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HISTORIA DOS TRIBUTOS NO BRASIL O objetivo deste trabalbo é apreseutar ¢ analisar a bist6ria das formas e préticas trlbu ~ da chepada dos portugueses até os dias atuait: Pensow-se em cada uma dessas prdticas SSS «partie de paca em que foram constituidas, Assim, buseou-se wna tompreensio geral haves da bistéria brasileira e sua rélapao com as questses fiscais. Neste processo, de contextualizagao sitwarbes muito déstantes da atual realidade; como o fate de nos primeiros anos da colonizasdo do Brasit metrSpole portuguesa a sicculapde monctiria era praticamente inexistente,situardo que nao impedia a imposter, mas que gerava a pritica do pagamento dos tributos, na riaise parte das vezes, Ressalta-se, dinday give esta pesquisa prescuponete em reigatar como a socitdade se relactonava com os | indo basta saher guats impostos, taxas e contribuirSee que foram cstabelecidos, quais drgios tstabeleceram on queth eft responsivil pela arrecadarte. Urge conbecer os processs dé esistencas ds poliicas eatlagto. SINAFRESP SINDICATO DOS AGENTES FISCAIS DE RENDAS DO ESTADO DE SAO PAULO - SINAFRESP Fandade em nevirbro de 1988, apér a promalggao Ae Consttegie Federal, sua cura bist arsoda nde 5 plo tuibtes corporat derpens sem papel com entdade representation de snr importante eatgeria profisional, mas, tembin, aber sa posture de ddlgo come governs ¢ om ode svedade, tral ralleapao de wna sri de sees, como congress, semindrios,paesinas,edipio livros contraspubloases,envolvende debates que sto do inteese de too, A ques tributri, como io jaderte dear dese ensttnl «cea central dos projets ¢ realzasses sors pla SINAFRESP ao longs dss anc. Cone seeds dre erable, ag xe as priniais publicasiee edisadas palo Sindicsto + Reform Tribataria pestle mucessiria (1992); ‘+ Merseeul ¢ Tributaste: Mercades Regionate ¢ Globalizaee da Feoneita (1995); + TCMS-temas (1997); +A Reforma da Previdincie ¢ a Quertae Tributérie (1993); + Gaarrs Fiscal (Com ela todos perdem) = (1998); + Ltbutagdo na Kconomia Globalizada (1999) + Guerra Fiscal ~ 0 gue voc tom aver com iso? Colegio “Fducasio Tributéria” = (2000) Alf desis publeasSs, © SINATRESP posut xe talueeseovanal moe princpaix forsale do interior do Estado wn programa last, de aleence nacional, shames "Vao Nacional’, rons pala Rede Vide de Televi Ollions HistStia dos Tributos no Brasil érnis une lnportante obra do SINAFRESP, que ficard 0 rapt em eoiemragdo tos 500 enos d descabrimento ds Brasil Fernando Jost Amed 37 aos, profssor, mestrande em Histéria Socal pela FELCH de USP onde desenvolve pesquisa sobre a correspondtncia do Bistoriador Capistrano de Abrew { Labriola de C, Negreivos 58 anos, bacharel’¢ Hcenetado sm Biat6ria pela USP, mestee ¢ doutor em Histiria Social pela PUC-SP, professor de Histéria de Colégio Assungdo « da Escola Nesca Senbora das Grapas, ambos ‘im Sto Basil HISTORIA eS eee ac, ee NO BRASIL SINAERESP Leo 1 @ | austoria Dos TRIBUTOS NO BRASIL Inenctne Cara 1 Cara deat Baio de Anda Pai ide ci * deseo de thats rani 210308 ma ‘Sisal Mans Pate de Une (Sod, Fog Se Rae Fin 2 as eV Fane 0 Cao at 2S 192 garb, in So gun ene Hii Pop (ist 1640 Lites, trl eb, 1973 (3 Pad rae Momo Ov com Rr (Gen aj dnb In Sn, Ra (Cs Esti Bal (1500/1820, ean Sn Pd, Compu Eos Neco 199 | Artina Se dg rao aca em ng de ae (ea) nd dec Ta ‘Stroma Raber © Hiss Earnie Tu (1500/1890) 6 eis, Sto Pa Compe Eom Neos, 1968. 15 Ao ali, Cnn Massa) ew 180; agus, 2372292 ‘ioe ami Mins aio Nice Frcopae dul Flin 6 ie ini, A Ps ne Meo) tha XK se sb el, 5640 390 ‘Sts Movs Pas Usd de ‘Sh Pal Foon de Rado Fe 17 Maca de eo XVI Ri dea, Maes Hi Nac Fotopa de Rao acm DA ORLA 1 Sng de Roh ei, roma as Mos, 1700 le we Mana Paid Uninet Pada CE Cao eopa. REALIZAGAO. SINAFRESP HISTORIA DOS TRIBUTOS NO BRASIL Fernando José Amed Plinio José Labriola de Campos Negreiros | @ | srstorta dos TRIBUTOS No BRASIL HISTORIA DOS TRIBUTOS NO BRASIL © Conynicir esta eotcto: Sinsfesp ~ Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de Sto Paulo Rus Doha Maria Pauls, 123 17" andat — Bela Vista = CEP 01319-00] ~ Sto Paulo ~ BRASIL ‘Tele 11 3107 4013 ~ Fase TT 3105 2544 — informatica@sinfeesp.rg br AuToRES: Fernando José Amed / Plinio José Labriola de Campos Negreiros CONSULTORIA E PESQUISA ICONOGRAPICA: Fernanda Carvalho Revisko pe Texto: Blclides Alves da Silva / Vera Toledo Piza Cara, Puojero GeArico, Enicko Dk ARTE. PRopucio Eprroniat: Tdeia Visual / un Yokoyama / Alpe Schneider / Hlvio Kanamatu / Gilberto Shiro Ogawa ‘Yole Ferreira Lucas / Mauricio Polato Carneiro / Dentze de Moura Veloso AL Santos, 212 = Tf 253 1812 Cotasorapones: Moscie Longo / Helder Kanamara Forourro: Bureau Bandeirance Tapressko € ACABAMENTO: A... Todos os direitos reservados 20s autores. . Proibida « reprodusio total ow parcial por qualquer meio, sem a expressa autorizagio dos autores, Publicado em S40 Paulo, SP, Brasil. Dados Internacionais de Catalogasio na Publicacio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Amed, Ferrando José HISTORIA DOS TRIBUTOS NO BRASIL / Fernando José Amed, Plinio José Labriola de Caipos Negeeitos; [olaboradoses Helder Kanamaru, Moacir Longo]. — ‘Sto Paulo: EdigSes SINAFRESP, 2000, Patrocinio: Banespa Bibliogralia 1, Impostos - Brasil - Historia 2, Tributagio - Brasil - Histéria 1. Negreiros, Plinio José Labriola de Campos. I. Kanamaru, Helder. III. Longo, Moacir. 1V. Titulo. 00-1762 CDD-336.200981 Indices para catslogo sistemitico: 1. Brasil: Triburos: Historia 336.200981 2.Tribatos: Historia: Brasil 336.200981 Reauizacho: Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de Sio Paulo ~ Sinaftesp Disramureko & VENDAS: Livraria Nobel S.A, Rua da Balsa, $59 (02910-000 ~ Sio Paulo ~ SP Fone: 11 3933 2822 Fax: IT 3931 6988 e-mail: ednobel@livrarianobel.com.br Internet: wwdivrarianobel.com.br ISBN 85-213-0940-6 BANESPA Um longo e importante caminho de apoio € incentivo a cultura. © Banespa sempre esteve & frente de iniciativas que apresentam contribuig6es para o progresso da comunidade: ensino, pesquisa, ae, esporte e desenvolvimento cultural integram esse projeto de atyasio que, hoje, avanga no novo século. E esse o caminho escolhido pelo Banespa: Uma trajetéria com o compromisso de transformar desafios em importantes referencias para a nossa hist6ria social, econdmics e cultural. Parceria BANESPA e SINAFRESP a0 Projeto de Pesquisa: HISTORIA DOS TRIBUTOS NO BRASIL baneSpa NX | @® | HISTORIA DOS TRIBUTOS NO BRASIL COLABORADORES “A todos que colaboraram, inclusive financeiramente, para que esta obra tenha se tornado realidade, os nossos sinceros agradecimentos.” ‘Adee Feros Martinez ‘Abel Silva Pompeo ‘Afonso Pesta de Gounes Filho ‘Aloo Lame Sigua ‘Alaoe Apareido Pini Alber’ Mages Vi ‘Alberto Segura Aba Alberto Si Yoga 9 Alds Matias Lopes 10. Aldeis Morale Gti Ht Alva Reis Lainjera 12 Atecico Castanha Neto 15 Ane Pala Maris de Caso 14 Angso Cipla 45 Antoni Blanco Arca 16 Anti Bacon d Sra 17 Antonio Ctndido 18 Antoni Carlos Busca ets 19, Antonio Clos Faso, 20° Antonio Cats Prrandet 21 Antonio Coeio de Pla 22 Antonio Jo Laf de Souza 23 Antonio Lourengo Col 24 Antonio Pesaro Neto 25 Antonio Rodrigues Pereira 26 Antonio Sebati Verones 27 Antinio Sérgio Gomes Valente 2B Ayateido Eldo Rodrigues 29° Aldo Goulate da Maia 30 Benet Ales da Siva JH Renedio Franco ds Seis Filho 32 Bente Inacio dos Santos Filho 33 Bolivar Fonseca Sampaio 34 Bruno Guaraldo 135 Gatlos Alberto Ayre Petia 36 Cation Alberto Fontoura Carvalho 37 Carlo Andrade Mirsada 38 Caos aad Via 39 Catlos Roberto Mateondes Googles {40 Catlos Roberto Pedsio 4 Catlos Roque Gomes 2 Carmen Sia Mauricio Zedron 43. Cassio Lopes da Sia Filho 44 Célia Baris Piva da Sib 103 104 105 Cleo Cezitio Mota ened Manoel da Siva (César Rodrigoes dos Santoe (Clases Pinko Perera (Chuudio Damian (Clio de Belaz Nicolosi (Cliadio Marquet (Claudia Tadao Mine (Clive Panza Daniel Plegrin Darcy Paiva de Mattos David Auerbach David Totes Dicio Brier Deccacie Meneses Diniz Ferets da Cour Dice Matis Miguel Bedague Dirceu Pesca arial Ta Adto Duvall Soaes Pompeo Durval de Noronha Goyos Junior Eason Naif Farah Edmie Branco da Silva Edson Gonsalves Arcanjo Eddassdo Marios lias Fares Eran Manuchakian Brasmo Bandi Ernesto Rices Filho Euginio Evandro Fernandes Fabio Joré Regusin Ales Ffsima Aparecids de Carvalho Ross Fernando Balouni Mendon Flivi Wernec Rebello de Sampsio Francisco Matiaho Gamal Castro Abdo Sater Gentil de Miranda Gerrisio Antonio Consoate Giancalo Lol Gianpaulo Camilo Deingoli Gilberto Galvani de Olieiea Heitor Okuma lio Cesar Rosts Henig Shiguemi Nakagaki Heriveleo Azsel Achangelo Hymane Persea da Sila Tasuaki Kiki [ek Dal Feast Iza Begimasco Thimoteo less Domingos Serce Temael Lai de Souza Ivo Jstino da Siva Js Fernandes Labinas Joao Alves Pesira Joo de Olivera Joao Dias Yanes Joaquim Eikem Nagata Joaquim Vie Gabriel Jorge Angutto Diniz Jorge Masatoshi Miyamara Jou Alberto da Coz 106 107 108 109 1 ig 4 16 17 18: 19) 23 ng by 26 27 1B 129 yo BI 5a 33 34 85 36 37 136 39 140 wo 142 43 45 46 47 “e 49 0 ba Pa u 4 Us 6 19 ue 49 to ‘6 ‘6 6 1% Po ‘66 6 ‘6b Joel Andsé Jungucira Newo Joa Aparecido Sioes Jou Campiza Basico Jost Calas Cardoro Sousa Jost Carls Ficher Jost Carlos Fogara Jost Catls Viz de Lima Jos Clévis Cabrera Jost de Morse: Joo dos Santos Martins Jou Livi Joeé Luiz Melo Jou Luiz Quadtos Barros Joué Marcondes de Aquino José Marcos Semyhiel, Jot Maria Fernandes José Nilton Novos Jost Pucei Cuan José Roberto Mello José Vergn Janior Kwok Wai Wah, Lande Antonio Fratton Lenizo da Fonseca Lidionete Duarte Martine cis Delfino Lis Cats Pecillo Liz Antonio Moroni Amorim Liz Carlos da Costa Laie Carlos da Siva Liz Cael Fernandes Liz Gonzaga de Quados siz Gonzaga Medeiros da Siva Ls out Peecia Luiz Veronee Neto ‘Marcelo Meron de Paras ‘Marcimedes Marcin ds Sits ‘Masco Aursio Meira Garcia “Marcondes Clsudiano R. de Olveica ‘Maccos Edad Test Marcos Magis de Miranda Maia Antonieta Pies de Araujo Maia Antonieta Pastore Olivera Maia abel Esteves ‘Mata do Socorro Ferreira dos Santos e Silva Mara Teresa Pato ‘Maca Vanda Rodrigues ‘Marlena Beri! Joagim ‘Maclis do Prado laopeli Marino Takeo Kavashios Maio de Carvalho Neto “Misio Flivo da Siva “Mario Minor Sato Matistela Lemos de Almeide Gebara Marisela Marcondes de Anade Perce Tores Masanobu Zaha ‘Mausiio Busllo Bloube Mausiio Dise Mauro Jost Alves Miguel Nucci Milton Maximo Zen Mitike Motooka Nelson Hernandes Junior Neulzabeth Ferezin Moraes 16 170 or 2 3 on % 16 Da a » to 8 8s Nicola Seg Nilo Calandra Ponce Naboo Nakasone Odie Paiva Otioaldo Rodrigues da Silva (evade Santor de Carvalho tivio Condino Jnior Paulo de Araujo Go Paulo Lot Paula Ricardo das Santos Olin Marote Paulo Roberto Bueno Paulo Rogue Pedro Rosalio da Cunha Peeia Raimundo Bispo Teles Regina Soares Toledo Reinaldo Via de Sousa Ricatdo de Deus Vdinha Concegto Ricardo Iki Chota Roberto Antonio Mazzonetto Roberto Dall lio Roberto Luiz Marche Roberto Martine de Amorim Roberto Ryoichl Arka Rosana Monet Soha Mongeiro Uséda ben Fonseca ¢ Siva Rubens Jorge Carreira Sebastio Oumar de Souza ‘Sergio Armando Gomes Ferteira Sergio Yoshihara Narazaki Silvis Garo Bueno Cincea Franco ‘Samiho Saito “Tie ics de Maceda “Takashi Suki Toho Tosia Toyohike Hirano ‘Valdemar Aparecido de Costa Vale Radian Vali Pereira Bates Valdvino Paslo Macirio ‘Valentin Gago Rodeigaes Junior Vicente de Mola Cael Viente Manoel Aric’ Vicente Setdevelli Neco Virguline Nogaeies Nero Vitor Sapienza Wagner Dalla Cota Waldemar Gras Walter Marti Wilton Frol Wilton Xavier de Pasias Zadok de Paula Raphael 10 | @ | historia vos TRIBUTOS No BRASIL SINAFRESP DIRETORIA TRIENIO 1998-2000 PRESIDENTE David Torres VICE-PRESIDENTE: Benedito Franco da Silveira Filho SECRETARIO GERAL! Décio Brices Sec TARIO-AD|UNTO Pedro Rosilio da Cunha Pereira TESOUREIRO: Luiz Antonio Moroni Amorim ASSUNTOS INTERSINDICAIS Regina Soares Toledo (© gosto da maravilha do mistécio, quate inseparivel da literstura de visgens na era os grandes descobrimentos maritimes, ocupa espago singularmente reduzide nos esr toe quinhentistae dos portagueres sobre 0 Nove Mundo. Ou porgue a longa pritica das vegagies do Mar Oceano © o assiduo trato da « « gentes esrankas ji sivessem amorteido nele 4 senibilidade pars 0 exitico, ow porque © fascia do Oriente ainda ab sotvesse em demasia os seus cuidados, sem deixar margem a maiores suspresse, a verdade € que fo of inquletam, aqui, 0s exraordiniios portentos, nem a esperanga dels. E 0 préprio sonko de riguezasfrbulosss, que no rest do hemisério hi de guia cancas vezes 8 pastos do conquittador europea, & em seu caso constantemente cerceado por ma no= so mais nitida, porventura das Kimitages humanas etersenas 4 quinhentos anos comesavam a ocorter os preparativos priticos e abstratos que permiti- ram a alguns europeus enfrentar 0 Oceano Aclintico e chegar as terras, até ento, por eles desconhe- cidas, Porém, nfo podemos imaginar que uma iniciativa desse porte tivesse sua origem somente nos instantes imediatos que antecederam a saida para 0 mat Podemos supor que, para ser concebida, esa idéia foi primeiramente engendrada nos séeulos anteriores & en- trada propriamente dita no Oceano, com destino ao des- conhecido, Dessa forma, o que se convencionow chamat de “grandes descobrimentos” (do ponto de vista pura- mente europeu) foi resultado das agdes de homens © mux Iheres que encontraram as possibilidades hist6ricas em suas formas mais maduras, ou, dito claramente, pédiam contar com tum ji despertado interesse pelo desconheci- do, com a nosio dé relatividade que se unira a0 seu con- vivio, desde os questionamentos cientificos que punham em conflito a crenga catélica do geocentrismo e, final- mente, com a existéncia de outros homens e mulheres st ficientemente poderosos para apoiiclos e financié-los. No principio, o Brasil nfo era considerado por Por- tugal como algo valioso, pois, embora o territSrio adqui- rido pela Coroa portuguesa fosse imenso, nfo trouxe a inesperada sorte econémica obtida pelos espanhéis em suas conquistas do Peru e México. Muito tempo se pas- sou para que a terra recém-aportada pelos portugueses possbilitasse algum retorno financeiro a Metr6pole, © mesmo nio se pode dizer das priticas tributirias, uma vez que estas podem ser observadas logo nos primeiros instantes da exploragio do pau-brasil em nosso pais, isto & no século XVI (Os quinhentos anos que nos separam do desembar- que portugués em nosso pats nos permitem deter o olhar tem varios aspectos s6cio-culturais que amadureceram a0 longo destes séculos. © estudo da pritica rributiria, & luz da histéria do Brasil, contribui igualmente para que se possam e, quem sabe, se julguem os elementos que chegaram aos nossos dias. ‘Com a certeza de que para entender o presente e ti~ Ihar 0 fsturo deveriamos, antes de mais nada, ler 0 pas- sado, nbs, do SINAFRESP, resolvemos contar a Hlist6- ria dos Tributos no Brasil. Através dessa obra, procurae (Siglo Buarque de Holends, Visto do Pera, “sed, Sao Poul, Brasilnse, 1992, p. 1) amos ler a teaetdria brasileira sob o enfoque dos tributos cobracos em cada época, procurando contextualizé-a segundo suas necessidades ¢ perspectivas do momento. A medida em que os capftulos do livro eram pesqui- sados e escritos, foram surgindo uma série de suepresas € fatos interessantes envolvendo os sributos cobrados no Brasil, que revelaram, de forma surpreendente, o fancio- ramento de nossa sociedade. Hoje, no instante em que muitos buscam um mode- lo tribueério mais justo, eficaz e eransparente, o livro Histéria dos Tributos no Brasil pretende, quigi, contri- bir com 0 momento presente, expondo aquilo de que niés nio podemos escapar: a nossa heranga histérico-cul- coral. Coma produgio ¢ langamento deste live, desejamos manifestar nossa satisfagdo pela contribuigio oferecida 20 aprofundamento dos conhecimentos sobre as diferen- tes politicas tributirias adotadas pelo Brasil. Ao mesmo tempo, esperamos que os relatos contidos nesta obra possam auxiliar na elaboragio de um novo modelo fiscal, no qual predominem os prinefpios da justga, da equida- de, da simplicidade e cransparéncia. Se, 0 final, 0 leitor, profissional do Fisco ou nio, tiver mais elementos capa- zes de justificar que o Estado precisa dos recursos ge dos pelos tributos para prestar servigos e realizar poli «as sociais, evidentemente nos daremos por satisfeitos. Para finalizar, cabe ressaltar a valiosa colaborasio de todos quantos contribuiram para a concretizagio deste pprojeto, em especial, a parceria com o Banco do Estado de Sio Paulo e os contribuintes individuais, cuja relagio fizemos questio de inserie no livzo, para que fique per- petuado 0 nosso agradecimento, Estamos cientes de que esta obra ¢ uma valiosa con- tribuigio 4 preservagio da meméria do Fisco brasileiro, uum erabalho de valor historico ¢ uma fonte de qualidade para consultas sobre a questio tributéeia no Brasil de abril de 2000 Sie Poul, David Torres Presidente do SINAFRESP 1 12 | @ | wrstorss vos TRIBUTOS No BRASIL PREFACIO Concebido 0 direito positive como objeto do mundo da cultura, sua historicidade sera presenga inafastvel do correspondente processo cognosci- tivo. A camada de linguagem prescritiva, voltada para a regio das condutas interpessoais, com 0 propésito de disciplind-las implantando valores, a que chamamos de ordenamento juridico, surge no contexto social como gradativo depésito de obje- tivagdes historicas Com efeito, as oscilages seminticas por que passam os signos idiomiticos no seio da socieda- de tém que ser acompanhadas evolutivamente, para podermos compreender o objeto cultural “direi- to”, na plenitude de seus contetidos de significa- so. Isso implica, desde logo, reconhecer que a construgio da norma juridica se acha condiciona- da por situagdes factuais que organizam 0 contor- no existencial do sujeito da interpretagio, a partir das quais se inaugura percurso gerativo de senti- do. Mais. Que a sucessio cronolégica dos aconte- cimentos seja devidamente investigada, tomando- se como ponto de referéncia as circunstincias mes- mas que cercaram a edigio da norma interpretada. No que tange 20 direito tributirio, como or- dem posta, tudo se passa da mesma maneita, © vo- cébulo “tributo”, que jé experimentara acepses francamente negativas, como instrumento de opressio e de discriminagio social, atravessou os séculos, vivendo-os intensamente, para assumir, nos dias atuais, a configuragio de um valor caris- simo, em que sio punidos os comportamentos violadores do mesmo modo como se tutela o valor “vida humana” ou se protege a integridade fisica das pessoas. Nessa linha, é uma constante das le- gislages modernas a preocupagio com o fiel cum- primento dos deveres juridico-tributirios por par- te dos destinatatios, 0 que representa, por outro Angulo, a Iuta sempre viva para dar eficécia aos mandamentos legais. E preciso dizer que o sistema de direito positi- vo esti imerso na realidade social, de tal sorte que © dominio do juridico somente aparece 20s olhos do interessado por efeito de um corte de linguagem que isola aspectos e seleciona caracteres. Para com- preendé-lo, todavia, torna-se imprescindivel recu- periclo na sua dinfmica existencial, momento em que 0 ponto de vista historico passa a ser decisivo, Analisados os processos de produgao normati- va, surpreendidos no plano empfrico-social, ta remos contato com tudo aquilo que, diteta ou in- dliretamente, teve 0 condio de influir para a for- masio do ato volitivo que atingiu o nivel de inten- cionalidade e objetividade. Ora, a conturbada trajetéria dos sistemas tribu- trios brasileiros, desde 0 tempo do descobrimento até hoje, & uma fungio nftida dos acontecimentos historicos pelos quais passamos, gerando instabili- dades ¢ insatisfagées que acabaram, teimosamente, por provocar baixos indices de eficicia social. Muito bem, Todo pats deve ter orgulho de sua historia, sintese de conquistas ¢ de realizagées, mas também repositério dos malogtos e dos fra- cassos que a progressio do tempo implacavelmen- te registra, E 0 Brasil cem muito para celebrar nes- tes quinheritos anos de existéncia: a integridade de seu territ6rio, defendido ardorosamente em cir- cunstincias memoréveis e expandido por feitos de grande coragem, assim como por eficientes mano- bras diplométicas; a unidade da lingua, falada do mesmo modo em toda a extensio do pais; a inte- gracio das trés ragas fundantes da nacionalidade, bem como o modo afivel como os brasileizos re- ceberam as correntes migrat6rias; a enorme criati- vidade expressa em sua misica popular, tanto na manifestagio idiomitica, quanto na profusio de gEnexos ¢ de ritmos, Tais conquistas, certamente, seriam motivo de jibilo para qualquer nasio. Mas, a histéria no pode passar por alto pelos graves, problemas que nos afligem. Ninguém pode con- formar-se com a mé distribuigéo da riqueza, com © débito imenso do Estado, com a inseguranga pi blica, com o descuido acerca de providéncias basi- ‘cas em termos de satide ¢ educagio, com as pigi- nas lamentiveis dos golpes politicos, da tortura, do atraso na assisténcia social e, sobretudo, com a ‘mancha inextinguivel de ser 0 Brasil considerado 0 maior império escravista da histéria da humanida- de, Nesse campo, aliés, aquilo que nos consola é verificar que nunca houve povo que nio fizesse inserever na sua historia acontecimentos sobre os quais, mais tarde, viesse a se envergonhar. Sendo assim, 0 méximo que se pode almejar & a tomada de consciéncia dos cidadaos do presente, a respei- to dos erros cometides no passado. A marcha do tempo, contudo, provoca uma sintese inevitivel porque o processo histérico é necessariamente continuo ¢ a avaliagio néo pode deter-se apenas nos aspectos negativos. Com todos os softimentos, o Brasil segue sua caminhada em diregio ao futuro; ¢ aos brasileiros cumpre conhecer sua historia, para nela compreen- der sua identidade cultural. Pelo que foi dito, no posso menos do que elo- giar, de maneira efusiva, a iniciativa desse projeto, que contou com 0 apoio efetivo do MEC ¢ foi conduaido de modo competente pelos pesquisa- dores Plinio José Labriola de Campos Negreiros e Fernando José Amed. Nutro a conviesio de que esta obra, empreendi- da com seriedade de propésitos, traré muita luz para a compreensio dos tributos no Brasil, comados no seu paulatino processo de implantagio, exibindo os defeitos estruturais que em muitas oportunida- des puderam ser vetificados, mas também os expe- dientes utilizados no passado para corrigi-los. O presente trabalho tem a virtude de convocar a aten- Gio dos estudiosos para as multiplas centativas que foram feitas, para a variedade de técnicas impositi- vas concebidas com o fim de imprimir-lhes eficécia € para a montagem de um quadro que nos oferece visio ampla e real dos sistemas tributirios que ex- perimentamos, sacados da alma de nossa histéria, Os especialistas ¢ todos aqueles que porventu- 1a se interessem ou venham a se interessar por te- mas tributirios ficarfo, tenho certeza, devedores dessa iniciativa brilhante do Sinaftesp — Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de Sio Paulo, pela contribuigéo valiosa para o conheci- mento da matéria pelas referéncias historicas que a envolvem em toda a extensio do livro. Sao Paulo, 22 de abril de 2000 Paulo de Barros Carvalbo Prof Titular de Dieito Tribusério da USP « PUC/SP Advgado B 4 | @ | wustoRia Dos TRIBUTOS NO BRASIL A CESAR O QUE E DE CESAR Comecemos com um lugar-comum: € imensa ¢ complexa a diversidade do gosto humano. Desde que mundo é mundo, criamos uma escala de valo- res subjetivos que nos fazem gostar ou detestar pessoas, coisas, instituigdes e produtos. Pouquissi- mas so as excecdes neste curioso departamento da condigio humana. HA gente que gosta de softer, de miisica caipira e de quiabo: Tudo bem. O que nunca se viu — nem se verd ~ é algum alucinado que goste de pagar tributos. Nem por isso eles deixam de ser necessitios, vindos da quase pré-histéria da humanidade. A o- ganizagio social exigia um custo que teria de ser pago necessariamente por alguém. Ou por todos — € ai temos a origem do tributo tal como hoje 0 co- shecemos, (© grande argumento contra o tributo, que jus- tifica a malqueréncia universal, esté ligado 4 do- bradinha custo-beneficio. Sim, paga-se 0 tributo, ‘mas qual o meu lucro, ainda que indireto? Nasce dai, certamente, a constatagio de que a hiseétia do tributo 6, de certa forma, 2 propria his- téria universal. Os impérios da Antigtiidade se for- maram ¢ se mantiveram por conta da cobranga de tributos. Grécia e Roma ocupatam a pole position da era classica pelo mesmo motivo: a forga militar nada mais era do que a conquista ¢ a manutensio do direito de cobrar tributos. Para nio alongar esta consideragao vinda de um nio-especialista, pulemos para 0 caso brasileiro nos seus 500 anos, que estamos comemorando. ‘Apés a fase do Descobrimento, quando predomi- nou a simples rapina, surgiu a necessidade de or- ganizar, ainda que precariamente, a sociedade que se formava em segmentos éticos e étnicos hetero- géneos. Nio tivemos a fase de Conquista mas de Des- cobtimento ou de Achamento — como hoje esti mais ou menos aceito. Portugal era um teino que vivia sob a protesio de um império ~ 0 da Ingla- terta, Ao descobrir (ou achar) uma vasta Col6nia, tentou um aprendizado imperialista e, como tudo neste mundo tem um preso, organizou um sistema de tributos que daria para as despesas. Foge a nosso assunto analisar essas despesas. Mas a histéria do Brasil nasce exatamente dessa desproporsio entre 0 tributo ¢ beneficio. Duas revoltas premonitérias de nossa independéncia es- tio vinculadas truculéncia do tributo colonial Filipe dos Santos e Tiradentes, na mesma cidade ¢ pelos mesmos motives, pagaram com a vida a luta contra aquilo a que chamavam de voracidade do fisco. ‘Tecnicamente, cteio eu, tributo ¢ imposto de- vem ser diferentes. Na geléia geral do dia-a-dia, 0 cidadio comum nio difere um do outro. E obtiga- do a pagar, seja de forma declaratéria ~ como 0 imposto de renda — seja de forma obrigatéria, como os tributos que estio de alguma forma em- butidos em tudo que ¢ produzido, vendido ow consumido. Bem administrados em suas diversas etapas (ctiagio, recothimento e distribuigao de benefi- ios), os tributos formam a espinha dorsal do Es- tado, que dé sustentagio & Nagio, aqui entendida como a instituigio soberana de um povo. Dai a polémica que até hoje prevalece sobre aquela pas- sagem do Evangelho em que Cristo, provocado por nacionalistas judeus da época, recomendou dar a César o que é de César. Actescentandot a Deus 0 que é de Deus. Era, sem diivida, uma submissio provinciana ao poder de Roma, Mas.o sentido de sua mensagem procurava ser intrinsecamente espiritual, um divi- sor mecinico, geogrifico, entre a transcendéncia ¢ a contingéncia. De qualquer forma, ¢ ainda uma referencia obrigatéria quando se pensa em tributo. ara fazer funcionar uma sociedade, por primi- tiva que seja, € necessisio um cbdigo aceito por to- dos — ainda que detestado por todos. Pressupde-se que César seja um ideal, um mal necessirio na maiotia dos casos. Em nome dele os tributos serio ctiados, cobrados ¢ distribuidos em bens ¢ servi- 0s que fario 0 patrimbnio de todos. Eyidente que a biogeafia do tributo, ao longo da hist6ria, nao é edificante, Tampouco a historia © & Mas 0 mundo moderno, apés descaminhos trigicos, parece centrar-se em toro de estruturas democraticas que, em tese, sto capazes de equili- brar 0 desafio custo-beneficio da carga tributéria de cada pais. Para isso, nada mais salutar do que conhecer as idas e vindas do tributo, suas excrescéncias e suas exceléncias, sua necessidade, enfim, Petiodicamen- te, surgem movimentos untados de boa vontade que pregam desde a abolisio do Estado até a eli- minagio de sua manifestagZo mais antipatica, que & a cobranga de tributos. As alternativas apresen- tadas, pelo menos até agora, sio fantasticamente irrealizaveis. ‘Ao longo do tempo, sociedades de cunho reli- gioso ou politico ensaiaram um tipo de comunida- de em que a cada um seria dado de acordo com a sua necessidade, Em universos pequenos, limita~ dos no nimero € no espagb, a experiencia foi rela- tivamente bem-sucedida, Mas nem por isso 0 tri- buto foi abolido: cada um contribufa de alguma forma com algama coisa para que todos partici- passem do patriménio comum. Esse é 0 conceito fundamental do tributo: sua necessidade e no sua malignidade, Carlos Heitor Cony iy 16 ! @ | wusror1a dos TRiButos No BRasit SUMARIO APRESENTACAO. 20 TRIBUTOS DO BRASIL COLONIAL - 150071822 PERIODO ‘A PRIMEIRA A FORMAGAO A ATIVIDADE PRE-COLONIAL, —_ETAPA DA. DO GOVERNO- —-ECONOMICA E 1500-1530 COLONIZAGAO ——GERAL A POLITICA, 1530°1580 ‘TRIBUTARIA 32 40 48 64 TRIBUTOS DO BRASIL IMPERIAL - 182271889 TRIBUTOS © PROCESSO DE EMANCIPAGAO. POLITICA, 1808-1822 176 (© PRIMEIRO PERIODO © SEGUNDO PRIMEIRA REINADO, REGENCIAL, REINADO, REPUBLICA, 18221831 1831-1840 1840°1889 18891930 188 196 210 230 ANEXOS SINTESE DOS MONARCAS AUTORIDADES DADos DADos TRIBUTOS NO PORTUGUESES FISCAIS HISTORICOS HISTORICOS BRASIL DURANTE O DURANTE SOBRE AS SOBRE A COLONIAL PERIODO BRASIL PERIODO. ALFANDEGAS PROVEDORIA- COLONIAL BRASIL MOR DA COLONIAL, FAZENDA REAL 306 306 307 307 308 17 “th ng UNIAO IBERICA, SEGUNDO SECULO XVII MINERACAO EA CONJURAGAO. 1580°1640 PERIODO DA ‘OPRESSAO © AUGE DA, MINEIRA EA. COLONIZAGAO, “FISCAL E EXPLORAGAO DERRAMA 1640-1808 RESISTENCIA COLONIAL DOS COLONOS 76 86 98 122 156 DO BRASIL REPUBLICANO ACRIAGAO DO AERAVARGAS, A REPUBLICA (© REGIME BRASIL IMPOSTO DE 19301945 POPULISTA, MILITAR. CONTEMPORANEO, RENDA 1945-1964 19641985 1985-2000 246 256 270 278 290 ASPECTOS FONTES E GERAIS DA BIBLIOGRAFIA EVOLUCAO DO SISTEMA ADUANEIRO DO BRASIL 310 3ly 18 | @ | HISTORIA DOS TRIBUTOS NO BRASIL PROLOGO O que sobrava ficava na Colénia, para pagar as despesas da administracao das terras “achadas”, exatamente para explorar as suas riquezas e nao para construir uma na¢ao. © Brasil vive mergulhado numa crise estrutu- ral e, para sair desta situagio, precisa fazer refor- mas de base, dentre elas, a reforma tributiria. Ao mesmo tempo, a revisio do real papel do Estado, nas suas varias esferas de atuasio, é reclamada tanto pela sociedade em geral, quanto por um nti- mero crescente de pessoas que detém responsabi- lidade de poder na vida piblica. O Estado preci- sa de dinheico para investjr e cumprit seu papel de prestador de servigos 20 cidadio, Diante deste impasse, urge saber por quem ¢ como os tributos vio ser pagos. Os trabalhadores, assim como a producao geradora de empregos, nio podem mais ser penalizados por caxagdes abusivas. O capital especulativo, extremamente volAtil, precisa de frcios, que podem se coneretizar com uma tribu- ago mais significativa, Mas essa reforma nio pode ser determinada por avaliagdes equivocadas a respeito do papel do Estado, que no mais teria necessidade de intervir no processo de desenvolvi- mento econdmico da nagio, nem mesmo discipli- nar © mercado, O balizamento da reforma teria que se ater, no minimo, 4s seguintes premissas: I recuperacio da credibilidade dos gestores das fi- nangas piblicas; 2. garantia de um fluxo adequado de recursos capaz de viabilizat as fungSes do Esta- do; 3. simplificagio da legislagio ¢ de normas bu- rocriticas, que oneram 0 contribuinte e a arrecada- so; 4. transparéncia e eqiiidade; e 5. garantia de- mocritica de autonomia financeira dos Estados e Municipios. O fisco também precisa de uma refor- ma, com a valorizasio profissional e técnica dos seus agentes Contudo, um modelo tributério com essas ea- racteristicas nfo seré aleangado com formulas mi- Jagzosas, nem atropelando o nosso sistema federa- tivo, Nesse sentido, © que se espera do Congresso Nacional é uma reforma compativel com os novos tempos. Essas idéias parecem estar presentes em quase todos os discursos e debates sobre a questio tributéria no pals, mas, na hora de formular 0 novo modelo, no ha consenso. Sé em um ponto parece haver entendimento. E quanto a complexi- dade ¢ anacronismo do atual sistema. Na verdade, desde a promulgasio da Carta de 88, busca-se re- formular a nossa politica tributéria; sem que se te- aha obtido sucesso. Enquanto a referida reforma nfo vem, os diver- sos segmentos da populasio brasileira sentem os efeitos danosos de uma legislagio tributiria con- fusa ¢ injusta, que consagra um sibtema regressive de impostos, no qual temos um desnivel cada vez mais acentuado entre 0 tributos diretos, corres- pondentes a menos de 1/3 da carga tributiria, eos impostos indiretos, equivalentes a mais de 2/3 de toda a arrecadagio do pais. Portanto, 0 oposto das nagSes mais desenvolvidas, onde existe uma distri- buigio da renda mais justa. Para agravar ainda mais essa desigualdade, a so- negasio praticada por aqueles que podem pagar mais é um fato concreto, As isensées ¢ a reniincia fiscal acentuam privlégios de alguns setores, en- guanto outros pagam mais do que podem. E 0 que é pior: nfo véem suas contribuigées sendo reverti- das em beneficios sociais Pata complicar este quadro repleto de proble- mas, a maioria dos Estados brasileiros, nos dlti- ‘mos anos, passou a praticar a chamada “guerra fis- cal”, abrindo mao de impostos em favor de grupos emptesariais, com a justficativa de atrair investi mentos industriais, sem considerar 0s prejuizos causados a populagio e os efeitos perversos de uuma concorréncia predatéria entre empresas de um mesmo ramo da produsio. E facil perceber que se trata de uma guerra sem vencedores, exceto os grupos beneficiados, que usam os mecanismos oferecidos por essa guerra para reduzir custos pri vados de produsio as expensas do Estado e da so- ciedade, Assim sendo, privatizam-se os escassos recursos piblicas e induz-se a localizagio de em- presas em lugar errado do ponto de vista econémi- co, 0 que vem contribuir para agravar ainda mais 0 chamado “custo Brasil” Por isso, cresce, na populagio, 0 sentimento de que a reforma tributéria pode vir a ser 0 instru- mento adequado para remover os obstéculos exis tentes no caminho do Brasil rumo ao seu desen- volvimento ¢ 3 superasio da crise econdmico-fi- ranceita erBnica, causada, principalmente, pelo desajuste das contas piblicas. Muitos brasileiros af depositam coda a sua confianga. Acreditam que a capacidade produtiva do pais poders, enfim, liber- tar-se das amarras que impedem mais da metade da populasio de participar do mercado consumi- dor e de sair da situagio de pobreza absoluta em que vive. Porém, é bom registrar que para muitos contri- buintes, a simples mengio de uma reforma tribu- aria soa como mais uma forma escamoteada de aumentar impostos ¢ elevar a carga tributéria, Acostumados com tributos de variadas espécies, contribuigées para diferentes fins, taxas de varias naturezas, esses cidadios, muitas vezes, s4o toma- dos de sucpresa e, em zazio disso, acabam vendo 6 imposto como sindnimo de expropriasio, devido & falta de legitimidade de um sistema que arrecada muito € pouco devolve ao povo. Essa prevengio dos contribuintes se baseia em contingéncias his- térieas, em precedentes que os levam a perder a di- mensio da importincia dos tributos para as socie- dades organizadas enquanto instrumentos de sus- tentagio da administraso estatal, de financiamen- to dos servigos piblicos e de execusio de obras de infra-esteutura. Ou seja, uma série de distorgdes na forma pela qual os tributos so usados no Bra- sil acaba gerando desconfianga e descrenga a res- peito dos efeitos de uma reforma tributiria, Daf as reaghes negativas ante o Estado como instituigio atrecadadora de impostos. Quem paga nunca esté satisfeito com a obrigago de contribuir; mas tam- bém o Estado nunca esti satisfeito com 0 que re- cebe, porque gostaria de aumentar a sua receita; ¢ quem espera receber os beneficios de uma politica tribuciria que, em tese, deveria servir ao interesse piblico, considera-se lesado diante da m4 qualida- de dos servigos prestados 4 populasio, Diante de tudo isso, talvez parecesse de menor importincia reconstruir a histéria dos tributos no Brasil desde a chegada dos portugueses, no ano de 1500. Mas nio é, Conhecer como os colonos bra- sileizos acertavam suas contas com 0 poder colo- nial no século XVI é importante. Saber que os im- postos pagos em espécies existiram até h4 poucas décadas também é fundamental. Conhecer deta- Ihes sobre a cobranga do dizimo pela Igreja Caté- lica, através do Estado postugués, poderia mudar nosso comportamento diante da maneira como pagamos determinada taxa por algum servigo pres~ tado pelo Estado laico atual. Enfim, vale a pena conhecer a histéria dos tributos nos dias de hoje, pois mais do que trazer ensinamentos diretos ¢ concretos, os conhecimentos histéricos permitem que um povo tenha mais elementos para se auto- compreender. O passado pode ser um desses ele- mentos. Por exemplo, saber que muitas rebelides foram organizadas e levadas adiante, em protesto contra a explorasio tributétia, Isso nos dé a per- cepsio de quanto a reagié popular é capaz de re- verter situagbes de opressio. E a historia que registra como cada colono do Brasil, sob as ordens da Coroa portuguesa, foi obrigado a conviver com uma politica fiscal injus- ta, que no respeitava nem a capacidade contribu- tiva das pessoas, nem era seguida de uma Iégica clara. Tributava-se com o intuito de remeter a maior parte dos valores arrecadados para a Metré- pole, © que sobrava ficava na Colénia, para pagar as despesas da administragao das terras “achadas”, exatamente para explorar as suas riquezas € no para construit uma nagio, Estes antecedentes histéricos apontam na dire- do de significativas mudangas, a partir das dti- mas décadas do século XVII, quando o sistema colonial passava a ser cada vez mais questionado. Nascia e crescia uma resisténcia consubstanciada na Conjurasio Mineira, rebeldia muito ligada 4 questio tributiria. Essa crise do colonialismo no Brasil, também presente em outras regides da América, encaminhow o pais para a sua emancipa- so politica em 1822. A emancipagio econdmica no aconteceu ¢ continua inconclusa até os dias de hoje. Assim, olhar para a histéria do Brasil, tendo como referéncia principal a questio tributaria, permite dar maior atengZo a essa mesma questio no momento atual vivido pelo pats, além de ofere- cer uma contribuigzo para 0 debate acerca dos 500 anos passados, desde a chegada dos portugueses & Bahia de Todos os Santos. 19 20 POO here en ae APRESENTACAO eerie een geoprafica ¢ de sua constituigto ce ormacdo do Fstado Nacional po BR ee ere estrutiera a partir do comeso do Pani Giicaimicanin nce desse mesmo século, levaria a frota mavil ma ree Pr ae RE REEL conbecidas como Brasil. A origem dos tributos, a formagao do Estado Nacional portugués, a descoberta do Brasil e as politicas tributérias adotadas desde o descobrimento. ‘A origem dos tributos na histéria da humanida- de esté relacionada com 0 aparecimento do em- brifo do Estado, Esta instituigio, ao separar os go- vernantes dos governados, fez com que outta série de instituigdes dentro do aparelho estatal fosse ctiada. Uma administeagao piblica, uma forga mi- litar, além de obras piblicas. Era necessétio que parte da riqueza produzida pela populagio fosse transferida para um soberano ou agente pablico; isso dava-se através da tributagio. Os governantes primitivos faziam pressio no sentido de legitimar essa cobranga, ligando-a a0 carater divino do poder politico, ou justificando-a com a protesio que este soberano dava aos stiditos em caso de conflitos com outros povos, o que realmente ocorria. O fato € que a tributag a0 que aplicamos hoje, s6 pode ser compreendida dentro de uma estrutura de poder coercitivo, Assim, quando das comunidades primitivas, ou seja, antes do aparecimento das Cidades-Estado, nfo havia ne- cessidade da tributagio, pois no havia a concepgio de propriedade privada, sendo que os bens eram praticamente coletivos e a riqueza advinda do traba- Tho — ao utilizar-se da natureza — era dos trabalha- dores, sem qualquer forma de exproptiagio. em modelos préximos Nessa comunidade primitiva nao havia espago para os tributos. Assim, € mais seguro creditar ao aparecimento do Estado a origem da tributasao. A possivel igualdade de bens entre as pessoas im- pedia — entre outros efeitos ~ que umas mandassem em outras. Exatamente para se evitar a divisio entre governados e governantes, para que no houvesse a criasio de uma institwigio que separasse os homens, diferenciando-os quanto aos poderes politico ¢ eco- némico. Nessa comunidade primitiva nio havia es- ago para os tributos, Assim, é mais seguro creditar a0 aparecimento do Estado a origem da tributagio. Esta insticuigo precisava ser mantida com recursos advindos de uma populagio sob seu domfnio ¢ pro- tesio, Dessa forma, mais do que pagar para que se tivesse proteso contra povos inimigos, parcela da responsabilidade relativa aos tributos deve-se & con- cepsio de que o soberano ~ considerado muitas ve- zes um ser divino — precisava ser sustentado com grande Iuxo, devido a essa condicio divina, Além disso, a natureza pertencia a esse soberano, sendo que os tributos passariam a ser vistos como uma parte dos frutosretirados dessa natureza. Seria uma espécie de aluguel pela utilizagio da posse alheia. (© tributo das sociedades antigas que mais rai- zes deixou foi o dizimet, que tem as suas origens quase perdidas, pois “entre os hebreus, segundo a Lei Mosaica, deviam ser tributados os dizimos ¢ ptimicias para 0 culto divino, Entre muitos povos antigos, prevalecera o costume de ofertat a décima parte dos bens da terra para 0 culto da divindadg, ‘ou seja; a0 principe e ao sacerdote que 0 reptesen- tava ou 0 ministrava’™! sete anos de abundancia a que seguirdo sete outros de carestia, ele lbe recomenda receber durante os sete primeiros anos 0 quinto dos produtos da terra, isto é, 0 duplo dizimo, Dessa maneira, os dizimos estiveram presentes em quase todas as sociedades do Mundo Antigo. Dai que, “no Egito, pagavam-se ao principe os di- zimos dos produtos da terra, no tempo dos Prolo- meus, ¢ provavelmente também na época dos anti- gos Faraés. Quando José anuncia ao Fara6 sete anos de abundancia a que seguitio sete outros de cares- tia, ele Jhe recomenda receber durante os sete pri- meiros anos 0 quinto dos produtos da terra, isto & © duplo dizimo, na previsio do periodo seguinte, durante o qual nio seriam possiveis os impostos.”* 1 Onsatde OLIVEIRA, O+ Disins Ede de Bra 18, 2 Te ide 21 22 | @ | tustorta vos TRIBUTOS NO BRASIL Nas varias etapas da histéria do povo hebrew, em parte retratada pelo Antigo Testamento, os di- zimos sempre sio citados como a principal forma de tributasio, Em relagio a Antiguidade, porém, 0 papel eco- némico exercido pelos hebreus nunca foi de gran- de destaque. Apesar de uma regio marcada por uma sétie de conflitos — muitos determinados pela localizasio geogrifica estratégica -, as grandes ci- vilizagdes dessa época encontravam-se em outros espagos. De fato, dentre os povos ¢ impérios pode- rosos que dominaram espagos enormes durante sé- culos, a grande evidéncia do Mundo Antigo foi Roma. Nesta civilizagio, a questo tributiria teve um peso importante, mesmo porque o tamanho desse império condicionava o estabelecimento de ‘uma politica fiscal bem mais organizada, Alias, veio dai, especificamente, © termo em questio, pois “a palavra tribueo vem do latim tributum,i, cujo verbo tributo, -ere significa ‘dar, conceder, fa- zet elogios, presentear’. Designava primitivamente as exigincias em bens ou servigos que as tribos vencedoras faziam as tribos vencidas. Posterior- mente, essas exigéncias passaram a set feitas & pro- pria sociedade” Roma notabilizou-se pela cobranga de impos- tos dos seus cidadios, mas, principalmente, arre- cadava-os dos povos submetidos ao seu poder. A sua pritica expansionista organizava-se a partir do saque de outeas regides,,com a escravizasio dos vencidos ¢ a cobranga de tributos. Internamente, “o eributo era o principal imposto pago pelos ci- dadios romanos. Durante a Repiblica esse impos- to foi cobrado em ocasides de guerra, cabendo 20 Senado votar a parte que 0 cidadio, de acordo com as suas posses, deveria contribuir. O tributum era considerado, entio, um empréstimo, ¢ 0 cida- dio seria reembolsado assim que a presa de guerra ou as contribuigSes do vencido permitissem. Apés a conquista da Macedénia (168 a.C.), o tributum foi definitivamente extinto para os cidadios roma- nos, provavelmente porque os tributos que a Ma- ceddnia devia pagar 4 Urbe (Roma) permitiam li- berar os romanos desse dever.”* ‘Muito ligado ao termo tribute, que hoje tem 0 seu significado ampliado a todas as obrigagSes fis- 3 Sil inte FRANCO, Dink Pals « Cielant, p18. 4 Hem, ide 3 Hem, bide cais que uma populago paga 20 Estado, fisco tam- bém se refere a questio tributiria e tem a sua oti- gem ligada 20 Império Romano. Assit, “o termo fisco ver de fiscus,-i, que era 0 cesto de junco ow de vime em que 0 coletor de impostos romano ia colocando 0 dinheiro piblico que recolhia. J no tempo de Cicero, famoso lider politico da Roma Antiga, que viveu entre 106 a.C. € 43 a.C., 0 fisco designava, por metonimia, 0 contetido, 0 proprio Tesouro Public Genericamente, é possivel afirmar que 08 povos antigos atrecadavam tributos através da cobranga interna e sobre povos dominados. Grande parte da sobrevivéneia do Imp dos grandes impérios da Antiguidade ~ vinha da exploragio dos povos que haviam sido detrotados milicarmente, jo Romano — assim como Internamente, a cobranga de tributos recafa, em getal, sobre a importasio de mercadorias, agrfco- las ou nio, como é 0 caso das civilizagdes proxi- mas a0 Mediterraneo, No caso do Egito, também se cobravam impostos sobre a propriedade da ter- 1a, cujo valor dependia da extensio da mesma, © fim das civilizagdes antigas, centradas na desorganizagio do Império Romano, trouxe pata co mundo ocidental a experiéncia do Feudalismo. Este sistema apresentou a marca especial da com- pleta descentralizasio politico-administrativa. Ou seja, a base de organizasio desse sistema era 0 feudo, em que uns tinham grande autonomia pe~ ante 08 outros, isto 6, nfo havia o Estado centra- lizado, Dessa maneira, as priticas tributitias fo- tam severamente transformadas, mas nem por isso deixaram de manter seus aspectos violentos opressivos. Na ordem feudal, a sociedade dividia-se entre 0 servo da gleba e o senhor feudal. Em cada feudo, havia as terras dos servos — que tinham a posse permanente sobre elas — ¢ as terras senhoriais, Para que os servos fossem protegidos ~ entre ou- tras questdes —, estes deviam certos direitos ao se- hor feudal. Sto os conhecidos direitos senhoriais. Nestes, apresenta-se 0 direito de cobrar patte da produsio do servo para que este se utilize das ins- talagées do feudo, como era o caso das pontes, das estradas, dos fornos e dos moinhos. As principais obrigasSes devidas 20 senhor feu- dal eram a Corvéia — trabalho forcado de servos nas terras senhoriais; em geral, tsés dias por sema- nae as Redevances ~ retribuigdes pagas em pro- dutos ou dinheiro, como a talha (parte da produ- 40), banalidades (presentes obrigatérios), taxa de casamento (se 0 servo casava-se com mulher de fora do Dominio), mao-morta (tributo pela trans- missio’ de heransa). Também 0 dizimo era pago para a Igreja Catélica, sweada feudo foi abrindo mao da sua autonomia em nome da centralizagao politico-administrativa, agora nas maos de um rei absolutista. Na mesma Buropa ocidental, a partir do sécu- lo XIV, com a decadéncia da ordem feudal, inicia- se uma lenta formagio dos Estados Nacionais. Ow seja, cada feudo foi abrindo mao da sua autonomia em nome da centralizagio politico-administrativa, agora nas mios de um rei absolurista. Este, 0 re- presentante do Estado — isto quando nao se con- fundia com o-proprio Estado , tornou-se 0 en- carregado da cobransa tributiria, a fim de que 0 poder pablico tivesse recursos para manter a mi- quina estatal e para colocar 0 poder desse Estado a serviso da expansio do capital, Caso exemplar é © das nagdes ibéricas, que financiaram as grandes viagens maritimas com o intuito de dominar novas areas de comércio. Assim, pensar a histéria do Brasil significa bus- car os elementos primérios de sua configuragio geogrifica e de sua constituigio como nagio na formagio do Estado Nacional portuguts, cuja ori- gem data do século XII, ganhando plena estructura a partir do comego do século XV, quando se ini- cia a sua expansfo ultramarina que, ao final desse mesmo século, levaria a frota maritima portuguesa ds terras que mais tarde seriam conhecidas como Brasil Com estas consideragies iniciais, pretendemos apresentar e discutir a histéria do sistema tributé- rio brasileiro desde a chegada dos portugueses 20 “ancoradouro de Porto Seguro”, até os dias atuais, tarefa de fOlego, que merece muito cuidado. Ini- cialmente, nfo se pode pensar a politica tributéria de uma época sem uma compreensio geral do seu contexto, Ou seja, é necessitio conhecer as preo- ‘cupasdes que o poder piblico, e nio s6 este, tinha com a arrecadagio de impostos ¢ com 0 sentido que dava para formas especificas de arrecadagio de valores para a Fazenda piblica. Para tanto, deve-se olhar tanto para a estrutura econdmica do pais quanto para a administrasio publics, a fim de dimensionar quais as atividades produtivas que poderiam ser taxadas ou nao. Tra- ta-se de perceber a capacidade e o potencial de cada uma dessas atividades em contribuir com 0 fisco. E mais: além dos impostos diretos ou indi- retos, no se pode ignorar a existéncia de outras maneiras de se transferir riquezas produzidas pela populasio para o Brério piblico. Neste proceso de contextualizacio, depa- ramo-nos com situacdes muito distances da atual realidade, como 6 fato de, nos primeiros anos da colonizacio do Brasil por parte da Metrépole portuguesa, a circulagi0 monetiria ser praticamente inexistente — situagio que nfo impedia a cobranga de impostos, mas que gerava a pritica do pagamento dos tributos, na maior parte da vezes, em espécie, ot seja, como parte da propria produsio. Essa cobran- sa em espécie, nese momento da colonizasio, tornou-se muito mais interessante 4 Coroa portuguesa. ‘Ao mesmo tempo, essa contextualizagio per- mite que se compreenda o espirito do sistema tri- butério de cada época. De certa maneira, trata-se de adentrar o discurso oficial e entender como o poder piblico justificava cada uma das cobrangas que recaiam sobre a populagio. Por exemplo: nos primeiros anos da colonizasio brasileira, havia uma taxa adicional cobrada sobre produtos estran- geiros, além de um tipo de imposto de importa- Gio. Essa taxa era uma espécie de pagamento por setvigo cobrado, jé que o governo portugués alega- va.os perigos de se navegar pelo Atlantico, espago dos ataques piratas. ‘Assim, se 0 contexto histérico permite com- pteender as varias praticas tributdtias existentes no Brasil, é preciso mapear cada um destes momentos com as suas formas especificas de administragio ¢ de politica tributéria, Alguns cortes cronolégicos, ainda que tradicionais, podem ajudar nessa tarefa, que é a de reconstituir a trajet6ria dos tributes no Brasil. 33

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