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“YVETTE VALENCA BATALHA Professora de Mésica. Bacharela em Dil, = . 4 ligées de analise e apreciacgao musical eh II — 0 SOM, O RITMO E O COMPASSO © som é ® matéria através da qual a arte musical se torna realidade. E ritmo, por assim dizer, dé forma ao som. O estudo de quanto diz respeito & simples produgio material do som ¢ do ritmo pertence ao campo da Fisica, que aprecia o fato musical na sua materialidade exterior. Actistica (vocdbulo de origem grega: acuo — ouco) é a parte da Fisica que tem por objeto o estudo dos sons. Dé-se 0 nome de som & sensagio que resulta da impresséo produzida no ouvido por um movimento vibratério exeitado num corpo elistico e transmitido ao ouvido por uma série ininterrupta de meios eldsticos (ou sejam os veiculos condutores através dos quais se propaga o som, por meio das ondas sonoras; com maior ‘ou menor rapidez, de conformidade com a natureza dos mesmos, que poder ser sélida, Iiquida ou gazosa; tal como a terra, a agua ou 0 espaco aéreo). Quanto maior fér a elasticidade do meio con- dutor, maior seré a velocidade do som. A sua propagagio ocorre por meio de movimentos que, partindo do corpo sonoro, se difun- dem em tOdas as diregées, em forma de circulos concéntricos, © piano, o violino e demais instrumentos de corda so cons- truidos s6bre caixas harménicas especialmente destinadas a refor- car nfo apenas um som isolado, mas ainda tedos os sons, dum modo téo uniforme quanto possivel, de maneira a obter a resso- nancia almejada, Nos instrumentos de sopro, que so verdadeiros tubos actisticos, o ar € 0 proprio corpo sonoro. Para que um som se torne perceptivel, portanto, trés elemen- © tos exteriores siio necess4ios: um corpo sonoro, um meio propulsor das vibracées e um meio transmissor. ‘© som toma o nome de som musical quando é possivel apre- ciar a sua altura e produz uma sensacio continua compreensivel © em geral agradavel; nao se confunde com o ruido, cuja. sensagio & a4 € 0 resultado duma mistura de sons desordenados, confusos e dis- cordantes (como o ruido do mar, dum carro de rodas de ferro sobre paralelepipedos, ete. ); nem com o estrondo, que é um som forte e instanténeo, como 0 trovéo e os choques em geral, dos quais ndo se pode apreciar a altura, ‘Todo corpo que emite som denomina-se corpo sonoro. Assim, cada instrumento musical é um corpo sonoro e nos sons que emi. tem se distinguem quatro caracteristicos: duracio, intensidade, altura e timbre. A duracao do som esta na razdo direta da duracdo das vibra- $6es, isto é: quanto mais demoradas forem estas, tanto maior seré # sua duracdo; dai a existéneia de sons curtos ou prolongados A intensidade depende da amplitude das vibracies, ou seja: tanto maior seré, quanto maior for a sua amplitude; tome-se uma cord retezada de um instrumento musical e experimente-se: um toque suave provocaré uma pequena vibracéo, resultando um som fraco; um toque enérgico produziré vibracéo ampla, dando um som intenso. Altura € 0 que define o som musical, através da freqliéncia de vibragdes do corpo: sonoro emitente; quanto mais numerosas fo. rem as vibragGes, mais agudo seré o som; esta qualidade, particn- Jarmente importante, permite a distinedo entre um som agudo e um som grave, um grave de um menos grave, e assim sucessiva- mente; indica, portanto, a posiedo dos sons na escala natural O timbre é a peculiaridade do som, que permite 2 identifica— so auditiva do instrumento que o emite; & por assim dizer, a cbr do som. Sabemos distinguir perfeitamente, gracas ao timbre e s6 Pelo ouvido, um trecho musical executado ao plano, de um que © foi a0 violino ou por instrumento de sépro, ete Nem todos os sons, porém, siio perceptiveis ao ouvido humano, que esta habilitado a captar apenas o mimero de vibracdes dos Corpos sonoros até um certo limite, (Da matéria que interessa a © éste assunto, trataremos no capitulo VIII). =i © ritmo, conforme dissemos, imprime & matéria sonora uma forma determinada e conereta, que confere & musica um sentido que a torna inteligivel. Numerosas séo as definicées, a partir da Grécia antiga, que nos dio o conceito de ritmo. Vale lembrar aqui, tao somente, que o ritmo, tomado em sentido amplo, 6 uma nocio de ordem geral e natural, intuitiva e fisiolégica, que antecede a vontade consciente do homem. Tudo é ritmo na natureza: ha ritmo no andar, no respirar, no falar; 0 organismo humano é mantido por um ritmo constante: da atividade cardiaca e da funcéo res- piratéria; h4 ritmo nos movimentos de rotaciia e translacéo da terra e, bem assim, no fluxo e refluxo das marés. Ritmo ¢ ordem no tempo ou no espago, é ordem e equilibrio no movimento. Implica alternaciio entre atividade e repouso, acéio e reacdo. No ritmo esté implicita a periodicidade e 0 isocronismo dos tempos ou acentos (as pulsagées sfo a sua demonstracéo pratica). © ritmo musical constitui um verdadeiro movimento regula- mentado e disciplinado; é o movimento inteligivel, dentro de deter- minadas subdivis6es do tempo. & a disposi¢io ordenada dos sons, dentro de formas préviamente estabelecidas. Entre os gregos, era o ritmo o elemento primordial da miisica, a qual ocupava lugar de destaque entre as artes. Dispunham éles de vasta nomenclatura para distinguir os diferentes ritmos entre si, a ponto de Ihes permitir identificar, s6 pela denominacdo, 0 género estético a que pertencia cada composic&o. Ainda hoje, o ritmo é um dos fatores mais importantes da construcéo musical. Sem conhecimentos precisos das bases ritmicas, impossivel se torna frasear, acentuar e interpretar corretamente qualquer obra musical. Constituindo a parte de ritmo objeto de estudo algo elemen- tar na disciplina de Teoria Musical e Solfejo, pareceu-nos conve- niente incluir aqui algumas noc6es mais completas a respeito do assunto, conforme segu Ritmo e compasso sio duas expressdes inteiramente indepen- dentes entre si, conservando entretanto relacdes intimas. Se o ritmo implica numa subdivisio ordenada do tempo, desde logo estabelecendo uma diferenca, nitida entre a duracdo breve e a du- ragio longa, 0 compasso marca a respectiva fragmentacao perié- dica, tornando-a forte ou fraca. A duracdo breve d& idéia de um tier inicio, de um ponto de partida, de um primeiro impulso do movi- mento; e como todo esférco tende a durar pouco, explica-se o seu arater de brevidade; dai a sua denominacdo — “arsis” (de origem grega, significando elevacao). A duracéo longa se assemelha a um repouso, uma terminacdo proviséria ou definitiva, tendendo portanto a se prolongar; dai a sua denominacio — “tésis” (também de origem grega, significando deposi¢o) (Convém aqui esclarecer que freqiientemente ésses térmos, arsis ¢ tésis, foram usados pelos te6ricos gregos e latinos em sentido contrario ao seu verdadeiro significado) Por férca de lei natural, todo movimento é constituido por duas fases inseparaveis: a inicial (ou impulso) e a final (ou repou- so), representando dois tempos de um movimento tinico e indivi- sivel. Surge dai o ritmo mais simples, que é 0 binario, baseado sObre dois movimentos de igual duraco :um de impulso (fraco — arsis) e outro de repouso (forte — tésis). O ritmo bindrio nos 4a exemplo de um movimento indiferente das tendéncias préprias do impulso e do repouso. Exemplo: Impulse Repouso (frace | forte Entretanto, o movimento pode apresentar suas fases de acérdo com as préprias tendéncias, ou seja, 0 repouso representar o débro do valor do impulso. E teremos entao o ritmo ternério.) Exemplo: Tmpslso Pepouso Le Assim igualmente as tendéncias podem ser contrariadas e 0 impulso apresentar valor maior que 0 repouso.

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