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RESUMO
O presente trabalho é fruto de pesquisa acadêmica vinculada à disciplina de metodologia do ensino da
geografia e visa discorrer sobre práticas inovadoras para o ensino da Geografia no Ensino Fundamental e
Médio, como medida incentivadora para as aulas, propondo a interação dos alunos com os conteúdos da
disciplina, a serem trabalhadas de modo prazeroso e concreto por meio de objetos ou atividades construídos
colaborativamente pelos alunos e professores em sala de aula ou laboratório como forma de promover a
percepção tátil-espacial dos discentes e tornar o ensino da disciplina menos abstrato, (de caráter mnemônico,
onde os conceitos são a peça fundamental do processo) promovendo um ensino mais lúdico, uma
reestruturação do espaço escolar e do papel de seus agentes atuantes. Entre os meios propostos a serem
utilizados em sala de aula, foi dado enfoque principal aos que podem ser construídos com mínimo ou
nenhum custo, que podem ser conseguidos facilmente, em casa, na escola ou mesmo nas ruas, como
materiais que podem ser reciclados, reaproveitados, naturais orgânicos e inorgânicos (sementes, madeiras,
rochas, terra...). Pretende-se então incentivar a construção de modelos táteis da crosta terrestre e do espaço
geográfico mostrando-se as representações que nele ocorrem por meio dos materiais acima descritos. Espera-
se com esta pesquisa a promoção de uma didática tátil e interativa que torne os alunos mais ativos,
interessados e conscientes de seu papel na busca pelo conhecimento, por meio de aulas mais prazerosas.
Palavras-chave: tatilidade, ensino e aprendizagem, geografia.
1. INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, a renovação do ensino das disciplinas presentes no ensino básico das escolas brasileiras tem
se tornado um tema constante no meio acadêmico e profissional de todos os educadores. A defesa por uma
mudança na educação tem por base movimentos críticos surgidos desde a segunda metade do século passado,
tendo como principais alvos os cursos de licenciatura. Tal renovação, ainda supostamente presente em
nossas escolas, deve implicar não somente a mudança de conteúdos em sala de aula, onde os principais
aspectos a serem listados sejam a "realidade" do aluno, por vezes expressa como reportagens meramente
coletadas em um jornal local ou como as ultimas novidades da mídia (KAERCHER, 2002), mas também
deve contemplar abordagens criteriosas, cuidadosamente planejadas pelo professor, que possam se refletir
em sua postura na sala de aula para com os alunos, a ordem e disposição das cadeiras, sua forma de avaliação
e o melhor: promover o aprendizado por formas inovadoras de aprendizagem, não de ensino.
Pensar em inovar o ensino de Geografia nesta realidade dominada por pensadores "críticos" ou que se auto-
afirmam como renovadores pode parecer demagógico, um pensamento comum, alguma prática enrraigada de
tecnologia ou embebedada em pensamentos de autores contemporâneos, modernistas que ao pensarem no
complexo acabam por gerar uma profusão acadêmica, onde as disciplinas muitas vezes perdem suas
particularidades em prol de um conhecimento único e um diálogo que apesar de unir conceitos e conteúdos
gerais para os alunos, não facilitam uma visão global do universo específico de uma disciplina. A busca por
práticas inovadoras no ensino da Geografia que contemplem a relação entre os vários aspectos atuantes no
espaço físico é fundamental para que se desenvolvam os processos cognitivos dos alunos, desde que tais
práticas sejam elaboradas de modo estimulante (LUZ, 2009).
O conceito de inovação aqui proposto não é aquele se refere ao inovar o sistema de ensino, mas as técnicas
utilizadas em sala de aula, como forma de se propiciar uma aprendizagem diferente, um ensino dinâmico,
atual, criativo e instigante para que nossos alunos percebam a Geografia como um conhecimento útil e
presente na vida de todos e prazerosa aos alunos do ensino básico (KAERCHER, 2002). Para tanto, como se
verá a seguir, propomos a construção e/ou utilização de objetos didáticos táteis e seu devido uso em sala de
aula, de forma planejada pelo professor de Geografia, sozinho ou em conjunto com outras disciplinas,
promovendo o desenvolvimento do tocar, da atividade lúdica inserida em um espaço agradável - a escola,
bem com a percepção espacial e a escala, conceitos abstratos quando não promovidos por uma percepção
tátil.
Ademais, temas como a inclusão de pessoas com deficiência visual e alunos com déficit de atenção se
tornam uma constante viável no processo de ensino-aprendizgem desta disciplina, ainda recoberta de
conceitos e aspectos teóricos necessários para se compreender a sociedade que fazemos.
Existem várias definições sobre o que vem a ser um terrário e cada uma delas atende aos objetivos de seus
idealizadores e metas daqueles as propuseram, abrangendo desde engenheiros agrônomos, geólogos ou
professores de Biologia e Geografia do ensino básico ou superior. Deste modo, na visão de um pesquisador
da área ambiental, tal objeto pode ser considerado como uma representação de um ecossistema ou meio
natural. Para um geógrafo, pode ser considerado como uma oportunidade de análise do meio social e sua
interrelação com a natureza.
De acordo com Rosa (2009, p. 88), podemos entender o terrário como, "[...] modelos de ecossistemas
terrestres e constituem-se de mini-laboratórios práticos, através dos quais procura-se reproduzir as condições
de meio ambiente". Observando-se atentamente, tal afirmação é consistente ao campo em que foi elaborada,
a Biologia, entretanto, torna-se incompleta ou pouco prática quando pretendemos a sua utilização pelo
método geográfico, que considera não somente o meio natural, como também a produção cultural do espaço.
Não se afirma aqui que utilizado na área de ciências naturais não se considerará os aspectos antropogênicos,
mas que no âmbito próprio da Geografia, a construção do espaço geográfico será mais bem abordado, pois o
terrário, quando utilizado nas aulas de Geografia poderá considerar não somente os elementos naturais
dispostos no espaço físico, mas também as construções humanas, que se espacializam neste lócus natural.
Tais construções podem ser representadas por meio de miniaturas de casas, edifícios, pontes, entre outros
elementos próprios do espaço cultural e constantes do cotidiano dos discentes. Tal abordagem, largamente
beneficiada se se trabalhada em conjunto com a Biologia, poderá fornecer ao aluno uma visão mais
aproximada de seu espaço de vivência, e se refletir sobre seu papel atuante no meio em que vive. Esta
reflexão pode se dar quando durante a construção do terrário, o professor poderá orientar o aluno a perceber
que tal objeto em elaboração, o terrário, enquanto representação tátil e visual do estrato geográfico apresenta
elementos culturais, construídos pela sociedade, para sua vivência e reprodução e que toda construção
humana se assenta no espaço natural.
No terrário estão presentes, como afirmamos, elementos próprios da natureza biológica, física e humana. Por
este motivo pode abranger plantas, rochas, água, miniaturas de casas, entre outros elementos orgânicos e
inorgânicos presentes no espaço geográfico. Sua aparência deve ser o mais aproximado possível com o
espaço de vivência rotineiro das pessoas, seja ele urbano, o rural ou uma aproximação dos dois num mesmo
cenário. Deste modo, construir um terrário sobre estas diretrizes é se considerar uma Geografia total,
desprovida de visões parciais expressas em palavras que dividem a Geografia como "humana", "crítica",
"física", entre outras. Na relação ensino e aprendizagem, será desenvolvida uma geografia imparcial, ampla
e, assim, total.
5.2 Materiais e métodos
A construção de um modelo como o terrário para se representar o espaço geográfico demanda muita
organização e também liberdade para construí-lo, ficando a cargo do (s) professor (es) envolvido (s)
organizar e gerir o processo junto com alunos. Pode-se optar por um planejamento dinâmico onde os
materiais possam ser substituídos e o objeto final caracterizado de acordo com aquele que o produziu. Para
tanto, deve-se dar preferência a materiais com nenhum custo e de origem natural, ou que estejam sendo
utilizados para fins de reciclagem ou aproveitamento de materiais guardados em casa sem uso, como
plásticos, papéis, entre outros.
Figura 1 - Modelo de terrário proposto, elaborado com aquário e elementos naturais. Fonte: Rosa, 2009.
O principal objeto para a construção e que servirá com caixa para conter os demais elementos do terrário
elaborado pode ser um aquário antigo disposto na casa no aluno, bem como uma garrafa pet ou pote de
plástico. Deve ser de cor translúcida e pode ter formas arredondadas ou retas. Recomenda-se o uso do
plástico para que se evitem incidentes quanto ao seu manuseio. Caso se trate de garrafa pet, um corte
transversal ao centro da mesma deve ser elaborado pelo professor ou outro responsável presente em sala.
Depois de conseguida a base para a construção do terrário (o pote ou aquário), deve-se providenciar os
demais elementos que farão parte da confecção, tais como: terra para forrar o fundo do recipiente, relevos
elaborados com isopor ou outro material disponível, mudinhas de plantas pequenas, brinquedos como
bonecos, carrinhos e modelos de casas, rochas, entre outros, de acordo com a necessidade dos professores
(para ilustrar o exemplo, demonstramos a figura 1).
5.3 Breve roteiro de aplicação didática do terrário
Quando se intenciona a construção do terrário em sala de aula, deve-se considerar alguns elementos que
nortearão a prática dos que estão envolvidos em sua coordenação. Quando trabalhado de forma
interdisciplinar, os professores envolvidos deverão selecionar as turmas e o tema a serem considerados para
o projeto de aplicação. A utilização temática do terrário não descarta a possibilidade de se trabalhar as
disciplinas de forma geral, não as fragmentando. Assim, pode-se considerar o tema população e com base
nele, as transformações do espaço e usos de recursos do meio ambiente, entre outros aspectos.
Tal objeto didático pode ser utilizado antes ou após o professor explorar um conteúdo novo com a classe,
sendo um elemento de fixação de conceitos ou incentivador de novos conhecimentos. Em qualquer momento
que seja utilizado, deve-se dar a turma uma noção do que precisará ser conseguido, caso os professores não
os dispunha. Para tanto, uma lista pode ser redigida e junto com ela, direcionamentos com a data e objetivos
principais do projeto, em formato de plano de aula.
Além destes, é interessante que o professor distribua alunos por grupos para a construção do terrário para que
se trabalhe em equipe e deste modo, surja o diálogo sobre elementos presentes no espaço vivido. Pode-se ao
final da atividade pedir a estes que elaborem relatório, ou estudo dirigido. Entretanto, durante o processo de
elaboração do trabalho, é importante pensar em formas para que os alunos tenham sempre em mente os
conceitos estruturantes da Geografia, como: espaço físico, sociedade e equilíbrio natural. Outros, porém,
podem ser pensados em conjunto com o professor de Biologia, tal como higiene e atividades humanas.
No âmbito da Geografia, uma forma interessante para se trabalhar os conceitos acima descritos é o desenho
dos objetos que fizeram parte do terrário construído, como miniaturas de represas, montanhas, lagos,
indústrias, entre outros. Juntamente com o desenho, o aluno poderá explicar se o mesmo faz parte do espaço
natural ou humano. Tal atividade tem caráter sintético e reflexivo, pois incita os alunos a repensarem sobre
os conceitos abordados e refletirem sobre a construção do espaço geográfico e a atuação da sociedade neste
processo.
Pode-se promover também uma espécie de concurso ao final da atividade para que se avaliem quais os
terrários mais organizados, bonitos ou coloridos entre os criados pela turma em qual a atividade se
desenvolveu, escolhendo para isto juízes e jurados da escola, de preferência alunos que não participaram do
projeto nas classes.
Desta forma, pretende-se uma avaliação contínua, onde a participação e a fixação dos elementos principais
dos conteúdos sejam pontos importantes no resultado final de cada aluno, tendo sempre em vista uma
atividade prazerosa e saudável, onde a criatividade e a ciência, o conhecimento e o saber não sejam
processos paralelos, mas continuamente presentes na didática daquele que acredita em uma Geografia
realmente renovada.
5. CONCLUSÃO
A busca por práticas táteis próprias ao ensino da Geografia se tornou nos dias atuais como uma tendência
internacional, expressa por meio de trabalhos produzidos pelo meio acadêmico. Entretanto, a tatilidade não
se refere somente ao âmbito da inclusão de pessoas portadoras de deficiência, mas abrange também todas as
pessoas, principalmente aos alunos desta disciplina. Tal prática, além de ajudar a desenvolver o cognitivo e
o tátil do aluno, promove para o mesmo a sensação de prazer e pode ajudá-lo a relacionar mais facilmente os
conteúdos vistos em sala de aula com o seu cotidiano, pois desenvolve em si a capacidade de síntese e a
crítica, além de uma visão total da Geografia por meio, particularmente do Terrário. Este objeto tátil pode
atuar como elemento de provocação interdisciplinar às matérias envolvidas, uma vez que espacializando o
abstrato, concretiza o cogniniscível. Ademais, inovar a prática docente é transgredir o tradicional e recuperar
a estrita relação entre alunos e a compreensão do espaço.
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