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PSICOLOGIA Nd ESCOLA: GM POUCO DE HISTORIA E ALGUM@S HISTORIAS beatriz belluzzo brando cunha elisabeth gelli yazlle maria regina ribeiro salotti mériti de souza cago realizada como apoio financeiro do Departamento de Psicologia Evolutiva, cial e Escolar da Faculdade de Ciéncias e Letras da UNESP-Assis © 1997, by autores Editor: Henrique Villibor Flory Diretor Administrativo: Alexandre Villibor Flory Diretor Produgio: Aroldo José Abreu Pinto Capa: Gregor Osipoff Editoragio eletrénica: Editora Arte & Ciéneia Dados Internacionais de Catalogago na Publicagio (CIP) Biblioteca da F.C.L.- Assis-UNESP Psicologia na escola: um pouco de historia e algumas hist6rias / 974 Beatriz Belluzzo Brando Cunha ...[et al.] - Sao Paulo : Arte & Ciéncia, 1997. * p.%6 Contetido: Atuagao do psicélogo escolar: alguns dados hist6ricos / Elizabeth Gelli Yazile - A crianga desmistificada: aspectos subjetivos na pratica educacional / Mériti de Souza ~ Breves consideragdes sobre praticas educacionais / Mi Regina Ribeiro Salotti - A queixa escolar e o fazer/saber do -6logo: a historia de um caso / Beatriz Belluzzo Brando Cunha. ISBN: 85-86127-16-7 1. Psicologia educacional. 2. Escola - Atuagilo do Psic6logo. 1.Cunha, Beatriz Belluzzo Brando. CDD - 370.15 Indices para catélogo sistematico: 1.Educagao : Psicologia 370.15 2.Escola : Psiedlogos 370.15 3.Psicologia escolar 370.15 Editora Arte & Cigncia Rua Joaquim Antunes, 92/3, Pinheiros - So Paulo-SP (CEP05415-001 -Telefax: (011) 253-0746 ‘Telefone: (011) 3171-0477 e-mail: arteciencia@xpnet.com.br agradecimentos imprescindivel regisiri-los, pela disponibilidade com que estas pessoas colaboraram conosco: profa, clélia candida de abreu spinardi jubran prof. fernando frei profa. jeane mari sant’ana spera profa, sandra ferreita ©, particularmente, a0 departamento de psicologia evolutiva, social ¢ escolar da faculdade de cigncias ¢ letras de assis, pelo incentivo ea confianga, assis, maio de 1996 ATUACAO DO PSICOLOGO ESCOLAR: ALGUNS DADOS HISTORICOS Elisabeth Gelli Yazlle* A partir da década de 80, talvez por conta do incentivo ofere- cido pela Emenda Calmon, regulamentada, sale 3 o muimero significative de Municfpios do les 5 a aT Cras alert leat de casi oan patlicinaciiode psicdlo- g0 trabalhando com a educacdo infantil, atuando em creches e pré-esco- las, a0 lado de professores e outros profissionais — pedagogos, fonoaudidlogos, recteacionistas, nutricionistas, médicos. Entretanto, este nove mercado que se tem aberto para o psicd- logo tem levado, para as escolas, profissionais que nem sempre fizeram desta area a sua opgao de trabalho e, por conseqiiéncia, nao tém uma ha- bilitacto qualificada ou disponibilidade para seu aperfeicoamento ea sua atualizacdo nos assuntos da educacio, © que se tem observado comumente é uma transpasicao de priticas de consultério para 0 espaco escolar, por parte de profissionais que, efetivamente, tém na area clinica seu maior interesse, atuando ns rea escolar por mera ocasiao ou como uma atividade “de passagem”, Em 1987, Khouri? relatava que 0 atendimento feito por psicé- logos escolares contratados por Prefeituras de alguns municipios do Esta- do de So Paulo vinha se restringindo a treinamentos e orientagoes, com caracterfsticas normativas, dados a pais, professores funciondrios, sobre * Professora Assistente-Doutora junto ao Departamento de Pricologia Evolutiva, Social ¢ Escolar da Faculdade de Cigneias ¢ Letras da UNESP/ASsis (1) Lei que dispe sobre a execugtio do pardgrafo 40, do artigo 176 da Constituigao Federal e dé outras providéncias, “Artigo Jo, -Anualmente a Unido aplicara nunca menos de 13% (ireze por cento) e os Estados, 0 Distrito Federal ¢ 08 Municipios 25% (vinte @ cinco por cento) no minimo, da veceita resulianie de imposios, na fo «no desenvolvi " (2) Khouri, ¥.G. Comunicagio feita na Reunizo Anual da Sociedade de Psicolo- gla de Ribeirdo Preto. aspectos do comportamento como “ansiedade”, “medos” ,“citimes”, “eta- pas do desenvolvimento”, “indisciplina’’ Poucas eram as atividades que se inseriam dentro de um projeto mais amplo, envolvendo questdes institucionais ou aspecios contextuais das escolas. Esta transferéneia simplificada de préticas individualizadas de consultétio para a escola publica nao 6 apenas uma questo técnica, ligada a0 espago onde esti sendo exercida a aco; parece tratar-se muito mais da compreensio que o psicélogo tem sabre os “problemas” que as escolas esto apresentando para este profissional. Trata-se, portanto, da concepeio que o profissional da psicolosia tem sobre a educacko, pont ‘ da de decisées mo atuar nesse cont Bretendemos, aqui, apresentar algumas consideracbes histéri- as uma sucinta meméria- sobre a emergéncia contextual das priticas em psicologia escolar em nossa realidade, de modo a incentivarareflexiio.das puolssianaisacerea de sua atagio.a fim de contribu para que.a0.excr- cer seu trabalho na instituigio escolar, o psieSlogo supers o olhar ingén ue a mera aplicacio as pres reondet que vier a empreender envolvem comprometimento com um conheci- mento historicamente produzido. O estudo de qualquer area do conhecimento, bem como dos modos como 0 mesmo ¢ incorporado pela sociedade e af aplicado, deve evar em conta as relagdes hist6ricas ¢ cpistemolégicas mantidas por esse conlhiecimento com a vida social; ou seja,como e em quais cireunstancias se fundou,como e em quais circunstancias se manteve. Sob pena de manter-se o estudioso no plano do senso comum ¢ daexplicagao ingénua, hé que se examinar os fatos e as circunstancias ‘que determinam e sao determinados por momentos e movimentos da so- ciedade que engendram explicagses tais -e nao outras - para dados fend- menos. As idéias sempre tém uma referéncia contextual: elas no si0 © resultado de “puro esforgo intelectual, de uma elaboragao tedrica objeriva e neutra, de puros conceitos nascidos da observacao cientifi- ca e da especulagao metafisica, sem qualquer lago de dependéncia com as condigées sociais e histéricas” (Patto, 1990, p. 9) No que se refere as priticas exercidas por psicdlogos em in! tituigdeseducacionais no Brasil, pode-se afirmar que as mesmas se ori- ginam, fundamentalmente, a partir de duas vertentes: 0 Movimento da Escola Nova e a Medicina de concepeao higienista. Estas duas vertentes, 13 cada qual com sua histéria na sociedade brasileira, mas que em diversos momentos se entrecruzam, é que irfo plasmando a constituigso de mo- delos — também determinados social e economicamente - de atuaco psi- colégica na instituigio escolar, e dando-Ihes a feigio que a sociedade contemporsinea consagrou. A ctiaciio do Laborat6rio de Psicologia, om 1879.em Leipzig - precedida pelas idéias revoluciondrias contidas na “Orizem das Espéci- es” publicada por Darwin em 1859, ¢ pela cugenia fundada por Galton em sua obra “Hereditary Genius”, em 1869 - apresenta-se como 0 marco que ensejou o estudo do comportamento humang sob a dtica das _fisicas ¢ bioldgicas, desconsiderando os estados subjetives na compre- censio.do homem e suas relacdes, _ Bate Laboratrio surge em uma sociedade que havia realizado me e superado os dogmas da Igreja através do peosamento clenttfic uma sociedade com um capitalismo consolidado, cuja estrutura politica, 1, econdmica e cultural estava assentada nos prinefpios da ideologia liberal. iedade burguesa que emergi volucio Franz ‘cesa- aclasse média ascendente, abastada, possuidora de capital econd- mico, politico ¢ cultural, baseado no racionalismo iluminista - encontra- ‘ya.nas relacbes capitalistas e nos pri alismo meios para legitimar sen padere favorecer suia classe socia}.Ou scja_para.consoli= darumprojeto burgués de sociedade. Esta sociedade se permitia prognosticar 0 equilibrio, a har- monia ¢ © progresso da humanidade se fossem encontrados mecanis: mos adequados para a manutengao de seu modelo econdmico e social, evidentemente assentados nos prinefpios do individualismo, da liber- dade, da igualdade de oportunidades, da propriedade e da seguranga, Nesta perspectiva, a investigaco cientifica se direciona para a busca do conhecimento sobre as formas de adaptacio dos organismos a0 meio c sobre as formas de controle desta relacdo adaptativa, através de métodos cuja objetividade e precisiio pudessem permitir que se es- ‘condessem questes sensiveis - porém nao observaveis - na emergente sociedade de classes que, para o seu pleno desenvolvimento, requeria a ordem e 0 progresso Assim, era necessério que, retirado de suas otigens filos6fi- cas e metafisicas, o homem fosse reduzido acomportamento, enquanto 14 fendmeno passivel de ser estudado em laboratério, sob um enfoque positivista e uma metodologia experimental, visando ao conhecimento de seus padrdes de normalidade, ou seja, seus padres de adaptabilidade a0 meio, © positivismo, enquanto doutrina filoséfica, determinista, pro- punhacomoimé! al servagaoe iicagaio experimen- tal quer possibilidade. sulagio sobre a esséncia dos fendmengs. Sua finalidade iltima seria a formulaeto de leis gerais que o funs 3s dena medida fem que somente a ordem e a sistematizacao trariam 0 progresso do co- nhecimento e, conseqtientemente, da sociedade. Estas leis gerais, perse~ guidas pelo Positivismo, tinham um substrato essencialmente quantitati= vooestatistico, ‘Vemos, entio, que historicamente a psicologia surge sob uma perspectiva de ciéncia descontextualizada, desconsiderando os Geterminantes sociais do fenémeno humano, preocupada com a ordem & as leis e com padrdes gerais de comportamento estabelecidos estatisti- Camente, em comum com a razio instrumental. B, pois, uma psicologia comprometida com a ordem ¢ 0 controle; em suma, comprometida com tum projeto social burgugs © com as regras sociais decorremtes do capita lismo. Por sua vez, a educagao institucionalizada na Franga, atra dos Sistemas Nacionais de Ensino, se constitufa como necessidade ape~ nas das classes dominantes, na medida em que af viam a possibilidade de equalizar os individuos, sem abalar a estrutura social recém construida - mas jé fragilizada pelas contradig6es presentes no proprio modelo. Eesta ‘classe dominante que passa a reivindicar a escola publica, comg redento~ rada humanidade, capaz de oferecer igualdade de oportunidades atodos, independentemente das ¢ socials. O proletariado, recém safdo do campo ¢ introduzido nas cidades, muito mais do que escolaridade, neces~ sitava reorganizar-se internamente para assimilar uma mentalidade urba~ nna que Ihe era desconhecida (trabalho noturno, trabalho de mulheres € criangas nas fabricas, auséncia de protegio de leis, etc.), vindo a consti- tuir-se em um contingente miserdvel na vida das cidades. ‘A sociedade burguesa do século XIX na Europa via, entdo, na educag&o institucionalizada nas escolas a instncia que poderia conereti- zar o ideal da igualdade de oportunidades da sociedade democrética. Em pouco tempo, as contradigées proprias da sociedade que se constitufa se encarregaram de desvelar o poder da educacao em ocul- = =. taras desigualdades; desmistificando-se esse poder, resta apenas o apelo as explicagbes de carater cientilico (positivista/racionalista) da psicolo~ gia, da antropologia, da biologia, que depositarao no individuo, nas suas caracteristicas individuais, a determinagio das diferengas sociais; testes psicolégicos, teorias antropolégicas, frenol6gicas, racistas, passaram a explicar as diferengas individuais, para justificar as sociais. Em outras palavras: a educagio dada pela escola se propunha a oferecer oportunida- des iguais para todos os individuos em uma sociedade democrética: aque- Jes que nao usufrufssem dessas oportunidades estariam revelando de gualdades individuais, determinadas por condigdes pessoais como as de cariter racial, cultural, biol6gico, psicolégico ou outras, ‘Temos, entio, uma psicologia positivista e um modelo liberal de educagio aproximando-se e compondo-se para, juntas, buscarem leis gerais de equalizagio, adaptagio e normatizagi dos individuos; ou seja, uma vez explicadas as diferengas individuais pela psicologia, pela fisio- Jogia, pela antropologia, a educagao liberal - no seu af equalizador - po- deria agora separar os mais dos menos tendo como parametro a média estatistica. A bibliografia disponivel nos indica que a psicologia, enquanto instrumento aplicado as priticas educacionais, se origina justamente no final do século XTX, com oempenho dos educadores e cientistas do com- portamento em classificarem criangas com dificuldades escolares ¢ pro- porem as mesmas métodos especiais de educacio, a fim de ajusté-las aos padres de normalidade definidos pela sociedade. (Os trabathos de Galton, desenvolvidos na Inglaterra na segun- dametade do século XIX, parecem se constituir em importante marco da psicologia ligada a educagao. Galton criou instrumentos que permitiam a mensuracao de di- versos aspectos de aprendizagem: acuidade visual, auditiva, tempo de re- agio ¢ discriminagio. Seu interesse em comprovar a hereditariedade dos talentos levou-o a diversas investigacbes psicolégicas em escolares ingleses. JA no inicio do século XX, em 1904, Alfred Binet e Théophile Simon criaram, por incumbéncia do governo francés, instrumentos para detecgao de criangas escolares que necessitassem de educagao especializada Eno século XIX que ocorre a Independéncia do Brasil. A soci~ ‘edade brasileira, ento, se caracterizava como uma nagio colonizada por 16 uma metrépole que ainda nao se desvencilhara de suas amarras com 0s ideais da Idade Média; uma metrdpole que resistia ao progresso ¢ A moder- nizago da Europa e ao cientificismo que substituira os dogmas da Igreja, Trata-se, enfim, de uma nagto que teve sua cultura forjada pela educacio jesuitica, origindria de uma Igreja que pregava a contra-refor- ma, avessa ao modo de pensar cientifico da renascenca européia.Os edu- cadores que, enviados ao Brasil com missio evangelizadora catequistae domesticadora, patilatinamente foram se responsabilizando pela educa- [40 das elites, Conforme Fernando de Azevedo hunanistas por exceléncia e os maiores de seu tem- Po, concentravam todo seu esforco, do panto de vista intelectual, em desenvolver, em seus discipulos, as ativi- dades lierdrias ¢ académicas, que correspondiam, de resto, aos ideais de‘ homem culro’ ‘ em Portugal, onde, como em toda a peninsula ibérica, se encastelara o es- pirito da Idade Média e a educacdo dominada pelo cle- ro, ndo visava por essa época sendo formar letrados ¢ 10s. O apego ao dogma e & autoridade, & tradigao escoldstica e literéria, 0 desinteresse quase total pela ciéncia e a repugndncia pelas atividades técnicas e ar- tisticas tinham forcosamente que caracterizar na Colé- nia, toda a educagéo modelada pela da Metrépole que se manteve fechada ¢ irredutivel ao espirito critico e de andlise, & pesquisa e & experimentagao e, portanto, a essa ‘mentalidade audaciosa’ que no século XVI desa- brochou para no XVI se firmar; um século de tue para 4 restante Europa e um século de treva para Portugal” (1963, p.561) Economicamente, a estrutura da sociedade brasileira, por oca- sido de sua Independéncia, mantinha caracteristicas coloniais: uma eco- nomia dependente do mereado externo,agririae latifundidria, baseada no trabalho escravo. De modo a partithar do poder, a classe média que emergira no Brasil a partir da vinda da familia real (1808), despossufda de bens, passa a enxergar a educagio formal, superior, o titulo de bacharel, como possi- bilidade de ascensaio social. Configurava-se, assim, uma assimetria historica entre o Bra- sil desejado pelas elites (uma sociedade alinhada com a Europa moderna, - 7 iluminista, liberal, cientffica) com sua realidade social; espethando-se na Europa do século XIX, 9 Brasil mantinha-se social ¢ culturalmente dependente. Ainda como heranga da Coldnia, e como germe para a Re- Publica, a edueagao no Brasil Império organiza-se como um sistema dual, ou seja, a partir de 1834 0 poder central passou a responsabili- zar-se apenas pela educagao superior - formadora das novas elites diti- gentes - passando a responsabilidade da educagio elementar ¢ técnica para as provincias. O ensino médio, preparatério para 0 superior ¢ outor- gando o grau de Bacharel, passou a ser de responsabilidade das institui- Ges religiosas, Fosse responsabilidade do Poder Central, das Provincias ou das Instituigdes religiosas, o ensino brasileiro, durante o Império, carac- terizava-se pelo cardter livresco, pelo cultivo da atengao, pela perseve- tanga nos estudos, pela obediénciae, naturalmente, pela passagem acritica dos contetidos eruditos. Conforme Romanelli, “Foi ela, a educagio dada pelos jesuitas, transformada em educagao de classe, com caracteristicas que tdo bem distinguiam a aristocracia rural brasileira, que atraves- sou todo 0 perfodo colonial e o imperial ¢ atingiu o pe- riodo republicano, sem ter sofrido, em suas bases, qual- quer modificagao estrutural, mesmo quando a demanda social da educacao comegou a aumentar, atingindo as camadas mais baixas da populagao e obrigando a soci- edacle ampliar sua oferta escolar” (1982, p.35) final do Império, com as transformagées sociais e culturais, determinadas em grande parte pelo modelo econdmico, resultando na enor. me afluéncia da mio de obra imigrante (substituindo a mao de obra escra- Ya), no investimento em maquindrias, no aparecimento de industrias, va forjando um outro “homem de elite”, agora com mais estudo, com uma apreensio de mundo mais aproximada do homem europeu. Com a cmergéncia da oligarquia cafeeira, ha terreno para a.ex- pansao do pensamento liberal presente na sociedade burguesa européia que via, na educacio institucionalizada nas escolas ¢ nos conhecimentos cien= \ificos consirufdos a partir do paradigma positivista, as instancias que po deriam coneretizar o prinefpio de igualdade de oportunidades, presente na democracia i em germe na sociedade brasileira do final do Império, Embora diversas obras de erudigio como politica, moral, di- reito, medicina, pedagogia, publicadas na Europa for missiondrios ¢ estu- dliosos que estiveram em terras brasileiras no perfodo colonial e que trata- vam dos costumes e dos modos de comportar-se do indio, do caboclo, a psicologia brasileira - como dea de conhecimento institufdo - parece str- gino contexio educacional da primeira metade do século XIX, perfodo no {qual se destaca a criagio dos primeiros cursos superiotes no Brasil.? Estes primeiros cursos superiores - além da Academia Real da Marinhae a Academia Real Militar - foram os de Medicina e Direito, destinados aos filhos das familias que sustentayam 0 poder e cujaeduca- (qi primériae secundaria havia sido provida por preceptores ou através da freqiiéncia a escolas confessionais. ‘A produgdo de um conhecimento psicoldgic, académic Brasil, originou-se nos trabalhos realizados por médicos nas primeiras faculdades de medicina do Rio de Janeiro ¢ da Bahia evolu pe culagSo filosOfica para a metodologia experimental, por influéneia da- gueles profissionais que, por pertencerem A aristocracia dominante, veram’o privilégio de complementar sua formacio académicae inielee- snl nos cenizos culturais curopeus, entrando, assim, em contato com © ~ pensamento liberal ¢ cientffico da época, Em um valioso trabalho - no qual nos oferece um estudo factual, detalhado sobre a Historia da Psicologia no Brasil, Lourenco Filho (in Azevedo, s.d. p.267) citando as contribuigdes de Plinio Olinto e Anita Cabral, afirma que nas origens desta cigneia em nosso pais S20 encontrados trabalhos cujos fundamentos filoséficos provem de fontes diversas ¢ até mesmo coniradit6rias: psiquiatria, neurologia © medicina social, Neste mesmo trabalho, Lourengo Filho chama a aten- glo para a necessidade de que a psicologia dé 2os seus trabalhos um card ter objetivo, a fim de que se consolide como ciéncia - certamente sob uma ética experimentalista ¢ positivista. “Tomando-se a referéncia que Lourengo Filho faz sobre as fon- tes contraditérias que originaram a psicologia no Brasil, de fato vamos gncontrar, no curso de Sua historia, movimentos de reprodugao alternan- do-se com movimentos de resisténcia aos padres culturais ¢ & manuten- ¢40 do projeto social burgués na sociedade brasileira. aon © Sobre estes trabathos ver Pessoti, |. “Notas para una histévia da Psicologia Brasileira”, in Quem € 0 Psicdlogo Brasileiro? Sto Paulo: Edicon, 1988 ¢ Massimi, M. Histdria da Psicologia Brasileira: da época colonial até 1943. Sio Paulo: EPU, 1990 Conforme Pessoti os primeiros trabathos brasileiros de interesse psi colégico foram teses de conclusito de curso (douto- ramento), nas Faculdades de Medicina da Bahia ¢ do Rio de Janeiro, ainda na primeira metade do séeulo pas- sado” (1975,p-1) Lourenco Filho, na obra referida, cita trabalhos médicos liga dos A psiquiatria, desenvolvidos por profissionais que, na maior parte das vezes, realizaram especializago na Europa, entrando em contato com a psicologia objetiva. Conforme Penna, (1985, p.8) 0 pensamento psicol6zico bra~ sileiro em suas origens - assim como nossa cultura do século XIX - foi profundamente marcado pelas idéias francesas embebidas pelo positivismo comteano. Como ja referimos anteriormente, os primeiros trabalhos da sic volvidos por profissionais da medicina que orjundos de uma elite cconémica, puderam complementar sua for: magi intelectual junto a centros de cultura europeus (prineipalmente na Franga). Assim, a erudigao burguesa, humanistae academicista af veicu- lada conduzia ao estudo dos fendmenos psicolégicos sob a Gtica positivista, enfatizando a observagio direta e a possibilidade de experi- mentagio, E, pois, desta elite intelectual, representada inicialmente pe~ Jos filhos da arisiocracia oligdrquico-rural e, posteriormente, por uma P 2 i : tas, que E ; mdpeenitearizes h aocictae a i fe és rendo como pano de fundlo 0 idedrio liberal intercambiante com o cientificismo positivista, O modo liberal democratico de pensar a sociedade compreen- dia que a educagio dada pela escola, aberta a todos os segmentos, ofere- condo oportunidades iguais para todos os individuos, no nove modelo econdmico que aos pouces ia se implantando no Brasil, ampliando as “diferencas sociais, poderia minimizar os efeitos dos movimentos popu lares que jé sinalizavam para a Repdblica Embora desde 1890, por conta da Reforma Benjamin Constant, 0 conhecimento psicol6gico ja tivesse sido posto em conta- to com a educacio e a pedagogia nos curriculos das Escolas Normais, € ‘em 1906 que surge, no Rio de Janeiro, o Laboratgrio de Pedagogia Ex- perimental, junto ao Pedagogium, sob a diregdo de Manoel Bonfim, ¢ conforme um planejamento claborado por Binet, em Paris A idgia de se fundar o Pedagogium surgira em 1882, como “Parecer do Projeto de Ensino Primério” de autoria do deputado Rui Bar- bosa. No entanto, este érgio somente foi criado, por decreto, em 1890, visando ser 0 “centro propulsor das reformas e methoramentos de que carecesse a educagao nacional”, embora esse cardter nacional the te nha sido subtrafdo pela politica descentralizadora da Constituigdo repu- blicana de 1891 (Penna, 1988,p. 7) As atividades iniciais e restritas do Pedagogium enquanto Museu foram ampliadas a partir da nomeago, em 1897, de José Joa- quim Medeiros ¢ Albuquerque, como Ditetor da Instrugao Publica do Distrito Federal (Rio de Janciro). Transformou-se, entdo, em um centro Transformou-se, ento, em um centro. de-cultura superior, aberto ao piiblico. Manoel Bonfim era um médico sergipano, autodidata, que re alizou trabalhos nas éreas de Histéria, Pedagogia ¢ Psicologia, reje tando energicamente as teses racistas presentes, & época, na produ: gio cientifica brasileira, baseadas em trabalhos da biologia eda antropo- logiae defendidas por Nina Rodrigues, Tobias Barreto e Oliveira Viana (Penna, 1986, p. 13). Este médico também revelou, em seus trabalhos, seu desencanto com as limitagSes e a insuficiéncia da psicologia de las boratério para a compreensio do pensamento, Embora sob a influéncia dos movimentos psicoldgicos inter- nacionais baseados em explicagies fisioldgicas, biolGgicas e fisicas para © comportamento humano, jé se observa, com Manoel Bonfim, tentativas de compreender a edueagio ¢ os processos de aprendizagem sob um enfeque que inelufa aspectos de cunho socioluico, permitinds, dessa tor, mia. que se abrissem pequenas - porém significativas - fendas no conser vadorismo educacional e cultural brasileiros, Em 1914, em So Paulo - jé um importante centro urbano com ma economia industrial manufatureira em desenvolvimento desde a vi rada do século - organiza-se um niicleo de estudos ligados & psicologia pedagégica sob a coordenagio do italiano Ugo Pizzoli, que chegara a0 Brasil no ano anterior ¢ fora convidado por Oscar Thompson (Diretor da Escola Normal de So Paulo), para ali criar o Laboratorio de Pedagogia Experimental, permanecendo por dez anos. Pizzoli foi substitufdo, em 1925, por Lourengo Filho, que assumiu a cétedra de Psicologia da Esco- la Normal de Sao Paulo. Na Escola Normal de $30 Paulo (a “Escola Normal da Praga da Repiblica” denominada, posteriormente, Instituto Caetano de Cam- os), Lourengo Filho realizou ¢ orientou pesquisas experimentais, bem como introduziu obras de Claparéde, Binnet-Simon, Durkheim, Dewey. representantes do pensamento cientifico e liberal da época - jé eriando espagos para a introdugio das préticas escolanovistas no Brasil ~e a pos- tetior (1931) criagio do Servigo de Psicologia Aplicada, juntamente com a psicdloga Noemy da Silveira Rudolfer, } Através de seus trabalhos cientificos, técnicos e administrati- vos, Lourenco Filho foi um dos mais influentes psicslogos ¢ educadores brasileiros da primeira metade e parte da segunda metade do século XX, marcando a presenga de suas idéias em diferentes momentos da cultura brasileira . Com formagao basica no magistério primario e secundério ¢ devido ds suas posigdes pedagégicas inovadoras - porém de nitida depen- déncia cultural norte americana - Lourenco Filho participou, durante cadas. de diversos movimentos importantes da educagao brasileira, dis- seminando em nossa realidade os prineipios do que considerava uma edu sai cientifica c ocupando diversos cargos de destaque no sistema edu- gacional: em 1922, por solicitagio do governo do Ceara, foi para aquele estado para organizar o ensino puiblico; em 1930, foi nomeado Diretor Geral do. Ensino do Estado de Sio Paulo; em 1947, tornou-se Diretor Geral do Departamento Nacional de Educagio, onde plancjou e dirigiu Campanha Nacional de Educagio de Adultos. Em 1962, presidi a Co- isso que instituiu o ensino de psicologia como curso superior autono- mo, destinado a formagao de psicdlogos em suas virias dreas de atuacio. Em Pernambuco, em 1918.0 médica Ulisses Pernambucana de Mello Sobrinho apresentou sua tese para ingresso na Escola Normal de Re- Gife, sobre “Classificagio de Criangas Anormais”, na qual salientava a neces- sidade da edueaciio dos deficientes mentais, iniciando, assim, uma campanha bara assisténcia as criangas excepcionais, A qual, mais tarde, se engujatia a Psicdloga e educadora Helena Antipoff, chegada ao Brasil em 1929. Este médico, que se revelow um vocacionado educador e psi= e6logo social’, em 1923, como Diretor da Escola Normal Oficial de Re- cife, pos em execugio uma reforma pedagogica, entZo revolucionéria, utilizando modemnas técnicas de ensino, aplicando testes de aptidao, subs- ——— eee (4) conforme depoimentos que aparecem no Ciclo de Estudos sobre Ulisses Pemambucano, Recife, 1978, publicado pela Academia Pemambucanace Medicina tituindo os critérios de idade cronolégica pelos de idade mental e im- plantando incentivos e beneficios para alunos e professores: caixa esco- Jar, assisténcia dentaria, servigos de visitadoras escolares e merenda. Durante sua gestio como diretor da Escola Normal Oficial, criou, em 1925, aescola para anormais, ligada ao Curso de Aplicagio, a fim de proporcionar formagao as futuras professoras. Porém, desde 1924 Ulisses Pernambucano vinha respondendo pela disciplina de psico- logia, da Escola Normal, oferecendo conhecimentos de psicopedagogia &s alunas normalistas. Ainda em 1935, criou o Instituto de Psicologia de Recife que, entio, passou a cuidar da formacio e especializaciio de edu- cadores. Como Diretor do Hospital de Alienados ¢ com a promogao da reforma da Assisténcia a Psicopatas, Ulises Pernambucano anexou 0 Instituto de Psicologia ao Servigo de Higiene Mental As preocupagdes educacionais e sociais de Ulisses Pernambucano podem ser avaliadas também pelas providéncias toma- das como diretor do Hospital de Alienados: destruigdo de calabougos, suspensio do uso de camisas de forga, criagdo do servigo aberto (ex- tinto, sem justificativas, em 1970), utilizagio de testes medidas psi- colégicas como instrumentos auxiliares nos diagnésticos psiquid- ricos, criagao de sistema de iniernato académico para estudantes de medicina; e, através do Servigo de Higiene Mental, pdde suspender a in- terferéncia da policia sobre os cultos afro-brasileiros. Suas posigdes avangadas como educador ¢ psiquiatra, suas pre- ocupagées sociais com as populagdes carentes ¢ marginalizadas ¢ com a formago integral dos universitérios, levaram-no a sofrer um processo de perseguigho politica, a partir de 1935, sendo em seguida aposentado “abem do servigo ptiblico”. De acordo com Moysés (1992, p. 34) é também em 1918 que © coneeito de lesfio cerebral minima comega a ser divulgado, nos Esta- dos Unidos, pelo neurologista Strauss, atribuindo a esta patologia orga- nica alguns disturbios de comportamento ¢ de aprendizagem . Procurando resgatar aspectos da meméria da psicologia bra- sileira e suas relagdes com a educagao, cabe, ainda, mencionar os traba- Thos desenvolvidos pelo psicdlogo polonés Waclaw Radecki. Colaborador de Claparéde na Universidade de Genebra, Radecki foi contratado em 1924 para chefiar 0 Laboratério de Psicolo- «gia da Colonia de Psicopatas, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Esta 10s: 0 de profilaxia das doengas men- Colonia prestava dois tipos de ser\ ‘esse que mantinha tais © nervosas e 0 de formacao de Enfermagem, curs uma Cadeira de Psicologia. Embora de formagio experimentalista européia, Radecki criow equines de trabalho muliidiscipliner, incluindo pedagogos, professores. psi é , a e Z i : porou.o Institute de Psicologia. E possfvel verificar-se, subjazendo as relagGes mantidas, no curso de sua hist6ria, entre a psicologia e a educagho brasileiras, uma forte presenga dos modelos biolégico e fisico de ciéneis, predominan- tes na medicina, Veja-se, por exemplo, que na maioria das instituigSes ‘educacionais havia a preocupagao de se criarem laborat6rios de psicolo- tia para o estudo de aspectos do comportamento (aprendizagem, mem6- fia, percepgio, acuidade visual e auditiva, etc.) ¢ se buscarem patologias borgdnicas para explicar os desvios ou desajustes. Sto timidas as preocu- pagdes com o estudo do comportamento humano em uma perspectiva global e contextualizada No Brasil, ainfluéncia da medicina sobre a psicologia ainda se fez sentir durante longo tempo, mesmo apés a criag3o do primeiro Grezio autGnomo de psicologia - Liga Brasileira de Hiigiene Mental -no Rio de Janciro, por volta de 1922, com forte inspiragio psicanalttica ‘io se pode deixar de mencionar que essa presenga da medici- natambém estava ligada ao Movimento de Higiene Mental que, iniciado hos primérdios do século XX - e intensificado aps # Segunda Guerra Mondial - via a escola e outras instituigoes de atendimento 3 infancia como espagos para se prevenir desajustes e conduzir a comportamentos adapta- Gos socialmente, em uma perspectiva diagndstica, clinica ¢ individualiza- ds, evidentemente utilizando-se do instrumental psicol6gico desenvolvido anteriormente e aperfeigoado a partir das técnicas psicanaliticas e dos con- ceitos de psicopatologia introduzides pela psiquiatria. ‘Assim sendo, alm da peocupacKo com os escolares que apre=- sentayam dificuldades de aprendizage itsintelecmais, Gar outro Angulo do comportamento passou a chamar a aten¢Ao dos psi- cdlogos ¢ educadores: as perturbagées emocionais refletindo-se na. escolarizagdo de criangas e adolescentes. Para tanto, sem divida, contri- buiram as idéias da teoria psicanalitica que ampliaram a compreensio dos desajustes emocionais e dos seus recursos terapéuticos. Mesmo como surgimento da psicandlise, 0 estudo das doen- Ses emocionais era feito 3 luz dos padrdes de notmalidade e adaptagao a Sociedade da época, padrdes estes estabelecidos por uma sociedade ane, (critica, rural, que enirava para a fase de industrializagdo brasileira, en. aeaeepreieto social de modemizagao. Cabe lembrar que os proprios Gatglidos ministrados nos varios niveis de escolaridade, nas primeires culo XX, sendo basicamente humanistas e voltados ao gnciclopedismo, transmitiam a burguesia industrial emergente os modes e-conduta e os valores das geragdes aristocréticas que aantecederaa Contudo, hd que se terem mente que é também neste perfodo 26s Primeira Guerra que idéias revolucionguiag vindas com aimigracio surepéia,_passam a _questionar os padres culturais, artiations comportamentais brasileiros até entdo estabelecidos, Foi também o Movimento de Higiene Mental que popularizou 1c olbsi8 aplicada \ educagio e nko foram poucos os manuais ditigi, dos a pais, professores, odo p6s-Segunda Guerra, Sologia normatizadora, ’s dificuldades comumente encontradas nacen, colas, nos lares ¢ nos consultérios médicos, banalizando, assim: conker cimentos construidos logicos sobre individuos abstratos. A influéncia da psicandlise manteve-se, ainda, bastante pre- de psicologia clinica e psico- logia educacional, médico de atuacio (diagndsti- £0 € prescrigao), com énfase no atendimento individual Nesse sentido, no Brasil, tomamos como exemplo os traha pros de Psicologia aplicada desenvolvidos no Instituto de Hygiene de Seo Paulo, apartir de 1926, que resultaram no Servigo de Inspeete Médinne Escolar dando origem, em 1938, a0 Servigo de Satide Escolar e, ai, a Serio de Higiene Mental, coordenada pelo Dr. Durval Marvondes Nessa Segio, o Dr. Marcondes orientava e coordenava equi« pes multidisciplinares, formadas por médicos, psiquiatras, educadoves, Neurologistas © especialistas em psicologia, conforme modelo das ame. ricanas Child Guidance cases-problema” encaminhados pelas escolas pablicas. Este atendimem, baseado no modelo médico inspirado no Movimento de Sattde Mental, além do tratamento dos escolares previa também oricntagao i faraitiy og escola, tendo, entretanto, como foco o aprendiz, Clinics, que se ocupavam do atendimento aos | a 2 Préprio do idedrio do Estado Novo, era necessario que as con- digbes de satide da populagio fossem methoradas de modo que-novas Seracdes saudivels fossem desenvolvendo-se como futinas forsas pro. dutivas da sistema, A Segdlo de Higiene Mental Escolar tinha como atribuigdes prevenir, nos individuos predispostos, as futuras psicopatias, pela correeao oportuna dos vicios de tem. peramento e dos distirbios nervosos da crianga esco. lar; « organizar assisténcia médico pedagégica aos deficien- tes mentais, de modo a assegurar-Ihes unta aprendica, em proveitosa e consegiiente elevacao de seu rendimen. 10 social; ': orientar as autoridades ¢ técnicos do ensino, médicos "e demais pessoas interessadas, quanto as necessidades ‘que possam contribuir para a saiide mental presente ¢ futura do escolar; » realizar pesquisas sobre os fatores psicopatogtnicos que atuam no pertodo infantil do desenvolvimento individual ¢ sobre os meios mais adequados de combaté-los: Proporcionar ensino tedrico e prdtico da higiene men- tal da crianga, para habilitagao e aperfeigoamento de Wenicos especializados” (Lima, 1985, p. 143) Como ja mencionamos, em 1931, havia sido organizado pela Psiedloga Noemy da Silveira Rudolfer, em Sdo Paulo, o Servico de Pei, Fees Aplicada, como devorréncia do trabalho iniciado por Lourengo Filho no Laboratério de Pedagogia Experimental. Este Servigo, além le Seu trabalho junto 20s Grupos Escolares da capital de Sao Paulo, eriou GUesos ce aperfeioamento, incluindo disciplinas como biologiac soci, Clogia. Nestes cursos, o desiaque metodolsgico era dado segundo os wa, balhos de Pavlov, Watson e Thorndike, Estes primeios trabalhos de atendimento psicolégico, mesmo 0s igados Resfera educacional, também eram tealizados (ou orientados) or médicos, e a Gnfase na abordagem cra colocada nos desvios de conduta | &n0s estudos experimentais dos processos cognitivos, perceptivos, sen. | soriais. Era forte a influéncia dos trabathos experimentais realizados em | Qutros patses e freqiiente o emprego de testes pricameérionne psicofisicos, (6) Assim eram denominadas as escolas publicas de ensino de la. a 4a, séries ie eS ‘que, provavelmente, hes conferia status cientifico, com 0 predominio de procedimentos de quantifieagéo, mensuraco e controle. Historicamente, é na década de vinte que o Brasil se expande industriatmente, intensificando 0 mercado interno ¢ acompanhando o tnodelo eapitalista internacional. Evidentemente, esse movimento inclufs onteredmbio nao apenas da produgio industrial, mas também de valores ¢ idéias que serviriam de base para um modelo democratico de organiza: {go social e politica. ‘A expansio industrial desse perfodo comega a atrair para os contros urbanos, fabris, um razodvel contingente humano formado pelo lemento rural, despreparado para o exercfcio das novas formas de com portamento exigidos no trabalho, basicamente disciplina.e 0 estabeleck inento de novas relagdes com o tempo o dinheiro. Estes fatos, além de outras circunstincias sociais ¢ politicas, passam a pressionar a educagio para que esta qualifique a mio de obra necessdria para o novo mercado que se abre. Diante dessas contingéneias, fazia-se necessério que o siste- sma se abrisse e expandisse para abrigar as massas populares que careci- dim das competéncias mfnimas e de habilidades profissionais para se man ter como mio de obra. Ao processo de industrializagao interessava essa (qualificagao até mesmo como estratégia de controle, em uma perspecti vataylorista de administragao cientifica. 21 ee Com este cendrio, o Movimento da Escola Nova foi introdu- zido no Brasil por Lourengo Filho ¢ Anisio Teixeira, trazendo em seu bojo os ideais demoeréticos norte-americanos ea missio da edueagio na ares de tais ideais, conforme propunha o fildsofo c educador John dewey. Fundamentalmente, 0 ¢gcolanovismo baseava-se no mito da jgualdade de oportunidades, no papel da educagio em oferecer condi- gBes para que cada individuo na sociedade pudesse desenvolver suas potencialidades, beneficiando, assim, a harmonia dessa sociedade, neu- tralizando eventuais desordens. lest rerspectiva, era necessirio que o Estado financiasse uma jade, planejada cientificamente, obrigatéria pars edu zagio decada individuo, particular, com sua historia gonétic: ‘Tais preocupagdes da Escola Nova encontram na psicologia, através do movimentos dos testes psicolégicos, dos conceitos de inteli- g€ncia, maturidade, prontiddo, de uma nova concepedo de inFancia, ele- jnentos auxiliares para a consecugio de uma educagiio cientifiea que, explicando psicologicamente as diferengas individuals, escamoteava as desigualdades sociais. Eneste contexto que surge ~ 20 Jado das priticas psicolégicas |iédescritas anteriormente-em 1924, Associaco Brasileira de Educacio, __,. comaparticipacio de Lour ‘Acesse tempo, surgem movimentos popula cteristi- 6 que SF aaa as Tisias. movimentos culturais revoluciondrios (Semana de Arte oe : casnacionali postas democratizantes do movimento escolanovisis. Moderna, 1922). movimentos reivindicat6rios¢ grevistas, o tenentisme 1 letiam tanto énein_da_populaciio-

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