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10 ANTROPOLOGIA E COMUNICAGAO Uma parte razodvel deste trabalho foi organizada durante o primeiro semestre de 1987, quando estive vinculado & Indiana University, na condigZo de professor-visicante do seu Departamento de Antrapolagia e de pesquisador-associado do seu Research Center for Language and Seiotic Swudies. Fiz bons amigos nesta ocasifo, que me propiciaram o calor humano to necessério a que. saber tenha, como dizia Roland Barthes, algum sabor. Fico muito feliz podendo thes agradecer: Wesley e Mary Hare, Thomas e Jeane Sebeok, Anthony Seeger, Emilio Mordn, Carlos Coimbra, Ricardo Ventura Santos... Importantes agradecimentos devo também aos meus colegas do Departamento de Ancropologia da Universidade Federal Fluminense e do Departamento de Comunicagio Social da PUC-Rio. Além dea estas, instituigdes, devo agradecer também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico ¢ Tecnolégico (Cnpq), a Coordenagao de Aperfeigoamento do Pessoal de Nivel Superior (Ca Nacional de Pés-Graduagio em Cigncias Sociais (Anpoc: Minha gratidao também a meus alunos, pois de muitos deles proveio ‘© estimulo & redagio deste trabalho: foi pensando neles que o esctevi quase que linha por linha. A Ivone Barros, que, linha por linha, hheroicamente datilografou o manuscrito. A J cs", eu digo: “Ao contritio, fatos ¢ 0 que (Nicersche, de um dos fingmentos péstumos) Mente humana, como péra-quedas: funciona melhor aberta (Charlie Ch “CAPITULO | Homens. Homem? A antropologia, mesmo social, se declara sol antropolocia fisica, cujas descobertas espreita com | uma espécie de vider. Pois, mesmo queosfendmenos | sociais devam ser provisoriamente isolados do resto, ¢ tratados como se pertencessem a um nivel espectlico, bem sabemos que de fato, € mesmo de direito, a emergéncia da cultura permanecerd para 0 um mistéri santo ele no chegar a deverminar, no plano biolégico, as modifieagSes de estrutura ede funcionamento do cérebro, do qual a culture foi, simultaneamente, 0 resultado natural e 0 modo so- cial de apreensio, enquanto criava 0 meio | intersubjetivo, indispensével, para que se proces as transforma-gies, anatémicas e siolégicas, é certo, ‘mas que nfo podem ser, nem definidas nea estudadas, com referéncia apenas 20 2 ANTROPOLOGIA E COMUNICACAQ Uma pergunta, muitas respostas Ai estd um enigma angustiante, cujo deciframento tem sido tradicionalmente esperado da antropologia. Perguntas conexas ide vers? para onde vai? ~ so cotidianamente formuladas 20s antropSlogos, deles se esperando a capacidade poug desvendar nossa origem c adi Estas perguntas sc incluem certamente entre aquelas que jamais serio respondidas— pelo menos enquanto almejarmos que para elas venha um dia a valer uma solugdo Gnica, universal e absoluta. Nao obstante, os homens sempre se formularam essas indagacées e sempre encontraram iespostas satisfatér diferenciadas no tempo ¢ no «spaso, mas parecendo sempre, cada uma delas, coerente, ldgica e proce- dente, aos olhos daqueles que as encontraram e nelas acteditaram. Situagio paradoxal, esta. Estamos diante de uma indagagao univer- sal-mente formulada, mas para ela é impossivel descobrie resposta uni- versal, Deparamos com um mistério geral, cujo desvenndamento deve ser particular e localizado para poder ser sat :celoramive ancropdlogo contempla a pergunta—o queé 0 Homem?— defronta-se com o paradoxo de descobrir que a grande verdade é exatamente 0 néo haver verdade sobre o que o Homem é, Mais ainda, descobre-se, diante do lugar deixado vazio pela verdade ausente, a conviver com mitfades de verdades, com infinitos caminhos alternativos, pelos quais os homens puderam se_| contemplar a si mesmos e se descobrir seres com ides préprias: Para aumentar a intensidade do paradoxo, verificam os antropélogos que estas verdades multiplas e localizadas que materializam a inexisténcia na verdade geral, que estas respostas, verdadeiras apenas porque soam como tal Aqueles grupos humanos que nelas acreditam, pretendem ~ todas e cada uma delas — ser @ dinica resposta, Nao hii verdade sobre 0 que o Homem é, mas cada resposta parcial se vé como total e absoluta. Cada uma renega as outras, por se querer a exclusivamente verdadeira. do cnigma af esté: jamais existiré uma identidade humana de uma espécie de consenso universal; encontraremos, poréi, ao mesmo tempo, inesgotiveis maneiras, todas elas profunda- ‘mente humanas, de compreender o que se deve designar por “human Averdade universal sobre wm sujeito universal, o Homem, no hf; exister, ‘entretanto, pléiades de verdades de variadissimos st Embora os sistemas organizados de explicacio do Universo sempre tivessem tido o problema do lugar do Homem na existéncia como objeto Homens. Homem? central c inabstraivel de suas curiosidades, para bem compreendermos a natureza da indagacio 0 que éo Homem? e bem situarmos a perpl dos antropélogos diante dela, lembremos que nao foram necessétios de ‘modo algum 0s filésofos, os cientistas ou os tedlogos - nenhuma reflexo especializada, em suma — para que as quest6es relacivas 20 ser préprio do Homem fossem levantadas e as respostas fornecidas. ‘Muito menos foram necessérios os antropélogos. A ansiedade huma- nna em tomo desse tema nfio dependeu jamais do esforgo de sibios que fizessem pelos homens comuns o trabalho intelectual da pergunta e que dessem a estes, como dédiva, um sistema de respostas organizadas, Nada disso: a prépria existéncia cotidiana é pontilhada de ocasides em que a definisao de o que é “ser humano” se apresenta como indispensivel. A vida material e pulsante dos homens requer esta determinasio, pois sem cla gesto humano algum pode significa. Mais do que simples curiosidade , comportamentos e sentimentos se tornaria invidv {Cada um de nds pode verificas, que definamos alguém como humano ou no, para que possamos Ihe ditigira palavra, oferecer roupas ou decerminados alimentos, aproximar a certa distancia, tocar det nido de o que seja “home”, para praticar com sentido atos tio m{nimos como escovar os dentes ¢ limpar as unhas (e néo me ca conseqitentemente um “porco”), para procurar originalidade em € necessétio encadear as palavras com certa conseqiiéncia, assim como preciso manejar com pericia 0 raciocinio, para nio ser rotulado de “burro”. Cada um de nés espera que os outros tenham uma certa vivacidade, que sejam de alguma forma “animados” e io “vegetem’; do mesmo modo que os outros esperam de cada um de nds que seja submisso a certas regras de etiqueta, nao se comportando, conseqilentemente, como um “anima forcemos para que ninguém scja cruel e “desumano”, curvando-nos todos diante de alguns valores que dizem respeito & bondade. E esperamos de nossos igu /s, pretendendo-se que no un padecer de certas inos, eque ad 1B 14 ANTROPOLOGIA E COMUNICACAO Como vernos, nfo se trata de problema meramente especulativo, ‘entregue a alguns ociosos do pensamento, Nao! O que ¢ 0 Homem? é uma interrogagio latente ¢ constante, continuamente respondida em estado prético na vida de cada um — nos gestos ¢ habitos; nos usos e costumes, nos mitos rituais, nas estruturas de pensamentos, nas relagdes com os outros.’Um problema concreto, a exigir solugées aqui c agora. ‘As solugGes sio sempre dadas, em cada movimento da face humana. para definir nossa humanidade e para estabelecer, por extensfo, aquilo que achamos que o Homem “é. Assim dando respostas espectficas, encontrando verdades espectfcas, dando miiltiplas respostas, encontran- do verdades miltiplas ~ os diferentes homens tém vivido semelhan- temente como homens. Neutralidade? Objetividade? Ti pomirel queer obec ignorar o trabalho de objetivos sobre a hiseéria as idéias até aqui expostas pequem por ntistas, em busca de conhecimentos neutros € ana. E possivel que se argumente, contra o , fornecendo-nos conhecimentos baseados € construfdos de maneira metédica rigorosa, poderé um dia colocar entre nossas mos a palavra verdadeira (e derradeira) sobre o lugar do Homem na existéncia. E, posstvel que se estranhe que exatamente de um antropélogo provenha a afirmativa de que o enigma do Homem ¢ indecifrével. As paginas seguintes tratardo de derreter essas objegGes. Nao ob- stante, € preciso reconhecer que os conhecimentas cientificos sobre © tema o gue ¢o Homem?, por mais objetivos ¢ neutros, sexio apenas mais, ‘uma resposta dentre as multiplissimas formuladas por homens. Como em documentos perfeitamente valida para aqueles que nel: dos conhecimentos “racionais” depende pi f& nos poderes especial absolutamente, univers “igorosos" sero insuficientese irrelevantes para homens que resolverem continuar definindo suas humanidades a partir de outros critér iamente de uma espécie de da razfo. Esta crenga, sabemos, nao é, | cotidianas ¢ concretas de homens palpéveis, que resolvam aceié Homens. Homem? sgabinetes de pesquisa, na medida em que invadam ¢impregnem a {que neste ponto os conhecimentos cientificos estario diluidos entre as as opiniGes, os sensos comuns, os rituais, as ideologias. ivos nem neutros. Serio apenas mais uma cren: iva - como pretendem todas as ideol stas talvez se surpreendam pouco com a eutros’, das verdades* apoiadas na “esséncia das. cada ver mais da determi ‘momento e sob o viés de determinadas preocupagées intelectuais. Tais, teorias “melhores”, segundo este novo credo, esto fatalmente destinadas A superagio, to logo surjam outras que sejam “ainda melhores” out q) possam responder a solicitagées formuladas por novos prismas intelectua ando o problema de maneira radical, dirfamos que 0 que far do cientista um cientista é sobretudo a consciéncia que tem do caréter sempre mais flexiveis, diversifiados e abrangentes. im dogma que lhe permita esmurrar a mesa ¢ bradar neutralidade, rigor... fzem parte dessa utopia, E, como todas, esse é um lugar onde nfo se chegaré jamais, um inexistente que se torna de ce forma existente e real através dos caminhos que nos prop6e para a lo: no serernos neutros jamais, mas faremos esforgo nesta di seremos objetivos, mas faremos forca para ral... C: continuamente, utilizando a prépria debilidade como forga maior, 2 cincia se faz, E se distingue dos outros sistemas de pensamento. -ando-se 15 16 ANTROPOLOGIA E COMUNICACAO Nada hé de estranho em que essas palavras surjam da pena de um antropélogo. Pelo contrério, é perfcitamente compreens{vel que haja ugar para a consideragio, no mesmo plano, da ciéncia ¢ das out sabedorias humanas, no interior de uma eiéncia ~ a antropologia — que se tem dedicado a demonstrar como até mesmo detalhes da vida individual dos homens podem da espécie; no interior de uma ci descobrir como caracteristicas gerais da humanidade adq fisionomias tio dispares e diferenciadas, segundo o: fendmenos ess ‘Nio ¢ estranho que um antropdlogo, mesmo querendo-se cientis duvide da supé ide da cigncia em relagéo aos outros sistemas de pensamento, Nao ¢ estranho que reconhesa que a solusio antropoldgica a0 enigma o que é 0 Homemt — resposta parcial, pois acessivel apenas 0s povos que dispoem de ciéncia e antropologia — no é melhor que as outras e no Ser universalmentesatisfatéria Niio hé paradoxo alum nisso. Pelo contritio, é descobrindo os se imites ¢ fraquezas em relagSo a esta questo que a antropologia poder imbuir-se de forgae animo para atacé-la, Reconhecendo scus limites, poder buscar nova maneira de colocar a questio, eliminando dificuldades que séo menos fungéo da natureza do problema que da mancira de o colocat | No sentido desse nove modo de colocar a questio, onde se impunha ialmente uma resposta exterior e parcial, por ser antropocenttica € nocéntrica, sobre o que seria o Homem, deve-se agora conseguir con- 1, descobrindo entre eles a coeréncia, tr€s vetores aparentemente ar sétese Fundamental dessa nova maneira de colocat a questo por respeito pela diferenga que amor & sem: is eficeis de encontras, mas em geral etnocénti ce artficiais. Levando ao extremo a atitude antropolégica, a hipdtese nos Em outras palavras, ampliando 0 raciocinio de modo a incluir ncle nzo Homens. Home? IS 5 apenas os homens lades, mas também os animais e suas sociedades, procurando diferengas dentro desse conjunto alargado de observagio — procedendo, portanto, verdadeiram — poder-se-d perceber que aquilo que de mais seme! homens é exatamente a diferenga. inte existe entre os cidade ca diversidade de concepgSes que os homens tém sobre o que 60 Homem, nfo fazem mais que expressar cristalinamente uma das mais marcantes e universais caracteristicas do humano: a diferenga a0 se definirem diferentemente como Homem, os homens manifestam a natureza profundamente semelhante que os unc: poder diferir. Af esta a razio pela qual resposta nica & pergunta o gue ¢ 0 Homer ‘mesmo que cientifica.sE também 0 porque de ser o respei ferenca entre os homens, fundamentalmente respeito pela ranga entre eles. Assim, dizer “a semelhanga que nos separa’ ou “a iferenca que nos une” nfo constitui paradoxo algum no terreno do hhumano, Pelo menos enquanto os homens forem homens. Mundos. Mundo? Esta nova colocagéo do problema o que ¢ 0 Homem? corresponde a uma nova perspectiva cientifica. Preside-aa tentativa de compreender a diferenca como caracterizadora da semelhanga dos homens entre si, assumindo a diferenga como um dado positivo, que nio deve ser dilufdo ¢ dissipado sob a semelhanca. Procura evitar © etnocentrismo, que superestima as verdades desta ou daquela fragio da humanidade, mas procura também neutralizar 0 antropocentrismo, que imagina um mundo ‘em que o Homem pairaria soberano sobre a natureza. Desse modo, as semelhangas ediferengas entre os horitens devem ser pensadas em fungio das semelhaneas e dife De um ponto de vista substantive, o prinefpio axiomético estaria na consideragio dos fatos da vida como fendmenos comunicacionais. Em uma grande comprovadamente — de modo que a hipétese de que nfo existe ser vivo que de algum modo nio emita ou receba mensagens nada tem de absurdo. ‘Tio presente na natureza é a comunicagio, que poderia ser it da vida. E mais: ndo s entre os seres vivos. lusive processamento de informagSes quantas forem as expécies sobre 0 globo. w 18 ANTROPOLOGIA E COMUNICAGAO Cada organismo & em si mesmo um desses sistemas. Nos mais complexos, bilhdes e bilhoes de células devern-se organizar em relagées reciprocas. E preciso controlar as reagdes biog paredes celulares, de modo a reter as substi indesejtveis. E necessério, além disso, que 0 o: érgios aptos a recolher informag6es sobre o mundo exterior, confion. tando-as com dados disponiveis sobre os estados do prdprio corpo ‘Mesmo nas formas de vida que os bidlogos consideram menos evoludas, pode-se constatar a existéncia das bases de um sistema de comunicacio: éemissio de sinais interna e externamente,recep¢io, tratamento e avaliagio de informasbes, transformacio de informagio em ago... Sabe-se que os organismos percebem seus meios interno e extemno apenas mediante seus aparelhos espectficos, de maneira que cada « viveem um meio préprio, que é mais ou menos (2s vezes completamente) diferente do dos outros organismos e dos homens. Tais variagées esto parcialmente bascadas na arquitetura particular dos érgios sensoriais, ‘mas esto marcaclas também pelo modo ¢ co expécies. Voadores, nadadores, insetos, plantas, animais noturnos... deparam com condig6es de existencia bem difetentes das do Homem. Assim, os cetéceos, que passam quase toda a vida na égua, tém 0 ouvido como um dos seus senti universo em grande parte vi informagées recebiclas por esse intermédi as relages com 0 meio e os semelhantes, Cada espécie de organismo, em suma, pée em agéo um aparato par- ticular de informagto, Os sentidos nao sio sempre os mesmos, pois alguns se fazem ausentes em certas espécies. Mesmo quando oi sentidos estio longe de operar da mesma maneira, j wando-se as entre as mais decisivas para 1e a visio pode ralmente sensivel, segundo as espécies, as cores ¢ dimensées, 0 olfato pode nao captar os mesmos estimulos, o tato regi sensagdes ou 0 ouvido as mesmas freqliéncias sonoras... Cada espéci hhabita um universo informacional que lhe ¢ prdprio. E este &0 que lhe convém. Em relagio a estes universos informacionais é que as espécies devern ser estudadas, pois cada uma esté adaprada a este ou aquele seu meio, Conseqtientemente, ¢ ingénuo, deslocado e absurdo hierarquizar “inteligéncias” de seres diferentes, por meio de experiénciss, testes e outras pacaferndlias artifi como eixo de referéncia — antropocentricamente, portanto ~ se poder!s cometer a tolice de comparar a “inteligéncia” (por nés considerada um dos atributos maximos da humanidade) de seres tio diversos entre si como 0 morcego, 0 macaco, as plantas, os papagaios...e os homens. Seguindo esta nal, verificamos também fendmeno co! dessas substancias, ot também a receber ¢ recolher dante: presenga de do ambiente e assim por diante, Assim, reragbes se devem estabelecer também entre ele e o meio, ‘os da mesma ou de diferentes expécies. Comunicagio e ei ntificagio de informagio. E obrigado formag6es adequadas sobre 0 temperatur complex Vida e com: a obviedade da colocagfo, somos obrigados a reconhecer que ‘nosso pensamento para determinado lado eimpulsiona o racioc{nio nesta ditesio. Que os seres vivos comunicam é hoje algo mais ou menos dbvio, mas admiti-lo como p ¢ da diferenga entre eles de um modo novo. Um novo px Poderemos assim perguncar: “E evidente que os seres nnicam, mas o fazem todos igualmente? Havers, quanto 20 Homem, especificidade comu Um olhar panorimico pode Poderemos pousar nossa atengio sobre algumas relag6es comunicacionais que a natureza oferece. Encontraremos flores a trocar polens entre si, sob a aco do vento, Veremos outras, cuja pol nfo se pode fazer s ida de pdssaros ou insetos, assumindo cores ¢ odores.a que estes pr is, para melhor se ad: Anecessidade de os atrair. Um pouco adiante, depatamo-nos com pl mente 9 20 ANTROPOLOGIA E COMUNICAGAO capazes de crescer na ditesao de algum objeto, um galho ou arame em que possam se encosear, para daf continuar crescendo rumo a novo objeto que possa servir dle apoio. Como compreender estes fendmenos, senéo supondo nelesexisténcia de alguma forma de captacio ¢ processamento de informagao? Que dizer, entio, de formigas, capazes de assinalar is suas congéneres 6 local exato onde encontraram alimentos, valendo-se para isto de uma substincia quimica que segregam no percurso de retorno ao formigueiro, cujo odor pode set seguido pelas outras como se fosse um rastro? De aranhas, habilitadas a perceber a presenga de animais ¢ objetos que porventura toquem um fio das teias que armam? E. de morcegos, que podem perceber objetos pelo ouvido, ¢ deles se desviar em vos ‘eloctssimos? Que pensar de alguns peixes que emirem débeis impulsos clétricos continuamente, criando a0 redor de si um campo, do qual a minima percurbagao éimediatamente percebida, como acontece quando € invadido por uma press, cujo corpo conduz a eletricidade melhor do gue a dgua em que vive? Perceberemos patos selvagens, por meio de piados especiais, avisando seus ¢ heiros da presensa de um inimigo nas ime aprenderemos que esses sinais séo &s vezes percebidos por utras espécies, Notaremos que galinhas, que correm em auxilio de seus pintinhos que piam, passam indiferentes por outros que podem ver mas ‘no ouvir, pois estes foram colocados sob uma campana de vidro, Pelo canal auditivo se dé também o essencial da comunicagio entre a perua ¢ seus filhotes, pois as que sio surdas matam seus pequenos logo que sact dos ovos, considerando-0s “inimigos” porque esto ‘mudos". Nesses casos todos, aprenderemos que o “instinto” depende da evocagio de uma ‘mensagent sonora. Existem “cang6es de amor , por meio das quais os péssaros se atraem. fagrancias do amor”, por cujo instrumento ‘entre as borboletas noturnas os machos voam 2 procura de wma parceira, guiiados nessas viagens pelo odor caracterfstico das fémeas virgens. Quando no cio, cadelas, gatas ¢ muitos outros mamfferos attaem os A reprodusio, Encontram-se ninho estd terminado. O vermelho de seu ventre se torna mais vivo ea sombra escura que cobria suas costas até a nidificagio se transforma em. 1a espécie de branco azulado c fosforescente. Seu comportamento Homens. Homei muda, ao mesmo tempo: 20 invés de se deslocar lentamente como antes, tornam ainda mais visivel. De novo, olhar inspirado pela perspe fendmenos de comunicagio, Em muitas ocasibes, dejetos de restos orginicos: é o que nos fizem ver os rinocerontes, virios defecam no mesmo lugar fazendo das fezes uma espécie de ponto de arragio e de encontto para o grupo. Hipopétamos usam as suas para marcat o tetritério, servindo-se da cauda como uma espécie de ventoinka que as espalha por uma érca, Cies domésticos servem-se do odor da trina para demarcar 0 seu, aumentando inclusive a freqiéncia daatividade de urinar quando se véem na citcunstincia de conviver no re com cles rivais. Muitas outras espécies apresentam comportamento semelhante sob esse aspecto, as vezes dispondo mesmo de glindulas cspeciais, cujas secregGes depositam no solo, em arbustos ou pedras. ‘Aprendemos assim a descobrir fungées comunicacionais onde anteriormente se procuravam apenas fungdes orginicas. Poderemos também descobrir fungGes comunicacionais desempenhando, imediata rctamente, tatefas orginicas. Veremos que a relagéo entre os dois io corm manobras bruscas que 0 informacional descobre novos n de ser erso se revela Biologia, sociologia, comunicagéo “Admirando a navureza pot este viés, nfo nos surpreenderemos com © fato de a biologia — que na teoria da evolugéo sempre sugerit que os seres vivos se adaptam a condig6es especificas de seus ambientes ¢ que sempre se consagrou a0 estudo mais ¢ mais detalhado da estrutura de organismos particulates ~ comece a perceber com aculdade cada ver maior que 0 mecanismo pelo qual o organismo se insere ¢ se adapta 20 ambiente & precisamente 0 comportamento.(A. etolog cigncia, traz exatamente essa dimensio que fazia falta & obrigando-a agora a consideras, quando tratar da telagso do individuo com 0 ambiente, que grande parte do problema reside na relagio do ‘smo com outros da mesma ou de outras espécies — no ambiente yma recente descobriu que os comportamentos no eram comandados por um “instinto” cego e mecinico. Pelo contritio, aprende-se continua- mente que esto submetidos a regras de comunicagio e que 0 universo a 2 ANTROPOLOGIA E COMUNICAGAO vivo est submerso em um enorme rumor de mensagens. Aquilo durante muito tempo pareceu estritamente reservado 20 homem revela- se como o que hé de mais universal. Assim, alargando suas perspectivas intelect bordagem etolé- gica tem permitido compreender, ao lado da ecologia c submetendo-se& ecossstema, que fendmenos aparentemente cegos desorde~ brevivéncia do mais apto”, etc.) devem ser consi- derados como elementos de complexa.organizagio em vendo todas as espécies que vivem no scio de um mesmo ¢ de modo mais amplo ainda, no conjunto da biosfera [Morin: 1974, pp. 272-273]. 4 relagio dos organismos ‘organismos individuais| Uma simples entre as formigas hi processos que se sabem de tipo olfativo, pois, em varias espécies, o cheito determina se pode ou ngo ser admitida na col6nia, uma vez que se este éatacado € morto pelos outros, 0 que nfo acontece a uma estranha, que no é molestada quando apresenta o mesmo odor das que integram 0 grupo (Penna: 1976, p. 209]. Relagdes entre organismos, portanto, ‘Um problema de “sociologia animal”? Certamente: pois nfo ¢ para esta diego que conduzem nosso pensamento fendmenos comuni cionais que so também fisioldgicos [Chauchard: 1960, p. 32], como pombas que s6 ovulam na presenca de um semelhante, mesmo que este seja do mesmo sexo e mesmo que seja apenas sua prépria imagem em tum espetho? Ou seus machos, que s6 conseguem producir alimentos para os filhotes vendo a fémea empolhando e mostrando-se ostentos: Quando se véem nas tardes de inverno os estorninhos executarem suas fascinantes manobras aéreas, 1 aos outros, seguindo-se luns aos outros em uma ordem to inerivelmente perfeita; quando se vvéem “hierarquias” nas quais cada individuo do tamente o set lugar, como se tem observado entre intimeros pas: mamiferos e peixes ¢ como se pode facilmente verificar em um galinhei ~ quando estas coisas sio constatadas, nfo é na ditecio dessa sociolo; animal que nosso pensamento é co! Homens. Homem? contato entre os membros de xo a dispersio de, as vex milhares de péssaros, milhées de peixes ou insetos? Néo deve necessar \ Esta sociologia animal nos ensinaria que comunicagio ¢ sociedade esto presentes na natureza e que estio ambas presentes no Homem .) Aprenderiamos com ela que estas pois nfo possivel ima ‘comunicagio, sistema social em que os mem “estejam em contato diniimico, Os chamados “processos sociais basico = cooperacio, competicio, conflito, imitacio, associaglo, etc. ~ so fundamentalmente processos comunicacionais. E possivel imaginar sociedade sem cot is até mesmo o “isolamento social”, a auséncia de comunicac’ ser considerado, sob outro aspecto, uma forma part , setes vivos ~ relagées sociais € icas mais gerais e abrang da comunicagio soc emarcatérias definiriam 0 is € plantas? Em relagfo a estas ‘Uma primeira observagio, j{ hd muito registrada e reafirmada (mas merecendo as ponderag6es que adiante formularemas), e: jimais, ¢ talvez as plantas, se comunicam por _programados. Dito de outro modo, faz parte da consticuigao bi decerminados organismos que se comuniquem exatamente da maneica camo o fazem, sendo a atividade comunicacional mera ma atualizagio do funcionamento fisiolégico organismo Essa primeira observagio poderia ser ilustrada por um mecani conhecido como “impregnagio”, mediante o qual [Cuisin: 1973, p. 45} 23 ANTROPOLOGIA E COMUNICAGAO ‘patos, gansos, eisnes, cordeiros etc. seguem 0 primeiro ser semovente {que véem ao nascer ~ por exemplo, um hor ja normalmente a primeira a ser ces de nascer, estes animais estio, por assim dizer, ‘programados* aapreender certas informagoes, que em grande medida comandario seu comportamento futuro. Em muitas ocasiées, pode-se comprovar em laboratdrio a programacio orginica: por exemplo, criando separadamente ‘certo ntimero de animais e verificando que ainda assim estes animais se entregam a comportam wente complexos (nidificacio, corte & fémea, resisténcia a adversérios...), como os congéneres criados em liberdade. Nenhum de nés, homens, est4 assim organicamente programado para a comunicagio, Nao esté absolutamente dado por nossa estrutura orgintica que usemos 0 preto como expressio de luto, pois hé congéneres nnossos que preferem o branco para este im. Que descubramos a cabega — como se fosse a mie 0 contrarie masculino. Nada existe em nossa estr ica que nos obrigue a evadir quando ouvirmos a palavra se formos chineses certamente permaneceremos no mesmo lugar 20 ouvi | Nossos simbolos, a cruz, a foice-e-o-martelo, a sudstica, a rosa, a mao-fechads-com-o-polegar-levantado, o piscar-de-um-olho, a balanca,, © vermelho-verde-e-amatelo, as palavras... io socialmente programados, dependem de convengées estabelecidas entre os individuos que constituem ‘o grupo Ser humano algum est& apto a participar da rede de comunicagio formada por seus semelhantes pelo simples fato de ter nascido: ser-he-& necessario conviver com o grupo, introduzindo-se nele, embebendo-se dele) ‘A banal observagio de recém-nascidos, de criangas em crescimento ros, € suficiente para nos certificar dessas constatagbes. evidenciam o quanto de|humano independe de programagao orginica, devendo-se & estrutura social mais que & constituigéo fisico-quimica dos individuos, a stmbolos convencionais mais que a sinais organicamente programados. Homens. Homer 3 f além de organicamente programado, o comportamento baseado em _sinais € geneticamente transmitids, Depende de uma espécie de programa igenttico, cuja exccugio deverd se desdobrar durante a vida do organismo, estabelecendo-se completamente quando o organismo estiver “maduro” esgotando-se paulatinamente, & medida que o organismo vi vivendo {sto é, morrendo). Desse modo, o desempenho comunicacional de ur animal dependeria de sua constituigao genét em seguida, do estagio de maturagio orginica em que se encontre. Para emitir 0 seu piado de alarme, setia necesséri ‘certa heranga genética que lhe oferecesse esta um certo grau de maturagéo orginica qué possibilidade — grau este diferente daquele que simplesmente lhe consentiria receber os sin: Percebe-se de imediato que estes ios, de um modo geral, sio os que vigoram no que respeita & comunicagio humana. Us caveira para transmitira idéia de perigo ou morte, oraio para me referir Aenergia em primeizo lugar, ¢, 20 pato selvagem uma ibilidade, mas também permitsse exercer esta ica, 0 sino para evocar a companhia telefOnica, a limpada vermelha para evocar prostfbulos ou necessidade de me deter em um cruzamento, gatfo c faca cruzados para sugerir restaurant, légrimas para indicar tristeza — todos os simbolos, enfim, porque os adquiri de pessoas ‘com quem {Os slmbolos (com as esalvas adianteexpliitada) rio dependem de minha constituigio ‘ou de minha maturagio orginica particular: a possibilidade de utilizd-los estd submetida, antes, 20 “amadutecimento social” dos individuos, 2 um adequado grat ¢ tipo de socializacio. ‘Uma terceira observacio, também decorrente da primeira ¢ funda- mental: as secregbes exsudadas pelas formigas ¢ que servem para ass © caminho para o alimento ou a pertinéncia a0 grupo, os odores tivos de que as cadelas esto no cio, os pisca-piscas dos A procura de parceiras sexuais, o aumentar de tamanho dos gatos di depresas cadversérios, o urinar dos canideos demarcando seus territérios, as modificagées de coloragées dos péssaros e peixes associadas a0 comportamento reprodutivo, os pavoneios de certas aves quando cortejam suas fémeas... todos esses complexos sinais residem em cada organismo particular da espécie respectiva.|Cada organismo esté jsoladamente apto a emitir ou receber os sinais peculiares de sua espécic, 2B 6 ANTROPOLOGIA E COMUNICAGAO 0, porque existem em cada um dos individuos, que os sinaisse presentes no grupo quc esses organismos constitucm. isa diferente ocorte entre os homens. Que magi represente “ten- tagio", libios entreabertos evoquem “erotismo”, bragos escancarados insinuem “boa acolhida”; que se deva mastigar com a boca fechada, lavar hado olhe para o cho ou para o tet no perceber o cidadao cujo corpo comprime o meu; parega nfo estar senda incomodado pelo m tor ou pelos perdigotos que conti tudo isso so convengSes que antes de cada um de nés vie jas encontramos prontas fora aderir, Somente apés té-las aprendido passario a existir em nés! E é necessirio que o fagamos, pois esta ¢ tinica maneira de viver na sociedade que estas convengbes. presidem, Assim, as convengGes ¢ os simbolos figuncm primeiro no grupo. apenas porque af esto podem estar também nos individuos que o~ ‘compéem. Quarta observagio: o sinal tema caracterist Se 0 combate dos antilopes se cons camente, se 0s odores qu aude ser intransformdvel sinais determinados organi- ioso” em Fungio de certa estrutura nervosa ¢ anatdy camente programada.. cada geneti- se 0 organico é determinante, em suma, entio, \dividuo pertencente a certa categor tipo estio fadados a construir suas “casas” repetindo sempre o mesmo padrao e borboletas noturnas destinadas a reproduzir 0 mesmo modelo de comunicagao olfativa da espécie, assim também as sociedades que se baseiam na comunicagio por sinais estarmo obrigadas a repetir por toda parte a mesma estrutura ditada pela natureza dos organismos que as, compéem. Térmitas cle tal tipo, tal tipo de sociedade; abelhas organi- Homens. Homem? camente de tipo » tipo y de organizacéo social... Resultado: atreladas & iridez. no tempo € no espago, tais sociedades nao poderiio apresentar ia ou diversidade cultural. {As conseqtiéncias socioldgicas da comunicagio apoiada em simbolos tas. Que © casamento seja monogti smblema padronizado de erotismo, giene ou manifestagio antropofigica; que homens se olhem 3s segundos ou o evitem para nio que se use ou nfo a mfo esquerda para reciprocamente nos olhos por vi passarem por homossext 5 que formas roligas se afastem do ideal de beleza feminina; que homens sejam proibidos de usar xampus ou brincos; qu mulheres possam dirigie maridos, empresas eaté automéveis; que home iberar” seus lados femininos e mulheres “con tudo isso depende de convengies que variam de atingi 0 orgasmo’ sociedade para sociedade, de tempo para tempo, Isso é possivel porque 0 sfmbola é eminentemente sransformdvel. amente da natuteza orginica, pois € feito de ourra mat depende: ‘Assim, as sociedades humanas se h prdprias convengées, como também a substitut-las por outras, conven- indo que as antigas convengées nao valem mais: abrem-se desse modo 3 histéria. Mais ainda, os homens podem diferir de seus idade Nem sé de mel. As abelhas ‘essas observagbes. Sabe-se organizagao social das mai eressantes € que esta organizagio se api em um sistema de comunicacéo complexo, cujo desvendamento, sobretudo a partir dos trabalhos de Karl von Fi cessado de causar espanto em meios leigos ¢ revelado de refinamento e precisio. ‘As abelhas de uma colméia devem cump: programagio orginica, uma série de tarefas ou fungbes soci: icedem uma apés a outra, em uma ordem definida ¢ i medida em que vio vivendo as suas vidas. Até onde se sabe, as passagens entre as diferentes fases sio determinadas por mudangas 4) las no corpo das abelhas. ‘entilicas, pelo que tem 2 ANTROPOLOGIA E COMUNICAGAO Cada abelha (Fox: 1940, pp. 107-109] comesa vi posto pela rainha em lugar apropriado, Do ovo, ver uma larva, que se pomeforma em crislida, de cuja casca uma abelha surge em seguica Tio logo salda da casca, a abelha se limpa € enxugas fazendo o mesmo como slvéolo onde passou sua juventude como larva e crisilida: somente depois de impo, a rainha boraré outro ovo nest local Ao final de ‘dis, a “operdtia? comegari tarefa diferente, passando a alimentar ‘em suas células: recolhe mel e polen, dando ‘este alimento as larvas. Apé alguns dias neste trabalho, muda de novo de oc ago: agora suga néctat ddas bocas de trabalhadoras mais idosas, que retornam, de suas excursies forada colméia para coletar este Ifquido doce e trazé-lo pars casa, Dentro do corpo de nossa abelha, o néctar se transforma em mel, sendo entio txpelido para dentro de células especias, nas quais € estocado, Além “Is, recebe o pélen que as mais velhas trzer parz.a.colméi, guardando- ‘oem outras células de estocage Depois de um ou dois dias nesta Fangio, a abelha passa alguns dias carregando “lixo” pata fora da colméia, Em ‘seguida, transforma-se em prodaora de cera, constuindo com ea secregio de seu corpo nowt eatulaspara.ahabitagdo, Terminada a area, uma ourra nda: se guard tarrando a entrada de qualquer congénere que nfo pescenga 8 comus dade, Enfim, & altura do vigésimo dia, comega a voar para 0 ex construtoras, guardids “severas”, ras enfim de rantos clogi sarretanto, se reproduir: seu desenvolvimento ovarian ¢ inibido por tum dcido secretado pela rainha da: 0 mesmo que durante 0 ¥O0 al serve para astinalar a0s zangées a presenga ¢ & trajetéria dela, rexponsivel pela reproducio, estimulando-os & aproximagio. ietiea dererminacao orginica comanda o fascinante sstem2 de comunicagio das abelhas. antropoctntricos, tudo desse sistema de comunicagio pelo ,partindo da observagio, gos, de que as flores si0 oloridas e perfamadas para ata os insetos que as fumes facilitariam aos insetos ‘encontrar seus alimentos, ase urando em las flores. Admitindo este ponto de partida, sua aarfosidade se aguga: como iso aconteceeferivamente? Setfo as abelhas dotadas de percepgio de cores? Que cores? “Tratou ent&o de responder experimentalmente sss perguntas. Com ajuda do perfume de um pouco de mel € possfvel atrar abelhas para sey meee, onde se thes pode oferecer alimento sobre um cartio de cor + cores € per AIA, As abclhas sugam este mel que, depois de transportado para a E 40 [(A S B) > E] Ora, se considerarmos quic estes sistemas que se complexificam tém inicialmente seus comandos sediados nos organismos individuais que os compéem (isto é, esto baseados em sinait organicamente determinados) poderemos plausivelmente levantar a hipérese de que, progressivamente, no processo de complexificagio, se estabelecesse uma tensio entre a complexidade crescente do sistema social sim 's — como iva de sua base, Dito de outra maneira, (a parte (organismo progressivamente se tornando insuficiente para exercet comando ¢ controle sobre 0 todo (sociedade). Desse modo, a transferéncia da sede do sistema da parte para o todo (do sinal para o simbolo) se deve ter tornado impositivasob pena de comprometer e corroer a sistematicidade social altamente complexo, sempre existem fontes de desordem, detivadas do descompasso entre o com- portamento dos individuos que o formam, pois estes so compara~ obrigados a conviver com fonces de desorganizagio advindas da prépria complexidade so ce dessas fontes de desordem, para no perecer se, entGo, que a sociedade esteja em organizagio permanente, renascendo sem wtindo-se continuamente, pelo préprio fato de bolo possuiria a plas a, por conseguinte, um elemento de mani da sistematicidade de sistemas sociais complexos, através de uma nese continua: o sinal ~ o1 mente no Imente vel e existente uo ~ transformar-se-ia, enti convencionado, socialmente transi sobre si mesmo ¢ sobre suas partes. Um pouco como a refazer sua organizacSo & medida que aumentaa efervesctn entre as moléculas que 2 compéem, também a sociedade deve ter tido que recompor suas estruturag6es & medida que se comple relagGes presididas pelas estruturas anteriores. {As transformagées da organizagio social ¢ a emergtncia da comu- -agio simbélica supéem também transformagées or; contrapartidas ocorrentes nos organismos 47

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