Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Editorial
Um projeto que amadurece êxito em seus objetivos, não obstante ma-
nobras que intentam mitigar seu âmbito de
O leitor já deve ter folheado este jornal incidência; no mês de março, publicamos
com olhos de curiosidade. Aquilo que é um artigo que fundamentava e defendia a
novo costuma nos encantar na sua forma, adoção feita por casais homossexuais: no Uma iniciativa do grupo OBSERVATÓRIO DO CCJ
embora muitas vezes não carregue consigo mês seguinte, o STJ autorizava a primeira
mudanças substanciais. Foi essa a receita adoção do tipo, criando um precedente Editores
que nos orientou nesta fase do projeto CCJ para a efetivação dos direitos à igualdade e Alysson Guerra
diversidade. Andrezza Melo
EM AÇÃO: dar um aspecto diferenciado à Ariadne Costa
estrutura do tablóide, preservando, contu- Nesta edição, o leitor terá em mãos um Caroline Carvalho
do, a proposta de transmissão de conteúdo instigante artigo acerca da chamada Daniella Memória
“justiça de transição”, escrito pelo respeita- Douglas Pinheiro
político-jurídico sob uma orientação crítica; Magno Duran
em outras palavras, desmistificar o Direito, do professor José Maurício de Lima, da Manuela Braga
(re)analisar a política e imprimir um as- UnB, com considerações sobre a recente Sarah Marques
Yure Tenno
pecto de diferenciação do senso comum decisão do STF que inviabilizou a punição
teórico do qual habitualmente nos utiliza- dos torturadores e assassinos atuantes na Apoio editorial
mos para encarar os problemas que inte- época da ditadura militar. Também, interes- Carlos Nazareno
gram nossa realidade. santes escritos discentes sobre temas que
Revisão textual
Quem vem acompanhando nosso traba- vão desde a análise do crime organizado
no cenário internacional, passando por um Andrezza Melo
lho desde a primeira edição deve ter visto
elucidadas muitas discussões que habitam estudo acerca da atividade de inteligência Diagramação
o dia-a-dia das decisões políticas e de segurança pública, até a crítica à exces- Sérgio Sombra
(atreladas a elas) do mundo do Direito. siva “razão de pedir ao Judiciário”.
Este jornal está sendo construído por Finalização
Assim o foi com o 3º Programa Nacional de
todos vocês. É preciso que o espaço públi- Douglas Pinheiro
Direitos Humanos (PNDH-3), que sofreu
recentes e significantes alterações por in- co de diálogo tão sonhado para o CCJ se Contato
fluência das forças sociais conservadoras - concretize enfim. jornalccjemacao@gmail.com
conforme já havíamos alertado; o projeto
Por Douglas Pinheiro Este jornal é uma produção independente. Todo o
de lei da Campanha “Ficha Limpa”, tema seu conteúdo é de responsabilidade dos seus idea-
da última edição, parece estar logrando Em nome do OBSERVATÓRIO DO CCJ lizadores.
CCJ em Ação · Ano 1 · Nº 3 Página 3
Jornal CCJ em Ação e grupo de pesquisa promovem indo de forma muito tardia”, disse José Maurício, referindo-se ao fato
palestra sobre Justiça de Transição de, 30 anos após a concessão da anistia, o País ainda não ter promovi-
do uma investigação séria e densa acerca dos acontecimentos pós-64.
A comunidade acadêmica Após espaço para perguntas, houve sorteio dos livros “O caso dos
compareceu à sala de denunciantes Invejosos”, de Dimitri Dimoulis, e “Direitos Humanos,
vídeo do Centro de Ciên- Direitos Sociais e Justiça”, de José Eduardo Faria (org.).
cias Jurídicas (Campus José Maurício escreve para esta edição do jornal.
João Pessoa), no dia 28
do mês de abril, para
assistir à palestra “Justiça
de Transição”, proferida
pelo professor, advogado
e mestrando em Filosofia
pela UnB (Universidade
de Brasília) José Maurício
de Lima. O evento foi
promovido a partir de uma
parceria entre o jornal CCJ em Ação e o grupo de pesquisa “Política
Judicial e Acesso Racional à Justiça”, coordenado pelo professor Gus-
tavo Rabay Guerra.
Naquele mesmo dia, o Supremo Tribunal Federal julgava a ADPF
153, que dispunha acerca da interpretação da Lei da Anistia (6.683/79),
matéria intimamente ligada ao tema da palestra. A decisão era acom-
panhada em tempo real via Twitter.
Num ambiente que propiciou uma conversa aberta entre o palestran-
te e o público, o professor José Maurício expôs conceitos fundamentais
acerca da chamada justiça de transição e buscou evidenciar a sua
importância no contexto de amadurecimento das democracias recém-
saídas de regimes ditatoriais. Tomando a África do Sul como paradig-
ma, o palestrante alertou para o fato de que a justiça transicional, além
de pacificar a mudança entre regimes de governo, viabiliza a preserva-
ção da história de um povo, aclara acontecimentos dos “tempos som-
brios” e intenta evitar que fatos lamentáveis se repitam.
“Precisamos, efetivamente, constituir a ‘comissão da verdade’ no
Brasil. É o que falta à nossa justiça de transição. Isso está se constitu-
CCJ em Ação · Ano 1 · Nº 3 Página 4
ESPAÇO DISCENTE
* Este artigo não tem qualquer pretensão de estabelecer juízo de valor acerca dos recentes acontecimentos envolvendo o Estado de Israel e a ONG Free Gaza de
ajuda humanitária, atacada pelo exército daquele país. Sua produção se deu anteriormente ao ocorrido.
CCJ em Ação · Ano 1 · Nº 3 Página 5
ESPAÇO DISCENTE
ESPAÇO DISCENTE
A CADELA E SÍLVIO SANTOS Pessoa. Na peça inicial, o autor afirmava que, jurisdicionais que se manifestam de vários mo-
na condição de brasileiro pobre que era, sentia- dos a fim de oferecer meios adequados a cada
se humilhado ao ver o apresentador esbanjando caso, entre os quais destaco a autocomposição,
RAYSSA BARRETO MAIA* riqueza ao lançar aviõezinhos de dinheiro. O a arbitragem e a mediação.
autor requereu um milhão de Contudo, para que essas
Há quase um mês foi veiculado um quadro no reais (em barras de ouro, alternativas surtam algum
programa “Fantástico" intitulado O Conciliador, que valem mais que dinhei- efeito, alguém tem que ceder
em que Max Gehringer acompanhava negocia- ro). ou, ao menos, estar disposto
ções feitas por conciliadores profissionais a fim Os dois casos, embora a compartilhar o ônus da
de divulgar formas de desafogamento das vias diferentes quanto ao objeto, solução com seu oponente –
judiciais. Um dos casos daquela vez tratava da guardam semelhança subje- o que não acontece na maio-
disputa pela guarda de uma cadelinha bem tiva: o bom senso das par- ria dos casos.
simpática - o mesmo não se poderia dizer de tes. Em tempos de revisão O cerne da questão está em
suas pretensas donas. Várias soluções foram democrática muito se fala de um elemento bastante apon-
ofertadas às duas senhoras, desde a guarda acesso à justiça sob a ótica tado como caminho para a
compartilhada até visitas periódicas de quem da prestação da assistência salvação social: a educação.
não ficasse com a posse final. Mas nenhuma judiciária às classes menos Enquanto as pessoas não
delas satisfez as duas vizinhas que, mais do favorecidas, da atuação dos adquirirem espírito de coleti-
que a disputa pelo animal, queriam aporrinhar- advogados, promotores, vidade e gentileza, não há
se mutuamente pela eternidade na falta do que procuradores, juízes e ministros, e das formas como se ver soluções mais diplomáticas quan-
fazer. alternativas de resolução de conflitos. Entretan- do da colisão de interesses. Por ora, ficaria
O resultado não poderia ser outro: a adversá- to, quase nada se diz sobre o desempenho das satisfeita se, além da legitimidade das partes,
ria que havia perdido a cadelinha fechou o qua- partes, sujeitos dos sagrados conflitos: nosso do interesse de agir e da possibilidade jurídica
dro ameaçando a outra litigante ao jurar que iria ganha-pão de cada dia. do pedido, o bom senso integrasse uma das
processá-la e retirar tudo o que lhe pertencia. Há quase 70 MILHÕES de processos con- condições para a validade da ação até que a
Tenho pena mesmo é do Juiz destinado a resol- gestionando o Poder Judiciário, de acordo política da boa vizinhança viesse a reger as
ver tal despautério. com os dados publicados pelo CNJ em ja- relações sociais.
Em outro caso curioso, temos o brilhantismo neiro de 2009, e, deles, cerca de 60% não
criativo de um senhor que moveu ação também terão seu desfecho no mesmo ano em que
de indenização por danos morais contra Senor foram instaurados. Como soluções ao desafo- * Aluna do 4º ano (tarde)
Abravanel, vulgo Silvio Santos, aqui em João gamento do Judiciário, surgem os equivalentes rayssa_bm_@hotmail.com
CCJ em Ação · Ano 1 · Nº 3 Página 7
CHARGE