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ey treet ter tory Oe an etc emer arnt pct deDavid Blaine, Houdini ree ce Ces Exner) reer Pesca icy DOCE . ILUSAO ‘transforma o impossivel em possivel. E como é bom, por um segundo, acreditar que dé para reverter um acidente: como quebrar ‘um objeto e reconstrui-lo com um sim- ples sopro— sem precisar correr até aloja mais préxima e pagar por um produto novo. Ou ver, diante de seus olhos, moe- das se materializarem e se multiplicarem sem explicagdo— sem aquela necessida- de chata de trabalhar. Ou ser capaz de desafiar a morte e escapar dela varias e varias vezes, como fez Harry Houdini Pura ilusdo. Mas uma ilusao construfda ao longo de séculos de estudos ainda que ‘empiricos e sem o rigor metodolégico da ciéncia) sobre o comportamento huma- no, sobre a nossa capacidade de atengao e sobre o modo de funcionamento do sistema visual. Nao se trata apenas de habilidade ma- nual acompanhada por um repertério de ‘truques decotados. Migicos de verdade dominam aarte da contagao de historias, e sabem como ninguém guiar os olhares da plateia. Com esse conhecimento bem guardado na cartola, eles lotam teatros, atraem dezenas de pessoas nas ruas das, ‘megalépoles esurpreendem com truques que, vocé sabe muito bem, ndo passam de enganacao. Nao a toa, por mais que ‘tenhamos recheado essas paginas com revelagdes de mimeros e técnicas de des- pistamento, a mdgica nao perderé a graca Evvocé vai continuar a cair nos truques, na tentativa frustrada de encontrar uma resposta Iégica para o inesperado. Nossa ideia aqui é agucar sua curiosi- dade para o mundo da magica e explicar por que (¢ como) ela sempre funciona Boa leitura Carol Castro, xorrora PARTE HISTORIA DA il a 6A JORNADA DOS MESTRES 9 TRUQUE DA CARTOLA // TRUQUE DAS COVILHETES MAGICA DE LABORATORIO 774 MULHER GORILA PUNE AU AUS AU USSU TUT AUIS Oe ee a | Sree eer rere! NEUROCI- 0S GRANDES SHOW DE ENCIA MAGICOS TRUQUES Ne A, 20QUANTO ISAAC FAWKES ESCOLA DE MAIS VOCE ‘AARVORE MAGICA DE MACK ILUSIONISMO OLHA, ME- NOS VOCE 3ROBERT- HABILIDA- VE HOUDIN DES PARA FCOMO ROUBAR COISAS | 1902 - Fundadaa Sociedade Americana de Magices, primeira dotipo no munde, 1921 - Navi Maske- iyne e David Devant publica Our Magic (Nossa Magica, sbre tecria da magics 1912 - Houdini presenta cua verso da escepada da ‘mara aquatica de trtura chines 1921- PT. Sebitre- liza otruque da mu- “The Mazi petéculo edicadas hows de magica, Hollywood. 1977 - Jeff Sheridan jeva a tradigao da magica de rua paraos EUA 1997 - Mister 4 strela especial na TV emai conta segredos de ‘uques farnoses fnelaueurado num Cube de glo para um programa de T. mo in 1a (quase) tudo o que acontecia Ainda assim, a fama dos magicos continuava forte.“Eles gostavam de ser esquisitos, misteriosos. Nao hesitavam em deixar diividas sobrea natureza de sua habilidade’, conta Sophie LaChapelle, no livro Conjuring Science Ci éncia da Conjuracio). Mas, aos poucos, e gracas a revolucao cientifica, os magicos deixaram de ser vistos como deménios. AERA DE OURO DA MAGICA ‘A caga as bruxas nao acabou tao cedo, mas a persegui¢ao aos ilusionistas deu uma ‘trégua apés a Idade Média Tanto que os shows de magica passaram a ser atrag0es cada vez mais comuns em feiras, citcos e outros eventos piblicos. Truques com moedas, baralho, pedras e outros objetos eram misturados com apresentagdes de contorcionismo e autmatos - pequenas méquinas complexas feitas de madeira ou ‘metal. Os primeitos magicos que conquis- ‘aram fama internacional, como o inglés Isaac Fawkes eo italiano Giuseppe Pinetti, comegaram assim. Na Franga,amaior estte- ada magica era Louis Comte foi ele quem inventou o famoso truque da cartola, em 3814. Comte era tao popular que recebeu maior condecoragao da Franca, a Ordem el Nacional da Legiao de Honra Mas acabou superado por um magico mais novo: Jean Bugine Robert Houdin. Ele tirou a magica das ruas e levou para teatros e saldes ele- gantes. Se até hoje os magicos se apresen- tam de tero, é por causa dele — até enta os mégicos ainda usavam trajes de magos. Robert-Houdin inspirou aspirantes ‘a mégicos no mundo todo. Um deles, 0 jovem hningaro-americano Ehrich Weisz, mais conhecido por seu nome artistico: Harry Houdini. Seu estilo era bem dife- rente do francés. Destacou-se mais pelos miimeros de escapismo — um ramo do slusionismo em que o magico escapa de situagbes extremas e perigosas. Os truques dele incluiam algemas, camisas de forca, tanques de dgua fria, cordas, correntes e outros tipos de aprisionamento. A fama de Houdini marcou um novo capitulo na historia. Os holofotes da magica deixaram de se concentrar sé na Europa E claro, jéhavia quem fizesse truquesem outros cantos. A ilusdo do faquir indiano que levita ao segurar uma corda longa ficou famosa sé no século 19, mas ha registtos de vers6es do truque feitas um milénio antes. Os chineses também jé exportavam ‘maques famosos, como o dosaros macigos # p.r.seite cotruque da i tmuher sarrada, u il mb, pes eh ‘quires indianor chegeram ‘20 Ocidenteno sdeulof7. TAL Ie de metal que se conectam e se desconectam diante do pubblico. Mas a ascensio de Houdini foi o timo tijolo na construcio da reputacéo da magica como um fenémeno mundial de entretenimento. Nao havia mais espaco para perseguigao. Magica virou profissao. TEMPOS MODERNOS Em 1876, dois anos depois do nascimento de Hany Houdini,o inglés Louis Hoffmann (pseu- énimo de Angelo Lewis) publicou Modern Ma- gic Magica Moderna’), Foi o maior tratado da poca sobre a arte da magica. O manual tinha desde dicas de como se vestr e falar durante a aapresentagao até 0 passo a passo dos truques ‘mais famosos, erendeu mais trés volumes pu- blicados ao longo de go anos. A primeira grande obra feta por e para magicos virou best-seller mais de 2 mil cépias vendidas em dois meses. No fim do século 19, magica virou cada vez, ‘mais uma arte séria e respeitada, regulada por ‘um cédigo préprio— um acordo de sigilo sobre os truques A primeira grande loja especializada ‘em produtos para artistas dailusio, Martinka & Co, foi fundada em 1877 nos Estados Unidos. Vinte e cinco anos depois, Sociedade Ameri- cana de Magicos surgiu dentro daa mesma loja. As duas instituigdes pioneiras ainda existem até hoje Fel Depois disso, outras associagbes,lojas eli- ‘ros sobre mégica apareceram mundo afora Surgiram truques megalomaniacos: Houdi- ni fez desaparecer um elefante em 2938 e P. T. Salbit “serrou’ uma mulher ao meio pela primeira vez em 1921. Os géneros que mais ganharam forga nessa época foram os shows de cartas de baralho e mentalismo, tipo de ma- nipulagao mental influenciado por conceitos de psicologia e hipnose Na segunda metade do século 20, os es- peticulos chegaram aos grandes teatros de Nova York e foram palco para as carreiras de ilusionistas famosos: Penn & Teller, Jo- nathan e Charlotte Pendragon, entre outios. Em 1980, David Copperfield levou a magica para os programas de TV. Deu tao certo que as emissoras brasileiras também se renderam a esses shows, com programas como Mister Mou do brasileiro Issao Imamura. ‘Agoraa mégica retornou as origens— com ‘uques realizados bem perto do piiblico, como faziam os artistas antigos. $6 que, em pleno século 20, bolinhas que aparecem e desapare- em nos Copos j nao impressionam tanto. Os ‘migicos sabem - e incorporaram aos truques as descobertas cientificas e tecnoligicas. Mas isso nao é novidade. Magica e ciéncia sempre caminharam juntas. n= oseit 1wsiomswo33 re rae POR TRAS DE TODO TRUQUE HA UMA TEORIA CIENTIFICA. SAIBA ‘COMO OS MAIORES MASICOS USARAM AS DESCOBERTAS DA CIENCIA PARA ELABORAR NOMEROS Novos. TExTO Otayio Cohen smuusreacoes Evandro Bertol EEE et been desonsolou so ver o fantasma de sua mulher surgir no palco durante um espetaculo de miégica, em Paris. A falecida apareceu com ‘um vestido de noiva semelhante ao que havia usado durante seu casamento. Aos prantos, o rapaz invadiu o palco e a viu desaparecer quando as luzes seapagaram. Nao foi a inica ‘vez em que o mtimero desenivalvido pelo ho- Jandés Henri Robin causou tumulto na plateia “0 efeito eratao realista que dizem que algu- ‘mas mulheres desmaiaram durante o show’, conta Sofie LaChapelle em Conjuring Science. Nao havia ali nenhum segredo de outro mundo, claro. Robin usava um jogo de es- pelhos e lantemas para projetar no palco a figura de uma pessoa escondida no subsolo. ‘Mas era o fim do século 19 enem todo mundo entendia de dtica. O mecanismo do truque, aliés, nem era nova. Dois séculos antes, ocien- tista Giambattista della Porta (0 mesmo que inventou a camera escura, que deu origem & ‘maquina fotografica) descreveu um jogo de vidros espelhados que poderiam iludir um observador, de acordo com a maneira com que fossem iluminados. Em 1862, outro cien- tista chamado John Henry Pepper aprimorou Co experimento e levou as descobertas para o teatro - a primeira exibi¢do foi durante uma cena de teatro adaptado do livro The Haunted ‘Man (O Homem Mal-Assombrado), de Charles Dickens. Robin sé precisou criar uma nova histéria para o mimero e levar a descoberta aos seus shows de magica. Deu tao certo que até hoje o nimero ainda é apresentado — em feitas e citcos, magicos fazem mulheres se ‘ransformar em gorilas (veja na pag. 17) ‘Nao foi sé Robin quem se aproveitou do conhecimento cientifico para fazer seus tri ques. Todo magico pega carona com os expe- rimentos e as novidades tecnoldgicas da sua época. Ainda que a popularizacao de hipéteses e teorias cientificas tenha acabado com a aura mistica e sobrenatural da magica, os segredos de fisica, quimica epsicologia sé ajudaram os ‘magico a descobrir novas maneiras de criar ‘uques cada vez mais elaborados e manipular melhor as emogdes da plateia DIRETO DO LIVRO DE CIENCIAS Foi René Descartes quem disse que o corpo de um animal nao passava de uma maquina cheia de pecas e engrenagens que se articu- Jam. Encarar a natureza a partir do ponto de ‘vista mecinico virou moda na Frangaa partir do século 17, criar autdmatos — méquinas com engrenagens, manivelas e articulagdes; tipo um rob6 de primeira geracio - tomnou- se passatempo para inventores. Enquanto engenheiros desenvolviam equipamentos complexos que iriam parar nas fébricas e protagonizar a revolugao industrial, Jean Eugene Robert-Houdin construia maquinas que fariam parte de seus shows de magica. Uma de suas invengdes mais famosas era um autdmato que fazia sozinho o famoso truque das bolinhas e copos. Por trazer boas explicagdes para o compor- tamento dos objetos, a fisica cléssica sempre foia grande aliada dos ilusionistas modernos. E ela quem ensina ao magico quais cordas ele deve usar quando for apresentar uma ilts40 devoo, ou em que posicio ele deve estar em relacio a plateia para ninguém notar o suporte que segura o corpo da assistente durante a suposta levitagao. Harry Houdini estudou a gravidade para bolar o truque da camisa de forca. Ele sabia quea forca gravitacional o ajudariaa se livrar das amarras enquanto estivesse pendurado de cabeca para baixo. Sabia também sobre fisiologia humana— e quanto tempo aguen- taria ficar preso em um tanque de agua até conseguir soltar as algemas. ara realizar pela primeira vez o truque em que 0 magico serra uma mulher a0 meio em 1921, 0 inglés PT. Selbit teve que descobrir antes até que ponto uma pessoa era capaz de se contorcer dentro de uma caixa apertada, sem que ninguém percebesse Nos tiltimos 200 anos, alguns conceitos cientificos criaram raizes tao fortes nas nos- sas mentes que vocé nao precisa ter sido um 6timo aluno em fisica para entender que in- cluir um ima e uma bolinha de metal é um jeito simples e genial de aprimorar o truque dos covilhetes. Com a mesma facilidade, a magica conseguiu assimilar as regras gerais que regulam 0 Universo e entender o corpo hhumano para desenvolver robés mdgicos. Era chegada a hora de um novo desafio TODO MAGICO PEGA CARONA COM OS EXPERIMENTOS E AS NOVIDADES TECNOLOGICAS DE SUA EPOCA PARA CRIAR TRUQUES NOVOS E MONTAR SEUS ESPETACULOS. poset 1stoneo 35 especial ilu Perry CAP (O primeito laboratétio dedicado a pesquisar formalmente a psicologia foi inaugurado em 1879 em Leipzig na Alemanha Bem antes,jd ‘nha gente tentando compreender o funcio- namento da mente. Magicos que se diziam capazes de ler mentes e manipular pessoas existem desde o século16. Sé que osavangos nosestudos sobre o cérebro, que comecaram a surgir no final do século 19, chamaram a atengao dos ilusionistas da época. ‘A palavra telepatia surgiu em 1882, mais ou menos na mesma época em que meios de ‘comunicagao como 0 telégrafo mostravam que era possivel transmitir mensagens a lon- gadistancia. Como era meio complicado para um homem comum entender como aquilo funcionava, mégicos trataram de convencer © piiblico de que era possivel enviar men- sagens deuma mente para a outra Truques que simulavam transmisso de pensamento ‘tomaram-se populares - Houdin fazia um desses truques com seu filho, que descre- via de olhos vendados, objetos pertencentes a pessoas da plateia. Ilusionistas também aprenderam métodos de hipnose, outro conceito que comecava a ganhar popula ridade na mesma época, e os usavam para ‘manipular a plateia ‘Mas averdadeira manipulacdo da mente acontece de um jeito mais sutil. Para come- ‘gar-nds somos facilmente manipulveis. Se ‘um magico pede para que vocé escolha uma ‘artaem meioa um baralho, ele pode facil- ‘mente induzir a sua escolha sem que vocé perceba (saiba mais na pag. 3), Isso pode ser feito com movimentos sutis erépidos coma ‘mao, ou até mesmo coma labia do magica. Essas pequenas falhas do osrebro humano sao repetidamente exploradas por estudos psicoldgicos e neurocientificos desde o inicio do século 20. Os mdgicos s6 precisam en- ‘contré-las.Do lado de cé da plateia, nos resta esperar pelo fim do truque,aceitar que gos- tamos de ser enganados ainda mais quando no sabemos direito como isso aconteceu), ¢ acreditar naquela frase famosa: ndo ¢ feiti- aria; é tecnologia. E um bocado de ciéncia. =a Hl 1a Il 16 posait 1usi0Msuo NoEgite Antigo, os encan- tadores de cobras também fram considerados magioos A mulh NO SECULO 19, CIENTISTAS CRIARAM UM JOGO DE ESPELHOS PARA FAZER FANTASMAS SURGIREM NO PALCO, HOJE, 0S MAGICOS COPIARAM O METODO PARA TRANSFORMAR MULHERES EM MACACOS, COMO E Comum em circos, parquas de diversto e festivals, uma mulher so transforma em um gorila (ou o contrério), bom diante dos olhos do pablico. Por tris do truque, ha uma manipulagao de espelhos, jogos de luz e idros, {que fazam com que as duas a mulher e a gorila -estejam presontes no mesmo lugar, na mesma posi¢ao, dependando do angulo de visdo. © Aas do show, magico proparauma sala escura om formato deL.A patsla sé consegue ver tumadas aberturas,onde estd.aasistente.Nadobra” dL, em diagonal, hum vidrocontorno ‘emverde).Nasalada ecquerda,invisvel para pablo, esi alguém faniaslado de golla. @ o migico aparece, avisa que a ‘mogase transformardemum gorlae ‘aide cena, Quando o tune comecs, ‘sala daesquerdaestéescura. Dag nve1omiemo27 oeet LusionisnoIg) VOCE OLHA, VOCE VE ‘SUA CAPACIDADE DE ATENCKO E BEM MAIS LIMITADA DO QUE VOCE IMAGINA, 0S ILUSIONISTAS SABEM BEM DISSO. AGORA, NEUROCIENTISTAS USAMA ‘MAGICA PARA ENTENDER COMO SEU CEREBRO FUNCIONA - E POR QUE VOCE (OA (E SEMPRE VAI CAIR) NOS TRUQUES DOS MAGICOS. rExro Carol Castro suusreacoes Evandro Bertol C= de um cassino, uma placa convi- da:“venha fazer parte de um estudo da National Geographic’. Atrés do baledo, 0 funcionério recepciona os interessados e pede a eles para assi- nar uma ficha de participagao. Ele se abaixa para encontrar a caneta, volta ce entrega o formulério. As pessoas se despedem e agradecem. Quase nin- guém percebe, mas 0 experimento ja comegou. Quando o rapaz se abaixa,em poucos segundos, surge outro homem na cena, escondido atrés do mesmo balcao. Eles nao tém quase nada em comum: as roupas sao de cores dife- rentes; um tem cabelo loito; 0 outro, cabelo escuro. O segundo se levantae entregaa caneta eo papel. Mas poucas, pessoas perceberam a mudanca. Talvez vocé acredite que nao c: ria em um teste desses. E pode até se — mas as chances contrérias s0 grandes. Mais precisamente 50%: sé umaa cada duas pessoas percebe essas mudangas. Sua capacidade de captar detalhes é restrita Tire a prova com as cartas ao lado. Escolha uma delase, quando terminar de ler esta reporta- gem, veja seadivinhamos a sua carta ea retiramos do monte. ‘A neurociéncia tem um nome para esse fenémeno: cegueiraa mudanca Essa falha em detectar mudangas brus- casacontece porque seu cérebro nao da conta de prestar atencio e memorizar todos os detalhes do que acontece is sua volta. “Vocé nao consegue com- parar mentalmente as duas coisas - 0 antes e 0 depois’, explica Daniel Si- mons, da Universidade Harvard. Ou seja, uma “falha’ na meméria impede vocé de captar essas mudangas. E que guardar todas essas infor- magdes demandaria uma quantidade absurda de energia.E preciso escolher © foco e qual tarefa priorizar— nao a toa, seu oérebro nao trabalha bem como multitarefa. E af que alguns aconteci- ‘mentos podem passar despercebidos. Pense: na vida real, ninguém se trans- forma em outra pessoa durante uma conversa. Por que, entio, 0 cérebro deveria memorizar as caracteristicas fisicas de um desconhecido, enquanto tenta buscar informagdes sobre um tra- jeto? Seria um desperdicio de energia - @ esse mecanismo é s6um dos buracos do cérebro explorados pelos magicos. CEGUEIRA POR (DES)ATENGAO Nao é86 por conta da memsria quevo- c&perde detalhes do mundo— quando vocé estd focado em um ponto, mui ta coisa acontece sem que vocé note. Imagine 0 foco como um holofote em um palco. As luzes se voltam para o palco. Enquanto vocé assiste a pera, concentrado na histéria, todo o resto do teatro passa despercebido. “Nossa capacidade de atencao ¢ limitada. O foco restringe as informagdes absor- vidas de uma parte do campo vista. E os mgicos exploram essa caracteristica cerebral’, contam os neurocientistas, Stephen Macknik e Susana Marti- nez-Conde, autores do livro Truques de Mesire. E-como se o seu foco devisao se transformasse em um tinel.E fora dele tudo escapasse da sua percepcao, ‘Existe um classico teste de psicolo- gia que prova como ficamos desliga- dos ealheios quando estamos focados. articipantes assistiram aum video de Dasquete e precisavam contar quantos passes cada time trocava. Ao final, os pesquisadores perguntaram: quantos de vocés viram um gorila? Em meio a contagem, perderam um detalhe gri- tante: um homem fantasiado de macaco apareceu por alguns segundos na cena e quase ninguém reparou. ‘Mesmo que vocé quisesse, seus olhos nao dariam conta de ver todos 0s detalhtes com perfeicio. “Os olhos s6 conseguem discernir detalhes de- licados em um circulo do tamanho do buraco de uma fechadura, bem no centro do olhar, que cobre cerca de uum décimo de% da retina’, explicam Macknike Martinez-Conde.‘A maior parte do campo visual circundante tem uma qualidade chocantemente precaria’, completam os neurocien- tistas. Os dois até sugerem um teste bem pratico e simples: olhe fixamente para um ponto na parede em frente a vocé, segure uma carta de baralho qualquer, com o braco esticado para O lado. Nao mexa os olhos. Comece, entao, alevar o braco até o centro do seu olhar. Vocé sé conseguird dis- tinguir o desenho da carta quando ela chegar a esse ponto. Em outras palavras: nossa visdo, principalmente a parte periférica, ndo presta- e vo- 886 nao percebe isso por conta dos movimentos oculares, que apagam os bortdes e estabilizam as imagens. VAMOS ADIVINHAR SUA CARTA Otte atentamente paras cartasabaito. Escothae memorize ‘uma delas, Veja se ‘acertamos suaeecotha ‘na paigina 25. Jk | |> ®) |> Sree eer rere! E os mégicos, claro, sabem disso, ainda que empiricamente, e usamnos- sas falas a favor deles Sao mestresem ‘manipular nossa atengao. “Magicos no- taram essas coisas hd muito tempo. E ainda que nao tenham usado métodos Cientificos eles so pessoas inteligen- tes fazendo, basicamente, andlises do cérebro e do comportamento huma no’, explica Martinez-Conde. Sevocé no enxerga um gorila em um jogo de basquete, imagine quantas coisas deixa passar enquanto trabalha duro em uma tarefa.E por isso que magi- cos passam aos voluntérios algumas ‘misses — tipo dobrar as paginas de uum livro ou escrever nomes em cartas, enfim, qualquer coisa para manté-los concentrados. Ealheios ao truque. Nes- semeio tempo de concentragao, 0s ma gicos terminam seus miimeros — bem em frente a voce “Asagdes do magico intensificam a ativagdo dos neurdnios enwvolvidos na atencio que vocé presta [por exemplo] para virar as paginas do livro, enquanto os neurdniios que poderiam atentar para as maos dele sto inibidos’, contam os neurocientistas. Na magica, essa técnica tem um nome: despistamento ativo. ‘Além disso, existe uma forma in- consciente e automitica de manipular PRESTAR ATENCAO A TUDO QUE ACONTECE EM SUA VOLTA DEMANDARIA UMA QUANTIDADE ABSURDA DE ENERGIA. 0 CEREBRO SELECIONA SO 5% DAS INFORMACOES PARA VISUALIZAR - E BLOQUEIA TODO 0 RESTO. Sana SSS 122 poset 1LusionseMo | seu foca. Um objeto ou som novo ou inesperado (tipo uma pombavoando emum truque de mégica ou uma sirene de ambulancia na rua de casa) atrai sua atengao na hora. E inconsciente, instintivo. Seus sentidos primédrios atendem a esses estimulos automati- camente. Neurocientistas chamam isso de captacio sensorial Para os magicos, ‘onome disso é despistamento passivo. O TRUQUE DO LADRAO Em Nova York, Apollo Robbin con- vida um pedestre aleatorio para par ticipar de um truque Fle é 0 mestre entre os mégicos “trombadinhas’ — rouba carteiras, celulares, reldgios & outros acessérios sem que o partic pante perceba. Fle pergunta a viti- ‘mao que tem no bolso da calca: uma carteira. Apollo, entao, confere seo objeto realmente esta ld." verdade, est aqui’, diz ao mostrar 0 objeto e colocé-lo de volta no bolso. “E no paleté?", pergunta o magico logo em seguida_ O homem volta sua atencao para o paleté (olha e tateia a parte interna da roupa - despistamento 4 IS Como noubat coisas 'MAGICOS USAM TECNIOAS DE DESPISTAMENTO PARA TIRAR VANTAGEM A SUA CAPACIDADE REDUZIDA DE ENXERGAR O MUNDO. E PODEM FAZER O QUE BEM ENTENDEREM: ATE ESVAZIAR OS SEUS BOLSOS. ‘COMO £ 0 lusionista conversa com um voluntério e, aos poucos, co- mega a roubar relégios,carteira © o que mais estiver em seus bolsos, ‘sem que ele perceba qualquer coisa, 86 20 final do truque, quando ‘omagico conta o que aconteceu, a pessoa nota que fol furtada, Je © omigico perguntaacvokun- — | @ auandovai @ 0 magico, entdo, pede 20 homem para segurar trioo quel temnosbolos.£le | conferira que tem ‘uma moedana mio esquerda, justamente onde checa seacartsirareslmente ests | nobolso de dentro ‘std oreloglo-amoedaés6umadistragdo. Du- obolsodacalga,traacarteltapara | dopaltd,coloca ‘ante o papo, magico pressions orel6gie contra ‘Ela, efingecolocd-lade vlta, ‘scartlralé, @ A pessoase distrai procu- © Nessa hora, o magico pega @ omigico checa, comas duas ‘andoacartelra naeale, que 8 tum objeto nusitado (no caso, um snllos, sea carteraestamo paleté do ‘no ostd mals ns calea Enquanto camaro) do seu proprio bolso voluntirioe “retire do camardo. Isso, omégico traamto do ‘somantém escondidonamdo. Enquanto 0 homemolha para plo levaembora orel6gi. Pergunta, enti, aohomem sea objeto, omagico mantém aout ‘Ohomem ndo percebe nada cartelra no estara no casaco. tndono easaco efurtaa cartel EE = J owed 1stonemo 23 especial 24g 0 etre ree a ativo). Nesses poucos segundos, Apollo jd passou o voluntario para trés. Um a zero para Apollo: a carteira saiu da calga e foi parar no paletd — e 0 pobre homem. ainda nem percebeu (veja como na pagina anterioy) “Entao vamos ld, diz. Apollo. Ele se po- sicionaao lado do participante e pede a ele ppara deixar as duas maos abertas, comapal- ‘mapata cima.O magico coloca uma moeda na mio dele e pede para guardé-la. E Apollo quem fecha a mao do homem. “Por favor, segure bem firme a moeda” Nesse meio tempo, a mao esquerda do magico segura o pulso do sujeito,justamente onde esta o reldgio. “Onde esta sua carteira mesmo?" pergunta “Porque eu mudei algumas coisas de lugar...dd uma nova olhada lé’, continua © mégico enquanto tiraa mao direita do pulso do homem. La se foi o rel6gio. A vitima bem que tenta nao cair- 0 tempo inteiro olha diretamente nos olhos do magico. Mas Apollo sabe manté-lo dis- traido. Em meio a conversa, ele mal repara onde estao as maos do magico. Apollo nao ssegurou o pulso dele sem razao. Enquan- to pressiona o reldgio contra o pulso com ‘um pouco de forca, os neurdniios do tato na pele se acostumam a0 toque - e ficam ‘menos sensiveis a percepcao da presenga do objeto. Quando Apollo abre a pulseira eo tira dali, o corpo cria uma pés-imagem ‘atil, como se 0 reldgio ainda estivesse ld E o homem nao se dé conta de nada. A brincadeira segue. O sujeito sorri, en- quanto procura a carteira, que jé nao esta ‘mais no bolso da calca. Apollo se aproveita a distragao para colocar o rel6gio furtado no proprio pulso. Ele, entao, avisa que tal- vera carteira esteja no paletd. Coma mao direita, Apollo segura e puxa o bolso do casaco e, com a esquerda, retira algo: um camarao de brinquedo. “Uau! Isso pertence a vocé?!". Objeto novo, surpresa — nao ha como nao olhar (despistamento passivo) (© homem nao sabe de onde saitt aquilo. O magico sorri, aponta para o novo relé- give diz: “olha, nao levou mais do que 60 segundos para eu pegar suas coisas’ 'S6,entdo, osujeito percebe que per- deu o celular ea carteira Ohumor eaboa lébiaajudam na tarefa da distracao, por relaxarema parte de atengdo e concentracao do cérebro. Com uma boa historia e uma dose de risada, qualquer tru- que simples pode parecer incrivel O americano Magic Tony se apresenta pelos Estados Unidos com mime- 10s féceis e bem-humorados — uma espécie de stand-up de magica. Em ‘um dos truques, pega um saco de papel com uma garrafa de ketchup dentro. Ele promete fazer 0 produto desaparecer. “Vou fazer um gesto miégico e..”. Olha para dentro. La estd o ketchup. “Entao: outro gesto «, tcharam, o ketchup reaparecey". A plateia se diverte, mas ele parece de- cepcionado. Faz outro gesto, segura a parte de baixo do pacote e o vira para baixo.E claro que nada suit. Ele faz o gesto magico e “tcharam, a embalagem reapareceu’. Mais ri- 0s. Ele parece constrangido. “Ok, desisto, vooés nao vio cair nessa’, diz enquanto amassa o saco de papel ~ que virauma bolinha O ketchup, enfim, sumiu. A plateia, surpresa, aplaude de pé ‘Nao hd nada demais nesse truque. O catchup nao é de verdade - é s6 ‘uma imitacao vendida em lojas de ‘magica. A embalagem é feita de um ‘material flexivel. Quando 0 magico aamassa 0 papel, acontece o mesmo com o catchup. Simples assim. Es- se e outros truques s6 funcionam porque ilusionistas dominam todas, essas titicas de manipulacao de atengao e comportamento human ~ sem elas (sem uma boa dose de hu- ‘mor, despistamento e papo furado), ‘um truque nao passa de movimento de maos sem graca e bem ficil de ser desmascarado pelo piiblico. =o =) ACHE SUA CARTA ‘Veja as opedesabaico Sti cata ainda est ‘loufolexchuida? — == $=1 poset siomsMo 25 ‘SEU CEREBRO TRANSFORMA AS INFORMAGOES VISUAIS EM UMA REALIDADE LOGICA, AINDA BEM: ASSIM CONSEGUIMOS SOBREVIVER. POR ISSO, NEM TUDO € COMO PARECE. Texto Carel Castro musreagors Evandro Bertol ara como vocé 0 enxerga. As cores os movimentos, tamanhos e formatos dos objetos nada mais so do que uma inven- gao bem elaborada do seu cérebro, baseada em experincias passadas, Esse mundo todo colorido tem uma razao: em uma paisagem preta e branca, no meio da selva, seria dificil enxergar um predador escondido atras de alguma pedra ou moita. Ciente disso, seu cérebro aprendeu a distinguir um objeto do outro detectando contrastes — nesse caso, diferenciando cores. E tornow a sua vida muito mais facil. Mas ele foi além. Aprendeu 0 significado das sombras em cada ‘movimento (imagine uma bola de basquete quicando e outra sendo arremessada — a posi¢go dasombra 6 diferente), do tamanho e posi- Gao das coisas porque desenvolveu profundidade e perspectiva. Esse actimulo de experiéncias constrdi seu jeito de ver o mundo. Para entender como seu cérebro processa as imagens é preciso ter em mente uma coisa: tudo que che- ¢gaaos olhos nao passa de luz. Esse estimulo visual atinge os fotorre- ceptores, na retina, que o trans- formam em sinais eletroquimicos. De ld, esses sinais seguem até 0 nervo dptica, télamo, cértex visual primdrio até chegar aos neurdnios. Em cada etapa, o cérebro da forma 0s pontos luminosos, com con- ‘rastes, linhas, profundidade E ele quem cria todas as imagens a nossa volta. “A luz que entra nao tem significado, poderia ser qualquer coisa O que importa é 0 que faze- ‘mos com essa informacao. Como enxergamos? Aprendendo. O cére- bro desenvolveui mecanismos para encontrar padroes’,explicou Beau Lotto, neurocientisia especializado em sistema visual, emumapalestra do TED. Padrdes é toda a memé- riavisual armazenada no cérebro. Funciona como o aprendizado de um idioma: vooé sabe como juntar letras e formar palavras. Seu sis ‘tema visual faz. 0 mesmo, sé que com luz. Ele consegue interpretar e distinguir objetos com base no que javiu e aprendew. Seucérebrotabahasssmpara ($y conseguir dar conta de tanta in- formacao. Sé que, nesse caminho, ele acaba fazendo um resumo da realidade — por uma questao l6gica: otimizagao do trabalho. Em outras palavras: ele pressupde muita co: sa E 6 esse jogo de ‘adivinhacao’ que os mégicos usam para criar truques e trapacear seus olhos. PILOTO AUTOMATICO Em 1921, o magico britanico P.T. Selbit surpreenden a plateia, em Londres, ao serraruma mulher a0 ‘meio. Em um caixote estavam as pernas da moga e, no segundo, os bragos e a cabeca - separados um do outro. Logo em seguida, ao unir as duas caixas, ela reaparecia intei- ra. truque é conhecido e, ainda que existam variagdes, o segredo 6 sempre o mesmo: duas mulheres se contorcem dentro de cada caixo- te Aindaassim, o mimero fascina quem o assiste pela primeira vez Todo mundo sabe que o magico jamais cortariaalguém em dois—e muito menos conseguitia juntar as partes e salvar aintegridade da ‘moga. Mas por que 0 cérebro cai nessa? ‘A neurociéncia explica em duas palavras: boa continuidade - ou preenchimento de lacunas. Quan- doa mulher entra na caixa, antes do truque comecar, o espectador ‘v8 s6 parte dos membros superio- tes e inferiores dela — 0 resto fica coculto. Seu cérebro, entdo, recorre aos velhos padrdes memorizados do corpo humano e completa men- talmente a lacuna que faltaali. Ao ser “serrada’ 0 cérebro entra em parafuso, perde todaa referencia construida e reforcada ha milénios ~ dai vem o espanto gerado pelos espeticulos de magica ‘O truque de entortar colheres coma mente (ver pag. 65) dé cer- to pelo mesmo motivo. Quando ‘o mégico segura os dois talheres pelo “pescoco", antes de comecar a forjar 0 poder da mente, 0 cére- bro nao percebe que elas j estdo tortas. Em vez disso, ele completa aquela lacuna escondida pelo dedo do magico e cra a imagem de duas colheres cruzadas e inteiras MULTIPLICAGAO DAS BOLINHAS o © migico mostrauma bolancrmale a ‘segura entre or dedos.€importante ‘quo. mio esteja nessa posicto. “ a < Se oe Elefazum™movimento.e ‘uma nova bola surge. J ie a EEEED A boi que aparece ‘tempo todo é somiesterica. ‘Uma segunda bolas esconde dentro. Como dedo médio, ‘durante o ruque,o magico puxa ‘sbolinha escondida- «depot recolhe, fazendo-adesaparece J usionssno 27 ere ee) especial Uma série de outros truques se aproveita dessa mesma “falha’ do sis tema visual. Em um popular nimero de magica de rua, conhecido como “multiplicagao de bolas’, o ilusionista mostra aos espectadores uma peque- nabola vermelha Ele segura 0 objeto entre 0 polegar e 0 indicador e, com ‘um répido movimento, faz surgiruma nova bola. Nao tem muito mistério: ‘uma das bolas é semiesférica e guar- da outra dentro dela. Mais uma vez, Co cérebro nao consegue perceber essa pegadinha “A chave para entender esse poderoso truque é: 0 completamento amodal [quando 0 oérebro faz.as coi- sas inteiras] deve ser percebido como ‘um fendmeno perceptivo genuiino, no sentido de que é automatico e cogniti- ‘vamente impenetravel’,escreve 0 psi- célogo noruegués Vebjom Ekroll, da Universidade de Bergen. “Visto dessa perspectiva, os espectadores percebem. abola como sdlida, e nao semiesférica, porque é o que o sistema visual diz a eles’, completa en Perspectiva,alids, é outro atalho que os magicos pegam para enganar sua mente. Ao longo do tempo, seu cérebro aprendeu a captar pistas, co- ‘mos linhas, bordas e contornos, para determina a posigao eo tamanho dos objetos — é isso que transforma no: so mundo em 3D e permite que vocé calcula distancia de um obstéculo sé de olhar. Mas essas suposigdes feitas pelo cérebro podem ser facilmente trapaceadas, Talvez voce conheca 0 famoso quarto ilusério de Ames, feito ppara que uma pessoa pareca gigante e 2 outta pequena — varios museus do mundo reproduzem o quarto. Visto do angulo certo, a ilusio funciona. Isso porque ele & construido para pa- recer normal esimétrico, mas nao tem a parede traseira reta, ela é diagonal ~ ai seu cérebro automaticamente cal- cuila que uma pessca é realmente maior quea outra. Varios mimeros usam esse mecanismo do orebro para enganar vvocé- um deles éoda carta ambiciosa (veja na pag. 63). IMAGEM-FANTASMA ‘Mas os mégicos nao brincam apenas com o piloto automatico do cérebro. Eles se aproveitam também do tem- po que voc8 leva para processar uma imagem. Nao é muito: um décimo de segundo atéa luz do objeto entrar na retina e ser processada pelo cérebro. Mas 6 0 suficiente Durante essa fra- Go de segundo, um magico pode fazer desaparecer uma moeda das maos sem quevooé perceba Ou altetar a cor do vestido de uma mulher bem diante dos seus olhos. ara funcionar, esses truques, em geral, contam também com a ilumi- nagio ambiente (seja o sol forte ou os holofotes de um teatro). Durante a apresentacao de seu espetaculo, Johnny Thompson, um ilusionista conhecido como o Grande Tomsoni, promete mudara cor daroupa de uma mulher de branco para vermelho. Os holofotes brancos se apagam e, de re- pente, mudam paraa cor vermelha. Ele admite que nao teve graca. O mégico, entao, bate palmas, as luzes baixam 2, de repente, o teatro é tomado por uma branquidao forte. E ld esté: 0 vestido agora é realmente vermelho. ‘Thompson sabe como usar o sistema visual do cérebro a favor do truque. Quando 0 palco se ilumina pela til- tima vez, aquela luz forte entra pela retina -e ficaré lé por um décimo de segunda. “Pense no flash das méqui- nas fotogrficas. Ele dispara ea pessoa fica com um brilhante ponto branco temporario no campo visual, que vai esmaecendo na escuridao’, explicam osneurocientistas Stephen Macknik e Susana Martinez-Conde. E como uma imagem-fantasma, ja que seu cérebro precisa de tempo para processaras in- formacdes e, principalmente, para se adaptar a nova iluminacao. Durante esse tempo, 0 truque acontece - e 0 vestido muda de cor. Por mais que todos esses truques tentham sido re- velados agora, vocé vai cair em outros tantos que se utilizam dos mesmos prinefpios. E assim que 0 oérebro tra- balha. Nao tem escapatsria, = => ‘Armoeda Salsa, comprada mm fem jas do magica. Ha um shetioo no @ wiizico mostra uma moeda ao pubico. fe mordeoabjto, ‘que se parte a0 1 mastiga pat @ com um sopro, a ‘para baino, Para res ‘moda soregeners. fassopreecalte mood. DESINTEGRAR um coro © mégicocoloca um papel cu uerdanapo sobre um copa, Ele bate amo sobre © cope duss vero Cadaver que voct bute no cope para mostrar que ainda esta lidesliza objeto per- te da beirada da mesa. conn oar Nees "| Porém, continuard com 7S oer 1ustomono 62 0 PALITO_ INQUEBRAVEL (O migioo ata a dele para cme para O mégico pede a Em ceguida, pede ‘com um slguém para pagar - sp voluntirio para copro magice, lum palite de fétoro samante palto egar 0 guardanape sleabreo SoS este oe oe aaeeaeee ee a pais crate ouaranapo ge ar. a oe ‘Com tudo pont suja deo com diz que. marca teletansportaré pare @ palma ds mo erguida. ‘A profeca se confirma Antes da omega 0 ‘ruquefaga um sce de tom na dedo indiader. @ rows dorque, © Datre com © cent doors error opano 20 ceconda um pat, Cuidado sem eoquecar volts tanha a oartez d qe o palo tatordadopeno.ne em qual eromidade ‘Seconda eth bem no meio, prt para ineodacomtura eth pita seconde ade, Asin ocjts clea plo eee opectaderpermanecesntcad. e No impo pessoa ests ou ee annors apenas A 5 elnino imps. Palito desaparecido = ae @ cate pai ox fits adesiva sobre a uta do poleper de ‘Asim, parecaré que {tris do polegar. Por sso, ‘mado que palit voo8 9st mesma importante nde mostrar figue parse ace egurande palit, ce ado de mao. ‘© mégice segura um palit, com amo fechada, ‘que ir faatledecaparecer. Com um pido ‘movimento, le abre amo #opalite destparece, 62 voemt i.usionisuo Tellqles, cone cals NOMERDS DE CARTAS EXIGEM UM POUCO MAIS DE PRATICA ~ VOCE PRECISA DOMINAR ALGUMAS DAS TECNICAS ENSINADAS NAS PACINAS ANTERIORES. Carta ambiciosa legs 0 micico pade Mas.surpreendan- Ele colo carta param ylunté- ‘ements, quando mis umavez no Fioescolheruma Goma dessnho para omdgicoviraa meio doeraho, farts mostrar Gina. Vira acarta primeiracarta ld Ede novo, scara atodes.E diz: parababoeacloca std aula escohida_reaparece sobre Romeiodebaraha ‘pelopartcipante. todas as outs. Como fazer @ Enquantoovelur- — @ Aevirrasduas QD Nahoradeten- @ Acs thos de {Uriomostraacara so prmerascartas para tar outravez coloct- quem assist por cau piblce,segureobars- baite,acccolhida sai lanomsiodobare- sa daperepectivae Tho nemechanicsgrip, dotope, leande em tho. lvante profundidade, parece com aface da mio ccul- segundo. Assim, ao pir ccretamenta a pri- que o mAgic clocou tando.ascartas Sem sprimeiracarta no melracataecole- acartano mso de ba- piblcenotarvreapi- mio, voo! sb finge quo. escolida pelo rho. Faga uma dupla meiraparacime erecs- mistuar aescolhida. partcipanteloge_levantade outa vez—a ba ezcoida em cima. bai deta, carta aparecerd cuts Fraga levantada dupe vero topo. gg A FARSA DA ESCOLHA Force em cruz cecohida plo lusionista. Coloque acaa que vot ‘quer no topo do baralho. e io deine o vluntrioterminar de reunites brah carta eseahida por vecé no topo (chamaremos de monte ‘A)e outro (monte) e i agus o ments 8 0 obre oA, ents, Oe dos montosformam uma ers eo Deice ees dis montos sabre ‘mesa fle durante 20 26 gundes, no minime-inveteal- ‘ums histéria sobre o uque s ser mostrado, para entre @ impede querefita sobre otu- (que © csposicdo dos ments. Bata omonta &scbreo Avratire-ode cima eign *pague asus carte. oe 0 eopectadorpogard a carta que voot quer com asensapto que esoTheulivemente. A dea ‘ realzar henica como oe no tvese tanta importancia. ‘Sempre embaraha as catas antes deforgaraeccoha, cam perder a carta do topo. i td poeett susiomamo 63 =e Se a4 CARTA INDICADORA Apnesentacao ae BP Fg m/ © misico E pede ao Oitusionists Emceguida, And nfo a carta Omégicarecahe emberaina 28 csbectader pare raceheobaralho _ledivideo fescohida por el bartho exci ito carts cartat «a8 enfi- sherumeecdlocsacarta——_baalho Mas o migicologo (8 que siu um de paus leivasobre uma carlaemodtaraodowepectader no cone peda a0 avis: ean 5 anteriorments).Epront: mass, com se pli (omagico melodomonts, partisan Umaindicagte.© ——fetrasoftava carta figures endme-masmonto véa para pur espectadormostra ‘dest aescalhidano rosparabaie, sca dee). ma carta one cata ‘omega peo eapectador ‘qualquer. (digamos que soja 08depaus. © PeenH0IC40, Prepare um bralhe normal @ Narorada rmdgjea embaralhe de Go lugar ~efaci basta cortar beralho no © Vireo baratno paravees 8 digh ao partiipante que ‘adivnhart em que reigo ‘do barsiho ext arta d Passe carta por carta até en- ‘do barlhe de lado. 66 vost wusiowsuo © Coloque a carta Jonada no tope Corts © batho iver a posigto dos doi montes fo que estava ros nas etremidadee do bara. Assim, voct {ard com que a possoa ‘eco uma carta do Ieio do mente das extrmidades @ seforumZ conte sae batts ance que carta dese nove ments de fartas (oom a cequencia 27 ¢ 80 top) Retire do basin SE: SHE Como entortar cotheres com a mente O ilustonista se apresenta e diz tor um dom: entortar objetos s5 com o poder da ment. Ele mostra uma colher qualquer aos espectadores 2, em seguida, faz uma cena, como estivesse se concentrando, A colher suavemente comeca a entortar. No final do truque, o mégico entrega acolher torta para todos examinarem. St: Z _ COMO FAZER (are tuque,entorts {cothern clo, sem ‘que ninguém via. Coloque a calher tntre'a dado indiador 0 polegar (mt es- ‘querd) do medo que pubiico no consiga ‘ero cabo dala Em segue coloque o abo quebrado per ima Gdaconcha da coher, firmando-o com 08 dedosindicedor «pole (at. Doponta de vita ‘do pico, esse cabo parecerégrudado&oo- Ther, causende ania impresato de que ola & perfetamente normal © com acather pronta para comeraro trugue conte sobre seus poderes de mentalimo. CConcentr-seevagarosamarte sult 0 osbo fl, sts que cls sabre o cabo da caer inti Faga isso devagar~ como se sua manta fzese todo o trabalho @ Assim que cetrar a colher, dé uma acudida suave para mostrar que ela esth fentortnde um pio mals. Ne rentoaproveite para escoe fem algum lugar. Pront, caer torta para todos © Axim que ocato alo festive cobre a cabo verdadero, pur a coher com utra mao. A ‘esquerda. Prendao cabo falco S {ome dedo incicadr, dixando @ io sempre abarta para que rin udm nots o objeto esconcdo ah ls WhO SE ESQUEGA: a mic que segura ‘cabo faleo fica sempre aberta~ ale fics preto com ededa indicador a 9 geto de Second precisa a feito deforma bem natural devagarenquanto voct sacode ‘Sealher com sous mo, Oeepactador ‘setardto impreesonado que no irk nota. SHE > S06 ovett nusionano 65, aa eed a coors’ Abril “aro “easy ent ttre Vida Chita Neto Present), Thamar Sou Ca (Vice Presiden, “Aessndra Zappa Gincae Cae Joe Reber Gao sn eget War Longo Dinter eager abi Petes Gallo et er ene ogo Gabel Cmpido ‘ante dence Reso feee Dintadesevgeee rete Andres Abella ‘stn ener Li Pde ‘eae ater Dims ico. Dever dePtjmets otneeOpenues Edson Soars ‘reer anomie Cas SangorB0 oti Aland Zappa interred ie: Sto German Cad Dretor de Rea: Aland Vena ‘Dretor dee: iors tors rn arn Kn fe Tg plas Designers FltsoPees Mara femanee ind Cn epee ee Comnang Ped Cont a Dossift Cabra net ei: oman oe cli Fei er Oise ee) potven beep clgs ean Veastfem a ale baile stampa) Ak Gyn ik Uneyolcopencroaie(an) fou raaesQondeap henaeCaaie peed hakeime 5 ahaa pap) ‘ane tnpratsom avetsMeGct OSemne Sgn ee DOSSIf OS SEGREDOS DO ILUSIONISMO ISBN 97885-5579 144-4 Ril Sans O Dead speeds atone ans peters IMPRESSO NA GRAFICA ABRIL Castro, Carol ‘Magica, / Carol Castro ~ Sto Paulo : Abril, 2017 68p;il.j27.em. (Dossié Superinteressante ISBN 978-85-5579-144-4) 1. Magica -Histéria 2. Neurociéncia. 3.Os grandes magicos. 4 Truques.L Os Segredos do Ilusionismo. Il Castro, Carol. IIL. Série DD 7938

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