, e, utilizam-se formulas Ppsicrométricas do tipo: e-e=A-p: (T-T,) 3.20) onde A = uma constante psicrométrica (empirica) obtida de tabelas em fungiio dos diferentes valores médios de pressio, p, T © T, s&o fornecidas pelo Psicrémetros ¢ a tensio de saturagio, es, € obtida pela equacio 3.2, ou Hidrologia 62 similares. Conhecido 0 par de valores (T, ¢) € possfvel determinar os ‘demniy ara aan eae tumido, T,,, € sempre maior oo que a lemons do ponto de orvalho, Ty. Dado que as duas sao definidas nas condigées de saturago e pressio constante, a razio desta diferenga esta no processo pelo qual € resfriado o ar timido. No ponto de orvalho o resfriamento do ar é realizado mantendo-se constante o teor de umidade, enquanto que no bulbo timido o resfriamento é produzido pela evaporagao, que eleva o teor de umidade. Assim resulta es(T,) > es(Ty) e, portanto, Ty > Ty. 3.3 Processos de transporte Qs principais mecanismos de transporte de energia, quantidade de movimento e massa na atmosfera sio os de radiag&o, condugao e convecgao. A importancia da radiagao é evidente, dado que é 0 mecanismo mediante o qual a cnergia solar ingressa na atmosfera. Seguindo um comportamento diferente dos outros dois processos, a radiagao € proporcional a temperatura absoluta do corpo radiante. Assim, a baixas temperaturas os mecanismos de condugao e convecgfio sfo preponderantes, enquanto que a altas temperaturas a radiagdo possui maior importancia. Na temperatura do Sol, 6000 °K, a radiagio predomina; entretanto, na superficie da Terra, 278°K, os trés processos sao significativos. fenémeno de condugio origina-se nos movimentos aleatérios das moléculas das substéncias presentes no ar (liquidas ou i as Sasosas). Estes. ovimentos dependem da temperatura. O transporte por condug%o molecular onigina-se com a continua troca de posi¢io das moléculas de reside: Este processo pode permitir o transporte de calor, quando regides encontram a diferentes temperaturas. Também pode provocar quantidade de movimento, quando as camadas contiguas apresent: velocidades médias. No caso de sistemas fluidos . eee (como € 0 caso da atmosfera), v; r um Provocario, por ais, pane Elementos de Hidrometereologia 63 Na atmosfera, entretanto, existe um outro processo responsivel por taxas de transporte muito maiores que a provocada pelas trocas moleculares: a convecgao turbulenta. Dado que o movimento das massas de ar atmosférico s6 apresenta caracteristicas laminares em condigdes de grande calmaria, as taxas mais importantes de transporte na atmosfera produzem-se por turbulén O movimento por turbuléncia pode ser interpretado de forma simplificada como um sistema de vértices variando em escala ¢ em intensidade, superposto ao fluxo médio, Formulagao dos processos convectivos A primeira lei da termodindmica estabelece que o calor dQ,, recebido por um sistema, € igual ao incremento na energia intema do sistema dl, mais o trabalho dW, realizado pelo mesmo. Analiticamente pode-se expressar como dQ, = di + dW 3.21) onde o sinal de dW € positivo, quando o trabalho € realizado pelo sistema sobre 0 meio. Na auséncia de trabalho mecanico (bombeamento, compressio, etc) o trabalho dW € aquele realizado pela superficie do sistema em expansdo ou contragao, contra a pressao extema p, portanto resulta dW = d(p - V) (3.22) sendo V o volume do sistema. Admitindo que a pressio € praticamente constante, a expressio 3.22 resulta dW =p: dV 3.23) Se o estudo € restringido a sistemas homogéneos é conyeniente expressar 3.21 em termos de massa unitéria. Portanto, dividindo pela massa do sistema (e mantendo uma simbologia semelhante) resulta dq, = di + dw (3.24) Na aus¢ncia de movimento, gravidade ¢ eletricidade, a energia interna por unidade de massa de uma substancia homogénea é Niki Sacieas da temperatura ¢ do volume. Substituindo i por u para referenciar esta caracteristica, a expresso 3.24 resulta dg, = du + dw 25) 6 Hidrologia ou dg, = du + p dv (3.26) onde vy = 0 volume especifico equagao 3.4. Para gases ideais pode-se demonstrar (Eagleson, 1970) que (awav), = T + (p/aT), (3.27) sendo T = a temperatura ¢ p = a pressdo, ambas medidas em termos absolutos. Combinando 3.27 ¢ 3.3 resulta (du/8v),. =0 (3.28) expressio que indica que para gases ideais a energia interna, u, é na realidade fun¢Zo unicamente da temperatura. A equagao 3.26 pode ser expressa por dq, = -dT+p-: dv (3.29) onde ©, = © calor especifico a volume constante, definido segundo (wan), = ¢, Diferenciando e rearranjando os termos da equagio 3.3 resulta P+ dv=R-dT-v- dp Substituindo 3.31 em 3.29 4, =, 4 Elementos de Hidrometercologia resulta ee Aa 3.35) poy: Assim a expresso 3.33 pode ser escrita na forma seguinte dq, =¢, - T-R + T+ Gp/p) 3.36) 3.4 Transformagoes adiabaticas A maioria das transformagdes que se verificam na atmosfera sao tio rapidas que os ganhos e perdas de calor podem ser desprezados. As tansformagGes de um sistema que ocorrem sem troca de calor com o meio externo sao ditas transformag6es adiabdticas. Um gas ou vapor realiza uma transformagao adiabatica quando a passagem do estado inicial ao estado final € realizada com base apenas na variagao de sua energia interna, sem receber ou ceder calor. As conseqiiéncias imediatas das transformagGes adiabdticas podem ser rapidamente visualizadas considerando um gas contido num cilindro com paredes impermedveis ao calor. Se a expansao se fizer adiabaticamente, a energia nécessdria para executar esse trabalho € extraida do préprio gas e ele se resfria. Se, pelo contrario, ele for comprimido adiabaticamente, sua temperatura aumenta, pois 0 trabalho de compressao converter-se-4 em calor. Num processo adiabdtico tem-se dq, = 0, e, a partir da equagdo 3.36 dT/T = (Ricy) (p/p) G37) Integrando T/T, = (pip.)'* 3.38) onde T, € a temperatura absoluta a presséo absoluta po, ¢ ine Bes = fe a fe, ou n= Bea = 1/ 141 para o ar seco Quando p, = 1000 mb a equagao 3.38 resulta Hidrologia 7/0 = (p/1000)""* Cy onde @ € dita temperatura potencial, a qual permanece constante durante processos adiabéticos. Observa-se que a cada par de valores (T, p) corresponde um valor de @. Portanto, esta wiltima é utilizada para classificar uma massa de ar timida ndo-saturada, determinar sua estrutura vertical € definir suas condicdes de estabilidade (abordadas mais adiante), desde que se verifiquem transformagées adiabdticas e que, ao longo destas, o ar nfo fique saturado. O valor p,= 1000 mb geralmente ¢ adotado como referéncia para definir o nivel da base do perfil atmosférico. Combinando 3.3 ¢ 3.38 resulta a seguinte relagio da termodinamica p- v'™ = constante (3.41) T- v""~ » = constante 3.42) Para uma parcela de ar seco em movimento vertical do tipo adiabatico, equagio 3.37 fica me ae IT + (AT/dz) = (1-n)/p + (dp/dz) 6.43 onde z indica a diregao vertical. A pressio atmosférica a qualquer nivel de alti s altitude Papo de een inn qutte toda a colin vertical de. arcs ee ae Ponto considerado. Sua variagio com a Tei hit : Elementos de Hidrometereologia 67 independe da altitude ¢ da umidade contida no ar, desde que a saturagio nao seja atingida. Se um volume elementar de ar ndo-saturado se eleva conservando sua umidade, com o resfriamento atingird a temperatura de saturagdo, A umidade relativa seré entao de 100%. Qualquer diminuig&o subsegiiente de temperatura ocasionaré condensagdo ¢ desprendimento de cerca de 600 calorias para cada grama de vapor de Agua condensada. Este calor latente de condensagao € absorvido pelo ar ¢, portanto, 0 gradiente adiabético se reduz. A variagfo de temperatura de um volume de ar saturado com a altura denomina-se gradiente vertical de temperatura da adiabdtica saturada, ¥,. O valor de y, nfo é constante, tendendo até o valor y, com o aumento de altura, A explicago fisica deste fato estd na diminuigo de es a medida que © ar vai-se resfriando, com o qual diminui também o calor latente de condensagio liberado pelo processo. Para condigdes médias (p=1000 mb e T=10 °0), 0 gradiente y, tem o valor de 5,3 °C/Km. Verifica-se assim que o gradiente vertical da adiabatica saturada € menor do que aquele da adiabdtica seca. Transformagées pseudo-adiabiticas: no processo de expansio do ar saturado a transformagio 6 seria adiabtica se nfo ocorresse a perda de alguma quantidade de calor levada pelas gotas de chuva que poderiam cair assim que houvesse a condensagao. Na realidade, quando ocorre uma precipitag&o existe uma pequena perda de calor. Para referenciar esta perda o processo € dito pseudo-adiabatico. A perda de calor € tio pequena que pode-se considerar que a ascensaéo de uma parcela de ar saturado segue um gradiente praticamente igual a y,. No entanto, dado que a perda representa um processo irreversivel, quando a mesma parcela tende a descer segue um gradiente mais préximo ao da adiabética seca, y, (Eagleson, 1970). Este mecanismo € responsével pela elevagéo da temperatura que se observa em regides localizadas a sotayento, apés a ocorréncia de precipitages orogréficas (figura 3.5). 3.5 Estabilidade atmosférica Considere uma parcela de ar de massa unitéria sujeita a seu peso proprio ¢ ao empuxo de Arquimedes. Orientando a vertical positivamente para cima e admitindo que a densidade especifica da parcela seja p', e a do ar circundante seja p, tem-se (Occhipinti, 1989): peso: W=-g 47) empuxo: E= p< Ip’: g (3.48) 68 Hidrologia A acelerago resultante sera: a=EB+W=g: [pp’- l=8- [e-P'/P) (3.49) Dado que as densidades especfficas sao inversamente proporcionais as temperaturas absolutas, tem-se: a=g> ((T-T/T) (3.50) onde T ¢ T” sio, respectivamente, as temperaturas absolutas do ar circundante ¢ da parcela, Elementos de Hidrometereologia 69 ()T,>Tsa<0 @T,0 @T,=Tya=0 Na condicao (1) a parcela estar mais fria do que ar circundante ¢ assim tendera retornar ao nivel p, de equilibrio. Esta situagao é de equilibrio estavel. A situagdo (2) representa 0 caso contririo, portanto uma condigao de equilibrio instivel. No caso (3), a parcela tender a permanecer no nivel de pressao p; e, portanto, é uma condigao de equilibrio indiferente. Condigao de estabilidade de uma curva de sondagem: as sondagens aeroldgi- cas realizadas por meio de radiossondas fornecem a distribuigao das variaveis p, Te U ao longo do perfil vertical da atmosfera. Considere-se uma curva de sondagem de uma camada de ar cujo gradiente térmico vertical é y e cujas coordenadas de temperatura e pressao de um ponto qualquer da mesma sao T e p, respectivamente. Admita-se que na base da cama- da a temperatura do ar seja T, € a pressao po, no topo da mesma estas varidveis adotem os valores T; e p; . Deslocando-se adiabaticamente uma parcela situada na base da camada para um nivel de pressio p tal que p; < p < Po, pode-se comparar a temperatura T’, alcancada pela parcela no novo nivel com a do meio ambiente T e, assim, determinar a sua condigio de equilibrio na posigao inicial de pressao py. Ao comparar-se a curva de sondagem com as curvas adiabiticas seca e saturada que passam pela posigao inicial de coordenadas T, e py, pode-se consi- derar trés casos (figura 3.6). Caso I: y < ys < Ya equilibrio absolutamente estavel. Esta condigao implica que sempre T’ < T e a parcela tenderé a retornar ao nivel po. Caso Il: > Ys > Ys: equilibrio absolutamente instavel. Neste caso ter-se-4 sempre T’ > T e a parcela tender a contiriuar subindo. Caso III: Ys < Y < Ya: equilibrio condicionalmente estavel, Hidrologia 70 CASO 1: ¥< %< Ye casoll: ¥>%er% Absolutamente estavel Absolutamente instdvel oT: ota Elementos de Hidrometereologia 7 pressao, temperatura ¢ umidade ao longo de uma trajetéria percorrida pelo balao sonda), e a parcela desloca-se apenas até um nivel de pressio p > Pj ter-se-4 T’ < Te a condigio de equilfbrio € estdvel. Se a parcela tiver energia suficiente para alcangar um nivel de pressio p < p, ter-se-4 T’ > Te a condicao de equilfbrio é dita condicionalmente instdvel. 3.6 Temperaturas associadas a processos conyectivos Além das temperatura do ponto de orvalho, Ty, ¢ do bulbo timido, T,,, previamente definidas, existem outras temperaturas utilizadas nos processos convectivos como referéncia das condigSes reinantes. Denomina-se temperatura do nivel de condensagio, T,, a temperatura correspondente ao nivel p, até o qual é necessério elevar adiabaticamente uma massa de ar n&o-saturado, que se encontra nas condigdes py, T, € Wo, para que atinja a saturagdo (figura 3.5). Verifica-se que a temperatura do nivel de condensagao, T,, € sempre menor do que a temperatura do ponto de orvalho, aay Temperatura pseudo-adiabatica potencial do bulbo wimido, 0, ¢ a temperatura aleangada por uma parcela de ar timido quando a mesma € elevada, pelo processo adiabético ndo-saturado, até o nivel de condensagio e é retormada ao nivel de 1000mb pelo processo adiabdtico saturado (figura 3.7). Quando, pelo mesmo processo, a parcela de ar timido retorna ao seu nivel original de pressdo, a temperatura é dita temperatura pseudo-adiabitica do bulbo timido ¢ € designada por T,y. Na pratica T,,, € aproximadamente igual & temperatura do bulbo tmido, T,. Da definigao de 0,,, se deduz que a mesma representa a adiabatica saturada que intercepta o ponto de condensagao (figura 3.7). Uma parcela de ar timido ou saturado em toda sua evolugdo na atmosfera tende a guardar sempre a mesma temperatura, 9,,. Portanto, esta temperatura € uma propriedade intrinseca de uma massa de ar. A temperatura @,, € utilizada para se determinar a mdxima 4gua precipitavel que pode ser contida em uma massa de ar saturado, 3.7 Altura de 4gua precipitavel ou condensdvel Define-se como a altura de lamina de 4gua equivalente & condensagao de todo o vapor de 4gua contido em uma coluna de ar tmido. A massa de vapor de 4gua, dm,, contida em uma coluna yertical elementar com altura dz e seo transversal de drea A, € : n Hidrologia dm =p. - A> dz (3.52) Ve onde p, € a densidade do vapor de 4gua. Conforme a expresso 3.44 a relagio entre a variagao de pressao, dp, e a variagao de altura, dz, em uma coluna de ar umido é dp=-p +g: dz G53) sendo p a densidade do ar timido e g a aceleragao da gravidade. Q-Esquema relativo as tempe- raturas de saturagdo. Elementos de Hidrometereologia dm, = aV - py 3.96) onde dV € 0 volume ocupado pela massa de vapor de dgua ¢ p,, € a densidade da 4gua liquida, A altura diferencial de Agua precipitada, dw , contida na coluna elementar pode ser determinada segundo a relagiio indicada a seguir dw= dV/A-= (dmy/py) > WA (3.57) Substituindo-se a equagfio 3.55 na equagio 3.57, tem-se dw=~- [Ip, - sl >a op G58) A 4gua precipitavel, contida em uma coluna de ar atmosférico compreendida entre dois niveis de presso p, © p,, ¢ obtida integrando-se a equagao 3.58, obtendo-se P2 #=- (io, D1 fa) > & 659) P) Adotando-se p, = 1 g/em® 3g = 980 cm/s"; q em g/kg e p em mb resulta a seguinte expressio de # em mm: ?2 w=-091 + | ac) > a 3.60) PL A partir dos dados aerolégicos pode-se determinar a distribuigiio vertical de q(p) com base: a) nas equagées 3.6, 3.16 ¢ 3.19; ou b) tabelas hidrometeoroldgicas; ou c) diagramas termodindmicos, Os diagramas termodinfmicos sao pap¢is que apresentam graficamente a maioria dos processos a que esto sujeitas as massas de ar, tais como: Processos isobéricos, isotérmicos, adiabéticos e pseudo-adiabéticos. Estes diagramas so um répido meio de avaliagio das mudangas fisicas que ocorrem nos movimentos de ascensio das massas de ar. Um dos diagramas termodindmicos mais usual ¢ 0 emagrama, Nele so apresentados as seguintes isolinhas: 74 Hidrologia a) isotermas; b) isobaras; c) adiabdticas secas ¢ imidas; d) raz6es de mistura saturantes. As adiabdticas secas so tragadas para cada temperatura potencial, ®, em fungao de T e p por intermédio da equagiio 3.40. Mediante um processo similar, as adiabdticas saturadas so tragadas para cada valor de @,,, em fungéo de T e p. Para a razio de mistura saturante considera-se a equacao 3.15. Na figura 3.8 € apresentado em detalhe um emagrama tipico. Na prdtica a integral 3.60 é satisfatoriamente estimada pelo somatério: D8. Li eae D 10 20_gr/kg 300 400 SK | y 4 1 u - », 4 WIN, 500 v = 4oo N. \ \ \ . i 3 CM Nh y ~ a 2 7 7 TNE a soo — NU NG: AW dN 500K, v i. 2 ° * is a ‘3S NY 1 \ oe a 1 r © = 600 \ \ a i A \ ; . X Took ‘N_ : VA Cv Elementos de Hidrometereologia 75 W=- 001 Ya > . Ap, (3.61) % ied onde N = 0 ntimero de camadas em que se discretiza a sondage, e q; € Ap; sao, respectivamente, a umidade especifica média (g/kg) e o decréscimo de pressio em mb entre a base e 0 topo da camada i. A altura de dgua assim determinada recebe a denominaco de altura de dgua precipitdvel observada. Maxima 4gua precipitavel a partir do ponto de orvalho 4 superficie: dado que até © presente nfo se dispée no Brasil de uma rede de estagdes de sondagens aerolégicas, as estimativas do potencial pluviométrico das tormentas que ocorrem em cada drea baseiam-se nos dados fornecidos pelas redes meteorolégicas de superficie (Occhipinti,1989). Admite-se, como hipétese conservadora, que nas ocorréncias das tormentas mais chuvosas, as massas de ar estejam saturadas desde a superficie até a alta troposfera. Sob esta hipétese, considera-se que a temperatura do ponto de orvalho, T,, reduzida ao nivel de 1000mb, se aproxima da temperatura pseudo-adiabética potencial do bulbo tmido, 0,,. Conseqiientemente, a distribuic&o vertical de umidade pode ser representada pelo ponto de orvalho 4 superficie, decrescendo com a altitude segundo o processo pseudo-adiabatico saturado correspondente. Neste caso a méxima Agua precipitavel é obtida pela integral Py Wy) =- 001 - | 40,40) - dP 3.62) Po onde p, € p, Sao, respectivamente, as pressdes na base ¢ no topo da camada considerada. Na prdtica, a partir das observagdes metcorolégicas de superficie, conhecendo-se a temperatura do ar, T, a temperatura do bulbo timido, T,, e a Presséo p, determinam-se os valores de es (equacdo 3.6), de "e" (equagio 3.20) ¢ de Ty. Esta tltima pode ser obtida alternativamente por tabelas, em fungao de Te T,,, ou por formulas como a indicada a seguir, deduzida a partir da equacao 3.14, es(Ty) = (Whe + W)] + p (3.63) note-se que Wnao aparece explicitamente na equagdo. 6 Hidrologia ‘A hipétese admitida implica considerar que Oy = Tg (para p = 1000mb). Esta hipétese define a adiabatica saturada, que € um invariante que caracteriza a massa de ar e fornece a distribuicdo vertical da temperatura T(p) e da umidade especifica q,(p). Esta distrbuigio € obtida em diagramas termodinamicos. Os valores de % entretanto, encontram-se normalmente tabelados em fungdo de Ty ¢ p, (a pressio no topo da camada considerada), sendo que se adota em geral, pp = 1000 mb. Alternativamente, os valores de W podem ser obtidos de gréficos como os indicados pela figura 3.9. Pode-se determinar a maxima Agua precipitdvel entre dois nfveis quaisquer de pressfio, p, ¢ p,, pela diferenga: A= h- (3.64) Pz P2 aw=-o01 | aap =~ 001 f 9,6)-ap - PL Po 2 iF q,(P)-dp J ; 3.65) Py i E Estas integrais séo calculadas por aproximagdes numéricas, temperatura pseudo-adiabética potencial do bulbo ole Elementos de Hidrometereologia 11 Temperatura a nivel do solo (°C) soo ate tswieiese wn ee teow ela = 300 fe Zs eo 3 es = oso 100 hi o = 2 AS 3 : ne + oS 5,0 600 4,5 /a,0) 4s 700 1 ° 20 40 60 80 100 120 Agua precipitdvel (mm) eratura a nivel do solo (°C) ns at ta we : z - L227, = 00 TNA ‘S 3 3 Hees : HALLE ast = 900: Wr 1000 16 20 30. 40. 50 366 Kgua precipitdvel (mm) Figura 3.9. Grdfico para obter a maxima quantidade de 4gua precipitavel, W (Réméniéras,1971) Este valor também pode ser determinado a partir de gréficos como o indicado na figura 3.9. Os valores de W assim obtidos correspondem & maxima 4gua precipitavel , em fungdo de Ty (p = 1000 mb), para colunas atmosféricas totalmente saturadas compreendidas entre diferentes presses no topo ¢ a Pressio de 1000mb na base. 8B Hidrologia REFERENCIAS 1-EAGLESON, P.S. 1970. Dynamic hydrology, 462p. New York: McGraw-Hill. ‘ 2-OCCHIPINTI, A.G, 1989. Hidrometeorologia. In: Engenharia hidrolégica, Rio de Janeiro: ABRH, Ed. da UFRJ. 404p., p-17-141. 3 - RAUDKIVI, AJ. 1979. Hydrology. Oxford: Pergamon. 479p. 4 - REMENIERAS, G. 1971. Tratado de hidrologta aplicada. Barcelona: ETA, 515 p. 5 - SILVEIRA, R. L. da. 1974. Hidrometeorologia I: notas de aula. Porto Alegre: Instituto de Pesquisas Hidrdulicas da UFRGS. 2v. 6- WIESNER, C.J. 1970. Hydrometeorology. London: Chapman and Hall. 232p. Capitulo 4 ELEMENTOS DE ESTATISTICA E PROBABILIDADES Antonio Eduardo Lanna 4.1 Introdugao Os processos hidrolégicos sio aleatérios. Isto significa que suas realizagdes nfo podem ser conhecidas. Por exemplo, nfo € possfvel saber qual a evolugo dos valores de temperatura, vento, insolagdo, precipitagio, evaporacao, vazio em determinada segao fluvial, ao longo do tempo ou do espago. Isso estabelece uma dificuldade bésica no planejamento das atividades humanas, pois elas sio vinculadas a esses processos. Diante disso, desde o instante em que o ser humano buscou planejar seus empreendimentos ele se Preocupou em estabelecer instrumentos para o tratamento da aleatoriedade, Desta preocupagao surgiram duas disciplinas relacionada com a teoria das probabilidades ¢ com a estatistica. Os fendmenos hidrolégicos naturais nfo podem ser teproduzidos, pelo menos na escala em que ocorrem. No tratamento dos mesmos a estatistica precedeu a teoria das probabilidades. Ou seja, os dados observados de determinado processo hidrolégico foram reunidos por alguém formando uma amostra. Esta amostra foi submetida a andlise estatistica (possivelmente por outra pessoa) visando a definicio de probabilidades de certos eventos. Até aqui se esteve no campo da estatistica. No campo da teoria das probabilidades, em paralelo, foram desenvolyidos Modelos teéricos de probabilidades para processos hipotéticos que tivessem determinadas caracteristicas. Isso permitiu a realizagio da convergéncia de ambos os campos. Comparando as caracteristicas do processo teérico com o do Processo natural foi possivel selecionar alguns modelos probabilisticos para ajustar esse processo. Esse ajuste pertence A parte da estatistica denominada inferéncia estatistica, Comparando os modelos tedricos ajustados com o empirico, obtido a partir da amostra, poderd ser selecionado um deles. Isto Pertence a parte denominada teste de hipdtese. No caso, a hipétese é se algum dos modelos tedricos selecionados é adequado para representar 0 processo em andlise ou se 0 modelo empirico se ajusta ao teérico. Algum estudante mais curioso vai perguntar: se j4 existe um modelo empirico, bascado na amostra do processo, para que se preocupar em obter um modelo teérico? A resposta ficard evidente mais tarde, mas € possivel adiantar algumas causas. Primciro, existe a possibilidade de extrapolagio do idrologi 80 Hidrologia modelo teérico, 0 que nao € muito facil de fazer com um modelo empfrico. Segundo, o empirico € baseado tao-somente na amostra. O que interessa a um analista € 0 modelo do processo hidrolégico estudado. E se houver problemas de consisténcia na amostra? Neste caso, ao escolher-se um modelo teérico desenvolvido para processos com caracteristicas andlogas As do processo estudado, haveré um certo respaldo contra eros amostrais. Essas consideragdes serio retomadas adiante. : No caso de processos hidrolégicos, nao ¢ possivel deduzir um modelo teérico a priori. Também nao € possivel criar uma amostra a partir de experimentos controlados. O analista deve contar com amostras observadas historicamente. A dificuldade evidente é que nao seré possivel esperar até que exista uma amostra de tamanho suficiente para entao estudar o processo. O que fazer entio quando existe pouca ou nenhuma observagao a No caso de existir pouca informagao poder4 ser possivel recorrer-se ao preenchimento de falhas a partir de andlise de regressdo. Nesse caso busca-se processos que sejam correlacionados com aquele de interesse. Sao testados modelos de regressio que estabelegam matematicamente a relagdo existente entre os processos. O modelo escolhido € analisado para verificar sua adequacao. Finalmente, haverd sua operagdo para obter-se uma amostra maior do processo estudado. Houve, neste caso, a transfer€ncia de informagao entre as amostras de dois processos correlacionados. Em muitos casos nao existe qualquer amostra do processo em andlise. Para abordar esta situagdo foram desenvolvidas técnicas denominadas regionalizagao estatistica que permitem outro tipo de transferéncia de informagio, a partir de amostras de processos ocorridos na mesma regifio. Este capitulo abordaré de forma condensada ¢ aplicada alguns — s tratados anteriormente. Na primeira parte serdo estudadas estatisticas de tratamento de dados, incluindo a andlise de ri seguida serdo apresentados os modelos probabilisticos mais : hidrolégica, com as técnicas de ajuste Elementos de Estatistica e Probabilidades 81 deve assumir valores distintos ao longo do tempo. Ela também varia ao longo do espago, ou seja, a varidvel representativa deveria assumir valores distintos em fung&o das coordenadas do ponto geogréfico de interesse. Para ser absolutamente preciso, haverd necessidade de 3 coordenadas: latitude (x), longitude (y) ¢ altitude/profundidade (z). Introduzindo o tempo (1), @ varidvel representativa do processo chuva deveria ser notada como PQ y.z,t). © mesmo ocorre para grande parte dos processos hidrolégicos, Para facilitar a andlise ¢ usualmente realizada a simplificagio de fixar-se o local em que 0 processo ser4 estudado. O processo das precipitagdes em dado pluviémetro da cidade de Porto Alegre, por exemplo, pode ser representado por uma varidvel P(t), j& que apenas ao longo do tempo existe variabilidade significativa. 0 mesmo ocorre para grande ntimero de processos hidrolégicos medidos em dado local. Dai decorre o interesse de estudo estatistico das varidveis aleatérias temporais. Os exemplos de varidveis aleatérias temporais em hidrologia sao abundantes: chuva, vazdo, evaporagdo, temperatura, insolacdo, velocidade e sentido do vento. Todas estas varidveis podem ser representadas pontualmente, com suas variacdes sendo realizadas ao longo do tempo. Algumas vezes pode ser importante o estudo da variabilidade espacial de um processo hidrolégico. Um exemplo claro ¢ 0 das vazées ao longo de um rio. Outros exemplos sdo a distribuigdo espacial da pressdo barométrica e as chuvas em uma regido. Nesse caso, a variabilidade espacial costuma ser Tepresentada fixando-se 0 tempo em determinado instante ou perfodo, Por exemplo, pode ser considerada a variabilidade espacial da pressio barométrica 4s 7 horas da manha, de determinado dia, ¢ dos totais precipitados durante o més de junho de 1993, no estado do Rio Grande do Sul. Os processos hidrolégicos so geralmente continuos no tempo € no espaco. Esse € 0 caso dos exemplos até agora apresentados. Por processo continuo entende-se aquele cuja varidvel que o quantifica assume valores ao longo de qualquer ponto, temporal ou espacialmente, no qual for medido. Existe uma clara dificuldade de tratamento computacional de varidveis continuas em uma civilizagio que optou por computadores digitais. Diante disso, é praxe Tepresentar os processos hidrolégicos por varidveis aleatérias temporais discretizadas. Q termo discretizacdo significa que so tratados os valores das varidveis obtidos em instantes ou periodos sucessivos do tempo, ou em Pontos geograficos definidos do espaco. Por exemplo, os niveis de 4gua em uma segao fluvial sem linigrafo sao Tegistrados as 7 © as 17 horas de cada dia. Esses registros formario uma Série de valores discretos instantaneos, de uma varidvel temporal aleatéria continua, que quantifica o processo hidrolégico niveis de dgua em dada secao fluvial. Ao serem tratados em escritério, € praxe computar-se as vazées, quando existe curva de calibragem para a segao fluvial considerada, e fazer- ‘€ a média entre os valores obtidos em um mesmo dia. Essas operag6es formardo Py Hidrologia uma série de valores discretos médios didrios da varidvel temporal continua, que quantifica 0 proceso hidrolégico vazdes em dada segao fluvial. Diferente ¢ a praxe no caso da precipitaglo. Os totais precipitados em um pluviémetro no perfodo que vai das 7 horas de um dia as 7 horas do dia seguinte séo anotados ¢ formario uma série de valores discretos, totalizados diariamente, da varidvel temporal continua que quantifica 0 processo hidrolégico chuva no pluviémetro. Mas esses exemplos no esgotam as possibilidades, mesmo fixando-se apenas nos casos de vazfio ¢ chuva. Os registros de vazio podem ser obtidos na forma de valores médios didrios, mensais ¢ anuais. Os registros de chuva podem ser obtidos como totais didrios, mensais ou anuais. Também podem ser obtidas séries de valores méximos anuais de chuva em determinado intervalo como, por exemplo, 5 minutos, 1 hora ¢ 1 dia. Ou séries de valores instantaneos m4ximos anuais de vazio em dada se¢do fluvial. Nesses casos, as séries de totais, em dado intervalo de tempo de chuya, ou de observagGes instant@neas de vaziio, sio processadas de forma a serem obtidas as séries de méximos. E comum também manipular-se s¢ries de valores m4ximos ou minimos anuais de vazées em determinado intervalo de tempo, tal como 30 dias. Neste caso, as séries originais so valores médios didrios acumulados sucessivamente (do dia 1 ao 30, do dia 2 ao 3], etc.) e, dentro de cada ano (civil ou hidrolégico), obtido o maior ou menor valor. O que pode ser verificado, enfim, € que um processo hidrolégico pode ser pace de diversas formas por uma série de valores numéricos. A escolha la forma de representagio ¢ determin: jeti' andlise caracteristicas do eae eS . pales Suponha que esteja sendo executado um estudo sobre 0 abastecimento de a gua de uma cidade, a partir de captagio em uma segao fluvial. b adequado utilizar-se uma série de valores médios mensais (ou. houver necessidade de maior precisio) de vazdes. No a ae 4 protegdo da mesma cidade contra cee ee javerd n¢ i 5 : iecessidade de se contar com valores méximos Elementos de Estatistica e Probabilidades 83 das estagdes secas e uimidas, entre outras informagdes, mas ¢ pouco concisa para um tratamento mais operacional. Na figura 4.1a é apresentado um hidrograma hipotético de uma segio fluvial com grande érea de drenagem em regido imida. A curva continua poderia ser obtida pela interpolag&o dos pontos referentes as vazSes médias didrias. Sao apresentados também histogramas compostos pelas vazdes médias semanais, mensais € anuais. O objetivo da figura é mostrar a perda de informagiio devido ao aumento do intervalo de discretizagio. A figura 4.1b apresenta um hidrograma tfpico de uma sego fluvial com pequena drea de drenagem. Ele apresenta uma variabilidade maior do que na situag&o anterior, devido a reduzida capacidade de regularizacéo natural em uma pequena bacia. Esta regularizagao natural é obtida pelo armazenamento no leito fluvial ¢ no aqiiffero subterraneo que, no caso de pequenas bacias, tem menor capacidade que em uma bacia de grande porte, Na figura 4.1b apresenta- se, também, um histograma semanal das vazdes. Verifica-se que a perda de informag&io € maior que no caso anterior. Os exemplos mostram que a escolha da varidvel que representard um processo hidrolégico dependerd tanto do uso que se pretende fazer, quanto da natureza deste processo. Dy semana () pequena érea de drenagem Figura 4,1, Hidrogramas Hidrologia 84 Curva de permanéncia Um tipo de manipulagio bastante utilizado éa curva de permanéncia. Ela apresenta a freqii¢ncia com que ocorrem valores iguais ou al aos valores de uma série temporal, Por isso cla € muito utilizada para avaliar o potencial de abastecimento de uma segio fluvial, por exemplo. O engenheiro ar com vaz6es iguais ou maiores do que a quer ter garantia de qlic poderd conti met demanda que se deseja suprir. Seja 95% uma garantia julgada adequada. Um valor com garantia de 95% significa que a segao fluvial permanece com vaz6es acima dele em 95% do tempo. Para o tragado da curva de permanéncia que fornecerd este valor pode-se aplicar o seguinte procedimento: a) ordenar a varidvel temporal em ordem decrescente, atribuindo ordem 1 ao maior valor ¢ ordem n ao menor, em uma amostra com tamanho n; b) computar a freqiiéncia com que cada valor ordenado € excedido ou igualado (permanéncia), como 100.(m/n), sendo m sua ordem e no tamanho da amostra; ¢) graficar a série ordenada em papel decimal com a escala de permanéncia representada no eixo horizontal. Exemplo 4.1. A tabela 4.1 apresenta a aplicagiio desse procedimento aos valores de vazGes médias anuais na se¢iio de Itajuipe do rio Almada, estado da Bahia, com rea de drenagem de 640 km?, As observagGes foram realizadas entre a ¢ 1979, havendo lacuna no ano de 1968. Existem, portanto, 42 valores na série. ss As colunas 2 e 5 da tabela 4.1 listam os valores de permanéncia relacionados com a respectiva ordem, colocada nas colunas 1 e 4, Os : ordenados de vaz6es médias anuais acham-se nas colunas 3 e 6. Consu a tabela verifica-se que a vazfio 3,842 m3/s tem a permanéne entanto, deve ser observado que se est buscando jalores superados ao longo do tempo em 95% dos mia de séries anuais que deverio itar fl e Elementos de Estatistica e Probabilidades 85 permanéncia representada no eixo horizontal. Nesta situagio os valores de vazées que estabelecem os pontos da curva nfio s&o observados, mas os resultados ser&o préximos ao do procedimento anterior, se 0 némero de pontos for suficientemente grande. Tabela 4.1. Curva de permanéncia das vaz6es médias anuais do rio Almada em Itajuipe, BA. Ordem |Permanéncia|Valor |Ordem |Permanéncia|Valor (%) (m/s) (%) (m/s) 1 2,38 17,622} 22 52,38 8,647 2 4,76 15,711} 23 54,76 8,389 3 714 14,491] 24 57,14 8,336 4 9,52 13,471} 25 59,52 8,315 5 11,90 13,251} 26 61,90 7,529 6 14,29 13,047] 27 64,29 7,410 7 16,67 12,945}, 28 66,66 7,102 8 19,05 12,719} 29 69,05 6,625 9 21,43 12,496]) 30 71,43 6,513 10 23,81 12,226] 31 73,81 6,439 il 26,19 11,993} 32 76,19 5,950 12 28,57 11,932] 33 78,57 5,805 13 30,95 11,697) 34 80,85 5,598 14 33,33 11,376] 35 83,33 5,553 1s 35,71 11,328] 36 85,71 4,889 16 38,09 11,307] 37 88,09 4,866 17 40,48 10,661] 38 90,48 4,527 18 42,86 10,470] 39 92,85 4,186 19 45,24 10,231] 40 95,24 3,842 20 47,62 97,62 21 50,00 100,00 Na figura 4.2 séo apresentadas as curvas de permanéncia das vazdes médias anuais, mensais e didrias para o rio Almada em Itajuipe. Para melhor visualizagéo as vaz6es séo apresentadas para valores menores que 10 m/s. A curva anual foi estabelecida com o primeiro procedimento e as demais com ° simplificado, Nota-se que para a permanéncia 95% obtém-se vazao média mensal de 1,1 m/s e média didria de 0,8 m*Js. Estes valores disci F © me 5 am bastante entre si ¢, mais ainda, com aquele estabelecido com base a es médias anuais. Por exemplo, o valor 1,1 m/s tem permanéncia em tomo de 85% co 3,842 m?/s em tomo de 50% se for consultada a curva didria, em vez daqueles 86 Hidrologia ‘obtidos na mensal ou anual, respectivamente. Uma critica que se pode fazer & utilizagio da curva de permanéncia para avaliagio de disponibilidade hidrica € que a andlise dependerd do perfodo disponivel de dados. Se existirem 10 anos ou 50 anos os resultados poderao ser totalmente diversos. Idealmente, 0 periodo de dados utilizado deveria ser igual a vida util do projeto, que geralmente é da ordem de 30 a 50 anos. Vazao (m°/s) a oo * 0,2 Elementos de Estatistica e Probabilidades 87 Histogramas de freqiiéncia Um histograma de freqliéncias simples ¢ a representago gréfica da freqiiéncia com que uma varidvel aleatéria ocorre com dado valor, caso de varidvel discreta, ou em dado intervalo, caso de varidvel continua. Exemplo 4.2. Seja, o mimero de dias chuvosos em novembro em determinado local. O estudo desse processo pode interessar a um agricultor que precisa de dias sem chuva para plantar. As observagées das chuvas em 30 anos permitem estabelecer um histograma de freqiléncias simples onde no eixo das abscissas ¢ colocado o numero total de dias de chuva em cada més da amostra. Como novembro tem 30 dias existirio 31 possibilidades discretas de ocorr€ncia do evento niimero de dias chuvosos em novembro. Para definit o histograma os seguintes passos devem ser realizados: a) verificar em quantos meses de novembro ocorreram 0, 1,.., 30 dias de chuva; b) transformar este niimero de dias em freqiiéncia simples de ocorréncia, através da relagdo: F[x] = m/n, sendo m o niimero de vaiores na classe determinada, n o ntimero total de ocorréncias e x o ntimero de dias chuvosos em novembro; c) graficar o histograma, conforme figura 4.3a. Caso se deseje a freqiiéncia com que ocorrem meses de novembro com um niimero de dias chuvosos abaixo de determinado valor, deve-se preparar um histograma de freqiiéncias de nao-excedéncias, fazendo-se a acumulacdo no sentido da classe de maior nimero de dias. A figura 4.3b ilustra o histograma resultante. Se, ao contrério, deseja-se saber a freqiitncia com que ocorrem novembros com ntimero de dias chuvosos maior ou igual a um valor prefixado, deve-se tragar o histograma de freqiiéncias de excedéncia, fazendo a acumulagdo a partir da classe de maior ntimero de dias. Note-se que havendo necessidade de ambos os tipos de informagdo, basta a obtencdo de uma delas, por exemplo, freqiiéncia de no-excedéncia, para obter-se a outra, j4 que se trata com eventos complementares, ou seja: freqiiéncia de excedéncia = F[Xex]=1 - F[X14 42/42 TOTAL Deve ser notado que a curva de permanéncia é uma espécie de histograma de freqiiéncias de excedéncias, em que os limites de classe s&o definidos pelos valores ordenados das varidveis. Cada classe conta, portanto, com uma nica ocorréncia no limite inferior. Outra diferenga ¢ que a freqiiéncia é desenhada no eixo horizontal. Os histogramas de freqiiéncia tem, portanto, as mesmas vantagens ¢ desvantagens da curva de permanéncia, Eles servem para esbogar a distribuigao de freqiiéncias da amostra. Por isso a releyancia das andli imi ee andlises € limitada ao 0 Hidrologia Relagao entre duas varidveis © interesse de consideragio da relagéo entre duas varidveis em hidrologia vem da possibilidade de relacionar os dois processos que representam. Por exemplo, os processos chuva ¢ vazdes em dada bacia. Como a chuva é uma das varidveis motoras do processo hidrolégico que gera vazdes, existe, sem diivida, relagfo entre esses processos. Em fungao disso, pode-se cogitar se tal relagfo pode ser representada por uma relagao direta simples, que graficamente assuma a forma de uma curva. Se este for o caso, a graficacio das varidveis de interesse seria uma primeira avaliagiio. ZZ FREQUENCIA SIMPLES [J Freauencia acumuLaoa Nao EXCEDENTE Frequéncio (%) 10=12, Figura 4.4. Histogramas de freqiiéncias de vaz6es médias em Ttajufpe. : Elementos de Estatistica e Probabilidades 91 4.2.2 Representacaéo numérica Outra forma de representago de uma varidvel aleatéria ¢ feita através de valores numéricos que quantificam as caracteristicas marcantes da forma de sua distribuigaéo de freqiiéncias. Esta representagio seria uma opgao mais radical de sumarizagao do que a representagao gréfica, Devido a facilidade de tratamento computacional, ela tem prevalecido em estatistica. As principais caracteristicas da distribuigiio de freqiiéncias e os parfmetros numéricos que as quantificam s&o apresentados a seguir. Tendéncia central Esta caracteristica € relacionada com a parte central do histograma de freqiiéncias. Existe, as vezes, uma tendéncia de que o niimero de ocorréncias seja maior nesta parte central, significando que a varidvel aleatéria costuma ocorrer com maior freqiiéncia nos intervalos centrais. Os parametros estatisticos que a representam sio: Média Aritmética : ¢ computada por : (4.2) onde: x; i = 1,2..n sao realizagdes da varidvel aleatéria, e n o ntimero total de realizagdes, ou seja, o tamanho da amostra. A média aritmética tem um significado hidrolégico importante. Suponha que um reservatério deverd estabelecer uma regularizagio total das vazdes em dada segfo fluvial. Regularizac&o total significa que as vazdes defluentes do reservat6rio sero constantes. Caso nfo haja evaporagio ou outro tipo de perda hidrica ¢ a entrada de 4gua no reservatério seja unicamente dada pela varidvel aleatéria x, t = Lut, vem: a S.+ J xx + Sig 43) tl A expressio indica que o volume inicialmente armazenado, S,, somado as afluéncias x, em um periodo n, devem ser iguais as defluéncias no mesmo 92 Hidrologia armazenado no reservat6rio a0 final do perfodo periodo, x’, mais o que restou - temente grande para que a diferenga entre o n, S,4;- Caso n seja suficient armazenamento inicial ¢ o armazenamento final seja pequena diante da soma das afluéncias (ou das defluéncias), os armazenamentos poderao ser cancelados. Daf, x’ = + $x, = ¥ do que se conclui que x’ é a média aritmética de x, t=1 t= 1,2..n, Portanto, a média aritmética é a regularizagao plena que se pode obter no reservatério hipotético definido previamente. Tabela 4.3. Dados hidrolégicos da bacia do rio Jacuipe, BA (1960 a 1978) Flementos de Estatistica ¢ Probabilidades 93 e (m/s) VazSes médias anucis em Franca 0,3 os or 09 44 4,3 15 Chuvos totais anuais em Franca (1.000 mm) 47, Figura 4.5, Relagdo entre as vaz6es médias ¢ chuvas totais em Franga, rio Jacufpe, BA anuais em Franga (m37s) ° °4 oe 1.2 1,6 = 24 2.8 32 VazSes médias anuais em Franca (m3/s) Figura 4.6. Relagdo entre vazdes médias anuais em Gavido ¢ Franga no rio Jacuipe, BA ox Hidrologia Moda: € o valor representativo do intervalo de classe onde a freqiiéncia de ocorréncia ¢ méxima, Nas figuras 4.3a ¢ 4.4, este valor é representado no centro do intervalo de classe com maior freqiiéncia, pela notagio mp. O dimensionamento dos intervalos de classe afeta o valor da moda em uma distribuigao empirica de freqiiéncias. Mediana: € o valor que é superado (¢ nao superado) por 50% das ocorréncias. Em um histograma de freqiiéncias seria 0 valor que determinaria Areas iguais 4 direita e A esquerda, conforme mostra nas figuras 4.3a e 4.3b notagao ma, Variabilidade em torno da média A figura 4.7 apresenta duas séries hipotéticas de vaz6es fluviais médias mensais, com média idéntica ¢ variabilidade em tomo da média distinta. Caso fosse pretendida a construgdo de um reservatério de regularizagao, 0 local com o hidrograma b exigiria maior capacidade para armazenar as discrepAncias positivas, que seriam utilizadas para atender as discrepfncias negativas. Ou seja, armazenar as cheias para atenuar as estiagens. O efeito do reservatério seré observado no hidrograma regularizado pela diminuig&o desta variabilidade. No caso extremo de total regularizagdo, o hidrograma seria uma linha horizontal sem qualquer variabilidade. Este exemplo mostra a relevancia de se contar com um pardmetro numérico para medir a variabilidade. Ele é 0 desvio padro ou a varianga. ; Varianga: Elementos de Estatistica ¢ Probabilidades 95 Figura 4.7, Variabilidade em tomo da média Desvio Padro: € a raiz quadrada da varianga s”. Verifica-se que quanto maior for o desvio padr&o ou a varianca, maior ¢ a flutuagdo da varidvel em tomo da média. Assimetria Uma distribuigao simétrica ¢ aquela que apresenta simetria em relagio a um ¢ixo vertical que passa pelo valor modal, ou seja, o valor com maior freqiléncia (isto seria o mesmo que dizer que um lado da distribuigfo ¢ uma imagem de espelho do outro). Nesta situagao a média, a mediana ¢ a moda sio iguais. Existem dois tipos de assimetria. Elas sio exemplificadas na figura 48. No primeiro caso a assimetria ¢ positiva. Existe maior concentragio de freqiiéncias & esquerda do histograma de freqiiéncias simples (figura 4.8a); no de freqiiéncias acumuladas de néo-excedéncias ¢ observada uma forma céncava (figura 4.8b). No segundo caso a assimetria € negativa, ocorrendo maior Concentrag&o de freqiiéncias a direita do histograma de freqliéncias simples (figura 4.8c). O de freqii@ncias acumuladas de nfo-excedéncias apresenta uma forma convexa (figura 4.8d). A assimetria positiva é tfpica das distribuigdes de varigveis hidrolégicas que costumam ser limitadas inferiormente no valor zero, ¢ n@o tem limite superior conhecido. Existem alguns parfmetros para quantificagio da assimetria que sio apresentados a seguir. Quanto maior for a assimetria (ou maior a diferenga fntre os dois lados da distribuicZo), maior o valor destes pardmetros, As Sumarizagdes numéricas siio: Hidrologia 96 4 Assimetria: i 3° (4.6) ae isl n Para evitar tendenciosidades na estimativa da assimetria de pequenas 2 amostras a, pode ser corrigido pelo coeficiente: n Wn - 1) - 2)). Coeficiente de assimetria: asa/s? (4.7) O coeficiente de assimetria ¢ igual A assimetria adimensionalizada pelo cubo do desvio padrio. A assimetria, a,, pode ser comum ou corrigida. Adotando-se as alteragSes anteriores do coeficiente de assimetria, ele é computado como: n anast -% ate “@DED* Lhe Coeficiente de assimetria de Pearson ; ae assimetria, dada por: ae Elementos de Estatistica e Probabilidades 97 coeficiente de assimetria (equagio 4. 8) 16 Para cAlculo da moda e da mediana hd necessidade de ordenar a amostra e atribuir freqtiéncias de ocorréncia a cada valor. Nas colunas 3 ¢ 4 da tabela sfo apresentadas a ordem e o valor de vazio maxima anual de forma decrescente. A coluna freqiiéncia de excedéncia é calculada pela ordem dividida por 35, tamanho da amostra. Como os valores sfio dispostos de forma decrescente, a sua ordem indica quantas ocorréncias de méximos iguais ou maiores do que aquele em pauta foram observadas. Desta forma, as freqiiéncias acumuladas calculadas sio de excedéncia. Por interpolagio encontra-se aproximadamente 285m*/s como a mediana, pois identifica a excedéncia 50%. 3 ae § 100 Sa. 3 5 E20. 2 ee 300 33" 3~ 40 Sc 6 é is zoe te A zo 3 45 25 36 45 55.65 75 05 95 3 15 25 35 45 5565 75 05 98 INTERVALOS DE CLASSE INTERVALOS DE CLASSE a) Freqiiéncia de ocorréncia com b) Freqiiéncias acumuladas com assimetria positiva assimetria positiva et i z < S520. 3 Ea 3 So 2 33 g one as 33 : et i = &: + 3 Eo 2 £ 4S 25 35 45 55 65 75 05 95 INTERVALOS DE CLASSE ©) Freqiiéncia de ocorréncia com assimetria negativa INTERVALOS OE CLASSE d) Freqiiéncia acumuladas com assimetria negativa Figura 4.8. Assimetrias 98 Hidrologia em tomo de 100 m/s. Jé o critério de estabelecer como a quarta parte do desvio padrao resulta em um intervalo de 40 m3/s. Adotou-se em fungao disso intervalos constantes com 50 m?/s até o valor 550 m3/s ¢ um Gnico intervalo para valores superiores, resultando em um total de 11 intervalos, como é colocado na coluna 6 da tabela, A coluna 7 registra as ocorréncia de valores em cada intervalo ¢ a 8 as freqiiéncias de ocorréncia. A moda ser4 encontrada no intervalo 350 - 400 m3/s. Atribuindo-Ihe o valor médio deste intervalo cla seré 375 m?/s. Na figura 4.9 sio apresentados os histogramas de freqliéncias de nfio-excedéncias e simples. Nota-se nesta amostra que a mediana < média < moda. O coeficiente de assimetria de Pearson é (311,27 - 375) / 285 = - 0,23. Portanto, por este coeficiente (pouco usado) o sinal da assimetria € diferente daquele computado pelo coeficiente de assimetria da equagio 4.8. Observando o histograma de freqiiéncias de ocorréncia, nota-se que a determinagéo da moda depende demasiadamente da definigfio de intervalos de classe. Caso houvesse sido estabelecida uma amplitude menor, a tendéncia seria a moda ficar entre os valores 200 e 300m?/s, resultando em assimetria positiva para o coeficiente de Pearson, j4 que a média e a mediana nfo dependem da definig&o de classes. Os resultados da tabela 4.4 permitem estabelecer por interpolagdo valores de vaz&io com diversas freqiiéncias de excedéncia. O valor 500 m3/s foi igualado ou excedido em cerca de 10% dos anos. O de 773 m?/s, em cerca de 5% dos anos. Caso houvesse interesse de se estimar a vazfio que € excedida em 1% dos anos haveria necessidade de extrapol da relagfio freqiéncia de excedéncia. O ntimero de pom na = Elementos de Estatistica e Probabilidades 99 Tabela 4.4. Valores méximos anuais de vazdes no rio Mie Luzia em Forquilhinha, em m3/s. 'Vazdes }Ordem |Valor Freqiiéncia Intervalo |Ocorréncias Freqiiéncia Ano lOrdenado |Excedénciallde classe |intervalo _|intervalo (m3/s) (m/s) (%) | (m/s) Se) 1943 | 92,5 1 880 0,0286 | 50 - 100 2 0,0571 1944 | 228,6 2 773 0,0571 100 - 150 3) 0,0857 1945 | 72,5 3 545 0,0857 150 - 200 2. 0,0571 1946 | 180 4 480 0,1143 - 250 6 0,1714 1947 | 180 5 470 0,1429 0 - 300 6 0,1714 1948 | 350 6 390. 0,1714 300 - 350 4 0,1143 1949 | 1168 d 380 0,2000 350 - 400 7 0,2000 1950 | 216 8 380 0,2286 Heo - 450 0 0,0000 1951 | 330 9 376 0,2571 50 - 500 2 0,0571 1952 | 2412} 10 370 0,2857 [500 - 550 1 0,0286 1953 | 300 il 360 0,3143 > 550 2 0,0571 1954 | 380 12 350 0,3429 1955 | 261 13 340 0,3715 1956 | 248 14 330 0,4000 35) 10 1957 | 2565] 15 315 0,4286 1958 | 380 16 300 04571 1959 | 2214] 17 290 0,4857 1960 | 370 18 280 05143 1961 | 360 19 265 0,5429 1962 | 340 20 261 05714 1963 | 480 21 256,5 | 0,6000 1964 | 290 22 252 0,6286 1965 | 216 23 248 0,6571 1966 | 390 24 241,2 | 0,6857 1967 | 376 25 228,6 | 0,7143 1976 | 252 26 221,4 | 0,7429 1977 | 280 27 216 0,714 1978 | 470 28 216 0,8000 1979 | 773 29 180 0,8286 1980 | 880 | 30 180 | 0,8571 31 121 0,8857 32 117 0,9143 33 1168 | 0,9429 09714 1,0000 Hidrologia 100 As fg a) freqiiéncia simples Elementos de Estatistica e Probabilidades 101 Quanto menor (negative), mais vezes valores altos de X (ou Y) relacionam-se com valores baixos de Y (ou X). O problema desse coeficiente € que ele nfo se presta a comparag6es, pois ¢ caracterfstica das varidveis consideradas. Exemplo 4.6. A co-varianga amostral entre as séries de chuva e vaziio em Franga, bacia do rio Jacufpe, ¢ 213,72. O mesmo coeficiente, calculado para as séries de vazSes em Gavido e Franga na mesma bacia é 3,14. Nao obstante estas diferencas, € nftida a melhor qualidade da relacio no segundo caso em relagdo ao primeiro, apesar de sua menor co-varianca. Para estabelecer um coeficiente que permita uma apreciagao relativa do ajuste da relaco entre duas varidveis a uma tendéncia, divide-se a co- varianga pelo produto entre os desvios padrées de cada varidvel, resultando em: Coeficiente de correlagao - Este coeficiente é calculado por : hg = Sys) 4.11) Pode ser demonstrado que este coeficiente tem seu valor méximo igual a 1, significando um perfeito ajuste da relagdo a uma tendéncia retilinear crescente. Ele teré seu minimo em -1 significando um perfeito ajuste ao mesmo. tipo de tendéncia, s6 que agora decrescente. Quanto mais préximo de zero for o valor absoluto deste coeficiente, pior o ajuste das varidveis a uma tendéncia retilinear. Exemplo 4.7. Na bacia do rio Jacuipe, o coeficiente de correlagao entre as vazes médias anuais e as chuvas totais anuais em Franga ¢ 0,6485, Seu valor aumenta para a relagdo entre as vazGes médias anuais de Gavido ¢ Franga, confirmando os resultados graficados nas figuras 4.5 e 4.6, atingindo 0,9901. Regressao linear simples: A relagfo entre duas varidveis pode ser descrita por uma fungiio do tipo geral Y = f[X]. Quando esta fungio for retilinear, ela assume a forma Y = A.X + B. Os coeficientes da reta podem ser obtidos diretamente no gréfico. O valor de B serd o de y quando x = 0, encontrando-se sobre o eixo das coordenadas. O valor de A é a tangente do Angulo que a reta ajustada faz com a horizontal. Outra altemativa para estimativa de A ¢ B é pelo método dos minimos quadrados. Neste caso, supSem-se Y ¢ X € dada por: eae y= Ax + B+ ¢ (4.12) 102 Hidrologia onde o subscrito i indica a posigao na mostra com n valores © ¢% sendo o erro de ajuste entre a observagiio ¢ @ estimativa linear. O método dos minimos quadrados € resolvido por um problema de minimizagao do tipo : AB AB i= af y? + atx +B? + 2ABx - 2Aay - 2B) = i=l f Min 2 = Min hel = Lorawor aRyteatpads fat + 2aBb x - AE XY; - anf yl eS eel iL ie =1 em que se busca determinar A ¢ B de forma que a soma dos quadrados dos erros € minimizada, Aplicando-se a teoria de méximos ¢ minimos do cdlculo diferencial, iguala-se a 0 as derivadas parciais em relagio aos parametros A eB: = 2AS x2 + 2B.P x - 25 BAniioeile 2 a “Bn iu oF 2nb+2A3x,- 29 aoe +2A.D 4-20 y= 3B 2s 2d 2 O valor de B pode ser obtido da segunda derivada to fym- afin Elementos de Estatistica e Probabilidades 103 Dividindo numerador ¢ denominador por n ¢ verificando-se as equagdes 410¢44: ia we oY Piyi TORY. A= ——- = 8y/VAR(X) 4.14) oak Substituindo-se as estimativas de A e B na equagio vem : Y = Sy/VARQODX + ¥ - AX ou y - ¥ = S,y/VAR.( - x» Dividindo ambos os termos da equag&o por sy, 0 desvio padrao de y, desdobrando a varianga de x em s,.s,, ¢ observando a equagao 4.11 vem : v-y «-xX) @-% ee Uayly4)] «= = Bay (4.15) que mostra que a regressio linear entre duas varidveis pode ter seus coeficientes reduzidos a estatisticas destas varidveis. Note-se, porém, que os desvios padrées neste caso devem ser computados com a equagio 4.4, ou seja, sem a correg4o amostral. Exemplo 4.8. A tabela abaixo resume as estatfsticas jf apresentadas para as chuvas e vazdes anuais em Franga e vazdes anuais em Gavido : \Chuvas anuais|Vaz6es anuai: Franga (mm) |Franga(m3/s) Média | 743,52 ID. P 328,32 O coeficiente de correlagio entre chuvas ¢ vaz6es em Franga é 0,6485 ¢ entre as vazdes em Franga ¢ Gaviao € 0,901. Substituindo-se estes valores na equagio 4.15 : Para a relacao entre vaz6es ¢ chuvas em Franca : y - 1,13) (x - 743,52) Te 0, 398,32 0 Y = 0,001982.x - 044068 104 Hidrologia Para a relag&o entre vazdes de Gavido e Franga : Gao) (= 1613) oy = 3,115242.x - 0,08568 Baers ee 1 As retas apresentadas nas figuras 4.5 € 4.6 foram desenhadas a partir dessas equagdes. Transformagées da regressao linear A praticidade da regresséo linear tem sido utilizada para ajustar fungdes ndo-lineares a relagdes entre varidveis. A base para isso é a ‘obtengdo de transformagées da fungfio que a fagam linear. Exemplo 4.9. A fungio de poténcia : ¥ = A.X® pode ser linearizada tomando-se logaritmos de ambos os termos : Log(¥) = Log(A) + B.Log(X) Se for feito Z = Log(Y), A’ = Log(A) e W = Log(X), pode-se escrever a seguinte equago transformada: Z = B.W + A’, que € a equag&o de uma reta. Portanto, transformando-se Y ¢ X em seus logaritmos, a regressdo linear estimard os coeficientes da fungao de poténcia acima. f +s A tabela 4.5 apresenta algumas tran: dineoea ; er Mesa isformagdes inearizantes de uso comum Regressdo linear miltipla Eventualmente poderd ser necessério : E miltipla. Isto acontece freqiientemente sects a métodos de regionalizagio que sero vistos ; equagdes equivalentes a ie : Blementos de Estatistica e Probabilidades 105 ‘A equagio que relaciona Z com W é dada por : Z=A'W Tabela 4.5, Linearizagio de algumas fungdes nfo-lineares 'Transf, y/Transf. x Forma linearizada ILn(y) = Ln(A) + Bx ly = A+ BA1/x) ly = x(A + Bx) xy = A+ Bx ly = AMB + Cx) l/y = B/A + C x/A Manipulando-se esta equacio pode-se demonstrar que o vetor A pode ser estimado por : A = EW2).{E(W.W))" (4.16) sendo E[.] o operador valor esperado que seré visto adiante, wiz EpWz) = Two Ir Win ou a matriz formada pelos coeficientes de correlagfo entre as varidveis wee Ze 1A. Mm Eww = [712 1 4 tam Thm Tam = 1 106 Hidrologia a matriz formada pelos coeficientes de correlacdo rj entre as varidveis w, e w,. A inversa desta matriz deverd ser encontrada para ser empregada na hy equagio 4.16. O coeficiente de correla¢: : razio entre os desvios padrées dos valores estim: do mUiltipla pode ser estimado neste caso como a ados ¢ observados de y : = G1 ty sa, 7) Exemplo 4.10. Embora as evidéncias sejam de que nao haverd melhoria substancial, serd desenvolvido um modelo de estimativa das vazGes médias anuais em Gavido que utilize as vazées médias anuais e as chuvas totais anuais em Franga. Além das estatisticas que foram apresentadas no exemplo 4.8, tem-se que o coeficiente de correlagfo entre as vazdes em Gaviao ¢ as chuvas em Franca € 0,6475. As matrizes especificadas previamente sao: E[w.Zi= [0.6475 09901] eEtw.w}=|, 1, ©5849]. 4 inversadeE[W.W"]é loosest J tl _ |1,725845 -1,11923 ss f dada por E[W.W] = os 1.725845 Portanto, a matriz A, dada -l produto E[WZ}EIW.W] | 6 A = Esta Manipulando as e substituindo Z ¢ W por seus valores encontra-se : oo) (x, 743,5 5 is — = comet 09 : Elementos de Estatistica e Probabilidades 107 para a formagdo da amostra. O interesse deste estudo estatistico € a projegao do que ocorreré no futuro em termos de realizagdes desta varidvel. Por exemplo, a tabela 4.4 permite a conclus&o que em 5% dos anos a vaziio maxima em Forquilhinha foi superior a cerca de 773 m3/s. Isso pode ser interpretado que 0 risco de ocorréncia no futuro de cheias maiores ¢ de 5% ? Esta pergunta remete ao conceito importante que € o de estacionariedade. Caso possa ser aceito que no existirio modificagSes substanciais no processo natural de formacio de vazSes nesta bacia, pode-se aceitar que, em termos probabi- Iisticos, 0 que ocorreu no passado deverd ocorrer no futuro. Esta frase deve ser entendida como: embora ndo seja posstvel prever-se que vazbes mdximas anuais ocorrerGo no futuro distante, pode-se afirmar que as frequéncias de ocorréncia do passado serdo vdlidas para descrever as probabilidades de ocorréncia no futuro, Nessa frase caracterizou-se a diferenga entre probabilidade ¢ freqiién- cia: probabilidade refere-se a eventos nfo conhecidos; freqiiéncia a eventos observados. De certa forma, a andlise estatfstica trabalha com freqiiéncias, enquanto a teoria das probabilidades com probabilidades. O conceito de proba- bilidade pode ser interpretado através do conceito de freqii¢ncias : proba- bilidade de um evento € a proporgdo de vezes que o evento ocorrerd em uma série longa de observages ou experimentos repetidos. Freqiiéncia e probabilidades tém, portanto, uma diferenciagio muito ténue. Em esséncia, ambas referem-se A porcentagem com que as realizagdes de uma varidvel aleatéria ocorreram (freqiiéncia), ou se supdem que ocorrerao (probabilidade), dentro de dado intervalo. Para passar-se das freqiiéncias conhecidas em observagdes no passado, para as probabilidades de ocorréncia no futuro, existe outro conceito importante: ¢ o da representatividade da amostra, Continuando com o mesmo exemplo, nfo ¢ dificil entender que uma amostra de vazdes méximas anuais com 5 anos de observagdes € pouco representativa do processo analisado, enquanto outra amostra de 35 anos representa-o melhor. Nesse caso acha-se em pauta ‘unicamente o tamanho da amostra. A representatividade depende também da qualidade da amostra. Caso 0 leito do rio onde se localiza a segdo fluvial for mével, a curva-chave poderé sofrer mudangas a cada estagiio de cheias. Niio ocorrendo um acompanhamento dessas mudangas, através de medi¢des hidrométricas intensivas ¢ atualizagdes freqtientes da curva-chave, os valores m4ximos anuais nfo serdo consistentes, como se diz no jargao hidroldgico. Isto € 0 mesmo que se dizer que a amostra de vazées méximas anuais nfo ¢ representativa do processo, no jargio estatfstico. No caso do rio Mae Luzia em Forquilhinha verifica-se que apés o periodo de 1968 a 1975, quando nao foram registradas as vaz6es, houve uma concentragZo de valores extremos. Os 3 maiores valores de cheias ocorreram neste perfodo, Isto pode indicar uma modificagdo das condigdes hidrolégicas que levaria a nfio-aceitacao da estacionariedade da amostra. 108 Hidrologia tra seja representativa, pode ser feita a trais e as probabilidades. Ou seja, o histograma amostral de freqigncias pode ser suposto como a distribuigdo aa. de Pais da varidvel aleatéria. 0 em distribuigao empirica € introduzido para diferenciar esta distribuigio obtida de obseryagSes do fenémeno (ou de uma amostra do fendmeno) da distribuigdo populacional de probabilidades, que representa exatamente as probabilidades de ocorréncia de suas realizagdes. Esta wltima distribuigfio raramente ¢ conhecida em hidrologia e, mais genericamente, no trato de fendmenos aleatérios naturais. Ao julgar-se a amostra representativa de um fendmeno, ¢ estabelecer-se sua distribui¢éo empirica de probabilidades, tenta-se inferir qual é sua distribuicao populacional. O jargéo estatfstico inferir tem seu correspondente coloquial em descobrir ou, quem sabe, adivinhar. leitor poderé agora comentar: jd se falou em distribuigdo emptrica e populacional. E as tao faladas distribuigdes normal, log-normal, etc.?. Estas sio distribuigdes tedricas de probabilidades ou modelos probabilisticos tedricos. Para entender seu papel na andlise estatfstica, deve-se prosseguir mais um pouco, Suponha que haja interesse prdtico no estudo das cheias na localidade de Forquilhinha. O objetivo € a construgfo de uma ponte e, portanto, o valor instantaneo da vazio méxima deve ser objeto de andlise. A amostra apresentada na tabela 4.4 € julgada representar 0 proceso com seus 35 anos de observacao. Diante disso, os histogramas de freqliéncia da figura 4.9 serio Peet a seer empirica de probabilidades, ‘xiste um problema operacional _bésico utilizagio Gistribuigdes empiricas de probabilidades: a sean af probabiidade de ovorréncia de eventos raros. Suponha que se esteja interessado_ i Probabilidade de ocorréncia de cheias superiores a 1500 m/s. A a de Na medida em que uma amos' ligagdo entre as freqiiéncias amos contém eventos nesta faixa de valores. Haverd necessidade distribuigao empirica de freqiiénci Elementos de Estatistica e Probabilidades 109 seguidas elas varidveis aleatérias, conduziriam suas populagdes a distribuirem-se de acordo com determinadas fungdes mateméticas, que foram batizadas de distribuigdes teéricas de probabilidades. Existem diversas fungSes matemdaticas que foram derivadas dentro desta Gtica, ¢ passaram a ser distribuigdes tedricas de probabilidades. A vantagem de usé-las para ajuste das distribuigdes empfricas de probabilidades sido duas. Primeiro, clas tém as caracteristicas desejdveis de uma fungio de probabilidades. Segundo, muitas’ vezes se poderd selecionar a distribuigéo adequada pelas caracteristicas da populagfo de onde ela ‘foi derivada, quando comparadas com as caracteristicas do fendmeno estudado. Deve ser alertado que, geralmente, nao existe total convergéncia entre as caracteristicas reais € as teéricas. No entanto, algumas delas poderao existir e levar ao analista concluir que € aceitdvel a escolha de uma distribui¢fo teérica como uma aproximacao da distribuic&o populacional. Em resumo, a relacio entre as distribuigdes de probabilidades empfricas, tedricas e populacionais foi estabelecida. A distribuigio empirica ¢ aquela que se conhece. A distribuicdo populacional ¢ a meta que, em geral, nfio se pode alcancar com certeza. A distribuigéo teérica faz a ponte entre uma € outra, sendo necegsfria por questées operacionais (extrapolagio) e desejiivel por questSes tedricas (adequagio ao fendmeno estudado). Antes de se apresentar modelos das distribuigdes teéricas € importante desenvolver alguns conceitos sobre probabilidades que deverio ser usados adiante. 4.3.1 Conceitos basicos de probabilidades Para tratar com alguns modelos probabilisticos de eventos discretos ha necessidade de introduzir-se alguns conceitos bdsicos de probabilidade, através de seus axiomas e teoremas elementares. O uso de espacos amostrais facilita esta exposic¢ao. Espago amostral ¢, em estatistica, o conjunto de todos os possiveis resultados de um experimento ou de uma séric de observacSes. A representagdo gréfica de um espago amostral permite uma visualizago diddtica de suas propriedades. A figura 4.10 apresenta algumas situagdes baseadas na composi¢&o de dois descritores de um fenémeno: ventos em uma localidade. Suponha-se que as velocidades sejam colocadas em Km/h nas abscissas e o sentido em graus, nas ordenadas, onde 0° representa o Norte, 90°, o Leste, 180°, o Sul e 270°, o Oeste. Qualquer ponto sobre o diagrama apresentado representa a ocorréncia de uma velocidade e sentido do vento. Por exemplo, o ponto X representa um evento deste espago amostral, em que a yelocidade foi de 100 km/h ¢ 0 sentido 90° (Leste). As relagdes entre eventos © espagos amostrais podem ser estabelecidas através destes diagramas. Suponha a 4rea A. Ela representa um evento formado pelo conjunto de ocorréncias velocidades entre 100 e 200 Kmlh e sentido

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