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l 5 Cj Gestiio Ambiental 151 Introdugio No Brasil e em muitos outros paises, durante um longo periodo de tempo, a poluicao era vista como um indicativo de progresso. Essa percep¢do foi mantida até que os problemas relacionados a degradacao do meio ambiente, contaminagao do ar, da agua e do solo — com efeitos diretos sobre os seres humanos —se intensificaram. ‘A degradacdo ambiental tornou-se mais evidente na década de 1970, conduzindo a realizacao, em Estocolmo, da 1? Conferéncia das NagSes Unidas sobre o Ambiente Humano no ano de 1972 (Harrington; Knight, 2001). Nessa época, em paises da Europa e da América do Norte, muitas empresas se viram obrigadas a desembolsar recursos financeiros significativos por causa dos problemas resultantes de uma atuacao des- vinculada do meio ambiente, além de terem a sua imagem perante o mercado seriamente comprometida. Isso também acabava dificultando o relacionamento com fornecedores, consumidores e rgaos de contro- le ambiental, exigindo o desenvolvimento de um novo modelo de atuagéo. Enquanto no Brasil o Sistema de Comando e Controle ainda estava por ser implantado, os conceitos de Qualidade Total e Qualidade Total Ambiental comecaram a ser desenvolvidos por algumas empresas, como, por exemplo, a Gillete, em 1972 — por meio de um programa para conservagao de agua e energia —, ea 3M, em 1975 — com o desenvolvimento de uma politica ambiental corporativa e um programa para prevengio da poluigao (Bennett; Freierman; George, 1993). Como resultado da conferéncia de 1972, foram criados o Programa das Nacdes Unidas para o Meio ‘Ambiente (PNUMA) € a Comissio Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que, em 1987, publicou 0 relatério ‘Nosso Futuro Comum’, 0 qual consagrou a expressdo Desenvolvimento Sustentavel, alm de estabelecer com bastante clareza o papel das empresas na gestio ambiental. Em 1992, durante a realizacao da 2 conferéncia mundial sobre meio ambiente, a Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio Ambiente & Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, foi novamente enfatizada a nnecessidade de uma maior integracio entre meio ambiente e desenvolvimento, demonstrando que 0 nosso modo de atuagio ainda despertava preocupacao. Com uma maior abertura dos mercados, empresas localizadas nos paises com uma legislagao am- biental mais desenvolvida passaram a alegar uma desvantagem competitiva em relagao as empresas de paises onde a legislacdo era mais branda ou nao existia. Assim sendo, houve a necessidade de transfor- mar essa desvantagem em vantagem, de maneira que as empresas que investissem na protecao do meio ambiente pudessem se tornar mais competitivas, contribuindo para o aprimoramento das relacoes entre desenvolvimento e meio ambiente. ‘A partir dessa percepcdo, conceitos como gestdo ambiental, prevencao da poluicdo e oj consagra- do desenvolvimento sustentavel comecaram a ser amplamente difundidos e incorporados nas estratégias de planejamento de intimeras indéstrias ao redor do planeta. 15.2 Sistemas de Gestéio Ambiental Com uma maior preocupagio entre as atividades industriais desenvolvidas e os impactos resultan- tes sobre 0 meio ambiente, o que decorreu de uma associacao de varios fatores, os procedimentos para ‘ gerenciamento eficaz das relacdes entre desenvolvimento econdmico e meio ambiente foram aperiei- goados. vantemt 287 Copiuly 15 A Inglaterra, berco dos sistemas de qualidade, também foi a precursora dos Sistemas de Gestdo “Ambiental normalizados, dando origem & Norma BS-7750, cuja versio preliminar foi publicada em 1992 (BSI, 1994). Com o crescenteinteresse pelas questdes ambientals em outras regides, foi implantado pela Organizacao Internacional para Padronizacao (ISO), em 4 de marco de 1993, 0 Comité Técnico 207 (Tc. 207), com a incumbéncia de elaborar uma série de normas direcionadas para o meio ambiente, dando origem & Série ISO 14.000 (SMA, 1998). Norma BS-7750 © objetivo da Norma BS-7750 era servir de ferramenta para verificar e assegurar que os efeitos das atividades, produtos e servicos de uma determinada empresa estivessem de acordo com o conceito de pro- tecdo do meio ambiente, devendo-se destacar que essa preocupacao com o meio ambiente, por parte das empresas, resultou das restricdes impostas pela legislaco e pelo desenvolvimento de medidas econdmicas © outras medidas, visando incentivar as agBes relacionadas & protecao ambiental Para que este objetivo pudesse ser atingido, a Norma BS-7750 especificou os elementos bésicos de um Sistema de Gestio Ambiental, destinado a aplicacao em empresas de qualquer ramo de atividade e de qualquer tamanho. A implantagio de um Sisterna de Gestio Ambiental (SGA), com base na Norma 85-7750, deveria contemplar: ‘+ Comprometimento da alta administragdo; * Revisdo Inicial; * Politica Ambiental; © Organizacao e Pessoal; * Avaliagio e Registro dos Efeitos; * Identificagao da Legislacao Aplicavel; '* Objetivos e Metas; ‘+ Programa de Gerenciamento; * Manual de Gerenciamento; * Controle Operacional; © Registros; * Auditorias; e * Revisdo. Com o desenvolvimento das normas da Série ISO 14.000, a implantacao dos Sistemas de Gestao ‘Ambiental baseados na BS-7750 ficou restrita a poucas empresas, as quais devem ter convertido 0 seu sistema para o sistema baseado na Norma ISO 14.001, resultando na superacdo da BS-7750, Normas da Série ISO 14,000 ‘Ao contrario da Norma BS-7750, as normas da Série ISO 14.000 podem ser consideradas como nor- mas internacionais, pois foram desenvolvidas por uma organizacdo composta por representantes de 120 paises membros, dentre os quais o Brasil — representado pela Associacio Brasileira de Normas Técnicas (BND. ‘Além de abordar os Sistemas de Gestdo Ambiental, as normas da Série ISO 14.000 também tratam das diretrizes para a auditoria ambiental, r6tulos e declaragdes ambientais, avaliacéio do desempenho am- biental e analise do ciclo de vida, conforme pode ser verificado na Tabela 15.1. 268 nin | TABELA 15.1 © Relagdo de normas da Designacao 150 14.001:1996 1SO 14.004:1996 ISO 14.010:1996 150 14.011:1996 ISO 14,012:1996 ISO 14,015:2001 ISO 14.020:2000 1S 14.021:1999 ISO 14.024:1999 ISO/TR 14.025 1SO 14.031:1999 ISO/TR 14.032 ISO 14.040:1997 ISO 14.041:1998 ISO 14.042:2000 1SO 14.043:2000 ISO/TR 14.047 IsO/TR 14.048, ISO/TR 14.049 ISO 14.050:2002 ISO/TR 14,061 ISO/TR 14.062 Publicacio 1996 1996 1996 1996 1996 2001 2000 1999 1999 2000 1999 1999 1997 1998 2000 2000 Asser definida 2002 2000 2002 1998 2002 Titulo Sistemas de Gestio Ambiental — Especificagio e orientacao para uso. Sistemas de Gestéo Ambiental — Diretrizes gerais sobre principios, sistemas e técnicas de apoio, Diretrizes para Auditoria Ambiental — Princfpios gerais. Diretrizes para Auditoria Ambiental — Procedimentos de auditoria — Auditoria de Sistemas de Gestéo Ambiental. Diretrizes para Auditoria Ambiental — Critérios para a qualificagao de auditores ambientais. Avaliacdo ambiental de locais e organizagbes. Rotulos e Declaragées Ambientais — Principios gerais Rotulos e Declaragbes Ambientais — Autodeclaracéo de alegacdo ambiental — Rotulagem ambiental Tipo It Rétulos e Declaragdes Ambientais — Rotulagem ambiental Tipo k: Principios e procedimentos. Rtulos e Declaragdes Ambientais — Declaragoes ambientais Tipo Il Gestio Ambiental — Avaliagao do desempenho ambiental — Diretrizes. Gestao Ambiental — Exemplos de avaliagdes do desempenho ambiental. Gestio Ambiental — Anélise do Ciclo de Vida: Principios e estrutura Gestio Ambiental — Analise do Ciclo de Vida: Definicdo do escopo e metas e andlise de inventario. Gestio Ambiental — Analise do Ciclo de Vida: ‘Avaliacao de impactos no Ciclo de Vida. Gestio Ambiental — Anélise do Ciclo de Vida: Interpretagao do Ciclo de Vida. Gestio Ambiental — Andlise do Ciclo de Vida — Exemplos de aplicacao da ISO 14.042. Gestio Ambiental — Andlise do Ciclo de Vida: Formato da documentagao de dados. Gestio Ambiental — Anélise do Ciclo de Vida: Exemplos para a aplicacdo da Norma ISO 14,041 para definiga0 de escopo e matas ¢ andlise de inventario. esto Ambiental — Vocabulario. Informagdes para auxiliar empresas de Produtos Florestais no uso das normas de Sistemas de Gestio Ambiental (ISO 14.001 e ISO 14.004). Gestio Ambiental — Integrando 0s aspectos ambien no projeto e desenvolvimento do produto. {continua 289 tcominusio) ISO/WD 14.063 Aserdefinida esto Ambiental — Comunicagao ambiental: Diretrizes eexemplos. ISO/AWI 14.064 Aserdefinida _Diretrizes para medir,reportare verificar a existéncia de niveis de projeto da emissao de gases estufa. }:2002 2002 Diretrizes para Auditoria de Sistemas de Qualidade ou Gestdo Ambiental (essa norma substitui as normas 14,010, 14.011 e 14.012). 150 19.01 1SO Guia 64: 1997 1997 Guia para a inclusao dos Aspectos Ambientais em normas de Produtos. ISO/IEC Guia 66 1999 Requisitos gerais para grupos conduzindo avaliagdes e Certificagées/registros de Sistemas de Gestio Ambiental. Fonte: ISO, 2002. AWL = Approved Work Item (Item de Trabalio Aprovado). TR = Technical Report (Relatério Técnico) WD = Working Draft (Versio de Trabalho). ‘As normas da Série ISO 14.000, além de se preocuparem com as quest6es relativas ao desenvolvi- mento sustentavel, foram desenvolvidas com o objetivo de permitir uma competicao mais justa entre as empresas que participam do comércio internacional. ISO 14.001: Sistemas de gestiio ambiental — Especificagio e diretrizes para uso ‘ANorma ISO 14.001 especifica os principais requisitos de um Sistema de Gestio Ambiental (SGA, sendo que o sucesso deste sistema depende do comprometimento de todos os niveis e fundies da orgar G80, principalmente da alta administratao dessa, sendo bastante semelhante 3 norma inglesa BS-7750. A abordagem basica com relagdo aos requisitos estabelecidos pela Norma ISO 14.001 é apresenta- da na Figura 15.1. _|FIGURA 15.1 _ wre Programa de Gestiio Ambiental, fener te | conforme a Norma ISO 14.001. 7-4 inne Planejamento } . Methori + Aspectos Ambientais 2 continua + Requisitos Legais a ‘+ Objetivos e Metas ‘* Programa de Gerenciamento Revisiodo | ‘Ambiental | Gerenciamento | a e Implementacéo e Operagio « Estrutura e responsabilidades Checagem e Acio Corretiva. | * Treinamento, conscientizagio * Monitoramento e medi¢io © competéncias + Nao conformidades e acées | + Comunicagio corretivas i * Documentagao do SGA Registros } * Controle operacional * Auditoria do SGA, * Controle de emergéncias e responsabilidades Um SGA se constitui, na verdade, em um conjunto de procedimentos sistematizados que séo de- senvolvidos para que as questdes ambientais sejam integradas a administracao global de um empreendi- mento. Por meio de uma melhor compreensao das relacdes entre as atividades desenvolvidas e 0 meio ambiente, é possivel estabelecer um método de gerenciamento que possibilite a obtencdo de melhores resultados no desempenho global da empresa. ‘A seguir sio detalhados os elementos de um Sistema de Gestio Ambiental com base na Norma ISO 14,001 (ABNT, 1996). + Politica Ambiental: A politica ambiental dé um senso global de diregdo e apresenta os prin- cipios de aco para uma organizacio, sendo estabelecidas metas relativas a0 desempenho responsabilidade ambiental, contra as quais todas as aces subsequentes serdo julgadas Essa politica deve ser definida pela alta administracao da empresa, devendo assegurar que ela: seja apropriada & natureza, & escala e aos impactos ambientais de suas atividades, pro- dutos e servigos; inclua um comprometimento com a melhoria continua e com a prevencao da poluicdo; inclua um comprometimento para cumprit com as normas e regulamentos ambientais, além de outros requisitos para os quais 2 organizag3o subscreve; forneca uma estrutura para estabelecer e revisar objetivos e metas ambientais; seja documentada, im- plantada, mantida e comunicada para todos os empregados; e esteja dispontvel para 0 pablico. « Planejamento: Com base na politica ambiental, a organizacao deve fazer um planejamento com 0 objetivo de atender aos requisitos estabelecidos. * Implementacio e Operacdo: O processo de implementacao e operacao do SGA deve ser conduzido de forma a serem atingidos os objetivos e as metas estabelecidas. * Verificagdo e Acées Corretivas: Para que a politica ambiental possa ser avaliada, é neces- sério que sejam desenvolvidos procedimentos para monitorar e medir as principais carac- teristicas das operacdes e atividades que podem causar um impacto significative no meio ambiente, ao mesmo tempo que devem ser estabelecidos os procedimentos referentes as ages corretivas que devem ser tomadas para eliminar as causas reais ou potenciais, que poderiam resultar em um impacto no meio ambiente, « Revisdo do Gerenciamento: Para que o comprometimento com a melhoria continua possa ser efetivo, a alta administracao da organizacao deve, em intervalos predefinidos, revisar 0 Sistema de Gestdo Ambiental, de forma a assegurar que este continue adequado ¢ efetivo. Nessa revisdo, levem ser verificados as necessidades de mudangas na politica, os objetivos € outros elementos do SGA, tomando-se como base os resultados obtidos nas auditorias do sistema. Uma etapa que deve anteceder o desenvolvimento de um SGA refere-se a revisio ou diagnéstico inicial, que contempla uma avaliaco inicial dos procedimentos que estao sendo utilizados pela empresa, ino que se refere as questdes ambientais e uma prospecgdo sobre as estratégias futuras, estando essa etapa restrita& alta administracdo e a alguns niveis hierarquicos superiores da empresa. ‘A implantacao de um sistema de gestéo ambiental é baseada no Ciclo PDCA (Plan, Do, Check and ‘Act, que nada mais é do que um procedimento sistematizado e estruturado para o planejamento, implan- taco, verficagao e revisdo das estratégias para a obtenggo de uma melhoria do desempenho ambiental da organizacao. A Figura 15.2 mostra as relagoes entre as normas da Série ISO 14,000 em um ciclo POCA (SO, 2002). FIGURA 15.2 - _ = | de gestdio ambiental pela Série ISO 14.000. séie'S0 14040 eS Meet” Deicide desenpento ei ambient do poco, _ Prize = specs ambi - Inert dos 150 14.052 - spec ames Melo do desempenno Topas. Pris psra ola er cogimos, — Momcraaniee SD Sohal doe = si a gs Série!$0 14020) nleragbes sabe ot = 38 [—— Deciaragoese Retslos ' > aspectas ambientais is easpoditn = go Comrade o | ~ zs deseo Q3 sroeral - a L_ 2 150 14063 - 3 $50 14063 | oy Comunicaci sobe o 1 > deterperto amet 5 Montoro do série 50 14.030 a ees Se 50.40% | omcrgto do desenpenho = arbi) Desempenho Ambiental; bertal da on Lento 15019011 { _fomagdessotreo locesenpenho [-——— Autti do Stora, > desenpenho do Solera de = eo Seeatema | > comme Todos 0s elementos do SGA devem ser devidamente documentados, 0 que é feito pelo desenvol- = vimento do Manual do Sistema de Gesto Ambiental, o qual deve estar disponivel para consulta, princi ~ palmente os procedimentos que tratam diretamente das atividades que tenham relagao direta com 0 meio ~ ambiente. -~ Um SGA desenvolvido e implantado com base na Norma ISO 14,001 pode ser certificado por uma organizacSo independente ou, entdo, pode ser utilizado para que a empresa possa emitir uma autodecla- racao de conformidade com a norma, de maneira a melhor se posicionar no mercado, ressaltando-se que, - para o mercado externo, a certficagao necesséria. Cabe ressaltar que a implantacao de um SGA exige a - aplicago de recursos financeiros na fase de diagnéstico inicial, desenvolvimento, implantacio, certifica- ~ 0 e manutengao. 5 Como se verifica, um Sistema de Gestao Ambiental com base na Norma ISO 14,001 é bastante se- melhante ao sistema baseado na Norma BS-7750, devendo-se destacar que o mérito das normas da Série SO 14.000 € 0 fato de elas terem ido além do sistema de gestdo, abordando outros aspectos relevantes & - proteso do meio ambiente, conforme poderd ser verificado a seguir. = Auditorias ambientais © conceito de auditorias ambientais teve inicio na década de 1970, principalmente nos paises desenvolvidos, onde algumas companhias industriais privadas inspecionavam suas unidades industriais com 0 objetivo de identificar programas de controle de risco, além de avaliar o potencial de ocorréncia de acidentes ambientais. De um modo geral, a auditoria ambiental é reconhecida mundialmente como uma ferramenta que auxilia no gerenciamento e na comunicagao do desempenho de uma organizacao, sendo desenvolvida com os seguintes objetivos: * fornecer uma garantia aos executivos da organizagao quanto 4 conformidade com relacao as exigéncias legais e procedimentos intemos de uma boa pratica de gerenciamento da or- ganizacao; * avaliar os potenciais de passivos ambientais da organizacao; € ‘« demonstrar as partes interessadas que est sendo realizado o gerenciamento efetivo das obrigagdes ambientais da companhia, No caso da auditoria ambiental, o objetivo principal é a obtencao de evidéncias relacionadas ao desernpenho e aos aspectos ambientais de uma empresa ou instituigao, visando determinar 0 grau de con- formidade destes com os critérios estabelecidios anteriormente, sendo um elemento de grande importancia de qualquer Sistema de Gestao Ambiental, no sentido de verificar se este esta ou no sendo implementado e mantido de forma adequada. Para cumprir 0s seus objetivos, as auditorias ambientais devem ser: + sistematicas, completas e detalhadas, em que cada aspecto e rea devem ser avaliados de acordo com uma metodologia especifica; + documentadas, de forma que os registros facilitem a resolugao dos problemas encontrados e sievam de base de comparagao com auditorias futuras; ‘© periédicas, realizadas em intervalos regulares; e + objetivas, buscando-se a precisao cientifica. {As auditorias ambientais de que tratam a Norma ISO 19.011 tém como principal objetivo avaliar os Sistemas de Gesto Ambiental e de Qualidade desenvolvidos de acordo com a Norma ISO 14,001 e ISO 9.001. Rotulagem ambiental Inicialmente, 08 esquemas dle rotulagem ambiental foram desenvolvidos em alguns paises, na tenta- tiva de promover 0 uso de métodos de producao menos agressivos a0 meio ambiente (Welford, 1995). Tais esquemas tentaram fornecer um reconhecimento independent do peril ambiental positivo de um produto, Dessa forma, € importante que a rotulagem do produto assegure que 0 produto, ou grupos de produtos, seja avaliado de uma maneira abrangente, geralmente baseada na anélise do ciclo de vida e, ‘onde apropriado, apresentar os dados de eficiéncia e seguranca. ‘A Agencia Americana de Protecao Ambiental (USEPA) identifica a rotulagem ambiental dos produ- tos, dividida em categorias baseadas em trés atributos-chave: + Primeiro: Todos os programas de rotulagem ambiental, que séo independentes dos fabrican- tes e vendedores, podem ser considerados como de terceira parte. ‘© Segundo: A participacdo nesses esquemas pode ser voluntaria ou obrigat6ria. « Terceiro: Os programas de rotulagem podem ser positives, negativos ou neutros, ou sea, podem promover os atributos positives do procluto, podem requerer a divulgagao de infor- mages que ndo so boas nem més ou eles podem requerer informagdes sobre os aspectos negatives de um produto — como, por exemplo, apresentar avisos sobre a toxicidade do produto. Na Tabela 15.2 sfo apresentados os cinco tipos de programas de rotulagem ambiental, segundo os, critérios da USEPA Welfod, 1995), enquanto,na Figura 15.3 €apresentada a castilccgao de rotulagem ambiental, também de acordo com a agéncia norte-americana, | TABELA 15.2 ual pela USEPA (EPA, 1998), | Comparacao dos programas de rotulagem ambien I Tipo de Rotulo’ 5 | Positive -| __2Conservacio do produto Redugdo na fonte ee Controle na fonte i \ 2 4 G Mudanga de matéria-primaf — Mudanga de tecnologia Boas praticas operacionais | + Purficagao + Mudangai no processo + Utilizagao de procedimentos '* Substituicao J *Mudanca de equipamentos, | + Prevencao de| perdas { ommemeerereremnemre tabulagdes ou layout + Praticas de gerenclamento + Automaco adicional | « Segregacio de etluentese residuos + Mudangas nos parémettos | « Melhoriana manipulagdode = operacionais| | materiais f Cneemenonconnened ¢ Progucdo programada | Prevengéio da poluigio na indistria © foco da maior parte das pesquisas, atengao piblica e agdes governamentais relacionadas as ativi- dades de prevencdo da poluigio recai sobre as indlstrias, ja que essas s2o as principais responsaveis pelos problemas de degradacio da qualidade ambiental (Phipps, 1995). A prevengio da poluicio, nesse caso especifico, pode ser vista como uma forma economicamente vantajosa e estrategicamente sensata para as empresas protegerem o meio ambiente, protegendo a si mes mas de possiveis responsabilidades, infragGes legais e despesas desnecessérias ou nao previstas, Por outro lado, a implantagao de programas de prevencao da poluicao pode encontrar algumas barreiras, o que deve ser analisado cuidadosamente. ‘Com 0 objetivo de melhor compreendermos os conceitos envolvidos na aplicagao dos programas de prevencdo da poluicao na indiistria, a seguir sero apresentados os beneficios potenciais relacionados a sua implantagao, bem como as barreiras que podem dificultar essa implantagao. wont 299 Capinle 15 — Gest A Beneficios potenciais relacionados @ implantagdio dos Programas de Prevengéo da Poluigdo Dentre 0s principais beneticios associados aos programas de prevenc3o da poluicio, conforme jé mencionado anteriormente, pode-se destacar (Phipps, 1995): *# Redugio de Custos; + Redugio da Responsabilidade Legal; Melhoria da Imagem Corporativa; € Melhoria da Seguranga dos Trabalhadores. Reduciio de custos potencial para a reducao de custos e a economia de dinheito talvez seja um dos beneficios mais atrativos de qualquer programa de prevenc3o da poluicao para as indistrias. A redugo na fonte, reciclagem no proceso e melhoria na eficiéncia da utilizacao de energia podem reduzir a quantidade de insumos e energia necessérios ao desenvolvimento dos processos industria, 0 que, por sua vez, resultaré na redugao das despesas da industria. Com a substituicao de compostos quimicos t6xicos por substancias menos perigosas, podem ser re- duzidos tanto 0s custos relacionados & obtengao e 4 manipulacdo dessas substancias quanto 0s gastos com 05 sistemas de controle da poluicéo gerada por essas substdncias. Por outro lado, reduzindo-se a quanti- dade de residuos nao perigosos, também reduzem-se custos, principalmente associados a manipulacio, transporte e disposicao final desses residuos. ‘Além do que foi exposto, as atividades de prevengao da poluicéo também podem reduzir os custos associados com a obten¢do de licencas de implantacdo e operacao das indistrias. Redugio da responsabilidade legal Evitar a geracdo de poluentes sélidos, iquidos ou gasosos, que poderiam afetar de forma negativa ‘© meio ambiente e 2 satide dos seres humanos, é uma das maneiras mais eficientes e sensatas para uma empresa se proteger contra possiveis responsabilidades legais. sso porque, nao existindo o poluente, nao existe a possibilidade de ocorréncia de qualquer dano ambiental ou problema de poluicao, Com o desenvolvimento de uma legislagao cada vez mais restritiva e pumnitiva, caso especifico da Lel de Crimes Ambientais, a adocao de estratégias de prevengao da poluigdo figura entre as opcdes mais racionais disponiveis para a indiistria, Melhoria da imagem corporativa ‘A adogao de programas de prevengao da poluicao também pode ser considerada uma excelente ferramenta de relagdes ptiblicas, pois uma empresa que demonstra um comprometimento para reduzir os impactos negativos sobre o meio ambiente, em razao de suas atividades, poderé desenvolver um relacio- ‘namento mais amigavel com a comunidade local e com os seus consumidores. 'sso € importante, pois os consumidores e a comunidade em geral estdo, a cada dia que passa, se conscientizando dos problemas ambientais associados aos produtos que consomem, dando as empresas oportunidade de utilizar 0 seu desempenho ambiental e a sua preocupacdo com o meio ambiente € com a satide das pessoas, para melhorar a sua participacao no mercado, além de se estabelecer como um membro respeitavel na comunidade. ‘Melhorar a seguranga dos trabalhadores ‘A prevencao da poluicao também pode ser um importante componente dos esforcos para a melho- ria da satide e seguranga dos trabalhadores, j4 que a substituicao de substincias téxicas por compostos uimicos menos prejudiciais, a reducdo na emissao fugitiva de solventes orgénicos dos processos produti- vos e a minimizacao da geracio de residuos e efluentes a serem manipulados e dispostos reduzirao o risco de exposigo dos trabalhadores ao materiais t6xicos. Isso, por sua vez, resulta em uma melhor condicéo de satide ocupacional. 300 cocs Cee FUNDAGAO MUNICIPAL DE ENSINO DE PIRACICABA ~ FUMEP - Bareiras asocadas@implantago dos Programas de Preven daPoluigio "*MOTECA Em alguns casos, independentemente dos beneficios que podem ser obtidos com a implantagao de tum programa de prevencdo da poluicao, podem existir algumas barreiras associadas & implantacao desse tipo de programa em algumas empresas, devendo-se destacar os seguintes (Phipps, 1995) * Cultura Corporativa e Normas Institucionais; « Dificuldades para Identificacao de Oportunidades de Prevencao da Poluigao; * Custo; + Falta de Ferramentas e Metodologias de Avaliago; + Externalidades; + Falta de Planejamento de Longo Prazo e Tomada de Decisio; € + Expectativa dos Consumidores. Cultura corporativa ¢ normas institucionais ‘A.cultura de uma corporagio e suas normas institucionais podem ser dificeis obstaculos a serem transpostos pata que se possa iniciar as atividades de prevengio da poluicao. O comprometimento ea forte lideranga dos executivos do alto escaléo de uma empresa s4o fundamentais, da mesma forma que 6 envolvimento dos trabalhadores dos demais niveis hierdrquicos também é importante, pois muitas das idéias para a reducao da geracao de residuos e poluentes surgem dos tabalhadores do chao de fébrica, os uais vivenciam diariamente a realidade dos sistemas de produgao. Nesse sentido, ha a necessidade de quebra de barreiras hierrquicas, o que pode ser bastante dificil em algumas empresas. ‘Além do mais, muitas empresas nao tém autonomia sobre os procedimentos e processos que de- senvolvem, seguindo, na maioria das vezes, as recomendagées da matriz — 0 que também dificulta a implementacao dos programas de prevengio da poluicao. Difculdades para a identifiagto de oportunidades de PrevengGo da Poluigao {A protec3o ambiental do ponto de vista de uma industria normalmente refere-se a obediéncia e concordancia com a legislagao de controle da poluicdo ambiental e gerenciamento de residuos. A idéia de evitar a geracao de resfduos e poluentes, embora nao seja inovadora, ainda ndo se tornou uma segunda opsao para muitas indUstias, sendo vista como uma atividade opcional — caso existam recursos dispo- nivels. Enquanto muitas empresas est3o acostumadas a gastar muito dinheiro para adequar as suas emis- ses aos padrdes estabelecicos em normas, a maior parte dessas empresas nao investe tempo nem recursos para a identiicagdo de oportunidades de prevencao, as quais muitas vezes necessitam de um estudo mais aprofundado para viabilizé-tas. ‘Tem-se ainda que, tradicionalmente, os engenheiros ambientais ou 0 pessoal responsivel pela 4rea de satide e seguranca S20 responsaveis pelo gerenciamento dos residuos e efluentes, além de serem responsdveis pelo atendimento as normas de controle ambiental, desenvolvendo habilidades espectficas relacionadas as tecnologias de controle da poluic3o, no qual o principal foco esta relacionado aos subpro- 303 Um ponto imporante a ser observado € que 0 conceito de prevencdo da poluigao nao se aplica apenas 3s atividades que j se encontram em andamento, sendo também uma ferramenta bastante itil para 0 desenvolvimento de novos produtos e servigos, visto que a aplicacdo destes conceitos na fase de projeto € muito mais interessante, pois pode-se de anteméo prever todos os impactos que poderiam ser causados pelos diversos processos ou operagdes a serem desenvolvidos, 0 que garante uma maior eficécia das medidas de prevengao da poluigao, bem como possibilita a adoco de alternativas que apresentem um menor custo, se comparados com 0s custos necessérios para promover alteragdes em um processo ou sistema que jé se encontra implantado e em funcionamento, Casos de sucesso de preveneéo d poluigéio Com base na sua atuagao junto a algumas indiistrias, a Cetesb péde identificar virlos casos de su- esso relacionados a prevencao da poluicao, elaborando uma publicacao em que esses casos de sucesso so apresentados, alguns dos quais se encontram na Tabela 15.3. [TABELA 15.3, Casos de sucesso de prevengo da poluigdo (htp:/hwvww.cetesbsp govbr) Desenvolvimento de Reducao da toxicidade TRW Geracao de novo processo de dos efluentes. Automotive efluentes galvanoplastia, Melhoria das condicoes Lda, com cromo substituindo o de trabalho (2094) hexavalente. cromo trivalente, no local. \ menos t6xico, Melhoria da com um investimento competitividade no da cromo hexavalente mercado internacional. pelo R$ 1.000.000,00. Redugo da carga de Geragao de Desenvolvimento de niquel no efluente, Mahle efluentes parceria com fornecedor Redugo de Metal Leve com elevada de matéria-prima, para RS 10.800,00/ano, para S/A(2003) _concentragao desenvolver equipa- transporte e disposica0 de niquel. mento de recuperagio de de residuos. Recuperacao rniquel, com investimento _de 3W/ano de hidréxido de R$ 65.000,00. de zinco e redugao de 35% na aquisico de sulfato de zinco, resuitando em uma economia de R$ 38.400,00/ano, Reducao no consumo de ‘Automatizagao Consumo do sistema de agua em 65% em relacio Kodak excessivo lavagem de 0 ano de 2000, para os Brasileira de agua em reatores, com a reatores modificados Com. Ind. processos de implantagao de Reducdo no tempo de Ltda. (2002) lavagem. temporizador e lavagem dos reatores, condutivimetros, resultando em um ganho com um de produtividade de investimento de 76 himés. RS 24.500,00. contd | } | eee ee at (4 TEKA— Tecelagem Kuehnrich Sia (1998) Geragaoe disposigao inadequada de residuos sOlidos. Substituicao de carboximetilamido por carboximeti- celulose no processo de engomagem. (Otimizacao da ETE com retorno de lodo do valo de oxidacao para co tanque de carvéo ativado. Capitulo 15 Economia de RS 12.000,00/més e aumento da eficiéncia no processo de engomagem devido a ahteracao da matéria-prima. Economia de R$ 10.603,00/més, referente a reduca0, da carga organica enviada a ETE. Reducao de 40% dos residuos s6lidos industriais 2a serem dispostos. Gosia Ambiental

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