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Mtiltiplos re educacao e cultura 2) REIMPRESSAO Belo Honzonte Editora UFMG 2001 A ESCOLA COMO ESRACO SOCIO-CULTURAL PRIMEIROS OLHARES SOBRE A ESCOLA, Analisar a escola como espago s6ci-culural significa compreendéla na 6uica da cultura, sob um olhar mas denso, que leva em conta a dimensio. amismo, do fauzer-se cotidiano, levado 2 efesto por homens € res, trabalhadores © ibalhadoras, negros € brancos, adultos € én. Falar {da escola como espago sécio: dos sujestos na trama social que a const escolar. Em outs palavras, analisam os efeitos produzicos na escola pelas principass estruturas de relagdes sociais que caractenmzam a soc dacle capitalist, definindo a estnitura escolar e exercendo influénctss sobre © comportamento dos sueitos socials que ali attar, A panir da década de 80, surgiu uma nova ve jnstituiglo escolar, que buscava superar os determ langara na diéspora do conhecimento iracional, regressa investido da tarefa ce fazer enguer sobre si uma nova ordem centfca” © reflexo dese paradigms emergente é um novo husmanismo, que coloca a pessoa, enquanto autor @ sujeto do mundo, no centra co conhecimento, mas, tanto a natureaa quanto as estrturas esto no centro da pessoa, ou se, 4 matureza e 2 sociedade sto antes de tudo humana. Nessa perspecta, EZPELETA & ROCKWELL (1986, p.58) desen- volver uma andlise em que com as estruturas S02 tum confronted int sistema escola, que organiza, separa e huerarquiza 0 espago,a fim de dif definindo ideaimente, assim, a8 relagdes Soci", de OUtO, 08 SueHOS — s, professors, funcion fazendo da escola espago socal proprio, ordenado Por um conjunto de nomas e regras, que bu: ‘gio dos seus sujesos, Cotdianamente, por uma. ciais entre OS suyeitos envolvi de acordos. Um processo de apropaagio constinte dos es rnomas, das prtieas e dos saberes que do li gio reciproca entre 0 syjito € a insttuigko, het cotidiano, pela apropnacio, elaboraco, reelaboracio ou. repulsa expressis pelos sujetcs sociais. (EZPELETA & ROCKWELL, 1986). esta forma, o processo educatvo escolar recoloca a cada instance a reprodugio do velho e a possibilidade da consrugio do novo, e neahum ds laos pode antecipar um viténa completa e defintiva. Esa abordagem permite ample a anilise educaconal, na medida em que buscl apreendet_ 05 processos reas, cotidianos, que ocorem no intenor da escola, 20 mesmo Tempo que resgata © papel alivo des sues, na veda socal e escolar. 137 [ © texto que se segue expressa esse olhar € reflete questdes © Fes de escolas notumas da rede publica de ensino, :prendendo através de assessorias a fonte dos exemplos, das ce ges reais aqui apresentadas. Aos alunos, professores € direcao Gestas escolas deixo os meus agradecimentos, OS ALUNOS CHEGAM A ESCOLA 19s das 0s gestes, las, seriumentes, em momentos ‘amiplesmente, de um pasatempo, res de uma garagem por onde passam os professores. apts © ‘lunos descem por uma rama s0 lado de un pequeno anfiteat> ‘cenitio, onde v20 desempeninar apes especces, prepans do “murda da esol bem diferentes daqucls que desempesham no cain do "mundo da 1a" 138 A DIVERSIDADE CULTURAL Quem siio estes jovens? O que vio buscar na escola? O que significa para eles a instituiclo escolar? Qual o significado das expe- rigncias vivenciadas neste espace? Para grande parte dos professores, perguntas como estas nfo fazem ‘mutto sentido, pois a resposta é€ Gbvia: so alunos. E é essa categoria que vai informar sev olhar e as relagdes que mantém com os jovens, a compreensio das suas 31 independence elas vivenciadas, todos so consideradas igualmente alunos, procuram a escola com as ssmnas expeciativas e necessidades. Para esses professores, a ins- homogenerzacao di homogenezzagio da inst mpreendida como univers A escola € vista como uma instituiclo tinica, com os mesmios sentidos ¢ objeavos, tendo c lo, Como a énfase & centrada nos resultados da aprendizagem, o que é valorizado sio 23 provas e as notas e a finalidade da escola se reduz 20 “passar de ano” Nessa l6gica, nto faz acumulado, ¢ aprender se toma asst estabelecer relagdes entte 0 vivenciado pelos alunos e © conhect mento escolar, entre o escolar e 0 extra-escolar,justifcando-se a desarticu- lagao existente entre o conhecimento escolar € a vida dos alunos. Dessa forma, 0 proceso de ensino/aprendizagem ocorre auma jomogeneidade de ritmos, es yostas educatvas para todos, independente da onge dade, das experiéncias Sbui0 os professores idos, mesmos recursos € de uma escola part apreendidas na ética da cogni¢io reguigoso etc: ou na do comportamento (bom ou mau ou rebelde, disciplinado ou indisciplinado etc). A prt logica, descons alunos, professores ¢ funcioninos — que dela participam, ot Sob 0 discurso da clemocratizagio da escola, ou mesmo da escola sue RHE, eS perspectiva homogeneizante expressi uma detemnunada forma 2 insgumental, que reduz a compreensio da de conceber a educagio, o ser humano € seus processos formativos, ou ‘ef, tracluz um projeto politico pedag6gico que var nformar 0 conyunto das ‘agdes edueatvas que ocomem no intenor ISio e de seus processos 2 ‘uma forma de instrucio centrada na transmussio de informagbes. Reduz os sujeitos a alunos, apreendidas sobretudo pela dimensto cognitiva. connecimento 6 visto como produto, sendo enfauzados os resultados da aprendizagem e nfio o proceso. Essa perspectiva implementa a homogeneidade de contetidlos, nimos e estratégias, ¢ no a diversidade. Explica-se assim a forma como a escol © qualidade de suas experiénoias e relagbes sociais, prévias € paralelas escola, O tratamento uniforme dado pela escola s6 vem consagrar a ‘desiguaidade e as injustigas das origens sociais dos alunos. ipreender esses jovens que chegam a escola (os sOcio-culturais. Essa outra perspectiva porameries e hibaos que the ic prop © que cada um deles &, a0 chegar 3 escola, é fruto de um conjunto. de experiéncus sociais vivenciaclas nos mais diferentes espagas ‘Assim, para compreendé-lo, temos de levar em conta 2 dimen: © relagdes produtivas como neces 108 € elaboram essa experiéncia em. [Nesse sentico, a experiénea vivida é matéra-pnma a parir da qual os jovens ariculam sua propria culturs,‘aqui entendida enquanto conjunto de crengas, valores, visto de mundo, rede de significados: expressdes vés das quais qual véem, Ssujeno S04 ‘Aa mesmo tempo, por dos individuas do grupo se individuos se scentificam pelas formas propnas de vivenciar ¢ inter- pretar as relagdes e contridicbes, entre si e com a sociedade, © que produ uma cultura propa. E ande os jovens percebsem as relagSes em que estao imersos, se apropriam dos significados que se Ihes oferecem €.05 reelnboram, sob a limilacio das condigées dada, formando, assim, sua consciéncia individual e coletva. (ENGUITA, 1990). Nesse sentido, 5 alunos vivenciam experiéncias de novas relagdes na fami mentam morar em diferentes bairros, num constante reiniciar as relagbes com grupos de amigos ¢ fe le lazer. Passam a trabalhar muito cedo em ocupagées as mats variadas. Alguns ficam com 0 entre outres, qe con: expressoes de um genero, raca, de padroes de norma E um proceso dindmico, cr ao langando m m acesso, num didlogo constante com os elementos € com as estruturas sociais onde se inserem © as suas contradigées.* Os alunos podem personificar diferentes grupos sociais, ou seja, pester cem a grupos de individuos que comparilham de uma mesma defi- nigao de realidade, e interpretam de forms peculiar os diferentes equipamentos simbélicos da sociedade. Assim, apesar da aparéncia de homogeneidade, expressam a diversidade cultural: uma mesma linguagem pode expressar mélupias falas. Nessa medida, a educagio ¢ seus processos & compreendida para além das muros escolares ¢ vai se ancorar nas relagdes socias: Sto as relagbes sociais que verdaderamente edueam, isto &, foram, produ 2em os individuos em suas relidades singulaes © ‘ndividvo nasce homem. Ponanto, 2 educario tem um sentido mais amplo, & ' processo de pradusio de homens num determinado momento hiséaco.. (DAYRELL, 1992, 92) «Para uma discuss dealhada soe ete process 6 formato, vero extar“A Educagio do [Alon Trabalho, ums Aboulspem ARernatvr, DAYRELL 1992, onde Busco recupera este processo com detaes 142 Im NUM constante reposicionamento dos grupos sociais na dinamica das relagdes de classe" (Idem, p35). A diversiade ccuitural na socedade brasileira também é fruto do acesso diferenciado is informagdes, as insutuigdes que asseguram a distribuigSo dos recursos 2 utiizagio distnta do. univers ‘conoia¢iio poltico-deolégica, Essa mesn Jo © na expressio dos [ptojetos individuais das alunos, onde a escola se inclu. A nogo de projeio € entendida como uma construgio, fruto de escolhas racionais, conscientes, ancoradas em avaliagdes e definigées de realicade, representando uma conentagio, um rumo de vide. (VELHO, 1987). Um proto ¢ elaboracio construfde em fungio do processo ‘educativo, como evicenciamos M3 NS

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