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PARA ATRAVESSAR CONTIGO O DESERTO DO MUNDO

Para atravessar contigo o deserto do PorPor


issoti com
deixei meu
teus reinome
gestos meu
mundo segredo
vestiste
Para enfrentarmos juntos o terror da Minha rpida
E aprendi a vivernoite meu silncio
em pleno
morte Minha prola redonda e seu
vento
Para ver a verdade para perder o oriente
Meu espelho minha vida minha
imagem
E abandonei C os
fora luz do
jardins sem vu do dia duro
paraso
Sem os espelhos vi que estava
nua
A ESCRITA E ao descampado se chamava

Escutava os rumores marinhos do silncio


E o eco perdido de passos num corredor
longnquo
Amava o liso brilhar do cho polido
E os tectos altos onde se enrolam as sombras
E embora se sentasse numa s cadeira
Gostava de olhar vazias as cadeiras
No Palcio Mocenigo onde viveu
sozinho
Lord Byron usava as grandes salas
Para ver a solido espelho por espelho
E a beleza das portas quando ningum
passava

Podemos imagin-lo sentado sua


mesa
Imaginar o alto pescoo espesso
A camisa aberta e branca
O branco do papel as aranhas da
escrita
E a luz da vela como em certos

Sem dvida ningum precisa de tanto


espao vital
Mas a escrita exige solides e desertos
E coisas que se vem como quem v outra
coisa

Um dia
O vento levar os mil cansaos
Um dia, gastos, voltaremos
Dos gestos agitados irreais
A viver livres como os animais
E h-de voltar aos nosso membros
E mesmo to cansados
lassos
floriremos Irmos vivos do mar
A leve rapidez dos animais.
e dos pinhais.
S ento poderemos caminhar
Atravs do mistrio que se
embala
Sophia de Mello Breyner
No verde dos pinhais na voz do
mar
E em ns germinar a sua fala.
Hora

Sinto que hoje novamente embarco


Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso
marco
Nos meus sentidos a imagem desta
hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
E dormem mil gestos nos meus
Que eu sonhara
dedos.e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
Ao longe por mim oio
Desligadas dos crculos funestos chamando
Das mentiras alheias, A voz das coisas que eu sei
Finalmente solitrias, amar.
As minhas mos esto cheias E de novo caminho para o
De expectativa e de segredos mar.
Como os negros arvoredos
Que baloiam na noite
murmurando.
Sophia de Mello
Breyner
Andresen

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