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A trilha do escuro

Abri a janela e vi um ser diferente l fora. Tinha uma fita amarela em


volta de sua cabea, um par de brincos pendendo no vento do vero e um
sorriso sincero. No ousei perguntar de onde havia vindo, mas no era to
difcil de adivinhar, j que com aquele sotaque to carregado, no podia ser
de outra localidade, seno daqui de dentro. Parecia-se tanto comigo, porm
era to completo de si. Como pude deixar aquilo sair novamente? Em uma
das mos segurava um cigarro do qual uma fumaa espessa e seca emanava
irrequieta pelo jardim. Foi quando se aproximou de mim:
- Entre flores belas, trago-te uma semente. A preguia, confesso,
embora carregue certa animosidade, no me convence na maioria dos casos.
Assim, por ti vou assistir ao espetculo da vida por dois ou trs anos. Depois,
podemos enterrar junto sombra desse gigante que aqui jaz dormente, um
cachorro ou qualquer bicho que venha a morar conosco. O que acha da
idia?
Realmente soava maravilhosa a bendita proposta. Mas no! Acabara de
conhecer tal criatura e j me encontrava em total espiral de sentimentos?
Caleidoscopicamente, a luz queria falar alguma coisa. No sei, mas ela
sussurrou em meus ouvidos. Disse a mim:
- o fim, enfim.
Firmando meus ps numa areia to fina que fui capaz de sentir cada gro em
suas unidades, segui a figura por um caminho ngreme e tortuoso. A
sensao era de aflio. Claustrofobia. E se todos os elevadores por revolta
no mais descessem? Ficariam nossas almas para sempre elevadas? Ou se
todas as histrias que conhecemos no tivessem um fim to presunoso? E
se no existissem pontos de interrogao, seriam nossas vidas cheias de
certezas?

Prefiro no entender. Sou mais feliz quando no me conheo...

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