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CEBs e Cultura Popular Cecilia Loreto Mariz Sociéloga e professora da UFF O contraste entre o po- der de atragao dos centros afro-brasileiros e das Igre- jas Pentecostais em relacao 4s CEBs cat6licas émarcante. As CEBs nao conseguiram se transformar num fendmeno de massa no Brasil. Como mostra Deaudelin (1990), sua dimensao em termos demo- graficos nas camadas popu- lares, embora superestima- da pela literatura, tem sido de fato relativamente lim tada. Enquanto agentes pas- torais descrevem a dificul- dade de uma CEB “caminhar sozinha” sem sua ajuda ou a dos padres, os “crentes” pentecostais mais compro- metidos com sita f€ buscam novos adeptos e criam no- vas igrejas. Para compre- ender a dificuldade de uma maior proliferacao das CEBs é importante comparar a sdo de mundo e as praticas religiosas desses grupos com as da religido e da cultura popular. relago entre as CEBs a cultura popular é uma grande preocupacio en- tre agentes pastorais e teéricos das CEBs, como mostra a am- pla bibliografia sobre o assun- to (ver, por exemplo, Helcion Ribeiro, 1985). Embora os te- 6ricos das CEBs destaquem os aspectos positivos da cultura popular, denunciando a domi- nacdo cultural com criticas a0 preconceito da cultura letrada em relagio as expresdes cultu- rais que se Ihe escapam do con- trole, percebem sempre a cul- ‘tura popular como algo que pre- cisa ser “purificado” e modifi- cado, especialmente por causa de seus aspectos alienantes. Os intelectuais das CEBs so, as- sim, ambivalentes em relagio’ cultura popular, que ora é vista como forma de resistencia & dominagao de classe e fonte de identidade social, ora € consi- derada como freio ao projeto de libertacdo popular fonte de alienagio. Os agentes pas- torais se propdem a dificil mis- so de retirar os aspectos alienantes da cultura popular, sem, noentanto, descaracterizé- Ia-e destruf-la. A viabilidade os limites desse projeto nto tém sido muito questionados e ana- lisados pela literatura pastoral das CEBs que vém discutindo pouco as implicagdes € 0 signi- ficado desta proposta de “puri- ficagio” e “desalienagao” da religiosidade popular. Embora, por algum tempo, tenham sido chamadas “a igre- ja que nasce do povo”, na ver- ‘dade, as CEBs surgiram de uma autocritica de uma igreja que no se sentia mais povo e que resolveu “optar” por este, Esta opedo significava construiruma cosmovisdo € prética religio- sas consideradas mais adequa- 108 interesses da “liberta- social, politica e econd- mica dos pobres. Com o objeti- vo de atender ao que foi defini- 26 do como “interesses dos domi- nados”, essa mensagem, desen- volvida pelos intelectuais da Teologia da Libertagio, rompe com a antiga forma de religio- sidade, e com alguns aspectos da cultura mais ampla tidos como “alienantes”. A defini- gio de alienagdo surgiu dentro deuma concepgaoracionalista, que privilegia a razio como a forma mais competente de co- nhecer arealidade. Daf, as rup- turas intencionais propostas pelas CEBs com 0 objetivo de desalienar o povo levardo a re- Gefinigdes de certos pressupostos cognitivos e valorativos da re- ligiosidade popularqueimplicam um processo de substitui¢so do mito pelo logos, ou seja, uma racionalizagdo, no sentido we- beriano da mesma. Sugiro, Ho, que, apesar de suas criti- cas & modernidade (Langley, 1988), @ Teologia da Liberta- go, através do processo de “desalienagio” e “putificagdo” da religiosidade popular a ser realizado pelas CEBs, prope uma racionalizagio da religio- sidade € uma modernizacao da viséo de mundo popular que, gerando um certo grau de “de- sencantamento”, paradoxalmen- te, ameaca a potencialidade da prépria religido enquanto fon- te de identidade e de sentido. Nos préximos t6picos dis- cutirei algumas destas ruptu- ras € tentarei mostrar por que se constituem em um processo de racionalizacao religiosa. Status Ontolégico dos Simbolos e Rituais Aprimeirarupturacognitiva, que busca “purificar” a religi- osidade popular, ocorre em re- lagdo 20 status ontolégico dos s{mbolos religiosos. Argumen- tando que a religiao popular adota o simbolismo da classe dominante que € alienado &re- alidade do pobre (Betto, 1984), agentes pastorais acreditam que esses simbolos estranhos & ex- perigncia do dominado podem destruir 0 poder libertador da ‘mensagem crista, Por supor que simbolos sto apenas represen- tages de valores ¢ princfpios éticos - uma mera linguagem, e no um fendmeno ou entidade real -, eles propéem uma recri- ago da religiosidade através de uma nova linguagem simbé- ica. O processo de construgéo dessa nova linguagem com a elaboragdo de novos sfmbolos calcados sobre os elementos do cotidiano do povo pobre é cha- mado pelos agentes pastorais de “contextualizacao” da men- sagem cristd. A proposta de agentes pastorais de que se deve “contextualizar” no apenas os textos biblicos, masa simbologia € o ritual religiosos, se baseia na concepgao de que 0 cerne de uma religido no seria 0 con- junto de rituais e simbolos sa- ‘grados, mas sim prineipios ver- dadeiros ¢ éticos. A énfase na ética e/ou no pélo ideolégico (Turner, 1975) de uma religiao, ‘como mostra Weber, se relaci- ona ao desencantamento da mesma e do mundo, ¢ cortes- ponde a um processo de racio- nalizagdo religiosa. A resistencia do povo, no caso descrito por Burdick (1990), & tentativa de um padre progressista de substituir em sua pardquia 0 ritual de coroa- eo de uma imagem de Nossa Senhora pela coroagao de uma mulher idosa da comunidade, sugere que tal ritual nfo seria. para essa populacdo uma sim- ples linguagem que pudesse ser modificada segundo o contex- to, mas que teria uma autono- mia e sentido proprios inde- pendentes do significado atri- bufdo a ele pelas andlises racionalistas dos teélogos, 4 O efeito mais provavel des- te tipo de experiéncia de adap- tagdo de rituais e sfmbolos pa- rece sero “desencantamento” € morte desses simbolos. Estas experiéncias expdem 0 povo & relatividade de suas crengas € cultura, Ao tentar superar 0 etnocentrismo da religiosidade tradicional, os agentes pasto- rais destituem os simbolos € rituais de seu poder sagrado, tornando-os relativos, “desen- cantam-nos”, destituindo-os de sua posigdo central na religiio porque reduzidos a simples re- presentagoes. Assim, na visdo dos agentes pastorais e dos padres, em ge- ral, que € relativamente muito mais desencantadae secular do que ada cultura popular, tam- bém as experiéncias cotidianas com o sobrenatural sao vistas como fonte de alienagao. Daf, ‘como parte do processo de “desalienagio” religiosa, evi- ta-se nas CEBs a discussio de milagres e fendmenos sobrena- turais vivenciados pelas pes- soas, ¢ retira-se, nas interpre- tagbes da Biblia, o aspecto ma- gico dos milagres descritos. ‘As CEBs entio se distanci- ‘am da cultura popular, onde 0 sobrenatural € vivenciado no dia-a-dia das pessoas. Curas milagrosas, visdes, vozes do além, profecias so parte do cotidiano de individuos das di- versas tradigdes religiosas nas camadas populares do Brasil. ‘Além de nao vivencié-las, os agentes pastorais das CEBs nfo parecem acreditar muito na experiéncia cotidiana do povo com o sobrenatural. Enquanto ‘08 lideres da tradigao afto-bra- sileira e pentecostal citam freqiientemente fendmenos so- brenaturais, raramente agentes pastorais e padres progressis- fas mencionam milagresem suas falas. Um padre progressista, por exemplo, conta como foi Commcapesotsat4 dificil para ele, a pedido de um fiel, abengoar uma crianga do ente para que se curasse mais rapidamente, Para este padre, sua bénco nfo itia resolver 0 problema daquela crianca. No entanto, para a maior parte de seus paroquianos esta béncao seria tio importante quanto a visita ao médico ¢ 0 uso de meios cientificos. Outroexem- plo seria a condescendéncia da Tgreja Catélica progressista em relaciio As religides afro-brasi- leiras, que decorre, em parte, do fato delas serem considera das superstigbes inofensivas. Essatolerdncia, noentanto, nem sempre € compartilhada por membros das CEBs, como foi observado em algumas entre- vistas. Gastos com 0 sagrado Em geral, os agentes pasto- rais argumentam que a Igreja Catélica, como um todo, € os pobres, em particular, devem evitar despesas com 0 sobrena- tural, ou seja, com rituais, ima- gens, flores, velas, tal como ocorriatradicionalmente, usando seu dinheiro para melhorar a condigao atual de vida, Nesta perspectiva, as despesas com 0 sagrado s4o tidas como “ind- teis”, ndo se adequam com a ‘opgfio pelos pobres € seriam um indicador de alienagio. Assim, esta proposta de evitar altos gastos com construgao de templos ¢ rituais ¢ ent&o raci- onalizante porque utilitéria e “desencantadora”, pois revela, ‘como jé foi discutido anterior- mente, que omundo sobrenatu- ral tem uma posicao nas CEBs subordinada 20 mundo ético, 0 que nao ocorre nas religibes € cultura popular. Nos cultos afro-brasileiros, por exemplo, é muito marcante © contraste entre a pobreza da populagdo local e a riqueza de seus rituais (Motta, 1983). 0 pagamento de obrigac6es, dos servigos de paise maes-de-santo, bem como 0 dizimo das Igrejas Pentecostais, prestado pelos pobres, é em geral interpreta- do pelos mais secularizados ‘como uma forma de se “apro- veitar da boa-fé do povo”. No entanto, esses gastos com ati- vidades sagradas parecem ser muito legitimos nas diversas tradigdes teligiosas do pobre brasileiro. Essa legitimidade € inversamente proporcional a0 grau de desencantamento da vistio de mundo. Religiao como projeto histérico A outra proposta de “desalienagio” serelacionacom a énfase na idéia de um plano de Deus para ahumanidade que se identifica com um projeto hist6rico de transformagao po- Iitica e social. A énfase nessa idéia pressupOe néo apenas a substituigdo de uma viséo “en- cantada” de um projeto de sal- vagdo sobrenatural numa vida apés a morte por um de salva~ fo concreta nesta vida, mas também numa énfase no aspec- to linear da historia, A visto Yinear dahistoria e a preocupa- cio com 0 futuro, que sdo ele- mentos caracteristicos da modernidade, esto claros na forma como as CEBs denomi- nam suas atividades religiosas- “a Caminhada” 54 na tradigdo afro-brasilei- rae do catolicismo popular, as praticas de “obrigagSes” e “pro- ‘messas” no pressupdem acon- secugtio de um plano divino. As“obrigagbes” e “promessas” sfio fruto de negociagGes do fiel com asentidades sobrenaturais, e ngo obedecem a um plano preestabelecido de transforma- ohist6rica, nem possuem um objetivo que transcendaas ques- tes mais imediatas e priticas. ‘A auséncia'da idéia de pro- jeto divino nessas formas de religiosidade revela que asmes- ‘mas possuem uma concepcéo circular da hist6ria, Essas reli- gides se constituem, entdo, em formas de harmonizarohomem auma natureza a-hist6rica que se repete ad infinitum, e nio se propéem a transformar 0 mun- do, iniciando um processo his- t6rico original. Por acreditar que esta concepcio de historia da cultura popular é fatalista, um freio para a mudanga, os agentes pastorais a definem ‘como um elemento alienador & intencionalmente tentam trans- formé-la. Fei Betto, por exem- plo, considera a visio hist6rica judaica como uma revelacdo divina, A historizagao da reli- gidlo €, de fato, como mostra ‘Weber (1972), um elemento ca- racteristico da tradigio judai- ca, responsdvel pela racionali- zagio do mundo ocidental. A “logofilia” das CEBs Nos cultos afro-brasileiros, tal como mostra Motta (1983) em relagiio ao xang6 no Recife, a palavra desempenha um pa- pel secundério, O xang6 é uma religido mais cantada, dangada. Nao exige uma elaboragio sis- temdtica de seus princfpios re- ligiosos, nem reflexdo sobre leituras de textos. A énfase na leitura da Bfblia é uma ruptura das CEBS e das Igrejas Pente- costais com este tipo de religi- osidade caracteristica nfo ape- nas dos cultos afto-brasileiros como do catolicismo rural po- pular. Navisaoensinadanas CEBs, a verdade religiosa se alcanga 2B mais pela reflexdo ¢ andlise racional do texto biblico e/ou de textos doutrinérios forneci- dos pelos agentes pastorais do que por uma revelacio mistica ou por um transe. Nesta viséo, se um indivfduo quer melhorar a compreensio da mensagem crist, deve procurar estudar, refletir sobre a realidade, ler. (Os menos instrufdos e mais po- bres entre os pobres as vezes sentem dificuldades em parti- cipar das CEBs, como decla- ram alguns entrevistados.' Os agentes pastorais esto consci- entes desse problema, Para muitos deles, a evangelizagio do pobre é também um proces- so de educaco popular e visa, entre outras coisas, desenvol- ver a habilidade para falar, expressar idéias e argumentar. A educagdo popular com 0 de- senvolvimento da expresso verbal e da argumentagio l6gi- ca seria um passo na “de- salienagio” do povo. Sem ne- gar a utilidade do desenvolvi- ‘mento desse tipo de habilidade, ndioapenas para oenfrentamento da pobreza como para maior participagdo polftica na socie- dade moderna, a énfase na pa- Javra e na reflexo racional na religio constitu uma rede- finigo do que seja uma experi- éncia religiosa que rompe fun- damentalmente com a concep- do de religido da cultura po- pular. Assim, segundo a di- cotomia de Turner (1975), @ religiosidade popular se carac- terizaria pela “iconofilia”, en- quantoas CEBs pela “logofilia’ Rupturas com a cultura politica popular ‘Uma das formas de “purifi car” e desalienar a religiosida- de popular seria despi-lade seus aspectos autoritérios. Assim, a proposta das CEBs, como mos- tram Violae Mainwaring (1987), representa uma quebra dosele- ‘mentosautoritériose centralistas da cultura politica brasileira Para isso, as CEBs procuram em seu cotidiano exercitar um tipo de democracia radical, onde as decis6es so colocadas em discussao por todos os partici- antes € onde todos tém direito de expressar suas opinides e votar. Assim, aautoridade do lider nas CEBs é limitada pelo voto da maioria e também pela opi- nigo dos assessores. Além do mais, as fungOes e cargos de lideranga sforotativos, ninguém, permanece no mesmo cargo por muito tempo (Castro, 1987) Esta praxis polftica contrasta com a de grupos populares, religiosos ou nio, tais como os centros afro-brasileiros e gru- pos carnavalescos. Nesses gru- os no se valoriza a participa- ‘Ho dos membros nas decisdes. O maior valor € a obediéncia e fidelidade ao fder em cujas maos se concentra todo 0 poder. Os terreiros e centros afto-brasi- leitos so, por exemplo, pro- priedadedopai ou mie-de-santo e no dos membros do centro. Assim, o centro no pertence aos membros do grupo, mas sf esses que pertencem ao cen- tro. O autoritarismo da cultura popular se revela ainda noselo- gios comuns nas camadas po- pulares a Ifderes que sio auto- ritérios tanto na politica como nas diversas associacdes po- pulares, tais como grupos de carnaval (Zaluar, 1985). Quanto mais autoritério € 0 lider, mais €considerado eficiente ¢ admi- rado. ASCEBstentam rompercom esse autoritarismo, mas sua proposta democritica ¢ diffcil de ser colocada em pritica. Embora os agentes pastorais expliquem essa dificuldade pe- a resist€ncia dos valores pre- existentes que tenta transfor- mar, apontando, por exemplo, a tendéncia que tm alguns If- deres de CEBs de repetir 0 pa- dro tradicional de comporta- mento autoritérioe dese torna- rem “minipadres”. O maior li- mite & prética da democracia radical com a participagio de todos os membros do grupo nas decisdes parece ser antes fruto da assimetria da competéncia verbal entre os agentes pasto- rais € 0 resto do grupo. Devido a superioridade da capacidade de argumentar dos agentes pas- torais, 0 debate das decisdes tende a favorecé-los ¢ retirar 0 poder dos menos articulados verbalmente. Assim, a prética participativa democrética atti- ui o poder a quem melhor do- mine 0 uso da palavra, Como mostra Weber (1982), isto caracterfstico da sociedade moderna, Ao valorizar a parti- cipacdo, a reflexdo e a opiniio dos individuos, esta pritica © questiona a hierarquia, ¢ assu- £ me os valores do liberalismo ot moderno que se opéem frontal- mente & hierarquia e & prima- zia da unidade grupal sobre a reflexio racional ¢ liberdade de pensar individual. Daf, a proposta de democracia radi- cal e participativa das CEBs entrar em choque com a prdtica prevalecente na Igreja Catéli- ca, cujaorganizacaohierdrquica ébaseada em pressupostos nio modernos e autoritdrios. As- sim, o fato de as CEBs serem parte da Igreja Catélica consti- tui outro elemento que dificul- ta, seno impede totalmente, que se vivencie nesses grupos a pritica democrdtica proposta. Conclusoes Através deste artigo busquei mostrar que, na tentativa de desalienar a religiosidade po- pular, as CEBs racionalizam 0 commacitesooisa 44 catolicismo, rompendo profun- damente com elementos funda- mentais da religiosidade ¢ da cultura popular. Como conse- qiiéncia, torna a visdo de mun- do e religiosidade proposta pe- las CEBs de dificil compreen- sfo e aceitagdo pelas camadas populares que preferem outras formas de religiosidade mais encantadas e mais misticas. Os agentes pastorais estio conscientes de grande parte dessas rupturas, pois muitas delas so metas intencionais do processo de educac&o popular que tentam desenvolver nas CEBs, com vistas a modificar aspectos da cultura popular ¢ da religiosidade tradicional cat6lica, considerados alie- nantes, € que ndo respondem 0s interesses do povo oprimi- do. Como os elementos consi- derados alienadores tendem a se identificar, em grande parte, com os “encantados”, emocio- nais e magicos, a proposta de conscientizar 0 povo “desali- enando” suas crencas e prati- cas religiosas constitui de fato ‘uma proposta de desencantar & racionalizar a religido. A op- cdo por uma religiosidade his- t6rica, ideol6gicac éticaimpli- caa supremacia da razdo sobre © corpo, o intelectual sobre 0 emocional, correspondendo @ ‘um processo de racionalizagao. Como mostra Hoornaert (1988), a Teologia da Liberta- Gio, que gerou as CEBs, dé Continuidade ao processo de racionalizagdo do catolicismo no Brasil pela romanizagao. Sugiro, entio, que uma das di- ficuldades das CEBs em ser completamente compreendidas @ aceitas pelas populacées po- bresse relaciona, tal como ocor- reu com 0 processo de roma- nizagio (Maues, 1988), com seu grau de racionalizagio & seu confrontamento com a cul- tura popular preexistente As rupturas racionalizantes das CEBs so, em primeirains- t€ncia, cognitivas, pois assu- me-se que, para se evitar alie- nagio devido a religido, 0 co- mhecimento verdadeirondopode ser definido pela fé apenas. A £6 somente é capaz de definir a realidade com a ajuda do raci- ocinio, do argumento légico & dados da realidade empfrica, ou seja, 0 logos conhece me- Thor do que 0 mito, Assim, a redefinigdo proposta pelas CEBs na forma de conhecer e definir critérios de realidade implica também uma descontinuidade em relacdo aos valores da cul- ‘tura popular. Daf, ainviabilidade da ambigdo pastoral das CEBs, que visava transformar aspec- tos considerados alienadores da cultura popular sem atingir seu sistema de valores e sem desestruturar todo aquele sis- tema cultural. Baseada nesta andlise, 1e- vanto também a hipotese de que este alto grau de secularizagéo das CEBs explica parcialmen- te o seu abandono em favor de movimentos politicos pelos “po- liticamente mais conscientes” eapreferénciados “menos cons- cientes” por outros movimen- tos religiosos A evasio dos Iideres mais “conscientes” das CEBS ver. sendo observada desde a aber- tura democrdtica no Brasil. Luiza Fernandes (1985) ¢ Fret Betto (1984) sublinham que, antes da abertura, néo havia muitas opgdes politicas ¢ as CEBs incorporavam os varios ‘movimentos sociais que flores- ceram posteriormente, ¢ nelas recrutaram os seus lideres, EX- plicam, assim, a evasio das CEBs por fatores exteriores &s proprias CEBs. A minha hip6- tese, distinta da anterior, pode ser considerada complementar a ela: busca as causas na sub- jetividade do membro da CEB. dade religiosa ou 0 aspecto re- ee era ligioso de sua motivagdo polf- tica, adotando um humanismo “desencantado”. Esse fato j4 nese ate enor algUAS BURDICK.J. Looking lortheGotl4 yah Copcts ee CEBS lee terene agentes pastoraisdes~ Bras. Ph D dincaion, CIMA Feguanay” Comin so tae de meados da décadade 80 se University, 1990. eT referem “ao rompimento do te- cido das CEBs”. 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No, se aproxima do protestantis- yyyijuctionot BasicEecisial Communities vos Movimentos Sociais, Cukura Politica mo, e se afasta da tradig90 Ca- toanedocation for socal ansfocmation in Demosracins Brasie Argentina schon Tolica que, com sua énfase na rai." Tese de douoramento, Graduate Waren. Risnks ie) Lith School of Eaeation, Harvard, 1985. lugdo no Cotidiane: os Novos Bovimen: Si tos Sociais na América do Sul. So Paulo: © Brasiliense, 1987, 3 Progressive Church io ets for Paulinas, 1985. hierarquiae na unidade, é intrin- secamente antimoderna, como mostra Rubem C. Fernandes FERNANDES, R. C.*Os Vérios Sst 99 mas Religiogos Face a0 Impacto da eee ae Ce See a emt eee nel naeae tare a po de catliclemo do SER, Rio de Janeiro, 1991 Nota HEWITT, W. 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Osmem- Rams hy: she ant Wark 186 ros mais politizados que saem LO que Cowenidadede yy, ANOLEY, Wisten, Liberation é ee oe sie dent: pave stop wate ae Thniienieteegte menor Assuntos diversos e atuais sao temas de livros e videos produzidos pelo ISER e outras ONGs, que podem ser adquiridos no Setor de DistribuigG Ladeira da Gléria, 98 - CEP 22211-120 Gléria - Rio de Janeiro, RJ Tel.: 265-5747 - Fax: 205-4796.

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