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1 Os Degeaus da Escalada Uma Metdjora Dit ‘Ao tratar dos aspectos coercivos das relages inter nacionais, ste estudo analisa um espectro de crises in- ternacionais ¢ uma selegio de mecanismos para lidar com ¢las, Focalizard a atengfio no uso e no abuso de taticas e estratégias de escalada, em vez de considerar um conflita ininterrupto num determinado grau. O es- tudo niio se ocupara de todos os aspectos da escalada, mas enfocarf a metafora dos degraus da escalada, um instrumento metodologico que apresenta uma lista con- veniente das varias opces de um estrategista num con- fronto bilateral e que facilita 0 exame do desenvolvimen- to e do retardamento de crises. Mais importante ainda, a metéfora dos degraus mostra qu yuitos caminhos Felativamiénte” Gontintios entre uma crise dé Grdem_se- cundiria ¢ uma guerra total, dos quais nenhuni tem de ser necessiiria ¢ inexoraveliiente-seguidy,—————"~ —Aermetiforas, niatiiralmente, podem ser falazes. O estudo dos degraus deve estender e estimular a imagina- 73 A ESCALADA do, em ver de a limitar, Por isso, nao ctitico os analistas gue gostam de usar de mais nuangas ¢ complexidades, mas estou certo de que, salvo em casos especiais ou em situagées especificas, néo devem narmalmente tentar fazé-lo com algumas. Naturalmente, os lideres ¢ seus assessores imediatos podem ndo precisar considerar um grande mimero de alternativas em casos especiais e em situagdes especificas Podethes parecer perfettamente satisfat6rio tratar de um nimero simples e limitado de opgées, mas, salvo nesses ‘casos especiais ou nessas situacées especificas, & impor- tante ter consciéncia de uma vasta gama de possibilidades © consideracSes. Como sempre, isso torna o trabalho do analista e do planejador mais dificil do que o do lider numa crise, que trata do especial e do especifico ¢ que niio esti mais embaragado pelo sentimento de descrenca @ de incredulidade. Dai, poder um lider, numa crise, criar ou produzir fécll e rapidamente o que em tempos normais pareceria, tanto para o académico como para 0 leigo, hipotético, irreal, complexo ou, de qualquer ma- nelra, dificil. © Quadro 2 apresenta os degraus de uma escalada, luma disposiggo linear de niveis mais ou menos crescentes de intensidade da crise, Essa escada apresenta uma pro- sressiio de degraus que equivale, mal® Oi menos, a Uina ordem ascendente de intensid ve 1a determinada crise pode evolufr. Todo degrau é conside- rado como” tim arquétipo” que pode servir de modélo:e contexto para o estudo de uma certa espécie de crises internacionais. As_erises especificas nessa. classe no. seguem necessiFiamenté “una” progréssio gradativa e podeni nao it thuito longe, mas os degraiis|da escaladia Provéem uma éstrutura util para 6 estudo sistematico dis possibilidades, tanto realizadas como nao realizadas, 74 HERMAN KARN Gostaria de ressaltar ainda que os degraus da escala- da so instrumentos metaféricos que se tém revelado titeis em estudos preliminares de escalada. Nenhum de- grau particular deve ‘ser considerado como sendo uma teoria de relagies internacionais, embora possa ser um. fragmento dessa teoria. Sua utilidade deriva em parte de sua provisdo de uma lista conveniente de algumas das ‘opgées disponiveis, e em parte de sua disposicao de ati dades de escalada num modo que facilita a andlise e o estudo. Os degraus da escalada podem ser usados, também, para estabelecer um contexto para o estudo de escaladas. em térmos de regides da escada, degraus acima ¢ degraus abaixo, e assim por diante. O conceito de uma escada é particularmente itil quando procuamos examinar as in- ter-relag6es entre as duas séries fundamentais de elemen- tos em qualquer situagao de escalada — aquéles relacio- nados com uma particular regifio da escada e aquéles relacionados com a din’mica do movimento para cima e para baixo na escada. Deixaremos 0 estudo detalbado do valor désse ins- trumento metodolégico ¢ de alguns de seus perigos para 5 capitulos posterlores, observando aqui simplesmente que nem a escada particular descrita nem 0 conceita de escada devem ser tomados de modo excessivamente libe- ral. A ordem dos degraus nfo deve ser considerada como fixa, uma._yez_que..na, priitic elreunstincias de qual- uci excalada particular podem provocar tiudangas Seen icativas 6, ‘também “necessidadé ” inexorvel_de subir_a. —.degraupor_degrau. “Algumas crises podem descer como subir, ¢ até pulat os degraus, Em suma, a escada é concebide apenas para descrever uma classe de situagées, e isso de um determinado ponto-de- vista, Mais importante talvez, a escada indica que ha 75 ‘A ESCALADA Quadro 2 OS DEGRAUS DE UMA ESCALADA Um Cenirio Generalizado (ou Absteato) Guerras Centrais Ciuls Guerras Centrais aiiltares Atagues Centrais Exemplares CONSEQUANCIAS 44. Guerra de espasmo out insensata 43, Algumas outras espécies de guerra geral controlada 42. Ataque de devastacio civil 41. Ataque de desarmamento ampliado 40. Ataque conteavalor 39. Guerra contra cidades em cimara lenta (Gimiar do Ataque a Cidades) 38. Ataque imoderado de contraforca 37. Ataque de contraforga com poupanga 96. Ataque limitado de dosarmamento 95. Ataque umitado de redugio de fora 34, Guerra “de contraforea em ctmara jenta 93. Guerra contra a “propriedade” em camara lenta 32. Declaracdo formal de guerra “geral” Climiar da Guerra Central) 81. Represillas reefprocas 80. Evseuario completa (Cérea de 95 por 29. Ataques exemplares a papulacio 28. Ataques exemplares contra a proprie- aade 27. Ataque exemplar a objetivos militares 26. Ataque do demonstragdo a uma zona do interior (Limiar da Zona Isenta Central) 76 Crises Extravagantes flere Crises Tntensas Crises Tradiotonais Condueto de ‘Suberises EBS SB BERMAN KARN - Evacuagie (Cérea de 70 por-cento) ; Contramedidas insélitas, “provocadoras significativas Guerra nuclear local — Militar Declaragio de guerra nuclear limitada Guerra nuclear local — Exemplar (imiar da Abstencio Nuclear) |. Bloqueto ou embargo “pacifico” de Ambito mundial Ataque de contraforya “Justifictvel” Enfbigao ou demonsizacao de forca racuagfo limitada (Clren de 20 por conto’ . “Ultimates” nucleares * Guerca quase nuclear Declaragdo de guerra convencional 1 miltada . Grande esealada mista ; Grande guerra convencional (ag6es) Estado de superprontido ; Rompimento ostensivo de xelagies di- plomaticas, (imiar da Guerra Nuclear € Inconcebivel) |. Draméticos confrontos militares : Atos violentos de hostilidade { Hositidades “legals” — Represilias ) Mobilizardo significativa Exibicdo de férca + Hnrllamento de posledes — Confton- toe de yontades (imiar de Ndo Balance 0 Barco) genes 3, Declaragdes solenes ¢ formats 2! Medidas politicas, econémicas © diplo- miticas 1. Crise ostensiva DESENTENDIMENTO — GUERRA FRIA 77 A BSCALADA muitos caminhos relativamente continuos entre uma crise de baixo nivel e uma guerra total — caminhos que nao so inexoréveis em todo tempo e lugar, e, mais ainda, gue poderiam ser atravessados. ‘A escada particular que usaremos tem quarenta quatro degraus. limitada por um estrado de pré-esca- Jada chamada “Desentendimento — Guerra Fria", e por um plano de pés-escalada chamado “Conseqiiéneias”, Me- todoldgicamente, a escada pode ser considerada como um cradle de sequencla que -estabelece J ligacao dos désen- tendimientos'da subctise ou incidentes da gustra-trla-com alguma.espécie de_consequéncia. Qs quarenta ¢ quatro degraus da escada foram agra- pados eitr sete umtdidés (que Incluemt varlados mtitieros de degraus' 1. Manipulagdo de subcrises 2. Crises tradicionais, 3. Crises intensas, 4. Crises extravagantes 5. Ataques centrais exemplares. 6. Guerras centrais militares. 7. Guerras centrais civis Esses sete grupos distinguem-se uns dos outros no grifico por seis espagos que representam “acciros” (me- téforas mistas), ou limiares, em que se realizam mudan- cay muito acentuadas no cardter da esealada. Os seis lt milares bastcos sao: Nio balance o barco, A guerra nuclear é inconcebivel. Abstengiio nuclear. Zona central isenta. Guerra central, 6. Atagues a cidades. 78 aaewe HERMAN KAHN Estudarei os limiares do mesmo modo como os de- greus, uma ver que sio igualmente importantes. * Outra metéfora téo util como a da escada seria a @e um elevador parando em varios andares. Po imiaginar uma situagao de escalada tipica entre os EUA ew CURSS em témos~de-um-grande-magazine-de- sete andare3,“cada~umoferecentio varias. opcoes de~variada Jntensidade, mas SOnipie apropiadas-Sauele andar, entre “ont lado" oa” id os qitais os Tiaeres™ 5a ‘A Descrigao dos Degraus ¢ dos Limiares © estudo seguinte proveré, com efeito, um sumério de todo 0 livro, introduzindo 0 vocabulario ¢ 0s conceitos mais importantes, Depois disso, poderei referir-me mais facilmente & vasta gama de consideragdes. Neste capftulo, ndo procurerei complementar muitas das motivagées ¢ muitos contextos para o esttdo dessas quarenta e quatro copeées; o leitor é convidado a suspender seu jufzo até que tenha alcangado o estudo mais sistemAtico nos capitulos posteriores. MANIPULACAO DE SUBCRISES: Néo nos ocupamos ‘aqui das manobras cotidianas que nao aumentam a possi- bilidade de uma escalada, mas sbmente daquelas que manipulam, deliberadamente on no, 0 méda da esealaca ou da crupedo. Ser4 uma de minhas teses que por mais reémotos ou médios ou superfores que possam parecer 0s degraus da escalada, podem, muttas vézes, lancar uma Joniga sombra diante de si e influenciar grandemente fatos muito abaixo do limiar da violéncia ou mesmo abaixo daquele ponto de um conflito em que é felta a ameaca explicita da violéncia. 79 ‘A ESCALADA Degrau 1. Crise ostensiva. Nessa fase, a linguagem de crise € usada, mas com certo grau de ostentacao. Um ou outro Jado — ou ambos — afirma, mais ou menos franca e explicitamente, mas sem muita convicefo, que galgariio os degraus da escalada se a questo ndo fér ime- diatamente resolvida. Degraw 2. Atitudes politicas, econdmicas e diploma- teas. Atos legais, mas incOmodos, injustos, inamistosos, Aescorteses, infquos ou ameagadores so executados con- tra 0 advers4rio para punir, pressionar ou transmitir men- sagens. Se tiverem um cardter demasiadamente hostil, ésses atos sfio chamados “represilias” (ver degrau 7). Degrau 3. Declaragdes solenes ¢ formais. Sao atos puramente verbais, mas explicitamente solenes e formais, para demonstrar deciséo ¢ compromisso. Podem ser em forma de resolucGes legislativas, de pronunciamentos formais do executivo, de notas diplomiticas, ou de decla- rages outras muito claras ¢ dbviamente sérias. Essa re- solucao ou proclamagao pode ser uma simples comunica- ‘eo a outras nagdes de uma politica adotada em certa rea geogréfica ou em outra, ou pode-se referir mais retamente a um conflito ou disputa. Pode ser considera- a, muitas vézes, como uma escalada preventiva ou de preempefio que procura anteciparse a escalada do advessatio. CRISES TRADICIONAIS (0 BARCO ESTA EM PERIGO): Num equilfbrio termonuclear de terror, ambas as nagdes relutario em comegar uma crise que pudesse evoluir, tal- vex por inadverténcia, escapando possivelmente a0 con trole e resultando numa guerra total. H4, portanto, uma tendéncla de nfo deixar mesmo surgir uma crise de baixo 80 HERMAN KAHN nivel — uma repressiio para nfo ‘balangar 0 barco nuclear. ‘ Degrau 4. Enrijecimento de posigdes — Confronto de vontades. Quando a situagio se torna’coerciva em vex de contratual, os antagonistas procuram muitas vézes aumentar a credibilidade de seus compromissos por meio de atos irrevogéveis, um aumento deliberado dos riscos, talvez uma jungfo de varios problemas com a deliberada finalidade de tornar mais dificil ao outro lado de acreditar no possivel recuo. Degrau 5. Exibigdo de férga.- Um lado ou 0 outro pode deixar perceber, ou mesmo fazer ver’ claramente, que a violéncia & “concebivel”. Se isso é.demonstrado por atos em vez de por palavras, teremos 0 caso da “exibigao” de forca. Degraw 6. Mobitizagao significativa. O acompanha- mento de uma demonstracio de forca por uma modesta mobilizagdo que nao s6 aumenta a forca do exibidor, mas indica também uma disposigio de ampliar a mobilizagto e acelerar a corrida armamentista, se necessario. Degrau 7. Hostilidades “legais” — Represdlias. Pode- se hostilizar legalmente o prestfgio, 2 propriedade do adversirio, ou 0 seu povo. Quer dizer, pode-se agir de modo muito hostile provocador, mas dentro dos limites da lei internacional. (Pearan 2, Hos violentos de hostilidade. Se a crise nid-elogd resolvida, atos de violéncia mais ou menos ile- gais, ou outros incidentes destinados a hostilizar, confun- dir, exaurir, violar, desacreditar, amedrontar, ¢ de outro modo prejudicar, enfraquecer ou desmoralizar 0 adver- sério ou seus aliados e amigos, podem. ser desfechados 81 A ESCALADA através de canais clandestinos ou: nfo imputados, ou atra- vés de limitados érgfios paramilitares ou outros 6rgios not6rios. Coe romas confrontos militares. Se houver uma”confronti¢io que pareca ser um duro teste de ner- ‘vos, compromisso, decisao ou temeridade, todos os partici- pantes e observadores serdo tomados de grande interésse pelo processo. CRISES INTENSAS (A INCONCEBIVEL GUERRA NUCLEAR TORNA-SE VEROSSIMIL): Exatamente onde ocorre ésse limiar, éle 6 variavel e depende muito de um ‘curso especffico de acontecimentos, mas em algum ponto a “incredulidade nuclear”* de que todos nés participamos, pode ser abruptamente diminuida, se nfo eliminada. A sensaco popular de seguranca acaba ou é abalada ¢ as reservas nucleares “irreais” e “hipotéticas” podem ser sibi-, tamente percebidas como ameacas reais. Essa mudanga nao vird de uma vez e pode néo ser extrema, mas pode ocorrer numa to grande extenso, que uma porcentagem da populagao e a maioria dos Iideres encara, sériamente, a possibilidade de ser deflagrada uma guerra nuclear. Degrau 10, Rompimento acintoso de telacdes diplo- médticas. Com @sse ato, pretender-seia comunicar a0 adversirio que a confianca nas tradicionais medidas pa- cfficas de persuasio ou de cocreao esta chegando a um fim e que atos de forca podem agora substitui-la, Degrau 11. Estado de superprontidao. Colocar forgas militares em estado de superprontiddo envolve automa- ticamente perigos e despesas. Caso contrario, estariamos fazendo esas coisas normalmente. Qo * Frase de Raymond Aron. 82 HERMAN KAHN Degraw 12. Guerra (ou agdes) convencionais. Poder ocorrer baixas nesses atos — um importante agravamen- to da crise. Mas, mesmo que essas disputas atinjam 0 grau de uma luta aberta e continuada, nenhum lado lan- ard mio de suas armas de “qualidade” on “mais eficien- tes” — as armas nucleares, bacteriol6gicas ou quimicas — a menos que pretenda ir muito além na escalada. Degraw 13. Grande escalada mista, Um lado pode demonstrar sua decisdo reagindo a escalada de um adver- sdrio com ages que suscitam questées nfio envolvidas no conflito original — situando uma ameaga numa nova rea. Degrat 14, Declaragio de uma guerra convencional limitada, Uma declaragdo de uma guerra convencional limitada seria uma tentativa para conseguir um dos se- guintes objetivos, ou ambos: dar ao inimigo um incentivo para reciprocar fazendo uma declaracio taxativa, unila- teral de que “nfo usar primeiro armas nucleares”; Umi- tar a guerra convencional geogrificamente ou de outro modo considerado 0 mais favordvel ou estavel pelo lado que faz a declaraco, Além disso, uma declaragao désse géneto terla graves efeitos simbélicos, politicos ¢ morais sobre a nagdo declarante ¢ sobre o adversdrio, Degrau 15. Guerra quase nuclear, Durante uma aco belicosa convencional (Degrau 12), ou durante 0 estado de superprontidao (Degrau 11), uma ou mais armas nucleares podem ser usadas involuntariamente (por acidente ot sem autorizagfio). Ou um dos antagonis- tas pode fazer uso militar ou politico de uma arma nuclear, mas procurando dar a fmpressdo de que 0 uso foi involuntirio. 83 4 ESCALADA Degraw 16, “Ultimatos” nucleares. Haja ou no uma guerra convencional ou uma guerra quase nuclear, a crise pode atingir um estagio de tanta intensidade, que 0 esta- do de uma incredulidade nuclear ndo seria simplesmente enfraquecido, mas desapareceria por completo. Isso pode ocorrer quando um Jado ou outro considerasse a possi- bilidade de uma guerra central e comunicasse ésse fato de modo convincente a seu adversério, Degrau 17. Evacuacdo limitada (cérea de 20 por- cento). Essa iniciativa pelo menos quase oficial seria mais provavelmente tomada por um govémo como obje- tivos prudenciais ou como elemento de negociagao, ow ambas as coisas. As dificuldades, possiveis reagdes piblicas e politicas, tornam essa evacuagdo uma impor- tante decisfo cujas consegiiéncias nfo se poderiam pre- dizer com seguranga. Incluiria também, nesse degrau, sérios esforgos de um lado ou de ambos nos preparativos de uma evacuacdo em grande escala e na improvisagio da defesa. Degrau 18. Exibigio espetacular ou demonstragao de férca, Uma exibicéo espetacular ou uma demonstra- fo de forca envolveria 0 uso de importantes armas de modo a ndo causar danos, mas que parecessem certeiras, ameacadoras ou impiedosas. A finalidade seria punir © adversério com um ato anterior, ou puni-lo por preempodo, por um ato antecipado (com a intengdo de ‘estabelecer um precedente para conter provocagdes poste- tlores), ou intensificar 0 médo da guerra na esperanca de assustar 0 inimigo e obrigé-lo a recuar. ‘Degran 79 Ataque de contraforca “justificdvel”. Um atague ivel” seria suficientemente limitado ¢ es- 84 HERMAN KATIN pectalizado para parecer uma reagao razofvel a uma pro- yocagio ¢, nio obstante, poderia desgastar significativa- mente, ou mesmo decisivamente, a potencialidade mili- tar, o prestigio ou o moral do adversario, Degraw 80) Embargo ou bloqueio “pacifico” de ambito eria’ uma medida extrema de coergio ndo vio- Jenta levantada contra um adversério, E mais escalatério do que 0s degraus anteriores por causa de sua natureza continua, CRISES EXTRAVAGANTES (USO DE ARMAS NUCLEA- RES): Até aul, embora a incredulidade nuclear tivesse sido abalada, as armas nucleares no foram ainda usadas de modo extensive, Mesmo se tivesse ocorrido uma guerra quase nuclear, provavelmente teria sido aceita como um acidente eu um episédio limitado, e até uma demonstra: Go de forga nuclear ou um “justificével” ataque de con- traforca poderia ter sido compreendido como uma agdo limitada em vez de como uma sérla guerra nuclear, Pas- samos agora a0 que muitos consideram como uma série inteiramente extravagante de possibilidades, uso limi- tado e restrito de armas nucleares. Degrau 21. Guerra nuclear local — Exemplar. Quase todo analista concorda em que — com a posstvel exce¢io das téticas tipicas do Degrau 19 0 primeiro uso de armas nucleares mesmo contra objetivos militares — provavel- mente visa menos & destruicdo de fércas militares do adversério ou. obstrugio de suas operagées do que obje- tivos de desagravo, adverténcia, negociagio, puni¢io ou intimidacdo. Como se trataria do primeiro uso inequivo- camente deliberado dessas armas nucleares desde a IT 85 A ESCALADA, Guerra Mundial, seria um ato de conseqiiéncias imprevi- siveis, mesmo se muito limitado e especializado. Degrau 22. Declaragto de guerra nuclear limitada, ‘Nesse ponto, poder-se-ia achar conveniente fazer uma de- clavago formal de uma guerra nuclear limitada — talvez na esperanga de estabelecer limites relativamente exatos € perspectivas dos tipos de ago nuclear que o declarante pretendesse iniciar e estivesse disposto a receber do ini- ‘migo, sem ir mais adiante na escalada. Degraw 23. Guerra miclear local — Militar. tam- bém possivel que armas mucleares pudessem ser usadas numa situago local para finalidades militares tradicio- nais, como defesa, contestagilo, destruicio, ou desgaste da potencialidade do adversério, e assim por diante, e © que, dentro dos limites estabelecidos, a escala e a obje- tivagao seriam, ou deveriam ser, ditadas por consideragdeg, inteframente militares e “taticas”. Degrau 24. Contramedidas insélitas, provocadoras e significativas. Um lado poderia executar aces militares ou manobras que teriam o efeito de alterar 0 equilibrio de forca aumentando a vulnerabilidade do adversitio a um ataque ou desgastando de outro modo sua potencia- lidade, moral ou, vontade. Degraw 25. Evacuacdo (cérea de 70 por.cento). Nesse ponto, a sitiiucio-pode-estar muito proxiia de urha guerra em larga eseala. Pode parecer aconselhdvel evacuar um grande niimero de pessoas das cidades. O total a evacuar chegaria possivelmente a dois tergos ou a trés quartos da populagdo — mulheres ¢ criangas e aquéles homens que nao fossem indispensdveis & vida das cidades. A meu ver, tddas as indistrias importantes, comunicagées, meios de 86 ‘HERMAN KAHN transporte etc. poderiam ser operados por cérea de um quarto da populagdo ou menos. ATAQUES CENTRAIS EXEMPLARES (VIOLACAO DA ZONA CENTRAL ISENTA — DIPLOMACIA DA CA- NHONEIRA NUCLEAR): Os ataques que evitam a zona interior do inimigo observam um limiar proeminente: aguéle que divide as categorias de “patria” e “ndo-patria’ Cruzar ésse limiar seria abrir 0 caminho para uma vio- Jéncia em larga escala. Degrau 26. Ataque de demonstragtio @ uma zona do interior. Um ataque “inofensivo” (talvez. a um pico isolado ou a um deserto) que cause um dramitico-e inequivoco dano fisico, embora s6 & topogratia, Degran 27. Ataque exemplar a objetivos militares. Um lado poderia comegar a destruir partes dos sistemas de armas do adversério, mas com certo cuidado, para nio causar muito dano colateral. fsses ataques poderiam ser desfechados principalmente para exercer pressio psi- colégica ou reduzir a potencialidade militar do defensor, atingindo objetivos-chave. Degrau 28, Ataques exemplares contra a proprie- dade. A etapa seguinte seria evidentemente aumentar 0 ‘gra désses limitados ataques estratégicos. Uma possi- ilidade seria atacar instalagdes dispendiosas como pon- tes, barragens on nsinas de difustio de gases* Mais da- nificadores © perigosos seriam ataques.limitados a cida- des, provivelmente depois de feita a adverténcia e de evacuadas as cidades; a finalidade seria destruir proprie- dades ¢ nfo pessoas. Nido T, Sistema biésico de um método de separagio de Is6topos. 87 A ESCALADA Degrau 29. Ataques exemplares sobre @ populagio. ‘Em t6da crise dos meados da década de 1960, ésse ataque possivelmente seria muito mais intenso do que faco cons- tar neste degrau, mas se 0 equilfbrio do terror se tornar suficientemente estavel ¢ 05 governos se acreditarem sob intensas ¢ gradativas intimidagGes midtuas, até ésse ata- que poderia ocorrer sem uma erupgio de espasmo ou de outra guerra central. Degran 80. Evacuagdo completa (cérca de 95 por- cento). Mas nesse ponto, uma guerra em larga escala jd comecou ou esté iminente. Se possivel, cada lado pro- ‘curaré provivelmente evacuar sas cidades quase com- pletamente, deixando cérca de S a 10 por-cento da popu- Jaco urbana para as atividades essenciais. Degrau 81, Represdlias reciprocas. B uma guerra quase de simples capticho, com trocas mais ou menos con- tinuas de represdlias, quer sejam limitadas a ataques pu- ramente simbélicos, quer a ataques exemplares mais des- truldores. Muitos estrategistas acreditam que as guerras de represdlias reciptocas — “capricho contra capricho” — poderiam ser no futuro uma titica-padrao, quando 0 equilibrio do terror for considerado, com fundamento ou nio, como quase absoluto, ou quando, por causa da invul- nerabilidade estratégica, ndo se apresentar a governantes desesperados ou aventureiros nenhuma outra alternativa. GUERRAS CENTRAIS MILITARES (A “NOVA” ESPECIE DE GUERRA CENTRAL): Dois grupos de degraus de guerra central esto ackma do limiar tradicional entre guerra e paz (uma distinco tem sido obliterada par novos desenvolvimentos). Em guerras centrais militares, as autoridades militares, ou comandantes-chefes, tém acesso a todos 0s recursos da nacfio, embara sua intencao seja 88 ERMAN KAHN utilizar téticas que evitem ou limnitem danos & populagio civil do edversario. Degrau 92, Declaragiio formal de guerra “geral’. Uma possibilidade esotérica, quase completamente esque- cida num planejemento de defesa moderno, é que um lado reagiré & provocacdo com uma declaragio formal de guerra, mas sem atos imediatos de violéncia em larga escala. Um ultimato, ou uma declarago de guerra, po- deria, como na I Guerra Mundial, ser seguida de um periodo de “guerra de mentira”, em que havia alguma hhostilidade limitada e titica, mas no grandes investidas. ‘Degrau 33. Guerra contra a “propriedade” em camara enia, 'Nesse ataque cada lado destr6i a propriedade num fitmo de golpe contra golpe. Referimo-nos, as vézes, 2 isso como “guerra de capricho", uma vez que cada lado esté procwrando forgar 0 outro a recuar e hd ume evidente competigéo de capricho contra capricho, Se as trocas forem em mimero-pequeno e com finalidades limi- tadas, chamit-las-emos de “represdlias recfprocas” (ver Degrau 31). Degrau 34. Guerra de contraforga em camara lenta. uma campanha (que poderia preceder ou seguir um grande ataque de contraforca) em que cada lado procura, desgastar a0 maximo os sistemas de defesa do adversério. Podemos imaginar uma guerra de contraforca em cimara Jenta, decorrendo semanas ¢ meses, em que submarinos Polaris sto perseguidos, mfsseis escondidos sio descober- tos, bases terrestres destrufdas etc. Degrax 85. Ataque limitado de redugio de férga. O atacante tenta destruir uma parte importante, ainda que pequena, da forga do defensor num tnico golpe, embora 89 ‘A ESCALADA evite inconvenientes danos colaterais. & um ataque sus- ceptivel de ocorrer na ecloséo de uma guerra, contra se- tores fracos ou alvos de influncia, Degrau 36. Ataque limitado de desarmamento. Um dos principais argumentos para o ataque de contraforca com poupanga (ver Degrau 37) € que ndo se perde muito em célculos' militares estritos, e que com a populacio poupada, é aumentada imensamente a possibilidade do éxito de uma chantagern depois do ataque. No ataque limitado de desarmamento, pode ser seguida a mesma légica. Tremendas desvantagens militares poderiam ser aceitas para poupar 0 povo e melhorar as possibilidades de uma negociacdo proveitosa, a fim de situar a guerra numa base aceitivel. Nesse ataque, o atacante procura destruir uma parte significante das forgas de primeiro ataque do defensor e até parte de suas fércas de segundo ataque, evitando, porém, tanto quanto possivel, atingirs civis. Isso poderia tornar desvantajoso para o defensor Jangar um contra-ataque, uma vez que suas férgas dani- ficadas s6 poderiam estar parclalmente eficlentes, mesmo visando a um objetivo de contravalor, a0 passo que o atacante poderia desfechar um segundo golpe aniquilador contra @ populagdo inimiga com suas forgas conservadas © reagrupadas, Degrau 87. Ataque de contraforga com poupanca. Esse ataque difere de um ataque limitado de desarma- mento por ser menos escrupuloso na poupanga de danos colaterais As cidades e nfo poupar deliberadamente gran- de parte, ow nenhuma parte, das férgas do segundo es- calfio do inimigo. Esse ataque de contraforca visa a tudo que ndo envolve maior dano colateral aos civis. No caso de um golpe soviético contra os Estados Unidos, ésse 90 ences HERMAN KAHN ataque incluiria provavelmente um ataque a Tucson (uma cidade de 250 mil habitantes, completamente cercada de ‘Titds), mas evitaria provavelmente a Base Naval de San Diego, 0 Estaletxo Naval de Norfolk e 0 Pentagono em Washington. Se atingisse ésses objetivos, ou as bases do SAC*, perto das grandes cidades, poderiam ser usadas armas de 20 quilotons em vez de 20 megatons, para limi- tar os efeitos colaterais. Depots désse ataque, poder-se-ia supor um contra-ataque, mas poderia ser tentado ainda ‘© uso contracontra-ameacas dé mais escalada numa guerra de contravalor, para limitar a reagio do defensor. Degrau 38. Ataque tmoderado de contraforca. Nesse caso, nenhuma diminuicéo do ataque de contraforca é aceita para poupar civis, mas nao hé um propésito deli- berado de aumentar o$ danos colaterais como “boni- ficagées”. GUERRAS CENTRAIS CIVIS (VIOLAGAO DO LIMIAR DE “CIDADE, NAO”): © exemplo de bombardeio estra- tégico de cidades, na II Guerra Mundial, ficou téo arraiga- do na mente de muitas pessoas como uma agdo “adequa- da", que ndo podem visualizar uma grande guerra estra- tégica cm que as cidades no sejam objetivos prioritérios. Nio obstante, as guerras nucleases tendem a ser curtas, podendo durar de algumas horas a, no maximo, uns dois meses. Numa guerra désse tipo, é improvével que as cidarles féssem em si mesmas de grande importincia mi- litar: as fabricas no terlam tempo para produzir armas; milhdes de homens ndo seriam recrutados ¢ treinados; provavelmente, ndo haveria eleigdes em que os temores ‘ou 0 sofrimento da populaco civil pudessem gerar pres- s6es diretas na mudanga de politicas nacionais estabe- ¥ Strategic Air Command (Comando Aéreo Estratégico). OL A ESCALADA lecidas, Désse modo, as cidades nao sio mais alvos mili- tares prloritérios; podem ser destruidas numa guerra es- tratégica, mas nao ha motivo militar para fazé-1o, ou para fazélo to rapidamente. As populacdes, naturalmente, podem ser evacuadas, mas os edificios nfo podem, e é improvavel que um lado ou outro se sentisse t4o forte- mente motivado a destruir civis no infcio de uma guerra, que atacarla para prevenir essa evacuacio. Nada do que foi dito acima é nessiriamente bem compreendido pelos governos ¢ planejadores de guerra de ambos os Iados, Se um lado ou o outro resolver ir & guerra, poderd, simplesmente por essa falta de ponde- rago, atacar as cidades. Naturalmente, os Estados Uni- dos tém anunciado mais ou menos formalmente a estra- tégia de “cidades, no, a nfo ser por represilias”, mas essa cstratégia no € amplamente compreendida’ nem muito firmemente assentada. E resta ainda o fato de que se uma repress devesse ser feita durante a guerra, ou se uma “negociaeao” parecesse exigila, as cidades poderiam ser atingidas de qualquer maneira. Degrau 39. Guerra contra cidades em camara lenta. Uma guerra de capricho (ver Degrau 33) levada até a ‘ultima forma — “irafico de cidades”. Degrau 40. Ataque de contravalor. Naturalmente, numa luta é sempre possivel um ataque de contraforga, de contravalor em camara Jenta, ou outra espécie de guerra, em que um lado desteche um grande nimero de mnisseis contra civis, numa erupedo inadvertida ou deli- berada, _ Degrau 41. Ataque intensificado de desarmamento. Seria um ataque de contraforca deliberadamente modera- 92 HERMAN KAHN do para obter como uma “bonificagdo” tanto dano de con- ‘travalor colateral quanto pudesse ser conseguido, sem des- viar significativos recursos dos alvos militares. Degrau 42. Ataque de devastagao civil. Um estorco para destruir ou danificar gravemente a sociedade do inimigo, que s6 se distingue da guerra de espasmo por sou elemento de caleulo c pelo fato de poder haver certo freio ou contréle, Degrau 43. Algumas outras espécies de guerra geral controlada, & possivel ter muitas espécies de guerras “totais”, mas controladas, assim como guerras’ “totais”, descontroladas. (Q térmo “totals” vai entre aspas para ressaltar ainda que ndo € necessariamente uma guerra de espasmo em que cada lado golpeia indiscriminadamen- te cidades e bases militares do outro; “totais” refere-se um grau de esférco, ¢ ndo quanto a existéncia ou nfo de discriminagio de objetivagio, ou de negociacio.) Numa guerra “racional”, “total”, mas controlada, uma aco mi- litar seria acompanhada de ameacas e promessas as proprias operacdes militares seriam restringldas Aquelas que contribuissem para a consecugdo da vitéria (um aceitével ou desejavel tratado de paz), para a limitagio do dano que o inimigo pudesse fazer, para a melhoria das perspectivas da nacio apés a guerra (talvez pela deterioragZo das perspectivas do inimigo), ou para a obtengGo de uma dose de revancke ou de puni¢ao, Degrau 44, Guerra de espasmo ou insensata, A pa- lavra figurada “espasmo” fol escolhida porque descreve a imagem comum de uma guerra central em que s6 ha uma ordem de “prosseguir”; todos 0s bot6es foram aper- tados e todos os Iideres ¢ seus auxiliares vao para casa — se ainda tiverem casas; cumpriram seu dever. Pode 93 ‘A ESCALADA ocorrer, naturalmente, uma guerra de espasmo, mas na medida em que houver qualquer arte de guerra posstvel na era termonuclear, deve-se procurar evitéa, tentando fazer com que 0 lado que estiver perdendo cesse o fogo antes que faa uso de suas armas, Num “momento de lucidez” e particularmente se houve uma erise preliminar que tenha educado os lideres, todos os responsavels pelas decisdes haverdo de compreender possivelmente, pelo menos até certo ponto, que nfo hi uma necessidade com- pulséria de infligir uma destruiedo iniitil e contraprodu- cente, 86 porque o adversdrio tem armas que pode usar. 94 2 Desentendimentos Manipulacio de Subcrises Descrigéo Fundamental ¢ Deftricio Entre as questGes mais importantes que considerei estd 0 efeito que a ameaca ou o perigo de escalada tem sobre a negociago e a solucao de crises e desentendi- mentos secundarios, e a influéncla que tais crises ¢ de- sentendimentos podem ter sobre novas escaladas. Essas situagdes e téticas estfo incluidas nos trés primeiros de- graus da escalada; crise ostensiva; atitudes politicas, econémicas diplométicas; e declaragdes solenes e for- mais. (Ver Quadro 2, pags. 76-77.) ‘Todos os trés degraus podem estar logo abaixo ou Jogo acima do limiar “Nao balance o barco”, dependendo dos detalhes. Néo hé necessidade absoluta de uma disputa suscitar questées de coercdo ou de levar a uma crise ou mesmo a relagoes tensas, sobretudo se o desentendimento tiver lugar numa relacdo contratual ou familiar. Os anta- gonistas:podem ser capazes de resolver a disputa, podem deixd-la sem soluc&o na esperanga de que o tempo traré alguma espécie de decisio, ou podem ter algum meio 95

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