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259) Michael Hall O movimento operirio na Cidade de Sao Paulo: 1890-1954 Os trabathadores da Cidade de $0 Paulo, nay suas lates entre a dévada de 1890 e © comegn dos anos 1950, enfrentaram um quadro extremamemte dilfc J: condigies ccondmicas geralmente desfavoriveis, patrOes quase sempre inttansigentes, govertios hostis © uma fepressio sistemdrica e feroz aos scus movimentos, As utopias dos traba- Thadores foram derroadas, os criunfos duraram pouco, as ongeniragies frégeis foram, ngitas veres, vencidas, Enuretanto. ¢ contre todos 09 ubsticulos, 0s uabalhadores con- emelhoraran, até certo ponte, sas condiggies de vida e de uabalho. No decorrer das dGcadas, chegaram a se impor como una (orga sighificativa na vida da Cidades suas ceperangas ¢ su solidariedadeavangaram acausa da demacracia. Os trabalbadores emergem como uma forga significative ne vida de S50 Paulo em fins do séeulo xix. CO recenseamente da Provincia, em 1886, nfo rclata as provi 360s dos 47.697 habitantes da Capital ¢, paua « Provincia como um tod, pareve que secguitarn estabelecer alguns limives a sua explo operdrios @ ariedios sio considersdos tio ponco numereses. que foram enterrados noma categoria de 49 de “outras profiss6es” da populagao livre ¢ economicamnente ative , Em 18! na Cidade, incluindo 3.667 individuos na “industria manufacurcira”, 10.241 “ar fistas”, ¢ 10.525 a “indiscria de transporres". Destes trabalhaclores de 1893, 83% cram estrangeiras*, ‘A populacio da Cidade cresceu rapidamente durante os anus seguimes, enn grande gragio, atingindo 239.820 habitantes, cm 1900, ¢ 579.033, em iltimo ano, Sao Paulo jd assumia, inquestionavelmente, o perfil de uma 0 recenseamento municipal registrou uma populagio de 130.775 parte por causa da ie Hekasvio apres ean, psa Prove eS. Paula gla Canarias Cental de sass Sa Pan 1888), 9.233, 340. Avcstimativas no pareuern mies preva “sb «pt lisa da popula sts da Proen= ny eoera de St se epregam ns apvcultars. SK ao eomnttcio, (8 arm emarmgne pihlces disrihiindese os recantes 448 pele ous prunes Ralirn opnesewch 0 ethadta De, Crain Mora funie, Seeetviv dos Neieiosls Interv be Eu de Sib Pasa pols Dictar ds Repaid retina e Arion, Dr nton de Taleo Pea ss 31 2: jabba de 1984 Rin de ans 1498}, Se aaa yaa, Nao sockeye cipsraremsisleers duds. AK de pesiveisassigdidades des cate ts pedgrios oiganimdores cansiesnim w rescue aprecasada como inleeor an mimeo werdieere. de ssvangrims. porate prop ron st curtgon "gus eat aa acim of roquisineda igiene publics”. Hoe exerapl, or arpa iulgatam os tesultces do This subestimados or 15%, Tambor ¢ pravivel que a categoria ptlissensb inclian cfonns, genres conrres qu niu io tabulbudores wavs, ostiverant"e props Hirncde dinvinit raslisiasee Fama n estore de iui tanlo, 0 recenscementa regieron a categoria crigmstea ce 271 “sapitslioun", don gun 200 ONTO OMAKTOSS CINADE A HHL spa cidade industrial. O recenscamento de 1920 localizow 100.388 pessous em atividades chamadss de industriais. Esta categoria incluia alpumas atividades claramente fabris, como og 10,408 téxteis (53% com menas de 21 anos ¢ 58% mulheres), uma parte des 10.103 no sctor metalirgivo, ealguns des 34,355 do secor de vestustio: mas a classifi- cacdo de “inddseis” certemence incluiu em grande néimcro dk pessoas empregades em pequenas oficinas, para nao falar dos 21.102 (todos homens) no amo de “edificagia” ou os 44,500 nos sctores de ransporte © de comércio’ Essa primeirs classe operdria paulistana 21a composta, em grande parte, de imi grantes, Em 1912, um levaneamenro em trinta fibricas xtcis, por exemplo, revelou que 80% dos mais de nove mil operirios cram estrangeitos, De lato, muitos dos buasilciros arrolados nesse levantamento eram filhos de estrangeitos, especialmente no caso dos numerosos menores de idads; na Gnica fabrica t2xcil que fomeceu esta infor. mazio, 95% dos 112 operdios brasileitos apareceram como filhor de italianos © fito da sua origens imigrantc influenciou a histéria da classe de varias maneiras Qs farenidciros, enfrentando escravas cals ver mais reftatdrios na década de 1880, abandonaram scus supestos principios libcrais e arrancaram verbas vultosas do Estado, com as quais pagavarn 2 vinda de imigrantes pera tcabalhar cm suas fazendas, O pro- grama de imigrac2o subsidiada também criou —talvez sem esta intengio— um enorme exércite de reserva para a indtistria, Da década de 1880 em diante, grandes cont entes dc imigrantes sairam a cada ano das Fazenda em husca de malhores condishes de vida na apical. O movimento operirio persebeu, claramente, os obstdvulos que a inundacao da mercado de trabalho impos as suas Luras. Coma obscrvou o militate anarquisea Gigi Damiani, “os que governam o Brasil para a indtisttia e proptiedades dos seus sécias, precisam que haja sempre uma pletora cle beagos no mercado de trabalho. Com esta pletora, pretendem poder manicr saldtios de fore, horarios de casas de detencio dlespedasar a organizagao de classe". © movimento operiio reelamou, sobretudo, da Aifieuldade de sustentar greves num meio mareado por uma oferta tio grande de mio-de-obra, ese esforgou para intcxromper a vinila de novos imigrantes. Entreranto, arecem ter tide poucn vfcito as virias tentarivas neste sentide, come, por exemplo, a distribuigio na Fusopa do panfleto Contre a imigragio’, descrevendo as péssimas condigoes de vida e de trabalho que o imigrantes enconcearian em Sao Paulo, A predominncia de imigrantes na primeira classe operiria também colocou outros problemas. Varios observaulores zeclamaram dle imigrantes cujas aspiragoes de ensique- cimento individual ede ssconsio ceondmica dificuleavam ages visando melharias cole~ tivas ou reformas de longo prize, Qualquer interesse muito difundide em tentar tevolucionar o Brasil, nem pensar. Um militante frustrado lamentou cn Le Barvicana que “o anarguisme aqui tem caminhado a passo de urubu malandro, em comparacin com ontos paises”, uma situeséo quco auloraceibuiu & “indiferenga que os estrangeites ?Dinectorn Geral de Pauses Recanens do tard rabicade em 2 de eco de 1920, 4,5 pt, p “Cnigtis o irabaloo na eshistria él no Tstada des, Pals”. Resin ada pes sumener Face do Ta 1912. Quad ur, p60. SDAMIANT, Gigi Fa quesrione soni al Brae, Milne Unni Mo Paulo, fa Ritagla, 1906, Estee por Oroste Riser 4 1920, p.9, secial de win pafs para onde, aa maioria, vem para arranjar dinheiro © ads a ficar em Sao Paulo, segundo La Srtere, 08 imigrances esto “sempre em busea de mdhorat individualmente suas proprias con- digoes eeonéimicas”®. Poucos militances, entretame, chegaram an grau de irritagao do anénimo colaborador da Guerre Sociale, quando sfitmou que “em Sao Paulo nao hi povo, hd um amalgama de detritas de todas as nagdes, esp Tianos, esparhéis ¢ portugucses”. Ficou especialmente indignado com o “edleuls”, 0 ", que “sé olham para 5 © sujas fadigas no vem pela vi voltar aas seus lares"”. Mesmo res Imente de refuugos ita- “egoismo”, a “servidao vil ¢ estomacal” 6 tostan, que vio ciscar com ¢ boca na merda, se outras humilissin deesem a mesma esmala’™, Ainda que descontemes as cvidentes frustragoes deste autor, a fiegiiéncia do tema na imprensa operiria sugere que, de faro, uma parte significative dos imigrantes encarou com ceticisina, se 120 com hostilidade, « possibilidade de sua participagdo em estratdgias policicas bascedas em agio coletiva. Lim wvitias ocasides, os objetivos econdmicas imestiatos dos imigrances frustraram coforgos grevistas ot sindicais, Lim dos incidences mais significativos avonteceu em 1907. quando 2s costureiras, um grupo de mogas extremamente exploradas, enfremiaram o: patdes numa dcmonstragio nocdvel de solidariedads, Entretanto, a greve foi derrotada, segundo o reluco da Unite dos Sindicatos, pela “pressio brutal, inumana e indigna cxercida contra uma grande parte [des grevistas) pclos tespectivos ‘chefes de furnilia”. Marides, pais © inmios, continua o relatévio, “so invés de darem 0 bom cxcmplo, Tecusaram femunciar, mesmo por pouce tempo, & soma misersvel” que as mulhetes tra iam para ease”. ‘A organizagdo sindical na industria téxeil foi atrapalhada pela mesmo problema que, de faro, pods reflecir ances a desespenada sicuagio wondmica do wpess tiado do que alguma falta notivel de conscigneia, kmentada pelos milicantes de epoca. Enwretanto, segundo @ imprensa opcrdsia, 1 aspiragdo dos imigranres 3 ascensio social foi, quase tanto yuianto seus alvas ccondmicos custo prazo, um obstéculo & organizagio da classe. Lfdeves em potencial viram suas tarefas incessanremente frustradas pelo grande nwimero de atvulhadores que pareciam consideravelmence mais interessados em deixar a classe operiria do que er fortalecé-la, “sempre procurando melhorar individaalmente suas priprias condigses ccondnicas’ ', Um atimero signi- © tcativo de operazsios aparentemente aspirava por s¢ tornar comerciante ou pequeno empresisio, aspiragio ora lamentada, ora ridicularizada pela imprensa opersria Um militante, Giovanni Scala, descreveu os imigrances como vendo “em cada tentativa de organizagio politico-econdmica um obsticulo para suas aspiragées”, Estavam conven= cidos, continua, de que “triunfariam com muito mais facilidade individualincnee, mesmo adulando e rastejando diante do patrao, do yuc como classe, coletivamente, @ que implicaria strive com o patsdo, demissao ¢ desemprego”. dos “avarentos imigrantes La Mersey 99 383, 1511903 Aen ‘Isioacaliaoo ins. Pauly LSet 15,190 aera Sa Ao! 16, La Seave. 15-1920. Jos Brians, 2.319135 J legnco, 911.1905, Abas 1194 1 amargulacns ne Bsa por ecnebns 263 ‘Algumas vezes, os operdties cxpressaram suas aspizaghes a vansagens individuais com bastante elareza, Frm 1909, um grupo de pedrelros se recusou a participar de uma agreve em qe seus companheiros pleiteavam obter varios beneficias que os nao-grevistes ii gozavam, Numia declaracio, formal, os ndo-greviseas denunci pretende transformar o peolesariado numa massa andnime, anulando todo estionulo 20 esforco individual”. Prosteguiam, vntdo, explivando que «tavar esporando de scus patroes aumentos ulteriores no pagamentol. Certamente, a composiczo estrangeira da classe oper a qualquer programa policico que peessupusesse a participagie eleitural dos imigrantes Embora 2s harreiras formais cm relagio ap yoro de imigrances nao fossem grandes, poucos mostraram interesse no wsunto'* Urn funcionrio icaliano estimava que 90% dos seus conterréncos no Brasil preenchiam os requisitos para cidadania soh alegiskacgo, masa naturalizagao foi nara, Varios grupos, lesde os soctalistas de Assadi! aos liberais do Fiufulla tentaram, sem sucesso, encorajer a participagio politica dos imigrantes. Nao havia muitos esfarcos explicitos para desencorajar us imigrantes a vorar, conbara fam “a cendéncia que a colocou graves obstéculos obstéculos verameme poderiam cer sido eriados, caso os imigronies se tornus ilmenie seria um petigo real, uma vez que, “em reara, as eleigoes no Brasil, feitas sem elcicores, passam despercebides pars © grosso do piiblico”, como destacava o jornal Tart Livre em 13 de janeito de 1906. (Os aspectos de farsa que as eleigoes ostentavam durante a Republica Velhs, inclusive pata o grosso da populagio biasileita, cexemente encomijara aindifirenca. Come decla- rou. nur despacho cunfidencial o ministro da Ilia ao Brasil, as eleigces era coarcoladas por ume “aligarquia restita” c, vm getal, conduvidas “cor perfeita despres pelas eparén- i uma ver que as oligarquias “determinam de antenio qual deve ser o resultado do voto popular"”. As dourrinas do sindica vavam #abstengio da politica detoral, podem também tor contribuido para a indiferenga dos trabalhadores. A influéacia mais importante foi, provavelmente. « relucincis dos grantes em se envolver nos insciesses de um pals estranho. passa na terra onde vive”, segundo © Amiga do Povo, porquedizem que “nao sto dacui™ De certo modo, a gravidaile dos conflivos que surgiram enere 9 virias grupos eleitors incdmedes. Tsso, port. difi clas mais elemencares jamo revelucionatio, que incenti- Ihem os ambrasae ue se niicos parece um pouco surpresndence, tendo em conte quie 4 imigragio se compunha, predominantemente, de elementos provenientes de regides da Europa que parceem campanithar considerdveis semelhangas religiosas, culvurais ¢ até lingifstieas. Oitenta eoitu por cento da populacto cstrangeira da Cidade cm 1920 era de origem italiana, porruguesa on espanbola, ¢ ngo se podis operar, necesariamente, que entre esses gre pos as dilerencas Genieas se mosirassem to intensas bu que causassem tanta dissensio, Enurctanto, as hostilidades entre as nacionalidades criacam barrciras enormes para a cvesio ¢ organizagio dos wrabalhadores. Paget, 15.9190. Frfell, 247.995, 263.189.311.180, 78.1899, 18101904, (9.101904, 92.1913, Ion, 71.1906 © Prinipe oi Caria ay Mivistéri, 25 ce jonero de 1992 Sere Yoltca: Hinle, eappors poliiel 243, Misr sli Afar Busi, Rome Aigo Pos, G1 2.1903. 2G. oNCHMETHORTAIKA Seana ya0 FA EIS Ademais, alguns dos gcupos nacionais, como os icalianos, eram ainda dividides por antagonismo regionais, cas animosidades que surgirsm a esse respeito foram, as vezes, bas- ‘ante intensas. O caso de Pasquale, véneto e chefe de turma numa fabrica téxtil, que “nutre sum ddio estiipido pelos meridionais ¢ os maltrata cruemence quando se aferece acasiso”, ‘do foi incomum, lim outra ficma téxtl, o segundo mestie Carezzato, por exemplo, por causa do scu “inopertuno” bairtismo (campanilismo), procurava “fazer guerra de toda ‘maneita aos operdtios meridionais e toscanas (ele é véneta) e de afisté-lox da Fabrica". © problema, entretanto, ultrapzssou lealdades escritamente regionais e nacionais, como reconheceu 0 socialista Antonio Piccarole, observando que a classe operdria de Sio Paulo “cattega em si profundas razdes para divergir e discordar pela civersidade de origem, raga, intcresses, sentimentos ¢ educasao”. Por isso, concluiu ser “impossivel uum entendimente no campo do socialismo”*. Q jornal i! Pungola, cujo ponto de vista esteve mais prdximo do siadicalismo revoluciondtio do que do reformisme beando de Picearolo, também consideravs a situagao dessnimadora, eo afirmar que “a grande coletividade eperiria esta dividida ¢ subdividida” e que havia “guerra latente no pré= tio scio da classe operdria’, Segundo o auror, ‘alemaes, russos, turces, poloneses, cspanhdis, portugueses, italianos. pior que nunca. Cada nag se protege sozinha!”. F observa que ¢ problems ago cesinina ai, “a Iudlia é uina certa livre ¢ independente; mas cu sou picmontés, tn és toscano, vacés sia sicilianos, calabreses, vénetos, lombar- dos crc, ¢ nfo nos entendemos entre nds”, Acé o agente da policia italiana colacado tno consulado em Séo Paulo notou que o “cariter internacional” da classe operitia da Cidade “gota divisdes ¢ antagonismos"™ As wezes, a desconfianga c a hostilidade entre os grupos étnicos cram tio grandes que impediam cocperagio efetiva. Os trabalhadores de oficina da esttada de ferto Inglesa, por nplo, cram desorganizados e sujeitos a tracamenco arbicedrio por parte da adminis tragio. “Se houvesse cm S40 Paulo ums crganizacio de classe e os patties, an invés de se defrontarem com individvos isolados, tivessem a sua frence a massa operitia como um ody, as coisas caminkariam de maneita diversa”, comentou ui abservador em 1914, Entretanto, a organizacao era impossivel, continuou ee, pois os opetdtios estavam “divi- didlos, enciumados, amacrados por falsos pzeconceitos ¢ filso orgulho de saga”. Fm outros casos. quando as rivalidades ¢ animosidades étnicas no impediam compleramente a existencia de sindicatos, serviam, 2s vezes, para manté-los frdgeis @ ineficaves. A organizagao dos chapeleizes, no final da década de 1890, englobou ape- nnas uma parte dos seus associades om poceacial porque era inteiramente dominada por ialianos, Os chapcleisos brasileizos, alemies, eszanhdis ¢ portugueses indignarar-s2 com o caniter“semi-exclusivo” da organizacao, cujos cegulamencos estavam disponiveis Problems parccides ocorreramn entre apenas em icaliano, ¢ reeusaram 1 Avenel, 12.12.1907; Banfi, 283.1003. *PICCAROLO, Ameria. Hiodadiaa i Rh San Palo: Centr Soils Pulsar, 1908, p21 2 Hf Pegolo. 15.1900, Tanace 4 Lalgh Beuaoy 80 de junk de 1909, PubblicaSicurero. Ut Archivio. Centrale del Saro, Roma, i 25.7 19. > A Renin, 132.1398, 10.5.148, © Cosas lin Riceroaen, IBIS 113 ian add 8 pedreiros, tipégeafos e outros grupos; a tentativas de estahelever segdes na base de nacionalidade parecem ter resolvido apenas parcialmence as dificuldades", © problema permeia quase rodas os aspectos da vida da classe operéria, Houve ‘groves perdidas, por exemplo, pela falta de confianca e cnoperagio entre nacionalidades difercnses. Quando, em 1914, ain grupo de pedseitos italianos parou cm proveste pela diminnicio dos salérios, foi rapidamence derrorado porque seus companheiros esps- nhdis ¢ porrugueses se recusarain a acompanhié-lo, Era um “espeudculo lastimavel”, dizia Avantil, co cxemplo ago era apenas um fato isclado? Malgrado poder-se esperar que discordancias desse tipo perdessem muito de sua fossa com o correr dos anos, esse processo nao foi rdpido, ealvez em parce pela alta rotatividad. entre os trabalhadores de So Paulo. De qualquer modo, ainda em 1914, Giovanni Scala considerou que “as primeizas causas” da velativa fragilidade do movie mento operario, “a éinica ¢ a nacional, persistem e persistirs A repressio severa levada a cabo contra o primeiro movimenco operdtio provavel- mente pode ter side mais dura porque os wabalhadores eram estrangeitos. Esta era, pelo menos, opinite do Avanti! ¢ de onttos®. Desde o comego da década de 1890, os gover nos aproveiearam-se da favilidade de deportar militantes nascidos no exterior para ten- tar enfraquecer os movimentos ¢ as instituigdes dos trabalhadores. A inabilidade da Classe operiria imigrante om estabclever aliangas com outros grupos da sociedade hensileina pode ter concribuide para a severidade da repressio, Certamente, 9 movi mento era vulncravel aos ataques nacionalistas, como na greve deflagradz em outubra dle 1919, quando os bresilcizos cram convocades a forma: uma “unio sagrada des pax triotas em defesa da ordem piiblica” ¢ suas “tradigGes de honra e de crabalho” contra a “aio demolidora c nefasta des anarquistas estrangeitos’, que daham vindo “desfraldar a bandeira sangrensa da tevolugio ¢ da desordem™. Entretanto, nio ¢ ficil imaginar quais setiam as possivcis aliangas durante as primeira décadas do século xx, mesmo pan uma clase operiria nacional, Avanti! lamencava a falta de um “bom grupo de bur- ggueses cultos & vanguarda do prolctariado”; porém, mesmo se, de faco, essa auséncia fosse wine desvantagem, isso indgpenduia da nacionalidade do proletariade™ O fato dos trablhadores screm imigrantes ¢ a clasce estar em formagio, no encanto, inf trouxe apenas desvantagens as suas lutas. A realidade de um gruze cio grande de trabathadores ter nascido no exterior ¢ ter sido socializado numa outta culeura negou bburguesia em Sae Paulo o uso de varias das coscumeiras sangBes historicas dispontveis a grupos dominantes em ourros lugares para conter os trabalhadores den:ro da ordem sol vigante, Como imigrantes, tinham escapado da influéncia dos padres, dos pro- cds policia nos seus pabes de origem ¢ 0 restabelecinenio de padres parecidys de controle em Sio Paule nfo foi répido nem complete. osde Var db Wrabadbados. 112.1914; Tesaa Five, 28.9.1: Avan 5,9, 1907, Arnil,25.7.1914 * Avail, 4.101075 Bef, M3,19L, 1,T21902, 10-11.7.1904, © Dario Popular 25.10.1919. Dizouran da cemadanns ds Dei, Tovsta Posie, etudarde furw yreves da Esl Paltcuic > Asn 24.1,1905, A novidade em si ds classe oper certamente colocou dificuldades para a sus orga- nizagto e suas lutas. A imprensa operas lamentava a “alta de tradicéo revolucionsria’ ¢ “a fala de vida histérica popular” . Contuda, alguns observadotes viram aspectos posi- tivos na auséncia de tradicbes de dependéncia para controlar os trabalhaderes. “Ausonio Acrate” em La Raricasa provaveliente resiumiu 2 apinido de outros quando excreveu que “o subversivo é umn estrangeira, Fsamos num pa's sem passado, sem tradiga histéria recente vulgar, um pals conquistada por bandidos fz poucos séculox”. © nova “Brasil, que vin cm gestacin, umvielhe preocupagies, mas, tarabém, alguma esperanca”. Os crabalhadores enfientaram uma burguesia também recente. A notéria intran- siggncia dos patrdes em Sso Paulo resulava, em parte, do trabalho represcatat, emt smuicos cases, uma grande porgo des sens custos, ¢ da situagia bastante comperitiva em muiczs indisirigs, o que vocnava dificil a repassagem desses custos aos consuimidores, A composigfo hecerogénea da hurgucsia provavelmente dificultva a resttigio da con coréacia ¢ outras formas de colaboragao, Avanti’ considerou a burguesia “Wesorgani- zada?: “HS diferengas demais de nuvionalidade, de origem, de coseumes, de aspiracies entre a burguesia de Sao Paulo para que haja ante: cles uma compreenséo cordial « duradours". © jornal observou que ut Lizopa “as classes ditigences, muito mais ins- ‘ruidas © homogéneas que aqui. upiem ao prolerariads uma resiseéncia infinitamente sais astura, fcita de concessées vistosas mas inécuns”, No Brasil, segunde Avanti’, a bur- guesia era auén brucal ¢ fero”, porque faltava a “sabia coordenacio oa qual sio mescres os burgueses da velka Europa’. O jomal concluia que faltava 2 burguesia om Sao Paulo “as qualidaces essenciais para o dominio: a cultura, « homogeneidade, 0 orgulho de classe" Pela auséncia ou fraqueya de outnas formas de vomtvele, os patides impuscram uma disciplina e um grau de violéneia nas fibricas quea inp a cscravidio™, Eanboa as caracterizagSes possam ineluit alguns exageros retdcicos, os casos citados so bastante comvincentes ¢ até comoventes, “O Cronista” no jornal © Chapelsivo considerou as fubricas como “galés ¢ algumas piores: nem ao menos se pode trocar tina palavra, assobiar, cantar”, especial ene ne fibricade chapxtus Abilio Soares & Cia., na rua Direita, onde “os propriesdrios da Fabrica mandaram ume cara tos muico bumildes lambe-cus, contramesues da fula ¢ propsiagem, recomendando- Uhes severidade com os operirios ¢ a imposigio do siléncio, sob pena de forte multa pels primeira ver ¢ do despedida depois’. Os trabalhadores ¢ outros observaclores reclamavam regularmente da violéncia fisica e outras formas de abuso, inclusive sexual, praticadas nas fibricas por patroes v contramestres. Uma das reivindicacies dos gre- vistas na Companhia Nacional de Tecido de uta, civ 1919, cra para que nao mais se espancassem 2s eriangas que ali trabalhavam”, desorganivada que os trabalhadores ¢ demonstrava ura resistencia ‘asa operiria sempre igualava Br Soma 1.7 190% Aigo ro Po 812.190. da Bareaa. 18.12.1922, 2 Arn 95.1907 fem, 7.50900, mplos Fe Basaglia, 43.1906: O Chaves 512.1903: Anant S.anians. 0 Combate, 322.9999. ota 367 A politica do Estado foi, aki da manipulagie do mercado de trabalho pala imi- grado subsidiads ca expulao de mnifitanies, englobando o uso de um nivel de violen- cia Fisica contra a populayan trabalhadors que chamoau a atengio de observadores dos mais varias pontos de vista, Até o minis da lidlia no Brasil, apis uma visita a Sao Paulo on 1899, rcclamou da hrutalidade da policia na Cidade, dirigida, segundo ele, tanto contra os brasileiros quanto os extra dos dk faros verdadeiramente repraviveis ¢ insuportaveis num pas civilizado” ¢ con- cluiu observando que “s antiga iridigio dz hater no escrave infeliemente 13: cus inueiramente ainda” Muito observadores earan impressionados iio apenas pela violencia da polfcia, mas poh generalisagio das suasagies agressivas, realizadas pracicamenreao acaso. "Nos cali, nas tavernas, aos botedquins, nas lojas, um, dois, ou ués agentes entram de repents, fanlidas ou ado e— sem qualquer aucorizagia regular — comegam « revisiat as pessoas como se estivéssemos na sancissima Russia em ver do livre Brasil”. A delegacia tna rua Bardo de [guape ficou conbecida cama um lugar onde “espancam com mais entusiasmo, se encarceram « capriecio As agies da policia nas greves em Sio Paulo despertatain a accngio até de policiais estrangeitas, ndo suspeitos geralmenre de simpatias excessivas pela movimente ope- ririo. © agente Cesare Alliata-Bronner, designado pelo governo italiano para vi atividades subversivas em $30 Paulo, considerou as greves aa Cidade como violentas, mas concluiu: “forcoso € reconhecer. a agio pravocadora é mais das policiais locais do quc dos grevistas, salvo exeegses™!. A policia prendeu ¢ espancou. grevistas regular mente, huvendo numerosos relatos de agences indo de ports em posta nos hairrasope- ritins e prendendo qualquer um que se recusasse 2 voltar ao uabalho®, © repertério repressivo do Estado também inchuiu o fechameaco de sindicatos, o empascelamento de jornais, a proibigae ou acaque as passeatas € as manifestagoes, € o empregn de expidies ¢ agents pravasatews dentro do movimento opertio, além das pristes ¢ expul- ses de militanies eo emprego de medidas mais especializadas, como o fornecimento casional de lura-greves pelas Forgas Armuadas. O eéinsul italiano em Sio Paulo observou, em 1909, que a policia era “violent agressiva, 0 que nia surpreende quando se considera que seu chefe e, em geral, pessoas osiante cultas e tranqiiilas equi quase niin fazem nenhuma distingéo encre greve 2 revolta”™. Funfella reclamava que a policia considerava qualquer agitasio como uma “amieaga a ordem” e agia concordantemente”. geitas. Pediu “a punigin dis agentes culpa- desapare Atnacll ao Minit, 29,4 ain de 189, SoriePalricn, Nase, 1894-1901, pacon 283, Miniarercegl Aa Tie, Roa nf, 9.190 Tee, 10,1 1901 © Aint Brunner, cm siralo em nes 2. Vimban ent PINHEIRO, Pauly Seri Alas opera ne Seal, 1889.2 980, Sao Paulo: Ali Oraezs, LIM Le ps LIL * Rls 401IDL, 23.1913, * Cananle Cienore, Si Pale, 9 Winton, 21 de aarabso de 1909. Serie tutica, 283, Minar d sxe, Kom, fia, 224.1914, Ma oNonyeTCese cnanenT stn 98 se Encreranto, seria um erto encarar « politica do Estado simplesmente como a con- seqiiéacia de ignaeineia ou de brutalidade gratuita por parte dos grupos cirigentes. Até certo ponto, as prdticas que os observadores entenderam como escandalosas, ou pelo menos inadequadas, pessuiam wins certa lucides, De Faro, havis poucas aleernaci= vas no petiodo a coercin aberta para conter a resisténcia dos trabalhadores. No caso de uumna burguesia& qual falravam instruments cleitorais plausivcis ou outros mecanismos de legicimagso e de controle, cada mobilizagio séria parecia exatamente como relarou Fanfidla: “una ameaga & orem”. Apesar de toca a sepressio que enfrentavam, os trabalhadores conseguizam o1ge- nizar sindicatos para tentar defender seus intcresses. Q dos chapeleitos parece ter sido © primeiro a ser fiermado, cm 1888, Em varios momentos, do fim do século 21x a0 comego do século %, sapatciros. marcencitos, grificos, pedreiros, canteiros e outros grupos estabeleceramn suas organizacGes. Lsscs oficios ainda conservavam, apesar da mecanizagio consideravel era curso, exigencias de qualificagéo, que serviam em alguns casos para defender sua posigto dc barganha no mercado inundado de trabalho que ca- racterizava Sido Paulo no periodo, Mesmo assim, os réxteis e outras categorias menos qualificadas tambern conseggaiam sustentar arganizacdes cm periodos fivordveis, Enereranto, quase todos os sindicatos revelavam-se bastante frégeis. Iipicamence, os trabalhadores estabeleceram scus sindicatos no decerrer ou depois de greves, mas as onganivagiies tendiam « cksaparccer mats caicle ducaate conjunturas desfavoriveis © sab a demissao dos sindicalizados. As grandes onilas de sindicalizagio em (906-1907 € 1917 nao sesusteriaram. Fin 1910, por esemplo, um militante escrexendo no Lt Scere conclui que 2 organizagio sinclical de poucos anos antes “fai etrangulada pela violéncia policislesca. Mas este fato significa apenas que a organizacae era tio fiaca que podia ser estrangulada com facilidade. As orgunizagies verddeiramente fortes ~ mesmo no er atimelos, mas em consciéncia ~ nde podem sor desfuitas pela prepotéada de um policial””. Enuetanto, os sindicavos nfo se moseraram especialmente radicais nas suas lutas. © lider anarquista, Gigi Damiani. expulso do Brasil por causa da sua militincia, escreveu da Iuilia em: 1920, dizcndo quene Brasil ‘es wabalhadores se organiza mais pela necessidade de delesa do que pela vontade de conquistas’.’lambém noreu que “os programas maximos li [no Brasil], que o governo julga desce logo come anarquistas, aqui na Itdlia seriam consideraclos reaciondcies ¢ cxcessivamente Eracos até pelo par- tido catélico, que recusaria mover um tinico sacristao na sua defesa"*. Certamente, havia sindicatos que tinhaen cosy scu objetivo principal as melhorias econémicas de curto prazo para seus membros. Qutres, pelo menos formalmente, apoizvam projeces bem mais amplos de tcansfurtnagio social Os primeitos gropos anarquistas aparcceram crn So Paulo no comega da década de 1890, As dousinas ananquistas visum a emancipagie humana, sobscrudo por meio da destenigio do Estado, mac nio privilegiam especialments © movimento operirie como 0 instrumento das transformaghes. Seu nhjetivo Ga liberagao universal ¢ nao apenas de wma chssse, Limbors considerando os sindicates como relocrnistas, vérios anazquistas cesolve- cam encari-los como lugares titeis para difundir suas iddas, na esporanca de empurré-los S$ LIAMMA, Onate. “La eves gosta", Li Ss 241920. * DAMIANI.G. Op.eit, p. 811 em diregdes evoluciondrias, Ao mesmo tempo, esfozcarse © atividades cultursis, F dillcilavaliara real infhugncia dos anarquistas em Sao Paulo. Cet- tamente. cles iabam poucas ilusGes a este respeito. Observarara com franquezacm diver- lade, “sc nfo hostis, permanecom indiferentes” ao anar- quismo coutro militante descceveu os trabalhadores como “uginl da nessa influencia””. Tot volta de 1905, alguns milixances.em Si Paulo comegaram a defender ici citi casassociadas com o sindicalismo revolucionitio, Militances em vérias partes do mundo desenvolveram estas nagdes cin feagio ao que consiceravam o reformisme cre partides sozalistes e2ineficécia dos métodos anarquistas. Mesmo compartlhando 0 obje- tivo dadestruicao do Fscado com 6 anaiquismo, os sindicalistas revolucionsrios baseavam suz estratégia no sindicato © nos (rabalhalores industriais, privilegiando a nogio da acto direra, Por isso, cnrendiam que os crabilhadores deveriam contar com as greves, a sabo~ tagem, os boicors € téticas semelhances, em vez de esperar beneficios por leis ou @ heneveléncia dos governos, Os sindicalistas tevolucionitios argumentavamn «ue os par- tidos politicos ¢ as lei politica na Primcira Republica apenas reforgava. A vinica consedqiéncia de participara eleitors!, segundo esse raciocin, sera 0 fortalecimento do Estado buzgnds. De qualquet fouma, set objetivo, amavam, era destruir o Lstada e na contrala-lo, Nesta tarcfa, © ndicato seria tanto a arma principal da revolugo, quanto a base da nova sociedade. Os sindicalistas revoluciondrios diriam provender acabar com « ordem vigente por meio de ums greve geral revoluciondria, Alguns militances achavam que esta comaria a forma de um levante armad de massa, embora para ourros fosie um mo- vimento tazoavelmence pacifico, mas io ample que seria invulnerivel a repzessio. Os sindicalistas revolucionéties geralmente neyavam a utilidade de greves visando abjetives econémicos limitados, que no trarivm bencticios duradouros, mas, na ptdtica, tendiam a apoiar greves desse tipo, argumentande que no decorrer de eais futas os trabalhadores poderiam descnvalver seutimentos de solidariedade e de mili- tincia, preparando-se, assim, para fueuras agBes revoluciondtias, Lim Sio Paulo, as divisbes entre anarquistas « sindicalisas revoluciondrios reve- laranvse mais Beaiveis do que em alguns paises. Na realidade, havia um espectro de posigdes envolvendo questées téticas ¢ doutrindrias. Muitos mifitantes criticavam priti- cas sindicais que jalgavam capazes de enfraquecer a militinca revolucioniria. Os sind’ caliscas, preocupaclos com os perigos do reformismno em entidades burocratizadas, por exemplo, insistiam na eliminagao de cargos remunerados, fundos de greve, ou fangiies picvidencidras nos sindicatos. Havia amplos debates sobre a uestic de sindicatos com postos de minorias militantes ou sindicaros de massa, cujos membros no comparti- Ihariam, necessariamente, as convicsies tevolucionsrias dos mais dedicdos, ‘Muitos sindicatos em Si Paulo assumiram, pelo menos formalmente, posigocs do sindicalismo revoluciondtio, embora ¢ timero de rabalhadures sindicalizadas nio Fosse grand. No calor da hora, lideres de sindicatos revoluciontios negociavam com o Estado temvirlas ocasides ¢ mostravatn outras inconsisténcias nasva fidelidade & doutrina, Entre- tanto, conseguiram mobilizar uma grande parte des ctabalhadoses nas ammplas greves € .s¢ para manter um programa, caso dc propaganda por mcio de publicigies, palesttas, grupos de esmudos ¢ outras sas ocasiges qque “as maces” na Ci sence dos 1s nfo uariam melhorias significatives, um ponto de vista que # Gera Soci, 30.11.1918, 70.10.0917 09 250 ONOHVINIe OMENEH SCIMREDESRAINETS a . outras ucGes daquele petiodo. Congressos operitios reférendaram posigges do sindicalis mo revoluciondrio e os jomais e outeas atividades do movimento parecer cer tecehido amplo apoio. Seria dificil negar qu, durante as duas primeiras ckcadas do século xx, um «udmero significativo dos tbalhadores em Sie Paulo apoiava pelo menos alguns lideres «lo sindicalismo revolucion rio, assim como algumas das sus ili c sas organiza ‘Nu cntanto, os trabalhadoses entcavam em greve principalmente por motives clara~ mente defensivos. Os grevistas prorestavam couera o atraso cus a eedugio de saldtios, © aumentu de horitins, as demissOes, ou os maus trams, especialmente a aplicagio injusta de multas por contramestres, Mesmo assim, os ttabalhaclores cortiam sérios riscos 20 entrarem cm. greve, ndo apenas por causa da possihilidacks de violencia policial, mas porque os patsdes habitualncnte demitiam grevistas. Os trabalbadoves tiveram que passar por um penoso aprendizado, Depois dos primeiros anos, nuramente sucederam incidences como nia grew na fabrica de chapéus de Schrivmeyer & Ci ‘que a firma possula um estoque suficicnte “para resistir 8 greve durante quatro ou cinco ‘meses: tinha um depésice ce quarcaca mil chapéus”*. Contudo, observadores continua sam a notar o carster impravisida de greves em Sin Paulo, que parcciam praticamenie cxpontincas ou, pelo menos, no bem planejadas’. Segundo Antonio Piccarolo, escieven= doom 1913, as gieves na Cidade “séo uma formade lute até ofim, com algo de édio,estr tamente pessoal’, jé desaparecido das greves na Europa, Um reformista assumide, Piccarolo aichavaa closse wrabalhadora “desorganizadh |...) sem ida do que soja anna luta eeondyni- cai’, mas “permeada por um vase conceito da grande injustiga dominanee nas rela ecunbmias enute patcdes ¢ trabalhadores”, que parecia justificar 0 uso de todos ox meios possiveis nas Iutas. Os patrées também ereravam as greves como “uma surpresa produ7: «da pela mais negra ingratidao” por parte dos seus trabalhaclores, sogundo Piccarolo, 0 que: cxplicava “2 intemperangs a bruralidade” presentes, ds veces, nay primeitas Lutas" Aposar de todas as citcunstincias desfavoriveis ¢ la desconfianca de muitos mnili- tants, os oabalhadores conscguiram sustencar duas grees extraondinatis em 1906 c 1907. Na primeira, a grave dos ferrovidrios da Companhia Paulista, a solidariedacle entre os grevistas e 6 apoio que seu movimento recebeu le outros trabalhadores impres- sionram todos os observadores, Eavia varias insatislaydes entre os ferrovisrios da Paulisea em 1906, mas a Liga Opcrdria de Jundiaé decrceou greve no dia 15 de mai com apenas duas reivindicagics: a substivuisso de dois chefs, considcrados abusives, ¢ 1 finn da obrigacoriedade de inscrigio na Sociedade Renelicente, mal-adeninistrada pela Companhia, segundo os grevistas, Antonio Prado, presidente da Paulista ¢ prefeica de Sio Paulo, mostrou-se inesansi= gente cum os grevistas © anunciou, num momento de franqueza notével, que “o tin vencedir neste luta serd a forga™ . Oy ferrevidsios, cuja Liga incluta 3.590 dos 3.800 empregadas ca Paulisea, ecupavan um lugar estratégico na ecomon cscolheram um momento favordvel 0 comego de colheita do café 2m 1896-1997, quando os “aperitios, antes de sait ndo repararan” ia ¢ os wabalhadores ~ pata iniciar seu OC harbors, 22.11.1906 © Poflle. 14.12.1902, 36.211, 17.629 12 SPICCAROLO, Aneenia. “Ts Iioloyia W'une sioper”. Sto Pauley fx Riser Colbie, ILI. pe $06 Sera, 151908, movimento, O efeito econdmico da greve comegou a ser sentido nos primeires dias, ¢ os ferrovidrins de uma outra companhia, a Mogiana, pacaram de trabalhar em soli- dariedade a seus colegas da Paulisca. Prado mobilizou a policia rapidamente e recrucou fura-greves, inclusive maquiniscas da marinha de guerra, para que os :rens funcionas- sem. Os grevistas responderam com atos de sabotage, untando os wilhos com graxa e sabio, o que imobilizava as locomotivas. Na Capital, a policia prendeu centenas de trabalhadores. impediu reunides e stacou manifescanies. O governo ambém manipulou as nocicias ¢ impés censura. “O estado de sitio vigorou sem necessidade de ser decrerade””. Segundo Zi Sreolo, « Cidade foi sub metidaa “um espeticulo de ferocidad ¢ barbaric” c 0 jornal fez questo de lembrar scus Ieitozes do passado cscravocrata de Antonio Prado, agora chamaclo de “Rebespicrre da burguesis” por cansa da “obra de odiosa represélia’ que estava realizand No dia 26 de maio, a Fedesayao Operdtia decretou giewe geral em procesto & vio~ lencia que 0 governo desencacleara contra ¢ movimento, Para a surpresa de muitos, Capital parou, Segundo Lucta Prolesdria, “nada fazia prover que prolcrariad paulis- tano, reftatirio até entio 2 todasas Incas, incapaz de compreender os grandes bencficios da organizacao de classe |..,] seria capaz de exguer a cabega c levantarse como um s6 omen em apoio 3 causa dos companhciios cm luta?, snas no dia 28, “8 vid industrial de So Paulo era completamente paralisada”™ Entretanto, no dia 29, houve tiroreio cm Jundiai, com a morte de dois grevistas ¢ um soldado, A Federagéo Operatia enti decrotou o fim da grove, Apes da derrotas os milicantes tiraram conclusdes positivas do movimento. Segundo Lucia Profetdria, numa avaliagéo dois anos mais ade, “a greve parcial da Paulisa [..] deypertou o espiaito do aperatiado de S. Paulo, preparon o terreno pata a greve geral. e esta veio, mesmo sem a esperarem os mais otimistas’”*. A geeve de 1907 mostrou novas caracteristicas: os trabalhadores organizaram uma greve para ganhar 2 jornada de oxo horas, uma reivindicacZo bastante avangada para a dpoca, ¢ escolheram um momento favorivel, de desemprege baino © expausio econémica, para iniciar sua campanha, ¢ nie apenas um movimento para responder defensivamente as acoes patronais. ‘ambém conseguiram plancjar um movimento cm cadeia, que durou praticamente dois meses, parando certos sctores seqiténcic, Uma ver viroriosos num lugar, os grevistas volravam ao trabalho ¢ destina- ‘yum uma porgdo dos seus salitios para suscentar colegas can firms ainda parsdas, A policia respondeu: com a repressio costumeirs. mas mesma com lideres presos ¢ soldados na rua, os grevistas conseguiram a jormada de oito horas em muitos sevores ¢ & redugies de horisio em outros. A Cidade no parou como em 1906 ¢ © goveme encoa- trou dificuldades em ceprimir um movimento tio difuso, No entanto, a greve de L907 foi em grande parte um movimente de trabalhaclores cazoavelmente quslificads, eujo poder de barganha cornou possfvel sua vitéria nessa conjuntura favoravel. Na induistria téxcil, por exemplo, os trabalhadores, mais ficcis de substituir, no conseguizam me- cortas firmas cm or Lm, 138.1908, * HE Sols 81.5.1 NG, 185.1906, " Jaata Boles, 19.1906 Idem, 29.2190, Ihorias ‘lambém os grandes empresirios do ramo se mantiveram unidos, impedindo os erevistas de jogar uma firma conera outre, No Moinko Matarazo, seu dono simples: mente demitiy os crabilhadores em greve ¢ nav encontrou dificuldades em coatcaiar outros para urw trabalho sem muita exigéncias téenicas, Fnivetanto, saa intransigéncia pruvocou um longo boicore des procuros Matara720. Além da militincia e solidariedade impressionance que es trabalhadures demons. traram no decorrer da greve, uma jornada de cits horas nn é o tipo de reivindicagao que se espera de uma classe composta de imigrontes prcocupados apenas crn assegurar Ds sabios mais altos possiveis, em periods de tempo reletivamente curto, O horirio de trabalho predominante em Sao Paulo, cm 1907, ndo era excepcionalmente grande em comparacio com padres europeus e algudm decidido w fazer greve por oito hors de trabulho, preaumivelmence, cstava prcwendendo permanccer algum tempo no trabalho 2 desfrurar os beneficios de sua vitoria, No final das contas, como a grow sranscorreu em condigées econdmicas favordreis, a maior parte dos trabalhadores foi forgada a voltar aos horstios amigos, quando © desemprego ressurgi nos meses seguintes. O movimento sindical entsoa em crise ¢, com a cxceydo de alguns mavimentos grevistas em 1912, provocados par 1m aumento no custo de vide ¢ melhorias no mercade de wra- balho de alguns setores, es trabalhadores reromaram huras coletivas de grande enver- gadura apenas nos tlrimos meses da Primeira Guert2 Mundial A greve geral que estourou cm meacos de 19) 7 foi a maior nahistbtia de So Paulo. Dede 0 comeco do ano, houvera indicagdes de um crescente malestar na populacso de menor ronda e uma certa recuperacao do movimento operdrio. Muitos opservadores ‘airibultam o alto do custo de vida as atividades de ayambareadores ¢, sobretudo, as manobtas de Francisco Matarazo, acusado de exportar yénetos alimenticios em grande quanticadc.a ponte de desequilibrar o mercado intemo. Auéo Departamento Estadual cdo Trabalho cxplicou as “altas exageradas” que observou nos precos no segundo trimes- tre de 1917 como resuliado de “especulagio do atacadista" ou “gandncis clo varcjist’ ‘No seu levantamento de pregos por atacado entre janciro ¢ janho, Departamento re gistrou um aumento de 150% no prego do feijdo, 146% para batatinhas, 68% para prroz, entre outros”, Depois do fim da greve yeral, ao avaliar os acontecimentos, 0 jer- ral anarquista Gisernt Savéale concluia que & movimento tinha sido mais uma “greve Tigada 3 fome do que ae trabalho”. ‘Além de causar séries desequilibrios econdmicos, « Primeira Guerra Mundial te dusiu dresticamente 4 entrads de imigrantes no pais ¢ este fato, junto com ma retorma- da de produgio na industria t8 reivindicagies operirias do que tinha sido em vérios anos. Havia fibricas trabalhando dia « noire, Os jornais estavam repletos de marétias tratando dos grandes lucros desfrutados pelos induseiais, Nesss circunseéncias, os wabalhadores comecaram a reosganivar seus sndicaees, ranitos dos quais escavarn desativados, emilitantes organizaram liges operdvias em wrios baios, juntando trabalhadores de eategorias sem sinilicacos cetivos, mas cam- béaa implementando uma estratégin anarquista conccbida para evitar as tendéncias cor porativistas dos sindicatos de oficio, Segundes Guerra Sacidle em maic til, comou o mercado de trabalho menos desfavorivel As okaive do Deparatserte Evasdval cs Tuahath, VOL7. Dados datanel gue seus Ap. 58h Guerna Suche, 267197. encanto ¢ quebrade. Os rabalhadores de Seo Paulo insurgem-se finalmente para reivindicar seu direito A vida. Os trabalhadlores de Sao Paul estio em pé e este acon- tecimento inesperaclo comove impressions todo mundo”. A situagio estava especialmente tensa no Coronificio Crespi, na Mooca, a maior fabvica téxtil da Cidade. Greves ben-sucedidas em empresas texteis nos primeiros meses de 1917, inclusive na fibriea Crespi, junto com o zessurgimento do movimento operatio, provacaram as costumeiras ragoes da parte dos patroes. Os diretores da respi resolveram perseguir os trabalhadores ¢, especialmente, as trebalhadores, sus- peitas de parciciparem da comissao da recém-formada Liga Operdtia da Mooca. No dia 9 de junho, vabalhadorcs da fabrica Crespi paraiam de wabalhas, prowes- tando contra um aumenta do sca horério de trabalho e exigindo melhoria salarial. Apss ‘varias petipécias envolvendo, entre outras coisas, 0 uso da policia em esforgos, alids infiutiferos, para obrigar grevistas « retornarem a0 wabalho, e malsucedidas eancativas de recrutar fura-greves, direg2o da firma decretou um éeckour parcial e demiciu quareata supostos lideres do movimento, Enquanco isse, as greves se espalharam, inicialmente, para outras empresas txteis, ¢ depois para filicas de mveis ¢ para a Fabrica de bebidas Antarctica, na Moaca, Virias firmasaccitaram as reivindicacées dos seus trahalhadores, “bastante bran das” segundo Gigi Damiani, mas a intransigéncia de Rodolfo Crespi e alguns outros industriais manciveram @ movimento aceso, Llouve escaramugas entre grevistas e a policia, alguns saques, detengOes, ¢, no dia 9, a policia abriu fago contra manilestan- ces perto da fibrica Mariangela, no Brés, matando um jovem anarquista espanhol, José Martinez, trabalhador numa fibrica de calgados. Seu enterra, no diz 11 de jue tho, fornecen a Fatsca que accadeu a greve geral. O cortejo iinebre de Martine, sain- do do Beis e passando pelo contro da Cidade até chegar ao Cemitério dis Aray reuniu uma multidao de dcz mil pacticipantes ¢ fechou a Cidade. Segundo a exti- mativa do Departamento Estadual do Irabalho, entre cinquenta ¢ setenta balhadores entraram om grove". © goveme efetivaincute perdeu o controle da Capical durante ués dias. Segundo 0 jornalista Antonio dos Santos ligueiredo, “o panico alastion-ce" enive os mais ricos da Cidade". Houve luras nas russ, tiroteios, saques, barticadas em alguns bairros ¢ ataques a manifestantes pels cavalaria da Forsa Pablica, A policia matou pelo menos um trabathador e uma menina. A Plebe e outcos jomais acharam baixo 0 namero offe cial de trés mortes: “A soldadesea, que reecbeu erdem de atirar sem piedade, aaclou pela Cidade coma um bando de vandalos, disparando as carabinas e revélveres a esmo, Chegaram acéa fazer funcionar as metralhaloras[...] afiima-se que muivos cadaveres foram sepultados clandestinamente, senda transportdos nas carrogas de fixe trae S Gerne Socal 12.5197, ° Gicars Suche, 271907. » Depanamesio Esuduel do Trsbabo U7, p. S37. SW HIGLEIREDO, Antonio doe Sanassel reenter ne Bracl Porta: C “4 Pete, 217.1917, fica do Porm, 1926, p. 197, vaenanonns 275 As forcas repressivas enfieararum dificuldades em conter 0 movimento. Segundo Antonio dos Saneas Figueiredo, os dez mil homens da milicia ficaram abatidos Por pouco que nio se entrogaram, No segundo batalho, houve uma peguena sub Ievagio de soldados, que. cansados ¢ mal pagos, pretendiam desercar, engrossando as fileiras dos prolecitios", Ha relatos de wopas fedcrais em Lorena recusando vir a Sao Paulo para teprimir os se transferéncis, sghevistas, com consegticates pri Os milicantes percebcrar com lucidez que sicuacdo cm Sao Paulo estava loage de ser revoluciondria. Come Guerra Sociale reconheceu, ao scsponder as acusagiies da greve tersido encerrada cede dermis, “os trabalhadotes tinkam na sta frente: as metralhadoras apontadasem cada rua cos velhas revélveres ndo bastayam mais pata enfrentaras forcas concentradas da reagdo, que quetiam no sangue, num imenso massacre, refizer-se, reahilitar-se das primciras derrotas edo medo havide”®. Osgreviscas e seus Lideres seguiram politicas mederadas também a condugso da greve. cfesa Prolevitia (CoP), eujos lideres ararquistas e sindicaliscas, revolucionérios (embora incluindo um socialista) apresentaram, no dia 11 de julho, uma isia de one demandas, proparada com habilidade. Pediram « liberdade para os greviscas iptesns, 0 tespeito ao dinviro de associagio, garantias contra a demissio de greviseas, 2 aboligao de fato do uxbalho de menotes de caroree anos, aléin da aboligio do uabalho noturno pars menores de dezoity anos e para mulheres. L aumento de 35% nos salirios inferiores a 58000 ¢ 25% para os demais, o pagamento dos sakidios ‘pontualmente”. gerantias de wabalho permancnte; a jomada de oite horas ea “semana inglesa”. eo aumento de 50% em todo o mabalho cxtracrdindrio. Além do mais, a lista incluiu quatio“sugestéks” de inicresse aos consumidores da Cicdeem geral:0 hararear metwo das gbnetos de primeira nevessidade; a requisigéo, se nccessério, de todos os generos indispensaveis a limencagao pulblica; medidas reais para impedir a adulteragio ¢fasificagao dos produtos alimentarcs; ca redugio de 30% nos alugucis das casas até 1008000". que mais impressiona nesta lista comedida, cuidadosamente preparada para assequrar o mais amplo apoio possivel, €a auséncia de tages das doutrinas do anar quismo ou do sindicalisino revaluciondrin. Em ver de esforgos para destruir on enfraquecet o Estado, varias «las reivindicagies simplesmente pediam 0 cumprimento das tarefas de um Escado burgués decente, Como A Plebeobserveu, 0 que os supastos sabversives do cup exigiram estaria em outros paises “ja proposto pelas prdiptias clas- ses eonservatloras como media de defesa dos préprios interes”. De lato, cercas das reivindic logislagio exiscente. Houve momentos tragicomicos como, por cxemply, quando 0 Formaram um Comicé de: 4 também wivindicagies do a Jes simplemente pediam que o Fstado aplicasse a TGUENRHIO, Analy dos Sneoe, Op. ep. MTzoutrae late cms DIAS, Tverd, (ini dar lus cocais so Brit Sia Paul: Edeglt, 1962. p. 296 = 299. SA Mee, (8.1917. 89.1917 Guerre Sociale 26.7-1917, 4 Plbe, 217.1917, Tanlyém om PINT ERO e HALL. Op. 29s 282-4 A Hebe, 17.191 presidente do Estado, Altino Arances, declarou diante de um grupo de jornalistas “nie estar bom lembrado” se as avclamag6cs sob o trabslho notarno dos menores de dezoito anosé cnham apoio em Ici (einham, als, desde 1911). Q jornal que narrou este episd- dio, O Combare, nunca muito sitnpatice av anasystismo, embora critica em relagio a0 governo do Estado, comentou: Pela primeira vex no mundo, o8 Kroporkines do Bris e vs Ravachols da Barra Fund ~ esses homens petigosos que “nio Feconhecetn as leis ¢ querem subverter o princt- pio de antoridhde’, roclanam, cm um programa escrito € apresenrado come 0 mi- nimo de suas «spiracées, 0 cumprimento da lei do Listaco®. Acatensio quea greveassumin, o ample apoio que reccbeus da papulagio em geral ealver acdificuldades encontcadas mn teprimi-la, mesmo com 0 uso da violencia fisica em ampla escala, levou o governo du Estade a ensaiar alguns gestos conciliaesrios # moveu sitios incustriais a olerececem aumentos de 20% nos salarios «outeas garantias, nna cspetanea deacabar rapidamente com o movimento, Entsetanto, os fideres do cor recataram negociar diretamenre com os representantes do listado, em parte por causa da violencia praticada contra os grevistas, nas também, proavdmente, porque, come defersores do principio da agi direra, nio deveriam ser vistas em entendimentos diretos com drgaos do Estado, Fsses escripulos foram con- tornados por meio de uma comissio de jomnalistas que scrviu de inrermediéria nas nego- tna sede do jornal 0 Fitado dle S. Patel ‘© acordé final owxe algunas vitérias para os grcvistas, pelo menos no papel. Os empfegadores concordatam em aumentar os salérios em 20% e Fazer os pric mentos pontuslmence. /Além do mais, prometeram respeitar 0 dircito de associasio dos scus trabalhadores ¢ dle n20 deinitir grevistas. O governo de Bscado promeren liberar os grevistas presos, respeitar o direito de reunie, cumprir ¢ melhorar a le- gislacio sobre o trabalho cle menores ¢ mulheres, ¢ ‘potd cin exceugio medidas con- ducenwsa impedie a adulteragao ¢ falsifieagao dos géneros alimenticios”, “um dever que lhe é muito grato exercer”, Houve tembém promessas vagas da parte do govern de teatar “minoraro atual estado dc enearccimento da vida". Os trahalhadores rati- ficeram os termos do acordo numa série de assembléias no dia 16 de julhc. Os anarquistas nuncs slegaram terem sido respussdveis pela greve geral de 1917. Fimbore muitos deles ocupassem lugeres de destaque aos aconrecimentos, as reivindicachcs reformistas da greve até contradiziam principios que es anar- quistas defenderam durant longos anos, rais como sua opasigia a greves por metho tias econdmicas limitadas out a recusa de pedir agio do Estado. Edgard Levenrath, um dos lideres do cpp, escrevendo cingilenta anos apds es acontecimentes, foi enfaticu: “A greve geral de 1917 foi um movimento esponténce de proletariado sema imerferéncia, direts ow indireta, de quem quer que-seja. Poi uma maniles- tagio explosiva, conseqiicite de um lenge periodo de vida cormenrosa que entio cages, conduzidk © (2 Combate, 207 1915, $0) prinepi ca souslingioe da abiniagen, Boer do Dapartanents Excatofde Yinka, 1917p. 4951 I HLORRREEOSAeINARE DE SAF. BRE Jevava a classe trabalhadora™”, Q jornal anarquista, Guerra Sociale. concluin, na casi, que “o proletariade panlistano eaconcsou ne Jura sua pripria conscigacia” € que ainguém esperava nem acreditava na capacidade revaluciondtia que os gre- vistas acabaram demonstrando, Do govern acs subvetsives, todos estavam convencidos de que desse amilgama dle despresiveis imigiantes somente se poderia especas quando nfo resignacio, pelo menos vileza” Gigi Damiani idencificou um aspecte importante dessa militineia inesperada, Na alvura de 1917, concluius os trabalhadores imigrantes estavam dispostos a se engajar na Tues para mudar as condigdes cconémicas © sociais nw Brasil. Os operdrios estrangeins ve aclimatavam, consiituiam familia, nacionalizavam-se ©. perdida 4 esperanga de voltar 3 pittia, vergadlos pelo peso dos sacos de our, ‘comesavamn « preocupar-se seriamente com as suas condigdes «le saldtio e de vida na tera que se tornaca, por forga das coisas, a sua nova patria”. As seqiielas da greve se manifestaram rapidamente, Na onde ce entusiasmo que se seguiu A vindzia, pelo menos parcial, de julho, muitos crabalhadores organivacam ou ressucituram sinilicatos nes seus ramos, a Federagae Operdria ressurgiu e ligas che- garam a fincionar em nove baisres: Mooet, Lapa, Agua Branca, Bris, Belenzinho, Lpi- tanga, Cambuci, Bom Retiro ¢ Vila Mariana, © gover do Lstado, no cntanco, reforyou os mecanismes de repressao, reagindo ahurilhacio e ao medo que soften na greve, © As preocupagées provocadas pela expan- so das atividacles sindicais, Aumentou os salétios da Porca Publica, prometeu varios outros beneficios aos saldados, adquiriu novos equipamentos ¢ acrescentou mais de mil cferivos aos oito mil existences. Tentou preparat a opiniio piblica para novas investidas, montande uma intensa campanha na imprensa € no Congresso contra a ameaga dos subversivos esirangeitas scus plans nefastos. Segundo a imprensa operatia, 0 governo também infiltrou secretas e provocadores nas filsricas Em sctembro de 1917, esquecendo as varies garantias oferecidas nos acorlos de julho, © com as forgas da repressio reforcadas, o Listado montou ums operagio extensa para demantelir © movimento operirio: detengdes, espancamentcs, fechamenta de organizagoes e, sobretudo, esforgys para expulsar [ideres estrangeitos do pais. Em princi pio, esta dtima titica nao podia ser usada contra aqueles com mais de dois anos de Tesidéncia no Brasil, masesse inconveniente nao parece ter inibido o governe do Fatetlo, En conversas com sutoridades, mesmo estrangeinas, os goveraantes falaram com, una certa fianquera, Por exemplo, ao inicio das expulsdes, um alto oficial da policia “LEGHNROTH, dgard, “A greve de 1917", © Aina 2S, Palo, 27.5, 1966, repronrida an BNIPIRO TALL Op. cit, 1 p.22631 Guo Secale 267.1917, + DAMIAN. G. Op. cit, p42. Tamnbém em PINHEIRO ¢ HALL pce wt p.235, paulists foi 8 casa do cdnsul italiano © explicou que. “gragas as disposigGes excessiva- iherais da constituican brasileira”, perigosos smarquistas estrangeiros afluéram ‘para Sao Paulo, causaram a greve de julho e planejavam wma nova greve, desta vez a ser acornpanhada por atentades contra as ausoridades de Ustado, O governo decidiu pela cexpulsio deste individues perigoses, “mas para evitar protestus ¢ provaveis concessoes Us habeas corpus, pretendia tomar as providéncias em scgredo ¢ possivelmente embar- car os expulsos em navios estrangeiras" . O cénsul parece ter mostrado ponco entusias- ‘mo, mas as expulsies se procedetam de qualquer mancira®. O governe consegui até penuadir o Supremo Tribunal Federal que, come “anarquistas, individues perigosos 3 adem social”, ns expulsos “nao podem invocar a proves assegurae na nossa const tuigdo [,..] mesmo que estivessem no Brasil hd mais de dois anos”, Apprisio do Edgard Leuenroth, em 14 de seternbro, virou uma cars céltbre, Redator do jornal A Plebe e influence orador, Leucnroth nasccu no Brasil © cra, portanto inelegivel para a deportacio, Hm vez disso, foi acusado de ser a autor “psico-inteleetual” «lo roubo de sacos de furinha de trigo do Meinho Santista durante a greve geral, dois meses antes. Apetar de numerosos protestos contra © absurlo da acusagiio, Teuenroth foi mantido na prisio dusante seis meses, até sct absolvido unanimemente por um jai em margo de 1918. A onda de repressio iniciacs cm sctemmbro de 1917 ¢ 0 estado de sitin decretado quando o Brasil entou na Primcira Guerra Mundial, serviram para impedic agoes de maior envergadura pelo movimento operitio durante quase dois A Gilima grande greve da primeira classe eperiria estourou de maneira em maio de 1919, no meio de considerdvel mal-wstar ccondmico, Apés um incident rice Mariingela da Gama Matarazze, envelvendlo a demissia — considerada iojus- (2 detum trabalhader, os colegas do despedida siitam cm greve e “dal organizaram-se turmas que percorreram os baizres de Bris, Sic Cactano, Cambuci ¢ Mooea, obtendo adesdes. A medida que os grupos aparcciam, iam as flbricas fuchando"®. A Plebe nio consiclerou 6 momento favorivel para greve por causa dos grandes estoques acummula- dos na industria téxtil ¢ afiemon que, se tivessem sido consultadas pelos trabalhadores, teriam avisado concta a gieve e “os teriam aconsclhado a nao se prestarem a0 jogo insidioso dos prances industiais’™, Contude, wabalhaderes dc uma grande variedade de categorias aderiram 20 movimento. (Os greviscas acabaram apresentande praticamente as mestnas reivindicagdes de 1917, comm alguns actéscimos, como a igualdade de salésios das mulheres e dos homens € um salirio minima, De fato, no decorrer do movimento, as negociagdes se concen- rraram em apenas dois ivens: a jomada de oito horas ¢ um aumento de 20% do saldviv. Aug a secretstio da Justiga, Herculano de Freitas, co industrial Jorge Street considleravam justas 2s relvindicagoes”. mente nos. nprovisada cram que, Lag) Mercaeli a9 Minisero deg Allit Eset, 29 Ue Stemibia de 191 Mio nnerale Publica Sienross, Divisions Afri Generali Riservari, L917. busta 20, Archivio delly Scion Reena Tadao cam PINTIBIRO, TS. HAL. MoM. Op. ct th p. 168-70, “0 Fed 9, Baan, AIST * Didrio Yopadon 35.2909. “A Pde, 19.5.1919 Camby 85.1919. dell neerno-Lresione Cie AY a ieereneTonrTRaR Sa cIMATE DENNER Le No entanta, 2 repressio em 1919 assumiu progorcies significativamente maiores do que em 1917, A eavalaria aracou sssemabldas, como no laego da Conedidia, “come- cando a espaldeirar o powo de uma maneiza brutal’. O deputado federal Nicanor Nascimento ycio de Rio de Janeiro dusante a grove ¢ rclacou: "Quando cheguel a Sio Paulo, a impressdo geral enite os operdties era de terror, temerida eles ir 3s reunides om comicios, porque, diziam, a policiaos dissolveria a para cle cavalo". Diance das prisdes de lideres eos stayues a Feunibes, mostrou-se impossivel manter uma coordenacio cen tal da greve, cuja diregio foi entsepue a comissoes de fatbricas c sindicaias de categoria. © movimento deslrutou de uma ampla selidarivdade, Mulheres no Brds, por cxemplo, impeiliam a passagem de bondes, empilhando paralclepipedas nos trilhos, € vaiando os conduto decorrer do movimento, que durou mais de trés semanas, muitos trabalhadores con- seguiram promessas da jornada de oio horas ¢ ¢ aumento de 20%, outros obtiveram melhorias menores, « certas empresas recusarem qualquer acordo. A Antarctica, por exemplo, demitiu todos os grevistas e os substicui por novos trabalhadares™. Ji em setembco, ha relatos na imprensa de firmas buslando os acordos firmadost?. Nos meses que se scguiram & grove generalizada de maio, trabalhadoces cm virias kiricas pararam suas tarcfas, conseguinde melhorias em alguns cases. As prisies ¢ as deportages de © motorneitns, uma categoria que nfo adcriu & greve®. No ziilitantes também continuavam Nessc ambiente tense, eno meio de boaros de nova greve geral, aeorreu um incidente dramdtico: a explosto de umn homba na rua Jodo Boemer, que matou quatro anary tas, Numa publicacko comemorativa no primeiro aniversinio da explosic, os anarquis- tas alegavara que “febsicavam bornbas que deveriam servir para defender o» tabalhadores quando os esbirres policiai, como de costume, os viessem amesquinhar” ecuncluem que “conaa a violncia organizada, 080 hé outa arma mais que a viokincia onganizada™. Décadas depois do incidente, ao ser entrevistado por Liga Feddi, Gigi Damiani det outa versao, Lin movimento insurrecional estava sendo plancjado. segundo Mamiani, aré.com 2 ajuda de militares (“estas coisas «6 acontecem as sAmézica do Sul") companheito, cairegandy bomba, enirou num depésito de armas explosives “quando, quem sabe como, a bomba cletonou, matando os quatro presentes”™. [As vitimas cram todas estrangeiras (Lrés poscugueses e um cspanhol), 0 que facilitou a intensificagto de onde deayivagio naciovalista em curse. Embora reconecendo que 2 policia agia fora da lei ma represcin, O Futada de 8. Paulo dirigia seu Tage contea 2 lie deranca revoluciondtia, “oumericamente insignificance, de alucinados ¢ exploradores”, que “aio amam [nossa cidade], nem a estimam, porque nap aascorum sob 0 ness ce, aio lhes corte nas veias o nosso sangue”™. Hen 65.1919. dors, 23.5.1919. een, 63.1919. * Ider, 29.5.1919, P Tdom, 3.9 1919. (215 ce tab whe = FEDELL. Ugo, Gigs Damian: ve lange. Cesena: Grapp Edvore Latnistae”, 1954 p27 © (Fain des Pawo, 23225. 10.1919. Ve unison dua Tige Nacinaln. no ese joraals27.10.199). Esnudantes de Dircito empastelasam o jomal A Pebe c a policia prendeu seus ceda- totes. © governe aumentou as deportagdes®, Os miotaincitos ¢ cobradores dos bon- des entraram em greve, junto com outras categoriss que também no vinham partici pado no movimento de maio, mas agora procuravam a mesmas vantagens pata si. A Light buscou substitutos no Rio para os trabalhsdores dos bondes; estudances da Escola Politécnica ¢ do Mackenzie College se ofereccram como fara-greves para fazer os bondes circularens™. A Federacio Opcrdria convacou uma greve geral para o dia 24 de outubro contra os atos repressivos do governo ¢, especialmente. pela liberagio des companheiros presos. Mesmo assim, o secrctirio da Federariio, J. Goagalves, rentom distanciar a entidade do anarquismo ao explicar que “agiria quer eles fossem socielistes, republicanos, areus, atélicos etc., bastando ser memios da Kederagio, que nfo professa nenhum credo”. Continua afirmande “que nao se deve confundir movimento operitio com a agio de elementos que niv se conformem como atual estado ce sociedad — 05 seus fins visarn 0 enzendimento entee » irabatho e o capital”. Embora algumas cutegorias apolassem a grove geral, outras a ignoraram © © movie mento fracassou cm menos de erés dias. Marcou o fimn do ciclo de grandes greves na Cidade, confirmadlo par outro fracasso de greve geral, em 1920, © movimento encrou em refluxe. que dureris praticomence uma década, © Estado ¢ os patrdes aumentaram considcravelmente seu repert6rio repressive p65 05 abaloy de 1917-1919. Propuserara algumas medidas timidas de legislagao social 20 mesmo tempo cm que reforgaram @ modemizaram os instrumentos de tepressio. De 1919 em dianre, hé legislagio tratando de acidentes de rabalbo, trabalho de menorss, ¢ outras questies, mas com pouco efeito pritico por causa das resiscéncias dos cmpregadores ¢ a falta de capacidade (ou empenbo) da parte do Lstado na aplicagio das medidas. A Ipreia comecou a eniteniar a “questéo social” sistematicamente durante 9s anos 1920, escabelecendo varias publicagées ditigidas avs trabalhadores ¢ promoverdo a Juventde Operiria Catolica (00), “onde os jovens operirios aprenden a adquicir um mado de viver honesto ¢ crisiao”. Entretanto, ndo & ficil avaliar os efeitos de ensins- mnencos de seguince tipo: remuneradas, © opericio, principalmente o lar obreico, precisa de um exemplo eflcaz de vireude ede trabalho, Nenhum mais apropriado do gue o oferecide pela Sagrada Familia — Jesus, Maria, José. Operdrios que foram eles, sempre rsignados, dao & grande classe Spreraens B11 1919, © 11d om ato indormativa pur DIAS, Byer iat le sexta (pe naa depatag. SB Paulo, 920, Dias via gain 9 Brsil quand crianga eo govexna expauhol weaseu coasdetalo eidudao. Apos vitias poripicas, wes defemvoren fe taabin agin, come Niawrcio Lecends, esmveguan evoget ala sports Damanidlise aosdepuis,quc, a reales, sstiva“ennvente’ de ruonnar a isinery 1913, onde smug pars Edom, 25 627 LNLIDL. 0 Openirs, $3,198, vtada por DIECCS, Maria Ausilidoss Gasso, A side jie die friar caidas penivio ere Sar Basle (1901932), Win de Joos Yau ¢ Tess IY . 281 26) OnERRSTORRIAN NA IMIDERE SHS MERI 2s com a vontade da Providencia, na trahalhedora magnifico exemple de confer dor ena alegria™ As mais asturas figuras da burguesia comegaram 2 investigar outras técnicas, Roberto Simonsen, que ficara alarmade com os grandes movimentos grevistas, publicou, em 1919, a primeira expesigio brasileira do taylorismo e outros sistemas visando o controle patronel sobre todos os aspectos do processo produtivo. Simonsen esperava evitans pela reorganivagio do tribalho, o que chamava com frangueza ce “guerra de chsses”, AArgu- ‘mentou 2 favor do uso mais amplo de sistemas de pagamento por produtividade pelos emprcyadores para “evicar que seus principais enlaboradores Framer yea massa host buscando remédios para o seu mal-2scar em conquistas politicas percurbadoras da pro- ducao”, Com aimphantacio de won sisterna correto de incentives, segundo @ argumen- mos deste modo individvalizado © aoperario, interessando-o direramente na produgto”, Lim 1931, vitios industrials ¢ scus aliados fundaram 0 Instituto de Onga- izagio Racional do Trabalho (Idort), que sv empenhou em divulgar as vantagens da chamada organizacio cientifica do trabalhe”*. Na segunda metade da dveada de 1920, houve um esforco consideravel de tay- lorizaro lazer e a educagio dos trabalhadorcs e suas familias. Organizecdes religiosas, empresas, entidadks beneficeates ¢, sobictudo apss 1930, © governo municipal procuravam estabclever um controle mais dircco sobre a vida operitia fora da brics © diseurso erz de um “lazer mais saudivel ¢ produtivo” para cornar « wabalhador mais “disciplinado ordeio™, “Apes das varias tenvativas de deseavolver navas formas de controle sobre seus tri balhadores, © maior esforgo dos industiiais foi no sentido de melhonue a eficdcia dh repressio. © Centro dos Indnstriais de Fiagio e ‘Tecclagem (cla), por excmplo, rentou coordenar as policicas eas priticas das firmas céxtcis durante os anos 1920. Nas circulates do CIFTA a prencupagas central foi o desenvolvimento de instrumentos mais ficarcs de repressio. As circulares entram em grandes deralhes sobre a rum elleiemte lista negra de trabslhadores indesejdveis, insteugdes para melhor coape- ragao com a policis 1a priséo de agitadores suspeicos, planos de agao conjunra no caso de groves, @ muito mais. Da mesma manciea, as grandes ino" to, “ter + jurldicas dos anns 19.20 nfo ocorreram na rca da legislacao social, mas da tepressio. Em parte, o Estado simplesmeace moditicon aki de acordo com « ppicica dos tihtimos anos. Ui dicade a combater o anarquismo, autorizou o fechamento de sindicatos¢ 2 detengie dos seas of n decrere de 1921, explicitamente:de- is por motivos bastante vagor c cximinalizou 0 wy da palavra pare subverter a " Soaiedade Apdnimy Seaypa, Zonibrenze do Citonita Searpt edt sua onpanizatia ist wa Vi ou PTNIHIRO, 115, eHALL, MM. Op. 0 an p20 SIMCONSEN, Rubio, ratio msdiann. Si Bal: Secen de Obras co “Esai 1919, p. 389, Fora ums le da eiscarn do ies, vor WEINSTTIN, Bashar. (Relat se tbabbicdare no Pas (3920 19645 $9 Palo: Cores, 1999, Yor ANTONACCI, Maria Annie M.A nb SDECUA, M.A.G. Opel, B95. 5 |Kdsamaneleiu decieularey eu PINIIEIBGY, [5,0 1181 Ly MLM Ops ah ps E212 Soups. Sls) sor et sicadade pale, Seo Paula, Manco Zr, ordem social existente, Em 1926, a revisiio consritueional facilitou a deportagio de estzangciros. Na pritica, o estado de sitio, em vigor enrre 1922 e 1926, tornou supérflua nais legislagao, mas uma nova medida, em. 1927, etendeu autorizagao para fechar sindicarus e oucess onginizagées para incluir entidades que defendessem aios contrarios S orcem, A moralidade ou & segaranca publica”. ‘A polleia também modernizou suas opernsdes durante a dé&ada, Fm 1928, 0 seexctévio de Justica Seguranca Piibliea anunciou que a Delegacia de Ordem Politica ¢ Social fichara 102.654 opetdtios do total estizaada de trezentos mil no Fstado. Notou com evidente satiskagio que ‘a maivr demanstragio do trabalho ccsta delegacia é 0 nao ter havido movimento algum genctalizado, capaz de pernurbar a onlem publica”. “Antonio dos Santos Figueiredo descreveuia situago dos crabalhadlores ei Sao Paulo por volta de 1923: Os operstios, desde 1917. nao tém chefes: desie modo, deliberam por si, confusa- mente, sem confiarem a ninguém a diregio de ume campanha. E ¢ intel que fagam: 0 individuo, suspeiro de guiar os proletirios, & preso ¢ deportado. Nao tém cheles, e nem mesmo associagiies, que Ihes garancum, nos apures, uma ccrta soli- dariedade, Lmprensa pata ss suas queixas? Nem por sombra™: Certamente, o nivel da represso auiaiu 4 atenydo de cbscrvadores inespersdos. O consulade da Italia fascista nocou, em 1927, “a repression plas auvoridades brasileiras de qualquer tentativa de organizaao sindical, mesmo a mais pacified". “Apesar de tudo, os trabalhadores conseguizam sustentar alguns mevimentos, «pe -1 923, inchaindo greves na constsucdo ail e na indiistria téxeil, mas, foi apenas no fim da década ques viu uma ecrta retomada da luta sindical. Os geificos montiram a mais importante greve do perfodo, em 1929, que durou 72 dias" As reivindicagtes incluvfam 0 reconhecimento do sindicaro e o concrole sindical sch: as 0 Estado aplicasse as leis existentes sobre férias, acidentese o trebalho de menores. Uma vez declarada a greve, a policia fechou o sindicato ¢ prenden seus lideres. Mesmo «asim, os gréficos organizaram uma resist€ncia eficaz por meio de representantes nos lugares de trabalho e por uma distribuigio cle mantimentos aos grevistss ¢ suas farniias, O Par- tide Comunista esperava utilizar « greve para demonscrar a superioridade de seus mé- todos sabre as téticas do sindicalismo revoluciondrio. De faro, como lembrou wm Ider comunista da época, a greve “termninou comalgumas migalhas dadasaos trabaladores, através de um acorde, que a Partido considerou como uma vitéria, mas que es operi- ros, com razao, consideraram uma derrot””, cialmente ara 192: 1s, um sabirio mftime, o pagamenco cm dia dos saldcios, €. exigéncia de que Os doctor sta a2 4.269 de 17 de ances de 1921 e 99 5221 de 12 ee ogoren de 192 © So Maa, Sectctata da Jasiga «Seguvange Pali, eden 1928, 9.91 SHIGUEIREDO, A dos §. pp. 246 Casein) Alssard, Sigo eseudo da LASS, Lela. prin appa frie 0 masineto des rabanadars ras ee Sto Pale nc nat do oe 20, S29 Baal Toprla, 1986 S/MASRAUM, Lavrcie, Vine els ais ong fore) Saw Pale Ali- Caza, 1976, p. 7 de jancivodle 1027, cre Anshivin Cente delle Rens Rows regime que tomou » poder em outubro de 1930) ensaiava uma politica menos repressiva em telagdo as Luts dos trabalhadorcs™. O interventor em Sie Paulo, Jeo Alberto, reconheceu um amplo dircito de reuniso e de organizacdo. O sucesso de algu- nas sgeves, jd em 1930, estimulou a organizagio ou rcurganizagio de sindicazos om saries serares. Contudo, as divisdes politicas se manifestaram desde o inicio. As di sergéncias entre os singicalistas revoluciondtios, que formaram 0 contingents mais umeroso, os troeskistas, 08 comunisias e grupos menores de socialistas, reformistas “amarelos’, independences ¢ catslicos, resultaram na formagio de um par de contrais sindicais ¢ varios sindicatos nio aliliados a aenhuma das dus. O seccarisme politica cferivarnenite afundou todas as tentativas Feicas nesses anos le estabelecer organismos intersindicais, 8 revelia da legislagio, que proibia tais entidades *horizoneais’ Cenwudo, ;camente redos os grupos se opunham &s medidas corporativistes ¢ cstatizantes do novo governe, quc wmtavit estabelecer conttoks estreitos sobre os sindli= catos crm {roca de beneficios de varies tipas. Quando Lindolfo Collor, o novo ministro do trabalho, veio a $a0 Paulo, cm maio de 1951, para defender as medidas do govemo © “o conceito nove, construror ¢ urginice da colaborsgio de classes", os teabalhadenes 6 reecberam com tanta zombaria que nio conseguin termina seu discurso, A policéa imeryeie ¢ a reunite acabou en tumulto™. Os trabulhadores das Fabricas téxtcis organizaram uma grande greve em julho de 1951, queesbariou naincransigéncis dos inustias. Aproveitande a crise politica sobre 2 substituigio de Joio Alberto, o cmpresariad mobilizou @ policia conera os grevistes c, apesar de um esforgo de conciliagdo pelo Ministério do Trabalha, terminou a grove som fazer concesstes. Um movimento mais amplo, em maio de 1937, envalvendo a Paulo Railway; a inddsttia céxti, c virios outros secores, nao teve resullades muito dife- rentes. O novo interventon Pedro deToledo, estava, na época, tentando conciliar s bur- aesia paulista, ¢ 2 repressio violcara cfetivamente afundoua greve. Apesar de algumas vitdsias parc gica por pare de muitos milirantes. O movimemo aperdtio, ja bastante dividido, enfrentou um dilema em relagio & questo da ausonomia sindical. Na impossibilidade de negociar com os patrées, ou de defender os urevisias (e sua préprias organizagnes) diante da violncia do Estado, vésies lideres comegavam a encacar de ourra maneira a possibilidade de aceitar a oficislizagao dus sinclicutos pelo governo. Os sindicalistas revolucionirios j{ se deparavam com pro~ blemas ¢m participar de agées part conseguir o cumprimento de Ivis lavordveis a0s tra- halhadores ou em esforcos para pressionar o Estado a intermediar negociagoes com os pattdks, Seus princtpios de agio dircta v eposisao a qualquer colaboracao com o Lstado conduvitarn 0s Iidetes dessa corrents a. mancer suas oxganizagOes ora da escrutue ofi- cial até fins de 1935, quando @ repressio wornou impossivel « exist@ncia de sindicetos autdnomos. Fm conseaiiéneia, perderam 0 controle de varies sindicaros. nao apenas por causa da violencia feroz dirigida contra os sindicalistas revoluciondeios, mas porque s+ 0 fracasso geral do muvimento provacou uma recunsideragio estracé Solve ne arannecimenns de 194041259, Sgo ARAC >, Angela Maria Cau. 4 connate ao comsenszare coxpoatstiney eribdelore ne Fav aae 30, Sug Pau: Scits, 99R. We thea SEMA, Zia apes A svwestvagiodostiohelbadars macau 30. Sao Paulo. Mea Ze, 10) “DUNS, Lverado, Minin dasa spies no Mead Sto Maal: bought, 1992p 120-81 varios bencticios, como us vantagens da nova lel de f membros dos sindicavos ofc porativiste nas vias instacias legislativas, incluindo a Constituinte de 1934, por meio dos sindicawos reconhecidos © Parside Comunista resolveu, de 1932 em diante, amar no interior dos sindicatos oficiais, argumentando que assim seus militances poderiam influencis-los e resistir a0 controle complete pelo governo. Quase todos os outros grupos, inclusive os trotskistas, acabaram adotando posigaes parecidas. De faco, até 1935, 0 governo nao conseguiu 0 gtau de obediéncia yue queria do movimento sindical em Sie Paulo, onde prevaleci uma actitagio realise pragmtica dos sindicatas oficiais, mas sem muito comprome timento com 9s objetives do regime e, na pritica, com uma certa autonomia de agio. Em 1934 ¢ 1935, por exemplo, houve uma reromada de movimentos gre por causa da relativa abertura que prevalecia apés a Constituigao de 1934, Em alguns £2508, sindicates oficialmente reconhecidos conduzicam ou apoiacam as greves. O empresariado reagiu com sua cnscumeira truculéncia. Na fibrica Mariangela, da fa- inilia Mataraezo, us grevisias acm conseguiram apresentar suas rcivindicagdcs. A “Lecelagom fralo-Rrasileira, firma que tinha reduzido os saléries ¢ aumentado a jor nada de trabalho, recusut: undas as centativas de conciliagao, alm deameacar os ra- balhadores com um lockout ¢ demissdes em masta, Depois de cingiienta dias de Incransigéncia, os grevistas tiveram que voltar a fibrica, decrotados. £m geral, 0 go- yerne mostrou-se incapay (ou sem voncade) de promover a conciliagio entre as partes ou aplicar suas prdprias leis. A violencia policial néo dimiauiu, em parte porque o novo ministre do trabalho, Agamenon Magalies, encarava a repressio como um elemento integral das tentativa: de acrelar os sindicatos mais vstrciramente a9s objetives do governo. De qualquer forma, as prises ¢ os ataques aos trabalha- dores nas disputes le 1934-1935 continuavam a chocas, como nv case da Fabrica Maringela, onde a poltcia espancou mulheres e criangas, ao dispersar as reunides de gucristas a pata de cavalo. Desde os primeiras meses de 1935, a Alianga Nacional Libertadora (aNt), um tipo ¢e frente popular organizac pelos comunisias, conseguiu um apuio consideré- vel em Sao Paulo, até dos sindicalistes revoluciondrios. Seu programa incluin vérias medidas trabalhistas (saldrio minimo, seguro-desemptego, indenizagao cm caso de demissio, entre outtas) ¢ o (cor nacional-popular mobilizou muitos trabalhadores. O sucesso da aX indicou claramente queas medidas geculistas no criaram o apoio que fo regime esperava ¢, alm do mais, que o sistema sindical ainda permitia uma gama s, estavam garantidos apenas aos alizados. O regime cambém prometia representacio cor- stas de ages que escapava do controle da governo. Em jalho, as autaridades fecharam a ANLe comecaram uma ampla onda de detengoes represalias na drea sindical. A ten- tativa fracassada de golpe de estado, em novemben, conduzida por comunistas sim- pacizantes milicares, serviu de justificativa para medidas repressivas abrangentes, intensilicadas ainda mais apds o golpe de novembro de 1937 ¢ o estabclecimente do Estado Novo™, "his a repress nee it nly, ver CAMPOS, Reyoaldo Pamgeu de, Hes 1 Fatado Noo, Rio ie Taner Achiara, 108% CANCTITY, Fliohorh, 0 munde le vena: a potions Vang. Brose Ee. Cem. 1993; KAREPOVS, Dain’. fase aeevatuen ere 2987 2238 Sie Palos Husivo, Ediorn Unogp, 2003. OSG OMpeAsSTe eRSRdae AsHmck assem Hx Apdsa entrada do Brasil na Segundz Guerra Mundial, em 1942, 0 regime suspendew vétios discites jrabalhistas ¢ impés novas sangoes contra atas de resisténcia. As faltas 20 trabalho, por exemplo, poderiam ser consideradas aros de desergo, com penalidasles cor Rspondentes, Nessas circunstaacias, movimentos abraagentes de trahalhadores conta suss condicies de vida, cada vex piores, ficaram invidve's, embora haja nouelas de algu- smas greves em So Paulo tratando de atrasos de paagamentos e outros abuses patronais™. A partir de 1943, as insatisfagdes dos trabalhadores cresceram visivelmente, O regime embarcou num esforgo de fostaleces os sindicatns oficiais, embora com sucesso limitado. Os induseriais também. aprontaram suas estratégias, Lim janeiro de 1945, Euvaldo Lodi, presidente da Confederagso Brasilciza das Ind isirias escreveu a Roberto Simonsen, a época presidente da Federagio das Indiiscrias de Sio Paula. Apés ydrias consideragies sobre as dificuldades enfrencadas pelo regime, Lodi observa que muma conversa coin Coriolano de Gees, até recentemente chefe de pelicia de Vargas, este lhe

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