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HISTORIA DA AMERICA LATINA VOLUME I AMERICA LATINA COLONIAL Leslie Bethell - organizador Tradugao Maria Clara Cescato Copyright © 1984 by Cambridge University Press ‘Titulo do original em inglés: ‘The Cambridge History of Latin America ledigio 1997 2edigio 1998 2*edigio, 1" reimpressio 2004 Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Histéria da América Latina: América Latina Colonial, volume 1 /orga- «ao Leslie Bethell; tradugio Maria Clara Cescato,~2. ed. 1, reimpr.—S%0 Paulo: Editora da Universidade de Sao Paulo; Brastlia, DF: Fundacao Alexan- dre de Gusmao, 2004. Titulo Original: The Cambridge History of Latin America. Bibliografia, ISBN 85-314-0412-6 1, América Latina — Histéria 2. América Latina ~Periodo Colonial 1, Bethell, Leslie, CDD-980 97-3864 eile Indices para catélogo sistematic 1. América Latina: Historia 980 Direitos em lingua portuguesa reservados & Edusp ~ Editora da Universidade de Sdo Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374 6° andar ~Ed. da Antiga Reitoria ~ Cidade Universitéria 0508-900 ~ Sao Paulo ~ SP ~ Brasil Di io Comercial: tel, (Oxx1 1) 3091-4008 / 3091-4150 SAC (Oxx11) 3091-2911 ~ Fax (Oxx11) 3091-4151 www.usp,br/edusp ~ e-mail: edusp@edu.usp.br Printed in Brazil 2004 Foi feito o depésito legal as A MESOAMERICA ANTES DE 1519 A ‘Vésperas da Conquista OS PRIMEIROS capitulos de uma histéria da Améri ina di . . rica Latina dizem res- peito aos povos que nela habitavam antes do Primeiro contato.com peus. Isso é particularmente valido no caso ddl Mesoamerica!) 0 Ae caro: Guatemala, El Salvador, Honduras e, em menior grau, a Nicardgua e a Costa Rica, assim como o Equador, o Peru e a Bolivia nos Andes centrais, tém suas raizes profundamente enterradas no subsolo de suas civilizagdes pré-colom- bianas. Este capitulo pretende, em primeiro lugar, delinear rapidamente o desenvolvimento dos povos e¢ das altas culturas da Mesoamérica antes do estabelecimento dos mexicas (astecas) no vale do México (c. 1325); em segundo lugar, examinar as principais caracteristicas da organizacao politica e socioecondmica e as realizacées intelectuais e artisticas durante o periodo de predominancia (séculos XIV e XV) dos mexicas (astecas); e, em terceiro lugar, apresentar uma visdo geral da situacdo reinante na Mesoamérica as vésperas da invasao européia (1519). 1. Alguns estudiosos alemées, particularmente Eduard Seler (1849-1922), introduziram hé mais de setenta anos a expresso Mittel America para designar a regio onde floresceu uma ata cul- tura indigena no México central ¢ meridional e no territ6rio contiguo dos patses do norte da ‘América Central. Muitos anos depois, em 1943, Paul Kirchhoff, em seu “Mesoamérica: Sus posicién ftnica y Caracteres Culturales”, Acta Anthropologie, 1 focalizou sua atencdo nos limites Limites Geogréficos, Com 92-107 (Escuela Nacional de Antropologia, México, 1943), Seograficos do que ele chamou Mesoamérica. ‘Mesoamérica é mais que um termo geogréfico: designa também a regio em que altas culturase civilizagdes nativas se desenvolveram edie minaram sob vérias formas e em épocas diferentes. No momento da invasio ceuropéia, em yuanto 1519, suas fronteiras ao norte eram o rio Sinaloa a noroeste € 0 Panuco a ri eng além da bacia do rio Lerma, Seus limites ao sul eram : ndew _ que no centro-norte ela nao se este! ssprales speridio- raibas, © rio Motagua, que desemboca no golfo de Honduras no mar dos Car nais do lago Nicardgua e a peninsula de Nicoyana Costa Rica 26 A AMERICA AS VESPERAS DA CONQUISTA Situada entre as vastas massas de terra continental i América do Norte eda América do Sul, a Mesoamérica (uma drea de 906 mil quilometros qua. drados) apresenta um aspecto nitidamente fstmico com varias caracteristicas geogréficas notdveis, como os golfos de Tehuantepec e de Fonseca do lado do Pacifico e a peninsula de Yucatdn e o golfo de Honduras do lado do mar dos Carafbas. Essa regido, onde se desenvolveram as altas culturas, Tevela talvez maior diversidade ecolégica e geografica do que qualquer outra de tamanho an4logo no mundo. Tem uma histéria geolégica complexa, Principalmente, 0 soerguimento de montanhas e a atividade vulcanica recentes — como a constituicao de duas cadeias montanhosas de origem vulcanica (uma que corre de leste para oeste ao longo dos limites sul do vale do México e a outra na direcao noroeste-sudeste através do México e da América Central) — foram responsaveis pela formagao de-regides naturais distintas. Embora a Mesoamérica se localize nos trépicos, a complexidade de seu relevo e a variedade de suas formas de terreno, solos e sistemas de dre- nagem, aliadas aos efeitos dos ventos e das correntes maritimas, resultam numa diversidade de clima, de vegetacao e de vida animal. Essa diversidade é bastante acentuada nas bacias fluviais, como as de Panuco, Coatzacoalcos, Grijalva, Usumacinta, Hondo, Motagua, Lerma-Santiago e Balsas, e nas areas lacustres do vale do México ou Patzcuaro em Michoacan; e é significa- tivo que as mais importantes mudangas culturais da Mesoamérica tenham ocorrido nessas regides. As sub-regides realmente tropicais da Mesoamérica compreendem as planfcies bem irrigadas de Veracruz e Tabasco: a peninsula de Yucatan, coberta por uma vegetacio baixa; a 4rea da floresta tropical das Antilhas na América Central; as planicies costeiras do México central e meridional do lado do Pacifico (Chiapas, Oaxaca, Guerrero, Michoacdn, Colima) e da Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicar4gua, juntamente com a peninsula de Nicoya e a provincia de Huanacazte na Costa Rica. As principais sub-regides de montanha — as Sierras (as montanhas da América Central, o sul de Sierra Madre, bem como porcdes do oeste e do leste de Sierra Madre, e a cadeia vulcanica transversal) e as duas grandes mesas, ou Planaltos, do centro ¢ do sul — , embora se localizem na regido tropical, tm clima e vegetacao temperados. A vasta tegido ao norte da Mesoamérica, ira México—Estados Unidos, é muito termos ecolégicos e assemelha- tos norte-americanos, € cactos e alguns capes grandes deser diversidade di Se, sob muitos aspectos, a0$ A vegetacao limita-se em geral a uma de arbustos, iticas ou palmillas e, perto dos rios periddicos, algarobos, Em algu, Mesoamérica disseminou-se de forma ee €poca, regides do planalto norte (como em ios uada para zacatecas). No entanto, de modo 8eral o nort, vie “ nente dos belicosos chichimecas q © atido se , We var povoados mesoamericanos do norte. 27 a alta cultura da algumas das sub- 'm Calchihuites em a tmpre foi o lar perma- eacaram a existéncia dos + F090 ab. WPS Saree ecw he AS CIVILIZAGOES PRIMITIVAS D4 MESOAMERICA en Foeg Ce mG te A pré-histéria remota, no caso das Américas, as 35000 a.C., quando aparentemente © homem chegou pela primeira vez ao continente através do estreito de Bering. Existem alguns testemunhos da _U! provavel presenca do homem, por volta de 20000 a.C., na regiao oc on pelo Mexico atual. No entanto, os fésseis humanos mais antigos, a tos no sitio arqueol6gico de Tepexpan, cerca de 40 quilometros a nordeste de Cidade do México, datam de no maximo 9000 a.C. Durante um longo perfodo habitaram a terra apenas alguns bandos de cacadores e coletores de, alimentos. Seriam necessérios mais trés ou talvez quatro milénios para que o homem da Mesoamérica iniciasse, por volta de 5000 a.C., 0 processo que © veio desembocar na agricultura. Achados em varias cavernas de Sierra de Tamaulipas e em Cozcatl4n (Puebla) mostram como pouco a pouco os anti- J 80s coletores iniciaram o cultivo da abébora, da pimenta malagueta, do fei- 7 io € do milho. A produgao de ceramica teve inicio muito mais tarde, por" ”) volta de 2300 a.C. Em varias partes do México central e meridionale na ©, América Central, comecaram a proliferar aldeias de agricultores ¢ artesaos de ceramica. Algumas dessas aldeias, situadas provavelmente a ambientes mais adequados, como as margens de um curso d’4gua ou junto ao mar," &xperimentaram muito cedo um crescimento populacional. Muitas VEZES 08 ig habitantes dessas aldeias espalhadas por um territério téo vasto diferiam étnica e lingiisticamente. Dentre esses, cedo se destacou um a 6 cular, Achados arqueolégicos revelam que ue série de 00s C, numa & dindrias comegaram a surgir, a partir de mais ou ee no estado vizinho in L "ido proxima ao golfo do México, ao sul de Veracruz ae eee " de Tabasco. Essa regio era conhecida desde os tempo B ie dos olmecas. | on iareane st map por exemplo, Tres Zapotes, : ; 6 Itu- fs. des transformagoes cu! u. ¢ ils As hele tem inicio por volta de wet 7s MESOAMERICA ANTES DE 1519 Escavacoes feitas em centros olmecas, an 4 Venta, San Lorenzo e outros, revelaram gr 28 A AMERICA AS VESPERAS DA CONQUISTA rais. La Venta, o maior dos centros, foi erguido numa pequena ilha, a poy. cos metros acima do nivel do mar, numa 4rea Pantanosa junto ao tio Tonal, 16 quilémetros antes de sua foz no golfo do México. Embora s6 se encontrasse pedra dispontvel a 64 quilémetros do local, foram desent na regido uma série de colossais esculturas de pedra (algumas delas ce metros de altura) e outros monumentos. Em La Venta, do mesmo modo que em outras localidades olmecas, come¢ou a desenvolver-se uma espécie de proto-urbanismo. £ Provavel que os povos agricultores que se fixaram nas proximidades de La Venta tenham experimentado, junto com o crescimento populacional, varios estimulos a abandonar seu antigo modo de subsisténcia. Suas realizagoes Pressupdem lerradas ‘OM trés mudangas em sua organizacio religiosa, politica e socioeconémica. Até onde sabemos, os olmecas foram os primeiros, na Mesoamérica, a erigir grandes complexos de construgdes, principalmente para fins teligio- sos. Desse modo, o centro de La Venta, habilidosamente planejado, incluta piramides rebocadas de barro, timulos circulares e alongados, altares enta- Ihados na pedra, grandes compartimentos de pedra, fileiras de colunas de basalto, tumbas, sarc6fagos, estelas, colossais cabecas de basalto e outras esculturas menores. A existéncia de grandes pragas publicas parece indicar que as ceriménias religiosas eram realizadas ao ar livre. Em alguns dos espa- gos abertos em frente dos edificios religiosos foram encontradas sob 0 piso, formando como que um antigo pavimento, mascaras de jaguar, formadas de mosaicos verdes, provavelmente para servirem de oferendas e, portanto, revestidas de argila e adobe. Aquilo que denominaremos criagées artisticas também compreendia muitas pegas de jade, estatuetas, colares e outros obje- tos de quartzo talhado e polido, obsidiana, cristal de rocha e serpentina. E possivel supor algum tipo de divisdo de trabalho. Enquanto muitos indivi- duos continuaram a trabalhar na agricultura e em outras atividades de sub- sisténcia, outros se especializaram em artes e oficios diferentes, em garantir a defesa do grupo, em empreendimentos comerciais, no culto aos deuses € NO governo, que estava provavelmente nas maos dos chefes religiosos. Os olmecas adoravam um deus-jaguar onipresente-Os elementos vincu- lados ao simbolismo do que seria mais tarde feus-chuva Ya Mesoamérica derivaram provavelmente da mascara do Mohean Estelas e outros monumentos mostram diversas representacdes de passaros fantésticos, mui tas vezes em associagdo com jaguares, serpentes of seres humanos. As ofe- rendas encontradas em funerais sao Provas da existéncia de um culto 208 A ~ ww By, @ 7 ee . < Ta tenha sg: sofreram influéncia dos olmecas) ido em Oaxaca ( em locais que ju gios dessas obras. We se desenterraram os Primeiros vesti- Tudo isso, e a difusio Precoce de elementos oh i rentes, muitas delas longe dos Centros de ori, perc cailidades dite Origem, parecem confir "86 Cos cent 7 mar 0 caré- ter de uma alta cultura-matriz, A influéncia olmeca — Provavelmente at: . fe atra- vés do ea € talvez também de uma espécie de empenho teligioso mission TIO” — aparece manifesta €m muitos sitios arqueolégicos da regio préxima ao golfo do México e no Planalto Central, em Oaxaca, na terra dos maias e no oeste do Méxic : ‘0 (Guerrero e Michoacén), vam os antecedentes do Perfodo Classico da Mesoameérica, L i As extraordinarias inovacées culturais dos olme. desaparecimento de algumas notérias | desenvolvimento dos varios Povos mi cas ndo significaram ¢ Primeiramente a auséncia permanente de qualquer uso prético da toda, com suas muitas conseqiiéncias, como, por exemplo, no transporte e no artesa- nato de ceramica; em segundo lugar, a auséncia (até cerca de 950 d.C.) de um tipo mesmo que elementar de metalurgia, numa presuncdo de que essa tenha vindo talvez da tegido andina via América Central; finalmente, a auséncia de animais passiveis de domesticacao: nao havia cavalos nem gado bovino e, com excegao dos perus (para alimentacao), somente os cachorros mexicanos sem pélos faziam companhia ao homem em sua vida quotidiana — € em sua vida no além, uma vez que eram sacrificados para acompanhar seus donos a Terra dos Mortos. No entanto, essas e outras limita¢des nao constituiram obstdculos insu- Peraveis ao desenvolvimento posterior dos grupos mesoamericanos. Por volta de 600 a.C., a influéncia da cultura olmeca comegou a se fazer sentir m locais como Tlatilco, Zacatenco e outros, nas proximidades do que sécu- los mais tarde veio a ser Cidade do México. Processos paralelos desenvolve- Tam-se em outras regides da Mesoamérica central e eee ra se expandiu e diversificou; entre outras culturas, o algodio foi cul com sucesso. As aldeias cresceram, dando lugar a centros maiores. hth sPogen da civilizasao cléssica no planalto cantrt» grande centro ceri- logicos no local revelaram ndo apenas a existéncia esoamericanos, Estas compreendem kun 29 qui esta, [3 agen th oh, ou imitagdes que conti Pome A MESOAMERICA ANTES DE 1519 30 monial, mas também tudo o que esta implicito na idéia de uma cidad nao se desenvolveu da noite para o dia. Varios séculos foram Necess4rj, para que geracoes de sacerdotes e arquitetos planejassem e executassen, modificassem, ampliassem e aprimorassem o que talvez tenha sido concebj. do originalmente como uma entidade destinada a uma existéncia eterna Além das duas grandes piramides e do Templo de Quetzalcéatl, foram des, cobertos outros recintos, paldcios, escolas e diferentes tipos de construcao, Extensos bairros, onde os membros da comunidade tinham suas Tesidéncias, rodeavam o centro administrativo e religioso mais denso. As avenidas e ruas eram pavimentadas, e havia um sistema de drenagem bem planejado. As piramides, os templos, os palacios e a maioria das casas dos governantes oy dos membros da nobreza eram decorados com pinturas murais nas quais estavam representados deuses, passaros fantdsticos, serpentes, jaguares e varias plantas. A metrépole de Teotihuacan, que em seu apogeu, por volta dos séculos V ou VI d.C., se estendia por cerca de vinte quilémetros quadrados, contava -_gom uma populacao de pelo menos 50 mil habitantes. Diferencas de posicao social vinculadas a divisdo do trabalho, um exército eficiente, ©. Ela v*" pode talvez consider: ~§,du0¢ Teotihuacan. Os muitos vestigios de sua influéncia, encontrados em varias _*1 sitios arqueolégicos remotos, em Oaxaca, Chiapas e mesmo nas regides @ montanhosas da Guatemala, parecem indicar que Teotihuacdn foi o centro de um grande reino ou de uma confederagao de diversos povos. Muitos dos membros da classe governante falavam provavelmente a lingua nahuat, uma forma arcaica do néhuatl, que viria a ser, séculos mais tarde, a lingua oficial dos astecas. Os teotihuacanos cultuavam diversos deuses invocados posteriormente Por outros povos de lingua nahuat: Tlaloc e Chalchiuhtlicue, Senhor ¢ Senhora das Aguas; Quetzalcéatl, a Serpente Emplumada; Xiuhtecubtl Senhor do Fogo; Xochipilli, Principe das Flores, Como aconteceu com outras instituic varias fe S6es, a arte que floresceu em Teotihuacén iria influenciat 4¢ formas outros povos mesoamericanos, Paralelamen: . , ite ao desenvolvimento de Teotihuacdn, surgiu uma civiliza” an, da Mesoamérica. Um dos primeiros exemplos © central, cujo surgimento remonta a cerca de 6 A-AMERICA AS VESPERAS DA CONQUISTA 4.C. Nesse local; além do centro reli, ** >) tawere a presenga de numerosas estrutura um nticleo urbano relativamente 8 com datas, nomes de lugar e outros h; eS, $40 indicios igualmente do alt que construiram Monte Alban e d da atual Oaxaca. famosos so Tikal, Uaxactiin, Piedras Ne gras e Ouirigué na Guatemala; Copan em Honduras; Nakum em Belize; Yaxchilén, Palenque e Bonampak em Chiapas; Dzibilchaltén, Cob4, Labné, Kabah e os primérdios de Uxmal . Chichén-Itz4 na peninsula de Yucatan, Muitas teses foram levantadas pré ou contra a natureza urbana dos cen- tros maias. Hoje admite-se de modo geral que as aldeias construfdas as mar- gens dos rios, como aquelas préximas do Usumacinta ou, em geral, dentro de uma densa floresta tropical, compreendiam nao s6 santudrios para os deuses e paldcios para os lideres religiosos, como também bairros residen- ciais para 0 povo. De um ponto de vista politico, parece que alguns desses centros urbanos estavam associados em varios tipos de “confederagées” ou “reinos”. Na sociedade maia classica coexistiam dois estratos sociais claramente distintos: © povo comum, ou plebeus (devotados, em sua maioria, & agricultura e & execucio de varios servicos pessoais), ¢ 0 grupo dominante, composto de Sovernantes, sacerdotes e guerreiros de alta posicao. Aos sacerdotes e€ aos stbios devem-: ibuir as extraordindrias criagbes artisticas. Sao dignas de . i ilhdes, a nota a arquitetura) que produziu a abébada guarnecida de oa oe zl 5 si ais, cultura, particalarmente os baixos-relevos, ¢ as pinturgy mutt i il de textos hieroglifico’s, inscri- famosas de Bonampak, em Chiapas. Milhares de 7 se ze ‘os em estelas de pedra, escadarias, lintéis, pint ee eres livros ou cédices confirmam que os sabios ¢ a Feateroe também que Pie de uma alta cultura extremamente Soo ge aisima pre = aan ti ios calel nn Stiaias do Periodo Classico tinham vario ravolvessem a idéia, indus dese! So. Varias centenas de anos antes que os hin A MESOAMERICA ANTES DE 1519 32 ‘A AMBRICA AS VESPERAS DA CONQUISTA possuiam igualmente um conceito do zero e um simbolo para den herdados talvez dos olmecas. Quem quer que consiga decifrar completa. mente a escrita maia ir4 descobrir um universo de idéias e simbolos, 9 nucleo do cosmo maia. Por enquanto podemos pelo menos afirmar que a civilizagao na Mesoamérica classica, da qual derivou todo o desenvolvimen. to ulterior, alcangou seu apogeu com os maias, Otd-lo, Explicagdes sobre o que aconteceu aos maias, aos Zapotecas, aos teotj- huacanos e, de modo geral, aos que deram origem e sustentagao a civilizacao em seu Periodo Classico nao passam até agora de meras hipéteses. O dec. nio ¢ o abandono final das espléndidas metrépoles antigas, entre os séculos » assumiram provavelmente diversas formas. Os testemunhos arqueo- légicos parecem indicar um colapso repentino no caso de Teotihuacén, Teria sido incendiada a cidade, como sugerem alguns restos de paredes, vigas ¢ outras pecas de madeira que remanesceram? Ou foi uma destruicao causada por forcas externas, que, percebendo talvez que j4 estava em marcha o decli- nio, decidiram apossar-se das terras férteis do vale? Ou a rufna da cidade foi © resultado de uma luta interna, politica ou religiosa? Ou, de maneira mais simples, como insistiram alguns autores, a metrépole foi abandonada em decorréncia de mudangas climéticas relacionadas com o desmatamento e 0 dessecamento dos lagos, em conseqiiéncia de processos naturais ou talvez das préprias acées do homem? Se, segundo parece, Teotihuacén teve um fim repentino por volta de 650 4.C., sabemos, por outro lado, que a cidade zapoteca erigida no: Monte Alban experimentou um longo periodo de decadéncia antes de ser também finalmente abandonada. No caso dos centros maias € como se houvesse che- gado um momento irreversivel quando os sacerdotes deixaram de construir estelas. Depois, talvez durante um certo periodo, as velhas cidades comeca- ram a ser gradativamente abandonadas. Nao se encontraram vestigios de ata- ques externos, nem de destrui¢ao por fogo. Os centros foram apenas aban- donados, quando seus habitantes procuraram outros locais onde se fixar. E seria dificil provar que foi isso o resultado de uma mudanga climatica violen- tae generalizada, de uma catastrofe agricola ou de uma epidemia geral. Conjecturas & parte, permanece o fato de que o periodo entre 650 ¢ 950 .C. assistiu a queda das civilizages classicas da Mesoamérica. No entanto, a ruina das cidades nao significou a morte da alta cultura nessa parte do ovo Mundo. Sabemos agora que outros Povos herdaram e desenvolveram pedaco de terra onde plantavam alguns legumes. Os mesoamericanos gosta- vam de todos os tipos de planta. Assim, muitas de suas cidades, vistas de uma certa distancia, pareciam uma mistura de Pequenas florestas e jardins, com telhados cobertos de palha visiveis aqui e ali e os templos e paldcios pintados emergindo por entre o verde em volta. Essa forma de urbanismo permaneceu tipica da Mesoamérica. Um exemplo extraordinério apresen- tou-se aos conquistadores na metrépole asteca, Tenochtitlan-México. Tanto quanto nos padrées da vida urbana, na esfera artistica encontra-, > mos mais tarde a forte influ do do Classico, e o mesmo é valido no\ 2? tocante as crencas basicas e a§ formas dé cultoJ Pode-se buscar numa prova- vel origem comum, parte do legado classico, uma explicagao satisfatéria da semelhanga e as vezes identidade entre os mitos, ritos e deuses de grupos diferentes do Periodo Pés-classico (950-1519). Or tros elementos culturais ue fizeram parte da mesma heranga for: olcalendario,la\gscrita hierogltfi- ©, 0 conhecimentolastrondmico ¢ astrol6gicd, uma visio de mundp, formas bisicas de qrganizacio religiosa, politica e socioecondmica, a instituigao do ‘mercado f unk comércio que conseguia atingir regides muito distantes. Entre os povosque se beneficiaram desse legado cultural, alguns exer: ram um poder considerdvel até a chegada dos espanhéis. Mencionenst tam bém os muitos grupos do Norte, localizados muito além dos territ oe ‘8 a Teotihuacdn. Alguns j4 praticavam a agricultura em ggau Timi ie “emo os atuais coras, huichols, tepehuanos, cahitas ¢ pimas co n eos México, Adiante da regio habitada por estes, s40 encontrados outros § . 33 A MESOAMERICA ANTES DE 1519 A AMERICA AS VESPERAS DA CONQUISTA 34 alguns particularmente primitivos, como os pertencentes a familia linguisticg hokan, além de outros que haviam alcangado niveis mais adiantados, como os chamados indios pueblos do atual Novo México e partes do Arizon., A arqueologia revelou que os teotihuacanos haviam exercido, pelo Menos indiretamente, alguma influéncia sobre alguns desses srupos. Isso parece ser particularmente verdadeiro no caso dos indios pueblos, os mais adiantados nos vastos territérios do norte do México. Hé indicios igualmente da Presen. ga de alguns grupos relacionados culturalmente, e talvez também politica. mente, com Teotihuacdn, que se haviam fixado no Norte, em postos avanca. dos, para proteger a fronteira contra as incursoes dos chamados generica. mente chichimecas, seminémades barbaros, coletores cagadores, Os que viriam mais tarde a se chamar toltecas devem ser incluidos entre 0s colonizadores dos postos avancados. Ao que parece, quando tomaram conhecimento da ruina de Teotihuacn, decidiram “retornar”, como Narram Os textos nativos, a terra de sua origem cultural, isto é, © México central, Varios relatos contam sua Peregrinacao antes de alcancarem as Pequenas cidades ainda habitadas por povos de origem teotihuacana. Os toltecas final- mente se fixaram em Tula, um local a cerca de 80 quilémetros ao norte da atual Cidade do México. Tula, ou Tollan, na verdade significa metr6pole; era isso precisamente que os toltecas estavam Prestes a construir. Uma figura central na hist6ria dos toltecas é 0 famoso Quetzalcéatl, uma espécie de heréi cultural, que tirou seu nome de um deus (a Serpente Emplumada) cultuado desde os dias de Teotihuacin. Numerosos textos ¢ livros nativos escritos em néhuatl falam de seu nascimento, vida e feitos Prodigiosos. Conta-se que, ainda na juventude, Quetzalcéatl se retirou para Huapalcalco, uma antiga aldeia dos teotihuacanos, para dedicar-se a medita- sao. La foi convidado pelos toltecas a tornar-se seu governante e sumo- sacerdote. Paldcios e templos foram construidos e muitas cidades e povos aceitaram 0 dominio de Quetzalcéatl (0 deus e seu sacerdote). Nao est totalmente claro o que teria Provocado o fim da idade de ouro dos toltecas € 4 queda final de Tula por volta de 1150. Mas a tuina dos toltecas significou a difusao de sua cultura e sua Penetracao entre diversos povos distantes. A Presen¢a dos toltecas est4 registrada em anais, como os dos mixtecas de Oaxaca e os dos maias de Yucatan e da Guatemala, _ 08 mixtecas sucederam aos zapotecas no vale de Oaxaca depois do decl{- mo eee’ eile stim. Podemos atribuir-thes a fundagio de > ilantongo e Teozacualco, bem como a recons- . trugéo parcial das famosas cidades e fortalezas Tecate nas artes zapotecas. Destacaram-se igual p speci; H a e Pecialmente como ourives. Por volta de 950, foi jntroduzido na Mesoamérica 9 trabalho com Metais, ouro, em certa medida, o estanho. Os mixtecas sao também conh livros de contetido histérico — alguns che; remontam a 692 d.C.2 Os maias nao haviam recuperado seu anti; alguns pequenos reinos — prata, cobre e, ecidos por seus Garam até nés com registros que ig0 esplendor. Nao obstante, i Quiché e Cakchiquel nas montanhas da Guate- mala, Uxmal e Chichén-Itz4, Mayapén e Tulum na penfnsula de Yucatin —_ revelaram alguns sinais de prosperidade. A chegada de grupos de otigem tol- teca a Yucatén e 4 Guatemala contribuiu Para essa revivescéncia, Os que se dirigiram & Guatemala 14 chegaram como seguidores de Gucumatz, a tradu- séo do nome de Quetzalcéatl na lingua de Quiché e de Cakchiquel. Em Yucatan, o guia dos invasores se chamava Kukulcén, uma palavra com idén- tica conotacao. Esses novos Quetzalcéatls tinham inclinag6es mais guerreiras que religiosas. Na Guatemala — segundo o Livro Sagrado dos quichés — Gucumatz e seus seguidores dominaram os maias. Dessa maneira, ocorreu uma nova mistura de povos e culturas. Os guatemaltecos foram “tolteciza- dos” em diversos graus. Em Yucatén aconteceu algo muito parecido. Foi criada a chamada Liga de Mayapan, que abrangia esta cidade, Chichén-Itzé e Uxmal. A influéncia dos toltecas foi tao forte na regido que as piramides e outros templos e paldcios do Perfodo Pés-classico de Chichén-Itz4 foram construfdos a imitacao dos da metrépole de Tula. No entanto, nem o novo sangue nem os elementos culturais que haviam chegado do planalto central do México produziram uma revivescéncia do mundo maia. Seu destino era sobreviver, mas sem esplendor, até a época da conquista espanhola, que foi concluida, em 1525, na Guatemala e em 1546 em Yucatan. | O abandono total de Tula, como havia acontecido com a ruina anterior de Teotihuacén, facilitou a entrada no vale do México de grupos peovenien- tes de além-fronteira norte da Mesoamérica. Dessa vez, os bérharna chichi- ™ecas foram os primeiros a penetrar no que havia sido o dominio dos tolte- cas, Diversos textos nativos descrevem 0 que aconteceu. Os chichimecas, ao Numa publicagao péstuma do estudioso mexicano Alfonso Caso, € oferecida uma andlise * ; jografias de um os contetidos de varios livros nativos dos mixtecas, 0s quais apresentam biografias de w » Re bom niimero de governantes ¢ homens da nobreza, de 692 a 1515 4.C. Alfonso Caso, Reyes 1 TI. y Reinos de la Mixteca, México, 1977-1988, 2 vols. V- especialmente vol 35 A MESOAMERICA ANTES DE 1519

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