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para tris a hist6ria tragicimice de que vs 6 0 reconhecimento da heterogeneidade brasileira pode levar a escola 4 abandonar um ensino padronizado e a uma atitude realista diante da diversidade de nossa cultura. “O portugués sio doi o magi: conviegio de que a realidade educacional pode ser mudada, reconfigurada por professores lingifstica e sociolingiisticamente preparados para com- preender e explicitar nossa heterogeneidade, para nao fazer calar seus alunos, dispostos a alfabetizar e literalizar os milhes de brasileiros que nfo chegaram ao letramento. Em jogo esto 0 ensino de lingua portuguesa e 0 préprio sistema edu- cacional em nosso pais. Como se vera, as pol institucional implementadas entre nés, desde 0 Brasil colonial © pés- até os nossos dias, nunca sairam do plano do discurso e sempre se “desfazem no plano da realidade”. Mas como sé a educagio pode levar-nos a despertar ea abandonar os cueiros jé rotos de nosso bergo espléndido, comecemos por aprender com Rosa Virginia Mattos e Silva ‘2 como persistir na aso afirmativa pela mudanga que muitos apre- goam, mas que bem poucos tém coragem de buscar WArTOS © SIN, Bow u. (2004) a, *S whats pa des" ED: Pand lyta “BA- Dizem que vai mal o vernaculo no Brasil* 1. 0 tema Multiplicam-se as situagdes em que dizem, no Brasil, que vai mal a lingua portuguesa. Iré mal, de fato, 0 vernéculo no Brasil? Claro que Ado. Vai muito mal a expectativa de alguns, até numerosos sem dévida, que, desligados da realidade da nasio by dlesejam recuperar algo que nunca fomos e, por isso, ndo assume de fato 0 que nos legou e lega a nossa prépria histéria. A afirmativa anterior indica duas atitudes polares que se refletem nas avaliagdes que se fazem sobre o uso da lingua portuguesa no Brasil e, por conseqiiéncia, sobre o deverser de seu ensino: a dos .cfo de uma norma obsoleta, idealizada por una tradicio dos que encaram realisticamente a diversidade 2. O problema Diante da magnitude territoriel e da heterogeneidade cultural, social ¢ econémica, frutos de sua por definigio, a nagio da “0 voxrucuts sto oats” dade em qualquer aspecto que se queita considerar da sua vida ee ivel de ser de outra forma, na “espantosa”, ses qualificativos se encontram em trabalhos dos sobre 0 portugués brasileiro \{ A norma idealizada a partir de modelos literérios do passado se encon- | maneira jé muito mais critica agora —no ensino da lingua portuguesa As normas, ¢ no a norma, culturalmente prestigiadas e de fato em uso F certos segmentos definidos como Tiabade sia ait cota medida docompneadas pelo Projeto NURC: Os fandamentos para uma pritica esto ainda longe de estar prontos para uma adaptagio pedagégica que poder partir de situagdes docu- mentadas e permitiré, com certa margem de acerto, a condugio do ‘ensino bascada, pelo menos, nas variedades existentes nos dialetos de segmentos cultos de cinco capitais brasileiras (Salvador, Rio de Janciro, Sio Paulo, Recife e Porto Alegre). A diversidade lingiiistica, quer diatépica, quer diastrética, se encontra mais bem conhecida do que hé trinta anos etrés, quando Serafim da Silve Neto iniciou sua cruzada dialetolégica, seguindo Antenor Nascen- conhecimento & ainda assistemético e fragmentério lo, 0 5 — 0 Atlas prévio dos ico de Minas Gerais, Com apenas dois atlas lingiisticos publicad: falares baianos ¢ 0 Esboco de um Atlas Ling’ € outro pronto desde inicios de anos 1970, mas ainda lingiitstica de Sergipet e outros planejad em real pode dizer que a geogratia dialetal do Bra: diivida, 0 & mais que antes. agio, niio se seja conhecida; mas, sem 0 Projeto de Esto da Norma Urbana Cults (NURC) comesou a ser cogitado em 1969 10 prévio dos falares baicnos. € Gao, Ay Esboro de um a 197, ico de Sergive. Pronto pare publicaio deste 1973 2 Du QUE YA MAL © vERNAcutO No Bras Com trabalhos monogréficos sobre disletos regionais ou tépicos espe- cificos desses dialetos apresentados em geral em dissertasges de P6s-graduagio® de cixculagéo restrita e muitos artigos dispersos em Periddicos além de comunicasdes e congressos, cujas aas,freqientemente or razBes econdmicas,nlo se publicam, vé-se que se faz dialetologia diatdpica no Brasil. Nao se pode, portanto, repetir o que dizia Celso Cunha em 1964: "Tudo ou quase tudo em nossa lingua esta por fazer, € a maior parte do que foi feito precisa ser refeita”. Nesses quarenta anos se fez alguma coisa, apesar das dificuldades conhecidas. A quali dade desses trabalhos é claro que 6 variével, sendo constante, no en- tanto, 0 sex semi-ineditismo, j6 que a difusio é minima, e serem mimeografados ou publicados em periédicos de O mesmo se pode dizer da dialetologia social ou da sociolingistica, ja temiética vem ocupando alguns pesquisadores, sobretudo a partit da década de 1970. Esses sio dados animadores ¢ também significati- vos para o conhecimento da diversidade lingiifstica brasileira. Abrem- se também perspectivas em diregdo a estudos de linguas em contato com o portugués em algumas situagdes tanto em relagio aos contatos lingiiisticos do porragués com linguas transplan- tadas por imigrantes a partir do século passado, como aos contatos com populagies indigenas autéctones, que thantém, apesar dos massacres passados e presentes, vivas e em uso ainda no Bri \guas indigenas’, mais de cem Nio & dlesanimedora, de modo algum, a avaliacio que se pode fazer sobre 0 conhecimento atual do portugués do Brasil, embora, reals. ticamente, ainda serenka que afirmar, no que esté tudo por fazer, mas que muito a ser feito as dificuldades so muites, sobretado porque pes- 4uisas da natureza das anteriormente referidas exigem muitos pesquisado- res bem-preparados ¢ financamentos de peso, ¢ todos nés sabemos que de Linge, nos seus boletin m2, 3 4 de 1982 ©1983, apresenta wu yortugucka realizadas em eos de ‘das estio takalhos de diletalogs tanto 0 ronrucuts si0 008” sno a0 de extragio fi, mas até mesmo muito diff, os financiamentos para pesqisis que no apresentem rentabiidade imei acfo, os que defendem uma norma cult, padronizadora, stituigdes sociais para isso orga- ideal, compendiada com base jo a defesa da ia para 0 ensino nizadas, 36 podem apoiar-se na gral tem dados arbitrérios, Aqueles que partilham como iversidade lingiistica brasileira como ponto de pa da lingua matema no Brasil se véem sem um instrumental cient mente preparado a partir do qual possa ser conduzido um trabalho ;quecedor para os estudantes ¢ para 2 lingua pedagégico criador e et portuguesa na sue diversidade histérica “Assim sendo, navega-se um mar desconhecido ou parcialmente conhe- ‘io, quando se pretende desenvolver,criteriosamente, o ensino da gua materna, quer quando se pretende ser estritam {quer quando se pretende enfrentar a diversidade lin cpio a partir do qual se desenvolverd 0 ensino. Nada disso, é daro, impede que se proceda ao ensino da guesa no Brasil e a preocupasio geral com 0 problema © + ficativamente 0 Ambito dos cursos de letras ¢ da escola en: damental ¢ médio, alcangando os érgios mais elevados da hierar ira como 0 Conselho Federal de Educagio € governo federal, além das camades cultas em geral. Lembro al airiose faro de ter em 1976 o governo federal nomeado uma comissi0 para eetudar 0 problema da “caréncia lingitistica” dos jovens e sugerir medidas saneadoras* © denominador comum dessa preocupacio, quase obsessiva ¢ colocada de mancira distorcida e alheada da realidade, pode ser formulado numa arqui-sentenga do tipo “vai mal o vernéculo no Brasil por cause de

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