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o QUE É VOZ

A voz humana já existe desde o nascimento e se manifesla


através do choro, riso e grito. Assim, desde o início da vida, a voz
torna-se um dos meios de interação mais poderosos do indivíduo l' S('
constitui no modo básico de comunicação entre as pessoas.
Comunicamo-nos de múltiplas formas: pelo olhar, pelos geslos,
pela expressão corporal, pela expressão facial e pela fala. A voz, porém,
é responsável por uma porcentagem muito grande das informações
contidas em uma mensagem que estamos veiculando e revela muila
coisa sobre nós mesmos. A voz fala mais do que as palavras, como
veremos mais adiante.
A voz é produzida pelo trato vocal, a partir de um som básico gerado
na laringe, o chamado "buzz" laríngeo. A laringe localiza-se no pescoço
e é um tubo alongado, no interior do qual ficam as pregas vocais. As pre-
gas vocais são conhecidas popularmente como cordas vocais, mas esse
nome é incorreto, pois não se tratam de cordinhas, como as do violão. As
pregas vocais são duas dobras, formadas por músculo e mucosa, em po-
sição horizontal dentro da laringe, ou seja, paralelas ao solo, como se es-
tivessem deitadas. Veja o esquema e as fotos apresentadas nas Figs. 1-1 e
1-2AeB.
Quando respiramos silenciosamente, as pregas vocais ficam
abertas, ou seja, afastadas entre si, para permitir a entrada e saída livres
do ar, como mostra a primeira imagem da Fig. 1-2A e B.Assim sendo, no
ato da respiração a interferência das pregas vocais deve ser mínima para
garantir a entrada de oxigênio e a saída de gás carbônico de nossos
pulmões. .

Já quando produzimos a voz, as pregas vocais devem se aproximar


e vibrar. Na Fig. 1-2B, observamos as pregas vocais próximas entre si e
1
· I III{IC'I11, VOI ,li ( IIlcI.lIlClo clol VO' · · ( ) ( )111010VO' .

Fig. l-I. Esquema da laringe e das pregas vocais. A. Desenho mostrando a posição da la-
ringe no pescoço. B. Desenho mostrando as pregas vocais, numa visão superior.

devemos imaginar que nessa posição elas estão vibrando muito rapida-
mente. Esse processo vibratório ocorre tão mais rapidamente quanto
mais agudo for o som. Para os homens adultos brasileiros, a freqüência
média da voz, chamada de freqüência fundamental, está ao redor de 113
I-Iz,enquanto que para as mulheres essa freqüência situa-se ao redor de
208 Hz. Isto significa que ao produzirmos a voz, por exemplo, quando
falamos um "a" sustentado, o homem vibra suas pregas vocais em
média 113 vezes por segundo, e a mulher, 208 vezes por segundo. Você
pode sentir essa vibração: inicialmente, coloque sua mão sobre o pesco-
ço e apenas respire para verificar que não ocorre ativação das pregas
vocais; a seguir, emita um "a" prolongado e sinta, através da vibração, a
fonação ocorrendo.
Portanto, você já deve ter percebido que sem ar passando entre as
pregas vocais não há fonação. Você pode comprovar esse fato expulsan- Fig. 1-2. Fotos das pregas vocais na respiração e produção da voz, como são vistas no ("",.
do o ar dos pulmões, fechando firme e simultaneamente a boca e as me da laringe. A. Pregas vocais afastadas, durante a respiração. B. Pregas vocais na linhol
narinas com os dedos e verificando que não se consegue produzir som média e vibrando, durante a produção da voz.
Iélríngeo. As pregas vocais não vibram nessas condições!
O ar é essencial para produzirmos a voz, sendo o combustível
energético da fonação. Convém lembrar que, quando estamos respiran-
do em silêncio, o ar deve entrar pelo nariz, para qp.e possa ser filtrado,
2
. IIIKie'I\I' Vell "I ( lIid,IIlIlodoIVo, · · ( ) ( )111'I' VO, ·

.HllIl'rido l' umidificado, chegando em melhores condições aos pul-


IIH)l'H,Porl'm, durante a conversação, a respiração é feita de modo
bllconflsal, ou seja, o ar entra pela boca durante a fala encadeada, e
'\I)('na1' nas pausas longas inspiramos pelo nariz, caso contrário, o Cavidade
discurso ficaria muito interrompido. do nariz
O som gerado na laringE!,porém, ainda não representa a voz que
ouvimos de nós mesmos. A fonação em nível da laringe é um som de
fraca intensidade e o "buzz" laríngeo mais parece o barulho de um vi- Úvu!a
brador elétrico, não sendo parecido com nenhuma vogal ou consoante ...
....
"'..
; Cavidade
da boca
de nossa língua. Contudo, esse som básico, assim que produzido, vai
percorrendo um caminho pelo trato vocal, dentro de nosso corpo,
passando por estruturas que formam obstáculos ou aberturas, até
atingir a saída pela boca e/ ou pelo nariz, modificando-se através de um
\ Faringe B

processo chamado de ressonância. As cavidades de ressonância, por- Fig. 1-3. Esquema da produção da consoante "p". A. Observe que para a produção do '1111'
tanto, constituem um alto-falante natural da fonação e são formadas "p" os lábios devem estar firmemente unidos, interrompendo a saída do ar total e mOll1l'nl,I
neamente e, a seguir, abrindo-se e produzindo o ruído de uma plosão. B. Nesse esqu('llloldI I
pela própria laringe, faringe, boca, nariz e seios paranasais. Assim, o interior da boca,observe os lábios fechados, a língua abaixada, o fluxo de ar interrompido c."
som chega ao meio ambiente amplificado, isto é, com maior intensidade úvula fechando a comunicação com o nariz para evitar o escape de ar nasal.
l' com a forma de alguma vogal ou de uma consoante.
Para produzir os diferentes sons de uma língua - suas vogais e
consoantes -, temos ao nosso dispor dois tipos de fonte de som: a fonte
glótica e as fontes friccionais.
A principal fonte de som é a fonte glótica, explicada acima, formada
pela ativação da vibração das pregas vocais, que produz a matéria-
prima principalmente para todas as vogais. Essa fonte é chamada de
glótica, pois localiza-se na glote, que é o espaço entre as pregas vocais.
As consoantes, por sua vez, são ruídos produzidos por um estreita-
~."
I~ \
Cavidade
do nariz

mento parcial ou total das cavidades acima da laringe, que se constituem


nas chamadas fontes friccionais, já que usam apenas a fricção do ar e não
uma vibração repetida por inúmeras vezes, como na fonte glótica.
Úvula ,Palato

Assim, por exemplo, quando produzimos o som "p", interrompemos


totalmente a saída do ar nos lábios e soltamos a seguir uma pequena Cavidade
plosão, que se transforma nessa consoante (Fig.1-3); já no som "s", ape- da boca
nas estreitamos a saída do ar na região anterior da boca (Fig. 1-4), auxili- Faringe Ar
ando esse estreitamento com a ponta da língua. Esses sons são
chamados de sons surdos, pois não usam a fonte glótica. Há, porém, Fig. 1-4. Esquema da produção da consoante "s". A. Observe que para a produção do se1111
uma segunda categoria de consoantes, que, além da fonte friccional, "s" OSlábios devem ficar separados e a boca em forma de sorriso, enquanto o ar passa, 1'111
usam em sua produção também a fonte glótica associada; a essas conso- fricção, por essa abertura restrita. B. Nesse esquema do interior da boca, observe os I,\hie"
e dentes levemente separados e a ponta da língua abaixada, encostada nos dentes infl'rlo
antes dá-se o nome de consoantes sonoras. Por exemplo, na produção res; veja que a úvula também está ocluindo a passagem de ar para o nariz.
do "b" empregamos a fonte friccional dos lábios, que se soma ao som bá-
~I
"
· IIIHII'IIc' VCII .11 ( 111<1.11I<111d.. VOI ·
. ( ) ()III' ,. Vo ·
sic() da laringe; já no "z", empregamos a fonte friccional doestreitamen-
lo da região anterior da boca e ativamos conjuntamente a fonte glótica.
A diferença entre um som surdo e sonoro pode ser facilmente perce- Cavidade
bida quando produzimos wn "s" longo e passamos para "z", desse do nariz
modo: "sssszzzzz...", sem intervalo entre os dois sons. Produza essa se-
qüência de "sssszzzz..." com sua mão sobre o pescoço e perceba quando
a fonte glótica é ativada. Dente
As consoantes surdas da língua portuguesa são os seguintes sons:
Úvula
pê, tê, quê, fê, sê e xê. Já as consoantes sonoras do português são em
maior número, representadas pelos seguintes sons: bê, dê, guê, vê, zê, jê, Cavidade
mê, nê, nhê, lê, lhê, rê e rrê. Todas as vogais do português são sonoras, ,A da boca B
....
pois usam a fonte glótica.
Como se pode perceber, a movimentação das estruturas que estão Fig. 1-5. Esquema da produção da consoante nasal "m". A. Observe que para a produc..\o
acima da laringe é muito importante na produção das consoantes. Tais do som "m" os lábios se fecham e o som é emitido pelo desvio do ar para a cavidade Ihls.11
estruturas são as articuladoras dos sons da fala, fazem parte do trato 8. Nesse esquema do interior da boca, observe os lábios unidos e interrompendo o fluxo
vocal e estão nas cavidades de ressonância. Os sons são articulados de ar na boca; veja que a úvula está abaixada, permitindo a passagem de ar para a colvid..
de nasal.
principalmente na cavidade da boca, pelo movimento da língua, dos
lábios, da mandíbula e do véu palatino, que permite a entrada de ar no
nariz para a produção dos sons nasais, como, por exemplo, o "m" (Fig.
1-5). Esses movimentos devem ser precisos para produzir sons claros e
tomar inteligível a mensagem que se quer transmitir.
Apesar de tudo o que falamos sobre a laringe na produção da voz,
por incrível que pareça, essa não é sua função principal. A tarefa mais
importante desse órgão é conduzir o ar e proteger os pulmões da entra-
da de substâncias indesejadas. Quando engolimos de mau jeito ou
Pregas
quando aspiramos uma substância nociva pela boca ou pelo nariz, as vestibulares
pregas vocais aproximam-se fortemente e selam a entrada da laringe. A +Laringe
Estruturas
função de selamento da laringe é de extrema importância para nossa comprimidas
sobrevivência. No caso da inalação de substâncias indesejadas, após o na linha
média
selamento, as pregas vocais ainda produzem a tosse para expulsar o Pregas
invasor. A tosse representa uma verdadeira trombada entre as pregas vocais
vocais, que pela força produzem wn som muito forte, com grande
velocidade do ar que sai dos pulmões. Nos espirros fortes essa velocida- B
de chega a atingir 70 a 80 quilômetros por hora. A
A função de selamento da laringe é realizada não somente através
da aproximação das pregas vocais, mas também de outras estruturas Fig. 1.6. Esquema da laringe, em corte anterior, durante a função de produção da voz l' n.'
função de selamento laríngeo. A. Esquema da laringe na produção da voz; observe que .lpt.
auxiliares que estão acima destas, as chamadas pregas vestibulares, nas as pregas vocais se tocam na linha média, para gerar o som básico da voz. 8. ESQIll'I11.1
popularmente conhecidas como falsas cordas vocais (Fig. 1-6). O sela- da laringe na função de selamento; observe que todas as estruturas flexíveis da laringl' (h
mento também é acionado em outras situações. Por exemplo, quando locam-se e comprimem-se na linha média para fechar totalmente a passagem para os pul
mões.
queremos levantar algwn peso, empurrar um objeto ou ainda deslocar
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· IliHil"H' VOl.II: (uid,lI1do d,1 VOI . · () ()UC' (. VO/.

110SS0corpo através do apoio dos braços, como ao subirmos em barras


dt' ginclstica, selamos a laringe para obtermos maior força no tórax. Quadro 1-1. Condições básicas para se produzir a voz e a fala
/\k'l11 disso, durante a defecação, às vezes, também fechamos a laringe 1.
pa l"é1
a uxiliar a expulsão do conteúdo dos intestinos. Para emitirmos a voz e a fala, nosso cérebro dispara o
A função de respiração da laringe e a função de selamento foram comando centré;1I,que chega em nossa laringe e nos
desenvolvidas na espécie humana ao longo da sua evolução, antes de a articuladores dos sons da fala através de nervos específicos
laringe passar a servir também para a produção da voz, o que é chama- 2. Inicialmente precisamos inspirar ar, ou seja, colocar o ar
do de função vocal. Portanto, não possuímos um aparelho específico
para dentro dos pulmões; para tanto, as pregas vocais
para produzir a voz. Usamos o ar da respiração como combustível para devem estar afastadas
o som; empregamos a laringe, órgão protetor dos pulmões, como motor
vibratório; e, finalmente, articulamos os sons com os lábios, a língua e a 3. Ao emitirmos a voz, as pregas vocais aproximam-se entre si,
mandíbula, que são estruturas que fazem parte do aparelho digestivo e
com tensão adequada, controlando e bloqueando a saída dl'
servem para mastigar e deglutir os alimentos. Desta forma, a voz, essa
ar dos pulmões
expressão tão importante do ser humano, empresta órgãos de outros
aparelhos na sua produção e é uma função superposta, de surgimento 4. O ar coloca em vibração as pregas vocais, que realizam ciclos
rt'cente na escala de evolução filogenética dos animais.
vibratórios que se repetem rapidamente; quanto mais agudo
Embora toda essa nossa explicação esteja focalizada no que acontece o som, mais rapidamente esses ciclos se repetem
na laringe quando se produz o som, o início desse processo está bem
distante, nas zonas motoras do cérebro. É nosso cérebro que vai coman- 5. As caixas de ressonância, principalmente a boca e a faringl',
dar todo o processo da entrada e saída do ar, do posicionamento e vibra- devem estar ajustadas para facilitar e amplificar a saída do
ção das pregas vocais e da produção encadeada dos sons da fala. som pela boca
Em resumo, para a produção da voz e da fala devemos obedecer a
uma série de no
atosQuadro
coordenados 6. . Dependendo do som da fala a ser emitido, os articuladores,
apresentada 1-1. pelo cérebro, que ocorrem na seqüência
ou seja, os lábios, a língua, a mandíbula e os dentes, devem
se posicionar de modo adequado

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