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tir da Primeira Guerra feago da producdo inente, a Conclusio apresenta uma reinterpretagto geral do de de senttados os dados bi 2 sobre a protepiio a industria interna de transformagio; c, no Apéndice 3 sto listadas as fabricas de tecidos de algodao estabelecidas no Brasil no periodo anterior a 1905, quando foi publicado o primeiro Jevantamento estatistico sistemético da indiistria téxtil algodoeira. sicos para a anali SUUGAN, Wilson, Inline Brarlig Cigem & durwoler muito. SP: Rrardcunre, 1986 45. ao Aye) CAPITULO ? . Origens do desenvolvimento industrial brasileiro: principais interpretacdes € questées n&o resolvidas ee ee 1.1 Introdugio smc ta-dio”); 4) a ética da indus nalmente promovida por politicas do governo. A primeira argu- ‘menta que a industrializagdo comecou como uma respos ficuldades impostas as importagdes pelos choques da Primeira Guerra Mundial, da Grande Depressao da década de 1930 ¢ da Se- gunda Guerra expansio das 7 de uma relagao ai WILSON SUZIGAN periodos de expansiio das exportagOes. Neste sent tagdo pod tradit6ria”) entre o setor exportador (café)-e a indi formagio: ao mesmo tempo que a estimulava o crescimento industrial, também impunha ‘esse crescimento, Argumenta-se que a acumulagdo de capital indus- trial era limitada porque estava subor¢inada a acumulagto de tal no setor exportador, ¢ esta titi nada a acumulagao de capital nos pat so internacional do trabalho. Além di entre 0 setor exportador (café) e a indilstria de transformago era contraditéria de duas outras maneira:: primeiramente, diz-se que os choques adversos de crises no setor exportador e da Pri iularam o crescintento da produgto indust afirma-se que a relagdo ¢, em segundo lugar, a politica riores de expans: ital cafeeico por vezes favorecia a acu- ccondmica sol Este capitulo discute essas interpretagbes & para explicar as origens do desenvolvimento industrial brasileiro, Essa discussio, no entanto, € necessariamente esquemstica, pois tudo detalhado de cada escola ce pensamento excederia os nao & empreendida aqui do desenvolvimento in- Principais questdes ainda nao 40 so listadas ao final do lo como orientagdo para a andlise agregada do investimento ilo 2) ¢ para os estudos de caso de industrias especi- ficas nos capitulos 3 ¢ 4. Luz (1995), Care oso e Faleto (1973), BresserPerei- -vamente as INDUSTRIA BRASILEIRA, 2 1.2 As interpretagdes correntes sobre as origens do desenvolvimento industrial brasileiro: uma resenha critica 1.2.1 A “teoria dos choques adversos”” Os aspectos analiticos fundamentais\da chamada teoria dos choques adversos podem ser resumidos como segue, A ocorréncia de um choque adverso (crises no-setor exportador, guerras, crises econdmicas internacionais) afetando 0 setor externo da econoimia auumenta os preros relativos das importagdes e/ou impbe dificulda- des & importagio. Em conseqiién @ procura interna, sustentada jonistas, desloca-be para as ativida- pportagdo, Duas versdes desse argu- lentificadas: a primeira pode ser chamada de “versio extrema’’ do’argumento dos choques aaversos, enquanto ‘que a outra refere-se especificamente a interpretagio do desenvolvi- mento industrial brasileiro por Furtado (1963) e Tavares (1972). A Giferenga bisica entre as duas versdes & que a primeira proclama-se erroneamente como uma “teoria’” de aplicagio geral, enquanto que a andlise de Furtado e Tavares trata apenas do choque da crise do café e da Grande Depressio dos anos 30 como um choque adverso nos termos descritos acima, No caso do Brasil, a verstio extrema do argumento dos choques adversos originow-se de estudos dos primeiros eseritores ¢ observadores contemporaneos da economia brasileira, os quais afirmaram que a industria interna de transformagao reagiu positi- ldades impostas as importagdes ‘pela’ Primei Guerra Mundial.? Mais tarde, outros autores seguiram esse cami- , rho e estenderam a aplicagao desse enfoque simplista:a periodos similares de choques adversos, como, por exemplo,.a Grande De- presstio da década de 1930 e a Segunda Guerra Mundial,’ Entretan- to, a proeminéncia alcangada pelo argumento dos choaies adver- 508 em sua verstio extrema decorreu da influente interpretapio do desenvolvimento (oit subdesenvolvimento) latino-americano pela 2) Ver, por exemplo, o trabalho A evolucdo industri! do Brasil, pubicado ¢m 1939 ¢ reedtado em Simonsen (1973, pp. 552; ver particularmente, pp. 20 £25.26, (2) Ver Dean (1976, cap, 6 para um resenha, As eritieas de Deaa, no entane to, sto quaifcadasmais adiante, neste trabalho. 2% oe WILSONSUZIGAN Comissto Econdmica para a América Latina (CEPAL).‘ A chama- a “‘doutrina da CEPAL” é bastante conhecida e, para 0s propési- tos desta discussa0, ¢ resumida a seguir somente em seus aspects econdmicos fundamentais, ‘A base da doutrina evondmica da CEPAL reside no padrio de relagdes de comércio exterior entre os paises do centro (indus trializados) ¢ 0s paises da ia (América Latina). Esse padrao, segundo o argumento, criou uma divisto internacional do trabalho ue impds aos paises da periferia a especializacao na producto de produtos primérios para exportasdo para os paises do centro, os uais, por sua vez, supriam de produtos manufaruirados os paises da periferia, Dentro dessa divisto internacional do trabalho, 0 padréo de crescimento dos paises periféricos era ‘voltado para fora’, isto 6, 0 setor exportador era predominante no processo de crescimento da renda interna, com a procura externa funcionando como o motor do crescimento”. Nos termos da economia politi cada CEPAL, 0 “centro de decisdo” da economia dos paises peri- féricos ficava fora desses paises, caracterizando-os como econo mias “reflexas ¢ dependentes”. A especializagdo na produgto.¢ ex- portagao de produtos primérios era incapaz de estimular 0 desen- volvimento industrial. Porém, a mudanga para um novo padrao de crescimento, “voltado para dentro”, somente seria possivel através da industrializagao, Essa mudanga, de acordo com a doutrina da CEPAL, ocorreu & medida que as economias dos paises periféricos se ajustaram aos sucessivos desequilibrios externos causados pelos ‘choques adversos da Primeira Guerra Mundial, da Depressto da década de 1930 ¢ da Segunda Guerza Mundial. No novo modelo de dentro —, a varidvel endogena investi- ia varidvel exdgena procura externa como principal fonte de dinamismo e crescimento. Com essa mudanga, 0 centro de deciséo da economia dos paises periféricos foi transferido para dentro desses paises. i gas no apenas econ ‘qllentemente, argumentou-se que a industrializagao substitutiva de “> importagdes nfo efetuou mudangas substanciais, dando ocasiao, "Tavares (1972), Mello INDUSTRIA BRASILEIRA : 2s assim, & emergéncia da teoria da dependéncia para explicar 0 desenvolvimento (ou subdesenvi Essa versio extrema do argumento dos choques advers0s cer- tamente pode ser, ¢ tem sido, eriticada como uma teoria geral para i mento industrial na América Latina, princi- palmente no Brasil.” Nao apenas houve erescimento industrial Gurante ciclos de expansto das exportagBes no perfodo de cresci- mento voltado para fora, como também os efeitos dos cheques ad- versos sobre a produsio € o investimento industrial no foram tao diretos quanto subentendido nesta versio extrema do argumento dos choques adversos. Na verdade, hit muita controvérsia entre as escolas de pensamento sobre, por.exemplo, os chogues da Primeira Guerra Mundial, da crise do café e da Grande Depresstio da década de 1930 (po: detalhe nas subseeées do (1963 ¢ 1970) e Tavares (1972)) no corresponde a essa versio extrema do argumento dos choques adversos. Ao contrario, ainter- pretagio desses autores pode ser consider diferente desse argumento, e aplicada espe 1930, ‘Tanto Furtado quanto Tavares fazem uma clara disting!lo entre 0 tipo de desenvolvimento industrial acorrido antes e depois da crise do café ¢ da Grande Depresstio da década de 1930, O de- senvolvimento industrial ocorrido antes da década de,1930 & consi- 6 . WILSON SUZGAN va de importagdes, estim que da crise de café e da Grande Depressdo e pelas micas adotadas para combater a crise. Antes dos anos 30 havia uma ‘dependéncia entre a expansio do comércio exteri iento_ de atividades econdmicas interna: expansio das exportagdes criow um mereado para produtos manu- faturados, ocorrendo entéo um crescimento industrial para fabri- car bens de consumo para esse mer industrial cresceu jing). Subsequentemen:e, 0 crescimento da produ- tornou-se dependente do crescimento do mercado in- sua vez, depen spansio do setor exporta- Num estégio posterior, 0 industrial também con- ma, ampliando assim o mier~ no entanto, ¢ considera- s, como meramente uma seu desenvolvimento era ‘ancia, do desempenho da repujar essa dependéncia, estrutura a fim de criar demanda, isto é, estabelecer as indiistrias produtoras .¢4o somente poderia ter ocorrido durante o periodo de crescimento voltado para fora com apoio de mediclas adequadas de protesao « essas medidas nilo foram tanto, o enfoque de Furtado Tavares € essencialmente igual ao enfoque cepalino do erescimento voltado para fora, porém iferenca basica de que, para os dois primeiros autores, a relagto entre o setor exportador e as atividades internas é de inter dependéncia ¢ ndo de antagonismo, de modo que péde ocorrer um rescimento industrial dentro da economia primério-exportadora. Entretanto, esse crescimento industrial, juntamente com o setor agricola de subsisténcia, era dar autonomia as 1D, caps. 10 11) ¢ Tavards (1972, pp. 29-24 © $8). Ver DP. 90} INDOSTRIA BRASILEIRA. ‘et 2 idades internas. Na verdade,. crescimento econdmico estava ido ao crescimento da demanda externa por produtos primérios, (Tavares (1972, p. 31))- A crise do setor externo da economia brasileira em 1929-32, causada pela crise do café e pela Grande Depressio, ¢ enfatizada por Furtado ¢ Tavares como um ponto de inflexio no desenvolvi- industrial brasileiro. Em contraste com o periodo anterior, a truturais causadas pelo declinio, ou cresciment ficiente, do setor exportador (Furtado (1970, p. 131)), De fato; 0 papel do setor exportador mudou: sua importncia relativa como bens de capital essenciais para: formacio, Ao mesmo temp cas ligadas a0 mercado investimento em atividades econd- ierno tornou-se o principal determi- entar na década de 1930, quando a capacidade de 10u, € explicado pela redueao do. coeficiente de importayoes em geral,e também pelas mudancas na composigdo das importagdes como resultado da industrializagto substitutiva de im- portagdes, com uma Fedupto na p i uma resposta a'um choque adverso especifico, ow'seja, a crise do café e da Grande Depressto da década de 1930, Acevidéncia produzida neste trabalho (capitilo 2,3 e 4 ofere- Ge fortes indicagdes de que as andlises de Furtado e'Tavares sto es- sencialmente corretas, embora algumas qualificagdes possam ser feitas. Primeiramente, esses autores subestimami o-desenvolvimento industrial ocorsido antes de década de 1930, Embora a interpreta- ‘0 desse desenvol 6 pela expansiio do setor exportador seja conceitualmente correta, deve-se considerar que esse crescimiento industrial nfo estava limitado a bens de consumo — e materiais de construgto, como sugerido por Furtado (1970) —, mas incluia também a produgo deinsumose bens“ de capital leves para os setores agricola-exportador e de transportes e ia, i 2 r WILSON SUZIGAN ‘para o processamento de produtos de exportacio. De fato, o desen- volvimento industrial ocorrido nesse periodo provavelmente & mais adequadamente descrito pela teoria do crescimento induzido por produtos bisicos de exportacdo (ver seco 1.4 adiante). Em segun- do lugar, embora a énfase na crise da década de 1930 como um onto de inflexdo no desenvolvimento industrial brasileiro seja em- piricamente correta, deve-se observar que a diversificagao da pro- dug3o industrial durante o periodo de or sustentagio, ou seja, que a demanda no depend: crescimento da renda relacionado as exportagbes (ver capftulo 3). Portanto, embora retendo a crise do café e da Grande Depressto da década de 1930 como um ponto de inflexao na transieao para uma economia industrial, ¢ claro que essa transi¢o comesou antes da década de 1930. ‘Um comentario final refere-se & impropriedade de criticas 20 argumento dos choques adversos com base no impacto da Primeira Guerra Mundial sobre a economia brasileira, tais como aquelas fei- tas por Dean (1976, cap. VI). Fica claro, a partir da discussto aci- ‘ma, que Dean estava de fato criticando a versao extrema do argu- mento dos choques adversos, incluindo indevidamente a anAlise de Furtado nessas eritias. 1.2.2 A otica da industrializagao liderada pela expansiio das exportacies A intepretagto do desenvolvimento industrial brasileiro ante- rior & década de 1930 por Furtado e Tavares poderia, em princi ‘ser‘considerada como idéntica a interpretaglo desse desenvol =, mento como uma industrializagao Iiderada pela expansto das * exportagées. No entanto, esta iitima interpretagdo difere da de Furtado e Tavares ao estabelecer uma relagdo direta etre 0 desem- penho do setor exportador e 0 desenvolvimento industrial (signifi- cando' que a indistria se desenvolveu durante perfodos de bom ‘desempenho dis exportagbes e se retardou durante perlodés de crise no setor exportador) ¢ ao caracterizar esse desenvolvimento ‘industrial como um processo abrangente de industrializagto, endo tado-a produgo de bens de consumo como uma extensto do setor.exportador. INDUSTRIABRASILEIRA « 2 Quatro contribuigdes principais a esta zscola de pensamento podem ser mencionadas: as de Dean (1976). Nicol (1974), Peléez (1972) e Leff (1982), embora apenas as duas primeiras sejam real- mente relevantes, O trabalho de Peldez pode ser considerado como una interpretagdo de indus pho liderada pelas exportagbes apenas no sentido em que critica o argumento dos choques adver- sos, No entanto, ele concentra-se na década de 1930 apenas, ¢ espe~ cificamente na interpretagio de Furtado sobre o impacto da crise -as econOmicas adotadas para combate xz era produzir uma eritica abrangent ‘ques adversos mas esse objetivo nao foi lo, uma vez que, co- ‘mo discutido acima, a década de 1930 con: inico periodo que pode ser satisfatoriamente analisado nos terraos do argumento dos ‘choques adversos (ver subseo 1.3.3, para uma discussdo da década e para uma andlise detalhada d contribuigdo de Peliez). Sobretudo, Peléez nao oferece expli ‘mente uma interpretagdo alternativa do desenvolvimento indu brasileiro, consistente com sua critica ao, argumento dos choques adversos. Ao contrario, argumentando com base em taxas rel: internas, Peldez conclui que 0s programas distorceram essas taxas relativas de retorno portador, atrasando assim o desenvolvimento industrial brasileiro. ‘A contribuiggo de Leff (1982) também é contraditoria, pois ele afirma claramente que a expansiio das exportagdes € 0 desenyol- i lustrial no Brasil apoiavam-se mutuamente, ¢ que ““o desenvolvimento industrial do Brasil nao necessitou de ‘choques ‘externos’ como 0 rompimento das relagdes normais de comércio durante a Primeira Guerra Mundial” (pp. 178-179 e 194). De acor- do com 0 mesmo autor, a expansto do setor exportador esti © desenvolvimento industrial, fornecéndo 0: meios para importa- ¢o de insumos industriais complementares ¢ 0s recursos para o de- ate ferrovias) ¢ pro- movendo o crescimento darenda interna, eriando assim um merca- Go interno para produtos manufaturados. Os chogues externos no foram fatores deter de tarifas adua- neiras sobre as importapées alterou “a relay80 inferna de prevos relativos em favor da indstra sem um comérclo internacional’ (p. 195). Entretanto, Leff co anélise fazendo as seguintes argumentagdes: gue 0 Br. 30." WILSON SUZIGAN as externas (pp. 203-204; que o setor exportador nao tinha grande participacdo na procura e oferta agre- gadas da economia brasileira (pp. 195-196); que a Primeira Guerra Mundial estimulou a expansdo da indistria de transformagao que 0 menor impacto da Grande Depressto da década de-1930 sobre a economia brasileira e sua rapida recupera- do resultaram da implementagio de politicas monetaria e fiscal ex- pansionistas (p. 206), o que, em esséncia, correspond exatamente & andlise de Furtado para a década d> 1930, embora Leff sequer de defesa do café, Ble se contradiz ainda mais il durante a guerra (Primeira Guerra Mundial) demonstrou que, muito antes da década de 1930, © desenvolvimento econdmico do pais poderia ser mantido apesar de uma forte contragao no setor externo” (p. 207). Portanto, a anélise de Leff sobre o desenvolvim:nto industrial brasileiro & bastante inconsistente, podendo ser deixada de Indo na presente discussao. Dean (1976) ¢ Nicol (1974),? por outro lado, oferecem contri- Bes consistentes e substanciais, pois estabelecem uma relacto direta entre a expansio das exportagée: de café e 0 desenvolvimen- to industrial no Estado de Sto Paulo. Afirmam que, em anos de ‘bom desempenho das exportagdes, 0 desenvolvimento industrial avangoue que, em anos de fraco desernpenho das exportagdes, 0 desenvolvimento industrial atrasou-se, Ambos concluem que a Pi terrompeuu win processo de desenvol pendia das condigdes econ61 & década de 1930: Para iho do setor exportador afé)'e 0 desenvolvimento industrial & vAlida para o perfodo ante- 4 década de 1930, que, embora nic estudada por esse autor, & como um periodo de industri it enfoque de Dean, por outro | dea relagao dit () Atesede Nico fol taza, ao meu conbssimento por Lia Caos Bi lo que lhe INDUSTRIA BRASILEIRA 3 Ey dial favoreceu o crescimento industrial durante a década de 1930 @.117), ‘A forma como o setor exportador (café) estimulou o desen- trial por varias razbes: em primeiro lugar, a9 promover a mo- netizaco da economiia ¢ o crescimento da renda interna, 0 café criou um mercado para produtos manufaturados; promover o desenvolvi para a criagdo de um sistema de dist ‘ados; e, em quarto, ao promover a imigrago, simentou a ofer- ta de mio-de-obra. Além disso, a exportagio de café supria 0s re- cursos em moéda estrarigeira para a importagdo de insum de capital para o setor industrial (Dean (1976, cap. 1) e Nicol (1974, 80, 20 passo.que Deat ‘Armas signi dores ¢ imigrantes (**burgueses imigrantes’’, dé acordo ¢ont Dean), principalimente ao grupo social formado pela superpdsigao desses duas categorias. Segiindo D ‘como mencionado acima, também nao fo impor- tante, segundo. ele proprio afirma, Nas décadas de 1920 ¢.1930,.0 _einvestimento de Iucros industiis foi uma importante fonteaditio- nal de recursos para formagdo de capital industrial, No afirma que nao houve uma rapida acumulagao de capi nessas duas décadas (p:; 124). Nicol, por qualquer evidéncia convincente sobre as origens do capital’e do em- presariado industtal; mas argumenta que a participaeao do capital estrangeiro foi. estradas de ferto'e da init Essa interpretagd, esp 8 i ~ WILSONSUZIGAN Me para o processamento de produtos de exportagio. De fato, o desen- imento industrial ocorrido nesse periodo provavelmente € mais adequadamente descrito pela teoria do crescimento induzido por produtos basicos de exportagdo (ver septio 1.4 adiante), Em segun- do lugar, embora a énfase na crise da década de 1930 como um onto de inflexio no desenvolvimento industrial bi piricamente correta, devese observar que a dive uso industrial durante 0 periodo de erescimento voltado para {fora ja havia avangado jvamente, implicando que o cresci- mento industrial j4 havia adquirido um certo grau de autor sustentago, ou soja, que a demanda ndo dependia inteiramente do crescimento da renda relacionado as exportagbes (ver capitulo 3). Portanto, embora retendo a crise do café e da Grande Depresstio da ‘déeada de 1930 como um ponto de inflexao na transigao para uma economia industrial, € claro que essa transigdo comecou antes da década de 1930. ‘Um comentirio final refere-se & impropriedade de eriticas 20 argumento dos choques adversos com base no impacto da Primeira Guerra Mundial sobre a economia brasileira, tais como aquelas tas por Dean (1976, cap. VI). Fica claro, a partir da discuss aci- ‘ma, que Dean estava de feto criticando a versdo extrema do argu mento dos choques adversos, incluindo indevidamente a anilise de Furtado nessas eriticas. 1.2.2 A 6tica da industrializagio ligerada pela expansiio das exportagdex A intepretagio do desenvolvimento industrial br ror década de 1930 por Furtado e Tavares poderia, em princi ‘ser considerada como idéntica interpretagdo desse desenvo! ‘mento como uma industrializagao lderada pela expansdo das © exportagdes. No entanto, esta dltima “Furtado e Tavares ao estabelecer uma relagao direta entre o desem- penho do setor exportador e o desenvolvimento industrial (signifi- + cando'que a indtistria se desenvolvew durante periodos de bom _ desempenho das exportagtes e se ‘retardou durante periodos de crise no setor exportador) ¢ ao cafacterizar esse desenvolvimento {industrial como um processo abrangente de industrializagao, endo imitado’a produgtlo de bens de consumo como uma extenséo do INDUSTRIA BRASILEIRA 2 Quatro contribuigtes principais a esta 2scola de pensamento podem ser mencionadas: as de Dean (1976), Nicol (1974), Peliez (1972) e Leff (1982), embora apenas as duas primeiras sejam real- mente relevantes. trabalho de Peléez pode ser considerado como ‘uma interpretagdo de industrializapio liderada pelas exportagdes apenas no sentido em que critica o argumenio dos choques adver- politicas econdmicas adotadas para combater Peléez era produzir uma critica abrangente do argumento dos cho- ques adversos mas esse jo, uma vez.que, co- mo discutido acima, a década de 1930 cons inico periodo que pode ser satisfatoriamente analisado nos termos do argumento dos choques adversos (ver subsegdo 1.3.3, adiante, para uma discussio da década e para uma andlise detalhada da discussio originada pela contribuigdo de Pelaez). Sobretudo, Peldez nao oferéve explicita- mente uma interpretagio alternativa do desenvolvimento industrial mento dos choques 05 programas cle valorizagao do café ivas de retorno em favor do setor ex portador, atrasando assim o desenvolvimento industrial brasileiro. ‘A contribuigdo de Leff (1982) também: € contraditéria, pois cle afirma claramente que a expansiio das exportagdes ¢ o desenyol- {no Brasil apoiavam-se mutuamente, ¢ que “o desenvolvimento industrial do Brasil ndo necessitoti de ‘choques externos’ como o rompimento das relag6es normais de comércio Gurante a Primeira Guerra Mundial’ (pp. 178-179 e 194). De acor- do com 0 mesmo autor, 2 expansio do setor exportador estimulou 6 desenvolvimento industrial, fornecendo o: meios para importa- so de insumos industrials eomplementares e os recursos para o de- Senvolvimento da infra-estrutura (principalniente ferrovias) © pro- movendo o ctescimento da renda interna, criando assim um merca- éo interno para produtos manufaturados. Os choques externos ndo foram fatores determinantes, porque a imposigao de tarifas acua- neiras sobre as importag6es alterou “a relay8o interna de presos. relatives em favor da indistria sem um comércio internaci 195). Entre fanilise fazendo as seguintes argumentag6es: que o Brasil néo de- 2, WILSON SUZIGAN pendia das condigdes econdmicas externas (pp, 203-204; que 0 setor exportador nao tinha grande participacao na procura e oferta agre- gadas da economia brasileira (pp. 195-196); que a Primeira Guerra wulou a expansio da indiistria de transformacdo ira (p. 206); e que o menor impacto da Grande Depressio da década de 1930 sobre a economia brasileira e sua répida recupera- ‘am da implementago de politicas monetiria e fiscal ex- pansionistas (p. 206), o que, em esséncia, corresponde exatamente A andlise de Furtado para a década d> 1930, embora Leff sequer a0 afirmar que “a experiéncia do Bre Guerra Mundial) demonstrou que, m © desenvolvimento econdmico do pais poderia ser mantido apesar de uma forte contrigdo no setor externo” (p. 207). Portanto, a de Leff sobre 0 desenvolv lustrial brasileiro & onsistente, podendo ser deixada de lado na presente 6) € Nicol (1974),? por outro lado, oferecem contri- buipdes consistentes e substanciais, pois estabelecem uma relapao ireta entre a expansio das exportagde: de café e 0 desenvolvimen- to industrial no Estado de Sto Paulo. Afirmam que, em anos de bom desempenho das exportagdes, o desenvolvimento industrial avangoue que, em anos de fraco deserapenho das exportagdes, 0 desenvolvimento industrial atrasou-se, Ambos concluem que a Pri- ‘meira Guerra Mundial interrompeu un processo de desenvolvi- mento industrial que estava em andamento antes da guerra (ver subsepto i rsia ¢ a respeito da Pri- i.e 0 desenvolvimento industrial), Entretanto, ta diferentes quanto a década de 1930: Para tho do setor exportador Gale) 0 desenvolvimento industrial & v rior & década de 1930, que, emt vista como um periodo de indus ges. O enfoque de Dean, por outro dea relado direta entre café e desenvoly de 1930, Consistente com seu ponto dev. se do café e a Grande Depressfo “qu: de Sto Paulo” em 1930 (p. 194) e crt jento industrial a década sn afirma que a cri- wam as indtistrias (©) Atesede Nicol fol trazida 20 meu conhecimenta por Lulz Carlos Bress Persira, pelo que lhe agradeso. a idéia de que a crise mun- INDUSTRIA BRASILEIRA F 3 dial favoreceu o crescimento industrial durante a década de 1930 (p. 117). A forma como 0 setor expdrtador (café) estimulou o desen- lar, & claro, nas andlises de. Dean . igo as bases para o desenvolvimento lustrial por varias razbes: em primeiro lugar, ao promover amo- netizago da economia ¢ o crescimento da renda interna, 0 café criou um mercado para produtos manufaturados; em segundo, 40 promover o desenvolvimento de estradas de ferro ¢ o investimento em infra-estrutura, ampliou e integrou esse mercado; em tereeiro, ver 0 comércio de exportacdo ¢ importado, contribul para a criago de um sistema de distribuigdo de produtos manufs- turados; ¢, em quarto, a0 promover a imigragao, aiimentou a ofer~ ta de mio-de-obra. Além disso, a exportagtio de café suptia 0s re- cursos em moeda estrangeira para a importagto de insumos e bens $0, 20 passo.que Dean (p. 17) 0 mi ~ Arnis significativa cont estudo das origens do cay lienta que 05 cafeicultores investiram em bancos; estradas de ferro, promogao de imigracao e, em menor escala, na indistria dé trans- “ontuido, 0 papel mais importante coube igrantes (“‘burgueses imigrantes’’, dé acordo’¢omt Dean), 0 grupo social formado as, Segundo Dean, o capital por tante, segundo ele proprio afirma. Nas décadas de 1920 ¢ 1930, 0 importante fonte adicio- nessas duas décadas.(p::124), ‘qualuer evidéncia convincente sot um_ papel importante; principalmente no. dei esttadas de ferro‘e da jndtistria siderdirgica, © Essa ititerpretagao, especialmente a Dean, ¢ certamente to’ inaceitavel quanto a vérs&o ‘extiema do argumento’dos choques adversos. Ao admitir a existéncia de uma 32 WILSON SUZIGAN relagao linear entre 0 desempenho do setor exportador e o desen- volvimento industrial, Dean ignora as mudangas estruturais funda- mentais causadas pela crise do cafe da Grande Depressto da déca- da de 1930, ao passo que Nicol, como mencionado acima, aplica a interpretagdo da industrializagdo liderada pelas exportacdes apenas a0 perfodo anterior & década de 1930, Porém, ambos deixam de notar as mudaneas qualitativas estimuladas pela Primeira Guerra Mundial, como discutido adiante (subse 1.3.2), Em favor de Dean ¢ Nicol esté a percepao que tiveram das variadas conexdes ‘entre 0 comércio de café ¢ 0 desenvolvimento industrial. Tambérn fica ‘a erédito de Dean a sua discussdo a respeito das origens do capital e do empresariado industrial. No entanto, estes pontos de dos pela interpretacdo baseada no desenvolvi- apitalismo tardio”), a qual como parte do proceso de acumulago de capital no setor cafeeiro, © 05 cafeicultores e 05 importadores-imigrantes como os agentes sociais desse processo, como discutido a seguir. 1.2.3 A dtica do “capitalismo tardio”” ‘Uma grande contribuigao para o estudo do desenvolvimento industrial brasileiro € aquela prestada pela interpretagto desse deseavolvimento em termos da evolugao do capitalismo no Brasil. ‘A andlise baseia-se na expansio da economia exportadora de café do Estado de Sao Paulo. As principais contribuigdes sio as de Silva (1976), Mello (1975), Tavares (1974), Cano (1977) e Aureliano (1981). A.discussdo que se segue enfatiza o contraste entre esta in terptetagio e: 1) a tradicional doutrina da CEPAL; ¢ 2) a interpre- tagdo da industrializacao liderada pela expansdo das exportagdes, ‘bem como o processo segundo o qual ocorria a acumualagao de 1 ¢ as caracteristicas do desenvolvimento industrial gundo a ética do capitalismo tardio é essencialmente uma revisdo ,da‘doutrina cepalina tradicional. Embora reconhecendo a impor- lscutsto, Uma resenha inde modo adequado den- INDUSTRIA BRASILEIRA t€ncia desta doutrina para o entendim postulado de que o desenvolvimento especifico (isto é, de uma economia pe refuta 0 cardter reflexo atribuido 4s economias latino- as pela doutrina da CEPAL. Inco: fa formulado por Cardoso ¢ io sugere que o desenvolvirnent determinado primeiramente por fat por fatores externos. Assim, enfatizando que a transiglio do trabalho escravo para o, trabalho assalar'ado dentro da econo- ‘portadora marca a emergéacia de um novo modo ‘apitalisia—, a ética do capitalismo tardio subs- tomia fatores externos versus fatores inter $ como motores do crescimento, por uma interpretagdo, que visualiza 0 cresciniento industrial como primordialmente um resul- tado do processo de acumulagto de capital ao setor agricola expor- tador, 0 qual, por sua vez, depende da procura externa. Da mesma forma, a tradicional periodizaglo cepalina, que prope um periodo de crescimento véltado para fora até 1929 ¢ a transigio a partir dos anos 30 para um creseimento voltado para lentro em conseavéncia da crise no setor exportador, & substitulde. por uma periodizarto aque enfatiza a transigto da economia colonial para a mercantil na~ cional baseada no trabalho escravo ¢, subseqilentemente, para a economia capitalista exportadora, Foi nesta dltimia fase, especial~ mente entre fins da d&cada de 1880 ea de 1920, que se deu a origem ¢ consolidagto do capital industrial.” gee De aéordo, com esta interpretagio, o capital industrial origi- now-se na década’ de 1880, na esteira de um clipido proceso de acu- mulagao de capital no setor exportador de café. Por essa época, a introdugto da méquina de beneficiar café e a construgio de um sis- tema de transporte ferrovidrio 4 haviam contribuldo para mel! rar a qualidade do catt ered ransporte,estimu do aislm a acimulaedo de capital e aumientando a procura de'mao- 4 WILSON SUZIGAN de-obra. Estas duas novas atividades empregavam trabalho assala- tiado, ¢ 0s cafeicultores estavam erese2ntemente voltando-se para 0 ‘emprego de trabalho assalariado nas plantagdes, uma vez que o tra- balho escravo era eseasso oneroso e j preniinciava a aboligto da escravido. A solugtio encontrada para a escassez de mao-de-obras foi a promoctio da imigracdo de traballiadores livres, completando- emergéncia do capi |. Essas condigdes compreendem a prévia acumulacdo de capital para in a formagdo de um mercado de traball cado interno para produtos importar bens de salétio, mat (1975, pp. 79-82 ¢ ivre, a crlagto de um mer- izados e a capacidade de ias e maquinaria (Mello io “complexo exportador de ' produgiio e o processamento do café, o siste- ma de transportes (estradas de ferro, © comércio'de importacko e exportacdo e os servigo Afirma-se que o “‘vazamento” de capital cefeeiro para a industria ocorreu durante periodos de expansiio das exportacdes. No entanto, diz-se que a re- ago entre a expansto do setor exportador (café) e o erescimento industrial € ndo-linear, Nos periodos de crise no setor exportador a indtstria de transformagio é de inicio regativamente afetada, mas A medida que'a protegio ao mercado in:erno aumenta, como res tado da redugdo na capacidade de impertar, a produgto industrial se recupera, absorvendo gradualmente a capaci Cciosa (Mello (1975, pp, 112-113)). Com relagio aos agentes sociais do processo de acumulagao de capital no setor industrial, hé alguma controvérsia entre os autores que adotam a ética do capitalismo ta tores como o grupo social de onde se ociginou a burguesia indus- enquanto que 176), concorcando com Dean (1976), es-imigrantes importadores desempenharam papel principal, No entanto, Silva lembra que o que importa ndo é 0 srupo social que forma o niicieo da burguesia industrial, mas sim a origem dessa burguesia, que ele afirma te: sido 0 comércio de impor- 10 qual predominavant os burgueses imigrantes, 7 ente defini- sito nas andlises de Mell (1975) "as est também mpl ‘Mello (1975) ¢ Cano (1977) enfatizam o papel dos cafeicul- , INDOSTRIA DRASILEIRA, 3s Afirma-se também que a relag&o entre 0 capital cafeeiro ¢ 0 industrial é contraditéria. As contradigdes derivam da su- de de importar maquinas e equipamentos indus bens de salétio para a reprodugaoda forga de trabal um mercado para produtos industrializados. O capital cafec por sua vez, dependia da demanda externa por café. Embora a ré- pida acumulacdo de capital cafeeiro estimulasse @ acumilagto de capital industrial, esta era contradit6ria 4 acumulagdo de capital 1es a esse desenvolvimento. As indistrias que se estabeleceram foram principalmente as de bens de consumo. A procura de bens de capital efa dirigida aos patses do porque periférico, subordinado & imulagdo intérnacional de capital, endo aut6nomo (Mello 3) ¢ Silva (1976). 2% ‘Alem disso, 0 desenv enire 0 capital ca- ctondmica (prin- sobre a exportacdo do cafe, jo, tal imposto contrariaria os nantes do ternacional, ja que parte desse iniposto seria transferido para 0s importadores, dada a inelasticidade da procufa do café. Assim, a cobranga de direitos aduaneiros sobre as importag®es fo 36 WILSON sUZIGAN 4 solugdo alternativa, A tarifa aduaneira tornou-se a mais impor- Para o governo, beneficiando indiretamente a iterna pela protepio que oferecia, Da mesma forma, a depreciagio da taxa de cdimbio quando caiam os pregos do café também favorecia a inci terna, Entretanto, afirma-se que essas politicas (aduaneira e cambial) no podem sor caracterizadas como protecionistas, uma vez que nao eram selet ¢ varlavam de acordo com a conjuntura econdmica (Silva Pp. 104-107). « Finalmente, a tica do capitatismo tardio salienta que esse Padrdo de acumualedo de capital baseado no comércio do café foi rompido pela crise do café ¢ da Grande Depressio da década de 1990. A acumulapio de capital industrial tormou-se mais indepen. dente do capital cafeciro, ao menos pelo lado da procura. Esta nao ‘mais seria determinada primordiaimente pela expansdo do setor exportador, mas sim principalmente pelo creseimento da renda no Setor industrial-urbano, As politicas monetéria e fiscal expansionis- tas da década de 1930 ¢ a reducdo da capacidade de importar esti mularam o crescimento da produgdo nas indistrias de bens de con- Sumo previamente estabelecidas e um concomitante proceso de rapida industrializagao subst mediaios ¢ bens de capital, ortagdes nao foi suficiente para e: +as, deinsumos bésicos e bens de capital. De fato, a acumulagdo de capital continuou dependente da capacidade de importar criada pelo setor exportador para realizar importagbes de maquinaria e insumo bésicos industriais. Essas importagdes somente puderam ‘ser aumentadas numa conjuntura de capacidade de importar decli- ante como a da década de 1930, devido a mudangas na composi- $0 das importagdes como resultado do processo de industrializae sfo substitutiva de importagdes. Somente a partir de meados da dé- cada de 1950 & que a acumulagto de capital industrial tornouse pre- dominante ¢ endogenamente determinada, como resultado do esta- belecimento das indistrias pesecas (Mello (1975) e Tavares (1974)). A evidéncia produzida neste trabalho confirma em termos sgerais a interpretagao do desenvolvimento industrial brasileiro pela 6tica do capitalismo tardio, embora nao se estude aqui a dialética da acumulagao de cay * de.expansio das exportagdes que ocorreu a expansto do capital in- dustrial (ver capitulo 2), B também correto que o capital industrial + originou-se de atividades direta ou indiretamente relacionadas com INDUSTRIA BRASILEIRA, 2 © setor exportador (porém, no apenas Grande Depressio da década de 1930 ct ram-se, de fato, jexdo no desenvolvimento industrial brasilein "4 econdmica realmente teve, ocasionalmente, efeitos positives sobre a indiistria interna, embora variassem de acordo com a conjuntura econdmica, Xo entanto, & possivel fazer algumas qualificagdes sobre pon- 08 dessa interpretagio./ iro lugar, a acumula- iniciado bem antes de fins da 1880 (este ponto € discutido em detalhe na subsegdo . Em segundo lugar, a nio-linearidade da relagao spansao das exportagdes de café a acumulagao de capital & provavelmente esquemética demais, Nao ha divida de que essa relagdo era ndo-linear, e os efeitos da crise do café e da Grande Depressao da década de 1930 sobre a acumulagto de capi- tal industrial constituem-se na melhor prova deste argumento. Porém, para o periodo anterior a década dle 1930, tal argumento & discutivel. © que parece claro € que havia quanto 20 investimento, ‘entre a expansdo do setor agricola-exportador ¢ uma relaggo oir jento industrial: periodos de crescimento do investimento industrial coincidiram com fase de expansto das exportagdes, enquanto periodos de dectinio do inves lustrial coincidi- fam com erises do setor exportador (ver capftulo 2). Quanto a pro- dso, no entanto, a hipbtese de que a procugdo industrial resp« eu positivamente a crises no setor exportador nilo pode ser ver cada para as crises que ocorreram antes da Primeira Guerra Mun- dial, uma vez que nilo ha dados suficientes sobre produgao indus- ‘tial para esse periodo,'s Dispoe-se apenas cle evidéncia qualitativa, © esta sugere que a producdo industrial era negativamente afetada pelas crises do setor exportador, como, por'exemplo em fins da década de 1870 ¢ na virada do século (ver capitulo 3). Deste modo, adiscusstio sobre 0 desempenho da indisiria de transformagao du- ante a Primeira Guerra Mundial torna-se crucial para esclarecer a contovérsia (essa discussao é apresentada na subsego 1.3.2, adian- te, Deve-se deixar claro desde logo, porém, cue a quebra do comér- sso, para 0 perlodo 1900- ids de algodao eno periodo idos de algodao, 16 ¢ juta e om produtes de carne, Ver Haddad (1998, passin), 38 WILSONSUZIGAN cio exterior nao poderia ter: perdeu impeto em conseqiéncia da naria, ¢ em 1918 a variago da taxa de trata do controvertido ponto acerca L, Um estudo recente (Mello (198: mostra que os cafeicultores imento de indiistrias no final do século XIX, Além disso, como sera discutido no capitulo 3, os comerciantes desempenharam um pé geral parece ter sido a de que importado- a superposi¢iio desses dois grupos, con: ‘guesia industrial, confirmando assim a © quarto comentirio refere-se amy a produgto industrial durante o perk estava subordinado a acumulagao de capital cafeeiro. A estrutura setorial da produgtio ndo era tdo rigidamente conc de consumo. Insumos para o setor agricola-exportador também jé eram produzidos numa escala significativa e mesmo antes da Pri- meira Guerra Mundial jé havie ocorrido alguma 1977, p. 188), © a necessidade dessa durante a guerra. Em na ampla diversificagto da ‘em parte apoiada ¢ encorajada pelos governos como também observou Can diversificagao tornou-se ainda mais conseqiténcia, 9 entanto, nao diminiem pensamento ao estudo das + origens do desenvolvimento industrial no Brasil, 1.2.4 A ética da industrializacio intencionalmente Promovida por politicas do gov fens do desenvolvimento importancia a pol mais do governo paraa promocdo da industrializagdo, prin- INDOSTRIA BRASILEIRA 2» cipalmente através da protesdo tarifarla'e da cohcessao de incenti- vos e subsfdios. Nao se tata, porém, de provar que a industrializa- ‘40 foi promovida por uma abrangente politica deliberada de de- senvolvimento. Ha um consenso de que tal politicayno sentido em que foi definida por Hirschman," ndo foi implementada no Brasil antes da década de 1950, De fato, a intengto declarada desta escola testar a afirmacdo, uswalmente encontrada na leira, de que o papel do Estado na promogao do dustrial no perlodo anterior a 1930 foi minimo ou nao significative.” Argumenta-se que, ao contrério, 0 Estado desempenhou um pap ivo, primeiramente através de uma protepdo alfandegéria del ‘em segundo lugar, através da concessdo de incentivos e subsidios a industrias especificas. Estes dois aspectos do itidos separadamente a seguir, Os principais autores que apéiam 0 ponto de vista de que rotepao alfandegéria cra intencional stio F. Ver conjunto (Ver- senvolvido por F. R. (1979). Estudando 0 desenvolvimento da: iidistria. de tecidos de algodio, esses autores sugerem que tal desenvolvimento ecorrew segundo um padrao ciclico que alternava periods de ‘aumento do investimento com periodos de expansto.da produczo, Eles atribuer essa alterndncia a variagdes na taxa da edibio: aso. brevaiorizacaé favorecia o aumento do irives i custo da maquinaria importada, mas reduzia a proteydo interna; a depreciagio, por 0 40 aumentar a proterdo, mas aumeintava o custo da miaquinaria im. portada, des do assim o investimento, No entanto, esses autores atribuem a tarifa alfandegéria 0 papel de mai fator de protegiio para o desenvolvimento da ind algodio. Sobretudo, F. R. Ve protesdo alfandegéria ndo era“... ra que eslabelesamopéragdes act estabelecimento.de empress induse als extatas ou, eescentemente, de companhia ou bancos de desenvoli ‘nto encarregais de promover empreendimentos (17) Ver, por exemplo, Dean (1976)e Vile do abrangente de intervensto do Estado e do seu papel na eco periodo 1889-1930, ver Topik (1979 1981),- ‘0 WILSON SUZIGAN tema tarifério de orientagao fiscal...”, mas pode ter sido *,. tam- ‘bém um objetivo intencional da politica de tarifas””. Subsequente- ‘mente, M. T. Versiani (1981 ¢ 1982), estudando a proteso alfande- ‘gétia no perfodo anterior a Primeira Guerra Mundial, argumenta que a tarifa aduaneira em vigor no periodo 1906-1912 favoreceu 0 ‘crescimento industrial. Antes de fazer qualquer comentirio a esta interpretagiio, de- ve-se notar que a discussdo sobre protecdo e sua efetividade para a defesa do mercado interno em favor do produtor interno nto pode ser baseada apenas no estudo das tarifas alfandegérias. £ preciso cconsiderar, isto sim, o efeito combinado dos direitos aduaneiros de variagdes na taxa de cdmbio, nos pregos de importagdo © nos regos internos. Uma medida aproximada desse efeito agregado & apresentada no capitulo 2 adiante, juntamente com uma discuss pormenorizada das opinies de F. R. Versiani (1979) sobre a prote- No entanto, como indi- rmagao fundamental, ou considera que a indéstria bvaslleira era altamente dependente de insumos importados, os quais também pagavam direitos aduanei- ros. De qualquer modo, a discussto apresentada no capitulo 2 su- ere que a protesto aduancira variou segundo diferentes periodos, ¢ idade em proteger outras varidveis de p de 1860 fins da de 1880, imas esse aumento foi “por uma redugo nos pregos de importacdo. Osci ‘edmbjo em termos reais foram mais importantes nesse periodo, ¢ ppode-se dizer que, para esse periodo em particular, a interpretagio bascada em alterndncias de fases de valorizacdo da taxa de cémbio (@ aumento nos investimentos) com fases de depreciagto da taxa de elmbio (¢ aumento na produto) é correta (Versiani e Versiani (1977, p. 124-126) ¢F. R. Versiani (1979, p. 30)). De 1889 a 1895, a protepdo aduaneira foi substanciaimente reduzida, em conseqiién- cia da erosto das alfquotas especificas pela inflacdo, e a deprecia- ‘lo da taxa de cAmbio tornou-se o mais importante fator de prote- so. No final do século XIX e principios do séeulo atual, a prote- $40 aduaneira aumentou novamente, ao mesmo tempo a © de chmbio valorizava-se substancialmente devido a uma politica de eflagio: Nesse periodo em particular, a protego aduaneira foi a ma dos efeitos da 1912, a protepto io permaneceu eitos aduaneiros foi crucial para proteger a produgo industrial valorizagao. camt aduancira dimi praticamente estavel, mas o declinio dos « compensado por um aumento no prego relativo das importagdes. O resultado global para todo o periodo anterior & Primeira Guerra ‘Mundial foi a continua redugo da “proterao (liquida) agregada’ A partir da Primeira Guerra, a protepo decorreu principalmen da desvalorizagdo da taxa de cimbio e de resirigdes as importags © que torna de interesse secundario a discussdo sobre protesao ba seada exclusivamente na tarifa aduaneira, Mesmo para o periodo Guerra, as freqlientes variagdes, na protesa0 ‘aduaneira de acordo com a situagdo econdraica do momento, € 0 cardter ndo-seletivo dos direitos aduaneiros, tornam dificil de acei- firmagao de que a tarifa aduaneira era intencionalmente pro- o estudo de caso da indiistria da cerveja fei- 1982), como um exemplo de desenvolvimen- lo pelo aumento da protesdo aduancira no & inadequado. De fato, j& a0 final do século ‘XIX a cerveja produzida no pais liavia desilojado quase,inteira- iente as cervejas importadas (vex capitulo 3, subsesto 3. aumento dos dreltes aduaneios sobre ceryejas na déeada de 1500 foi certamente redundante.. eesstio de incentives e subst governameitais formas foram as ¢ equipamentos, redudo de fretes nas ferrovi linkas de navegagao de propriedade do governo, etc. No ent com excegdo dos incentivos e subsidios a indi: qual era sistematicamente auxiliada (ver capi 3.2.3), a concessiio de incentivos e subsidios a (como, por exemplo, a concessdo de créditos subsidiados em 1892, apé5 a crise do Eneilhamento, eem 1918, quando ios a indiisttia, lama economia predominentemente sgrool- exportadora (Luz (1875). 2 WILSONSUZIGAN No entanto, num trabalho recente, F, R, Versiani (1982) af- gumenta que as’ politicas governamentais do periodo agricola- exportador nao eram sistematicamente antiindustrialistes, e que + é duvidoso que se possa afirmar que. sistema de incentivos era (p. 35). Para comprovar essa afirmagto, F. R, Versiani polmentos de observadores contemporneos, e exemplos de ujo desenvolvimento na década de 1920 foi estimulado i (Cimento, ago, soda céustica ¢ por incentivos governament fiagdo de seda). E-correta a afirmaglo de F. R, Versiani no sentido de que as oliticas governamentais durante 0 periodo primério-exportador ‘nao eram sistematicamente antiindustrialistas, embora ele no explique as razbes. E também correto que a diversificagio da timulada por incenti- No entanto, o autor exagera a ‘os e subsidios, particular mente ao referir-se a eles como um ‘sistema’, algumas qualifica- (G0es sto necessirias para esclarecer esses pontos. Primeiramente, quanto ao fato de que as politicas gover nao foram inteiramente auitiindustrialistas no perfodo primdrio-exportador, deve ser lembrado que a politica eondmica, mesmo sob a égide dos interesses agcicola-exportadores, de fato favoreceu 0 desenvolviment l da maneira descrita na fica, € claro, que as politicas uularam deliberadamente o desenvolvimento & impréprio tratar 0 periodo anterior a cada de 1930 como tendo sido uniforme, De fato, no que diz res- peito ao desenvolvimento industrial. é importante distinguir 0 papel econdmico do Estado nos periodos anterior e posterior & Pri- meira Guerra Mundial. Po com seguranga que o Esta- leito passou a estimular deliberadamente o desenvolvimen- especificas (mas nao o desenvolvimento industrial ‘em geral) a partir dos anos da Primeira Guerra, Essa mudanga no do Estado, porém, governo federal havia tentado estimular a produgio interna mesmo antes da guerra, embora sem sucesso. A decisio de 1a de ago j naquele periodo foi tomada com a finalidade de reduzir as impor.ag6es de aco, que estavam sobrecarregando a balanga comercial, e também como condicao necesstria para o desenv ial ¢ por questdes de seguranga nacional (ver capitulo 4, subseeo 4.2.2). No entanto, INDUSTRIA BRASILEIRA, #° no ha chivida de que foi a escassez de insumos e matérias-primas Disices durante a guerra que estimulou essa mudanca no papel do Estado. Como foi corretamente observado por Topik . 613): “Percebendo que eram dependentes da importagao © materiais basicos tais como ago, carvao, cimento e soda chustica, 0s politicos brasiliros resolveram tomar.o pais mais auto. suficiente nessas dreas””. Mesmo apés a guerra, ‘mento de indiistrias bisicas... dade do Es ” (Topik (1980)). De fato, durante a Primeira Guerra Mundial © governo federal e, em alguns casos, também os governos estaduais comegaram a estimular @ produgdo. interna de ago, soda céustica, 6leo de carogo de algodao e carnes industriali- zadas. Na década de 1920 0s incentivos e subsidios foram estendi dos a produgdo de cimento, papel pasta, produtos de borracha, fertlizantes ¢ fios e tecidos de seda, Se _ No entanto, seria um exagero atribuir a ‘diversificagio da produsto industrial ocorrida na década de 1920 aos-inicentivos e subsidios governamentais. Essa divesificagio, na verdade, jd esta: vva sendo requerida para que o desenvolvimento industrial pudesse avangat, mesmo sob o modelo de crescimento'agricola-exportador, Além disso, no caso de algumas indistrias, seu desenvolvimento Fepresentou a “ocupagdo” do mercado brasileiro-pelo capital es. trahgeiro (como; por exemplo, em cimento, ago produto de borracha), ou o estabelecimento de fébricas subsidies de firmas oligopélicas internacionais para produsdo destinada 4 exportagio (como foi o caso da industrializario de carnes), Sobretudo, nlo se Justifioa a afirmagao de que o “sistema” de incentivose sibbsidios fol “bastante effcaz”, ‘pelo menos no como uma generalizagao para todos os sctotes (F. R. Versiani (1982, p, 35). De fato, os est. dos de caso das indiist i i tram que nem sempre tor determinante a indui fa Guerra). Em ot o entanto, a0 contrério do que afirma F. R. Versi tiveram pouca ou nenhuma impor cimento, por exemplo, os incentivos governamentais nfio influenciaram o estabe- tra siderirgica, sete em- bresas se beneficiaram de incentives governamentais na década de 1920, mas apenas trés foram bem-sucedidas; uma dessas trés em. Presas, no entanto, j& vinha operando desde a década de 1890, ¢ no aumentou st idade de produstio sendo no final da déca- da de 1930 (Usina Queiroz Jr.), Portanto, apenas duas empresas se beneficiaram com sucesso dos subsidios governamentais a invest ‘mentos na indéstria siderirgica durante a década de 1 Juma delas operasse a maior usina dtcada de 1930 (Companhia Siderirgica Belgo-Mincira), Acresce considerar que diversas outras usinas sidertirgicas foram construk, as durante a década de 1920, ¢ particularmente na década de 1930, sem subsidios governamentais (ver capitulo 4, subsepao 4, ‘mesma foram, os incentivos e subsidios para 0 estabeleciine fébricas de soda céustica (1918) atrairam quatro foram selecionados. No construida, ¢ mesmo essa veio a falir quando foram reiniciadas as importagdes de soda ctustica na década de 1920. Finalment incentivos ¢ subsdios para o estabelecimento de fébricas de fe antes quimicos foram concedidos para uma empresa apenas, a qual ndo chegou a implementar seus planos, Em resumo, no periodo ant Guerra Mundial praticamente nenhuma assisténcia direta foi concedida pelo gover- nod indisttia de transformagito, com excepto da indiistria do agli car ¢, 6claro, das ocasionais isengdes de direitos sobre maquitaria importada e outras formas indiretas de apoio do governo, como, , 0 desenvolvimento do sistema de transportes, da 1.3 Os periodos mais controvertidos A discussto anterior sobre as dife desenvolvimento industrial brasileiro evidi intepretagoes do. elo menos tr05 INDUSTRIA BRASILEIRA 45 periodos a respeito dos quais mais forte a controvérsia entre as di- ferentes interpret © periodo entre fins da década de dda de 1890; segundo, os anos da Primeira Guerra reeiro, 0 periodo que cobre os anos cla crise do café e da Grande Depressio da década de 1930, Esses periodos so discu- tidos em detalhe a seguir. 1.3.1 A “génese’’ do capital industrial © 0 Encillkamento: 1886-1894 A controvérsia sobre esse perfodo concen pontos: a origem do capital industrial © os cl do Encilhamento" sobre a lod, das exportagdes de café, Essa atirmati rizagio dos ciclos do gat’ como miulagdo de capital, De fato, foi nesse perfod ram grandes fabricas de tecldlos © que 01 nvolver, incluindo fabricas de sucar , fabricas e alguns ramos da is como 08 produtores de pregos ¢ pa- bo} pogas © acessdrios para vagdes ferro- ciéonda de 1880, pat outa to se fabrcava apenas bens de consumo, como afirmam averse ciara

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