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2uoen017 ‘Aigo AETICA NA ADMINISTRACAO PUBLICA E A MORALIDADE ADMINISTRATIVA* Conceitos e aplicabilidade nos atos administrativos. Daniel Tajra Fabiane Ricardi** SUMARIO: Introducao; 1. A ética, a moral eo direito: Conceito e Distincao; 2. A moratidade na Administracao Piblica 4 Luz da Constituigao Federal de 1988; Referéncias Bibliograficas. RESUMO Neste trabalho, objetiva-se analisar as diferencas conceituais entre a ética, a moral eo direito a fim de fixarmos um ‘entendimento da aplicabilidade da moralidade e da probidade nos atos da Administracao Publica e de que forma a ética pode ser alcangada nos mesmos.. Palavras-chave: Etica. Moralidade. Administracao Publica. INTRODUGAO Neste estudo, buscamos esbocar uma breve analise acerca das distingdes conceituais que a doutrina impée sobre a ética, a moral e o direito para que possamos entender de forma mais consistente, a verdadeira aplicabilidade da moralidade administrativa nos atos dos agentes publicos. Para tanto procuramos clarificar a idéia de que para ser moral na Administracao Publica nao basta so cumprir a lei, deve-se também acreditar que qualquer tomada de decisio afeta diretamente a coletividade na busca pela justica e equilibrio social. 1. Aftica, a Moral eo Dieito: Conceito e Distingéo ‘Antes de iniciarmos a discussdo acerca da aplicabilidade da moratidade administrativa nos atos da Administragio Pablica, convém que facamos uma breve e resumida anélise dos conceitos de ética, moral e direito e como estes trés institutos se distinguem, tendo como base a sua aplicabilidade nos atos administrativos. Tomamos como fonte principal para analisar tais institutos, o classico autor Miguel Reale, em seu livro Licées Preliminares de Direito, obra tida como indispensavel para qualquer estudante de direito que inicia a sua graduagao. O referido autor defende que “[...] as normas éticas, no envolvem apenas um juizo de valor sobre os comportamentos humanos, mas culminam na escotha de uma diretriz considerada obrigatéria numa coletividade” (2002, p.33). A ética passa a ser, neste sentido, uma tomada de escolha que tem como base um conjunto de valores que estruturam uma determinada sociedade, ou seja, segundo Reale (2002, p. 35), “Toda norma ética expressa um juizo de valor, ao qual se liga uma sancao [...]” Significa dizer que a ética representa um dever e sua obrigatoriedade de curprimento tem como parametro principal 2 idéia do que ¢ justo perante uma coletividade que pode ser seguida ou nao, conforme o juizo de valor de cada pessoa, A ética, portanto, refere-se as aces humanas, e volta-se para as relacdes sociais. Para o pensamento dialético, 0 ideal ético baseia-se em uma vida social justa e na superacao e nas desigualdades econémicas. Pode-se dizer, numa sintese apertada, que a ética tem como fundamento o bem comum. (BRAGA, 2006, p. 180). ‘A ética, diante do exposto, pode ser entendida como uma virtude a ser alcancada por uma sociedade. £ 0 verdadeiro objetivo do individuo, ou seja, “todos os homens procuram alcancar thes parece ser o bem ou a felicidade” como preconiza Miguel Reale (2002, p. 39). Vejamos agora o significado de MORAL fazendo um balanco com o Direito. Para realizar tal distincao, Miguel Reale (2002, p. 42) faz referéncia a teoria do minimo ético que significa, conforme suas palavras: “A teoria do minimo ético consiste em dizer que o Direito representa apenas o minimo de Moral declarado obrigatério para que a sociedade Reale estabelece um esquema interessante para que possamos chegar a um entendimento prévio utiliza figuras geométricas defendendo a idéia de que o Direito é um circulo concéntrico que integra um circulo maior que representa a Moral. Entendemos umn pouco mais além desta representacao: acreditamos ‘que tanto a moral quanto o Direito esto inseridos no circulo da Etica, porque ser ético em uma sociedade ¢ saber conjugar uma regra moral com uma regra juridica em determinada conduta. Miguel Reale cita um exemplo que bem reflete estas situacdes: um filho rico compelido judicialmente para que possa prestar forcadamente assisténcia material aos seus pais idosos e com dificuldades financeiras, ou seja, temos neste caso uma separacdo das regras, hipwww vials com brivis. php?pagina-artignsSid=22628idAreaSol=1asesAt=yos 18 2uoen017 ‘Aigo morais com as juridicas observando, neste caso, apenas a presenca das regras juridicas, ferindo principios morais e automaticamente éticos. ‘A teoria do minimo ético pode ser reproduzida através da imagem de dois circulos concéntricos, sendo o cfrculo maior © da Moral, e 0 circulo menor o do Direito, Haveria, portanto, um campo de acao comum a ambos, sendo 0 Direito envolvido pela Moral. Poderiamos dizer, de acordo com essa imagem, que tudo 0 que é juridico é moral, mas nem tudo ‘© que é moral é juridico. (REALE, 2002, p. 42). ‘A moral deve ser entendida como uma conduta voluntaria sem pressées externas e coagées. Uma boa conduta ou uma conduta moral deve ser apticada pelo seu agente de forma nao obrigatéria, de forma racional e imediata, e esta sera a principal diferenca com o Direito, pois uma regra juridica se diferencia de regras morais porque aquelas so atendidas em virtude de uma sanco cumprida de forma obrigatéria e involuntaria. ‘A Moral ¢ incompativel com a violéncia, com a forca, ou seja, com a coacdo, mesmo quando a forca se manifesta juridicamente organizada. 0 filho que, mensalmente, paga a prestacao alimenticia por forca do imperativo da Sentenca, s6 praticaré um ato moral no dia em que se convencer de que néo esté cumprindo uma obrigacao, mas praticando um ato que o enriquece espiritualmente, com tanto mais valia quanto menos pesar nele o cAlculo dos interesses. (REALE, 2002, p. 46). E a moral deve ser entendida como uma conduta voluntéria ligada aos valores internos do individuo e 0 direito deve ser entendido como aquelas condutas externas dos individuos que devemn ser seguidas por haver uma sancao, pois segundo Miguel Reale (2002, p. 46), “[...] a Moral € incoercivel e 0 Direito é coercivel”. Outro ponto onde se vislumbram diferencas é o que diz que a moral tem o seu foro de atuacdo na intimidade da pessoa, enquanto que a exterioridade ¢ a marca da legislacao juridica que sé vai interessar-se pela adesao exterior as leis vigentes, nao levando em conta qual tenha sido a intencao do agente. (LOPES, 1993, p. 18). A Etica é 0 estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Etica é a busca de justificativas paras regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente de ambos - Moral e Direito - pois nao estabelece regras. Esta reflexao sobre a acao humana é que caracteriza a ética. (GLOCK & GOLDIM, 2003, p. 01), Diante do exposto, percebemos claramente que a ética, a moral e o direito apresentam distingdes claras, e esta compreensao sera de fundamental importdncia para que possamos analisar a pratica de diversos atos administrativos. 2.AMoralidade na Administracao Publica & Luz da Constituigao Federal de 1988. Feitas as breves consideracées acerca da ética, da moral ¢ do direito e entendendo aplicabilidade dos seus institutos, partiremos agora para a andlise da moralidade administrativa e sua compreensao & luz da Constituigao Federal de 1988. ‘A moralidade administrativa ¢ colocada pela maioria da doutrina como desvio de finalidade, e segundo Telmo Vasconcelos (2009, p. 01), “A moralidade administrativa é principio informador de toda a acao administrativa, sendo defeso ao administrador o agir dissociado dos conceitos comuns, [...], do que seja honesto, brioso, justo”. {gir em conformidade com a moral administrativa é agir verificando a legatidade dos seus atos de acordo com o estabelecido com a lei e também agir verificando a melhor decisdo que torne a administraco mais eficiente adequada. ‘A moralidade administrativa constitui-se, modernamente, num pressuposto de validade de todo ato da Administragao Pablica, é atributo indispensavel, conditio sine qua non do ato administrativo. Tem por finalidade limitar a atividade da Administracdo. Exige-se, com base nos postulados, que a forma, que o atuar dos agentes publicos atendam a uma dupla necessidade: a de justica para os cidadaos e de eficiéncia para a prépria Administracao, a fim de que se consagrem os efeitos-fins do ato administrativo no alcance do bem comum. (LOPES, 1993, p. 33). L..-10 principio da moralidade exige que, fundamentadamente e racionalmente, os atos, contratos e procedimentos administrativos venham a ser contemplados a luz da orientacao decisiva e substancial, que prescreve 0 dever de a ‘Administracao Pablica observar, com pronunciado rigor e maior objetividade possivel, os referenciais valorativos basilares vigentes, cumprindo, de maneira precipua até, proteger e vivificar, exemplarmente, a lealdade e a boa-fé para com a sociedade, bem como travar o combate contra toda e qualquer lesao moral provocada por aces publicas destituidas de probidade e honradez. (VASCONCELOS, 2009, p. 02). ‘Assim, a atuagao do administrador piblico deve atender aos requisitos juridicos, mas também devem ser verificadas as regras morais e éticas em suas condutas. Esse ¢ o pensamento da doutrina majoritaria, pois segundo Paulo Martinez (2009, p. 01), “0 bom agente piblico é 0 que se determina nao s6 pelos preceitos vigentes, mas também pela moral comum’. Mas, infelizmente nos dias atuais, verificamios uma faléncia na existéncia de bons administradores puibticos hipwww vials com brivis. php?pagina-artignsSid=22628idAreaSol=1asesAt=yos 23 2uoen017 ‘Aigo ‘que hodiernamente confundem os interesses publicos com os privados usurpando de forma vergonhosa os bens coletivos. Hoje, claramente verificamos nas condutas de nossos agentes piiblicos a infrigéncia destas normas morais e juridicas que afetam diretamente a Administracao Pablica. Basta vermos carros oficiais atendendo interesses privados, contratacao de parentes em drgaos estatais ou talvez um excesso de cargos em comissao e etc. Sao condutas como estas que faze a Administracao Publica ficar desacreditada e passar a ser uma geradora de “maus” administradores configurando, por suas condutas, “o desvio de poder que se transfigura em duas espécies denominadas excesso de poder e desvio de finalidade”, segundo Telmo Vasconcelos (2009, p. 02). 0 autor Pedro Braga bem define o conceito de moralidade administrativa, in verbis: [...] deve ser entendido como o dever de o “funcionario servir & Administracéo com honestidade, procedendo no exercicio das suas fungdes, sem aproveitar os poderes ou facilidades deles decorrentes em proveito pessoal ou de ‘outrem a quem queira favorecer”. (BRAGA, 2006, p. 202). Isto é, diante do exposto, percebemos que o born administrador piiblico nao & aquele que somente atende o interesse pidblico da instituicao a qual esta vinculado, mas também verifica as normas morais de sua conduta, sabendo conjugar principios morais e éticos com as regras juridicas no qual esta limitado. Saber discernir 0 que & bom para a coletividade deixando de lado seus interesses pessoai ‘A moratidade administrativa é composta de regras de boa administracdo, ou seja: pelo conjunto das regras finais & disciplinares suscitadas nao s6 pela distin¢ao entre 0s valores antagénicos - bem e mal; legal ilegal; justo ¢ injusto - mas também pela idéia geral de administracao e pela idéia de fungao administrativa. (LOPES, 1993, p. 34). ‘Assim, é desta forma que 0 administrador piblico deve agir e somente atendendo os requisitos supra mencionados, & ‘que 0 agente publico sera ETICO exercendo qualquer fungao. E tendo esta preocupacao em formar bons administradores, limitar e fiscalizar suas condutas dos mesmos, o legislador constituinte derivado, através da Emenda Constitucfonal n°. 19 de 1998 que alterou o art. 37 da CF/88 inserindo em sua redacao o principio da moralidade que norteia a administracao publica, 0 principio da moralidade caracteriza-se justamente pela conduta ética e moral do administrador pablico atendendo também os preceitos juridicos pelo qual esta totalmente vinculado devendo agir de forma honesta e justa e de conformidade com os limites juridicos atendendo sempre o interesse piblico. Isto significa a tao citada probidade administrativa e, ao agir de forma diversa destas regras, o agente estard sujeito a certas sancées impostas pela propria CF/88, conforme se observa no $4° do mesmo art. 37 , desta forma tera que respeitar limites impostos tacitamente pela supremacia do interesse piblico. 0 principio da moralidade torna juridica a exigéncia de atuacao ética dos agentes da Administracao. A denominada moral administrativa difere da moral comum, justamente por ser juridica e pela possibilidade de invalidacao de atos administrativos que sejam praticados com inobservancia deste principio. [...]. Para atuar em respeito a moral administrativa nao basta ao agente cumprir a lei na frieza de sua letra. E necessério que se atenda a letra e a0 espirito da lei, que ao legal junte-se 0 ético. (ALEXANDRINO & PAULO, 2002, p. 107). Diante do exposto, podemos perceber que a moralidade administrativa s6 sera alcangada se o agente piblico respeitar integralmente o interesse piblico e também se tomar as melhores decisdes que busquem o justo, o honesto ea eficiéncia. hipwww vials com brivis. php?pagina-artignsSid=22628idAreaSol=1asesAt=yos aa.

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