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Iray Carone*
Muito tem sido escrito sobre o livro de Marisa Feffermann, Vidas arriscadas: o coti-
diano de jovens trabalhadores do trfico, recm-publicado pela Editora Vozes e lanado
na Livraria Cultura de So Paulo em outubro deste ano. Livros de impacto podem causar
efeitos meramente epidrmicos; outros calam mais fundo e vo construindo sua prpria
histria mundo afora. Com diz um ditado latino, so os leitores que determinam o destino
de um livro. Eu diria que o livro de Marisa, resultante de uma tese de doutorado defendida
no Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo, criou algo realmente novo para
anlise e reflexo dos leitores sobre a realidade dos jovens inscritos no trfico de drogas.
A comear pelo ttulo, que os designa como trabalhadores, pois eles assim tratam o
trampo embaado, o duro e arriscado expediente de doze horas dirias na parte mais
baixa da hierarquia do trfico.
Tentemos descobrir, ento, a razo do impacto desse livro: o tema inquietante ou o
tratamento diferenciado dado a ele? As preocupaes atuais do governo e da sociedade
civil brasileira com a organizao criminosa chamada de Primeiro Comando da Capital,
que mostrou sua fora nos idos de maio de 2006 na capital paulista? A necessidade de
uma literatura acadmica, voltada para essa realidade to rdua quanto cotidiana, que se
mostre capaz de cumprir as exigncias metodolgicas de uma pesquisa cientfica? A ne-
cessidade de politizar o problema, para alm dos discursos moralistas ou policiais, a fim
de compreend-lo pela via cientfica e vislumbrar algumas alternativas da prxis como
atividade de aperfeioamento das instituies sociais? So muitas as indagaes e talvez
no sejamos capazes de responder a todas.
No mbito geral, um livro sobre os jovens de classes subalternas e os riscos de vida
que esto correndo nas sociedades atuais, sobretudo naquelas em que o Estado se mostra
omisso e violento. O Brasil, dizem as estatsticas sociais, o quinto lugar em homicdio
Nota