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oS ce imteresse é@a Pelf her me Helton Reginaldo Presto Santana the terran elm mayb aeons fr polite! ered ethers Te pamphrase Ces (1852, one ‘ition of date polis by ther meant” Haan ner 1997247)| Durante as negociagdes do projeto ALCA, que se desenvolveram em Belo Horizonte (MG) em maio de 1997, tomou-se perceptivel para analistas e policy-makers a convergéncia de interesses entre os negocia- doves govemamentais © grupos de interesse domésticos brasitciros. A +0 presente sro, cj origam ¢ 2 ese de mest sresentad pelo stor ao Isto de Relies Intenacionas ds PUC-Rie,f%claborads com o axe de ene coe ereextants deers © stores eonimices sci buses evalvides comas ress sobre 0 proto Are deLivteCo meio das Ams (ALCAY, welzaias no pesado ce free & malo de 2000. Alem den, 2 Faria do autor, come cbseradrscanico. ns reno de coorenao ae poges bases no Comit de Reprtenanes Goveramentis da ALCA, ao Ministre das Relages Exo, 22 fevered 2000, fo trib fede para a eabaaeo do met. O alo agacece «eyes (crac nesteaigo. as eas igestas eva: pear profesorat Maria Ragin Soares de ie ‘Lali Piahero, oo IRUPUC Rio CCONTEXTOINTERNACIONAL Retsil. 23, jnerofunbo 200, pp. 167196 167 Helton Reginalde Presto Santana, posigao negociadora brasileira, materializada na metodologia de nego- ciagdes apresentada em conjunto pelos paises do Mercosul, ganhou respaldo dos mais importantese influentes grupos de interesse no cenério doméstico nacional, a saber: o empresariado e as centrais sindicais. Entretanto, essa “‘convergéncia de jeresses” — que impressionou os negociadores internacionais, especialmente norte-americanos, e contri- buiu decisivamente para que estes recuassem em suas investidas libera- lizantes -, se analisada com maior acurécia, demonstra-se no tio homo- g€nca quanto os negociadores governamentais brasileiros fizeram supor 0s demais paises presentes etapa mineira de pré-negociagées da ALCA. Hi nesse proceso de “construgao” da estratégia negociadora brasileira alguns setores domésticos que demonstraram elevado grau de interesse quanto’ evolugio aceleradado processo de criagao de uma area hemisférica de livre-comérci Partindo dessa constatagio, o presente artigo objetiva analisar a atuaciio © 0 posicionamento dos grupos de interesse domésticos brasileiros ¢ sua interagdo com os operadores diplomaticos durante as negociagOes entre os governos do Continente. Para tanto, so utilizados os rendimentos analiticos da metafora dos “jogos em dois niveis”, proposta por Robert Putnam (1988), avaliando-se os argumentos brasileiros com relagio a trés aspectos: credibilidade, legitimidade e poder de barganhada posicao negociadora brasileira. A Politizacéo Doméstica das questies de politica Externa ‘A estratégia brasileira para 2 ALCA, pautada pela defesa do “gradualis- mo” nas negociagées c pela prescrvacio dos blocos econGmicos regio~ nals preexistentes & drea de livre-comércio hemisférica, significou efe- tivamente uma preferéncia pelo status quo, ou seja, a predilego pela ndo-negociagao. Isto se deve, segundo Lima, auma 168 “Grupos de intaresse « a Politica Externa Brasileira para a ALCA “Lu estratégia de negociagio eminentemente pragmética, fundamentada na percepeio de que a melhor opgao para o Brasil seria postergar as negociages ‘20 méximo posstvel para que se pudesse completar suas reformas orientadas para o mercado e, ao mesmo tempo, recobrar sua competitividade internacional por meio da atualizagia de seu parque industrial sem incorrerem maiores custos internos” (1999:141). Esse posicionamento negociaddor brasileiro tem sua origem em fatores histrico-econdmicos intemacionais ¢ em algumas especificidades na- cionais. Com relagio avs primeiros, deve-se considerar © processe de intemacionalizagao e sua contrapartida de aumento da interdependéncia dos Estados. Assim, pode-se afirmar que 0 processo de discussio sobre a criagfo da ALCA tem a ver com as adequaces que pat realizando para se inserir no novo cenério mundial mareado pelo aprofundamento da intemnacionalizagto. vern Dopontode vista doméstico cabe mencionar uma série de fatores ligados a0 processo de redemocratizacio, ou “liberalizacao politica”, do Estado brasileiro, na década de 80, aos quais se soma. processode liberalizagZo econdmica do pats. Se, por um lado, a redemocratizagiio gerou a pos- sibilidade de participacao nas discusses politicas de setores anterior- "mente pouco consultados, por outro, o processo de liberalizaco econd- mica ¢ revisio da insergo intemacional do Brasil, privilegiando os Frans multilaterais, gerou uma série de efeitos que recairam sobre (e, por vezes, ponalizaram) 0 eleitorado doméstico (domestic constituency), ‘em especial as inckistrias nacionais e os ndicatos, A convergéncia espacial e temporal desses processos (de internaciona- Jizacdo — aumento da interdependéncia econdmica — e de liberalizagio econdmicae politicano Brasil) temengendrado.politizagao doméstica das questées de politica externa” Hirst ¢ Lima, 1993). Temas que anteriormente etam tratados no plano exclusivo da agenda extema do pais (e que, de certo modo, dados 0 modelo de desenvolvimento econd- mico vigente, baseado na substituicao de importagdes, e as condi¢des Politicas em curso, no influfam diretamente sobre a vida da grande 169 Helton Reginaldo Presto Santana maioria dos cidadaos brasileiros) passaram, com as liberalizagdes eco- némica ¢ politica, a atingir 0 ambiente doméstico, com efeitos dis- tributivos variados. E nesse contexto que se insere a proposta norte-americana de criagaio de uma érea de livre-comércio hemisférica, ou, ainda, a proposta de uma “segunda onda de liberalizagio comercial”, agora exclusiva a0 conti- nente americano, Para alguns analistas de relacdes internacionai desafio brasileiro, hoje, consiste em como conciliar as exigéncias de ajustamento as novas condigdes de competitividade na ordem global e heterogeneidadedos interesses de atores domésticos que passam a influir no processo de policy-making (Lima ¢ Hirst, 1994). Desse modo, a grande dificuldade posta ao Executivo brasileiro, em particular ao MRE/Itamaraty, reside na necessidade de conciliarinteres- ses, por veres antaginicns, que acaham emerginds na arena politica doméstica brasileira, sem que isto signifique a paralisia do processo decisério em politica externa, Ou, ainda, em como construir uma base de sustentagio politica sélida para levaradiante seu projeto de reinserao internacional, sem a qual o pais estaria exposto a presses externas clevadas.e a argumentos criveis de que seu posicionamento intemacional € pautado to-somente por uma postura ideoligica, Sendo assim, no que se refere ao projeto ALCA, é fundamental analisar as preferéncias politicas dos atores domésticos (dentre 0s quais se destacam: os empresérios — organizados em tomo da Coatizo Empre- sarial Brasileira (CEB) liderada pela Confederagao Nacional da Inds ttia (CNI) —, as principais centrais sindicais — Central Unica dos ‘Trabalhadores (CUT), Confederagio Geral dos Trabalhadores (CGT) ¢ Forga Sindical —e a Confederagdo Nacional da Agricultura (CNA)), as ‘nstituigdes de compastilhamento de poser desses atores © adistibuigao de informagées entre os grupos de interesse domésticos e os operadores diplomaticos brasileiros, 170 Grupos de Intaresse o a Politica Externa Brasileira para a ALCA A constatagdo da existéncia de uma certa “convergéncia de interesses” ‘entre 08 grupos de interesse domésticos brasileiros e os negociadores ‘governamentais, aponta para a necessidade de se entender as motivagdes de cada um dos atores domésticos citados, que proporcionaram 20 govemo brasileiro um aumento de seu poder de barganha intemacional, bem como a percepsfo internacional de que o posicionamento brasileiro cestava respaldado e legitimado por atores domésticos chave © Setor Empresarial Brasileiro: Mobilizacao para Influenciar 0 Processo Decisério Até meados da década de 80, a participagdo empresarial brasileira nas negociagées intemacionais era dectaradamente t6pica ou inexistente. Isto significa afirmar que, dado 0 modelo de desenvolvimento em vigor a €poca e, também, a permissividade dos sistemas internacional e de negociagdes, os empresérios brasileiros apenas atuavam, individual e pontualmente, quando seu setor e seus interesses cram “ameagados” por decis6es politicas e econémicas, fossem elas de cariter doméstico ou intemacional. Esse perfil de atuagiio empresarial passou por um processo de modifi- cagiies consideraveis, nas duas tltimas décadas, a partir de alguns even- tos espectficos: 2 abertura comercial unilateral intensificada no inicio os anos 90, que obrigow intimeros setores do empresariado a se ajus- tarem efou pressionarem as instincias decisérias nacionais por uma reversiio do proceso, ¢ a proliferagio de acordos de integraco regional (como © Mercosul), a eriagao da Organizagdo Mundial do Comércio (OML) e a dmamizacao da intemacionatizagio da economia brasileira. Estes fatores ocasionaram profundia mudanga de postura no setor priva- do: as negociagdes intemacionais ¢ a politica de comércio exterior am elton Reginaldo Presto Santana adquiriram papel de destaque entre os empreséios brasileiros, visto que seus interesses eram diretamente afetados por tais negociagdes. Enquanto a abertura comercial gerou uma reagio ainda t6pica do setor privado brasileiro (por exemplo, a solicitago de salvaguardas e quotas comerciais as importagdes provenientes de determinatlos paises), as conseqiléncias econdmico-comerciais do segundo conjunto de fatores obrigaram os empresérios nacionais a se mobilizar no intuito de influir nos rumos das negociagées politicas que se realizavam. Com relagae a0 processo de discussio sobre a criagio da Ares de Livre-Comérciodas Améxicas, proposta pela delegugonort-zmericana 1a Cputa de Miami, ein 1994, a mobilizagaoinicial do stor privado brasileiro foi, novamente, baixa —consideravam que a idéia ali plantada_ xa un empreendimento absolutamente distant, “desestraturado” ¢ de dificil consecugto, uma vez que se projetara 0 ano de 2005 como possvel data para acfetiva entrada em vigor da ALCA. Entretanto,jina 1 Reunitio de Ministros de Comercio das Américas (Denver) os empre- sérios brasletos participantes do Hérum Empresarial das Américas (FEA), que se desenvolvia paralelamente as negociagdes govemnamen- tais, constataram a avidez com que o empresariado norte-americano: respaldava as propostas dos negociadores dos Fstados Unidos. Assim, dada a sintonia, naquele momento das negociagdes, existent entre 0 govemo eo empresariado norte-americanos quanto &criagio da érea de livre-coméreio, bem como 0 enorme interesse manifestado por grande parte das economias do Continente, os empresirios brasiliros passaram a temer pelos resultados domésticos das negociagdes hemisféricas. Além disso, 0 proceso de mobilizagao do setor privado brasileiro encontrow alguns percalgos até a sua definitiva efetivagio, em virtude, ‘om parte, da sistemitica adotada pelo governo brasileiro para as nego- GugBes intermacionais: wn modelo de partieipagau uo quad @ Teunataty identificava lideres empresariais e os convidava para representar 0 setor privado, sem se preocupar com a representagfo institucional dos mes~ Ww, “Grupos de interesse © Politica Externa Brasileira para a ALCA ‘mos, ou se estes de fato comrespondiam a todo o segmento empresarial. Concomitantemente, os negociadores do setor privado brasileiro viata se restringidos & mesa de discusses empresariais em consequéncia da tutela exercida pelos operadores diplométicos brasileiros sobre as po- siges e demandas do setor empresarial expostas nos Féruns Empresa riais das Américas. A Confederaciio Nacional da Indistria, hoje lider da coalizio que responde pelo posicionamento empresarial brasileiro na ALCA, somente veio a ser convidada a participar do II FEA em Carta- gona das fndias (Colombia), convite este feito pelo entéo Ministerio de Inddstria, Comércio e Turismo (MICT). A Coalizao Empresarial Brasileira ‘A Coalizaio Empresarial Brasileira € fruto da percepg2o de que os custos da ndo-mobilizago em torno do processo decis6rio da ALCA poderiam ser maiores do que aqueles inicialmente estimados. Surgiu, também, da constatagao de que era necessério garantir uma participago coordenada dos empresérios brasileiros, apresentando documentos de posi¢o para os diferentes Grupos de Trabaltio (GTs) do FEA, e de que 0 documento de posigio empresarial a ser apresentado na reunito de Belo Horizonte fosse tinico ¢ tivesse o respaldo de todas as organizagdes empresariais rolevantes, Além disso, o sotor privado nacional constatava ser neces sfitio “libertar-se" da tutela do Itamaraty nos Foruns Empresatiais, que © intuito destes, quando da sua criago, era reunir as liderangas empre~ sariais do Continente para que apresentassem suas posigdes sobre 0 andamento das negociagdes governamentais Na verdade, o apoio do setor privado a posigao negociadora brasileira de “gradualismo” nas negociagdes vai além da simples preocupaco com uma “segunda onda” de abertura comercial. Hé nesse proces sentido claramente instrumental por parte do empresariado. O apoio a0 ““gradualismo” do proceso ALCA encontra-se intimamente relacionado 173 Helton Reginaldo Presto Santana as presses empresariais domésticas pelas reformas estruturais da eco- rnomia brasileira, ou seja, em troca do apoio a ji conveniente redugsio do ritmo negociador do projeto ALCA, o setor privado esperaqueo governo conclua as reformas econdmicas propugnadas, em especial a reforma tributéria, de tal sorte que diminua a incidéncia do denominado “custo Brasit” sobre a industria e, conseqilentemente, sobre as exporacdes brasileiras (ampliando as condigées de competitividade nacional inter- nacional), A mobilizagao do setor privado atingiu seu grau maximo durante o I Forum Empresarial das Américas, realizado em Belo Horizonte, em maio de 1997. Além de onganizar o evento ¢ deixar claro aos nezocia- dores dos demais pafses do Continente 0 seu apoio 2 metodologia de negociagdes brasileira, 0 empresariado nacional comegou a colher os frutos de stia mobilizago. O governo, que criara a Seco Nacional da ALCA (SENALCA) — 6rgio que tem por objetivo reunir os repre- sentantes de diferentes dreas de governo que participam dos Grupos de ‘Trabalho Hemisféricos da ALCA, ou que témn interesse especifico nas negociagdes —, passou a incorporar representantes do setor privado em suas reunides. Além disso, o Executivo brasileiro comegou a convidar representantes do sctor privado para acompanhar as reunides oficiais da ALCA sob o sistema de “quarto 20 lado” — embora sem poder estar presente & mesa de negociagdes govemamentais,o setor privado passou a acompanhar a delegacio oficial brasileira recehendia relatos e debater do as posigaes. A principal demanda do setor privado em relago as negociagbes do projeto ALCA é, em sintese, a institucionalizagao do processo de con- sultas aos negociadores governamentais brasileiros. Tal solicitago tem por base as observagdes feitas pelo empresariado nacional, durante os FEAs ¢ as Reunides Ministeriais, de que os sistemas de consultas entre ‘0s empresirios de outros paises e seus respectivos governos tuncionam cfetivamente. Ocorre que asdificuldades de com privado a sensaciio de que quando o governo brasileiro precisa de apoio icago criam no setor 4 ‘Grupos de interesse ea Brasileira para a ALCA itea Externe as suas posigdes negociadoras 0 acesso as informagées é facilitado, permanecendo assim a percepeo de que o setor empresarial funciona como “massa de manobra” para os negociadores brasileiros £ fundamental salientar que dentro da prépria CEB hé um intenso processo de barganha no sentido de se equacionar e coontenar efetiva- ‘mente uma posicdo conjunta do setor empresarial. Nesse sentido, € lcito afirmar que mesmo os representantes do setor empresarial, cujas recomendagées 103 operadores diplométicos do Brasil eatio expreccas nos documentos de posigso da Coslizlo, possuem interesses difusos relativamente 8 ALCA. © primeito ponto discordante no processo de coordenacao da posicio cempresarial nacional parti do setor €xtil brasileiro, o qual reivindicava a aniecipagio das negociagGes da ALCA para antes de 2005. A raciona- lidade deste setor estava centrada no processo de revisio dos acordos sobre t&xteis na OMC— a realizar-se em 2005 —, uma vez que julgava ser importante assegurar seu acesso ao mercado norte-americano antes que esse revisdo multilateral anulasse 0 efeito das negociagdes antecips- das em téxteis na ALCA. Outro posicionamento discordante partiu do setor de servigos, cuja posigdio dentro da Coalizaio Empresarial era a mais liberal dentre aqueles ue propunham o avanco imediato das negociages. Essa discordineia de posigio, apés se realizarem constltas internas ¢ externas & Coalizo Empresarial, especialmente junto aos operadores diplomaticos brasilei- ros, se transformou em “‘moeds de troca'” & mesa de negociagdes inter- nacionais, isto €, 0 govemo brasileiro, em conjunto com o setor empre~ sarial, passou @ condicionar qualquer avango no setor de servigos (proposta cara aos negociadores norte-americanos) a avangos nas nego- ciacdes sobre produtos agricolas (onde o Brasil e seus parceiros do Mercosul mantém, além de vantagens competitivas, um grande conten- cioso com relagdo a medidas compensatérias, direitos antidumping, ‘quotas etc., que hi muito prejudicam e/ou inviabilizam suas exportagdes 175 Helton Reginaldo Presto Santana para.o mercado norte-americano). Apesar de essa “vinculagao cruzada” entre as negociagées de servigos ¢ os géneros agricolas ter-se concreti~ zado na posigio negociadora brasileira, outro setor que vem apresentan~ do posicionamentos dispares, ¢ por vezes confflitantes, relativamente a posigo da CEB, € o proprio setor agricola representado pela CNA. ‘As divergéncias surgidas demonstram que a Coalizaio Empresarial hete- rogénea e vé-se, 2 todo momento, impelida a realizar barganas e acomo- ddagSes de interesses, por vezes conflitantes, que emergem entre seus inte- _grantes, Em parte, pode-se atrbuir tis dificuldades de coordenagio ao fato cde a Coslizlo ser um projeto que ainda carece de amedurecimento, dado 0 passado de inagiio ou ages nfo concertadas que marcou a atuagio do setor ‘empresarial brasileiro em outrasnegociagdes intemacionais.O quedeve ser ressaltado, aqui, é a heterogencidad da CEB. importante obscrvar, também, que 0 relacionamento entre os negocia- dores governamentais brasileiros¢0 setor empresarial ny prujew ALCA tem sido, por sua natureza ¢ pelos interesses que envolve, bastante préximo, apesar das dificuldades e cxticas apresentadas pelo empresa- riado, Na verdade, 0 setor privado 6 um dos setores, se nfo 0 setor, cujo poder econdmico e posicionamento politico so decisivos para a es- tratégia negociadora do governo brasileiro. Sem seu apoio, o Ikamaraty, em particular, eos demais negociadotes governamentais brasileiros, em eral, incorrem na deslegitimago da posi¢do governamental. No entan- to, as aproximagbes entre o Itamaraty © a sociedade civil brasileira ocorrem em ritmos diferenciados, sendo que essa cadéncia é marcada pelos recursos de poder e de informago que cada setor da sociedade ispte (0 que se traduz, conseqilentemente, em potencial capacidade de influéneia sobre as negociagées comerciais). Assim, acoordenagiio entre ‘o empresariado e o Ministério das Relagtes Exteriores, apesar do his- {6tico “insvlamento” da burocracia diplomética brasileira, vem-se tnanifestandy prugressivamente no provesso de conformagio da posicio negociadora do Brasil, antes que esta tome os contornos de um posicio- nnamento concertado entre 0s pafses-membros do Mercosul, Observa-se, 176 Grupos de interesse ea Brasileira para a ALCA enfim, que a disposicdo do setor privado em comprometer-se com determni- nados t6picos presentes na estratégia negociadora brasileira paraz ALCA, ‘mostra-se diretamente proporcional 4 disponibilidade do tamaraty paradar acesso &s discusses ¢ formulagtes intermas 20 governo brasileiro. Movimento Sindical: A Dimens&o Social da Integracao De modo anélogo 20 que ocorreu com o setor empresarial, embora 2uardando algumas particularidades, até a constituigio do Mercosul e de outros acordos suib-regionais de menor peso econdmico, o movimento sindical nao manifestou preocupagdes mais profundas com os processos, de negociagbes com vistas & criago de blocos comerciais ou acordos preferenciais de comércio. Isto se justifica pelo fato de que esses acordos: envolviam paises que viviam sob a vigéncia do modelo substitutive de importagdes, com economias “fechadas”, em que os acordos comerciais, em prinefpio, nao ameagavam empregos ¢ direitos trabalhistas De modo geral, a participagao sindical, buscando influir no processo decisério de negociagées de acordos comerciais, aprofanda-se quando 0s acotdos de livre-coméreio comegam a provocar a “abertura in- discriminada des economias”, com impactos nacionais c sctoriais fortes sobre as taxas de emprego, condigdes de trabalho e meio amnbiente. No caso do Mercosul, a Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul (CSCS) — organizacio informal criada nos anos 80, a partir do T Encontro Sindical do Cone Suina Argentina, paraimplementar acampa- nha contra a divida externa ¢ promover ages de solidariedade na regi — logrou alcangar uma série de vit6rias junto aos governos da unifio aduancira, No entanto, segundo a CSCS, a evolugio do bem-estar social no Mercosu nao acompanhow o significative crescimento do bloco comercial. As taxas de desemprego nos paises do Mercosul alcan- gatam fndices elevados e inéditos, empurrando para a informalidade 7” Helton Regi ‘Santana grande ndimero de trabalhadores. Dai, que a estratégia adotada pelo movi- mento sindical foi a de apresentar uma agenda objetivando a incorporacio a dimensio social 20 Tratedo, além da cringao de espagos politicos para a elaboracio e negociacao de propostas. Dentre estas se destacava a demo- ctatizazo dos processos decisérios, tendo em vista assegurar 0 poder de influéncia dos diversos atores sociaise mesmo de poderes insttuidos, como ‘oLegislativo, uma vez que as decisdes tomadas até aquele momento eram, basicamente, dos Poderes Executives de cada pais-membro (Jakobsen, 1999). As centrais sindicais criticavam a baixa institucionalidade do Mer- cosul, Para 0 movimento sindical, 0s resultados da sua ago em face do ‘Mercosul foram positivos, porém insuficientes O Sindicalismo Brasileiro e a ALCA: CUT, CGT e Forca Sindical Embora as centrais sindieais do Continente tenham sido excluidas do processo de discussao sobre a implementago da Area de Livre-Comér- cio das Américas, estas se vém reunindo paralelamente aos foruns governamentais da ALCA desde a I Reuniao de Ministros de Comércio das Américas, realizada em Denver (BUA). Durante 0 periodo que compreende as Reunides Ministeriais de Denver ¢ Belo Horizonte, as centrais sindicais produziram uma série de documentos de posigao nos qusis esclarecem sta visto sobre 0 projeto da drea hemistérica de livre-comércio. Diferentemente do setor privado, que consideraa ALCA, um instrumento de avango em diego as reformas orientadas para 0 mercado, 0 setor sindical mostra-se totalmente refratério a0 projeto ALCA, tanto no que se refere ao modo como este & conduzido, como com relagdo aos seus principios fundamentais. Para esse setor, a ALCA, faz parte de um processo de integrago de cumho neoliberal que repre- sentaria para 03 trabalhadores das Américas tio-somente a climinagio de postos de trabalho, redugdo dos salétios ¢ direitos sociais, cerceando principios fundamentais da democracia, 178 ‘Grupos de intoresse o a Politica Extarna Brasileira para a ALCA Além do reconhecimento institucional de um Forum Sindical das Amé- ricas, 8 semethangado Férum Empresarial, como instancia de discusses € proposigées sobre os rumos da integragio hemisférica, os traba- Ihadores reivindicam a criagdo de um Grupo de Trabalho Hemisférico (GTH) sobre questées trabalhistas. No entanto, ambas as soli apesar de terem recebido 0 apoio dos governos do Brasil e EUA, foram rechagadas por México, Costa Rica, Colombiae Peru, o que resultouem impasse oficializaggo do Forum Sindical. As centrais sindicais do hemisfério eivindicam, também, atenyo ao que denominamde“dimen- fo social da integracao continental”, uma vez que, para elas, ocomérecio intemacional no deve ser entendido como um fim em si mesmo. tages, A presenca das centrais sindicais das Américas, em paralelo a Reunio Ministerial de Belo Horizonte, atingiu um elevado grau de reverberacio entre os negociadores governamentais presentes & IIT Reunio de Minis- ‘ros de Comércio das Américas, gerando, até mesmo, um certo descon- forto diplomtico entre os negociadores, quando o chanceler brasileiro distribuit o Manifesto dos Trabalhadores ¢ Trabalhadoras das Américas 405 representantes das delegacdes governamentais presentes. Na ver dade, paras centrais sindicais brasileiras, o gesto do governo brasileiro, apesar de louvavel, significou muito mais uma maneira de mostrar 20s negociadores governamentais qudo dificil seria ceder © avancar in- discriminadamente nas negociagdes hemisféricas, do que um real aceno ara a necessidade de integrar os setores sociais excluidos do processo de deliberagdes sobre a constituigdo da ALCA. Novamente, do mesmo ‘modo que o setor empresarial brasileiro nao se sente satisfeito com os movimentos de aproximagio dos operadores diplomiticos, as centrais sindicais também se sentem instrumentalizadas com aaatitude do governo brasileiro. Segundo representante da CUT: “O que 0 governo brasileiro tem feito é buscar aliados dentro da sociedade brasileira para fortalecer sua posigio negociadora de, no minime, reserva et rclagio & ALCA, de mancira semethante aos EUA, que, diante de certas si- tmagGes, afirmam nio poder avangar em certas posigées pois sua central sindical ‘ou os movimentos sociais norte-americanos no esto de acordo ou diagnos: 179 elton Reginaldo Presto Santana ticam aexisténcia de problemas. Noentanto, 0 governo brasileiro néo tem como usar este tipo de argumento, pois, nonmalmente, atua de modo absolutamente distante e alheia a0 que pensa a sociedade civil brasileira, Assim, em primeiro lugar, o apoio 20 reconhecimento do Forum Sindical visa buscar aliados dot ticos; em segundo, visa criar problemas dentro do processo de nezociago (que ‘é uma forma de postergar decis6es).” (Kjeld Jakobsen, secretério de Relagdes Internavionais da CUT, 14/2/2000) Entretanto, as centrais sindicais destacam que entre a inago a ins- trumentalizagio de suas posi¢des com vistas a assegurar a metodologia de negociagées brasileira (metodologia esta com a qual esto de acordo, relativamente as demais apresentadas), ficariam com a seguncia alterna- tiva, com enormes reservas quanto ao comportamento dos negociadores brasileiros. O que se pode observar das Reunides Ministeriais © Viee- Ministeriais é uma progressiva aproximagio entre os negociadores bra- sileiros, buscando legitimar sua posigdo negociadora na ALCA, e as ccentrais sindicais brasileiras, que objetivam ser ouvidas e influir no processo de conformagao da area de livre-comércio. Constata-se, ainda, que as centrais © as confederagbes sindicais do continente americano tém investido no aprimoramento das redes de comunicagao e informagao (com base na estrutura da ORITICIOSL*) para que suas propostas ereivindicagoes reverberem nas sociedades civis,

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