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NOVOS RUMOS A IMPRENSA OPERARIA NO BRASIL ASTROJILDO PEREIRA ‘Ao receber 2 incumbéncia de fazer uma palestra, nesta série organizada pelo MATP, logo me acudiu o seguinte assunto: a imprensa operdria no Brasil. Pareceu-me que seria de nao pouco interesse lembrar os predecessores da nossa Tribuna Popular, isto ¢, 08 jomnais que no passado se consagravam, de uma forma ou de outra, a obra hist6rica de esclarecimento das massas trabalhadoras e de luta pelo progresso do Brasil Evidentemente, mio caberia nos limites de uma simples conversa entre amigos, como a que estou fazendo, traar a historia da imprensa operdria em nosso pais. A matéria daria para todo um curso ov para um livro, que seria a0 ‘mesmo tempo uma verdadeira hist6ria do movimento opers- rio brasileiro, desde os meados do século passado até os dias de hoje. Devo restringir-me, por conseguinte, a algumas indicag6es mais significativas, valendo-me, para tanto, dos dados colhidos em pacientes pesquisas por Mauricio Vinhas de Queiroz, ¢ também, no tocante a datas mais recentes, da minha prdpria memoria, _ “O SOCIALISTA DA PROVINCIA DO RIO DE JANEIRO” jornal mais antigo, que nos pode interessar aqui, intitu- lava-se O Socialisia da Provincia do Rio de Janeiro, publi- cado em Niteréi, a partir de 1¢ de agosto de 1845. Safa de trés em trés dias, © a sua colecdo, no sei dizer se com- pleta, se encontra na Biblioteca Nacional, em perfeito esta- do, impresso em papel de qualidade superior ao dos jornais dchoje. Em seu nimero inaugural, € assim definida a signifi cago da palavra que the serve de titulo: ‘O -vocabulo — Socialista — sob cuja denominagio sai hoje & luz a nosse folha, define exuberantemente 0 objetivo principal com que ela é publicada: a conservagdo ¢ melhora do pouco de bom que existe entre nés; a extirpacio de abusos e vicios provenientes da ignorancia, falsa educagéo ¢ imitago sem critério; a introdugéo de novidades do pro- gresso universal; enfim, todo o aperfeicoamento de que for suscetivel a sociedad, provincial, nacional ¢ universal, quer nna parte moral, quer na material, em que naturalmente estd dividida a morada humana no mundo terreno. Assim, pois, 0 Socialista tratara de agronomia pritica, economia |, didética jacobista, politica preventiva e medicina do- méstica, e sobretudo do Socialismo, ciéncia, novamente ex plorada, da qual basta dizer que seu fim é ensinar os homens se amarem uns aos outros”, cia socialist, desde Fourier, progride @ passos agiganta- dos...” Estas coisas, escritas ¢ publicadas em Niter6i, no ano de 1845, convenhamos que S40 na realidade surpreendentes. Mas outra coisa me surpreendeu também, ao folhear a cole- gio @'O Socialista da Provincia do Rio de Janeiro — 0 fato de ter parado no 3¢ nimero do periddico a propaganda das idéias socialistas, enchendo-se as suas paginas quase que inteiramente, dai por diante, com os debates travados na Assembléia Legislativa da Provincia. Que teria aconte- ido? Nao sei, e sé alguma pesquisa mais demorada poderia talvez responder a indagagio. Como nao hé tempo para tal pesquisa, passemos adiante. “O PROGRESSO” No Recife encontraremos, pela mesma época, outro peri- dico de tendéncia socialista, Intitulava-se O Progresso, apareceu como publicacéo mensal, em forma de revista tendo saido o I: nimero em julho de 1846 ¢ 0 11 ultimo em setembro de 1848. Era seu editor Anténio Pedro de Figueiredo, professor adjunto do Liceu de Pernambuco. Al- {redo de Carvalho, historiador da imprensa pernambucana, Este texto foi editado originalmente na Re- vista Estudos — publicagao clandestina do PCB, no inicio da década de 70 — n* 4, de junho de 1972, com introdugao e notas de Tho- maz Ramos Neto (nome de guerra” de Frag- man Carlos Borges), a partir de manuscritos deixados por Astrojildo Pereira. Estes manus- critos constituem 0 roteiro preparado por As- trojildo para uma conferéncia que pronunciou na Associacao Brasileira de Imprensa, ABI, no Rio de Janeiro, em julho de 1947, com o obje- tivo de angariar fundos para a imprensa comu- nista, promovida pelo Movimento de Auxilio & Tribuna Popular (diério do PCB). Sua republi- cacao deve-se, em primeiro lugar, ao fato de ter sido editado numa revista de circulagao ex- tremamente restrita; em segundo, o fato de fornecer um excelente esbo¢o para compreen- sao da historia da imprensa operéria brasileira e, por fim, como homenagem — no centenério de seu nascimento — a este que foi um dos mais importantes dirigentes do movimento operdrio do pais, fundador do PCB e um dos introdutores do marxismo no Brasil. 82 NOVOS RUMOS refere-se a formagao mental de Figueiredo, familiarizado com as teorias econémicas de Saint Simon, Fourier e Owen, © Progresso era um periddico que correspondia plena- mente ao seu titulo, ¢ refletia com fidelidade o pensamento progressista do seu diretor, homem arguto e bem informado acerca dos problemas economicos e politicos do seu tempo, As tendéncias socialistas reveladas em seus artigos decor- rem, naturalmente, da sua receptividade as idéias de Fou- tier, Saint-Simon, Owen ¢ outros da mesma natureza Cabe aqui lembrar 0 nome do engenheiro francés Vau- thier, que viveu no Recife, de 1840 a 1846, contratado pelo governo da Provincia para dirigir as obras puiblicas da capital Pernambucana. Vauthier era um adepto fervoroso de Fou- Tier, e como tal exerceu do pequena influéncia nos meios «em que vivia, conforme se pode verificar do seu disirio in ‘mo, editado pelo Sr. Gilberto Freyre, que também Ihe de cou um livro, onde se Ie: “Vauthier concorre para a irradiaglo das idéias socialistas francesas nesta parte da América. Empresa livros. Indica autores. Assina gazetas. Consegue assinantes para revistas francesas. Hd que associar a sua agio a voga de Saint-Simon, de Fourier, de Owen, no Recife intelectual da época’ Digamos, por fim, que Vauthier foi colaborador assiduo da revista de A.P. de Figueiredo. “O JORNAL DOS TIPOGRAFOS” Ja vimos que 0 “socialismo” d'O Socialista da Provincia do Rio de Janciro durou muito pouco, embora o jornal sobrevivesse até... Mais importante, sem diivida, foi O Pro- _fess0, como expresso do que podia haver de mais progres- sista na imprensa brasileira de meados do século XIX. Mas nem O Socialista de Niteréi, nem O Progresso do Recife foram publicagdes operdrias. Nao 0 poderiam ser, tampou- 0, visto que a propria classe opersria como tal mal eomecava a formar-se entre nds. O primeito jornal realmente operatio, feito por operarios, {que se publicou no Brasil, foi o Jornal dos Tipdgrafos. Sua importancia hist6rica ndo resulta apenas do fato de ter sido ‘© primeiro, mas sim do fato de ter surgido como um érgio de luta operiria, como 0 porta-vor de trabalhadores em reve. Mauricio Vinhas de Queiroz contou a hist6ria do Jornal dos Tipdgrafos, em artigo muito interessante aparecido na Revista do Povo. Resumirei os dados contidos nesse artigo Os maiores jornais do Rio, na época em que ocorreu a greve, cram 0 Dirio do Rio de Janeiro, 0 Correio Mer- ccantil ¢ 0 Jornal do Comercio. Os operérios gréficos, que trabalhavam nas oficinas desses jornais, pediram um peque- NO aumento nos respectivos saldrios. ‘Os patroes, depois de protelarem a resposta durante um més inteiro, acabaram negando 0 modesto pedido. Esta resposta negativa foi dada a8 de janeiro de 1858. No dia seguinte, 9de janeiro, nenhum jornal saiu a rua. Mas os grevistas ndo se limitaram a aban- ‘donar as oficinas onde trabalhavam. Nao: reuniram-se, re- ‘correram a todos os recursos disponiveis e resolveram publi- ‘ar 0 seu proprio jornal. Era seu intuito ndo deixar o puiblico em falta © a0 mesmo tempo utilizar 0 novo 6rgao como instrumento de defesa na luta que haviam iniciado. Sai assim o 1! nimero do Jornal dos Tipdgrafos no domingo, 10 de Janeiro de 1858, A luta, nada fécil, como se pode imaginar, prolongou-se durante pelo menos dois meses, segundo & de supor & vista da colecéo de 60 niimeros publicados diariamente pelo Jor- nal dos Tipdgrafos. Os patroes langaram mao de todos os meios para liquidar 0 movimento: a policia, o ministro da Justiga, o ministro da Fazenda, a Imprensa Nacional, o su- borno, a intriga, a difamagio, e acabaram vencendo; mas a resisténcia € combatividade dos grevistas ainda hoje constituem motivo de admiracao, levando-nos a recordar © fato como um dos mais gloriosos episédios da histéria das lutas operirias em nossa terra No artigo de Mauricio Vinhas de Queiroz, que estou resu- mindo, ressalta-se, com toda a razio, que a greve de 1858, tal qual se desenrolou, teria sido impossivel se néo fosse a existéncia, ja entdo, de uma organizacao profissional dos tipdgrafos, a Imperial Associagao Tipogratica Fluminense, fundada desde 1853, ¢ certamente um dos primeiros agrupa- ‘mentos operdrios surgidos no pats. Era uma associagdo de cardter mutualista, com finalidades meramente beneficen- tes; mas 0 préprio fato da organizacao dos operarios, unidos pelo seatineato de solidaridade profisiora, levava-os, por sua vez, pela natureza mesma do desenvolvimento associa- tivo, a uma consciéncia de classe cada vez mais clara. A Breve, agdo de classe, produziu 0 “momento” necessério a manifestagéo pratica da consciéneia. A Associagio Tipo- agrafica possuia em caixa a importancia de 12 contos de réis, destinados normalmente aos fins de beneficéncia associativa ois bem, a Associagao empregou 11 contos — quantia ele- vada para a época € que representava quase todo o seu ‘patriménio em dinheito — na manutencio do Jornal dos Tipdgrafos. De Sreao limitado a simples atividade mutua- lista, 2 Associacao adguiria de pronto o carater de legitima representante dos interesses de classe Nio por acaso estampava o Jornal dos Tipdgrafos, em artigo escrito em plena batalha, as palavras que se seguem: “Jd é tempo de acabarem as opressoes de toda a casta; jd € tempo de se guerrear por todos os meios legais toda exploragdo do homem pelo mesmo homem. ATE AO ADVENTO DA REPUBLICA. Compreende-se que os operétios gréficos, trabalhando em tipografias e fazendo jornais para os outros, tenham sido os primeiros a pensar em fazer jornais para a propria classe. Depois da admiravel experisncia do Jornal dos Tipd- grafos, c passatios quase dez anos, coube ainda aos griticos, 3 iniciativa de um periédico operirio: O Tipdgrafo, publi- ado aqui no Rio nos anos de 1867 a 1868. Encontramos outro titulo de jornal, em 1881, provavelmemte feito tam- bém por tipégrafos: Gutenberg. E. jd nas vésperas da Repui- blica, em 1888, apareceu a Revista Tipografica, que alcangou ‘© novo regime. Em artigo assinado por seu ditetor, Luiz de Franca, no qual se encarecia a necessidade de se organizar © partido operario brasileiro, lemos estas informagées: NOVOS RUMOS “S6 em uma provincia do ex-Império do Brasil organi- zou-se um partido operirio que tem conseguido cleger verea- dores ¢ deputados & Assembléia provincial. Eo Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre tem a sua sede o Partido Operario @ em quase todas as localidades da provincia existem ni cleos...” Como titulo O Trabalho, as fichas existentes na Biblioteca Nacional indicam 3 periodicos publicados antes do advento da Repuiblica, ou sojam respectivamente, 0 primeiro de 1868 a 1873, denotando uma certa estabilidade, 0 segundo em 1879 e 0 terceiro em 1881. Do segundo menciona 0 Sr Gondim da Fonseca, no seu livro Biografia do Jornalismo Carioca, que era uma “revista hist6rica, literdria e cientifica de artes ¢ oficios, exclusivamente consagrada aos interesses das classes operdti Mais importante, porém, foi a Gazeta dos Operdirios, jor- nal dirio de propriedade de operérios, publicado em 1875, Tratava das mas condigdes de vida dos trabalhadores dos arsenais, combatia o aumento do prego do pao, explicava a razio das greves. De um artigg estampado em seu niimero 17 sio as seguintes palavras: “Em quase todo 0 universo comega a erguer-se, se bem {que vagaroso mas robusto, o proletariado; os operérios, os ilhos do trabalho, reclamam o lugar que de direito compe= te-lhes ocupar no todo social e que por tanto tempo Ihes tem sido extorquido e daf nasce a maior barreita, a maior das lutas — negacao do direito...” A Gazeta dos Operdrios durou pouco. De 1877 a 1878 publicou-se O Proletdrio, em 1881 O Operirio e 2 Gazeta Operdria, em 1883 O Artista e em 1885 o Jornal dos Alfaiates. Desses, O Artista € 0 que revela um contetido politico mais definido, como se pode verificar na leitura do seu programa, do qual destacarei os seguintes trechos: “Com todo o talento compativel com as condigbes de seus redatores, tratard de todas as questées momentosas ‘que afctam a vida ¢ 0 bem-estar da sociedad e em particular condigao do operario ¢ do povo — maquina que ainda ;ngo se elevou a altura do principio agente e dirigente. Toma- 1 como tema de seus artigos editoriais, entre outras, as guests que tm elago com o elemento sev qustio jo trabalho nos arsenais ¢ oficinas do Estado ¢ particulares, reformas do sistema de instruc, sistema eleitoral,aciéncia, asartes e a indistria.. “O Artista fraternizara com todas as grandes idéias que atualmente trabalham em nosso meio social e tendem a melhorar o estado em que jazemos, e com o abolicionismo, principalmente, que nos dard melhores dias em um futuro no longe.” Referindo-se a “imprensa sadia” daquele tempo, O Artis- ta afirmava o seguinte, em artigo no seu nimero i “A imprensa, poténcia poderosa e dtil, muitas vezes, po- rém, hoje quase toda ao servigo do poder e da riqueza, ndo deixa um s6 dia de dizer em linguagem mais ou menos lastimosa, que as convulsoes, agitando todos os paises da Europa, onde uma m4 forma de governo e um péssimo sistema econdmico tém acumulado causas e organizado ele- rmentos, s40 obra de petroleiros, comunistas, internaciona- listas, nilistas, da mao negra, etc.; que esses ferozes partid- rios querem destruir todas as conquistas do trabalho, da cigncia, 0 tronio, o altar € a riqueza. Adula os poderosos, falta a verdade, nega a luz da historia essa imprensa que assim se protitui.” Por onde se vé que a sem-vergonhice ¢ coisa velha na imprensa reaciondtia, indice cronoldgico de jornais cariocas, que se encontra no livro do Sr. Gondim da Fonseca, menciona O Socialista com a data de 1878. Antes, porém, safram a lume outros periddicos, cujo teor pode ser avaliado pelos respectivos itulos: A Revolucao Social em 1876, A Barricada em 1877, O Carbondrio em 1881, A Revolugaoem!881-1882, O Nihi- lista, em 1882-1883, declarando-se este iiltimo “érgio dos operirios do Exército ¢ da Armada”. E de supor que se refiria aos operarios dos arsenais de guerra e da marinha. DE 1889 A 1910 ‘Com a aboligo da eseravatura e o advento de Repiiblica, ‘6 movimento operirio brasileiro alcanga um certo grau de independéncia, ganhando corpo ¢ ampliando-se, principal- mente nos centros urbanos mais importantes. Os periédicos ‘operiios crescem de importancia e so um reflexo vivo do progesso que se vai acentuanto, de ano para ano, nas organizagoes corporativas € nas lutas de classe, greves e reivindicagées, sustentadas ndo raro com extraordindria bra~ vura e tenacidade, Repetem-se, no Rio, em Sao Paulo ¢ outros pontos do pais, as tentativas de organizagao parti- dria socialista. Mas ja nos primeiros anos deste século, as tendéncias anarquistas e anarco-sindicalistas, favorecidas pelas préprias condigdes econémicas do pais, em que predo- minam formas artezanais de trabalho, comegam a penetrar nos centros operdrios e também em certos meios intelectuais, e pequeno-burgueses. E o que se passa no Rio de Janeiro repete-se por todo © pais, em maior ou menor escala, conforme as condigbes locais de desenvolvimento econdmico e politico. J4 me refe- ri, de inicio, a O Socialista de Niteroi e a O Progresso do Recife. Os dados de que dispomos mostram que depois da Repiiblica, principalmente, os periédicos operarios muiti- plicaram-se por toda a parte, desde 0 Amazonas até 0 Rio Grande do Sul. Citarei apenas alguns mais caracteristicos, que apareceram antes de 1908: Do Amazonas se conhece apenas um — O Operdrio, publicado no ano de 1892, em Manaus. Em Belém do Pard surgiram varios, entre 1889¢ 1907, entre os quais A Confede- ragio Artistica, “6rgao das classes operitias” em 1888-1889, O Trabalho, semanirio que durou de 1901 a 1907, © O Socialista, “Srgio democratico da confraternizagio opers- ria”, de que sairam dois mimeros anuais, no dia 1¥ de maio ‘de 1906 e 1907. No Maranhao publicava-se em 1908, 0 Jomal dos Artistas, “Srgao dos interesses operirios”. O titulo O Artista, muito usado até certo tempo, se encontra na cidade do Crato, no Cearé, em 1891, na Paraiba em 1893-1894 © no Piaui cm 1902. A Fenix Caixciral, dredo da antiga associagdo do mesmo titulo existente em Fortaleza, comegou sua publicagéo em 1893, Em Macei6, onde havia em 1870 uma Associagéo Tipo gréfica Alagoana de Socorros Miituos, de que era érgio O Século XIX,publicou-se O Proletério, no ano de 1902, com a seguinte legenda: “Proletarios de todos os paises, NOVOS RUMOS uni-vos!” A mesma legenda se repetiu numa folha comemo- tativa, que saiu a 11 de Novembro de 1905 — Os Mértres de Chicago. Ainda em Maceié publicou-se O Trabalho, em 1904, tendo como um dos seus redatores 0 operiio Viretlio de Campos, que eu conheci pessoalmente aqut no Rio, du- rante 0 Congresso Sindical de 1913. Em Aracaju 0 titulo O Operirio aparece duas vezes, em 1891 ¢ 1896, nesta Ultima data como “érgio da Unido Operdria Sergipana’ Pernambuco, naturalmente, apresenta a maior e mais importante quantidade de periédicos operarios. De anos anteriores a Repiblica, devemos lembrar A Locomotiva, Orgd0 de uma associacao beneficente de empregados da ‘Companhia de Trilhos Urbanos do Recife a Olinda e Bebe- Fibe, publicado em 1872, e O Operirio, de 1879, que estam- pava como legenda as seguintes palavras de Lemercier: — A legislagio civil deve abandonar os principios do direito romano ¢ do direito feudal para apoiar-se nas doutrinas da filosofia moderna”. Depois da Republica apareceram ‘no Recife, entre outros, a Gazeta dos Operirios em 18 0 Socialista, 6rgio do Centro Social do Estado de Pernam: buco. ntimero tinico em 8 de Maio de 1898: O Clarim Social ‘mensiirio consagrado & propaganda do socialismo, em 1900; Aurora Social, redo do Centro Protetor dos Operirios do Recife, de 1901 a 1907. As informagdes escasseiam da Bahia para baixo, relativa- mente ao perfodo que temos em vista, Podemos apontar A Voz do Operdrio, érgio do Centro Operdrio da Bahia, em 1894. De Minas, em datas nao mencionadas, citaremos “O Socialista”, em Ouro Preto e Sio José do Paraiso; ¢ com o mesmo titulo O Operdrio vatios periédicos em nume- rosas cidades, a comecar por Belo Horizonte. No Estado do Rio, havia O Operdrio, drgio de Centro Operério de ‘Campos, em 1895; € depois, néo sei em que cidade, o Avan: te! em 1904 e novamente O Operdrio em 1909. De Sao Paulo, a informagéo mais antiga que pudemos colher, alids do maior interesse, é a da revista Questo So- Gial, que se publicava em Santos af por volta de 1895. Um dos seus redatores era 0 Dr. Silverio Fontes, médico estima- dissimo naquela cidade, pai do poeta Martins Fontes. Atra vés de Questdes Social ficamos sabendo que das eleigdes, escolherem os candidatos que devem sufragar em nome dos seus interesses, Benoit Malon, Bakunine, Kropotkine, Letourneau, Taba- rant, Bellamy, dos portugueses Oliveira Martins e Maga- Ides Lima, ¢ dos brasileiros Carlos Escobar (O que é 0 Socialismo)e Eugenio George. A este iiltimo cheguei ainda a conhecé-lo no meu tempo de ginasiano, em Niterdi, onde ‘©apontavam como um tipo estranho, esquisitéo, meio malu- 0, fazendo propaganda contra 0 uso do fumo e em favor de uma sociedade protetora dos animais... Nesse mesmo ‘ano em 1895 publicou-se na Capital do Estado um nimero “inico do Primeiro de Maio. Cinco anos mais tarde, isto 6, no primeiro ano do século, aparece em Sio Paulo 0 perid- dico em castelhano EI Grito de! Pacblo, defensor dos inte~ esse do proletariado, e na cidade de Ribeirao Preto 0 érgio anarquista La Canagtia, em italiano Igualmente em lingua italiana e tambem de oriemtagdo anarquista, se bem que sob cabegalho muito menos agres- sivo, 1] Diritto safa a lume em Curitiba, na mesma época. Digamos de passagem que a publicagao desse e de outros peridcicos em lingua estranha —espanhol, italiano, alemao, ele, — se explicava pela afluéncia, nos Estados do Sul, de imigragdo europea Quanto ao Rio de Janeiro, encontramos, entre 1890 e 1910, 0s seguintes titulos e datas: Voz do Povo, em 1890; Operirio, 1895: Opersrio Italiano, 1897-1989; O Men sageiro, 1898; O Protesto, 1899; Tribuna Opersria, 1900; Gazeta Operris. 1902-1903; Brasil Operinio, 190%; A Unido Operaria, rgio da Unio Operaria do Engenho de Dentro, 1904; O Libertdrio, 1904; O Artista, 1905; nova- mente a Gazeta Operdria, 1906, Semana Operaria, 1907; A Vor do Trabalhador, 1908-1909; O Operdrio, 1908-1910. A respeito de alguns deste periddicos existem dados de nio Pequeno interesse, Voz do Povo, por exemplo, estampou em seu 1 ntimero 6 de Janeiro de 1890, o convite seguinte: “Tendo de ser eleita em setembro de 1890 a Constituinte dos Estados Unidos do Brasil, sio convidados todos os artis- tas, opefarios e trabalhadores que souberem ler e escrever, a inscreverem-se no Partido Operdrio para, oito dias antes das eleides, escolherem os candidatos que devem sufragar em nome dos seus interesses, “Esperamos que nenhum dos nossos confrades se esqui- vem de o fazer, pois acreditamos que todos sabem que é do interesse comum haver na Constituinte opinides de todas as classes, de modo que a lei seja uma verdadeira emanagao do povo, ¢ ndo de algumas classes privilegiadas, como foram todas as leis do império" 0 Operairio, cujo primeiro nimero surgiu a 12 de outubro de 1895, publicou longo noticidrio da formagao do Partido Operirio Socialista, sew programa e estatutos. O diretor desse jormal e membro do diretdrio do Partido era o operério cigarreiro Mariano Garcia, que redigiria mais tarde outros periddicos do mesmo género. Eu o conheci pessoalmente, aipor 1913, ¢lembrarme de ter escrito em jornais anarquistas muito desaforo contra ele e 0s seus companheiros — entre ‘os quais, de resto, havia muitos sujeitos da pior espécie, dessa mesma espécie de que sio feitos os atuais “chefes” trabalhistas ligados ao gabinete do Ministro do Trabalho. O Protesto, a0 que patece, foi o primeiro jornal de tendén- cia anarquista publicado no Rio de Janeiro, em 1899-1900. Proclamava-se “periédico comunista-livre", avisando a0s leitores que “sai quando pode, por subscrigdo voluntaria”. Seu diretor —0 operdrio grafico Mota Assuncao, que ainda vive e € autor de varios livros, Em seu nimero datado de 4 de fevereiro de 1900, encontra-se um artigo intitulado A Greve dos Cocheiros que comega assim: “Os dias 15 € 16 de Janeito de 1900 marcam, pode dizer-se, a maior greve no Brasil. Parecia uma revolugao. Os exploradores sabiam que cerca de 25.000 explorados se declaravam em parede..." Diz em seguida o articulista que parou tudo quan- to era veiculo —bondes, tilburi, carros, earrogas, carrinhos de mao, e comentava: “A cidade esteve morta durante esses ois dias...” No primeiro mimero do Brasil Operrio, datado de 18 de maio de 1903, lemos # noticia de que um grupo de eleito- res apresentou trés candidatos opersrios para préximas elei- ges municipais faa NOVOS RUMOS Voz do Marmorista, drgio do Centro dos Operarios Mar- moristas, publicou o seu I* numero em 1903 ¢ durou mais de 20 anos. RECORDACOES E EXPERIENCIAS PESSOAIS A influéncia anarquista nos sindicatos operdrios aumentou enormemente a partir do Congreso Operirio de 1906, reu- nido no Rio de Janeiro. E claro que daf por diante essa influéncia havia de se refletir com igual intensidade na im- prensa operiria. Novos jornais socialistas se fundaram, no Rio e nos Estados, depois de 1906; mas € um fato que nenhum péde manter-se nem competir com alguns peri6- dicos anarquistas, que chegaram, sobretudo de Sdo Paulo, a adquirir uma larga ascendéncia entre as camadas mais avangadas da classe operaria, Datam desse periodo os jornais anarquistas Novo Rumo, editado no Rio, La Battaglia, em lingua italiana, ¢ Terra Livre, ambos editados em So Paulo. Terra Livre Toi o pri- meiro jornal operario que me caiu nas mios e veio a decidir do meu destino, justamente no momento em que a desilusao da campanha civilista de 1908-1910 me deixara perplexo ¢ desamparado... Igualmente em Sao Paulo se publicava Lanterna, que durou ainda muitos anos e em cujas colunas publique’ os meus primeiros artigos revolucionérios. Um jornal anticlerical, mas de feigao popular e muito com- bativo, dedicando boa parte das stias paginas a0 movimento operirio, 0 que explica o prestigio de massas que chegou a ter, nao s6 em Sio Paulo como nos Estados vizinhos. © Livre Pensador, também anticlerical e também de Sao Paulo, viveu de 1902 a 1914 ou 1915. ‘Lembra-me também de um semanério de grande formato, A Vanguarda, érgao socialista, porta-voz do partido entio organizado no Rio, em 1911, € do qual eram redatores, entre outros, dois antigos anarquistas que vinham do Novo Rumo. A Vanguarda eo partido socialista duraram poucos ‘meses, Novo Rumo também ja nao existia desde alguns anos, ¢ Terra Livre dera os seus iltimos mimeros em-1910. No fim de 1911 comecou a sair um novo semaniirio, impresso em Sao Paulo, mas com redatores li ¢ aqui no Rio, onde estava a sua administragao. A coisa era um pouco compli- cada e em Janeiro de 1912 instalou-se tudo aqui no Rio, numa pequena sala do andar térreo do sobradinho da rua do Senado n* 196. O semanério chamava-se nada menos que isto — A Guerra Social: tradugio brasileira do jornal de um socialista ultra-esquerdista de Paris, Gustave Hervé, °° qual, ao deflagrar da guerra de 1914, se converteu num ferozchovinista, Estou fornecendo estes detalhes todos acer cca do terrivel semanério pela simples razéio de que, a0 insta- Jarse ele na saleta da rua do Senado, o seu redatore gerente tera o mesmo cavalheiro que estd contando agora estas coisas. Com a diferenca, bem entendido, de 35 anos @ mais. ‘A Guerra Social morteu ao cabo de nove meses. Apareceu em seguida A Voz do Trabalhador, orgio da Confederacao do Congresso Sindical Nacional, que se reuniria no ano seguinte. Em Porto Alegre, se ndo me falha a meméria, jd se publicava por essa época A Luta, érgao da Federagao Operiiria local. Em Sdo Paulo nasceu, no més de marco 86 de 1913, uma publicagao dupla ou de Guas cabegas numa 6 folha de 4 paginas: duas paginas em portugues sob 0 titulo Germinal, “jornal anarquista’, ¢ as outras duas em italiano com o nome de La Barricata, “periodico andrquico”, La Barricata vinha a ser uma continuagdo de La Battaglia, ‘aja saida fora suspensa pouco antes, depois de nove anos de existéncia. Ainda em Sao Paulo, a 1! de Maio de 1914, veio a lume A Rebeliao “semanério de propaganda socialis- ta-anarquista, escrito por trabalhadores e para os trabalha- dores”. Muitos outros e efémeros pequenos jornais surgiam e de~ sapareciam, entio. mais ou menos por todos os Estados seria impossivel, a falta de informagoes seguras, tentar sequer uma simples relagao de titulos. ‘No Rio, em 1914 ¢ 1915, apareceram duas revistas — A Vida © Na Barricada, ambas de tendéncia que esta iltima com a feigdo de panfleto, redigido pelo engenheiro jornalista gaticho Orlando Corréa Lopes, con- vertido ao anarquismo e por isso mesmo egresso da imprensa burguesa. Durante a primeira gerra mundial surgiram quatro quatro novos periddicos, que merecem especial mengao. Scguindo a ordem cronoligiea, devo lembrar primeiramente a Tribuna do Povo, impressa nalgum velho prelo perdido na cidade de Vigosa, Alagoas, terra de Otavio Brando e dos Mota Lima, Seu mimero inaugural tem a data de 17 de agosto de 1916, Apresentava-se como “6rgio dos interesses do povo” e seu redator-tipdgrafo chamava-se Au- {6nio Canela, jovem operario que eu conhecera em Nitersi, pouco antes ¢ que nao sei como foi parar em Alagoas. O aso € que a Tribuna do Povo se publicou durante uns seis meses, quando Canelas mudou-se para a capital do Estado ai iniciou, a 30 de marco de 1917, a publicagao de outro semanirio, A Semana Social, de formato um pouco maior também melhor apresentado. Otavio Brando poders con- tara maneira dramatica pela qual terminou A Semana Social de Maceié, onde governava um digno antecessor do atual Silvestre Péricles. Mas Antonio Canclas era cabecudo e pos- sua um temperamento de aventureiro: ci-lo, pois, a frente de uma nova Tribuna do Povo, porém agora no Recife, a partir de 1! de marco de 1918 sem 0 nome do redator-ti- pografo no cabecalho. terceiro jornal a que me quero referir intitula-se A Plebe, *‘periédico comunista-libertirio”, cujo primeiro ni- ‘mero saiu em Sao Paulo, « 6 de Junho de 1917, em vésperas do grande movimento grevista de Julho daquele ano. A Plebe, cditada pelo mesmo grupo da antiga A Lanterna, teve vida longa e cheia de peripécias, da qual também eu participei durante algum tempo. Sua publicagdo tem sido interrompida e retomada repetidamente € ainda agora esta saindo de novo. Mas os seus redadores nao aprenderam nada com o que aconteceu no mundo nestes vinte anos, © A Plebe de hoje nada mais tem de comum com o proleta- riado, preocupando-se principalmente em combater 0 comu- rnismo e a Unio Soviética. Jd depois da revolucao russa, em meados de 1918, regis- trou-se nos anais da imprensa brasileira 0 aparecimento de lum mintsculo semandrio, composto e impresso nas grandes oficinas do catdlico Jorma! do Brasil, com este titulo nada ameno — Crénica Subversiva. Pelo nome logo se ve que NOVOS RUMOS cra anarquista, mas defendia a revolugdo russa com unhas € dentes, e unhas © dentes bem afiados, posso dizé-lo sem maior ofensa a modéstia. A Cronica Subversiva distinguia-se pelo fato de possuir um tinico redator, que era ao mesmo tempo o seu revisor, gerente ¢ vendedor. Nao & preciso que eu decline o nome de tal individuo, segredo de polichi- nelo impossivel de ocultar depois das intimidades que estou revelando. Depois da Cronica Subversiva, de que sait indmeros, apareceu no Rio um grande sem titulo inspirado pelas lutas revolucionérias da organizacao chefiada por Licbknecht € Rosa Luxemburgo, em 1919. Alemanha. Politicamente, Spartacus refletia 0 espirito ¥ hhante enti nos meios opersiios brasileiros de tendéncia revolucioniria: tradi¢ao anarco-sindicalista com profunda simpatia pela revolugao bolchevique Sabe-se que aps primeira guerra mundial, o movimento 's no mundo inteiro — tomou tum impulso tremendo. Reflexo imediato desse movimento de massas, os jornais operdrios surgiram as dezenas por toda parte, grandes e pequenos, com a particularidade muito te de aparecerem, na sua absoluta maioria, como rgios sindicais © corporativos. Citarei alguns titulos como exemplo: O Exiremo Norte, de Manaus, 1920; de Belém, Pard, © Jornal do Povo em 1918, A Revolta, em 1919 aA Vor do Trabathador em 1920; O Artista, de Parnatba, Piaui, em 1919; A Sentinels, érgio da Unido Ferrovidria do Nor: deste, 1922; A Vanguarda, orga da Unido Geral dos Traba- Thadores de Pernambuco, 1920; O Eseravo, érgdo da Fede ragdo Operiria de Alagoas, 1920; Voz do Operirio, Ara caju, 1920; O Operdirio, de Juiz de Fora, 1920; O Proletario, de Curitiba, 1919; 0 Nosso Verbo, érgio da Unido Geral dos Trabalhadores, da cidade do Rio Grande, 1919: O Sindi- calista, da Federacao Operiria do R. G. do Sul, Porto Ale- gre, 1919; em Sao Paulo apareceram diversos no ano de 1920: O Trabalhador Grafico, O Internacional (dos trabalha- dores na indiistria hoteleira), O Grito Operdrio (da Constru: gio Civil), O Metalirgico. Observemos que em Sao Paulo Surgira em 1919, A Vanguardda, “peridico socialist”, em cujo segundo numero comecou a publicar-se 0 Manifesto ‘Comumista de Marx e Engels; mas no set informar se cor rnugu a sair. is uma relacao incompleta dos que sairam no Rio, entre 1918 ¢ 1923: O Griico (que vinha alids de 1915), O Pani cador. Voz Cosmopolita (da indistria hoteleira), Renovagao (quinzendirio sindicalista e comunista), O Metahirgico, A Voz do Sapateiro, O Alfaiate Devemos salieniar, nessa época, o aparecimento do jornal diitio Voz do Povo, propriedade © érgao da Federagao dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, cujo primeito nimero saiu a 5 de fevereiro de 1920. Composta a mao, tipo a tipo, ¢ impressa numa velha almanjarra, uma dessas antigas, Marinoni. ja gastas e cansadas de tanto imprimir jornais, a Vor do Povo representaya na realidade um imenso esforeo da classe operiria, que pretendia ter o seu proprio jornal, feio, mal feito, mas independente, — verdadero ¢ legitimo porta-voz das massas trabathadoras, sustentado até as tilti- mas pela vontade de luta e pelo sacrificio de milhares de operitios, Nao me compete averiguar, neste momento, as ccausas do seu fracasso, depois de 10 meses de uma luta extremamente drdua. Na verdade, 0 movimento operario estava em declinio, depois das grandes greves de 1917 a 1920, ¢ € compreensivel que em fais condigdes nao poderia Voz do Povo sobreviver por muito tempo. Seja como jor, a Vaz do Povo correspondeu a um momento histérico ‘muito importante, espethando em suas colunas, de maneira ainda informe e confusa, os mais sentidos interesses e aspira- do proletariado, e bem assim as grandes debilidades, 0 erros fatais resultantes de uma orientagao politica que s6 podia conduzir ao fracasso. A IMPRENSA COMUNISTA. 1921 foi um ano de pausa forcada, de balango das batalhas. perdidas, de revisdo de métodos, de autocrtica e sobretudo de busca de novos caminhos. A bancarrota do anarquismo na diregio do movimento operirio tornara-se patente, ¢ dos seus escomibros, sairiam os materiais de construgo do partido da classe operéria, estruturado segundo os ensina- mentos € as experiéneias de Marx, Engels, Lenin Com o primeiro agrupamento de operirios comunistas nasceu também o érgao de imprensa correspondente — 0 Movimento Comunista, pequena revista mensal e depois quinzenal, que se editow nesta cidade, a partir de Janei de 1922 até Junho de 1923. Dois anos depois, justamente a Ide Maio de 1925, apareceu um novo jornal, destinado ‘4 marcar o inicio de ums nova época na imprensa proletaria do Brasil. Ja se percebe que estou me referindo & nossa muito gloriosa A Classe Operiiria. Sua historia é conhecida por todos vs, e, mais do que conhecida, vivida por mais de um camarada presente a este ato. Por ela, em anos duros de luta contra a reagao, deram a vida alguns herdicos compa nheiros cujos nomes permanecerao para sempre gravados na historia das lutas populares em nossa terra. Perseguida, batida, suprimida cem vezes, cento ¢ uma vezes ressuscitou A Classe Operiria © nao se extinguira jamais, porque & imortal como a propria classe que ela encama e representa na imprensa deste pais. Outros jornais comunistas, de maior ou menor impor- taincia, se publicaram no Brasil entre 1925 e 1945, Poderia também citar as experiéncias de jornais populares do tipo do vespertino A Naciio, em 1927, ¢ do matutino A Manha, em 1935. Mas a hora ja vai longa, e ¢ forgoso que eu dé tum salto de 10 anos para chegar a 22 de Maio de 1945, dia historico da Trzbuna Popular, véspera de outro dia hist6- rico, 23 de maio de 1945, dia de festa popular, dia de encon- tro do povo com o seu amado lider — Luis Carlos Prestes. Niio € necessério que eu vos fale da Tribuna Popular. E 0 nosso jornal, 0 jornal nosso de cada dia, tio necessério i nossa vida como 0 ar que respiramos, a gua que bebem € 6 pio que comemos. Por ela estamos aqui, nesta noi fria, com 0 frio a gelar-nos a epiderme, mas, dentro de ‘nds, com a chama inextingiiivel de uma dedicagao que nio conhece limites. Devo terminar, mas nao posso furtar-me, antes, a pelo menos lemibrar os titulos dos nossos jornais atuais, genuinos porta-vozes das massas populares do Brasil: O Momento, da Bahia; Hoje, de Sa0 Paulo; O Democrata, do Cearé: Folha do Povo, do Recife; Tribuna do Para, de Belén 87 NOVOS RUMOS Jornal do Povo, da Paraiba; O Estado de Goi, de Goidnia; (0 Democrata, de Campo Grande, Mato Grosso; Jornal do Povo, de Belo Horizonte; Tribuna Ganicha, de Porto Alegre; Jornal do Povo, de Aracaju: A Voz do Povo, de Maceid; Folha Capixaba, de Vit6ria; Voz do Povo, Caxias do Sul E ainda e sempre, para todo o Brasil, a veterana A Classe Operiria ‘Do relato incompleto ¢ imperfeito, que acabo de fazer, podemos desde logo concluir o seguinte: que a historia da imprensa operiria & a propria historia da classe operdria, das suas Tutas, dos seus sofrimentos, das suas esperancas Desde os primeiros periédicos, aparecidos ha cerca de um século, quase todos de vida curta e dificil, até aos nossos didrios de hoje, 0 que vemos palpitar em suas colunas € sempre o mesmo pensamento generoso vollado para o futu- ro, para uma patria livre e independente, cm que o trabalho seja a fei comum, a condigao primeira e altima do bem-estar para todos, Nos primeiros tempos, ainda em regime de escravidio, ‘0s pequenos periédicos refletem sentimentos elementares € obscuros. Depois, jad na Republica, comegam a surgir. aqui e ali, os primérdios de uma afirmacio socialista, cujo eco se perde no tumultuar de vagas e incertas aspiragses Segue-se a vaga de violéncias verbais e de ago castica, durante a qual predomina a orientacaio anarquista. Ao cabo daprimeira guerra mundial, concentragdes operarias, ja con- sidcraveis nas principais cidades, jogam-se em grandes ages cde massa, com impeto poderoso, que leva 0 piinico as classes ‘dominanies; mas a ditegio anarquista mostrou-se ineapaz, como nao podia deixar de ser, de levi-las a vitoria. AS derrotas de entio serviram, contudo, de ligio fecunda — © uma vanguarda mais esclarecida de combutentes tomou ‘6 rumo que a propria experiéncia mundial indicava —rumo ditado, pela ciéncia marxista. A distancia percorrida desde centao pode ser medida, em termos de imprensa, pela compa- ago entre o Movimento Comunista, modesta ¢ magra revis- tinha mensal com algumas centenas de leitores, ¢ a Tribuna Popular, je. sob a orien- tagio do Senador Luiz Carlos Prestes, 0 baluarte inexpug- nivel da democracia brasileira em marcha para

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