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CAPITULO 5 (RE)LEITURAS SOBRE O BRASIL: discusses e praticas geograficas a partir da andlise do artefato midiatico “Os Simpsons” Tara Vieira Guimardes Vagner Limiro Coelho Introducéo Ensinar e aprender Geografia tem-se tornado um constante desafio para os docentes e discentes nos distintos niveis do ensino brasileiro. Nao por acaso, envolvidos nesse processo, eles tendem a se reorganizar no ambiente escolar, subordinados as aspiragdes do mundo externo aos muros da escola. Nesse am- biente externo, inserem-se os sujeitos jovens, dentre eles, estudantes do ensino basico, que tecem suas representagdes de mundo com base nas interpretagdes e consumo de artefatos culturais veiculados por diferentes midias. Nossa proposta, neste trabalho, configurou-se em realizar uma anilise sobre praticas de ensino de Geografia, articuladas a uma experiéncia di- datica sobre a Geografia do Brasil, utilizando-se do artefato midiatico “Os Simpsons”. Foram abordados temas acerca do Brasil e dos brasileiros, por meio de estratégias metodolégicas envolvendo interpretagao de imagens ¢ mapas, apresentagiio de videos, exposi¢ao oral e produgdo textual, além de revis&io bibliografica e pesquisa documental para a composigiio e andlise do eno contexto educativo do ensino basico. Esperamos com este trabalho, permitir a reflexdo sobre a producio cul- tural contempordnea e suas interfaces com os saberes geograficos, além de contribuir para reflexdes acerca de praticas de ensino de Geografia envol- vendo a cultura midiatica e seus artefatos globais. 1. Apresentando 0 artefato 1.1 Mas afinal, quem sdo os Simpsons? Polémicos, estranhos, engragados, subversivos. Esses, entre outros, sio alguns adjetivos que tentam caracterizar, de forma generalizada, uma familia bastante conhecida entre os telespectadores norte-americanos e praticamente 114 de todos os paises do mundo. Os Simpsons é 0 nome de uma a série de de- senho animado com grande longevidade, superando atualmente qualquer outra produgao desse género. Em meio a criticas e elogios, mantém-se no horario nobre da televistio estadunidense ha mais de 25 temporadas, acumulando fas e criticas acirradas. Sua trajetéria iniciou-se em 1987, porém, a série ganhou espaco na midia televisiva com hordrio e espago préprios a partir de 1989. Todavia, a mais famosa criagdo de Matt Groening nao se configurou, em um primeiro momento, no plano mais importante de seu criador que, na década de 1980, teve frustrado o sonho de se tornar escritor. Entretanto, com apoio de James Brooks, experimentador de formatos sensacionalistas nas produgdes televisivas nessa década, Groening levou seus rascunhos para um programa de humor e, em pouco tempo, fez dessa a sua obra principal e de maior sucesso. A partir dai, Os Simpsons se tornaram icones da cultura pop e, de forma humoristica e irreverente, fazem criticas ao cotidiano familiar, a personalidades e momentos histéricos importantes nos Estados Unidos e outras partes do mundo. A familia Simpson é, segundo Almeida (2011), “um produto globa- lizado, representacao da familia americana em outras regides do globo, uma vez que o desenho animado é apresentado em todos os continentes, com distribuiggio em 32 canais na América, 11 na Asia e na Oceania, 43 na Europa e 6 no Oriente Médio e Africa” (ALMEIDA, 2011, p. 85-86). Sua propagacao em escala global se dé nZio somente pelos atrativos ao publico juvenil e adulto enquanto entretenimento, mas também pela lucra- tividade financeira arrecadada pela empresa Fox”, outras emissoras de TV que transmitem o desenho e por pessoas fisicas diretamente envolvidas com a produgao e reprodugao do programa. Essas argumentagdes mostram que a produgao e apresentago desse artefato algam voos em distintos territérios ¢ culturas, em fungdo da propria globalizagao dos produtos culturais e dos interesses empresariais da industria de entretenimento. E prudente ressaltar, ainda, que Os Simpsons, assim como outros ar- tefatos da cultura midiatica, visam atender aos propésitos de uma industria cultural que tem como objetivo a lucratividade e que para isso buscam criar produtos que agradem/agreguem o maior numero possivel de consumidores. Assim, € previsivel que esses sejam produzidos visando a aceitag&o dos te- lespectadores, mesmo havendo contrastes culturais e/ou socioeconémicos em distintas regides do mundo, consumidoras desses artefatos midiaticos. 39. A empresa fol fundada em 1904, na cidade de Nova York, por Wiliam Fox, imigrante hingaro judeu que vendeu sua {abrica de tecidos e, com o lucro, comprou um prosaico “common show’. Atualmente é um dos maiores estidios de cinema dos EUA, com diversas franquias populares, como os Simpsons. Ct. FOX. Sobre Fox: Nossa histéria corporat. 2014. Disponivel em: . Acesso em: 1 dez. 2014. ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para o ensino de Geografia 115 No caso de Os Simpsons, Almeida (2011) ressalta que essas relagdes condicionam cortes e modificagdes no desenho original estadunidense, para sua efetiva aceitag&o em determinadas partes do mundo, como € 0 caso dos episddios que vao ao ar no Oriente Médio. De acordo com Keslowitz (2007), nessa regia: © programa foi rebatizado passando a se chamar Al Shamshoon, € Omar Shamshoon substitui o nome Homer Simpson. Para se encaixar na cultura érabe, a MBC decidiu que Omar nao beberia cerveja (cujo consumo viola a lei islamica); em vez disso, beberia reftigerante. Omar nao come donuts, mas sim os tradicionais biscoitos drabes cha- mados Khak. Omar também abre m&o do toucinho (KESLOWITZ, 2007, p. 216). Observadas tais questdes econémicas, é importante ressaltar que o programa Os Simpsons nem sempre foi sucesso garantido. De acordo com Almeida (2011), as primeiras aparigdes da familia Simpsons nao agradaram ao piiblico em fungao da baixa qualidade da produgdo, feita na Coreia do Sul, € por apresentarem caracteristicas como cores ¢ Angulos invertidos em fungaio do baixo investimento financeiro. Além disso, embates entre Matt Groening e outros produtores, como Sam Simom, por exemplo, quanto a produgao e te- maticas dos episddios e temporadas e a inverstio da narrativa do foco principal do personagem Bart para o personagem Homer, caracterizaram momentos de crise envolvendo a produgio ¢ a aceitagiio da série pelo piiblico. Entretanto, € possivel considerar que Os Simpsons constituem um produto cultural de enorme sucesso em todo mundo e continuam em horario nobre da televisdo mundial. A cada temporada, seus personagens e histérias buscam surpreender os diversos publicos e trazer elementos em suas narra- tivas que podem ir além da simples interpretago de sétiras salpicadas de humor negro. Tratam de assuntos polémicos em nivel mundial e procuram dar conta de um contexto histérico globalizado. Nao é a toa que, para além da realidade norte-americana, muitos outros lugares so enredados nas nar- rativas do desenho animado, inclusive o Brasil. Na versio brasileira, as com- paragées, contradigées e controveérsias sobre o Pais foram explicitadas e por isso so passiveis de interpretagdo e andlise, pois ressaltam os clichés tao frequentes e abundantes nas visées estrangeiras. 16 1.2 Os personagens Para conduzir nossa andlise, julgamos conveniente apresentar os pro- tagonistas do desenho animado Os Simpsons, assim como 0 espa¢o em que se passa a contextualizagao de suas histérias e algumas de suas caracteris- ticas marcantes. Os Simpsons so uma familia americana — estadunidense de classe média — cujas caracteristicas e atitudes inusitadas os fazem parecer imper- feitos, desajeitados/desengongados, com vicios, sempre vivendo tensdes morais, éticas, sociais, que mostram uma critica de seu proprio estilo de vida. ‘Na composigao familiar, os Simpsons n&o fogem ao que se pode chamar de padriio, tendo a familia cinco integrantes: Homer — o pai, Marge a mae, Bart, Lisa e Meg os filhos. A familia tem um cao e um gato como animais de esti- magio e convivem com outros familiares em alguns episédios esporddicos, como 0 av6 que mora no asilo e as irmas de Marge, duas mulheres solteiras que odeiam o cunhado. Vivem na cidade de Springfield, localizada em um Estado nao de- clarado/conhecido”, em uma casa também tipica americana, com dois an- dares, quintal com arvore e cerca de madeira em volta do terreno. A cidade tem uma estrutura basica de espago urbano de médio porte nos EUA, com escola, igreja, delegacia, prefeitura, shopping, rede de TV, hipermercados ¢ lojas de conveniéncia, parques ¢ bosques, lagos ¢ rios, além de areas resi- denciais e uma usina nuclear. Nesse ambiente, os personagens do desenho animado se inter-relacionam e convivem num contexto urbano. Nas dife- rentes temporadas, Springfield j4 ganhou aspectos geograficos bastante di- versos: j4 foi caracterizada como cidade costeira, com praias, j foi area desértica, montanhosa, com neve, possuiu grandes florestas, e na produgao de um longa-metragem foi encoberta por uma cipula que isolou a cidade do resto do mundo por um tempo. Ao que tudo indica, as feigdes geograficas da cidade sao amoldadas a estrutura narrativa de cada episddio. O patriarca da familia Simpson, Homer, trabalha na usina nuclear da cidade, a principal fonte de energia, comandada pelo ancitio egoista e ex- céntrico Sr. Burns. O patrio Burns é um capitalista sem muitos escripulos, passa o dia monitorando os empregados e vangloriando-se pela riqueza ¢ por suas negligéncias e sonegagdes, além de nfo se preocupar com a integridade e condiges adequadas de trabalho para com os funcionérios. 40 Armagdo fia por Lisa Simpson a Ronaldo no epistio Fetiga de Lisa e comentada no ste de curosidade dos Simpsons. CCL WIKIA. WikiSimpsone: Episédos. Temporada 13 no Brasil 2014, Disponivel em: , Acesso em: 29 nov. 2014, ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para 0 ensino de Geografia uy Homer ocupa um cargo de monitor de seguranga e, apesar de ter varias outras atividades de trabalho, no decorrer das temporadas, nunca abandonou definitivamente o emprego na usina nuclear. Na usina também se encontram Leny e Carl, colegas de trabalho de Homer, e Smiters, assistente e bajulador oficial do patrao Burns. Nota-se, pelas caracteristicas e atitudes do patrao, que os funciondrios formam uma equipe desqualificada para o trabalho, pois dormem em servigo e passam o dia entre fofocas, comendo lanches e rosquinhas a espera do fim do expediente para ir ao bar do Moe. Nesse ambiente, encontra-se Moe, um personagem ganancioso e solitario, que tra- balha e mora no bar, um ambiente aparentemente sujo, porém agradavel aos olhos de Homer, Carl e Leny o beberrao Barney. De volta ao lar dos Simpsons, outros personagens participam da trama e das confuses da familia. Dentre eles, esta Ned Flanders, 0 vizinho re- ligioso e politicamente correto, contrario a personalidade e atitudes de Homer, que é obeso, aproveitador, malandro, mentiroso, preguigoso e be- berraio, mas também ingénuo, amoroso com a esposa e os filhos, amigo ¢ bondoso. Flanders tém dois filhos, dos quais cuida sozinho apés o faleci- mento da esposa. Eles s’o comumente atormentados por Bart, o primogénito da familia Simpsons, que possui uma personalidade maquiavélica e odeia estudar, mas se sente bem no ambiente da escola. Seu maior divertimento € atormentar o diretor Skiner, que vive um dilema com os desdenhos da mie e as intempéries do superintendente de ensino de Springfield, além dos desafios de dirigir uma escola repleta de criangas dos mais diferentes estilos e modos de ser. Lisa Simpson, ao contrario do irmao adora estudar. Filha do meio, ve- getariana e saxofonista, sonha com a igualdade social, integridade politica, a valorizag&o da mulher e a defesa do meio ambiente. Destaca-se na familia por ser inteligente e sensivel, e mesmo sendo muito honesta, quanto a seus sentimentos, nado consegue se livrar das declaragdes de amor de Millhouse. Esse personagem é o melhor amigo de Bart. Fruto de um relacionamento conflituoso entre seus pais divorciados, Millhouse é ingénuo, depressivo e pouco inteligente, o que o leva a quase sempre se dar mal. Além de Millhouse, outros personagens compartilham o ambiente escolar, como Nelson, Willy, os professores, entre outros. Por fim, apresentamos Marge Simpson, que recebe destaque por ser a responsdvel por administrar o lar, cuidar dos filhos e do marido, mantendo a paz e organizagiio da casa e da familia. Marge vive a maior parte dos di- lemas da mulher contempordnea, fica grande parte do tempo com a filha bebé — Meg — que apesar de niio falar tem uma imaginagao e capacidade de raciocinio excepcional para sua idade. 18 Em meio a esse cenario e personagens, Springfield se torna o palco de diversas tramas vividas pela familia Simpson, geralmente baseadas em fatos que marcaram o mundo, conflitos familiares cotidianos, a discussao sobre determinadas personalidades do meio artistico ¢ da midia, faz parédia a de- terminados filmes de sucesso entre outros temas. De maneira satirica, atrai telespectadores do mundo inteiro pela irreveréncia como trata questdes eco- némicas, politicas, sociais, ambientais etc. As narrativas refletem também sobre varios paises e povos do mundo, incluindo o Brasil, e promove em diversos piblicos 0 interesse pela anélise da interpretago do “outro”, das diferengas e dos desafios da convivéncia sociocultural. Nesse sentido, con- sideramos que a série Os Simpsons possa possibilitar teflexdes nao sé sobre © contexto norte-americano, mas também sobre outras partes do globo, in- cluindo o Brasil. 2. O artefato e o ensino de Geografia 2.1 O Episédio Feitigo de Lisa Para desenvolver a experiéncia didatica aqui proposta, escolhemos 0 episédio Feitigo de Lisa para contextualizar a tematica a ser trabalhada em sala de aula, o Brasil, pois apresenta a visio de uma familia de estrangeiros sobre o pais em diversos aspectos. Escrito por Bob Bendetson e dirigido por Steven Dean Moore, 0 Feitigo de Lisa foi apresentado em 2002, durante a 13* temporada de Os Simpsons. O episédio trata da primeira visita da familia Simpsons ao Brasil e se inicia com Homer ¢ Bart assistindo ao desenho animado “Comichiio ¢ Cogadinha”, quando Marge entra na sala atormentada por uma chamada telefénica para o Brasil de US 400,00 que constava na conta de telefone. De imediato Homer culpa Bart, acusando-o de ter feito a ligagdo como trote, visto que isso jé havia acontecido antes‘. Marge insinua que o problema poderia ser um erro da companhia telefonica ¢ sugere entrar em contato com ela para resolvé-lo. Para tentar solucionar o problema, Homer ¢ Marge vao 4 companhia telefonica e se deparam com um ambiente modemo e tecnolégico, com mos- trudrios giratérios e multicores, os quais recebem muitos elogios do casal. No entanto, o ambiente de trabalho mostra-se estressante, entre os garotos FA EmBart vs Australia o 119 epis6dio do desenho animado, os Simpsons visjam para a Australia, onde criam uma grande confusdo por Bar tet levado escondido uma r8, que se prolifera como uma praga no pas. Escrito por Bill Oakley e Josh Weinstein diigido por Wesley Archer, foi exiido na 6* temporada em 1995. O episédio teve a partcipagao especial de Phil Hartman por Evan Conover Cf. WIKIA. WikiSimpsons: Epis6dios. Temporada 6 no Brasil. 2014a, Disponive! ‘em:. Acesso em: 29 now. de 2014. ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para o ensino de Geografia 119 propaganda e os operadores, que precisam cumprir metas em vendas de produtos e servigos, resultando em depressao e outras lesdes comuns nesse mercado competitivo. Ao serem atendidos, Homer e Marge expée a situagdo e afirmam que no pagariam por uma ligagfio que nao fizeram. A supervisora da empresa concorda, porém corta o servic¢o telefénico da familia. Em casa e sem te- lefone, Lisa reclama que nao consegue falar com sua amiga, sua mae explica a situagdo e a menina culpa o pai, que no mesmo instante descobre que a companhia telefénica havia deixado em seu telefone uma gravacao insi- nuando que a familia era caloteira. Homer entio fica furioso e tenta fazer uma ligacdo clandestina usando a linha telefénica na fiagdo externa, o que nfo da certo, e leva Marge a decidir pagar a chamada para o Brasil. Nesse momento, Lisa ndo consegue se conter e assume ter realizado a ligagdo. A garota explica que estava ajudando um rapaz érfaio no Brasil. Ela ar- gumenta que trocava correspondéncias com Ronaldo, que morava no Rio de Janeiro, mas que de repente ele parou de lhe escrever. Lisa afirmou ter ligado para o orfanato para pedir informagées sobre 0 garoto, mas Ihe disseram que ele havia sumido e, que durante a ligagio, as freiras a pressionaram a fazer mais doagées que foram computadas no prego da liga¢Ao telefénica, motivo do alto custo dela. Como prova Lisa, mostra um video que recebeu como agradecimento de Ronaldo pela doagdo. O garoto aparece no video dizendo que, com o dinheiro recebido, havia comprado sapatos novos, que durariam muitos car- navais, e explica que, com 0 troco, 0 orfanato comprara uma porta, e que assim ficaria protegido dos macacos que o atormentavam. Sensibilizados com a situag&o de Ronaldo e com seu sumigo, hé uma mudanga de foco dos personagens, pois os Simpsons, ao invés de se preocuparem com a conta telefénica, decidem ir ao Brasil a fim de encontrar o garoto e ajuda-lo. 2.2 Os Simpsons no Brasil: visdes estrangeiras sobre o pais Junto a proposigao de inter-relagiio do artefato com os temas a serem abordados sobre o Brasil, é imperativo argumentar sobre as caracteristicas do Pais num contexto geral, sobre a sua formagao territorial, socioeco- némica e cultural, com base em produgies teéricas de autores que trabalham com essas teméticas e contetidos indicados nos componentes curriculares para o ensino basico. Para isso, refletimos sobre aspectos fisicos/naturais ¢ a biodiversidade do Brasil, sobre a formagiio e representagées do territério nacional, sobre indicadores socioeconémicos, além das caracteristicas cul- turais e identitdrias dos brasileiros. 120 Uma das principais caracteristicas do Brasil € justamente a sua hete- rogeneidade. A heterogeneidade das paisagens naturais é fundamental para a compreenstio do Pais, assim como a diversidade cultural. O Brasil foi formado por uma conjungao de fatores histéricos e politicos que Ihe forjaram diversidades culturais e sociais. Podemos dizer que foi construido como um, Pais multicultural urdido a partir do encontro de diversas culturas de modo que a convivéncia com as diferengas faz parte da nossa vida cotidiana. Nao podemos nos esquecer também que: A sociedade brasileira nfo conseguiu, ao longo de sua historia, estruturar-se de tal modo que a produgao da riqueza resultasse em melhoria de condigées de vida para toda a populagao. Ao contrario, os beneficios do crescimento econémico de nosso pais acabaram sempre sendo apropriados e usufruidos por uma elite (MALERBA, 2001, p. 106) Assim, € nitida a presenga da expressao “diversidade” para a carac- terizagdo do Brasil em seus varios aspectos. Varios outros autores tratam mais especificamente de questées acerca da formagaio do povo e do territério brasileiro sob esse viés de diversidade. Segundo Darcy Ribeiro (1995): © Brasil a realizagao derradeira ¢ penosa dessas gentes tupis, che- gadas A costa atlantica um ou dois séculos antes dos portugueses, e que, desfeitas e transfiguradas, vieram dar no que somos: uns latinos tardios, pretos, desculturados das tradigdes de suas matrizes ances- trais, mas carregando sobrevivéncias delas que ajudam a nos con- trastar tanto com os lusitanos. Como se vé, estava constituida ja uma formula extraordinariamente feliz de adaptagao do homem ao trépico como uma civilizagéo vinculada ao mundo portugués, mas profun- damente diferenciada dele. Sobre essa massa de neobrasileiros feitos pela transfiguragao de suas matrizes é que pensaria a tarefa de fazer Brasil (RIBEIRO, 1995, p. 130) A partir dessa heterogeneidade emerge a interpretagao de um Pais de contrastes, passivel de interpretagdes diversas, inclusive sob os olhares ex- ternos e estereotipados como € 0 caso da vistio dos Simpsons no episédio Feitico de Lisa. Nesse episddio, cada personagem que compée a familia tem uma ideia de Brasil, ou ao menos tenta projetd-la em seus aspectos naturais, demogréficos e socioculturais. Essa idealizagio pode ser percebida em ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para o ensino de Geografia 121 dialogos entre os personagens que, ao tomarem a decisao de ir ao Brasil para encontrar o menino Ronaldo, questionam sobre onde ele se localiza, como ele é, quantos habitantes tem e quem sao os brasileiros. ‘Na narrativa do desenho animado, abre-se, portanto, uma visio satirica e impregnada de clichés sobre o Brasil, especialmente sobre os pontos de vista norte- americanos. Nos didlogos no aviio, no momento em que a fa- milia est4 a caminho do Brasil, notam-se insinuagées de que a 4gua dele nao € boa, que nele é comum e explicita a criminalidade/ou falcatruas, e mesmo sobre as varias caracteristicas fisicas ¢ naturais como o clima, posi¢ao geo- grafica e atributos ambientais. Nesse episédio, Homer debocha de tais caracteristicas dizendo que o Brasil é a terra do contrério, zombando que ali 0 “ladrao corre atras da po- licia, 0 gato tem co, a neve cai para cima”. Ao zombar do Brasil, 0 que parece ressoar é a visio de contraste e certo desdém em relag&o as suas caracteristicas, sejam elas relacionadas a natureza ou a sociedade. Sabemos que nfo é de hoje que nés, povos nascidos nos tropicos, somos vistos como primitivos, preguicosos, malandros, desocupados e tratados por muitos, mesmo agora, no século XXI, como sub-raca. Ainda somos para muita gente os bons selvagens ou os malemolentes do sul do Equador. E claro que tais representagGes trouxeram e ainda trazem, no seu 4mago, uma carga de preconceito historicamente cons- truido © que, com certeza, nao se dissipard facilmente. Sempre que houver uma oportunidade, por mais banal que seja, seremos de novo, mais uma vez, lembrados por nossa condi¢Ao de inferioridade, de seres menores (SCHEYERL; SIQUEIRA, 2008, p. 377, grifos dos autores). Em varias passagens do epis6dio analisado, é possivel perceber um resumo da visdo costumeiramente veiculada sobre 0 modo como os norte- -americanos enxergam alguns aspectos do Brasil, muitas vezes destorcidos ou deturpados. Ao questionar a qualidade da 4gua, por exemplo, o desenho animado é capaz de convidar a reflexio sobre os servigos ptiblicos basicos oferecidos 4 populagao, bem como sobre a dindmica hidrogréfica no Pais e 0 cuidado com os mananciais de 4gua, questdes tio em voga em tempos de crise hidrica. E possivel questionar, também, o ufanismo relacionado a ideia de que a rede hidrografica do Brasil é diversa, sendo ele o Pais com maior reserva de dgua potavel do mundo. Sendo assim, é possivel refletir por que 0 episddio evidencia o questionamento sobre a qualidade da égua no Brasil. 122 ‘Apesar da potencialidade hidrica brasileira, ¢ importante lembrar que, em algumas regides, como do Nordeste, a escassez de agua é um problema constante, e outras regides mais urbanizadas, como a Sudeste, sofrem com a poluigdo de seus mananciais por residuos urbanos e/ou industriais, que podem chegar aos lengdis subterraneos. Nesse contexto, essa realidade brasileira diante da “desconfianga” expressa no desenho animado, quanto a qualidade da Agua, pode ser foco de discussdes junto aos estudantes em momentos de aula ou abrir possibilidades para outras abordagens sobre a problematica da égua no Pais. Contudo, faz-se necessario ressaltar que satilizar-se da critica do artefato para fins educativos implica em uma agio mediada pelo professor, que deve propiciar, aos estudantes, meios para re- fletir sobre a visdo, muitas vezes naturalizada dos estrangeiros @ respeito das mazelas e dos problemas do nosso Pais. E evidente que o epis6dio Feitigo de Lisa traz intmeros elementos pas- siveis de interpretagao sobre 0 Brasil e também sobre os brasileiros. Dentre eles, podemos destacar a leitura das paisagens naturais ¢ culturais mostradas no episédio, na exibigéo da praia de Copacabana, das favelas do Rio de Janeiro, ou do Corcovado onde se destaca o Cristo Redentor. Outra mengao & a heterogeneidade da paisagem natural da Amaz6nia em comparagaio a carioca, que apesar de distintas ¢ distantes na realidade, mostram-se muito préximas e semelhantes no desenho animado. Podemos exemplificar isso, ao observar que no passcio de Marge ¢ Lisa em uma feira no Rio de Janeiro, alguns “suvenires” comercializados eram feitos de pele de animais, pulseiras de cobras, além de bebidas de misturas de diversas frutas. Nesse caso, 0 que provoca a intriga ¢ considerar se tais “regalos” ¢ misturas gastrondmicas seriam realmente encontrados no Rio de Janeiro. E possivel indagar com os estudantes: Por que o desenho mostra 0 Rio de Jangiro como um espago exdtico ¢ selvagem? A cidade do Rio de Janeiro possui tais caracteristicas? Para além do artefato, 0 estudo e interpretacao das paisagens, assim como de outras categorias de andlise geogréfica como 0 lugar, 0 territorio a regitio, so de suma importancia no proceso de ensino de Geografia, espe- cialmente na educagdo basica, por compreenderem partes indissocidveis na formagiio do espago geogrifico, pertinentes ao estudo nesse nivel de ensino. Nesse contexto, Santos (1994) assinala que o espago geografico ¢ complexo ¢ constituido por um sistema de objetos e um sistema de agoes interligados de maneira relacional, Para 0 autor, a Geografia foi, ao longo do tempo, cons tituindo uma série de categorias capazes de compor uma explicaciio tedrica ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para 0 ensino de Geografia 123 plausivel sobre a perspectiva espacial da realidade, notadamente marcada pela relagAo entre a sociedade e a natureza, sendo o lugar, paisagem, terri- t6rio ¢ regio as que ganharam mais destaque. Quanto a caracterizag4o dos brasileiros e modo de vida, 0 episédio Feitico de Lisa mostra uma visdo estereotipada que comumente canaliza as- pectos pejorativos da populagiio e das tradigdes culturais dos brasileiros, 0 que ressaltamos ser de praxe no artefato. No decorrer do episédio analisado, por exemplo, Marge 1é em um guia que “no Brasil se pode ir a qualquer lugar numa linha de conga”. Como sabemos a conga nao é uma tradi¢ao brasileira, mas nessa visio “estrangeira”, a leitura do desenho prope que o “ritmo latino” nao se diferencia entre samba, salsa, conga etc. Os tragos fisicos e feigdes dos brasileiros também se confundem a outros povos da América Latina e revelam a dificuldade dos estrangeiros em diferenciar as culturas e o modo de vida dos pafses latino-americanos. E valido, nesse ensejo, ressaltar a possibilidade de andlise sobre a te- matica para além do artefato, tendo em vista 0 leque de elementos que podem ser trazidos a discussdo sobre as origens e formagao do povo brasileiro, além das culturas e dos modos de vida do Pais. Nesse passo, atentamos para a reflexdo do que é ser brasileiro e da relevancia de sua diversidade cultural na visdo estrangeira exposta no artefato Os Simpsons. So varias as passagens da narrativa que o tom irénico recai sobre a cultura e o modo de vida dos brasileiros. No hotel, por exemplo, a tradigao e © gosto pelo futebol no Brasil sao satirizados quando os Simpsons percebem que, nas atividades corriqueiras, os funciondrios faziam embaixadinhas com as malas e chaves ¢ vibravam com jogadas ensaiadas. No quarto, outra vistio de Brasil € apresentada, pela sensualidade feminina nos trajes da apresen- tadora de um programa infantil. A imagem das mulheres brasileiras no epi- s6dio est4 sempre relacionada a sensualidade, levando a crer que isso seria normal no Pais. A familia Simpson vai a uma favela onde Lisa critica 0 governo dizendo que “as casas foram pintadas de cores vivas para que os turistas ndo ficassem ofendidos”. Na favela, mais uma vez o desenho critica o Brasil exibindo uma grande quantidade de ratos nas ruas, todos pintados de cores vivas como se também fossem um atrativo turistico. Além disso, 0 carnaval é destacado como tradigdo cultural dos brasileiros no episédio, mas repete uma leitura de sensualidade e diversaio extremadas de seus participantes. Quanto 4 regionalizagaio do Brasil, o epis6dio Feitigo de Lisa mostra es- pecificamente duas realidades. A primeira da regiao Sudeste, destacando-se a Tepresentagdio do urbano nas caracteristicas do Rio de Janeiro e, em sequéncia, a regiao Norte, representada pela paisagem natural da Amaz6nia. Apesar das 124 incoeréncias observadas nas leituras do desenho anteriormente, o que chama a atengZio, nesse momento, é a inconsisténcia em relago as distancias terrj- toriais entre essas regides na apresentag&o do desenho animado. No episddio Feitigo de Lisa, em quest&o de instantes, uma quadrilha sequestra Homer no centro do Rio de Janeiro ¢ o leva para um cativeiro na Amaz6nia. E. pertinente considerar que, tratando-se de um artefato midiatico, sua narrativa néio traz, necessariamente, informagdes geograficas reais ou coe- rentes. Contudo, é importante discutir, com os estudantes, 0 fato de o Brasil ser um pais com extenso territério e que a distancia entre 0 Rio de Janeiro ¢ a Amazénia depende nao somente de tempo, mas de meios de transporte adequados ao acesso a determinadas partes dessa regiao. Essa interpretagao pode levar a reflexdes sobre a configuragiio regional do Brasil, além de servir também como base para discussées sobre os seus limites e fronteiras ¢ outros aspectos relacionados 4 formagio do seu territério e regionalizacao. Enfim, dentre tantos aspectos do Brasil e dos brasileiros, elencamos esses exemplos acerca da tematica para o ensino basico. Esses evidenciam a potencialidade dos artefatos midiaticos, nesse caso 0 desenho animado Os Simpsons, em relagao a discussio sobre a geografia do Brasil. Acreditamos que estamos longe de esgotar as possibilidades de utilizagdo desse artefato, mas é imprescindivel refictirmos sobre ele no processo de construgao de conhecimentos geograficos e da reflexdo sobre os clichés tantas vezes disse- minados e naturalizados sobre o Brasil ¢ os brasileiros. 3. Experiéncia diddtica com 0 artefato Os Simpsons O desenvolvimento dessa experiéncia didatica objetivou, num primeiro momento, instigar.os estudantes a pensar, a partir de seus conhecimentos prévios, sobre as caracteristicas geogrificas, sociais, politicas, econémicas € culturais do Brasil. Em seguida, a experiéncia centrou-se em articular 0 ar- tefato mididtico Os Simpsons aos contetidos e questionamentos geogrificos pertinentes ao ensino basico. Entendemos que, dessa forma, os estudantes poderiam refletir e expor suas opiniGes, ideias ¢ argumentagdes sobre 0 Brasil, além de tecer comparagdes com outros paises ¢ interpretar diferentes visdes sobre a realidade brasileira. 3.1 Visdes sobre o Brasil Para iniciar os trabalhos, 0 professor propés um levantamento de infor- magées, baseado nas compreensées dos estudantes sobre o Brasil, estabele- cendo como ponto de partida o que eles sabiam. ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para 0 ensino de Geografia 125 Apés as discusses sobre 0 que os estudantes sabiam sobre o Brasil, o professor propés outra reflexfio, dessa vez envolvendo opinides sobre o Brasil e os brasileiros. Um questionario contendo cinco perguntas foi en- tregue aos estudantes e teve o objetivo de identificar as opinides deles sobre o assunto. As seguintes questées foram langadas: + Vocé tem orgulho ou vergonha de ser brasileiro? « OBrasil é um bom lugar para se viver? Por qué? + Oque o Brasil tem de pior? + Oque o Brasil tem de Melhor? + Escreva cinco palavras que, de acordo com sua opiniao, caracte- rizam os brasileiros. A turma foi organizada em cinco grupos que discutiram as respostas dadas pelos participantes. Apés a discussio, os estudantes puderam falar livremente sobre suas opinides e sobre o que foi discutido, ressaltando os pontos comuns e os divergentes. 3.2 O Brasil em mapas Apés um breve didlogo com os estudantes sobre as visées que tinham, levantadas nas atividades anteriores, o professor convidou-os para uma nova tarefa, dessa vez envolvendo a producdo de mapas sobre o Brasil. Foram distribuidos para a turma materiais como atlas, revistas, lapis de cor, pincéis e folhas A3, para que os estudantes produzissem um mapa que representasse o Brasil, de acordo com as suas visdes. O professor esclareceu que, além de desenhos, os estudantes poderiam usar palavras ou frases, recortes das revistas e outros materiais que contribuissem para a expressio de suas ideias € a producao dos mapas. O objetivo dessa atividade foi incentivar a construgao de um trabalho livre sobre o Brasil, em que os estudantes pudessem expor a sua visio sobre ele. Entretanto, a realizacao da atividade tomou um caminho diferente do proposto pelo professor. As produgées foram apresentadas pelos estudantes num circulo de discussiio em que eles puderam, com a mediag&o do pro- fessor, interpreta-las oralmente e anotadas pelo restante da turma no caderno. 126 3.3 Imagens do Brasil Dando continuidade ao trabalho, o professor propés outro momento de reflex4o. Projetou uma sequéncia de imagens que mostrava a diversidade do Brasil, tanto em suas caracteristicas naturais quanto socioculturais. Foram apresentados paisagens ¢ lugares das diversas regides brasileiras, que des- tacavam os espagos naturais e sua diversidade biolégica, assim como es- pagos humanizados, em que se identificavam diferengas entre o urbano ¢ 0 rural, uma metrépole moderna de uma cidade histérica, e a influéncia dessa dinamica espacial na sociedade e vice-versa, festas tipicas de carnaval ¢ ju- ninas, partidas de futebol, entre outros. ‘Apés a apresentag&io, os discentes foram questionados sobre o que pensam sobre as imagens apresentadas. De acordo com as respostas, 0 professor anotou, no quadro branco, palavras e frases que evidenciaram as respostas. A partir das anotagées, 0 professor conversou com os alunos sobre as relagdes entre as imagens apresentadas e 0 Brasil que todos conhecem. Discutiu-se sobre como o Brasil é um pais de contrastes, diverso, ambiguo e dificil de ser apreendido como um todo homogéneo, destacando a sua diversidade cultural, bem como sua enorme desigualdade social que ainda persiste e que Ihe marca a historia e a geografia. Nesse momento, os alunos produziram um pequeno texto mostrando como as imagens retratam 0 Brasil e como analisam as muitas realidades, diversas paisagens e modos de vida. Esse texto foi recolhido e analisado pelo professor e, posteriormente, rees- crito pelos estudantes. 3.5 Simbolos, cultura e nacionalidade Com a intensao de propiciar aos estudantes a reflexao sobre alguns sim- bolos que marcam o Brasil e servem para construir a ideia de uma identidade nacional, o professor propés que os estudantes assistissem a um video da execugao do hino nacional brasileiro executado antes da partida de futebol entre Brasil e Alemanha na Copa de 2014. Apés a apresentacdo, 0 professor pediu que os estudantes refletissem sobre as seguintes questdes: * Que pais disputou a partida de futebol contra o Brasil mostrada no video? 22 Hino Nacional executado na patida de futebol realizada no Estacio do Mineiro, em Minas Gersis, pela Copa do Nundo de futebol no dia 10/07/2014. YouTube. Brasil x Alemanha: SelegSo Brasileira canta o Hino Nacional antes da parti, ‘Video (min37s). Disponivel em: . Acesso emt 11 dez. 2014 ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para 0 ensino de Geografia 127 * Que elementos caracteristicos do Brasil podem ser percebidos nesse evento? + Como as cores da bandeira do Brasil esto presentes no video? Qual o sentido disso? O professor indagou o porqué do hino nacional ser executado nas par- tidas de futebol. Em outro questionamento, quis saber se ele é executado em outros eventos e situagdes, Também quis saber por que os paises tém hinos nacionais. Os estudantes foram orientados a anotar suas ideias e percepgdes no caderno. O video expos trés simbolos comumente usados para identi- ficar os brasileiros: o futebol, o hino nacional e 0 verde e amarelo exposto de modo proeminente nas bandeiras do Brasil mostradas, no uniforme dos atletas e nas vestimentas de quase todo o publico presente no evento. Apés a discussao, os alunos foram organizados em duplas e convidados a refletir sobre a letra do hino nacional brasileiro. O professor lembrou que 0s livros didaticos possuiam a letra, geralmente localizada na contracapa, e que eles deveriam fazer uma leitura atenta dela (usando o dicionario durante a leitura). Apés essa leitura, os estudantes responderam As perguntas: * Quando vocé ouve o hino nacional o que vocé sente? + O que diz a letra do hino nacional brasileiro sobre o Brasil? + Existe alguma parte do hino que vocé nao entende? Qual/quais? + Qual a importancia do hino para a construgao da ideia de nagio e povo brasileiro? Ao término da atividade, todas as questdes foram discutidas em sala de aula. Ressaltou-se 0 fato de que a identidade de um povo é construida historicamente ¢ que muitos elementos sao criados para forja-la. Entre esses elementos esto a bandeira e o hino nacional. 4 Visdes sobre o Brasil em “Os Simpsons” 4.1 Conhecendo 0 artefato Depois de averiguar que praticamente todos os estudantes conheciam © desenho animado Os Simpsons, o professor iniciou 0 momento com uma conversa sobre o artefato e uma caracterizagao geral da narrativa e dos per- sonagens, antes de tratar especificamente das interpretagdes do episédio 128 escolhido sobre o Brasil. Para isso os estudantes assistiram, junto com o professor, a abertura do desenho animado, que reflete 0 cotidiano da familia Simpsons de forma genérica. Apés assistirem a abertura, os estudantes expuseram oralmente 0 que sentiram em relagdo a apresentagao. Em seguida, o professor direcionou a discusstio para uma possivel comparagao entre a familia Simpson e as fa- milias brasileiras, ressaltando as diferengas ¢ as aproximagdes. O professor fez perguntas durante a discussio, tais como: Onde a série de desenho animado Os Simpsons é produzida? E possivel fazer comparagdes entre os personagens do desenho animado ¢ os brasileiros? Quais sto as principais caracteristicas desses personagens? Apés 0 momento de discussio e argumentagées sobre os questiona- mentos, 0 professor convidou-os a interpretar alguns aspectos da abertura do desenho animado, nos quais se destacam curiosidades sobre os personagens em seu cotidiano, sobre a cidade, as atividades econémicas, a imagem da familia sentada em um sofa diante da TV, que é marcante para caracterizar a narrativa sobre o seu modo de vida. 4.2 Os Simpsons no Brasil: andlise do episédio Feitic¢o de Lisa Dando continuidade a experiéncia didatica com o artefato midiatico Os Simpsons, 0 professor projetou 0 episédio Feitigo de Lisa" na sala de aula. Apés a apresentagao, os estudantes foram organizados em uma roda de conversa para discutir o artefato. A ideia central era que os estudantes ex- pusessem seus posicionamentos sobre a seguinte questao: O que vocé pensa sobre essa narrativa construida sobre o Brasil no episddio assistido? ‘Apés a apresentago do episédio, a turma foi dividida e cada grupo, a pedido do professor, analisou a visao de Brasil sob a dtica de um dos perso- nagens do desenho animado. 1% Feitigo de Lisa, 0 15" episéclo da 13" temporada de Os Simpsons, fi exibido pela primeira vez em margo de 2002, escrito por Bob Bendenston e diigido por Stephan Dean Moore, trata da primeira visita dos Simpsons ao Brasi, mostrando @ visdo estereotipada do “estrangeiro norte-americano” acerca do Brasil e dos brasileios. Cf. WIKIA. WikiSimpsons: Feltigo de Lisa. 2014, Disponivel em: . Acesso em: 11 dez. de 20%, ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para 0 ensino de Geografia 129 Figura 15: Estudantes assistindo ao episédio F ico de Lisa — Os Simpsons Fonte: Arquivo da pesquisa “Espago, tempo e cultura mididtica na escola”. Em seguida, o professor escolheu trechos do episddio que apresen- tavam informagées, estatisticas ou curiosidades sobre o Brasil, presentes na narrativa do desenho animado, tais como a quantidade de populagao, clima, lingua oficial, entre outros. Esses destaques foram analisados por meio dos seguintes questionamentos: * Emuma cena podemos observar que Homer pergunta sobre a po- pulagao do Brasil e questiona quantos habitantes moram no pais. Por que ele se surpreende? Sera que os estrangeiros pensam que 0 Brasil tem pouca gente como Homer insinuou? * Em uma cena dentro do aviao a caminho para o Brasil, Lisa alerta a fa- milia que s6 bebam Agua mineral ou andem em tixi livenciado, Por qué? + Em outro momento, Lisa fala sobre o Brasil para o pai e ele faz questionamentos sobre diferengas climaticas e geograficas entre EUA e Brasil. Quais sao elas? Por que as estagdes do ano sao dife- rentes nesses paises como afirma Lisa? * Bart, dentro do avido, aparece aprendendo espanhol, pois ele acredita que essa seja a lingua falada no Brasil. Sera que essa con- fus&o é comum na percepgao dos estrangeiros sobre o Brasil? + Huma cena no episddio que mostra pessoas dangando conga e a interpretag&o de que esse é 0 ritmo do Brasil. Existe relagdio desse fato com a realidade do Brasil? * Como 0 episédio mostra a relagao dos brasileiros com o futebol? Qual sua opiniaio sobre isso? * Qual a abordagem do desenho sobre as favelas das grandes ci- dades brasileiras? * Como o episédio mostra a cidade do Rio de Janeiro e a Amazénia? 130 Ocorreu em sala um debate acalorado sobre 0 episédio assistido. Os estudantes colocaram em evidéncia 0 modo como a artefato cultural faz a caracterizagio do Rio de Janeiro e suas favelas, as divergéncias de infor- mages sobre as dimensdes do Brasil, as distancias entre os Estados do Rio de Janeiro e do Amazonas € as visdes destorcidas ¢ customizadas dos estran- geiros sobre o Pais. Depois do debate, o docente solicitou que os estudantes refletissem em casa e produzissem um texto com base no seguinte questionamento: «A ppartir do que voeés assistram e do que foi debatido em sala, qual ée tentam manip se a dos partdas de futebol. Cl WIKIA. WikiSimpsons: Os Simpsons ra Copa do Mund 2014. Disponin “tppt simpsons wika,comlwik¥Os,Simpsons_na_Copa_do_Mundo>, Acesso em 11 dez, de 2014. ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para 0 ensino de Geografia 131 ja que o primeiro episédio foi realizado em 2002 € 0 segundo em 2014. Foi proposto que, em grupos, os estudantes discutissem o que, na opiniao deles, os Simpsons deveriam, dessa vez, saber antes de embarcar para o Brasil. Conhecendo a satira do desenho com base no episédio Feitigo de Lisa e no episédio sobre a copa do mundo, em suas opinides, por que as tematicas desses episédios tiveram 0 Brasil como cenério? * Que visdes sobre o Brasil a narrativa da série expde nesse episddio mais recente? + Sea familia Simpson viesse novamente ao Brasil e vocés fossem seus anfitrides, que lugares vocés a levariam para conhecer? Por qué? Seguiu-se, mais uma vez, um animado debate sobre o artefato midiatico, © que contribuiu para que os estudantes pudessem, de modo mais maduro, refletir e expor suas opinides, ideias e argumentagées sobre as visdes cons- truidas sobre o Brasil. Percebeu-se que o desenho animado ainda promove uma visto marcadamente estereotipada sobre o Brasil. Consideragées finais Esta experiéncia didatica foi realizada em uma escola piblica de ensino fundamental, desenvolvida em trés turmas de 7° ano envolvendo aproxima- damente 90 estudantes, Seu desenvolvimento ocorreu em um periodo de sete semanas, num total de 21 aulas de Geografia. Com base no que vivenciamos durante a experiéncia didatica sobre 0 Brasil € os brasileiros, percebemos que a presenca da midia, e consequen- temente dos artefatos da cultura midiatica, é marcante no cotidiano dos estudantes que participaram do trabalho. Entendemos que a midia, princi- palmente televisiva, exerce um papel de destaque na vida e no modo de agir desses jovens e que eles sfio educados pelas imagens. Nosso intuito, com essa experiéncia, foi utilizar um artefato da cultura mididtica e sua marcante influéncia sobre 0 piiblico juvenil como uma pega chave para discutir uma tematica pertinente ao ensino de Geografia, de forma mais lidica e atraente para os estudantes. E necessério ressaltar que 0s artefatos da cultura midiética aparentemente nao tém uma finalidade pe- dagégica, mas que eles ensinam sobre o mundo, muitas vezes de modo mais eficaz do que outras instancias sociais. 132 Durante a experiéncia didatica, tivemos como meta analisar os este- reétipos e os preconceitos latentes que a midia produz sobre o Brasil ¢ os brasileiros, tendo como referéncia 0 fato de que nao existe um pais ¢ um povo univoco. Ao contrario, a pluralidade é a marca central do Brasil do povo brasileiro. Adotamos a perspectiva de anilise que: Somos fruto, historicamente, de um “cardter brasileiro” que est (e nao deve ser diferente) 0 tempo todo sofrendo mutagao, condenando rétulos, abominando marcas indeléveis, se rebelando contra a previsi- bilidade dos esteredtipos. Viemos dessa mistura chamada Brasil, dessa heranga carregada de imperfeigdes, dessa historia repleta de contro- vérsia, injustiga, tens&o, exploragao, espoliagao e superagio. Nada diferente de tantas outras misturas pelo mundo afora com trajetérias semelhantes. Temos, sim, as nossas singularidades, mas elas ndo se apresentam da forma que muitos as querem enxergar, fixas, mono- liticas. Elas esto af, presentes nas casas, nas ruas, nas relagdes so- ciais, nas tensdes do dia-a-dia, nas manifestagdes populares, na alma de cada um de nés, em cada canto singular desse pais continental. Elas apresentam e representam cada pedaco dessa terra chamada Brasil e esto o tempo todo se desfazendo e se refazendo, contestando todas as certezas. Se ha nessa polémica toda uma coisa certa € que existem muitos paises dentro de um pais, inimeras identidades brasileiras com miltiplas e sempre provisérias peculiaridades (SCHEYERL; SIQUEIRA, 2008, p. 389). Antes de aproximar os estudantes do artefato midiatico e verificar suas compreensdes sobre o desenho animado, sua origem, criticas ¢ contextua- lizagdes sobre o Brasil, foram propostas atividades de interpretagao deles sobre 0 Pais, com base nos seus conhecimentos prévios, suas opinides e caracterizagdes acerca do tema. Observamos que a visio dos estudantes sobre o Brasil é ambivalente. Por um lado, esbogam uma imagem depreciativa sobre 0 Pais ¢ seu povo, sobretudo relacionada com as questdes de ordem politica, com a corrupgao, a violéncia, os problemas sociais. Por outro lado, os estudantes ressaltaram outras caracteristicas que se mostram até ufanistas, mostrando Brasil como um Pais grande, bonito, bom para se viver. Nessa visdo, destacaram-se as grandes dimensées do territério, a estrutura urbana, a culindria, o turismo, as festas ¢ a alegria dos brasileiros. Notamos que os estudantes percebem 0 territério do Brasil como grande, pois arriscavam palpites sobre sua po- tencialidade econémica ¢ cultural, suas belezas naturais e a exultagdo dos brasileiros como alegres e afiveis. ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para o ensino de Geografia 133 Em um didlogo sobre o turismo, por exemplo, alguns evidenciaram o seu crescimento justificado pela realizagao da Copa do Mundo de Futebol no Brasil em 2014, outros expuseram que 0 Pais tem lugares bonitos para se vi- sitar, como as praias do Nordeste, evidenciando suas belezas naturais. Frases como as registradas a seguir ilustram a visdo ambivalente e contraditoria dos estudantes ao pensarem sobre o Brasil: “O Brasil é um pais onde 0 governo se apodera do povo”; “O Brasil é um pais movido pela corrup¢do e pela violéncia”; “No Brasil é facil para roubar, pois ele é um pais de corruptos”. “4 maioria das pessoas sé pensa coisas ruins sobre o Brasil, mas o pais é um dos paises mais bonitos do mundo”; “O Brasil é um pais maravilhoso”. Ao solicitar que os estudantes descrevessem o Brasil em palavras, os posicionamentos ambivalentes também prevaleceram indicando ora um ufanismo ora uma visdo dcida sobre o Pais e os brasileiros: “Lindas flo- restas, alegria, futebol, sonhadores, preguicosos, festeiros, belas mulheres, boa culindria, cerveja, misica, engracados, otdrios, corrupgéo, amorosos, carinhosos, receptivos, trouxas, ladrées, carnaval, tecnologia, educagao, lugares bonitos, grande territorio, beleza natural, alegria, pais tropical”. Verificamos que dentre as palavras apontadas nas manifestagdes dos estudantes, a violéncia e a pobreza apareceram pouco. Nessa atividade, merecem destaque as meng@es As paisagens naturais do Brasil, sobretudo a floresta amaz6nica, citada pelos estudantes como a maior do mundo. Apesar de no verificarmos destaque a outras paisagens naturais brasileiras, consta- tamos que a vegetagdo, simbolizada pela floresta amazénica, parece ser uma das mais importantes referéncias ao Brasil na visto dos estudantes. Além da vegetagdo, outras informagées foram verificadas nos registros deles, como © clima tropical e as grandes dimensées territoriais do Pais. A ideia de que 0 Brasil é belo apareceu fortemente nos registros dos estudantes. Por outro lado, € presente a ideia de que a corrupgdo ¢ desonestidade sao elementos que identificam o Pajs e seu povo. Na segunda parte da experiéncia didatica, em que foi analisado 0 ar- tefato midiatico Os Simpsons, consideramos ter sido relevante 0 conheci- mento prévio e a afinidade que os estudantes tinham com ele. Isso facilitou © didlogo sobre narrativa do desenho animado, quase sempre caracterizada pelo humor, a ironia e as visdes sobre o Brasil, muitas vezes, carregadas de clichés e preconceitos. Os estudantes expuseram seus pontos de vista ¢ mostraram exemplos nos quais se fundamentaram seus argumentos. Além disso, notamos refe- réncias relevantes em relagio ao modo como os estrangeiros nos veem e mesmo como nés construimos a nossa autoimagem. Notamos que muitas das questdes levantadas durante a experiéncia didatica nunca tinham sido 134 aventadas pelos estudantes e, nesse sentido, eles puderam refletir ¢ construir novos conhecimentos e posigdes, pensar sobre quem somos € como a midia ajuda a construir versdes sobre a identidade nacional. O fato de um professor de Geografia levar para a sala de aula um epj- s6dio da série Os Simpsons foi recebida com grande surpresa pelos alunos, Ao mesmo tempo, eles se mostraram muito entusiasmados com a proposta e com as discussées feitas sem sala de aula. Observamos, durante 0 processo, como os artefatos midiaticos podem ser ricos para deflagrar discusses de tematicas caras 4 Geografia escolar. Por outro lado, também ficou evidente que muitos estudantes nao pos- suiam conhecimentos basicos sobre a geografia do Brasil. Ao questionar, por exemplo, sobre o némero de habitantes do Pais, surgiram respostas extremas como 300 bilhdes ou 400 mil habitantes. Também chamaram a atengao os debates sobre algumas cenas dos episédios em que os estudantes julgaram normais as atitudes ilicitas e inconvenientes dos personagens que represen- tavam o Brasil. Isso nos levou a refletir sobre a visio que eles tem sobre os brasileiros, a autoimagem que esta sendo construida e por que demonstram concordancia diante das atitudes visivelmente desonestas. Evidenciou-se 0 papel fundamental da escola para reverter tal quadro. Sabemos que a escola piiblica precisa atuar firmemente na formagio dos estudantes para que assim seja possfvel a emergéncia da cidadania, de sujeitos que consigam discernir, de modo critico, o imagindrio existente e tantas vezes reiterado sobre a sua identidade nacional. Os excertos seguintes expressam as palavras dos estudantes sobre quiio importante é 0 oficio dos docentes, particularmente daqueles que trabalham com o ensino de Geografi Como vejo 0 Brasil? Durante uma das aulas de Geografia, discutiamos sobre 0 Brasil € 0 professor perguntou 0 que achdvamos sobre 0 Pais. Muitos de meus colegas disseram varias coisas ruins, eu confesso que eu também. Mas eu pensei: se eu mal conhego a minha cidade como eu vou co- nhecer o Brasil? Entretanto, 0 professor nos mostrou um video dos Simpsons e esse episédio me fez refletir bastante sobre o Brasil e sobre como os estrangeiros o enxergam. Fiquei pensando sobre a visdo que eu tenho sobre o Brasil. Antes eu achava que o Brasil era um pais, um territério, cheio de defeitos e problemas. Pensava também que era 0 pais do futebol e do carnaval. Minha visto era um pouco parecida com a visio dos Simpsons, sem os exageros. Eu ainda acho algumas dessas coisas do Brasil, mas agora eu sei muito mais sobre ele. Por exemplo, ndo sabia que o Brasil tinha tantas favelas, muito menos na ESPAGO, TEMPO E CULTURA MIDIATICA NA ESCOLA: Propostas para 0 ensino de Geografia 135 + minha cidade. Aqui eu nunca imaginei que pudessem existir favelas. A visdo que nds temos sobre o Brasil precisa ser sempre ampliada. Por isso é importante estudar Geografia. O Brasil e os brasileiros O Brasil para mim era apenas um pais tropical que tinha diversidade e varios tipos de pessoas, uma de cada jeito. Eu pessoalmente nunca havia parado para pensar na opinidio dos estrangeiros sobre o Brasil, ‘mas agora consigo refletir melhor sobre isso. Percebi que varios lu- gares tém uma opiniGo sobre o Brasil, inclusive aqui mesmo. Algumas do ruins e outras so boas. Depois das aulas aprendi mais sobre 0 Brasil. O Brasil é tao grande que é dificil conhecé-lo por inteiro. E um pais que tem 26 Estados e muitas cidades que eu nem sei quantas. Acho que nem se estudarmos a vida inteira saberemos totalmente sobre 0 Brasil. Por isso, ndo podemos aceitar uma tinica ideia sobre o Brasil. Temos que continuar estudando e pensando melhor sobre nbs e sobre o nosso pais. 136 REFERENCIAS ALMEIDA, A. de. DimensGes politicas e sociais de um entretenimento audio. visual lucrativo: os Simpsons ¢ as construgdes imagéticas sobre o Brasil. 2011 151 £. Tese (Doutorado) — Universidade Federal de Uberlandia, Uberléndia, 201), FOX. Sobre Fox: Nossa histéria corporativa. 2014. Disponivel em: http: www.foxfilm.com.br/about>. Acesso em: 1 dez. 2014. KESLOWITZ, S. A sabedoria dos Simpsons: o que a nossa familia favorita diz sobre a vida, o amor e 0 donuts perfeito, Rio de Janeiro: Prestigio Editorial, 2007, MALERBA, J. Nossa gente brasileira. Campinas, SP: Papirus, 2001. RIBEIRO, D. O povo brasileiro, Sao Paulo: Companhia das Letras, 1995. SANTOS, M. Metamorfoses do espaco habitado. Fundamentos tedricos e me- todolégicos da Geografia. Sao Paulo: Hucitec, 1994. SCHEYERL, D. e SIQUEIRA, S. O Brasil pelo olhar do outro: representagdes de estrangeiros sobre os brasileiros de hoje. Revista Trabalho de Linguistica Aplicada, Campinas, v. 47, n. 2, p. 375-391, Dez. 2008. WIKIA. mpsons: Episddios. Temporada 13 no Brasil. 2014. Disponivel em: . Acesso em: 29 nov. 2014. WIKIA. WikiSimpsons: Episédios. Temporada 6 no Brasil. 2014a. Disponivel em:. 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