O essencial de uma filosofia é uma certa estrutura Paulo Eduardo Arantes use No inicio da década de 50.0 jovem estudante José Arthur Giannotticonhecia Martial Gueroult, “que na qualidade de professor visitante nos ensinava Leibniz. Eraa descoherta a grande Historia da Filosofia, dos problemas téenicos deandlise de textos, enfim, de toda prablemitica que predominou no Departamento dos anos 60"! Sem divida uma revelagao, mas de fato o que se representava na modesta cena paulistana sob a roupagem prestigiosa da atwalizacao (um imperativo) era na ‘verdade a derradeira sedimentagao do velho espiritualismo universitario francés? £ bom lembrar que os primeiros escritos de Gueroult datam dos idos de 30 € que 6s posteriores «i hem dizer. passaram ao largo da renovagao do pensamento filoxotico francés do pos-guerra. A cétedra de Gueroult no College de France atendia pelo nome moderno de “tecnologia dos Sistemas filos6ticos", e nem por isso 0 ensino do novo mestre deixava de Femontar a tradigio de um Boutroux — por ele mesmo considerado 0 “fundador da escola francesa contempordnea de hist6ria da filosoffa” —, de um Hamelin, de um Delboe ou de um Léon Robin, enfim, de todos os veteranos da Terceira Repiiblica e longinquos descendentes de Victor Cousin’, Mas sobretudo devia muito &ligio de Emile Bréhicr, sobre o qual publicou em 1952 longo estudo na Revista Brasileira de Filosofia — alias Monumental Histéria de Bréhier era leitura obrigatéria para os alunos de Goldschmidt, decuja presenga brasileira logo falaremos (40 por acaso os dltimos Ieitores de Bréhier encontram-se em nosso Departamento)’. Também nao eram ttros os ancestrais do nosso Maugué (antigo normalien, cescido & sombra das ay de agregagao presididas pelo tiraneie neokantiano Léon Brunschvig, ¢ quem afinal preparou o terreno para a transplantagéo gueroultiana’). ‘Veja-se entaoa afirmagio que nosserve de titulo. Topete modernist pr6prio dos anos 60? Ainda nao, nem mesmo €de Gueroult, Tratase simplesmentede uma antiga idéia de Fimile Bréhier, contraposta a nocao contraria de genese, fonte de {ants decepgdes em historia da flosofia’. A lembranga ¢ de Victor Goldschmidt, ue, a0 citar a frase, n40 s6 reivindica o prinefpio como reconhece no confronto ue eraa revolugaoa antecipacdo da querela ideol6gica que oporia anos mais tarde SRE Ggghee toe oni ntti ve Sig ae La PsehiePrieCoenpeine Fa ‘Gad ie Ech a abe cr Ca antares Bane Hien ie ods Cae ‘pratt i tev ne ducer dn char ies yi (Po Edad Anes “Ceiio de Neen, Nor En, Pa CEDRAR 15622 (etree La Palen a Pat PU, 90, phPaulo Eduardo Arantes 0s pattidrios da hist6ria e os adeptos da estrutura’. Estes Gltimos eertamente Tenoavam que Behera compreendrscomoumacspécic de Uigesaoespitat independentemente dos alimentos que seu tempo Ihe propoe™. Uma ucromis (pire flor ainda como Bréhier) que nos devolve a0 coraco da flosoba thers de que falévamos enemas prticulrmente, 2 berssnismo gue thsinaraao nob aulora independents frdamena do pensamento fos, ue mace dzum at lve, de um impuso cir no qu se conden & ura Thteror ese copelna a qualoadee intensidade da intuiggo que o anima ec™ ‘Ain, ahistrsinrirem ood qalitavaa istorogaiadeBchir ems duane, até mesmo o "estado interno” das ilosotas prevonizado por Merleau-Ponty", era em larga medida uma reorganizagio de toda essa gangs Sspinuatisi, Nove que esa presengaexpinital tina medio de restui& toto seu pasa aula pelosdvemoshistorismos, ao mesmo tempocm que propunhs ao hisoradorlsofo 0 cna da permanéneia das Obras gaa wurad tempo chav dle deers ser procrada no nic absolut mito por lhc a fowl, 0 pinepioda vida expr que els cerram.ainuglogradora qu ax sinc eels por seu tr encima se ctrl do ater das losfseaont inxgtsel do intresesupratemporal gue clas nspitam, so posto, Guero cujocomentrie estamos acompanhando, tho dete Ue sublinar a principal sonsequcnia des. storigtaia que Asdennandoaexplicgt gnc ua tot peimos aes, Breer cordon o stems cononme o gra de risalzaio da inuiio orginal que ‘os anima a contracorrentedo meio eda época: esse critério ¢ inteiramente formal” poss he indfrente a natarra due dos cometdos, a apres da verdad, ‘ou da néo-verdade, de uma doutrina filosofica™. Quando se funda o interesse perene que dsperia una fot aparenemente datas Sobre a tonaliade do Impusoepiital quoaengenron-¢pcesonegizencar ose evental ator de verlade ef, conteado explieio, verdad da doutina, €0 que mencs importa Tirante o residuo dogmatico, representado pela teoria da intuigao eda tnegia espa edo o princi da compreensio interna ea evidence da tadestrubidad dos sistemas ossficos,acescidos desta tina consequenis capil (uj cimatagio americana se encrecgard de sien anda mal) si Gantt re antec en sii lea So oie ciaee Oa eeenpee eg sea ooe te BSE es Set ange bata rem oni aon cactaeape SA men ring Soot cd Se ee ener accent al ei ct ESS RS Eee sent totum eessencial det talgumas das vig da filosofia que de Bréhier acer ‘mesmo presse déchéance da ¥ ‘ocasido. Veja-se inseparabilidad ‘um fil6sofo s6" descobert, ist inventada de raciocinio™¢ uma filosofia € Satisteita po uum pensador | visiondrio a0 paciente que a principios e o9 descoberta ace ‘mandamentos trocava em m ‘confundidos 1 observagoes distinguem 0 pensamento es ‘material, “mas investigagio d peresrinagio dispasio & a importando: discurso fl simplesmente censino dos sue Todo ess ‘culava tan longevidade,o 2 presenga pil Sobreviveria aOcessencial de uma filosofia éuma certa estrutura algumas das vigas-mestras do gueroultianismo e do método estrutural em historia a filosofia que reencontramos no contexto tradicional que envolve a proposigéo de Bréhier acerca da esséncia do diseurso fllos6fico: ¢ certo que nao se poderia ‘mesmo pressentir que 0 anacronismo de seus pressupostos anunciasse a futura déchéance da verdade filos6fica, a qual voltaremos a deparar em mais de uma ocasido. Veja-se ainda um outro “dogma” do dito método estrutural, a inseparabilidade de doutrina ¢ método, que Goldschmidt ilustrava lembrando que ‘um fil6sofo s6 “inventa teses praticando um método”, que “uma tese simplesmente descobert, isto é, entrevista, e que Mutua livtemente diante do espirito, nao estard inventada de verdade, senao quando for exposta, isto é, encadeada por um raciocinio”", e compare-se com o que ensinava Boutroux no inicio de século: que uma fitosofia € um conjunto bem ordenado de idéias, e quando tal condiggo nao é satisfeita podemos estar diante de um fino moralista, de um espitito profundo, de lum pensador original, mas jamais de um fil6sofo; que este ltimo nao é um visiondrio ao qual a verdade se revela nalguma vaga iluminagdo, mas um espfrito paciente que arma um nexo l6gico entre suas idéias dentre as quais diserimina Principios e consegiéneias; que tal personagem s6 se inclina ante razbes, a cuja descoberta acede por via metédica™, Os mais velhos hiio de reconhecer nestes mandamentos as aulas introdut6rias de Oswaldo Porchat, quando em classe trocava em mitidos os preceitos de Goldschmidt tembrando aos alunos — conlundidos no seu “dogmatismo” inato ¢ por isso mesmo desnorteados pelas observagoes desabusadas — que no slo as opinides e as teses isoladas que distinguem o filésofo do homem comum, mas 0 ‘movimento met6dico de um pensamento estruturado”, e, mais, que aquelas teses nao valem por seu conteddo ‘material, “mas pretendem-se verdadeiras em razao de movimentos e processos de investigagao de que resultaram”™. Por seu turno, Giannotti, que também fizera a Peregrinagso de Rennes (onde lecionava Goldschmidt), perorava no mesmo iapasdo ¢ advertia seus alunos de que as opinides contavam menos (pouco importando se de homem comum ou de pensador original) do que a “travagao do discurso filosofico”™, e assim ia desasnando e chocando seus jovens auditores, Simplesmente por reatarcom avethaligdo de Bréhier, devidamenteatwalizada pelo ensino dos sucessores “estruturalistas” (avant la lere, bem-entendido). ‘Tudo esse mesmo ar de famtlia (que para nds cra 0 do préprio tempo) que circulava tanto na metr6pole como no além-mar atesta antes de tudo a longevidade, 0 fOlego,a indole coletiva da filosofia universitéria francesa (e gracas a presenga pioneira de Maugié nds éramos a prova viva do seu alcance), que sobreviveria até mesmo ao interregno “existencialista” do pds-guerra”. B bem 3 Boot ake dl de ePaper Fat cp 80 1% Antes Stamos coin epi sng ne ae stg mse palawee Ceased since el sees ar ene es pe co pi “ede odes clpbaenn Ge tapers ine ache ae eernc) en Seemed ei ‘aresipouomeng. Le aay elapse) ea 8459 TE fs 0sunossg ap nog ay putin se) npr aso ‘rong area) meh ono my >see) sa» nay 27 gas HE 9 a DN ‘toed ave oop aso fami relate a eae jy cng eno za eng ogg Fu aoe aaa et Shenpotpupenod frocumsnoy an setoy soya aazry enon syne mses nb ssa xo cea Sprecypates spe rao ot texans Pvongesy spayed sean ates ening Cea oe oe ee Sore aia eee Petes rene ct coup oneade os hoya can epocy) op ons sp ee acne Som ome “rap ou ep carmsaan > nraciey 3p mis mupy9 sy Sa een ne ls ee ou ek Gen ges snb cago ery caso uny Su sus ng ho Rrpbarersney csi’ irre ea se tatal ania eel nce - = peanmmt eat benprae eter ou nee ee uonerenes aft eax “801K! 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SazduNTS ‘fad sepentp #10 seuipoue e10 soodepuawonas Sensa) jest afoy eased onSIprN eianbep eIpuaidsap as onb exjosoiy ep owounpustus orfonso o anb josissod sonviy opionpry ojnogQessencial de uma fitosofia é uma certa estrutura Esse imperativo filolégico a um tempo dréstico e escolar, além de aparentemente sem horizonte, nos o assimilévamos — concentrando nele 0 essencial da ligao francesa — por forga de uma segunda € andloga pllhagem a que Submetamos nossos dois primeiros mates penser. Por um instintocerteiro (que Cruz Costa diria nacional ¢ expressio de nossa alegria congénita 2s cogitaghes transcendentes) desprez4vamos, como num cdlculo matemético se negligenciam quantidades irrelevantes, as ambigoes especulativas do gucroultianisino, & Incorporivamos exelusivamente sua ¢aracterizagao antinomica do lato filosotice {em estado bruto” a saber: que toda flosoia s6 Se eifeae valida a seus proprios thos atribuindo uma “verdade de ju” ao conjunto da doutrina, numa palavra, construindo uma “teoria” (sui generis, como se verd); que as filosofias aparecem como historicamente indestruiveis, objetos permanentes de meditagio posstvel, mais ou menos & maneira das obras de are, por definigdo inesgotdvels malprado & marca do tempo (¢ nesta ditima analogia, esteticamente convencional, {ransparecia mais uma vez.0 espiritualismo da concepgao de undo): que o contlite as ilosofias, nel inctufdos os desmentidos inflingidos pelos resultados daciéncia, testa que a mencionada indestrutbilidade histSrica das flosofias,prova do valor delas,ndo pode residirna verdade de juizo concorrentemente alegada por todos" Admitido esse equilibrio amtiético entre 0 I6gico ¢ o arquitetOnico, 0 tebrico 6 artistico, na construgéo dos sistemas filosoficos, descartavamos por abstrusa 4 assim chamada “dianoemética", entendida por Gueroult como uma disciplina transcendental dedicada 2 investigagio metafilosofica das condigoes de Possibilidade das flosofias como objetos de uma histOria possivel™ E certo que também a caracterizagdo resumida acima néo é inocente e que tanto a sua verossimilhanga quanto a mageeza da sua apreensiio de um fenomeno cultural foram induzidas pelo ethos académico secular da explication de tevte eco Posto, prevalecia o simples bom senso (inesperada clarividéncia que de tempos em fempos nos visitava), que consistia em procurartrazeralizo que o autor quis dizer = medidas “téenicas” em torno das quai iase cristalizando nossa cultura hlosotien ¢m formagio, Mas apenasissojé importavaem muita colsa lendoa biblia dagucles tempos, 0 Descartes selon !'Ordre des Raisons, de M. Gueroult,admitfamos nto $6 que Descartes sabia muito bem o que queria dizer, mas que esse pensamento no Yarlara € que era possfvel aproximar-se dessa verdude que Descartes pensara explicitar na forma de razBes ¢ movimentos argumentativos bem encadeatios: em jure did tata tn pate ops nena eas ‘SE Mac Lect re es Pichi La ie His eleva orcs. sino ctumaa ue Gusta ely phiasoganr ee alas sot a Ma hii Bisset Pg ae Neca eeech pavhene yan ambi ono RRNA 16 “oti nko mn Se PulD} tN £19 eURID LP ELZOISIY P LOD Of>109 21S ‘p,f4l1SH9 OU HO EOSOT §D EHOISI RP eIuOUe 9s ‘1o4N4 wavd “eyo no, :\eiou9ss9 9 vusDiUy B19 opussed oudozd o woo opSnja1 ens ‘,seanisod seugia, sop eiunsip ‘teMiSH10 eIpu9Io, Fun PYOso|y © opuas onb epUIP EAEIUDDsOI0e XMOZINOG, y,9HUNa|e 9 SossoUTes] ‘soir sansour sop lop 2 o1uotned “oraatp opms9, o anb etjosory vexed oguttie ‘of1no so99qu09 OEU PAess2yuoo non nog F eUe9 W>:anb sorfo49e"1 9p Poduuon ou 280} strut ‘epute no ‘oatJosoyy ostias op oFSeonpa v exed [001 tha 8 OLUOD TIJOSOL {p e1zorsty v exer onb *Ca19 nyzHCy ‘xnoNINOg ap etsO,Ip or anb) sogiacl Win ap oF5t1y eanfiuojoud seuode ois -oatzoisty o¥Pi o AuIabpe 9 oxfqIse9 a1UEDNISD Op apepissooou eatoustad v anbuod ‘eanyewoure eles oxu seus opuenb eypioutiad atin win tedno anap eyosowy ep eapIsty e SAAEyy eIZIp ‘ISEIE| ON -oUSoU10I Ossou ov OUD} 19d eu9A9p o1d;sund wo anb o1ns OAoU UM — soUIoioN SOP ePepHPAMInL Y woo sowE}ZEIOpe anb oPbipEA eUSoLN FSsop exstesMnsIs> ‘oypaIsp 0 ied ovo) o eaciedaid 9 wsoours) ogSipen & osIna auAN| BALD aiuousoydwus soseq ste) wo of-yzzuooaud oy “wLIOIsty ens ep OFSuny UD LAOsOrT, EP OuIStD o sruapio eaepuEW nb ‘gnfneyy ap OBI] B OEIUD sOUFOHION -Sootvetiat9 sapnuita sens ‘ossou o owo> ‘ojtourr orouu wu 2 “eiagad oysunuyp essop Seonimapodoud suoBrmuea sp SiaApSou We ‘seslo0 Ses1no anlUa ‘239 “pHozip esasInb LoInE o anb op oxbepron|e saldus Petuesuo9 awaunsod ewunsiod eorun we “urMop 40d mpure ‘xerun] onot afonbep anied v tesjej no wslopepios eyo ex 28 1erundiod eamisng ‘opessed op euLnop eun 9p aiueIp ‘onua a1y “XIX olna9s Op apEIoW epundos EP seep vaBLuMIsoD ApluNPspIoD onb HaYOSO RIfOsestADL ew op OprTINs1 O vI9 “eayETOHONSTY PEPITIGISUAS Bp OwIPaU OPED Lin J9Sap 280) ‘opEprEANALU EIU) WHOS SOUSOIS nb ‘ostias tog ap aprpsas [estou op wi9Iy “ese ep apeprfelzodso wun 198 BLTA “opSvo1 sonbyenb ap vioupsne no ‘ovSeax cumin e1so onb vf opsop somasisivos — 21u9z0}!pur o1uoUuPATOMUE 9 ou OWWOD 2x9pe OBU sTUDWIOS oEU araxdsDTUN O TPAD EDYOSOUN| PULNAOP ewin 9p apepian e reAPoUDsp anb op onudso Op BAnEWATE. aiuowfeIMeW aJopU) B oLspzIUOD stEuE EPeU ‘oresuas SouDU epeU ‘opbipnN Ep Solio sor “9s no “wists tstouid y -vayessou v agea “aIuEISGO ON +, STE] ‘no eatopepsas exo vjo 2s sages op orisanb © ope] ap apuexiap z01Ne Op eULsTaOP aeruo2udaY (Pago p WO3|10 B19p onb OHtoUETAOW o 49201 EABpLeM nb [eIRAANSD ‘eporpu ou oyuriue> o earoypuy 2) [axissod via anb erp osuos wiog ap eueninosons @pepl9s w “euins WH “soiuaA soAoU uIPAEIdos oxius onb-g — SOsta}i soindstp sunje op soaSalqo seu varsings9.a1g ul soulpour opt Bist exioud sorsodnssaud sassap osnjip ows|temi2o{01Ut o anb soU.at9A 0807 ‘e195SIp OFOSOIN) ‘enb op ro1ioxsty apepian ¢ Jopaor ap opunaay oporplu cazup 0 Ela etjosory epeD 9P wiminsIs9 vp eLOGODSop & ob ap 1InO1eN5 rod soplauDaMO soMLeArrSa “CULMS sonupay opumpsy oprencial de uma filosofia recorrente; numa sesso da Société Frangaise de Philosophie, Alexandre Koyré 0 retomava nos seguintes termos, depois famosos: ahist6ria da ciéncia é uma historia de coisas mortas (a astronomia de Copérnico nao interessa a mais ninguém), a0 Passo que a hist6ria da filosotia, quando nao € mera doxografia, € uma historia do. presente, estabelecido que os pensamentos de Platio ou Aristoteles jamais perderam sua atvalidade. O argumento evidentemente reaparece em Guero © hist6ria da ciéncia, que € a hist6ria de um progresso, nao faz parte da ciéncia ‘que, umavez acabada, esclarece o seu passado; ja coma filosofia di-se 0 contrario: a auséucia de toda verdade adquitida invalida a nogio de om uma verdade ainda no inas de historia e de juma palavra, fontes permanentes de inspiracio. Isso posto seguia-se a conseqiiéncia escolar que nos interessa mais de perto, pedra angular de nossa. formagio: contrariamente ao que ocorre com a ciéncia, a “historia da filosofia é de fato o principal instrumento da a confundir-se com © proprio cxercicio da filosofia bastava um passo que com frequéncia demos com a desenvoltura dos iniciados de véspera, ‘Um genero de assava de lon, 0 francesa que & escolar na qual nos reconhecfamos do estreita — era decorréncia de uma mutagio d se costuma associar 0 nome de Kant, Desse limiar de nossu modernid: © proprio Maugué cra tributario, e néo poderia deixar de sé-lo ao derivar suas diretrizes da méxima kantiana conhecida: que a filosofia nao se ensina, quando muito ensina-se a filosofar. Deixo de lado por enquanto o horizonte mais amplo dessa constatagio — al lado por Maugilé ao reconhecer na floson er revelagdo kantiana), e que vem a ser a nova persps al trataremos quando reprisarmos a ligio de Gérard Lebrun, possivelmente fecho do nosso primeira perio. \gio universitéria —e evoco apenas os termos nos quais Kant formulou a exigéncia de se aprender a filosofar. Ora, no comeco tacitamente e depois declaradamente, famos fazendo 0 aprendizado de que s6 0 método estrutural podia satisfazer o mandamento antiano, Ou, ainda, que método rigoroso perfeitamente moderno preconizado por Maugné no estudo da historia da flosofia (por seu turno vi i pessoal) 86 poderia ser o estrutural. Para abreviar reproduzo entio 0 uso goldschmidtiano da distingao feita por Kant entre conhecimento hist6rico & conhecimento racional na ArquitetOnica da Razao Pura, “Ha duas maneiras de osautores. A. eS nce ein msn 86 ga Hen st,TnL p ay anny oom unencte a eo SAE aa eosy ae iowa iM pe > mee comp yy pouty wre TNS ns opeifijens 9 ‘ozsn{ ap 9 eanewuosazdor opepios ruin v opuopuaioid Soyo) ‘onuenbuo seyosomr sep e>o1d}201 01 c PEDINOAP B EIWINSDA “AELqUOL ap PY os OUIOD “|noIENE, “OB}njosou4E Ens v woo soute}xstiog anb woo wimijosuasap elinbuen ¥ oataglospy 2u0U ap nis opoy.ed wog win aquEINp jeimuis9 oESEIMLWIO§ FInd, eonOsOHY) OPRDIOA ED WAS, ep F— opisanh BUULND RIS a1gos seAReyeA Sep RpUEY “«2PPDIOA ep ean2oxd Wo> opunsuod 9s aprPIaA v exJOsOTH ap EEEDLEUL Who ‘anb 9 Sopos 10d epeurnied oxforauon t opmaiqos 9‘, cmuauunsISuT no Olotu soqduats tun wine opow ap ovs ory onb ‘seammansa se wes “erstal1o{q0 081119} 0 OM13}sop ‘opnos zouow o 11 ap extap ‘ouat winu wpesodap ‘es100-aprpsdA ap o1ta9UI6D & ‘PuLNOp eumn op sonyssospe 9 sonpprised ap omodeniuod o pp 98 fenb op oULtor {ua “eanputop apepios ap ox120U09 6, ‘opSnpoxdas vas ep SeULIO} Sep > O91}0s01N} Osinosip op vzoanaeu vp vaioae euenuey opbej9s94 up ezaIsHle Eprpudoidiuon 75% umn aplunyaspioo ap oviped eniiuy eu epure 2 oquowestaard stPU ‘ng ‘sot a11u9 ‘oputezyqeisii9 2s et anb ootjosojy oqns9 op eueLEs sew OantUT]ap Os opu 2s-euI01 igo vied rprsta oxSeayruls 2 ootoso4l] eWaISts tin 9p apepsaA ap Lowa a1iu> OrPn O— soureagupaia® owios— ory 9 osstas.g = sRJosOIH} “onNMu open “sPL PyOsoIy 1opuside foaissod 9 ou jenb e opunfas vuxiuey oun e Aoide s9zK pod ‘todnssoud ap wie Teimn1is9 opoipiu 0 9s anb ipruuuaspfos esransassn 9A @s2pu0 Jog some op ryt # opuinsas atuaurPa;poiou vdord? 98 Pap tlonb ap Paneinoodso opSeuriews e cyey apzede99 bla Os eal wouTUsls wolUap) eseo aru tod 9 RHJOSOIL UMN 9p [EPUDSS® O ',,OPOIDUE NaS Op ‘Blas NO “SoZOIne SPU sop ‘Sla1Du0D s>y/up.Upp, Sep OPSTALASUO kU AuoWOS stu ‘osso} anb vio}daro9 stew od ,,seutfiop sop euigisit, eusn 9p spate steurel xep os exzapod ovu opezipuaade 2889 “IPIUNYOspIOD op epure ‘sezaeted seanON *,1UeS vIZIP oWOD ‘sIEI9H Soudoutad snos sop opSeoide ou o8ze3 ep ouoye Op O1eI910X9 "9 ors “mN|OsOIE) op sew “(oa}ro1sty atuowensis9 198 opod gs onb) eyosorty ep opu ‘operipuodey o pisos vusoduon tami} nss9 10d opeioidoud jeuoines owvawssoyUeD ou sitdiouad 2 ouiio? ap owou © a9a10Ul eimita| ess0u “Guey, 10d oprznpuy) aiuotpadxa {ee svbex3 “onb anos op “(equenso ogzes ewn opunos 9 ents) ep riuod vu bulorsis win ap ,s2sr, se smnssod op siew even 9s pu) sordsoutad snos Sor ,seUlop,, S0 soueinouia — apruuaspjon tanh owoa — z1puosde-eniguso98 op puauleut Seo1J9S0It} se1go se Sousa} oF anb 911090 +, zDUiaLoU OULD > O1s orn oUdoLd OP Souja sow wera s9}9 otto wiouiFop $0 ipudoidwsod sod pueSsajsa 99 BINNOL ap odih o859 ssoprong ap sonaiuary So 49] ov zipuorde-enowigas 0 vis} olor SO}-91 Wo v1tsu09 epundas y ‘seuopour no SeEAUE seouSTOXOp saOSE|liHO seal ‘Sauee| stew rougnbosy woo 9 ‘stouAuIONs sieul sosodxo SoMLPJIENOIt 11nd ep no opow wn ap onb ,sewsjosoIH, sop operaunus ov snFoq sony opm ojnogOeessencial de uma filosofia é uma cena estrutura Comm Sao aul Ou possivel com as verdadescientficas, la funda essasflosofias petmanenen cant ugticemente indestrutiveis, e, em consequenein, fica € dignos de serem Possivel™". Por certo uma teoria \do podiam valer por seu conteddo aulas introdutrias, geralmente Gucroule daa amose de Goldschmiat Guntamente com a comunicagao de wae Cult da qual acabamos decitarum trecho,considerado na cpocee “momento ‘mals alto da metodotogia cienttica em historia da filosofia”, Com perdo do curto-circuto, recordo que alguns dos nossos maiores decane qhcaravam 0 problema delicado da verdade flosGtica como uma questao, Arosa te? falta de tto consistajustamente em ignorar esa finde dates Mosotica com a sua procura, da doutrina com o mélodo, Ow ea preferirmos, 0 nosso rage £t" nome do qual condentvamos a precipitacao dogmtins dc conceit as mumieipais, denunciada por encarnar 0 maui gosto ne trae dos srqultetOnienes 4 Causto do relativo. prisilégio concedido por Guereale s brllhas wane cs istemas, sua harmonia interna, sobre o funde da qual deveris peuhar uma veritas ine, mais antiga eno limite superior logics propria da “vérité de jugement” por eles alegada, A essa partigdo gueroultiana, que de longe sustentava nossas referencias, de unes anid dstingdo goldschmidtiana entreverdade formale verdade marry iponto convencional), bira deve transparever quando, rida pense estrutural, 0 historiador poe & prova esta mesma efrarng Sed nen ad elts démarchessucessivas do fldsofo; quanto a segunda no cd oe saa nem de longe resolvida, como nao admit solugto em sepsrado, reforgandoa indisolsvelnen te nee, flasofia € uma “iotalidade onde se juning Indissoluvelmente as teses e os movimentos™", Nossa constelagio de matires a penser domésticos ndo estaria completa caso GiGssemos de acrescentar que essa mesma paritha tater oe feita por rela a 101 dessa mesma totalidad € apanhar “significagbes” ao rés do vivido (pois é este residuo inobjetivével que o positivismo de Granger relega o conjunto a experiéncia, ao mesmo tempo em que eleva o “existen ialismo" d condigao de Sls treo me peso ta cae nas assemie tennat nantes 2 Sassari aera Se fe 0 ay an tine a eee op sraninonaconspnanep ae east o /.PIOpOHS BRS IRDA, “eyosoyy eum ap. Oanmand Io 1UL TOTRA, O FBIepuod j94)s80d vis9s (euupran asod epoy epeueasop) jenb ep awou wa: (ature ‘OUloo AepRy eIed) Lepiaia Hadxa,, & mia urpiod | suodsip varysa arduias wow ERO han 9 corpus wedi, 90 otosad jnpos oon) eaten HoUitiod rots o'ewnloma soe ound us tora ae eee ; pune Wo wou SOPLUTIOJ-wr9q sory.ydse so 1 OF jpaninzisoosiieue Pun Jod opruyap. 5 2p o7jnford wos — sou ered “cogSOIY Ofs9 tun OWSoLU “spITy “sono. nua upon 29 wn seuores semoatirstus oocyte 2p 08K senna 9 os Spenser a = (eur ap ergo ep 9 91 1209) opSnnsuos ep oyUTWED O1put B) O[Sa ap oBIsoNb ‘PUN B QUAL} ErIUOSso erUNSD1 P anh PYOSOIL ap opSdaquoo rumu souuaoayuorar Sou e180 ip sod tsads9 9p tow no oy a aN Bsooueyy OFSIpEN v ‘oIso1 ap — enadxa oF YFINWIO} EIN ap SoLMFIOIE CBN “_P2Hss9 Ruun OLLO9 Paes uaPiO5 wuOSOU ep e1spisty o1sod oss] -y,blouptiodso ep apepiieicn bene SR Duruits opderaxdsowy ap o1penb wn suowtot{ son s09019)0, op apeooeder one Gpaibzonb “iapaia, ens pa (eu=reu4 spepIoA) epunios evar ee, Teamnnso “Soutepuonua) s “Teuoveu enno a ‘eaord y {eg Pod asonb yeurs0} euin — eutorsis un op sapepi seap sep euenprayaspjo3 QBunsip Poo earrvat safer * ossproidzoiuy soja, ououre un serosoqy se Fr eoraae a 2Htds9 08 pute io “ssozoiut ojanbop opepranutioy tps eaten Pitenanaes sition ssobrembuy se enuoouzas sofutae,Cosalon iondeop Oso ed oats? seosoIy se ayuats}asentanput) opunos. opugvoyuecors PBodnssozd ostowd o opuesnany yanstxo ogu no opopion & yavuens exjosony Tod ae UTOP Buss 0 owueriod apspoad opu ‘stansusoosspu sejosoly sv oes oe dod Wan “99040298 98 & apepIAuOs 9 1011} 0 Jenb very "(oFopputauoUds sop Saad eats xed) .seoupan, sep unuicn opion ou sepeauesiua sede, sep Qeproudiowy vu ove 2p “(Opwstap aniouresoro8ts lod) orale aoe unidiostp Spoplaree tee tame wUOND owo> ;,stoxspHopul sogSisodud sens opmce PERPIaA 2p opbou voger a4) opu (ogSedsnsn oun ap noosoainboumaned eres Feo) ack ists 200d Oey eyos0qy © owo. -souawouas sop odtian lt soioion Muenet Tesin0 “Coougsory cup oluauresuad op aruanbosudy 9 oun. orppere sonmay opaonpsy ojnog.Oessencial de uma flosofta é uma certa esinutura al ao qual voltaremos, retomemos a ligfo de Kant, sob 4 Gzide da qual, de caso pensado ou nao, progrediamos em nossa assimilagao dos métodos ¢ téenicas franceses dese fazer filosofia. Esta visto, mas nao vem a0 caso gsmiucar tal registro, que o mais patente na inspiragio de Granger remonta ao deautenstein do Tractanus © a0 primeiro Catnap, nem por isso suas distingdes Achram de correr pelo trilho inaugurado peta revolucio copernicana, a eomecar Pela Comreensdo da filosofia como uma discipina Sem objeto (€ verdade que precisamos esperar a Grande Tese de Gérard Lebrun, uma interpretagio da urceina Criea de Kant, referencia obrigatria para a geragio de epigonos 3 qual perieneo, para nos darmos conta do fato). Se a filosofia nio ensinara verdades', Podemos presumir que a melhor iniciagao filosGfica consiste na estlistica Mencionads hd pouco. E, se quisssemos uma contraprova de que sua distingho detceonnilicago (que incumbe a Mlosofia extrait da experiéneia) e objeto (caja determinagao cabe & ciéncia) deve menos a Frege do que a Kant, seria o caso Ge Tecorrermos (com as ressalvas de praxe) 8 tradueao feita pot Hannah Arendt da, “sooSuayTudiS Aienx. op onyindns oiuowioquorede ove 0 “sronioo|o1ut 9 stesoU souatn9q> ‘Sn2s wo orsoduso29q_ ‘nia 2s owos “2pepinora PssoU 2p ,jroIpes, a}opu) JIUL}ap Bed uremginuos 9 epys up osuos o wearSnie seme sons onb opriias assou ele ouidso ap vzauionso vp soroyjarews so reys9 2 seusesop exed vatod WOW vito Woe “@iuouuestiad ossop o1sjo10x9 0 onb op soulaut epeu ‘opey omno Jog gstesod seigpt SBP osti9s ap nowy 998neyy onb euxorUy eioUpuOstOD elanbe OBUAS sossajod Sled oprinidord om 9 eayosoiy oPxoyo1 ep ofnayiodsa o a¥znpul BLisAap ab e euuyy ruosoyy 9 anb orafgo was pundiosip essop stanpinos Sopmsta Sep siontp Onnur vsIon ey Ogu annEWY sHp10901 9p Fy 98 OwLO> -OPddodE edn Jens wo ‘orrdso ap wpquie) seur4o soUe\iopod onb 10}191U OB ESIOAUOD BSSOp “SE upISTAOUT ep wrPy!nsox eiuouUe 9 epunaas Ronb [eiow FHFOIOVEd Pa— LoqneLL Bxruauor® oni2adso ofa as129q 8 — ao1}01 ¥ “1etl op WOELI0 eu r90}09 1puDIy, “Hop ousemojeius 0 anb “zoprdnysa e enuoo crophiue jedioutsd 0 eyuosozdon ‘Qulo> jes0U 19] ep o1t0y & ze1uoWAS 774 sou 9s oeU oruotUeSUad Rute os ab Po} Uuo}EsoPSeinios-orne, vsso onb 911099 “oowoa1e9 oanesodutojad ypRUvaU pSu2saud & penioojaiut epi ep ouetd OU sszeyshes 9 senuoouso: 7 Sou ted Sout onb osinosip op spaeine owsouw OFisuoo erMojoutoy e 1einoosd ‘oBSIpesuOD eva ngyT9P o119104 0 seyueduroae v onunU0. ‘sounsoztpeNuod sou oBU eyed slicks — sowrstiog ‘sou artua eyosoyy ep oulsus o ezed gniineyy ap sozinortp Spyias sep .apeprres0Ul, © eanead apuory “Hap owenuey-oonys0s o1uauIeUsts SP onyauos ojad sayurznoise oedeuat v msisiod eioquis ‘euisius op oAvqD Iso od 9 OPN “ONFIOIN OfoUE OssOU UID eane{naodso stew a}-uP.49p sonbjenb fotos ‘owaunrriedoq ossou nopuos aiduros anb oSadon wn spiny 2,899189 9p Siuewnosp, saydwis,z,est00 Buun pe 999 yU09, 10d o8-1e510]899p.Z94 WD esto unde wo testiad, anios onb oq (~) 1onbos ion Zoumntn wy nos o Uraloy 6 ered epullsopop U9 wUsNde souus ojo wo ‘sasuailuorEso eaeziepUDSD apepI|IN} Bina ‘oduoressed aise (~>) vundye ewios oq ZetoupIo ew) josmeue eUIA|T ‘We ‘fsore1995] a1 [soxua}Uar” suasof sor] exzeN Sout anb O (~) esOINAIsSpome SeSeiuoy eum aidwas py osnd owowesuad on (-") oonttod souvye wnyuou “WoI opt, {soroTes v1:9 ou, :>pepa!os e esIOD erINiU, Ze4 OPM orUDMESUDd, ‘© ‘oidos wn oruenb oonod ov) 9 — epeu asenb 9 ou ‘oiuoureuepunyy, Beoor9 opuemaoid soweiso onb jenvoa}o1u1 exossoune ep oanod wn Sinaredar ou stod ‘ouspioU0D nos o sours ceisiaynuars OFedinsn & srengns ‘epuaiard esoyne v onb ouowesuad asso ‘unsgar] preps as-niundiod “opluo 485 e wor anh o seyy ‘,,o1uatutsoqU0o op opr) ap nosoqHy 9f9 anb o1usurestiod {© 10} opuny ou “1921p J9Nb ‘Joges apod 9s ovu anb sestoa sep 1oqes 0 10} optioge Supt ites! anb o “ipuory “} 9712109 ‘apepsaa en “(oanisod soges win arenpord 2 0Fze Ep eoupiOdw! ep oe) exo n) PSuaID EP Josey wo 19qes Op ONSHOgE ODIs eH wing ovzDy vp v91125 yp Sopeyaso4 StediouLAd Sop un “ioine ns “9punias ouerdsn opunw ousnbod ossou wa orsod ouo win woo audios \puozy *H 2p euenury v5) v a1gos oFSeatosgo exlapessop ein “sosorupied anus, souvay opwonyey opm.Oeessencial de uma filosofia é uma certa estrutura revelava-se a um s6 tempo incompativel com a sinistra “dicta do caigara” e a ameaga representada pela pobreza de espirito dos semicultos. Fechado 0 paréntese, retomo nosso fio pela iitima etapa do ciclo de referéncias kantianas em ue nossa formagao de cunho essencialmente historiogratico se via sancionada, Quando em 1970 Gérard Lebrun (volto a lembrar, derradeiro herdi civilizador dentre tantos que a Universidade francesa incumbiu de nos despertar da modorra colonial em que dormitévamos) finalmente publicava seu monumental estudo sobre a Critica da Faculdade de Julgar, nao s6 arrematava quase uma década de influéncia sobre seus alunos paulistas como demonstrava de ver a filiagao kantiana de nossa fé de offcio, na época encarnada pelos dois nomes tutelares quese sabe, Gueroult e Goldschmidt, verdade que devidamente aliviados das elucubragbes avulsas que acompanhavam o método estrutural. Mais uma ve2. (oumelhor, cronologicamente, pela primeira vez) tomavamos ciéncia de que nossa conviecio, segundo a qual deviamos procurar 0 essencial de uma filosofia nao na doutrina que ela encerrava mas na estrutura que a engendrava, derivava sua ‘oportunidade hist6rica da idade kantiana que ainda viviamos € cujo lema Jean Desanti assim resumiu: “il faut s'y résoudre, le philosophe n’énoncera plus le savoir, constataedo resignada e esclarecida que vinha complementar os ‘mandamentos ditados pelo olho clinica de Jean Maugié, Abreviadamente, a ligo de Lebrun é mais ou menos a seguinte™, Ela consiste basicamente em rejeitar a critica doutrinal em matéria filos6fica. Em primeiro lugar, a pedido do préprio autor (sempre a melhor autoridade nessas questbes — é preciso “que o intérprete se faga de discipulo ainda que provisoriamente, ¢ discipulo fiel", recomendava Porchat nas pegadas de Goldschmidt), Kant no caso, que nunca deixou de lembrat seus leitores que a critica das faculdades de conhecer nao era uma doutrina, que seu Ambito nao delimitava um dominio especifico de objetos, que ela instaurava antes uma problemética do que uma demostrago propriamente dita, enfim que ela nao cometia mais o equivoco, como o fizeram no passado as filosotias dogméticas, de tomar-se por uma “teoria-sobre". A Primeita Critica ainda podia passar por uma teoria do conhecimento, a Segunda, por um tratado de ética, mas com a Terceira a ilusdo jé ndo era mais possivel: nenhuma informacao positiva sobre a esséncia do belo ou do biol6gico, nenhuma assimilacio equivocada da explicitagio filoséfica ao saber claro e distinto da ciéncia. Como julgar tal obra ¢, por extensao, as demais? Uma obra que dispensa qualquer referente, e poraf, toda ‘medida, que analisa sem nada descrever. Aos olhos de Lebrun uma revolugio — mas agora é preciso entender a célebre revolugao copernicana como uma revolugio discursiva: Kant teria emancipado a linguagem filosofica de toda fungio descritiva, de toda regéncia objetiva, enfim da ilusdo dogmitica por exceléneia, ‘Um discurso livre de amarras: assim entende Lebrun a “autonomia” do discurso filosofico quea critica kantiana tornou possfvel. (Uma outra maneira de assimilar a redescoberta kantiana do “pensamento” como vimos acima H. Arendt faz6-lo.) Um discurso assim liberado nao pode ser criticado com pertinéncia em fungao das. 59 Nagueepesnanam comin gach gin oc ll ial de Mg er9 ‘Spo ‘usloo FUISDIH 9°95 LIN JOS F EAnssed ‘OPU nO SIUSMIEHIe) “eUDe dij oution*,10qPs o seuU yaviounud oFU, POSOIY PaIUEABIOP aNb JoAD\fUOTOA P owi0o “oiusuESUad op [e198 wIBpIMNsS PU OpRETaylid W Jom "IU}ONS9p buENUEY ,eISINOSIp OFSnjOADs, B anb fOAeULCIOOU © otto» off pio o1.3401 ros eamyNIs9 eum ap NH] OPDINATSUONDA BI wo DyDUiBop sop opEpsoA ap Jo[%a op vo19DR OZINt OM OBSHadsNs ISIS Sop ,(PUL1o} opeps9A, v o1uoUIBaIsN|XD wAPIOA sou anb UNIO eponiipwidopriue o1uoweyso ap sogzeseyundiut o10u93 fe anb eSuasoptp LL 2S ‘OWOUIP|UEISIP OANE|21 OP sogzM sk I9qUIPL sopIadIej0. 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Fra da natureza de tal prescrigo, no entanto, no poder ser satisfeita nunca, adiundo indefinidamente 0 julgamento prometido, confirmando outra vez a espécie de rentincia compulséria que Lebrun desentrantara da reviravolta kantiana A ligio Kantiana de Lebrun encerrava ainda uma vantagem suplementar, suncionando ¢ nobilitando, pela ascendéncia ilustre, 0 genero apagado que cultixévamos com tanto empenho e compreensivel ostentagio compensatoria de rigor. Um reproche recorrente nos cireulosfilosofantes municipais nos acusava de renunciar & criagio filos6fica (seguramente devido a esterilidade propria dos -adémicos) em favor do trabalho middo ¢ indeuo da explicagao de texto & francesa, Uma censura que ainda repercute no elogio de Livio Teixeira por Bento Prado Ir: “Que nio se veja nesse privilégio atribuido & Historia algo como 0 esquecimento da natureza pr6pria da Filosofia (..) $6.0 projeto delirante de uma Ciencia Absoluta pode evar a considerar a abordagem ‘tecnolGgica’ dos sistemas filos6ficos como wma forma de rentincia a filosofia — e a tarefa da erftica nfo é justamente a de mostrar faldcia desse projeto?"™ A critica, no caso, como se hd dle recordar, era em primeiro lugar mais um estado de espirito (cuja oportunidade cultural ja destacamos) do que um ponto de vista plenamente desenvolvido, uma espécie de antidoto & tentagio filoneista que nunca deixou de nos ameagar e que deviamos a sobriedade especulativa que a licio conjunta de Maugié e Gueroult despertara no temperamento filosofico austero de Livio Teixeira, Ora, Lebrun vinha nos ensinar que essa aparente rentincia vinha de fonge e representava de fato uma conversao (que descontecia ainda suas raizes) & condigéo moderna, isto é, s-kantiana, do discurso filosGfico, como se viu, incompativel com 0 “projets delirante de uma Ciencia Absoluta”.Sendo genuino,ospititofloséfico que nossa “tecnologia™ parecia abatar s6 poderia ser “critico”, mas agora em sua acepgao Kantiana original. Assim, nfo é que substituissemos a flosofia pela filolosia: a rigor, apenas tomavamos ao pé di letra (hist6rita) 0 mote kantiano interpretado por Lebrun, segundo 0 qual, doravante, a Criliea fara as vezes de Teoria, Quet dizer, a descoberta de um campo transcendental, ou se preferirmos, 0 fato de @ azo pura ocupar-seantes de tudo consigo mesma permitia.filosofia reencontrar ‘seu destino ante-cienifico, de uma sondagem prévia (mas, no limite, defintiva) que se hasta a si mesma e renuncia de vez (mas isto é um avango) a enunciar qualquer verdade sobre tal ow qual regiao ontologica, Nisto cifrava-se a modernidade — aliés, a nossa modemnidade: de nossa parte simplesmente no podiamos deixar de atender a tal imperativo, sob pena de bisonhice imperdodvel, entranhado na propria matériafilosofica,e porisso mesmo dilatavaumosoespectto da critica efazfamos da critica histriea, isto 6, estrutural, nao um suceddneo, mas 4 encarnagio da prdpria filosofia, Pareciamos fil6logos desdentados quando na verdade gravitévamos na érbita da revolugio copernicana, anunciando a todo 4 CL Pao ie Hon mene SL Te MOAI ecg