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DISCURSOS E CONFERENCIAS Primdérdios da Zoologia no Nordeste Brasileiro © Melquiades Pinto Paiva ‘A descoberta do Brasil ocorrea quando a Renascenga comecou a fluminar ¢ desenvolver as ciéncias ¢ as artes do chamado Mundo Ocidental. Como importantes antecedentes daquela ressurreigdo cultural, apés as trevas da Idade Média, temos os progressos verificados na imprensa, com o emprogo dos caracteres méveis, e as viagens de Vasco da Gama e Cristévaéo Colombo, com a descoberta e explo- rago de novas terras. A imprensa multiplicava livros e expandia a difuséo do saber. Naquele tempo, os conhecimentos existentes a respeito dos ani- mais ainda estavam fortemente inspirados em Aristételes (384 — 322 A.C.), conforme se verifica com a obra de Edward Wotton, publicada com o titulo de De Diferentiis Animalium, em principios do século XVI. Nao resta divida que “a obra zoolégica de Aristételes cons- titui verdadeira maravilha, cuja autoridade, renascida com a Sdade Moderna, exerceu sobre os primeiros zodlogos imensa influencia.” (Taunay, 1934 : 12). Apesar disto, o famoso preceptor de Alexandre Magno abrigou em seus tratados stbre os animais vasta zoomito- logia, com abusdes multisseculares ¢ fantasiosas imaginagdes dos povos primitivos, (1) — Palestra proferida durants 0 V Encontro Nordestino de Zoolo- gia, realizado em marco de 1985, na cidade de Natal (Rio Grande do Norte). 92 A zoologia quinhentista resume-se a cinco grandes nomes, abaixo relacionados ¢ comentados: —- Guillaume Rondelet (1507 — 1566), francés de Montpellier, cuja fama resulta do seu livro péstumo De Piscibus Marinis (1590), onde descreve e ilustra animais marinhos; —— Ippolito Salviani (1514 — 1572), italiano de Citté di Cas- tellc, publicou Aguatilium Animalium Historia (1558), onde trata dos peixes do Mar Mediterraneo e animais marinhos em geral; — Conrad Gessner (1516 — 1565), suigo de Zurich e autor da Historia Animatium, com 4 volumes publicados (1587 —- 1634), onde se encontra um esbogo de sistematizagio zoolégica: — Pierre Belon (1517 — 1564), francés de Mans, autor do livro De Aquatilibus (1553), onde descreve os peixes do Mar Me- diterraneo, incluindo entre estes mamfferos e invertebrados mari- nhos (também mamniferos e répteis terrestres), porém sua obra prin- cipal é L’ Histoire de la Nature des Oiseaux (1555), descrevendo e desenhando as aves que conhecia, além de separd-tas por grupos segundo a esfrututa € seus costumes; — Uilisses Aldrovandi (1522 —- 1607), italiano de Bologna ¢ fundador do primeiro Museu de Histéria Natural, cuja obra cons- tituida por 14 grandes volumes mosira ter sido seu autor muitu mais taxonomista que Conrad Gessner. Os progressos da medicina no século XVI resultaram princi- palmenie dos estudos feitos pelos anatomistas Andre Vesalius e seus discipulos Realdo Columbus (ouvides © vasos do pulmo), Gabricllo Fallopio (aparelho reprodutor feminino) e Fabricius Ab Aquapendente (criador da embriologia); também, das pesquisas de Bartolomeu Eustacchi sobre 0 ouvido e de Constancio Varolio re- Tativas ao encéfalo. No século XVI a anatomia dos outros animais e em particular a osteologia, eram muito pouco conhecidas. Preponderava a teoria da geragZo espontinea. A paleontologia, a anatomia comparada e a embriologia davam seus primeiros passos. & interessante destacar que Guillaume Rondelet, em seu famoso Jivto, antes referido, nfo confirmou nem contestou a existéncia de serejas e outras mulheres marinheiras e dos diversos homens ma- rinhes, numa atitude cautelosa, que bem mostra o nivel do saber 95 ‘oolégico em meados do século XVI, quando ainda néo havia a sistematizacao dos conhecimentos consideravelmente ampliados e¢ ‘mesmo jé especializados em alguns campos. Os projgressos das cigncias biolégicas foram notaveis durante © século XVII, fundamentalmente por causa do que abaixo indi- cainos: — divulgagao e classificagao dos conhecimentos trazidos peli Renascenca, abrindo rumos ¢ possibilitando novas descobertas, con: a sistematizacio das investigagbes: — aperfeigoamento do microscépio stico, permitindo o des- cobrimento da célula © os conseqiientes avangos na microbiologia, histologia € biologia experimental. Concluindo esta introdugio, é conveniente lembrar que nao havia muita distincia entre os niveis de conhecimentos biolégicos dos grandes naturalisias do Renascimento © 0 dos homens cultos seus contemporfneos (Fonseca Filho, 1973 : 949). A zoologia dos missiondrios e colonos As origens da cultura brasileira nas ciéncias e mas aries en- contram-se no Renascimento Italiano, transmitidas através de Por- tugal, onde pouco avangaram as suas estruturas bdsicas de suporte, constituidas pelas organizagdes universitérias. ‘Nas paginas escritas por importantes naturalistas do século XVI © comegos do seguinte, por porte de Conrad Gessner, Andrea Caesalpino, Ullisses Androvandi, Charles de I’Ecluse, Gaspar Bauhin © outros, encontramos referéncias & flora ¢ fauna do Novo Mundo, embora nunca tenham andado por estas bandas. Nas festas em honra do Rei Henri I, realizadas em Rouen ¢ no ano de 1550, podiam ser vistos animais da fauna brasileira, le vados para a Franca por contrabandistas baseados nos porios de Dieppe, Havre e Honfleur. Aqui chegados, os colonizadores encontraram nas tribos indi- genas as primeixas fontes de informagdes sobre a nova terra, pois 0s nativos bem conheciam e melhor designavam as plantas e ani- mais que thes intercssavam. Esta ciéncia do concreto, catacteristica dos povos culturalmente primitivos, reflete a experiéncia acumulada através de geragGes, sobre tudo que possibilita a continuidade da vida tribal. Nem por isto deixa de ser ciéncia, que se tornow aces- 94 sivel acs povos cultos através dos relatos do cronistas e explora- dores pioneiros. No século XVI e comegos do XVII, as dreas brasileiras melhor conhecidas, inclusive do ponto de vista faunistico, compreendiam estreitas faixas litordneas, nas seguintes regides geogréficas: Nordeste -— a zona da mata atlantica entre a Paraiba e o Re- céncavo Baiano, e a ilha de Sdéo Luis e terras circunvizinhas; Sudesie — a zona da mata atlantica entre a bafa da Guana- bara e © litoral da Capitania de Si0 Vicente. Na carta de Pero Vaz de Caminkia (1500) existem poucas r2- feréncias & flora e fauna da terra descoberta. Ha mengio passa- geira aos animais aqui encontrados, tais como as aves chamadas de furabuchos e algumas outras, tais como araras, papagaios ¢ pombas; relata a capture de um tubarao; informa sobre a existéncia de ca- mardies grossos e curtos (havia um muito grande); e, registra o ocorréncia das cascas de bergées e ameijoas. Amético Vespticio, em sua carta de 1503. faz mengao & fauna da itha de Fernando de Noronha e aquela encontrada na drea cos- teira e continental adjacente, impressionando-se com a variedade de formas. © inolvidavel José de Anchieta (1533 —- 1597), de tio rele- vantes servicos prestados & nova terra, langou os alicerces da his- t6ria natural do Brasil, podendo ser considerado como fundador destes estudos e patrono dos naturalistas brasifeiros. Sua famosa obra, denominada Epistola quamplurimanum rerum naturalium quae S. Vicentii provinciam incolunt sistens descriptionem, é 0 primeira documento importante para o estudo da natureza brasileira, escrito em 1560 e somente publicado em 1799. Todos os nossos primeiros cronistas se impressionaram com a fauna brasileira, mostrando interesse pelos animais bons de comer, pelas feras, pelos animais peconhentos e aqueles de estranho aspe-to e tipicos da América Meridional, como os xenartros (tamanduds, tatus e preguicas). Fonseca Filho (1973 : 950) destacou a cultura de Pero Vaz de Caminha, José de Anchieta, Gabriel Soares de Sousa, Fernao Cardim € outros, acrescentando que os escritos destes pioneiros “podem com justiga ser catalogados como obras de histéria natural”. 95 Com Cristovao de Lisboa (1583 — 1652) encerra-se o primei- 10 ciclo de informagdes sobre a bistéria natural do Brasil. Depois ver o ciclo das expedicdes, iniciadas com os holandeses no nor- deste brasileiro. Duranie a ocupagdo holandesa ¢ sob 0 governo do culto Prin- cipe Johann Moritz von Nassau-Siegen, por aqui andaram trés mar- cantes personelidades de interesse para a histéria natural do Brasil, sendo dois verdadeiros cientistas e um militar que teve sua atengio yoltada para os nossos animais: Georg Marcgrave, Wilhelm Pires (Guilherme Piso) © Zacharias Wagener. 1 — Georg Marograve (1610 — 1644) Georg Mregrave nasceu em 10 de setembro de 1610 em Liebs- tadt (Alemanha) e faleceu em Luanda (Angola) em julho ou agosto de 1644, Saiu da terra natal com 17 anos, para onde yoltou passados onze anos. Neste intervalo estudou em 10 universidades e acade- mias, fazendo cursos ¢/ou est4gios de astronomia, botanica, medi- cina © quimica. Em 21 de setembro de 1633 passou a viver em Leyden (Holanda), onde se insoreveu como estudante de medicina, demotando-se ali dois anos. Neste perfodo, recebeu ligdes diurnas do boténico Adolpho Vorstius ¢ noturnas do astrénomo Jacob Golius. Por intermédio de Jan de Laet, conseguiu emprego na Compa- nhia das Indias Ocidentais, deixando a Holanda em 1° de janeiro de 1638 © aqui aportando na bala de Todos os Santos, depois de dois meses de viagem. Em trés expedigdes, andou por Pernambuco, Paraiba e Rio Grande do Norte, ficando sediado na cidade do Recife. Regressou a Holanda com o Principe Mauricio de Nassau, partindo do Recife em 23 de maio de 1644. Sua monumental obra De Historia Rerum Naturalium Brasiliae, coordenada ¢ atranjada por Jan de Laet, foi publicada em 1648, no mesmo in-folio que o De Medicina Brasiliensi de Guilherme Piso, que foi seu chefe aqui no Brasil. Na obra de Marcgrave, constitu(da por 8 livros, a parte dedi- cada 4 fauna € a seguinte: 96 livro quarto — trata de peixes e crustdceos, descrevendo 151 espécies e com 105 figuras; livro quinto — trata das aves, descrevendo 117 espécies e com 54 figuras; livro sexto — trata dos mamfferos iertestres (onde descreve 46 espécies ¢ apresenta 26 figuras) e dos répteis (onde descreve 19 espécies e apresenta 7 figuras); livro sétimo — trata dos insetos, descrevendo 55 espécies e com 26 figuras. Segundo Leitao (1937: 76), devemos a Georg Marcgrave “a obra mais notdyel sobre a natureza do Brasil, nao s6 de todo o periodo colonial mas, guardadas as devidas proporgdes, até hoje.” 2 — Wilhelm Pies (1611 — 1678) Wilhelm Pics (Guilherme Piso) nasceu em Leyden (Holanda) em 1611 ¢ morreu em Amsterdam (Holanda) em novembro de 1678. Estudou medicina em sua cidade natal e depois em Caen (Nor- mandia), onde se doutorou com 22 anos. Em 1633 inscreveu-se como médico na cidade de Amsterdam, ali permanecendo até sua vinda para o Brasil. Aqui chegou em 1638, demorando-se até 1645, quando re- grestou & Holanda. Logo em seguida, inscrevet-se de novo como estudante da Universidade de Leyden, ¢ em 1648 passou a clinicar em Amster- dam, onde ficou até morrer. Seu livro De Medicina Brasiliensi, publicado em 1648 junta- mente com a-obra de Georg Marcgrave, é o primeiro tratado de medicina tropical, onde se encontram muitas informagdes sobre animais do Brasil. 3 — Zacharias Wagener (1614 — 1668) Zacharias Wagener nasceu em 1614 na cidade de Dresden (Ale- manha) e morreu na Holanda em 1668. 97 Esteve no Brasil entre os anos de 1634 e 1641, a servigo da Companhia das Indias Ocidentais, comegando como soldado, tendo sido promovido a escrivio da sua unidade militar, chegando a es- crivao doméstico (secretério particular) em 1637, na corte do Prin- cipe Mauricio de Nassau. Neste periodo, escreveu seu Thierbuch (Livro dos Animais}, com o objetivo de apresentar com fidelidade as caracteristicas dos animais encontrados no nordeste brasileiro, embora sem rigor cientifico, obra finalmente publicada em 1946. Depois que regressou do Brasil, fez carreira a servigo da Ho- landa, chegando a ocupar importantes cargos como arquiteto, di- plomata e militar. Pioneiros da zoologia nordestina De infcio, vejamos uma longa citagio de Leito (1937 : 82): “Desprezados dos zodlogos e boténicos os cronistas do século anie- rior e comegos do XVII, é com Marcgrave que vemos iniciar-se as citagdes cientificas, mesmo quando as anteriores descricGes so de exatidao igual ou maior, o que, embora seja altissima homenagem ao autor da primeita Histdria Natural do Brasil, é grave injustiga que cumpre reparar.” E£ esta injustiga que desejamos reparar, com relacdo aos pionei- tos da zoologia nordestina, J4 foram feitos comentérios a respeito das cartas de Pero Vaz de Caminha ¢ Américo Vespticio, onde se encontram as primeiras refer€ncias & fauna do nordeste brasileiro. Pero de Magalhaes Gandavo, em sua obra escrita enire 1570 e 1576, apresenta algumas informacdes sobre a fauna do nordeste do Brasil, parecendo nunca haver estado por aqui. A maior parte das suas anotagdes sobre os animais correspondem as dreas costei- ras do Rio de Janeiro e Sao Paulo. Por outro lado, quando Fernao Cardim esteve na Bahia, seu famoso manuscrito jd havia sido rou- bado por corsirios. Sendo assim, serio considerados como pioneiros da zoologia nordestina, na ordem cronolégica das suas obras, os seguintes mis- siondrios ¢ colonos: Gabriel Soares de Sousa, Claude d’Abbeville, Ivo d’Evreux, Ambrésio Fernandes Brandao ¢ Cristovao de Lisboa, 98 — .Tratado Descritivo do Brasil Autor: Gabriel Soares de Sousa Esta obra foi oferecida pelo seu autor, em 1,° de margo de 1587 e na cidade de Madrid, ao estadista Cristévao de Moura, ent&o influente no governo, Desta forma, ele procurava se recomen- dar para obter concessdes e privilégios, que the foram dados so- mente em 1590. Sua primeira edig&io, com texto completo, apareceu em 1823 ¢ foi publicada pela Academia de Ciéncias de Lisboa. Ela corres- ponde a um cédice pouco fiel ¢ o seu revisor nada entendia das cousas do Brasil. Devemos a Francisco Adolfo de Varnhagen o estudo e exame de mais de vinte cédices desta obra, existentes no Brasil, Portu- gal, Espanha e Franca. O texto final e completo, resultante do trabalho empreendido, e os comentérios pernitentes, foram apre- sentados pelo famoso historiador ao Instituto Histérico do Brasil, conforme correspondéncia firmada em Madrid no dia 1° de margo de 1851, restituindo-lhe genuidade de doutrina e legitimidade de autor e de titulo, fixando-lhe a verdadcira idade. Para Francisco Adolfo Varnhagen, esta obra é “talvez a mais admirével de quantas em portugués produziu o século quinhentis- ta”. E, mais adiante, completa seu elogio, na apresentagiio feita a0 Instituto Histérico do Brasil: “O nosso autor é singelo, quase pri- mitivo no estilo, mas era grande observador, e, ao ler o seu livto, vos custa a descobrir se éle, com estudos regulares, setia melhor ge6grafo que historiador, melhor botAnico que coreégrafo, melhor etndgrafo que zodlogo.” Arthur Neiva [(1922) 1929] considerou o livro de Gabriet Soares de Sousa como © marco [inicial] da botfnica e da zoologia no Brasil. Segundo Candido de Mello Leitio (1937 ; 56), com Ga- briel Soares de Sousa “comecamos a ter uma visio da natureza novdestina. Talvez nascido em Lisboa, 0 colono Gabriel Soares de Sousa chegou ao Brasil em 1567, fixando-se na Bahia, onde se tornou senhor de engenho ¢ proprietdrio de rogas ¢ fazendas entre os rios Jaguaripe e Jequiricé, no chamado Recéncavo Baiano. Deixou 3 99 Bahia nos ultimos dias de agosto de 1584, regressando a sua teria com o fim de requerer concessdes ¢ privilégios, que lhe foram dados em 1590. Como capitio-mor ¢ governador, titulos a cle conferidos por Felipe 11, Gabriel Soares de Sousa voltou ao Brasil, deixando o porto de Lisboa em 7 de abril de 1591. Morreu pouco depois do seu regresso a Bahia, durante expedigdo que deveria alcancar as cabeceiras do rio Séo Francisco, & procura de minas assinaladas em roteiro deixadas por seu falecido irmio Jodo Coelho de Sousa. Sua morte resultou de sezio contraida a margens do rio Paragua- gu, quando jé franqueava a chapada Diamantina, que separa as duas referides bacias fluviais, Na obra de Gabriel Soares de Sousa a parte dedicada aos ani- mais é bastante extensa, compreendendo os seguintes titulos e capi- tulos: titulo 10 — Das aves, com os capftulos LXXVITI a LXXXIX; titulo 11 — Da entomologia brasilica, com os capitulos XC a XCIIL; titulo 12 — Dos mamiferos terrestres e anfibios, com os capitulos XLIV a CVIII; titulo 13 — Da herpetografia e dos batrdquios ¢ vdrios outros, com os capitulos CIX a CXVIII; titulo 14 — De varios himendpteros, etc, com os capitulos CXIX a CXXIV; titulo 15 ~ Dos mamiferos marinhos e dos peixes do mar, camardes, etc, com os capitulos CXXV a CXXXVII; titulo 16 Dos crustdceos, mo- luscos, zodfitos, equinodermos, etc., e dos peixes de dgua doce, com os capitulos XCXXVIU a CXLVI. Assim, de um total de 20 titulos e 196 capitulos, 7 titulos e 69 capitulos tratam da fauna nordes- tina, com especial atenciio para o Recéncayo Baiano e baia de Todos os Santos. A bem da yerdade, esclarecemos que a divisio em t{tulos e © arranjamento dos capitulos foram procedidos pelo seu co- mendador, Francisco Adolfo de Varnhagen. © levantamento faunfstico, realizado por Gabriel Soares de Sousa, ndo acoberta apenas os animais de interesse imediato para os indios e colonos, através da caga e da pesca, da coleta de seus produtos, ou por causa de danos provocados ao homem, as suas Javou- ras ¢ criages, Aqui esté um dos seus méritos, por incluir as imun- dicias, assim consideradas as espécies de menor importincia para os primitives e novos povodores, na pitoresca linguagem do cronista, 100 Um outro mérito do autor consiste no registro dos nomes indi- genas dos animais, quase sempre acompanhados de notas biolégi- cas, além da descricao suméria das caracteristicas externas e mesmo anatOmicas, Desta forma, tornou possivel a identificagao da maioria das espécies constantes do levantamento por ele realizado. Entre- tanto, acobertou fantasias entéo existentes sobre alguns animais e cometeu erros hoje considerados grosseiros, no tocante & sistematica zoolégica. Foram descritos os métodos de caga e pesca empregados por indigenas e primeiros colonos, bem como a utilizagdo dos diversos animais. Vamos agora fazer alguns destaques da obra de Gabriel Soares de Sousa, no tocante & fauna nordestina: — observagGes sobre o regime alimentar da ema e do acaua, aves consideradas como afidfagas; ~ costume do sabié-tinga de se alimentar de pimentas, pro- vocando sua disseminagéo através das sementes contidas nos excre- mentos; — revoada dos cupins e formigas na época das chuvas; -— migragao de borboletas durante o verdo, provocando danos aos algodoais em flor; — ataque da meruanha ao homem e animais domésticos, cau- sando-lhes até a morte; — descrig&o das manciras de aiaque das ongas, inclusive contra ° homem; — anotagdes sobre o comportamento do tamandud-bandeira sua maneira de capturar formigas para a alimentagio; -— sistema de defesa da maritataca e modo de os cAes se livre rem da catinga por ela provocada; — reagées dos guaribas quando atingidos por flechadas, fu- gindo e tratando das feridas com folhas por cles mastigadas, ou entio enfrentando os seus perseguidores com as flechas que os al- cangaram; — reconhecimento das cobras e respectivas modalidades de vida, indicando aquelas consideradas pegonhentas, acrescentando ser © yeneno da jararaca inoculado através dos dentes; 101 — associagio do tamanho do chocalho com a idade da cas- cavel; — presenga da anfisbena nos formigueiros, donde sai quando estes ficam inundados pelas chuvas ou quando esté com fome; — modos de comunicago e ataque das formigas em correigiio; — ataque do bicho-de-pé e téonicas para o seu combate e prevencio; —- ocorréncia de baleias de margo a dezembro na baia de Todos os Santos, quando se dava a parigéo ¢ nova prenhez; — entrada de peixes do alto-mar na baia de Todos os Santos durante o verdo, tais como o bonito, 0 dourado e as albacoras. — Histéria da Missdo dos Padres Capuchinhos na Ilha do Mara- nhiio ¢ terras circunvizinhas Autor: Claude d’Abbeville ‘A primeira edigéo deste livro apareceu em 1614, na cidade de Rouen (Franga), pouco antes da morte do autor. Claude era francés, nascido na cidade de Abbeville, no seio da familia dos Foullon, Ingressou na ordem dos capuchinhos, tendo professado em 1593. Morreu na cidade de Rouen no ano de 1616. Veio para o Brasil na comitiva de Daniel de la Touche, senhor de la Ravardigre, acompanhado de outros trés capuchinhos, entre os quais estava Ivo d’Evreux, designado superior do pequeno grupo de religiosos. Embarcou no porto de Cancale no dia 19 de marco de 1612, em viagem que terminou em 29 de julho daquele ano, quando chegou A iha de So Luis, onde permaneceu por apenas quatro meses. No livro em referéncia, abrigando 62 capitulos, apenas 4 deles (capitulos XXXIX a XLII) sdo dedicados aos animais encontrados na ilha de Sao Luis e dreas circunvizinhas. Surpreende a quanti- dade e qualidade das informacées relativas & fauna, principalmen- te quando temos em vista © potico tempo que seu autor permane- ceu em terras maranhenses. Daf a suposigio de as haver coletado diretamente dos indigenas seus amigos ou através dos compatriotes Charles des Vaux e David Migan, que bem conheciam a regido. 102 Sabemos que Claude d’Abbeville nfo tinha maiores conheci- mentos das ciéncias naturais, o que mais valoriza a sua fundamen- tal contribuigfo para o estudo da fauna nordestina. © extenso levantamento dos animais do Maranhio, com 0 cui- dadoso registro dos seus nomes indigenas e a descrigao das caracte- tisticas mais evidentes, permitiram conhecer a identificagao da maio- ria das espécies e a importincia que tinham para os indios. Além do registro dos animais que suportavam a caga e a pesca ou daqueles que forneciam produtos de interesse para os primitivos habitantes, 0 autor teve o cuidado de relacionar outros considera- dos daninhos ao homem, pela voracidade ou pegonha. Cuidou também das caracteristicas das carnes dos animais cagados ou pe3- cados, ento consumidas pelos indigenas e colonizadores. No tocante & biologia das espécies levantadas, algumas infor- magées merecem o devido destaque, a saber: ~~ costume do sabid de comer pimenta, e a conseqiiente dis- persio das sementes através dos seus excrementos; — descrigio do modo de ataque dos morcegos hematdfagos (erroneamente tidos como passaros) e das feridas por eles provo- cadas; —— comportamento do poraqué e 0 efeito do choque provoca- do no homem; — observacio hébito de o graugé gostar de ambargris como alimento, levando seus pedagos para as tocas; — deslocamentos das preguicas, atrastando-se na terta, A pro- eura de novas drvores, que as abandonam apés terem consumido suas folhas; — ataque e desenvolvimento larval do bicho-depé, modos de extragio das léndeas e tratamento das feridas, bem como os siste- mas de prevengio usados pelos indios, E interessante falar das relagdes entre animais © o homem, num complexo de interdependéncia. As galinhas e outras aves do- mésticas comem o bicho chamado coeviup (possivelmente uma es- pécie de ortéptero), este se alimenta do bicho-de-pé, que ataca e tanto incomoda o homem, o qual utiliza aquelas aves em sua ali- mentagao. 103 — Viagem ao Norte do Brasil Autor: Ivo d’Evreux, A primeira edigdo deste livro foi impressa por Frangois Huby, no ano de 1615 ¢ na cidade de Paris, Entretanto, por vinganca politica, ela foi totalmente dilacerada, salvando-se apenas um exemplar incompleto, gracas 8 providencial intervengdo de Isaac de Razilly. Este exemplar foi encadernado e oferecido a Louis XIII, tendo sido encontrado por Ferdinand Denis em 1835, na Biblioteca Imperial de Paris. Todas as posteriores edigdes esto baseadas na- quele exemplo salvo da criminosa destruicgio, néo sendo conhecida a obra completa. Ivo d’Evreux deve ter nascido po ano de 1577, na cidade que adotou como seu sobrenome, situada na Normandia (Franca). Fez © noyiciado no convento de Rove ali entrando em 18 de agosio de 1595, tornando-se frade capuchinho. Foi designado guardido do conyento de Montfort e em 1611 encontrava-se no conyento da rua Saint Honoré, na cidade de Paris.’ Como missiondrio, sendo o superior de trés outros capuchi- nhos, veio para o Brasil na comitiva de Daniel de la Touche, em- barcando no porto de Cancale no /dia 19 de margo de 1612, tendo chegado a ilha de Sado Luis em de julho do mesmo ano, fun- dando ali um convento, Permaneceu durante dois anos entre os indios maranhenses, regressando doente para a Franca em 1614, quando sc recolheu ao convento de sua cidade natal. Durante 15 anos nao teve qualquer noticia do seu livro, ¢ parece que viveu até 1650. O relato de Ivo d’Evreux cobre os anos de 1613 ¢ 1614 ¢ complementa a obra de Claude d’Abbeville, seu companheiro de missio, da qual muito difere. & constitufdo por dois tratados, o primeiro com 50 capitulos e o segundo com mais de 21 capitulos, pois foram perdidas muitas das suas iltimas péginas. A parte re- ferente aos animais esté nos capitulos XL a XLVII, sendo que o capitulo XLII também se perdeu. © autor mostra pouco interesse pelos nomes indfgenas e des- crigio dos animais, tornando dificil a identificagéo das espécies, tendo muito maior preocupagio com grupos de menor importancia 104 para os indios ¢ colonos, Cuidou mais de conhecer 0 comporta- mento dos animais e de descrever os métodos de captura, princi- palmente os empregos na caca. Abriga varias fantasias, inclusive admitindo a geragio espontinea. Algumas das informagoes contidas no livro de Ivo d’Evreux ¢ relativas aos animais merecem os destaques abaixo apresentados: — mudanga de cor das penas do guard (ave aquatica), que se mostram progressivamente brancas, pretas, pardas e por fim ver- melhas, associando tudo com os seus hébitos alimentares que mudain com o avango da idade; — pesca/caca nos lagos tempordrios da chamada Baixada Ma- ranhense, no periodo seco, para a captura de peixes, jacarés ¢ tar- tarugas; ~— reyoada das formigas na época das chuvas e da protegio que elas procuram dar aos formigueiros, tapando suas aberturas {bocas) situadas dos lados das enxurradas; — identificagao dos lagartos, pequenos macacos, formigas e galinhas como inimigos dos grilos; — sistemas adotados pelas ongas para a caga dos macacos ¢ seus meios de defesa. — Didlogos das Grandezas do Brasit Autor: Ambrésio Femandes Brando Livro escrito em 1618 na entio Capitania da Paraiba. Seu autor permaneceu no anonimato durante quase trés séculos, até que Capistrano de Abreu o identificou apés laboriosas pesquisas, descoberta que mais tarde foi confimada por Rodolfo Garcia. Até o fim do século XIX, esta obra havia sido divulgada apenas em jornais ¢ revistas. © Didlogo Primeiro apareceu publi- cado na revista semanal Iris, da cidade do Rio de Janeiro, de janeiro de 1848 a junho de 1849, 0 mesmo acontecendo muito depois no Jornal do Recife, O texto integral encontra-se nas pagi- nas da Revista do Instituto Arqueoldgico Pernambucano (jancito — margo/1883 a agosto/1887) e também naquelas do Diario Oficial, da cidade do Rio de Janeiro, edicdes de fevereiro a marco de 1900. 105 Como livro, saiu pela primeira vez em 1930, editado pela Acads- mia Brasileira de Letras. Ambrésio Fernandes Brandfio era portugués, tendo chegado uo Brasil em 1583, aqui permanecendo até 1618; neste periodo cle realizou algumas viagens & sua terra natal. Em 1583 recebia dizimos do agucar na Capitania de Pernambuco, tendo depois sido feitor cu escrivao de Bento Dias de Santiago, contratador de dizimos das Capitanias de Pernambuco e Itamaracd (1576/1578 e 1582/1585}. Comandou gente armada, na condigéo de capitio de infantaria, combatendo os franceses e indios potiguares. Viveu por longo tempo na Capitania da Paraiba, onde foi senhor de engenho. Eta acusado de ser cristio-noyo ¢ tinha excepcional conheci- menio das ciéncias naturais, em relagdo ao seu tempo. Seu interlocutor foi Nuno Alvares, também portugués e su- posto cristio-novo, com o qual trabalhou como escriyéo ou feitor de Bento Dias de Santiago. N&o sabemos quando ocorreu o seu falecimento, mas é certo que nao mais pertencia ao mundo dos vivos por ocasido da tomada da Parafba (1634), durante a expansio do dominio holandés no nordeste do Brasil, Nos 6 didlogos que constituem a obra em referéncia, as info:- magées relativas aos animais esto quase todas elas concentradas to Didlogo Quinto, Dizem respeito, principalmente, as espécies de maior porte e de interesse para a caga e a pesca, bem como aquelas consideradas como prejudiciais ao homem, as suas lavouras e ani- mais domésticos. Além do levantamento faunistico, sao feitas mencSes a distri- buigio ¢ abundancia das espécies, quase sempre acompanhadas de observagdes sobre a biologia das mesmas e notas de interesse eco- némico. Apesar do nivel de conhecimento do autor, tudo indica que ele nao tinha a formagéo de naturalista. Considerando este aspecto e a época em que escreveu scu livro, compreendemos porque come- teu erros hoje considerados clementares, no tocante & classificagdo dos animais, dando ainda abrigo a informagdes pouco precisas ou mesmo fantasiosas sobre a biologia de espécies inventariadas. Isto nao tira o valor da sua obra, mesmo que outros aspectos ndo me- 106 recessem o devido destaque, colocando-o. com justiga entre os pio- neiros dos estudos zoolégicos no nordeste do Brasil. Estes outros aspectos, merecedores de destaque e relacionados com a fauna nordestina, séo os seguintes: — proceso indigena de mudar a cor das penas dos papagaios (tapiragem); — hdbito de alguns passaros, como o japu, de localizar 0 ninho nas proximidades de casas de marimbondos, & procura de protegao contra seus predadores; —~ fenémeno da migragéo de borboletas a partir do sertio ¢ durante os anos secos; —— indicacdo dos peixes considerados daninhos e daqueles outros tpos como venenosos; ~— meng&o aos deslocamentos errantes e peridicos dos ca- ranguejos, quando deixam suas tocas na €poca da reprodugao (andada); — reconhecimento das cobras pegonhentas e de outras que atacam o homem e animais domésticos; — nascente caga das baleias, levada a efeito por biscainhos; — métodos indigenas de caga e pesca, com descrig&o dos apa- relhos utilizados; — abundancia do ambargris langado 4 costa, entéo coletado © vendido aos mercadores. -~ Histéria dos Anitmais e Arvores do Maranhio Autor: Crisiévao de Lisboa © texto ¢ os desenhos deste livro foram elaborados no perfodo de 1624 a 1627. O autor concretizou o seu projeto de escrever a Histéria Natural e Moral do Maranhio, em quatro volumes, porém os originais desapareceram, 0 que talvez tenha ocorrido por causa do terremoto de Lisboa, no ano de 1755. Salvou-se a parte refe- rente aos animais ¢ drvores, que havia sido entregue ao mestre Jodo Baptista, para o preparo das gravuras a serem impressas, cujo cd- dice também desapareceu, vindo a set recuperado em 1933 e publi- cado pela primeira vez em 1967. 107 Cristévao Severim de Farias, o seu autor, nasceu em Lisboa no dia 25 de julho de 1583. Estudou na Universidade de Evora ¢ depois tornou-se capuchinho em 23 de fevereiro de 1602, no con- vento de Santo Antonio de Portalegre, quando trocou os sobreno- mes materno e paterno, passando a se chamar Crist6vio de Lisboa. Tinha sdlida cultura universitéria, do ponto de vista teoldgico, Em missdo religiosa e politica veio para o Brasil, como supe- rior de um grupo de capuchinhos da Provincia de Santo Anténio, a que pertenciam, devendo atuarem no Matanhdo. Frei Crist6vao de Lisboa, na condigéo de Inquisidor Apostélico, deixou sua cida- de natal em 25 de marco de 1624, em companhia de Francisco Coelho de Carvalho, este designado Governador do Maranhéo ¢ Grfo-Pard, que na época englobava o territério compreendido entis o Cearé e o Amazonas. Chegou ao Recife no dia 2 de maio se guinte, onde permaneceu até 12 de junho, quando partiu de barco pata o Maranhdo, demorando-se 15 dias no Cear4, e terminando sua viagem em 6 de agosto daquele ano. Ali fundou a Custédia do Maranhiio, tendo exercido intensas atividades, juntamente com cs missionérios sob suas ordens. Voltou a Portugal em 1635, e logo foi eleito guardido do con- vento de Santa Catarina da Carnota e depois definidor de sua Pro- vincia, passando a viver no conyento de Santo Anténio de Lisboa Chegou a ocupar o cargo de pregador régio e foi nomeado bispo de Angola ¢ do Congo em 1644, nao sendo confirmado pelo Vaticano, Morreu em Lisboa no dia 14 de maio de 1652. Tudo indica que Cristévio de Lisboa conhecia o livro de Claude d’Abbeville, publicado em 1614 e referente 4 ilha de Sio Luis e terras circunvizinhas. Isto talvez o tenha levado a escrever sua Histéria Natural e Moral do Maranhéo, apés aconselhat-se coin o irmio Manuel Severim de Farias, historiador e chantre da Sé de Evora, que the mandou instrugSes de como proceder no seu inten- to. E certo que teve um colaborador na redagao do texto, que per- manece desconhecido, A obra em teferéncia esté baseada em 259 figuras, assim dis- tribuidas: 116 correspondendo aos peixes (onde esto inclufdos ca- 108 mardes, siris, cAgado, tartaruga, toninha e peixe-boi); 21 com ani- mais no referidos no texto; 67 com aves (onde também est4 in- clufdo 0 morcego); as 69 restantes dizem respeito as plantas. No tocante aos animais, esto registrados seus nomes nativos, com sumérias desctigées ¢ algumas anotagSes sobre a biologia, o que facilita a identificag%o das espécies inventariadas. Foram con- siderados somente animais do imediato interesse para os indios e colonizadores, com referéncias aos métodos de caca e pesca € aus diversos modos de utilizagéo das carcagas ou de scus produtos. Dois importantes zoolégos brasileiros, Jodo de Paiva Carvalho (1903 — 1961) e Olivétio M4rio de Oliveira Pinto (1896 ~- 1981), produziram comentérios sobre os animais inventariados na obra do Frei Cristévéo de Lisboa, antes mesmo da sua publicagio. O pri- meiro cuidou dos peixes e 0 segundo das aves, ambos servindo-se de fotocdpias do texto © das estampas do cédice recuperado em 1933. Nos comentarios sobre os peixes (Carvalho, 1964), verifica- mos que foram relacionadas 103 espécies, das quais 71 so do Me- ranhZo (53 de agua salgada e 18 de agua doce salobra) e as 3% restantes pertencem fauna fluvial e lacustre do Para, Dos comentarios feitos por Pinto (1979) resultou a conclustio de terem sido levantadas cerca de 75 aves maranhenses, das quais 25 foram seguramente identificadas, Quanto As anotag6es sobre a biologia dos animais inventaria- dos, vale destacar 0 que abaixo relacionamos: —- predagio softida pelo peixe-voador, na dgua (cagdes, boni- tos, albacoras e dourados) e no ar (fragatas e outras aves); — referéncias a peixes daninhos, por ataques ou envenena- mentos, ¢ aqueles considerados medicinais; — descriciio dos efeitos do choque provocado pelo poraqué no homem; — sucessivas mudangas de cor das penas do guard; — detalhes sobre o ataque de morcegos hemat6fagos e feri- mentos produzidos no homem. 109 COMENTARIOS FINAIS Devemos bem cstudar estas obras dos pioneiros da zoologia nordestina, porque a ciéncia € um proceso acumulative de conhe- cimentos, sempre em revisdo, simultaneamente & procura do deta- The das grandes generalizagées. Isto obriga a cada um dos seus servidores a se considerar apenas como um anel de infinita cadeia, © que leva & humildade responsavel dos verdadeiros sébios. Por outro lado, seus-eseritos estio plenos de informagdes da maior valia sobre muitos animais da fauna nordestina, que suge- rem desdobramentos de investigagSes, no eterno processo de renova- go cientifica, Finalmente, através destes pioneiros, podemos avaliar a diver- sificagio e abundancia da fauna nordestina, nos albores da coloni- zagdo, © que nos leva & triste constatacdo do continuado processo da eliminagdo de espécies ¢ redugio das populagdes daquelas que resistem a agressGes de toda a ordem, comprovando a auséncia de salutar atitude conservacionista. Resta apenas a citacao do ultimo pardgrafo de anterior iraba- {ho de nossa autoria (Paiva, 1974: 195): “A natureza nordestina estd ficando triste, desequilibrada do ponto de vista ecoldgico, cro- nicamente doente. A nossa civilizagio precisa compreender a im- portancia da natureza, para que possa conservé-la, A natureza é bem comum e a todos cabe a responsabilidade de sua conserva- go. O que acontece com a Agua, o solo, as plantas e os animais também acontece com o povo que thes rodeia,” DEDICATORIA: Esta conferéncia € dedicada & meméria do grande cientista brasileiro Candido de Mello Leit&o (1886 — 1949), parai- bano de Campina Grande, tao presente no seu espirito ¢ texto, como presente continua na comunidade dos zoolégos deste pais, através de importante obra publicada constituida por monografias, catélogos, trabathos originals de pesquisa, livros diddticos e de divulgacao. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ABBEVILLE, C, — (1914) 1975 —. Historia da Missdo dos Padres Ca- puchinhos na Ihe do Maranhdo e terras circunvizinhas. Traducis de Sérgio Millict. Apresentagio de Mario Guimaries Ferri, Intro- dugo e notas de Rodolfo Garcia. 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