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DOCUMENTO DE ARAXA TEORIZACAO DO SERVICO SOCIAL I SEMINARIO — 19 a 26 de margo de 1967 24 CBCISS matizados como instrumento de interveng&io na realidade social. Nessa interveng&o, _o Servigo Social atua_a base ‘teorizacio se processa a partir da “praxis”, isto 60 Ser- vigo Social pesquisa e identifica 3 principios inerente: ‘wosua prati¢a e sistemat 22. Como pra ratica institucionalizada, o Servigo Social se caracteriza atuacio junto a indix tos fanattiioes $e sociais, Tais vezes_decorrem de-estruturas 23. Observa-se que a absorcéo dos profissionais do Ser- vigo Social no plano prético prejudica, por vezes, a re- flexdo sobre as experiéncias realizadas e retarda as opor- tunidades de andlise e desenvolvimento de um quadro de referéncias que permita a definicao de sua natureza, difi- cultando, também, sua colocacao no quadro geral das ciéncias técnicas. 24. Ressalte-se que a andlise e critica do “modus ope- randi” do Servico Social, nos diversos contextos histdrico- culturais, se constitui em elemento fundamental a elabo- | ragéo da teoria desta disciplina. 3/25. a evolucao do Servico Social no Brasil, 3\ verifica-se qué-o advento do tado paternalista, coinci-_ X\ dente com_as onigens do Servico Social, foi fator_condi “\ Gionante da _montagem de um s na de instituigdes_so ais que propunham solucionar os problemas através de_ ssistenc r_imediatista, cardter_ organizac6es particulares de_ (2) esse que-também_marcou “! Cassisténcia.. 26. Esse passado concorreu para a formacgéo de uma imagem e de uma expectativa a respeito do Servico Social | como atividade de prestacio de servicos assistenciais. A | preméncia dos problemas sociais e 0 imediatismo do Ser- vigo Social, nesse periodo, dificultaram a reflexdo e a andlise que poderiam orientar o Servigo Social em uma agao centrada de preferéncia nas estruturas _Sociais. O- Servico Social, » nessa conj Pont poe Teorizagéo do Serv. Social 25 \ 97. As razdes principais dessa diretriz operacional do 8 Servico Social estéo contidas nesse quadro historico, que explica a énfase do Servico Social no passado, porquanto essa vivéncia se apresentou como uma tentativa de opor um antidoto a uma linha meramente assistencialista. Do mesmo modo, contribuiu para um apelo ao Servigo Social em termos de ag&o preventiva. 28. Reconhece-se, entretanto, que os caracteres corretivo, preventivo e promocional sao uma peculiaridade do Ser- vico Social, ndo Ihe sendo, no entanto, especificos, uma vez que comuns a outras ciéncias tedrico-praticas. Apre- sentam-se, praticamente, na linha de simultaneidade e nao de opcao, recaindo a énfase em um ou outro dos carac- teres, conforme sejam a realidade ambiental, o momento social, os objetivos e o enfoque dos programas. 29._O cardter_corretivo_se_define como intervencao_na_ realidade para fins de remocao de cai _impedem ou_dificultam 0 desenvolvimento _do_individuo, grupo, comunidade e populacdes.* Nesse sentido, o Servico Social mente, quando intervém em causas inseridas em sua esfe- ra operacional, de administracdo e presta¢éo de servicos diretos, e quando participa da corregéo de causas que transcendam a sua possibilidade de aciio direta ou isolada. (730. O cardter preventivo do Servigo Social se define como um processo de intervencéo que procura antepor-se As \ conseqtiéncias de um determinado fendmeno. Esse carater 6 evidenciado quando se procura evitar as causas de desa- \juste, inserindo elementos que possam elimind-los, forne- \cendo subsidios para medidas de ambito geral. 31. A relagdo entre o desajuste e a prevencio sugere a possibilidade de se considerar @ atuac&o preventiva como uma decorréncia do caréter corretivo do Servico Social. Nesse caso, 0 Servico Social apresentaria, fundamental- mente, caracteres corretivo ¢ promocional. O assunto 6, <( * Neste documento, o termo populagées significa um conjunto de fami lias © de individuos localizados numa determinada drea, continua ou néo, apresentando certas caracteristicas comuns de vida, sem constitufrem pro- priamente uma comunidade. 26 CBCISS no entanto, ainda controvertido, estando a merecer inda- gagoes posteriores. € J} /32._O carater promocional do Seryico Social acha-se con; 4) \ | substanciado na afirmagio de que! promover é capacitar’ Y | Diante dessa colocacao, concluise que 0 Servico Social | promove quando atua para habilitar individuos, grupos, ¢ | comunidades e populagées, fazendo-os atingir a plena | realizacio de suas potencialidades. Sob este prisma, a ag&o do Servigo Social insere-se no processo de desenvol- | vimento, tomado este em sentido lato, isto é, aquele que leva & plena utilizagio dos recursos naturais e humanos, ~ / e, consegiientemente, a uma realizacdo integral do homem. , Destaca-se, quanto A promocéio humana, a importancia do processo de conscientizacao como ponto de partida para % \ fundamentagiio ideoldgica do desenvolvimento global. Lem ptt be / 33. Nessa ordem de consideragGes, os caracteres corre- tivo, preventivo e promocional sao validos desde que cons- tituam resposta adequada aos contextos em que 0 profis- sional do Servigo Social é chamado a atuar. Ao se tomar, porém, o contexto social como critério de referéncia para se aquilatar da validade de quaisquer dos caracteres refe- ridos, nio deve o agente do Servico Social colocar-se numa perspectiva puramente estatica de aceitagio, mas desem- penhar um papel que conduza a modificacéo desse con- texto. 34. Imp6ese esta reformulacdéo do Servico Social em novas linhas de teoria e de acéo para melhor servir & pessoa humana e a sociedade. O Servico Social, agente que intervém na dinamica social, deve orientar-se no sen- tido de levar as populagées a tomarem consciéncia dos problemas sociais, contribuindo, também, para o estabe- lecimento de formas de integracao popular no desenvolvi- mento do Pais. 35. As exigéncias do processo de desenvolvimento mun- dial vém impondo ao Servico Social, sobretudo em paises ou regides subdesenvolvidos, 0 desempenho de novos pa- péis. Estes papéis, em sua evolugao histdrica, constituem formas de insercéo da profisséo na realidade econémico- social dos mesmos paises ou regiées. Teorizacao do Serv. Social ae 36. A partir desse novo enfoque, o Servicgo Social deverd romper 0 condicionamento de sua atuac&o ao uso exclu- sivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, e rever seus elementos constitutivos, elaborando e incorporando novos métodos e processos. OBJETIVOS DO SERVICO SOCIAL 37. Deve-se fazer, aqui, distincio entre o objetivo remoto do Servico Social e seus objetivos operacionais, entendi- dos estes como fins imediatos e intermedidrios. 38. O objetivo remoto do Servico Social pode ser consi- derado como o provimento de recursos indispensaveis ao desenvolvimento, & valorizagiéo e & melhoria de condigées do ser humano, pressupondo o atendimento dos valores universais e a harmonia entre estes e os valores culturais e individuais. Esses valores funcionam como um quadro de referéncia de bens tangiveis e intangiveis, que informa o plano operacional do Servico Social. 39. Na auséncia de uma teorizagéo suficientemente formu- lada sobre a universalidade da “condigéo humana”, aceita- se, como quadro de valores, a Declaragéo Universal dos Direitos do Homem, das Nagdes Unidas, que resultou de um consenso entre representantes das mais variadas cul- turas. Ressalta-se, entretanto, a necessidade de investiga- ¢des sistemdticas sobre a matéria, cujos resultados venham consolidar o embasamento tedrico do Servigo Social, enri- quecendo, assim, seu contetido. 40. Sio objetivos operacionais: a) identificar e tratar pro- blemas ou distorgdes residuais que impedem individuos, familias, grupos, comunidades e populagGes de alcangarem padr6es econémico-sociais compativeis com a dignidade humana e estimular a-continua elevagao desses padrGes; b) colher elementos e elaborar dados referentes a proble- mas ou disfungdes que estejam a exigir reformas das estruturas e sistemas sociais; c) criar condigdes para tor- nar efetiva a participacao consciente de individuos, grupos, comunidades e populagées, seja promovendo sua integra- ¢&o nas condigdes decorrentes de mudangas, seja provo- cando as mudangas necessdrias; d) implantar e dinamizar 28 CBCISS sistemas e equipamentos que permitam a consecuc&o dos seus Objetivos. FUNCOES DO SERVICGO SOCIAL 41. Da natureza e dos objetivos do Servico Social, decor- rem as suas fungdes, nos diferentes niveis de atuacao: a) Politica Social: provocar o processo de formulacéo da politica social, quando ausente, ou de sua dinamizacio, quando inoperante, e provocar sua reformulacgéo quando necessdria; oferecer subsidios, dentro de uma perspectiva de globalidade, ao embasamento dessa pol{tica; criar sis- temas, canais e outras condicdes para a participagao de quantos venham a ser atingidos pelas medidas da politica; b) Planejamentio: contribuir com o conhecimento viven- ciado das necessidades, das expectativas, dos valores, ati- tudes e comportamento das comunidades e das popula- gdes, face A mudanga, na formulacéo dos Objetivos e fixa- céo das metas; contribuir para a criag&éo de condigdes que permitam a participagio popular no processo de plane- jamento; c) Administragéo de Servigos Sociais: promover e participar de pesquisas operacionais; elaborar 0 micro- planejamento; implantar, administrar e avaliar programas de servigos sociais; levar os usuarios a participar da pro- gramacao dos servicos; d) Servicos de atendimento direto, corretivo, preventivo e promocional, destinados a indivi. duos, grupos, comunidades, populagées e organizacbes: trabalhar com individuos que apresentam problemas ou dificuldades de integrac&o social, através de mobilizacao de suas potencialidades individuais e de utilizacao dos recursos do meio; proporcionar o exercicio da vida em grupo, principalmente quanto ao desempenho de papéis inerentes & vida social; contribuir para capacitar a comu- nidade a integrar-se no processo de desenvolvimento atra- vés de acéo organizada, com vistas ao atendimento de suas necessidades e realizagao de suas aspiragdes; traba- Thar com organizag6es, visando & adequacao de seus obje- tivos e métodos as exigéncias da realidade social e sua integracéo numa perspectiva de desenvolvimento. Capitulo II METODOLOGIA DE ACAO DO SERVICO SOCIAL 42. Para melhor situar a metodologia de acgéo do Servigo Social, h4 que enunciar os principios e postulados que a fundamentam. 43. A autodeterminacdo, a individualizacio, 0 nao julga- mento e a aceitagéo, enunciados que orientam a aplicagao da metodologia de acao do Servico Social, em seus trés processos, tém sido classificados como principios bdsicos da ag&o profissional. A andlise rigorosa do contetido e natureza ldgica desses principios leva, contudo, a cons- tatar: a) que se acham reunidos na categoria de principios tanto proposigdes de natureza ética e metafisica, como normas para procedimentos técnicos; b) quanto aqueles principios propriamente relacionados com a agao, verifica- se uma forma de enunciac&o ligada de maneira dominante as particularidades da atuacéo do Servico Social de Caso e de Grupo. 44, Partindo dessas constatagdes, procurou-se entao clas- sificar aqueles principios, enunciando-se sob forma de postulados os que representam os pressupostos éticos e metafisicos para a ag&éo do Servigo Social, e como principios operacionais da metodolegia de ac&o aqueles que enun- ciam pontos bdsicos norteadores da atuacio do agente profissional. Entende-se, assim, como principios operacio- nais da metodologia aquelas normas de agéo de validade universal & pratica de todos os processos do Servigo Social. 45, Dentre os postulados, conclui-se que pelo menos trés se acham, explicita ou implicitamente, adotados como pres- supostos fundamentadores da atuacao do Servigo Social: 30 CBCISS a) postulado da dignidade da pessoa humana: que se en- tende como uma concepcéo do ser humano numa posicéo de eminéncia ontoldgica na ordem universal e ao qual todas as coisas devem estar referidas; b) postulado da sociabilidade essencial da pessoa humana: que € o reco- nhecimento da dimenséo social intrinseca a natureza hu- mana, e, em decorréncia do que se afirma, 0 direito de a pessoa humana encontrar, na sociedade, as condig6es para a sua auto-realizacao; c) postulado da perfectibilidade hu- mana: compreende-se como o reconhecimento de que o homem é, na ordem ontoldgica, um ser que se auto-realiza no plano da historicidade humana, em decorréncia do que se admite a capacidade e potencialidades naturais dos in- dividuos, grupos, comunidades e populag6es para progre- direm e se autopromoverem. 46. Dentre os principios operacionais da metodologia de agaéo, sem desejar esgotar a enunciac&o, reconhecendo a necessidade de reflexdo e andlise mais aprofundadas a esse respeito, chegou-se a identificar os seguintes: a) estimulo ao exercicio da livre escolha e da responsabilidade das decisdes; b) respeito aos valores, padrdes e pautas cultu- rais; ¢) ensejo & mudanga no sentido da autopromocao e do enriquecimento do individuo, do grupo, da comunidade, das populagGes; d) atuac&o dentro de uma perspectiva de globalidade na realidade social. 47. Sao elementos operacionais da metodologia, comuns a todos os processos, a participag¢do do homem em todo © processo de mudanga e o relacionamento entre profis- sional-individuo, profissional-grupo, profissional-comuni- dade e profissional-populagées, estabelecido de maneira direta ou indireta, dependendo do tipo de acéo a ser exercida. ADEQUACAO DA METODOLOGIA AS FUNCOES DO SERVICO SOCIAL 48. O Servico Social, como técnica, dispde de uma meto- Gologia de acdo que utiliza diversos processos. Os proces- sos de Caso, de Grupo e Desenvolvimento de Comunidade foram considerados, até 0 momento, 0 “modus operandi” do Servico Social em sua interveng4o na realidade social, Teorizagéo do Serv. Social 31 sendo que s6 recentemente se inicia a utilizagio também do processo de trabalho com populacdo de maneira mais sistematizada.* 49. A interveng&do na realidade, através de processos de trabalho com individuos, grupos, comunidades e popula- des, nao 6 caracteristica exclusiva do Servico Social; o que Ihe 6 peculiar 6 o enfoque orientado por uma visio global do homem, integrado em seu sistema social. 50. De acordo com a classificac&io das fungdes de Servigo Social adotada neste documento, que inclui fungdes aos niveis de politica social, planejamento, administracdéo de Servicos Sociais e prestaco de servicos diretos, verificou- se a necessidade de incorporacio de novos processos a0s ja existentes. 51. Ao analisar a natureza dos diferentes niveis de atua- ¢&o do Servico Social, infere-se que estes sio de duas categorias: a) nivel de microatuacéo; b) nivel de macro- atuagao. 52. O nivel de microatuacgfo é essencialmente operacional, compreendendo as fungdes de Servigo Social aos niveis de administragaéo e prestagio de servigos diretos. 53. O nivel de macroatuagéo compreende a integracio das fungdes do Servico Social ao nivel de politica e planeja- mento para o desenvolvimento. Essa integragio supde a participacéo no planejamento, na implantagéo e na melhor utilizagio da infra-estrutura social. 54. A infra-estrutura social é aqui entendida como “faci- lidades bdsicas, programas para satide, educag&o, habili- tag&o © servicos sociais fundamentais” que pressup6em 0 atendimento das seguintes condigGes: a) disponibilidade de um alto potencial de empregos para pessoas de diferentes grupos sdécio-econdmicos; b) utilizacio da terra em bene- ficio de toda a populacao, n&o sd pelo governo local, senao também pelo empresdrio particular; c) existéncia de uma rede adequada de comunicagGes, no sentido fisico (telefo- * Para alguns, 0 Servico Social nfo atingiu ainda todas as fases de um processo metodolégico universalmente aceito. Outros propéem a substituicso dos termos “estudo”, “diagndstico” e “tratamento” por “estudo ¢ andlise diagnéstica”, “planejamento” e “execugdo”, por julgar que estes tem uma conotacdo mais adequads. Levanta-se dtivida, porém, quanto & adequacéo dos termos “execugao” © “planejamento” em Servico Social de Caso. 32 CBCISS ne, radio etc.), e em termos de canais sociais para a comu- nicagéo dos grupos entre si e destes com o governo; d) proviséo de amplas facilidades sdcio-culturais: instituicdes educacionais, culturais, sociais, recreativas etc. 55. Convém salientar, ainda, que a infra-estrutura social foi considerada de importancia vital, merecendo prioridade idéntica e n&o inferior & assegurada para a solucéo dos problemas de infra-estrutura econémica e fisica.* 56.

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