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SEREIA
Antnio Torrado
escreveu e
Cristina Malaquias ilustrou
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APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros
Sentiu o borbulhar de um grande fervedouro dentro dela,
arrotou vrias vezes, os olhos encarniaram-se-lhe e
estremeceu dos ps cabea. Estava a transformar-se no
que queria.
No foi bem assim. Fosse da impreciso da frmula,
fosse da falta de rigor na contagem dos cristais de sal, o
certo que a menina estava transformada numa sereia, mas
ao contrrio: da cintura para cima era peixe, da cintura para
baixo era pessoa.
No convinha. No lhe convinha mesmo nada. Uma
cabea de pescada com pernas uma coisa pouco
agradvel de ver. E nada elegante.
De modo que a menina teve de consultar um mdico, um
especialista destas situaes anormais. Entre outros xitos,
j tinha curado um homem que estava a transformar-se
num grande porco e um burro, muito burro, que se dizia
doutor.
- Como a transmutao muito fresca, ainda vem a
tempo de acudir-lhe - disse o mdico.
Deu-lhe uns comprimidos, uma injeco, umas
massagens, uns estices e umas lavagens por dentro e por
fora, at que, ao fim de vrios dias, a menina se viu ao
espelho de novo, como era dantes. Que alvio!
Nunca mais quis ser sereia. Aquela experincia
bastara-lhe.
Anda agora a aprender a nadar. De costas ou de bruos,
a cortar a gua da piscina, ela uma autntica sereia, sem
deixar de ser menina.
FIM
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