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Anilise de Contetido ‘Maria Laura Puglisi Barbosa Franco (Peeps da Fundagio Carls Chagas «Profesona da PUC/SP) Brasilia — 2003 Prot Roberto Tadeu lochite Deparamaro ie EcacanFisca Copyright © 2003 Plano Ealtora Lid BE proibida a reprodusio total on patil desta pubic so, por qunisquer meios, sem autorizagio prévi, por serio, da editor, Asswsoia Editrial Walter Garcia Caondenasio de Série Bemandete A. Gatti Capa, Reina, Projo Gris ¢ Diggramas: DPE. Studio ~ dperevisiterra.com.hr Inpro ¢ Aabementa Editora Grifica Ipiranga Dados Intcrnaionis de Calogago na Pubiagio ~CIP/Baasi Franco, Maria Laura Puglisi Barbosa, F825 Anilise de conteiido / Maria Laura Puglisi Barbosa Franco, ~ Brasilia : Plano Editosa, 2003, 2p. ISBN: 85-85946-75-X 1. Anilise de conteiido, 2. Anilise contextual. Titulo. eu 3701285 Impresso no Bras “ads on dros reteradon & Plan Hora Lela, conforme a Lei n° 9.610, de 19/02/1998. SIA waco 4 ote 200, sla 21 CEP 71200440 Basia DE “eee: (61) 361-1384 am E-maik: planoeditora@eerra.com br SUMARIO INTRODUGAO. a CAPETLLOT % 8 Algumasidéia sobre as Bases tedrieas da Analise de Contes caprruLo2. Caracteristicas definidrss Apolémica comeido manifesto versus conto atente 73 ‘© conecto deinfeéncia a nat cAPITULOS: Oscampos da Anilise de Conteiido © delineamento de um plano de pessisa capirulos ‘As Unidades de Anilize As unidades de resto, ‘Asunidades de contesto CAPETULOS: CAPITULO ‘As Categorias de Anilise (Categorias ctiad api on 2 Categotins mio defini wri Fnyplieages deambas opgoes zi Princpsisrquistos pars acing de categoria 2 CAPITULO 7 vn ot [Um Exemplo da utlizagao da Anise de Contesdo na realizagio de uma Pesquisa em Edveagl0 arson 6 A pesquisa seus objet¥08 a) (Os procedimento, a pré-anilise ea crag de emteporiag nn 62 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS | INTRODUCAG. ‘A preocupacio com « Anilise do Contedido das mensagens, dos enunciados do diseurso e das informa- ‘gbes € muito mais antiga do que a reflesdo cieniiea que se ocupa da formalizagio de seus pressupostos epistemoldgicos, tessicos e de seus procedimenros, ‘operacionas, A definigio dos simbolos, sinais ¢ “mensagens de ‘Deus, area primeira rentativa de responder i questio. o que esta mensaigem signifiea?”, que reve como fo00 a cexegese dos textos biblicos para que fosse possivel eam preender e inexpretar as metiforas e as paribolss Par além desta mantra de interpetar as mensayens comtdas nos textos, eu tradi € longing, a rcigio testa alguns cass, geainene isolads, em que aan sedo conteido dis mensagens ou dos enunciados ver bais pode ser conskdrida inadequada. Por excmplo: a pesquisa telzada na Suéca, por volta de 1640, sobee os hinos reliosos, com o objetivo de saber se exteshios, em nimnto de noventa, podcast efitosasfastos aos Lanterns, foi sfennda uma andlise dos difrentes temas religiosos, dos valores neler embutidos, sobre sas mo- dalidades de apargio, bm como sobre usa complesda- de tngistiea Barin,97, pd). E certo que tis com- ponents no deisam de ser importantes pando se fala do contelo das mensagens ou dos enuncados expres tos por um grupo particular, No entanto, ser se eck hinge “poderiam ter efeitos nos Lateranos” estamos adentand em uma nova dimensio ds andlise dos con- Mois Lara Pi Barks Fre tevidos das mensagens, que se localiza no impacto social ‘que esti dirctamente vineulado a uma orientagio para a cio, Dai os procedimentos deveriam ser mais seetivos © ‘melhor phancjados e mais adequadamente direcionados! Mais recentemente, mas ainda no século dezenove, 0 Francés Bourbom (1888-1892) tentou captar a expresso das emoges e das tendéncias da linguagem, Puen i80, trabalhou sobre uma parte da Biblia, o Exodo, de uma rmancirarigorosa, valendo-se, inclusive, de uma cl «io tematica e de sua respectiva quantificasio. Estava, enti, aberto 0 campo da sistematizagto da anilise do conteido das mensagens, de seus enunciados, dle seus locutores € de seus interloeutores. Dentre as ma- nifestagdes do comportamento humano, a expresso ver bal, seus enuinciados ¢ suas mensagens, passim a ser vis tos como indicadores indispensiveis para a compreensio, los problemas ligados is priticas edueativase a seus com. pponentes psicossocins, Surge, inicilmente, a Anilise de Conteddo em urna perspoctiva de sondagem de opinides colhidas, de acor «do com os teércos da époea, a partir de experimentos muito bem planejados na tentativa de serem os mais ob- jetivos possives ede sofistieados procedimentos de cole- ta, Todavia, como era de se esperar, esas sondagens de pinides, que foram divulgadas pela imprensa e, princi palmente, direcionadas aos fatos relatives & 1" Guerea ‘Mundial, redundaram em anilises predominantemente descritvas sem que os fundamentais recursos anaiticos & Interpretativos fossem ineorporados, Por volta de 1930, uma nova pressio se exerce So- bre os estudiosos em metodologia de anise de contet: do; por um lado, devido a0 progresso das formas de ANALISEDECONTEODO documentago e, por outro lado, devido 20 desenvolvi= mento da lingistiea apicad [Apesar de uma considerivel quantidade de traba thos sobre o tema, a Anilise de Contetido mostou-se, © ‘mosera-se ainda hoje, envolta em muita comrovérsia Em 1981, Serge Moscoviel tentou explicar os fun: damentos desta controvérsia, Dizia ele, “aw dor maiores problema ide, jusament, no fata de que os nto de anit de toned ve situa ma ecrilbada entre ingstas ea Priclagia Savi. Excat das dsplinas, ew vendade, se io as eas. a8 ‘nites a rend, com toda ri opis astm o finguagem come nm conjunte de indcadors de fenimenos no- ‘ings. A Poca Seal se intadg amodamente no caanpo he sigan, Riga mio dip de uma teria da coma fa No entant, na mia om gre a anise de conte intrsia pela lngugem, os lngietasrvinlcam o exclude do frit vio" (Moscoviei, 1981, p. 172). Nio pretendemos entrar no Ambito dessa proble tia, o que nos levara a diseutieo conflto entre ings tase psiodlogos. No entanto,a este respeito, cabe sinalizar uum breve comentirio, Aparentemente, a lingiistica © a anilise de conteido tém o mesmo objeto: 2 linguagem. Em verdade, porém, a distingio fundamental proposta por K de Saussure, que fundou a lingistca, entre fina © aleera, marca a diferenca: “O obj da lng Sings, quer dizer, 0 cspeta colt etna danagin, enguanto ie 0 dt anise de contd é. alae, ito asp individ atl (em as) da figs. A lngttin tab con nna nga feb rica, encara como wm conta de ssemar gue antriza combi- opis subttige reulamentadas por elementos fides... sen el resus indpendentments do sentido, semintc, desis de famconamento da lingua, ora ali das varias invasion ses tratadae pele psn n soi. Plo contro, a anise de cone trabatba a palera, quer dizer, «a pritica da Sng raligada por enisiors identifies. A ki ica sud alga para decree se fancionarent. A anise de Re Mass Lars Pg Beis Fa ANALISE DECONTEUDO + apliie da andite de contedo a nm ete ais pla de problema, especiabuentediguelsreativs ans ntseentre hts da comanicasi, das etugens sds + so scent para tester bps em spi a ps sat meramentedesotins; canted procra combceraguils que est por te das pears re a quate sedebraza” PEcheux, p. 3). ‘Gonho fi dovoms, aio vamos wprotuncr cae de tut, uma vez que o objetivo deste lo € ofrecer um tmattal didi e pritice para que pesquisadores em celvcagio possam se orient no estado da comunicagio cal, setae Bigurativa, bom como nas tarts de dese. + maior esi no qu feo tii eo Gio, anne interpetacto as mensagens/enuncados Suda emits por diferentes indivklvos on grupos. sso em onto om ns ii pss + ilo de campuiniors para aise de nti, Alémn disso, pretendemos ampliar a discussio acerca princpalmente mediante 0 recurso a programas dda Anise de Comtesdo Tevando em conta suas bases te Grieas e metodoldgieas, a complesidade de sua manifes- ‘amptacionas tagio que envolve a interagio entre interlocutor ¢ locutor, © contesto social de sua producto, « influéacia manipu- ladora, idcoldgica ¢ idealizada presentes em mutas men- sagens, 0s impactos que provacam, 0s efeitos que orien tam diferentes comportamentos e ages © as condigies histieas, socais, mutiveis que inflaenciam erengas, eon ceitos e representagces sociais elaboradas ¢ eransmitidas, via mensagens,diseursos ¢ enunciados Finalmente, é preciso levar em conta que os usos ini Cais da analise de conteido estiveram limitados, princi- palmente, a andlses de dados “naturais” ou “dispontveis” = isto é, dados que existem sem qualquer partcipagio ativa do investigador, como, por exemplo, jornais, livros, ‘documentos ofciais € documentos pessoais, Dados esses {que se colocam no tipo de andlise documental Cada vez mais, porém, «anilise de conteido passou ser utilizada para produzir inferéncias acerca de dados verbais e/ou simbolicas, mas, obtidos a parti de per- untas © observagbes de interesse de um determinado Desquisador. Observa se, entio: + so resected wilco de amie de conte + cnsente interes por gusto erica mete; 10 ANALISEDECONTIDO CAPITULO 1 ALGUMAS IDEIAS SOBRE AS BASES TEORICAS DA ANALISE DE CONTEUDO ‘© ponto de partida da Anilise dle Contetido & ‘sagem, scja el verbal (oral ou esevta),gestual,slenciosa, Figurativa, documental ou diretamente provocada. Ne- cessariamente, cl expressa um significado © um sentido. Sentido que mio pode ser considerado um ato isolado, pois, “or dren moda pelos quais 0 yet se iscree no texto cresponden a dijeentes reprsetaes qe Sow des est sme sajito cd contra gue te dos process dcusoes tetas com (ge 8 land quando fala ox exerene™ Naxkotta, 2002). [Alem disso, torna-se indispensivel considera que a relagio que vincula a emissio das mensagens (que podem ser uma palavra, um texto, um enunciado ow até mesmo um discurso)! estio, necessariamente, vinculadas 8s con- diodes contestuais de seus produtores Condligdes contextuais que envolvem a evolugio his- t6rica da humanidade; as situagées econdmicas € socioculturais nas quais 0s emissores estio inseridos, 0 avesso aos cdigas lngiisticos, o grau de comperéncia para saber decodifici-os, o que resulta em expres verbais (ou mensagens) eartegadas de components cognitvos,afetivos, valorativos¢ historicamente mutiveis. {Sime pce aguas de or des 13 Marie Lay Pag Barbs Fae ‘Sem contar com os componentes ideoldgicos impreyna dos nas mensagens socialmente construids, vin objtinao do diseurso, mas com a possibilidade de serem ultrapas- sadas ou “desconstruidas”, mediante umn processo tebar hoso (mas, nio impossive) e dialétien, tendo em vista a explicitagio do processo de anvoragen ¢ estabelecendo, como meta final © Deseavolvimento da Consciéncia Neste sentido, a Anise de Conteido assent-se nos pressupostos de ums conexpeio exten e dininica da in- sagem. Linguager, ag entendida, come uma constr «fo real de toda 2 sociedade e como expressio da exis téncia humana que, em diferentes momentos histrieos, labora e desenvolve representagBes soesis no dina smo interaional que se estabelece entre Heguagem, pets mento © agio. Pressupostos, estes, que se afastam de uma eoneep- so forwalista da linguagem no Dojo da qual se atibui uum valor exagerado ar palamas (hem como i associagion ‘nite eas) negligenciando muitos aspectos servations que somente 0s pesquisadores criativos, informados, compe- tentes ¢ devidamente esclarecidos posdem ser capazes de analisare inerpretar as mensagens (explicit ou latentes), evidentemente levando em conta toda a complexidade que acompanha esse processo. Assim, concordamos com Mucchieli quando nos alerta “Na hngistice raiionl a condenazi de todo meso ao semi dat mersages evn a palaoa come we dos components ‘nulipensois para oto aldo rigor cee em rela dee rin das etrataras a Hing (Misccel, 1977, p26). To claviaasemntia, assim excluida, éjuseamente o plo eoti- iano da anilise de conte, Semantics, aqui entendida io apenas como o estado da lingua, em geral, mas, como 1 busca deseritiva, analitiea e interpretativa do sentido {que um jndividuo (ou diferentes grupos) atrbuem as men- sagens verbais ou simbicas. 14 ANALISE DECONTHODO, © significado de um objeto pode ser absorvide, ccomprecndido ¢ generalizado a partir de suas caaeterst cas definidoras e pelo seu corpus de significa. tido implica a atribuigio de um significado pessoal € ‘objetivado, que se coneeetiza na pritica sociale que se manifesta a partir das Representagies Socias, cognitivas, valorativas eemocionas, ecessasiamente contextualizadas or exeinplo, a palavea “vro” assume um determi- ado sentido por patte de kitores alfabetizados e impli- a, igualmente, graduagdes de sencdo diferencias entre 1s letores,cligamos, “eruditos” e os keitores “comuns”. Jé quando transportada para idividuos ow grupos 1 Aalfabetizados, a mesma palavey, “livro”, pode até ser com precadida mediante o mesmo significado que Ihe € atsi- Duido universalmente, porém seu sentido assume uma conotscio diferenciada entre os alfabetizados € 08 nii0- alfabedizadios’ Reiterando, diramos que essa caractesstiea elimina, laramente niles nas quais apenas os materia que api «em as hipéteses do investigador sejam admitidos eomo cevidéncias. Todos os enunciadas que suportem a tese da 2 Fu gon de wrote “nlite on vex de anal” cunts» rence ete ete opie conga, Come im pares po otc em ts de rape, quero mtr oe Drovoceguo gue, em gem ago aor evs alos undo extamot ncuindo os conecior de Repreenrgie Soca, Idelogi © Desemvelviment da Comsclnca Peygenty "Qual és coro de fMfabaeados? Quine que, ineaavelent, surge a rerporta lab Onc ete Mo agen com ot 0 ‘te er oe mata im veda © gor ext € scone ‘ens qu 20 eapra nop de wind Ov ep eo {esti (por pe) dc de scr afta de sabe ‘he partn polo oto e+ cota intra da tote, mo ‘vemos dena dering cre "aalaets" mats ‘owe “hoalfibesia” Une vr aes, por cones ise, owiehe pede de come {Cpr ann da tlds pence goo dacs que mbm et gus sm divi so a pen esete a an “0 15 ‘Mai aa rg ris Frm desigualdade devem set analisados, mesmo que ‘cortoborativos de teses contritias Algan disso, anilse de eonteido requer que as desco betas tenham relevinciate6riea. Uma informagao pure mente deseritiva no eelacionada a outros atrbutos ou caracteristicas do emissor & de pequeno valor, Um dado sobre o contetdo de uma mensagem deve, necesatiamente,, cesar relacionado, no minimo, a outro dado. O lame entre ‘este tipo de relagio deve ser representado por alguma for ma de teoria, Assim, toda a anilise de contetido, implica ‘comparages contextuais. Os tipos de comparagdes po- dem ser mulkivariados. Mas, devem, obsigatoriamente, ser irecionados a parte da sensibilidade, da intencionaldade ©

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