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LuDwic WITTGENSTEIN INVESTIGAGOES FILOSOFICAS, ‘Tradup:José Carlos Bruni Fundadk VICTOR CIVITA (0907-1950) & Eaitora Nova Cultural Lida, Copyright © desta edigio 199, Editora Nova Cultural Lida, ‘Rua Pees Leme, 524-10" ands CEP 05124-010 “Sto Paulo SP. Coordenagio Editorial Janice Rorido ‘Chefe de Arte: Ana Suely Dobgn Paging: Nair Remand ds Silva Diretos exclusives sobre a tradgbes deste volume: aitora Nova Cultural Lida, 580 Paulo. Direitosexctusivos sobre “Wittgenstein - Vida e Obra Ealtora Nova Cultural Lida, Impreseio eacabament: Grifica Ciculo ISBN 5-13-00859-1 ‘Vera permis sment om conjnto com eis de ais VIDA E OBRA CConsutora: Armando Mora ‘Oliveira Encxernatos De MEMORIA, 0 filésofo Bertrand Russell (1872-1970) conta que, por volta de 1913, tna entre seus alunos da Universidade de Fam Ho esquiste, ponto de, apés todo um period letivo, 0 filsofo no saber dizer se se uatava apenas de um exctnizico ou de um hhomem de gio, Soa perplexidade aumentou ainda mais quando fol pro- ‘arado pelo etranho aluno, que the fez uma inelta pergunta:"O senhor Podern fazer a Ginesa de me dizer se sou ou no un completo idiot” ‘Rusell respondeu que no sabiae perguntow Ihe das razbes de sua dvi. (aluno replicou: "Caso sea um completo iota, me dedicare! aeronsu- ‘ca; aso contro, tormar-me-i idsofo. Russell nio encontrou outra Salda para se desfazer da embaracosa quesilo, a nio ser pedindo-the que ‘ccrevese um asundo Sos qualquer, e depois lhe mestase. Fassado figum tempo 0 aun retorrou com 0 trabalho o fidsofo depois de ler ‘pends uma Unk, sentencou "Nao, voc! io deve se tomar um aeronaut' ‘A partir dat, Wittgenstein, o aluno excénirico,abandonou totalmente qualquer preocupacio com engenharia de avides, tomando-e rio apenas ‘mais um fideo entre outros, as uma das prinpais igus da filosofia do século XX. (© Hone pe Investor 4 FiL6sor0 Ludwig Josef Johann Wittgenstein nasceu em Viena, «26 de abril de 1889. Sua fama havia emigrado da SaxGria para a Austria, e sua ‘scendénciajadaia cessou com 0 av6 paterno, que se converters 20 pro- testanmo. Seu pa era diretor de uma grande siderdrgia © organiz0u ‘© primeio cartel do ago na indstria austria. Sua me, ha de um Danqueiro vienense, era extremamente devotada a misica. Enire os fe- _gientadores da familia Wittgenstein, encontrava-se Johannes Brams (1833- 1897; um de seus irmios, Paul, tornou-se conhecido pianist. ‘Areducagio de Wittgestcin, até 0s catorze anos, procesou-seto- talmente em casa; ea um estudanteindiferente, mas demonstrava grande Interese por engenhos mecinics,« ponto de corstuir uma maquina de fea, ue provocou grande admiragio. Seus pais resolveram, ent fenvidlo a uma escola em Linz, na regito monfanhosa da Austria, onde 2 énfae ea colocada no estudo da matematicaedafsca,dando-se pouca engi & educagio lisse, pds tes anos em Linz, Wittgenstein ingres- ‘sou na Escola Técnica Superior, em Charlottenburg, Berim. Na primavera de 198, debou essa escola, onde estudava engenharia mecarica,€ mi douse paraa Inglaterra, registrando-s como estudante de engentara na Universidade de Manchester, Durante trés anos, dedicouae a pesquisa ‘2eronduticas, tendo projeado um motor acionado ajo © um propulsor. ‘Seus interesses, porém, comecaram a afastar-se dessa rea, rientando-se para a matemdtica pura, em seguida, para os fundamentos da matemd- Hea, Nessa época, Wittgenstein enconiou por acaso os Principio de Ma tonite, de Bertrand Russel, que Ihe desperaram grande enfusissmo, (Como resultade, decidiu abandonar a engenkara e, em 1912 ingressou ro Trinity College, a fim de estudar com Russell. Sob sua orlenagio, edicou-e& logiea,realizando progress surpreendentes. ‘Norman Malcom, um dos princpaisbidgrafos e comentadores de ‘Witigenstein, conta que os anos de Cambridge, do ponto de vista aetvo, foram marcados pela intima amizade que 0 igow a David Pinsent, seu colega de estuos, A liga entre or dois envolviaoutrasafinidades além {da liga. O interesse pela misica fot uma delas. Ambos possulam um repertrio de mais de quazenta lieder de Schabert que Wittgenstein sabia stsobar,enquanto Pinsent acompantava 20 piano. Além disso, fazia pi- it Islandia « na Noruega,correndo as despesas por conta de Witigenstein. Embora considerase Wittgenstein uma companhia dif, inritivel e por vezes deprimente, Pinsent dizia que, quando alegre, ele se tomava encantador. 'Um dos motivs principals de suas depressbes decoria de um sen- timento de proximidade da morte que vria a impedi-lo de aperfigoar suas iddias fo terreno da logis. Durante multos anos, antes de ir para Cambridge, raros eram os dias em que nio persava em suciio. Assim, ir para Cambridge a fim de estudarflosofia com Ruscel, adquiriu para Witgenstein o caréter de salvagio DDrante a primavera de 1913, ntensamente envolvido por seu ta batho em ligica, Witgensein submeteu-se a véras sessdes de hipnose, tenfando, com esse recurso, obter respostas mas larase definidas acerca das questesLigica extremamenteinfrinadas com as quais se defrontava No decorrer desse perodo, correspondewse freqientemente com Russell suas catasretzatam um Wittgenstein muito aetivo, enfusiasmado com Sas descoberaslogicas, mas, a0 mesmo tempo, manifesta sua convicg4o ‘de que jamais poderia toma se amigo de Ruse pois, aseu ver, os ideas diferentes dos dois fldsofes ‘uma verdadeira amizade. Wit [petcin considerava possivel # amizade entre duas pessoas, desde que ambas fosse "pura, podendo, assim, exstr um rlacionamento aberto enue elas, sem Causar a menor ofersa. Ele mesmo, cantudo,nlo Se com Siderava um puro, e erevia para Russell "Minha vida ests cheia dos ‘mais odiosos € mesquinhos pensamentos (sso ndo éexagero).Talvez voce pence que seja uma perda de tempo, para mim, pensar acerea de mim ‘mesmo; mas como posso tormarme uit Iégico se io sou Sequer un ho- ‘emt Antes de mais naa, devo tornar-ae puro (Quando eclodiu.a Primeira Guerra Mundial, Wittgenstein alistou-se no exéritoaustriaco como voluntrio. Durante os anos de casera, tra bathou intensament,redigindo 0 Tciafus Lagico-Phibsophics, que viria 4 ser sua obra mais conhecida, Em agosto de 1918, terminou-o © dois ‘meses depois fo aprisionado pelastropasitalanas, Retomando a vida ivi, publicow o Tracatus, em 1921, nos Anas de Filsofi Natural, dirgido por Wilhelm Ostwald (1853-1932);1no an seguinte, velo luz a tadugSo Inglesa com o titulo laine, sob o qual a obra ficaria consagrada. Por volta da mesma época, Wittgenstein doou toda sua fortuna pes- sala duas irmis. Em pare, isso foi devido a0 fato de que nio queria {er amigos atraidos por seu dinero. Por outro lado, arazdo dessa atitude decorra de sua predisposigSo para uma vida simples e frugal eda idéia fe que o dinkeiro podria Set apenas uma amolasdo para 0 Hécofo. Em congoqiénda, Wittgenstein, a pati de 1920, passou a ser um simples mestre-scola,lcionando para criangas de 9a 10 anos de idade. Em 1924, dois anos antes de renunciar a seu cargo de professor, elaborou um di- ‘lone, com cerca de seis mil plavras, para uso dos alunos nas escolas primis das aldeins austriaas. Ese pequeno livo fl publicado em 1926 Em 1923, Wittgenstein recebeu a vista de um jovem matemtico de (Cambridge, Frank Ramsey, que estiveraestudando 0 Trcituse asiava por discuto com 0 autor. Nessa época, 0 filésofo coninuava vivendo fem exrema simplicdade e declarou a0 matematico que nio pretendia ‘eallzar mals nada em Slosofs, pos sua mente nfo era mais exive” Em 1926, apés abandonar © magistério, pensou em entrar para & vida mondstica, mas fol desencorajado pelo abade do mostezo no qual pretendia viver. No vero do mesmo ano, trabalhou para os monges de Htteldort, na qualidade de ajadante do jardineito. Depots de trabalhar ‘0 projet de uma casa para sua irmieter-se dedicndo 8 eecltura durante certo tempo, retorou a Cambridge, em 1929, quando passou a dediar-se ‘ovamente d flosofa, No se sabe ao certo o que foi que olevou a etomat ‘al interesse. Em janko daquele ano, obteve 0 doutoramento com Trac- tatu. Seusexamiradores foram Ruseel eG. E. Moore (1873-1958), a quem, ads, devido o ful latino da twaduplo inglesa de 1922. Nessa epoca, Publicou um breve enslointtuado Algumas Obserories sore Forma Liict ue, juntamente com o Tracaus, constitu a toalidade dos esritos flo ‘68cos publicados durante sua vida, Permaneceu em Cambridge at 1936, quandosereirou pra Norge nde comes ever ei Flosfins. No ano seguinte, retornow a Cambridge, e dois anos depois scedeu a Moore na eadelra de flosofia. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, nfo querendo permanecer como simples especador, ‘Wittgenstein consegun trabalho no Guy's Hospital , até 1983, desem- ‘penhou as funges de simples porteio. Fol transferido entdo para New ‘tle, trabalhando como simples ajudante no laboratério de pesquisa linea, onde fcoa at a primavera de 194, Trés anes depos, renunciow 4 sun citedra de Silosofia buscava izolamento trangiilidade pare que deste terminaras noestigapes. Na medida em que Sua sade Permit, trabalhava com afino ma obra. Depois de viver na Ilanda, durante algum tempo, visjou para os Estados Unidos af permanscendo tds meses, ap ‘os quaisretorou Inglaterra. Descobria entio que etava com cince ‘mas nio se surpreendeu nem ficou deprimide, decarando que isso nie ‘ chocava, pois nfo queria continsarvivend. Em 1950, vajou para Viena, ‘onde reencontrou a familia eno mesmo ano, moro durante certo tempo ‘om um amigo em Oxford. No ano seguinte, mudou-e para a casa de ‘seu médico, em Cambridge, pois a ideia de passar seus ttimos dias em lum hospital causava-he avers. Sabendo da iminéncia da morte, dedi- ‘otseintegralmente a seu trabalho, Os excitos fosficos de entio 880 da mais alta 'A.27 de abril de 1951, sua enfermidade agravou-sesubitament, ¢ quando o médico informou que seu fim chegara, respondeu: “Otimo! Suas ltimas palavas antes de perder a consclénca foram: "Diga-Thes que eu tive uma Vida maravilhoss” Morrew dois dias depos. (© Pensaseesro: A Teoma Da Ficunacko Além do Tracts Lopico-Phiosphicus © das InestigarSs Ligics, Wittgenstein debsou outras obras, das quais as mas representativas 580 235 ObserougesFlofins, os Cadernos Azul e Marrom,redigidos entre 1933 ©1935, Conferdnciase Discusses sobre Etc, Palos ¢CrengaReligioss, livro contituido por uma série de notas reuridas por alguns de seus amigos, a partir de conversas ocasionas e apontamenios de aula ‘© conjunto de sua obra ¢ dividido, pels intérpretes, em duasfases ‘bem distinta, deta forma quese pode falar de um ‘primeiro Witgenstlr” ‘ede um “segundo Wittgersten'-O “primeiro®corresponde ao Tracts, ‘20 "segundo" encontrase nas demais obras. (s temas do Tractatusestbo agrupados em proposes que vio de 117, segundo o nivel crescente de complexidade exstente a argumen- tagio, Ess proposgdes bisicas slo como teses de que as proposgses subseqlentes, numeradas decimalmente, constituem um comentiio ou ‘eclarecimento. A primeira proposicio diz que “o mundo € tudo o que ‘corre’; a segunda, que "o que ccore, 0 fat, & 0 subsists de etados de coisas atercera que pensamento€ figura gia des fatos" a quarta, ‘gue “o pensamento ¢& proposiio significative"; quini, que “a propo ‘Spto 6 uma fungio de verdade das proposies elementares";a sexta, que “a forma geral da fungSo de verdade €(p,&,N (ea stima sentencia: 9 que no se pode falar, devs calar" Eres sete tees prinipis complem toda a extrutura do Tris, 0 qual é uma explictgto das mesmac. Witgertcin deta dro, asim, todo objetivo floedio que propds a st mesmo. Segundo suas propias paiva, todo meu trabalho conse em explo a rateza das Seen ‘A explicago de Wittgenstein tem como centro a iddia de que uma sentenga € uma figura (ptr, em inglés; Bld, ex alemia). O Tracts firma que as senfengasSguram mesmo a realidade,nio se tratando ape fas de tm “como se Conforme asinala 0 prépro autor, "um nome re- presenta uma coisa, outra coisa, e eto Ligades entre si de tal modo que ‘todo, como quadro vivo, representa 0 estado de coisas. Em outros ter ‘nos, haveria tin paralelsme completo ene o mando dos fatos reais © 2 estruturas da lnguagem. Nesse sentido, ou sea, na medida em que tama proporigio é uma Siguragio da realidade, deve haver nelatantos ‘ementos a serem distinguidos quantos es que existe no estado de coisas figurado, deve haver uma mesma mlipiidade Iigea ou matemdtia entre afguragio e aquilo que €aigurado. Dessa forma, defines como Jorma de reresentaio aqulo que existe de comum entre a figuraglo © 0 aigurado, ea posibldade de que as coisas no mundo este relaio~ ‘nadar, como ovet30 of elementos da Giguragio, € denominada forma di realidade.Desse modo, uma ver que a¥o figuragSes, a8 Sentengas possuem 1 mesma forma da realidade que afiguram. ‘Mas, embora uma sentenca possa afigurar a reaidade, ela nso € capaz, no enfant, de fazé-lo no que respeita& sua propria forma de re- presentago, Se deve haver algo de idéntio na figurasio eno afigurado fim de que uma possa sera iguraglo do outro, ent a forme li (ao ‘mesmo tempo forma da realidade) que fdas as figuragdes devem poss, ‘lo pode ser afigurada por nenhuma figuragio. Caso contraro,cairseia femima regessdo ao infin, ou sea seria necessriosupor uma segunda linguagem que representaria primeira, e asim sucessivamente Por essa azo, Wittgenstein conclu que todo o problema da flosofla reduz-se ape- ras 8 distingfo entre © que pode ser dito por melo de proposigdes, isto ‘mediante a Gnica a nica linguagem que existe, eo que nlo pode ser ‘it, mas apenas mostrado. ‘Corsas Noses, LINGUAGEM & VERDADE [No Traciatus, 36 proposigtese a linguagem em geal epousam na ‘oséo de “nome”, 0 qual €definido pelo autor como um signo simples fempregado nas sentegas. Oigno simples nfo € composto por outros ‘signos, como €o cao, por exemplo, da expresséo "as ruas da capital da Inglaterra’; palavra "Londres", 20 contro satstz a exgencia de sim- plidade, Alem de dever serum signo simples, nome, para Wittgenstein, ‘eve satsfazer a uma outra exgtncia, qual sep, a de representar uma casa simples, que ele chama “objeto: No Trica, s objets so conecbides ‘como sholitenete simples, © no simples apenas em Felago com algun Sstema de notagao. Segundo o flésof, os objets formam a substincia do ‘mundo, por iso mesmo no podem ser composts, a substnela¢ 0 que Subsste indeperdientemente do que ocore; 0 fo, 0 subistente e © bj so um 36, enquanto a confguragso conatitui o mutsvel, 0 instsve Por si 6, o nome no ¢, para Witigensten, uma figurarto do objeto « portant, sozinho ada diz. Somente através da combinagio de nomes € possivel figura a ealidade; em outros termos, sso significa que o cent da teria da linguagem como figuragao encontrase nas sentengas. Nota ‘Wittgenstein que a maior parte das proposes da Lnguagem corrente io parece ser figuragSes da realidade; somente a anise delas permite tomar manifesto ocardter figurative. Como resultado dessa andlise surgem as proposiqdes elementares, que se definem como proposigbes que con Sistem de nomes em vinculaglo imediat. Somente as proposigds ele- ‘menlares represenfam uma configurasio de objetos simples. Para Witt= ‘ersten, por outro lado, mesmo que cada flo consista em mutosestados {de cosas, e que cada estado de coisas sea constituido por muitos objetos Smples (podendo, tanto os objetes, como os estados de cosas, tenderer 30 infinite), uma proposigio mite uma, esomente uma adlise em pro- posigées clementares. Uma vez analiada completamente,» proposigio Serd compost de nomes simples, cujo significado serd um objeto simples, ‘Desse modo, a compreensio de uina proposigio exge aps a compreen- so de seus constitintes. 'Na ilsofa do "prmeiro Witlgenstein’, a idéia da existéncia de pro- posigbesclementares io € arbitra, 20 contro, decore dretamente Ae suas preocuparses acerca da relagao entre pensamento ea inguager, dde um lado, ea realdade, de outro. Sua tora basela-se na idéla de que a reaidade ¢afigurada pela linguagem, ¢ ness caso seria necesséio ad- rilirse a exisinda de proposes, cu senido evidencie-se imediats ‘mente. Entretano, nose deve interi dat que ais proposigGesapresentem tuma verdade auto-evidente. Assim, das proposgoes elementares depen- dram todas as outras proposigtes, Em outras palavras, as propesgdes (cup sentido ¢ imediatamente evdente)ndo-clementaes seriam furgBes de verdade de proposgGes elementares; nfo fosse assim, nenhuma sem tenga podera dizer alguma coisa ou ser enlendida ‘A fangio de verdade de uma tnica proposigio p€ uma proposiio cuja verdade ou falsdade € determinada, exclusivamente pela verdade ou falsidade de p; por exemplo, niop (se p €fao) & uma fungao de ‘verdade de p. Uma fungio de verdade de duas proposes p eq € urna proposigio cuja verdad ou falsidade é unicamente determina pela ver- dade ou falsidade de p, 9; por exemplo, p,q sto ambas verdadeiras” € ‘uma fungio da verdade de p, 4. Se duas proposies nio-lementares re 5 slo fungSes de verdade de proposigdeselementares, enti res estardo relacionadas internamente: por exemplo, uma delas pode decorerlogl- camente da outa ou poem ser conrad. Para Witgensein,conhecen dose etrutura intera de dusepropsigics, pales saber quai as elas Sepia que elas manitm ene st Nao st faz receso, pra farin, um co- ‘heamerto de prinpos lg; dal ser posivel vive sem a5 proposes legis, que pode econecer, mas mera inpeyiodesas proposes, suns propiedad formas em una Passo cr : 7 Fara tomar manifests as condiqdes de verdade de una proposiio, Witgercein empregou o método das tabuss de verdade. Uma vez qUe 2 proposigio em questo ¢ fangio de verdade de outrasproposigies, © ejetvo sera mostararelaio entre a verdade (ou alsidad) das ltimas fea verdade (ou falsidade) da prime ho a i pont upd cin ‘verdad das proposgbes. Ui dees ocrreria quae una Propesigio ‘erddira pra todas ao pocfalidades de verdade das proposes een {ares fal proposiqo € cumada indlggi O outro cs diz repaito a pro“ ‘oso que ep falsa pan was a pssliidades de verdad, ea proposiao enomarada contd, Conquant sa convenient eferi-se tanto 38 COM tig como ln lin come ropes ants pra Wien ‘io alo arigor, propiges, pos ald de no determinarem neniama re Edad, ho posuc eongos de verdad, H que uma ¢ncondicnalmeni ‘erdaceraautologiae otra nandiconalmente alsa (contadgs0). Ass para Witgenten ss propenigdes mostra o que diz mas se forem tt {Sldgas ou conradtiras slo vazis de serie. Em outs termes, a taulo- leg ea contadigio no slo gure da reaidade, nfo reprecriam e- a oc pra « pine prt io tn pessiveis enjuanio a segunda, nehunst Por outro lado, iz ainda Wittgenstein °s proposigb, a figuracio, ‘© modelo sio, num sentido negativ, como um corpo sido que limita 3 Terdade de movimento do outro; no sentido positive, como um expa5> limitado por uma substinca sida onde um corpo pode te lagat™. Nessa borden de ideas, podese dizer que enquantoa verdadede uma proposkio nao cera, mab apenas posavel a da tautlogia¢ ta como cata, © a Aa contadigio como impossvel ‘De acordo com o Tracts os assim chamados pincpios de logic, proposes de ligica ou verdadesLgleas sf todos simples tautolopas, "ao expressam pensamnentos, nada dizem. Nio se pode aia, confudo, {Quen possuain nenhumsetidoro simples fto de uma dadacombinayio 2c propesigdes exbir uma tautologia fevela algo cerea das esruturas das proposiesconsitints. Nas palavras do proprio Witgerstein: "As proposies da gia sf tautlogias; iso mostra propriedades (ica) Fennais da linguagem, ‘do mundo! (© Supto Enquanto Lars oo Munpo [A teoria da figuragio que se encontra no Traciatus e sua expicagio de verdade lggica conduziram a uma interessante doutrina sobre a ne- cessidade, etambsim a uma negagio de qualquer conhecimento do futuro. Segundo flésof, as proposigdea genuinas dizem apenas como as coisas ‘slo, no como elas devem ser A snica necessidade que pode existr € 2 rnecesidade logica expressa elas tautologia ou por equagies matemti- ‘as. No enfant, nem as tautologias, nem as equagbes matematicas dizem ‘ois alguma sobre o mundo. Por conseguinte, no mundo, no existe ne ‘essidade. Para Witigensten tudo é acidental. Desenvlvendo essa tse, ‘autor do Trctatus mostra que, embora uma proposio poss ser inferida 4e outa (desde que haa uma conerdo interna ¢estrututal entre elas), tal ‘io ocorre entre 0 estado de coisas, cu existénca ro pode se inferida 1 pari de um outo estado de coisas, completamente diferent. Em suas propria palavras, “de modo algum é possivel infers, da subsisténcia de tama situapio, a subsistencia de uma situapiointelramente diferente dela Se isso foe possve,tatarseia de uma inferénca daquilo que consti- tulria uma fatwa situaclo, um fur estado de cosas. "Que o sol levante amanhi" — diz Wittgenstein — "€ uma hipstese, «isco quer dizer nfo ‘sbemoe oe realmente se levantar” 'A parti deseas conceppes, 0 ato de vontadee a realizasto daquilo que ¢ desjado passam a ser conciderados como duas ocorréncias intel ‘amente diferentes. Nese sentido, a relacio etre a vontade e aquilo que fcontece no mundo #6 pode ser aidental. © homem nfo pode fazer nada ‘contece, nem mesmo um movimento de seu corpo. Nas palavras do ‘léeofo: "Nao poseo subjugar os acontecimentos do mundo & minha von” tade: sou completamente impotente Por outro lado, na medida em que, segundo a teora da figuragio, tanto uma proposigo como a sua nega sto ambas post(vels, 8 propo. siglo verdacieia é merament acidental: Dai Wittgenstein retira a conc: Ho de que nio podem haver propoalges em étca. Com iso, ele queria dizer que se alguma coisa possi valot, tal fato nfo pode ser acidental. a ‘coisa lem de possuir aquele valor. No mundo, enretato, tudo ¢ acidental: ‘onseqientement,nio existe valor no mando: “No mundo, tudo € como ‘e acontece como acontee: rele ndo hi valor, ese houvesse, 0 valor alo teria valor’. Se houver um valor que tena valor, ele deve permanecer fora de todos os acontecimentos, pois todos os acontecimentos 850 ac dentais, Em outros termos, 0 sentido do mundo deve estar fora dele; 0 ‘que o faz nlo-acidental no pode estar no mundo pois, no caso contri, liso seria de novo acidenal Esa concepgio ao conetitul uma negagio absoluta da existénca do valor, mas da existncia de valor no mundo. Ua ‘vez que as proposiges se pronuncam apenas acerca do que et no mun do, fado aguilo que diz respeito A étca nko pode ser expresso por pro osigSes, pois ests, dia Witigerstein, “ado podem exprimir nada alem, acreacena:“é claro que a ética nfo se deixaexprimir. A ca tans ‘cendental’. Assim, 0 mundo, €0 que est ele, nio 6 nem bom nem mat. ‘Bememalexistem apenas em relagio a sujet, este também Econcebido por Wittgenstein como transcendental "9 sueito no pertence ao mundo, fas ¢ limite do mundo” ‘A ica, todavia, no constitai 0 nico assunto que aio pode ser expresso pels propesgbes. A ela acrescentamse outras Areas, como a forma de representa das proposgdes, a existénca de objets simples «que constitiram a substancia do mundo, a existfna de um sujeto me- {Efsco, a existéncia do bem e do mal, e muitos outesigualmenteindi- Ziveis Wifgensein parece ter acreditado que o homem tem pensementos Sobre esas questOes apenas quando considera o mundo como um foo Timado, Em suas propras palavras, "a intuigdo do mundo sub specie ac- leritatis 6 intwigho dele como ur todo limita". Para ele, essa inicio Ede natureza mite; além disso ele afirma que “o que € mistico no € ‘como o mundo 6, mas que ele se "Por outro lado, conquanto se possa dizer o que se queraa respeito daqueles tpicoe metafsics, iso Abo significa que ees seam absurdos, tmas sim que se aluam além do akcance da linguagem. Diz © proprio ‘Wittgenstein que "existe com certza o Indizive Essa afirmacio consti- tuira um exemplo do que ¢ indizvel, mas pode reproduzir uma certa compreensiofilsica, No fim do Tacitus, o autor explc: "Minhas pro- posigdes se elucidam do seguinte modo: quem me entende, por fi as Fecomhecerd como absurdas, quando gracas a elas — por elas — tiver Calado para slém delas.E preciso, por assim dizer, jogar a escada fora ‘depois de ter subido por ela. A proposigio final do Tacitus (© que ‘io se pode falar, deve-se calor?) iio constitu apenas um tuismo, mas traduz 8 exstinca de um tereno a respelto do qual nada se pode dizer. (0s VAntos Jooos oe Lincuaces ara muitos intérpretes do desenvolvimento fileséfico do autor do ‘Tracatus LgicoPhicropics, 0 préprio Wittgenstein encarregou-se de jo- tar fora a escada que ele mesmo utlizara, Segundo exes interprets, de- pols da publiccso do Tracts, Wittgenstein modiicou radicalmente 2 frientaglo de sua Blof, abandonando a perspective logiista que car ‘acterian essa obra, No Cader Azul, no Cademo Marrom e,sobretudo, nas Inestiggtes Fleicas, publicadon apse sua morte, 0 soto passou a tuhar ‘um novo caminhe, afzmando ser extremamente insatsfatério © Tractatus ss, no entanto, no significa que tenha passado a considerar sas primeira reflexSes pura esimplesmente como errOneas, mas sim ‘como incapazes de elcidar tds os problemas dalnguagem em virtude ‘dererultarem de uma manezasuperscosa"deabordagem. A linguagem A Giz o "segundo Wittgenstein’ ~ engendra ela mesma superstigoes das ‘qs € preciso desfazer-se, ea filosoia deve ter como tarefa primordial ‘esclaecimento que permitaneutralizar os efeitos enfelticadores da lin- {guagem sobre o penssmento.O centro desseenfiticamente da linguagem brea ineligencia enconre-se as tentativas para Se descober a essoncia da linguagem, 6 necessrio, a0 contro, nko querer descobrir 0 ques Postamenteestejaoculto soba linguagem, mas abrir os olhos para ver © Sesvendar como ela furcions A attude metafsica deve ser substtada pela atitude pte A linguagem — diz 0 "segundo Wittgenstein’ ~ funciona em seus sos, lo cabendo, portanto,indagar sobre os sigrficados das palavras, ‘mas sabce suas fungées priticas. Estas s30 mallplas e variadas, const. tindo maltplas linguagens que sto verdadeiramente formas de vida Em outros termos, poderse'ia dizer que o correntemente chamado lin- juagem ¢, na verdade, um conjunto de jogos de linguager’, entre 8 ‘als poderiam ser citados seus empregos para indagar, consla, indig- ‘arse, ou descrever. Witgenatein compara oe jogos de linguagem a fer= ramentas utilizadas pelo operrio, que usa 0 martelo para martelar, © Serote para serar,¢ asim por diate. Da mesma forma, no hi, para Wittgenstein, uma tnica Fangio comum das expressdes da Linguagem, ‘nem mesmo algo que possa ser considerado como o jogo de linguagem ( que se pode dizer que existe so cerias semelhangas, ou, nas palavras ddo proprio Witigensteln certo “ar de famila,certos parenescos que se ‘combina, se entrecruzam, se permutam. Em fermos rigorosamente lécricos, poder-se'ia dizer que, para o ‘segundo Wittgenstein’ a lnguagem io pode ser unfiada sogundo uma Sica estraturelogica © formal. Diferentemente da tee exposta no Trac ‘atus, Wittgenstein afrma nas Inestigaies Flsfces que uma proposiqSo ‘fo tz em si todo da Esta procede através de pequenos segments, que s5o diferentes maltiploseparclados.A nic semelhanga, (qe fais sogmentos possuem entre si é "um certo ar de fama", cone Tuindo cada um deles um "jogo de linguagem. No se pode defini exa- tamenteo que seja “um jogo de inguager aro ser através da compa ragdo ene os tages semelhantes.e definiivos de uma série de jogos. Com essa colocacio do problema, Wittgenstein apronima-se mullo doe traturalismo desenvolvido por Saussure (18571913). ‘Esa nova maneira de colocr o problema (que ¢ ti alheia & me- tafsca quanto teria exposta no Traitus, mas que consegue, no entanto, evitar 0 formalism Iégico de Bertrand Rusell e do Cirulo de Viena) teaz conwigo profundas conseqéncias no que diz rexpeito 4 filsofia em ‘eral. Para 0 "segundo Wittgenstein’ os fildsofos debxaram-ae enedar nas tes dos chamados problemas fileséficos” porquese ludiram procurando escobrir a easéncia da linguagem, algo que estvesse oculto ats del [Na verdade,nlo existem "problemas" Alosficos, mas So-somente "per- plexidades" Com isso, Wittgenstein quer dizer que de nada adianta 20 Filésofo tentar encontrar soluges, procurando ma supostarealidade e onda; em Bosofia nada existria de oculto e todos os dados dos cha ‘mados “problemas esto sempre ao alcance da inteligéncia. Quando esses ddados no posibilta nenhuma solugSo, se et diante de um beco sem saida,e nada mais, Perguntar-se, por exemplo, "que horas so” constitu ‘um problema e, como tl, pode peretamente ser solucionado; mas inquire sobrea naturezaitima do tempo écolocarse ram labirinto aparentemente ‘sem salda. A sada, contudo,¢ possive e consiste segundo Wittgenstein, ‘implesmente em seIibertar da dia de que existam lbiinos. “Apesardiso, nose deve concluir que para Wittgenstein as questées filossfica sejam destudas de sentido. Pelo contro, a flgsofia tem um sentido profundo, o qual consiste em mostrar as raizes da perpleidade fe como ‘las se acham vineadas no persamento humane. Havers uma ‘azio que explique a lascinagio dos homens pelas questes flsotias, a onto de alguns deles teem dediado toda sua vida a elas. Para Witt Benstein, na verdade, essa questess80 “fascinantes' ese "enfeitigamen- {0° decorre das investidas feta pelo homem contra as limitagbes da Line {guagem. Porém no cabe mais continaar essa Iutainglria. A flosofia Aleve ersinar ao homem apenas como "ver" as quests; ela ro pode expla, infer ou deduzir coisa alguma, mas somente “por & vista" as perplexidades resultant do esquecimento das razes pelas quai se ut [izam certs concetos. Em suma, loca uma permanente" Tuta contra © enfeltiamento da linguagem’ Wrrrcensran & S80 LecaDo “Tanto flosofaformlada no Tatts Lope Philosophies (corres pondente ao priniro Wittgenstein, quanto aque se encontra nas obras Postumas, bret nas netgear enon Cadomos Al ¢ Mar ‘om, exerceram profunda inflnca no pensamento do sScalo XX. Milas das toes fundamentals doe féofos do chamado Circulo de Viera foram dssenvolvidesa partir da interpretgao empirsta que fzeram do Tralas Ene otras tents do Ciclo de Viena, encontzeseo principio da ver ‘abilidade segundo o qual o significado de uma proposiga eduz-s 20 ‘onjnto de dads empiconimediats, cu ocoréncin confereveracidade ‘Tinesina, ecu no Scordnia 3 toma fsa, © Ciro de Viena retro tambem do Tiss a ida de ques proposes matric 80 la tolls e, portant, despidas de sigicao fia. ‘Mas, no obstante exes oaltospontos de converge, éexcessivo

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