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AhzD INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA MESTRADO EM PSICOLOGIA DA SAUDE Comportamento Alimentar e Dimensées da Personalidade numa Amostra Nao Clinica CLAUDIA ISABEL GUEREIRO CARMO ORIENTADOR: Prof. * Doutora Isabel Leal Cc AAA AWS Op 2006 Dissertagdo de Mestrado realizada sob a orientagiio da Prof. * Doutora Isabel Pereira Leal, apresentada no Instituto Superior de Psicologia Aplicada para a obtengao de grau de Mestre na especialidade de Psicologia da Saiide conforme a Portaria n.° 107/97 de 17 de Fevereiro, para dar satisfagdo ao ponto “b” do n.° 2 do art. 5.° do Decreto Lei n.° 216/92 de 13 de Outubro. AGRADECIMENTOS PROF.* DOUTORA ISABEL LEAL, pelay palavray de entusiaymo; acompanhamento-e pervisténcia ao longo de todo este tempo: AS ALUNAS que participaram neste extudo; ajudando~me werguer ui doyprinctpais ingredientey dav investigacio; w amostra. AOS COLEGAS DOCENTES, que disponibiligaram parte daw sax horaw lectwway para w recotha dos dado, senv o qual esta inwestigacdio néio- teria xdo-powivel. A Anwe dw FILIPA pelo apoto; companheirismo- e cumplicidade: Ao MARIO por ter sido o principal entusiasta deste projecto- e por pronunciar sempre palawray sibtay nor momentoy de desanimo e desespero: ObrigadaM. Ao- NELSON pela paciénciay com que suportow o- mew maw humor eo periodo-de clauwura doy uitimos tempos. MAE, pelo persisténcia com que, mesmo quando j@ ndo havi forcas pare inserir dados, me digtar “sé faltamy mai estey e pronto!” e por tudo: we w todoy aqueley que mesmo aquir ndo mencionadoy na folha de papel, ndo-deixaram de contribuir para neste projecto: RESUMO O objectivo deste estudo foi investigar a relagiio entre atitudes e comportamentos relativos & alimentago e ao peso, caracteristicas psicold; perturbagdes do comportamento alimentar e dimens&es de personalidade em estudantes universitérios a frequentar uma licenciatura na Regio do Algarve. Os participantes foram 190 estudantes do sexo feminino, de 17 a 30 anos (M=21; DP=3,32). Foi utilizado um Questiondrio de Caracterizagio da Amostra, constituido por questdes relativas a dados socio-demograficos e dados antropométricos. As atitudes, comportamentos ¢ caracteristicas psicolégicas associadas s perturbagdes do comportamento alimentar foram avaliadas com 0 Inventirio de Perturbages Alimentares (EDI-2; Gamer, Olmsted, & Polivy, 1991). As dimensbes de personalidade foram observadas através do Inventério de Personalidade NEO-Revisto (NEO-PI-R; Costa & McCrae, 1992). Foi observada uma associagao positiva forte entre 0 comportamento alimentar disfuncional e a dimensio Neuroticismo, r (190) = 0,59, p<0,01. Em sentido inverso, existe uma correlagaio negativa moderada entre 0 comportamento alimentar ¢ as dimensdes Extroversio e Conscienciosidade, r (190) = - 0,36, p<0,01 e r (190) = - 0,31, p<0,01 respectivamente. As correlagdes obtidas entre 0 comportamento alimentar € as restantes dimensdes de personalidade so positivas, mas baixas ¢ nio significativas, sugerindo que a relagao entre eles néo é forte. Na globalidade, os resultados parecem mostrar que os factores de personalidade so bons preditores das atitudes e comportamentos face a alimentagZo e ao peso. As dimensdes de personalidade assumem um cardcter protector ou facilitador (factor de risco) para 0 desenvolvimento de sintomatologia caracteristica das PCA. Os resultados parecem mostrar que a dimensdo Extroversio, em primeiro lugar e, a dimenséo Conscienciosidade, em segundo, actuam como protectoras relativamente a problemas alimentares, enquanto a dimenséo Neuroticismo parece representar um dos factores de risco para o desenvolvimento de sintomatologia associada as perturbagdes do comportamento alimentar. VI ABSTRACT ‘The purpose of this study was to investigate the relations among (a) attitudes and behaviours regarding food and body weight, (b) psychological characteristics associated with cating disorders and (c) personality dimensions of female university students in the Algarve region of southern Portugal. The participants were 190 female students, ranging in age from 17 to 30 years (M=21; SD=3,32). Participants responded to a questionnaire of socio-demographic and anthropometric data. Attitudes, behaviours and psychological characteristics associated with eating disorders were evaluated with the Fating Disorder Inventory (FDI-2; Gamer, Olmsted, & Polivy, 1991). The dimensions of personality were evaluated with the NEO Personality Inventory-Revised (NEO- PI-R; Costa & McCrae, 1992). A positive association was observed between dysfunctional eating behaviour and Neuroticism, r (190) = 0.59, p < 0,01. On the other hand, moderate negative correlations were observed between the eating behaviour and the dimensions Extroversion and Conscientiousness, r (190) = - 0,36, p<0,01 and r (190) = - 0,31, p<0,01, respectively. The correlations observed between eating behaviour and the remaining dimensions of personality were positive, but small and nonsignificant, suggesting that the associations are not strong. On the whole, the results seem to show that some personality factors are good predictors of attitudes and behaviours regarding food and weight. Certain personality dimensions may take on a protective role while other may facilitate the development of characteristic symptoms of eating disorders. The results seem to show specifically that Extroversion and Conscientiousness both act as protectors against nutritional problems, while the Neuroticism dimension seems to represent a risk factor for the development of symptoms associated with eating disorders. VIL INDICE INTRODUCAO .. A Personalidade Personalidade: Da Mascara aos Tragos A Teoria dos Tragos.. O Modelo dos Cinco Factores. Personalidade e Satide...... Comportamento Alimentar. Epidemiologia Clinica das Perturbagdes do Comportamento Alimentar .. Btiologia... ‘A Personalidade como Factor de Risco. NEO-PLR. EDI-2. Procedimento RESULTADOS .. Estatistica Descritiva Anilise Correlacional Estudo Comparativo.... 86 DISCUSSAO REFERENCIAS ANEXOS : 103 Anexo A: Questiondrio de Caracterizagiio da Amostra. 104 Anexo B: Inventario de Personalidade NEO Revisto (NEO-PI-R)...... 105 vil Anexo C: Folha de Sumario do NEO-PL-R........ 1MT Anexo D: Medidas ¢ Desvios Padrio da Forma S — Mulheres entre os 17 ¢ os 21 anos do NEO-PI-R — Valores Normativos oo LB Anexo E: Medidas e Desvios Padrio da Forma S ~ Mulheres entre os 21 & os 84 anos do NEO-PI-R — Valores Normativos. 119 Anexo F: Medidas ¢ Desvios Padrao da Forma S — Participantes entre os 17 € os 21 anos do NEO-PI-R (n=100) 120 Anexo G: Medidas e Desvios Padraio da Forma S — Participantes entre os 21 e 08 30 anos do NEO-PL-R (n=90). 121 Anexo Hi: Inventirio de Perturbagées do Comportamento Alimentar (EDI-2) Anexo J: EDI-2 — Valores Normativos... 122 LISTA DE TABELAS TABELA 1: Valores das estatisticas descritivas para 0 peso minimo e peso maximo, considerando 0 grupo etitio.. 63 TABELA 2: Teste Student, estatisticas do teste para os valores do peso actual ¢ peso ideal. ..64 TABELA 3: Valores referenciais do IMC de acordo com a OMS: TABELA 4: Estatisticas descritivas para o IMC de acordo com a licenciatura .. TABELA 5: Valores de frequéncia observada (J) e valor percentual (%) relativamente & questo: “Sente-se bem com o seu corpo?”. TABELA 6: Valores de frequéncia observada (/) valor percentual (%) relativamente & questo: “Acha-se gorda?”. Tabela 7: Valores de frequéncia (f) observada e valor percentual (7) relativamente & questo: “Acha gorda alguma parte do seu corpo?”. TABELA 8: Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (7) relativamente & questo: “Acha-se magra?”, TABELA 9: Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente & questo: “Jé fez dieta para perder peso?” TABELA 10: Valores de frequéncia (f) observada e valor percentual (%) relativamente a presenga de “amenorreia ” 68 TABELA 11: Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente & questo: “Faz actualmente dieta para perder peso? 168 TABELA 12: Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente a questo: “Faz, actualmente dieta para perder peso?” considerando o grupo etdrio. TABELA 13: Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente & questo: “Faz actualmente dieta para perder peso?” considerando o IMC .. TABELA 14: Valores de frequéncia (f) observada e valor percentual (%) relativamente & questio: “Tem panico de aumentar de peso? TABELA 15: Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente & questi: “Tem panico de aumentar de peso?” considerando o IMC....... TABELA 16: Valores médios das 11 sub-escalas do EDI-2 na amostra... TABELA 17: lores de correlagdes entre as 11 sub-escalas do EDI-2 e os sujeitos com IMC igual ou inferior a 18,5. TABELA 18: ralores de correlagdes entre as 11 sub-escalas do EDI-2 e os sujeitos com IMC superior a 18,5. TABELA 19: Valores de correlagdes entre as Dimensbes do NEO-PI-R ¢ 0 IMC para sujeitos com valores menores ou iguais a 18,5 TABELA 20: Valores de correlagdes entre as Dimensdes NEO-PIR € 0 IMC para os sujeitos com valores superiores a 18, TABELA 21: Valores de correlagdes entre 0 EDI-2 ¢ o NEO-PLR. TABELA 22: cinco dimensdes do NEO-PLR. TABELA 23: Valores de correlagdes entre as sub-escalas do EDI-2 e as facetas da dimensiio Neuroticismo do NEO-PI- 1-2 e as alores de correlagSes entre as 11 sub-escalas do TABELA 24: Valores de correlagdes entre as sub-escalas do EDI-2 ¢ as facetas da Extroversio do NEO-PI-R. TABELA 25: Valores de correlagdes entre EDI-2 e as facetas da Abertura & experiéncia do NEO-PLR.. TABELA 26: Valores de correlages entre as sub-escalas do EDI-2 e as facetas da Amabilidade do NEO-PI- TABELA 27: Valores de correlagées entre EDI-2 e as facetas da Conscienciosidade do NEO-PLR. TABELA 28: Teste ¢— Student e valores das estatisticas descritivas para as 11 sub-escalas do EDI-2 em dois grupos etérios. TABELA 29; Teste f- Student e valores das estatisticas descritivas para 0 EDI-2 (total) e sub-escalas em dois grupos de IMC. TABELA 30: Teste f- Student e valores das estatisticas descritivas do EDI-2 em dois grupos “Sim e “Nao” & questio: “Tem panico de aumentar de peso?” TABELA 31: Teste f- Student e valores das estatisticas descritivas do EDI-2 em dois grupos “Sim e “Nao” & questo: “Faz. dieta actualmente? LISTA DE QUADROS QUADRO 1: Termos utilizados para designar as 5 dimensdes da personalidade. 9 QUADRO 2: Breve resenha hist6rica sobre a construgio e desenvolvimento do NEO-PLR. 44 QUADRO 3: Dominios ¢ Facetas que integram 0 NEO-PER .. QUADRO 4: Itens de cada sub-escalas do EDI-2... LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Histograma para a idade dos sujeitos da amostra, FIGURA 2: Distribuigdo da Variavel “Estado Civil” das participantes .........40 FIGURA 3: Distribuigio da variével “Curso” das participantes... FIGURA 4: Distribuigdo da variével “Ano de Curso” das participante: FIGURA 5: Distribuigéio da varidvel “Estatuto trabalhador estudante” das ee A2 participante: FIGURA 6: Representago dos extremos e quartis para o IMC por grupo ctario, INTRODUCAO Definir personalidade nfo monétono nem simplista. Existem intimeras definigdes e, todos aqueles que Ihe dedicaram algum estudo ¢ dedicagio acabariam por fazer florescer uma nova definigio para este constructo. Quando tentamos definir este conceito, o que parece haver de mais consensual € a ideia de que se trata de um conjunto de tendéncias tinicas num individuo relativamente constantes ao longo do tempo; determinando aquilo que se faz, € no faz, pensa endo pensa, sente e no sente, na relagdio consigo e com os outros. Lima (1997) salienta que as definigées sobre a personalidade so tantas € to diversas que se coloca a questiio de se saber se se trata do mesmo constructo ou de outros muito diferentes, designados com o mesmo nome. Sio muitas as teorias ¢ as definig&es de personalidade que nos confundem com, Jongas caminhadas por termos e descrigdes exaustivas e complexas; umas apelam ao caricter imutavel ¢ estético da personalidade ¢ outras parecem defini-la como dindmica ¢ em permanente alteragiio, apelando a sua constante mudanga. A abordagem histérica da Teoria dos Tragos, agora actualizada por Costa ¢ McCrae através do Modelo dos Cinco Factores, apesar das intmeras criticas, apresenta suporte empirico quando se procuram relacionar varidveis da personalidade com outros constructos, como a satide mental. Personalidade e comportamentos de saiide tém sido ingredientes de varias investigagdes. De acordo com Lima (1997), os hdbitos de satide representam uma frea onde as varidveis personolégicas podem ser muito titeis, uma vez que, a utilizago dos tragos para prever comportamentos relacionados com a saiide € duplamente importante, permitindo uma melhor compreensao desta problemitica e a identificagao de sujeitos que beneficiariam de um programa de intervengio. Mais especificamente, determinados tragos de personalidade tém sido relacionados ¢ entendidos como factores de risco para atitudes e comportamentos alimentares disfuncionais que preenchem alguns dos critérios de diagnéstico para as perturbagdes do comportamento alimentar ou sindromes parciais. ‘Apesar da etiologia das Perturbagdes do Comportamento Alimentar néo estar totalmente clarificada, a literatura revisada faz-nos acreditar que existe uma interacgtio de factores genéticos, ambientais, sociais, familiares e psicologicos que ao longo do ciclo vital determina 0 curso e a evolugio destas entidades nosoldgicas. Impera assim, a necessidade de se construirem modelos teéricos explicativos multidimensionais, diante complexa diversidade de factores envolvidos no desenvolvimento ¢ no eclodir de padrdes disfuncionais perante convivio com 0 corpo com a alimentagio. Na impossibilidade de, neste ambito, estudarmos ¢ identificarmos todos os determinantes das perturbagdes do comportamento alimentar ¢ sindromas parciais, dedicaremos a nossa atenglio aos tragos de personalidade ¢ na sua relag&o com as atitudes, comportamentos e caracteristicas psicoldgicas frequentemente associadas as perturbagdes do comportamento alimentar. Na persecugio deste objectivo delineou-se um estudo que procurou descrever a relago entre comportamento alimentar e tragos de personalidade numa amostra no clinica de estudantes universitérios do sexo feminino. A pertinéncia deste estudo reside no facto de ter sido utilizado, como medida de personalidade, um inventirio sustentado no Modelo dos Cinco Factores, que identifica tragos normativos, i.e., nfio patolégicos da personalidade. Neste sentido, Pryor e Wiederman (1996) enfatizam a importancia de considerar aspectos no clinicos da personalidade ¢ de variar métodos de avaliagdo na compreensio de factores de predisposigao para as perturbagdes do comportamento alimentar. Durante longas décadas a avaliago da _personalidade _assentou predominantemente nos aspectos negativos da mesma. Qualquer pesquisa bibliogrifica até aos anos 90 faz. prova de que o enfoque principal das investigagbes se enquadrava numa éptica psicopatolégica das varidveis personalidade e saiide, Ribeiro (1999). Esta tendéncia também se fez sentir no estudo da personalidade ¢ do comportamento alimentar, onde a investigagao se centrou quase em exclusivo na andlise das perturbagdes do comportamento alimentar e nas perturbagées da personalidade (Bixo II). Dito de outro modo, grande parte dos estudos cientificos que regem estas varidveis enfatizam principalmente a psicopatologia da personalidade ¢ a anorexia e/ou a bulimia nervosa em populagées clinicas onde o diagnéstico é ja uma realidade antes do estudo. Botelho (2006) refere que as abordagens anteriores a0 Modelo dos Cinco Factores (que procuravam avaliar os possiveis efeitos da personalidade sobre um aspecto particular da sade), recaiam naturalmente no dogma de que um ou mais elementos de cariz psicopatolégico da personalidade estariam associados ao aparecimento ou desenvolvimento de um determinado aspecto de doenga. No entanto, e especificamente na nossa area de estudo, é totalmente possivel e provavel que uma joven exibindo padrées nfo clinicos de perturbagdes do comportamento alimentar hoje, possa estar A procura de tratamento amanha (Pipher, 1995). Personalidade Personalidade: Da Mascara aos Tragos termo personalidade tem origem na palavra latina “persona”, que significa mascara de teatro. Mascara, que era usada pelos actores da Antiguidade para exprimir e representar diferentes emog6es ¢ atitudes em palco (Hansenne, 2004), O conceito de personalidade esti etimologicamente ligado A nogdo de papel desempenhado pelo individuo num contexto definido e face a um publico, De frente para a plateia, as mascaras permaneciam ao longo da pega imutaveis, da mesma forma que se considera que a personalidade se mantém constante durante a vida. Curiosamente, o mimero de mascaras utilizadas no teatro antigo era limitado, eram doze, 0 que parece significar que, jé na Antiguidade, embora longe das categorias que ao longo dos tempos se tém desenhado, a ideia de que o Homem no se pode comportar de miltiplas formas, mas sim de acordo com padres de comportamentos homogéneos, esteve desde entio presente. Afinal, cada uma das doze mascaras catalogava um molde quase infinito de caracteristicas, emogbes € atitudes. Nos escritos de Cicero, a palavra persona assume pelo menos, quatro sentidos, todos cles relacionados com teatro: a personalidade como um conjunto de caracteristicas pessoais do actor, que representam 0 que a pessoa realmente é; a personalidade, vista como a forma pela qual a pessoa aparece aos outros ¢ nfo como realmente é e, neste sentido, equivale 4 mascara; o papel que a pessoa representa na vida, tal como a personagem num drama e; a personalidade encarada como um conjunto de qualidades indicativas da disting&o e dignidade, que fazem do actor uma estrela, (Lima, 1997, p. 14). ‘Apés a Antiguidade e ao longo de varios séculos, o estudo da personalidade permaneceu encerrado apenas em alguns trabalhos filoséficos. interesse pela personalidade recomega no inicio do séc, XX com os trabalhos de Wundt, Galton, Janet ¢ Charcot (Bernaud, 2000). © estudo da personalidade, como uma nova area da psicologia emergia na década de 30 do século XX. Duas obras contribuiram para este novo ciclo: em 1937, a publicagdo do livro de Allport, Personality: A Psychological Interpretation, que serviu de modelo durante varias décadas, acabando mesmo por introduzir 0 estudo cientifico da personalidade na América e; um ano mais tarde Murray (1938) com a designagio de “Personologia” como uma nova ciéncia, a Ciéncia da Pessoa (Lima, 1997). Estes autores realgaram a ideia de que o sujeito é uma totalidade, concepgio que se mantém actual nos anos 90 apesar das imimeras criticas ¢ controvérsias que se seguiram. Neste sentido, Palenzuela e Barros (1993) clarificam que a “este perfodo de esplendor se seguiu uma crise profunda, no inicio dos anos 60, cujo principal responsvel foi Walter el, com a publicago do livro Personality and Assessment em 1968. Os anos que se seguiram a esta obra caracterizaram-se por debates entre defensores do paradigma basico, as predisposigdes e, os que realcavam os factores da situagio como determinantes do comportamento. Este debate entre os defensores dos tragos e os situacionistas deu lugar a uma série de “conferéncias de paz” no campo da personalidade, orientadas numa perspectiva interaccionista (Lima, 1997). Esta posigdo interaccionista, defendida por Mischel fez emergir uma nova etapa na psicologia da personalidade, onde os tragos e os motivos, que tinham surgido como unidades de andlise nos manuais de Murray e Allport, perdiam agora relevancia, a favor das cognigées. De acordo com Hansenne (2004) a maioria dos autores retoma sempre as mesmas ideias: a ideia de consisténcia, de causalidade interna e de cardcter distintivo da personalidade. Hall e Lindsey (1984) a este propésito salientam um outro aspecto, nao menos importante, 0 modo com se define a personalidade. Para estes autores, a forma como se fabrica a definigio depende da preferéncia tedrica dos investigadores, sendo os constructos especificos utilizados na definigdio de personalidade nfo mais do que um reflexo das suas posigGes tedricas ¢ mais tarde um contributo na escolha dos métodos de avaliag&o. No mesmo sentido, Cook (1984) justifica a diversidade de definigées pela multiplicidade de perspectivas e funcSes pelas quais se procura definir a personalidade, assim como pelos niveis de explicago que tém em vista. Outro factor explicativo da diversidade é a importancia atribuida ao estudo do desenvolvimento ¢ ao estudo da estrutura da personalidade. Apesar da multiplicidade de definigdes, do encadeamento subtil de cada uma, da complementariedade de muitas delas ou mesmo da oposig&o clara entre algumas, podemos destacar o que as varias definigdes das diferentes teorias tém em comum. Dito de outro modo, embora existam dezenas de definigdes de personalidade, a maioria retine trés aspectos principais: a unicidade do individuo, aquilo que o distingue de todos os outros; um conjunto de caracteristicas estéveis e duradouras, a0 Iongo do tempo e das situagdes ¢, 0 estilo caracteristico de ligagao/interacgao entre 0 sujeito ¢ o ambiente fisico e social (Kimel, 1984). E de salientar, que a definig&o de personalidade subjacente ao Modelo dos Cinco Factores realga os primeiros dois aspectos: as regularidades recorrentes (os tragos) e a sua organizagio caracteristica, em cada pessoa. Podemos concluir, de acordo com Lima (1997) que as definigdes de personalidade reflectem as diferentes teorias ¢ a perspectiva que se tem deste constructo num determinado momento histérico. As definiges mais recentes de personalidad tém vindo a valorizar os componentes interactivos ¢ dindmicos, fazendo disso prova a perspectiva de Costa ¢ McCrae (1994) que compreende a personalidade como “um. sistema definido por tragos da personalidade e processos dindmicos que afectam o processo psicolégico individual” (p. 70). A Teoria dos Tracos “Se existe uma personalidade especifica, é tinica e, consequentemente, a sua caracteristica definidora sao os tracos” (Buss, 1992, p. 482). ‘A Teoria dos Tragos torna-se obrigatoria, tanto pela importdncia que tem para a concepgao contemporfinea da personalidade — 0 conceito de tragos tem acompanhado © desenvolvimento da psicologia da personalidade desde os seus primérdios ate aos dias de hoje -, como para a emergéncia do Modelo dos Cinco factores, que se assume como percursor do instrumento de avaliagiio que adoptamos neste estudo. ‘A Teoria dos Tragos retine abordagens que concebem a personalidade como uma constelagdo de tragos. Nestas abordagens podemos incluir a teoria de Allport, Cattell, Eysenck, Guilford e, mais recentemente, a de Costa e McCrae (1992), que no inicio da década de 90, definem os tragos como “dimenstes das diferencas individuais, com tendéncia a mostrar padrées consistentes de pensamentos, sentimentos e acgdes” (p. 141). Seguindo esta linha de pensamento, McCrae e Costa (1995) propdem entéo 0 que designaram por “modelo geral da pessoa”, onde os tragos da personalidade no so mais do constructos hipotéticos, concebidos como disposigdes basicas que, na interacglo com as influéncias externas, contribuem casualmente para o desenvolvimento de hébitos, atitudes, aptiddes e outras adaptag6es caracteristicas. Os autores sublinham ainda que os tragos nfio se referem a caracteristicas simétricas, que as pessoas possuiriam ou no, mas sim a continuos, a0 longo dos quais os individuos se podem posicionar (Cabral, 2001). McCrae © Costa (1992) acrescentam ainda que “diferentes estudos tém mostrado que, ao longo da parte adulta do curso de vida, poucas mudangas existem no nivel médio dos tragos da personalidade comummente avaliados. De forma geral, nGo existe nem declinio nem crescimento na idade adulta” (p. 177). Lima (1997) acabaré por concluir que os tragos so reais ¢ apresentam niveis de estabilidade e de continuidade ao longo da idade adulta. Em suma, ¢ segundo Lima (1997, p. 26), os tragos poder ser caracterizados como sendo: “Tendéncias. Os tracos sao tendéncias, j4 que ndo sao determinantes absolutos do comportamento, mas apenas disposiges que, a par de muitos outros factores, influenciam a reacgo das pessoas a uma determinada situago. Dimenstes. Visto as pessoas poderem ser ordenadas, segundo o grau em que apresentam os tragos; estes siio dimensdes das diferengas individuais. Grande parte dos tragos so, por conseguinte, passiveis de ser representados por uma escala, num ponto da qual podemos situar uma pessoa. Gerais. Os tragos so disposigées gerais e, como tal, encontram expresso numa variedade de actos especificos. Por conseguinte, diferenciam-se de comportamentos aprendidos, como os habitos. Padres consistentes. Os tragos podem ser observados, a0 longo do tempo e através das situagées. As investigagdes longitudinais indicam que os tragos apresentam consisténcia e estabilidade, ao longo do tempo, e tém mostrado uma boa predictil sido crucial na definigéo do conceito de personalidade. jdade do comportamento, a longo prazo. (...) A nogio de consisténcia tem Inferidos. Podemos dizer que os tragos so inferidos, na medida em que o comportamento € observado, enquanto os tragos sdo identificados, a partir de referéncias comportamentais. Estilos emocionais, interpessoais, experienciais, atitudinais e motivacionais. Hierarquizados. Os tragos também so, para muitos tebricos, hierarquizados, o que possibilita que 0 comportamento das pessoas scja descrito a niveis diferentes de abstracgao. Disposi ivo-dinamicas. Os tragos, enquanto unidades funcionais da jes cog) personalidade, guiam 0 comportamento de muitas formas: informam sobre as situagdes consideradas atraentes e, consequentemente, determinam em quais delas nos envolvemos voluntariamente; sobre o estilo de comportamento mais provavel que o sujeito exibirs ; determina 0 que sera compreendido como reforgador numa circunstincia particular, ou seja, como ela vai ser percebida. Neste tltimo sentido, os tragos funcionarao como mecanismos auto-reguladores que se auto-sustém, revelando-se preditores dos comportamentos mesmo sob forte pressdo situacional.” Perante a diversidade de tragos de personalidade que diferentes autores apontaram, comegaram a surgir diversos sistemas de tragos, baseados ou nfo em teorias, a partir dos quais foram construidas inimeras escalas. Para além da ardua tarefa de encontrar uma definig&o consensual para a nogao de trago, a necessidade de medir e avaliar este constructo tornava-se e tornou-se agora primordial. ‘A competi¢&o entre os varios sistemas de tragos passou a ser uma realidade para os psicdlogos da personalidade e, a auséncia de um modelo unificado e singular impedia 0 avango desta area, na medida em que dificultava a comunicagao entre os investigadores ¢ a comparagao dos resultados (Lima, 1997). Desta sobreposig&io entre os varios sistemas e da emergéncia da avaliag4o com inimeras medidas da personalidade, surge um conjunto limitado de tragos — os cinco grandes factores — caminhou-se assim para a construgio de uma taxionomia compreensiva da personalidade. Nao podendo deixar de referenciar que esta inscrigo do Modelo dos Cinco Factores na tradiglo taxionémica, sem qualquer explicago causal das diferengas individuais, comporta uma das principais criticas dirigidas a este modelo. ‘Apesar das criticas, McCrae ¢ John (1992) defendem que & neste momento, do delineamento dos tragos da personalidade, onde as tradigGes dos questionarios e da hipétese lexical confluem, que se dé a emergéncia do Modelo dos Cinco Factores. O Modelo dos Cinco Factores © Modelo dos Cinco Factores da Personalidade ¢ uma representagiio da estrutura da personalidade, em termos de cinco dimensées basicas (os “cinco grandes factores”). Este modelo tornou-se gradualmente o modelo dominante na pesquisa da personalidade obtendo uma vasta aceitagiio e apoio entre os psicdlogos gragas A sua s6lida base empirica (Digman, 1990). Na histéria da Psicologia da Personalidade, 0 Modelo dos Cinco Factores, de acordo com McAdams (1995) apresenta-se como uma descrigao compreensiva consensual no dominio dos tragos. Afirmando Briggs (1992) que, “apés mais de cinco décadas de investigagio dedicadas & forma pela qual os individuos se descrevem a si proprios e aos outros, 0 Modelo dos Cinco Factores, em termos de descrigéio universal dos tragos de personalidade, goza de um avango substancial sobre os adversirios” (p. 254) Costa, McCrae ¢ John (1992) de forma sucinta, definem 0 Modelo dos Cinco Factores como “uma organizagSo hierdrquica dos tragos da personalidade em termos de cinco dimensées basicas: Extroversio, Amabilidade, Conscienciosidade, Neuroticismo e Abertura a Experiéncia” (p.175).. © nimero de dimensdes da personalidade nao foi unanime. A titulo de exemple, cite-se a controvérsia entre Eysenck e Costa patente em dois artigos de titulos bem significativos: “Quatro maneiras de demonstrar que os cinco factores ndo sito fundamentais” (Eysenck, 1992) e “Quatro maneiras de demonstrar que os cinco factores sao fundamentais” (Costa & McCrae, 1992). Costa e MeCrae (1992) apresentam quatro argumentos em favor deste modelo, que passaremos sucintamente a explicitar: Em primeiro lugar, estudos longitudinais realizados por diversos observadores mostraram que os cinco factores constituem disposigées reais para que a pessoa se comporte de determinada maneira, em certas situagdes. Em segundo lugar, os cinco factores encontram-se na linguagem corrente e nos principais questiondrios de personalidade, Em terceiro lugar, os factores encontram-se em diferentes culturas, ndo sendo influenciados nem pela idade nem pelo sexo. Em quarto lugar, tém uma base biolégica. Mais ainda, 0 modelo dos cinco factores ¢ considerado universal (McCrae & Costa, 1997). ‘A verdade é que, apés longos anos de discuss&o, um grande nimero de psicélogos da personalidade acabou por considerar que as diferengas individuais podem agrupar-se em cinco dimens6es principais (Digman, 1990). Efectivamente, hd j4 muito tempo que esta ideia assumira forma, pois Fiske (1949), ao ndo conseguir reproduzir a estrutura factorial do modelo de Cattell, havia proposto uma solugdo de cinco factores, Na década de 60 do século passado, Norman (1963), Borgatta (1964) ¢ Smith (1967) chegavam A mesma conclusio: cinco factores (Hansenne, 2004). Mas, se por um lado, muitos so os que consideram que é fundamental reduzir o niimero de dimensdes da personalidade para cinco, a denominagio e o significado das dimensées ainda no € objecto de consenso (Digman, 1990). Apesar de Peabody e Goldberg (1989) considerarem que os termos utilizados pelos diferentes autores constituem apenas variagdes de um mesmo tema. © quadro 1 sumariza as designagdes atribuidas as cinco dimensdes de personalidade de acordo com diferentes autores ao longo de varias décadas. Quadro 1, Termos utilizados para designar as 5 dimensdes da personalidade “Rator Factor Factor Factors Factord Factor Fiske “Raapiagio socal | — Conformidads ‘Vontade ae Conivaio Procura de (1949) conseguir emnocional imetigencia Norma Urgincia ‘Teradabilidade | Conseienciosidade | Fmocionalidade ‘Cala (1963) Borgata | — Asserividade Simpaia Respontibiidads | ~Emocionalidade | Tnteligincia (0964) Digman Exiroversio “Aevabilidade | Woniade de chegar | — Nearoudamo Tislecio (4990) Casta Tntroversio | Agradabliidade | Consclenciosidade | — Neuroticismo “Kberiura McCrae Experitncia (cases) ‘Adaptado de Hansenne (2004) 10 O Modelo dos Cinco Factores transporta diversas implicagdes para alguns dos topicos principais da psicologia da personalidade e da psicologia da idade adulta. Nomeadamente, no que diz respeito a estrutura da personalidade, este modelo representa uma taxinomia consistente e compreensiva, face a0 caos conceptual que reinou até ao seu aparecimento, oferecendo uma solugdo conciliadora, que organiza e categoriza a multiplicidade de conceitos existentes. Finalmente, quanto & polémica questo da mudanga na personalidade do adulto, 0 Modelo dos Cinco Factores, apresenta dados empfricos que sublinham a constincia. Em conformidade com esta ideia, Costa e McCrae (1988) avaliaram a personalidade de 983 sujeitos com idades compreendidas entre os 21 ¢ os 96 anos, tendo demonstrado que as principais dimensdes da personalidade, segundo o modo como eram definidas pelo modelo dos 5 factores, permaneciam estaveis num intervalo de 6 anos, no caso dos maiores de 30 anos. Em contrapartida, nas pessoas mais jovens, a personalidade pode sofrer pequenas transformagoes. ‘Uma década depois, os mesmos autores (Costa & McCrae, 1994), mostram que, nos adolescentes entre os 17 ¢ os 20 anos, os resultados da dimensio Extrovers4o e Neuroticismo sao mais elevados, sendo os da dimens&o Amabilidade ¢ de Conscienciosidade menos expressivos do que nos adultos de idade superior a 30 anos. Os individuos entre os 20 e os 30 anos obtém resultados intermédios. Assim sendo, com base nestes dados, a personalidade parece estabilizar a partir dos 30 anos. Os autores concluem que todos os cinco factores po’ jam consideravel confiabilidade e validade ¢ permaneciam relativamente estaveis através da idade adulta (McCrae & Costa, 1990, 1994). A estabilidade dos tragos de personalidade entre a adolescéncia ¢ a idade adulta esté bem patente, de igual modo, num recente estudo longitudinal Roberts (2001) avaliou inimeras vezes os mesmos individuos, com idades compreendidas entre os 18 e os 26 anos, tendo concluido as diferentes dimens6es niio softem modificagSes entre as avaliagdes. De acordo com Hansenne (2004) as modificagdes que se registam desde a adolescéncia até @ idade adulta dio conta de uma evolugéio no sentido de uma maior maturidade. Com a multiplicagdo dos progressos metodolégicos ¢ empiricos, na segunda metade da década de 80, nasce 0 chamado NEO-PI-R (Costa & McCrae, 1987; McCrae & Costa, 1989), um instruménto que operacionaliza 0 Modelo dos Cinco ry Factores. Originalmente, o questionério compreendia 145 itens (NEO-PI) que apenas mensurava as facetas do Neuroticismo, Extroversio Abertura para o Exterior € exclusivamente as medidas globais para as duas restantes dimensdes (Costa & McCrae, 1985). De seguida, os autores criaram um novo questionério, com 240 itens (NEO-PI-R) que retoma os cinco factores (Costa & McCrae, 1989, 1990). Esta tltima e actual versio dispée-se entio a avaliar as cinco grandes dimens6es da personalidade, bem como alguns dos tragos que as integram. Seré com base no NEO-PL-R, e recorrendo as palavras de Lima e SimBes (1995, p. 133), que apresentamos uma breve descrigao de cada uma destas dimenses: ‘Neuroticismo (N) ‘A escala global avalia a adaptagio vs. a instabilidade emocional. Valores elevados em N identificam individuos preocupados, nervosos, emocionalmente inseguros, com sentimentos de incompeténcia, hipocondriacos, com tendéncia para a descompensagio emocional, desejos e necessidades excessivas e respostas de coping desadequadas, bem como com tendéncia geral para experienciar (tendéncia a experimentar afecto) afectos negativos como 0 medo, tristeza, embarago, raiva, culpabilidade e repulsa. Talvez pelas emogGes disruptivas interferirem na adaptagao, os homens ¢ mulheres com pontuag&o mais alta nesta escala tém também tendéncia para ideias irracionais, para serem menos capazes de controlar os impulsos controlar-se pior do que os outros com o stress. Valores baixos em N, por outro lado, revelam uma estabilidade emocional que se traduz em individuos geralmente calmos, com humor constante, tranquilos ¢ descontraidos, seguros, satisfeitos consigo mesmos e capazes de enfrentar situagdes de tensdio sem ficarem descontrolados ou aturdidos. Extroversio (E) ‘A extroversio, conforme é considerada nesta escala, traduz a quantidade © intensidade das interacgSes interpessoais, o nivel de actividade, a necessidade de estimulago e a capacidade de exprimir alegria. Assim sendo, os individuos extrovertidos sto sociveis, afirmativos, optimistas, amantes da diversdo, afectuosos, alegres conversadores. Gostam de pessoas, preferem os grupos grandes e as reunides, sto assertivos loquazes, apreciando a excitagdo ¢ a estimulagdo. Este 12 dominio correlaciona-se fortemente com o interesse em ocupagoes de iniciativa e de empreendimento. ‘As caracteristicas do introvertido so de apresentagio mais dificil. Em certos aspectos, a introversiio deve ser considerada mais como a auséneia de extroverstio do que 0 que poderia ser afirmado como o seu posto. Deste modo, os introvertidos so sobretudo sujeitos reservados, nfo tanto “inamistosos”; so sobretudo independentes, niio tanto seguidores; tém sobretudo um paso certo e no tanto lento. Os introvertidos podem dizer que sto timidos, quando 0 que querem dizer € que preferem estar 6s, ¢ nflo sofrem necessariamente de ansiedade social. Finalmente, embora néo sejam dados & animagiio exuberante dos extrovertidos néio so infelizes nem pessimistas (Lima, 1997, p. 183). Abertura 4 Experiéncia (O) Sendo a Abertura 4 Experiéncia a dimens4o menos conhecida e a mais controversa das cinco dimensdes, é também aquela que é considerada pelos autores deste instrumentocomoa de maior relevancia para o estudo da imaginagiio, da cognigio e da personalidade (Costa & McCrae, 1992). Globalmente, esta dimensio traduz.a procura proactiva, a apreciagio da experiéncia por si propria, a tolerdnciae a exploragio do nfio-familiar. (Corresponde & amplitude, profundidade permeabilidade da consciéncia e & necessidade continua de alargar ¢ examinar a experiéncia; curiosidade e experiéncia de um leque muito variado de emogées, positivas e negativas, grande diversidade de interesses, pouco tradicionais e convencionais). Os individuos abertos a experiéncia sfio curiosos, quer no que respeita ao mundo interior, quer a0 exterior, ¢ as suas vidas so mais ricas de vivéncias do que é comum. Tém inelinago para alimentar novas ideias e valores ndo convencionais ¢ vivem as emogdes positivas ou negativas de modo mais agudo do que os individuos fechados. Facilmente poem em causa a autoridade e optam por novas ideias sociais, politicas e/ou éticas. Os homens e mulheres com nota baixa nesta dimensio tendem a ter comportamentos convencionais e uma aparéncia exterior conservadora. Preferem o conhecido 20 novo fe as suas reacgdes emocionais so algo silenciosas. Tém uma esfera ¢ uma intensidade de interesses mais estreita e tendem a ser pouco artisticos ou analiticos. 13 Amabilidade (A) A Amabilidade é uma dimensio que diz respeito as tendéncias interpessoais, referindo-se & qualidade da orientago interpessoal, num continuo que vai da compaixio ao antagonismo, tanto nos pensamentos, como nos sentimentos ¢ acgées (Lima, 1997). ‘A pessoa amavel, a luz deste dominio, fundamentalmente altrufsta, de bons sentimentos, benevolente, digna de confianga, prestével, disposta a acreditar nos outros, recta e inclinada a perdoar; & também simpatica para com os outros e acredita que os outros sero igualmente simpéticos. Por oposigiio a estas caracteristicas, a pessoa hostil é egocéntrica, cinica, rude, desconfiada, pouco cooperativa, vingativa, irritével, manipuladora, céptica em relago as tendéncias dos outros ¢ mais competitiva do que cooperativa. Conscienciosidade (C) Este dominio pretende avaliar o grau de organizago, persisténcia e motivagao pelo comportamento orientado para um objective. Num dos extremos da escala encontram-se individuos dignos de confianga, escrupulosos, dotados de forga de vontade, determinados, enérgicos, pontuais e organizados; enquanto que no outro extremo estio reunidos os sujeitos preguigosos e descuidados. O NEO-PLR, baseado na tradictio psicométrica e na preocupagiio de avaliar as, diferengas individuais, representa um expoente de sofisticago e de abrangéncia na forma de medir as diferentes dimensdes da personalidade. Personalidade e Saiide A relag#o entre personalidade e saiide tem preocupado investigadores ao longo de varios séculos. Primeiramente, encadeamento destas duas variaveis foi abordado de um ponto de vista estritamente comportamental. Actualmente é alvo de uma aceitago generalizada, a nogio de que os factores da personalidade desempenham um papel preponderante nos processos de saitde. Uma das principais etapas histéricas sobre a relag&o personalidade-saiide é da responsabilidade de Alexandre e Dunbar (cit. por Krantz. & Hedges, 1987). Nas décadas de 40 e 50, ao anotarem semelhangas no perfil psicolégico de doentes que 14 softiam da mesma patologia organica, desenvolveram uma abordagem psicanalitica dos fenémenos psicossomiticos, reforgando o postulado de que a personalidade desempenha um papel fundamental na saide (Botelho, 2006). Importantes para a evolugiio deste campo de investigagiio foram de igual modo os trabalhos de Glass Stinger nos anos sessenta, sobre os efeitos do stress, bem como todos os estudos centrados nas personalidades Tipo A e Tipo B, evidenciando-se, desde entio, a contribuigdo dos processos da personalidade para a satide como uma grande Area de investigagao e teorizagio (Botelho, 1999). Do ponto de vista da importincia dos tragos da personalidade para a satide, Krantz e Hedges (1987) referem trés eixos essenciais em torno dos quais se tém desenvolvido a maioria dos estudos neste campo que sucintamente apresentamos: 1. Os tragos como factores etiolégicos da patofisiologia: Esta perspectiva, denominada “abordagem do trago etiolégico” sugere que os factores da personalidade desempenham um papel causal na ctiologia da patofisiologia, ao produzirem, por exemplo, alteragées fisioldgicas (neuro-endécrinas ¢ imunolégicas) que podem ser nocivas para a saiide. 2. Os tragos como estilos de coping: Numa segunda orientagio conceptual a respeito das influéncias psicol6gicas sobre a satide, os tragos podem funcionar como moderadoras do stress. Esta abordagem salienta que, mediante acontecimentos de vida stressantes, 0 repertorio de coping de um individuo pode contribuir nao s6 para a sua saide em geral como também para a sua resisténcia & doenga. 3. Os tragos como comportamentos de risco para a satide: Um terceiro eixo articula a relagiio entre a personalidade e a doenga e poderd ser designado por “comportamento de risco para a satide”. Em sintonia com a presente posigiio, os tragos néo se apresentam como factores causais para a doenga. Nesta perspectiva, os factores da personalidade revelam como sendo bons indicadores da probabilidade de determinado individuo evitar comportamentos de risco para a satide, ou entdo, face & doenga, de utilizar os recursos de satide ou procurar ajuda médica. De acordo com Lemos-Girdldez e Fidalgo-Aliste (1997), apesar de se conhecer uma relagdo entre tragos de personalidade, estilos de vida e saiide, os dois primeiros 15 poderiam estar ligados a segunda de diversas formas, promovendo assim diferentes modelos teéricos. Suls e Rittenhouse (1990) forneceram uma s{ntese de trés grandes caminhos pelos quais as disposig6es de personalidade poderiam estar associadas a um maior risco de doenga. Em primeiro lugar, 0 modelo da hiper-reactividade induzida pela personalidade sugere que certos individuos esto predispostos a responder aos factores de stress com reactividade fisiolégica exagerada, devido & tendéncia para avaliar as situagSes como mais stressantes que o adequado, ou, por comportamentos que resultam em respostas neuroendécrinas elevadas ¢, se estes mecanismos fisiolégicos directos forem elevados em intensidade e/ou frequéncia, poderiio vir a aumentar o risco de doenga. Em segundo, 0 modelo da predisposigdo constitucional contempla que, as disposig6es de personalidade associadas com 0 risco de doenga, podem simplesmente ser marcas de alguma debilidade fisica congénita ou anormalidade do sistema orginico, que aumenta a susceptibilidade a doenga e, nesta linha, o estilo de personalidade em si mesmo pode nfo ter qualquer efeito adverso na satide fisica. Este modelo, ao assumir uma origem constitucional das disposigdes de personalidade, que aumenta a susceptibilidade a agentes patogénicos externos ou a degeneragiio dos orgios, tem muitas semelhangas com a teoria de Eysenck (1967, cit por Lemos-Girdldez. & Fidalgo-Aliste, 1997) dos tragos de personalidade herdaveis (eg., N e E), alguns componentes do padrio de comportamento tipo A (Kranz & Durel, 1983, cit. por Lemos-Giréldez & Fidalgo-Aliste, 1997), ou a combinasio de tragos na afectividade negativa (Friedman & Booth-Kewley, 1987, cit por Lemos- Girdldez & FidalgoAliste, 1997). No entanto, para estes autores, 0 modelo nao explica suficientemente que mecanismos psicofisiolégicos especificos aumentam a vulnerabilidade a uma doenga particular e em que condigdes ambientais. Finalmente, 0 modelo da personalidade como preditor de comportamentos perigosos sugere que os tragos de personalidade conferem maior risco de doenga de forma indirecta, nomeadamente, por exporem o individuo a circunstincias inerentemente mais arriscadas, na medida em que, determinadas disposigbes de personalidade conduzem a escolha de situagdes que aumentam a reactividade, facilitam a selecgfio de comportamentos prejudiciais e/ou desencorajam os comportamentos preventivos de satide. A combinago dos hébitos prejudiciais a satide, mais do que a sua extensio, ¢ essencial no prentincio do risco de doenga e, no 16 que respeita aos acontecimentos de vida stressantes, estes nfo sto aleatérios, uma lidade de ocorréncia de ver que determinadas personalidades aumentam a probabi certos tipos de acontecimentos. A falta de preciso com que as questées relativas a personalidade e saiide tem vindo a ser estudadas é uma das grandes criticas feitas por Costa e McCrae (1987). Neste sentido, sdo os mesmos autores que defendem a ideia de que 0 Modelo dos Cinco Factores poderé fazer a diferenga, facultando a Psicologia da Satide uma taxonomia de grande utilidade para os investigadores, ao disponibilizar ferramentas configuradas sob a forma de instrumentos de medida e procedimentos de validagio. Esta ideia ¢ reforgada por Smith e Williams (1992) ao afirmarem que ainda que © Modelo dos Cinco Factores no venha curar todos os males da investigagaio em tomo da personalidade e saiide, permitiré pelo menos tratar algumas das suas doengas mais problematicas. Comportamento Alimentar Falamos de comportamento alimentar, nfo do ponto de vista nutricional, mas sim com a ideia de que este comportamento, entendido como um comportamento que assiste na satide e na doenca, é condicionado por tragos de personalidade. Quando reflectimos e escrevemos sobre comportamento alimentar, é inevitavel 0 encontro com a histéria das perturbagées do comportamento alimentar, 0 encontro com 0 percurso que a anorexia nervosa ¢ a bulimia nervosa fizeram ao longo da historia da religitio, da medicina e da psicologia. ‘As perturbagdes do comportamento alimentar caracterizam-se por uma preocupagiio mérbida com 0 peso ¢ imagem corporal, como principal fonte de auto- estima, conduzindo a um comportamento alimentar progressivamente ritualizado provocando graves distirbios somiticos que comprometem a satide e pdem em risco a propria vide. Sem que 0 objectivo do nosso estudo fosse encontrar casos clinicos numa amostra da comunidade, tomou-se obrigatéria a passagem pela compreensio destes comportamentos Ievados ao limite ¢ assumindo o cardcter formal de diagnésticos catalogados. 17 Epidemiologia Falar em prevaléncia ¢ falar no niimero total de casos, neste contexto, de perturbagdes do comportamento alimentar, presentes numa determinada populagio num dado momento. Os estudos de prevaléncia so realizados em amostras consideradas significativas. Em particular, na anorexia e da bulimia nervosa os indices de prevaléncia tém sido estudados especialmente em populages femininas que frequentam 0 ensino secundério ou universitério (Pope, 1984; Hoeck, 1991; Gotestam, 1995; Rooney, 1995) por se considerar que este é 0 universo onde & mais provavel o aparecimento de casos clinicos e de sindromes parciais e, por essa razo, ‘onde a amostra poderd ser mais pequena. Os estudos de prevaléncia nao incidem unicamente na populagdo normativa; Gotestam (1995) debrugarou-se sobre populagdes em tratamento psiquidtrico ¢ Garner (1980) apresenta uma investigagdo realizada numa populagdo de risco, bailarinas. Os resultados referentes & prevaléncia da anorexia e da bulimia nervosa variam, de estudo para estudo consoante as populagées em andlise e consoante os métodos de diagnéstico adoptados. Por exemplo, ao contrario da anorexia nervosa, cuja definigiio é mais antiga e consensual, a bulimia nervosa s6 & aceite como sindrome “formal” em 1979 (Rusell, 1979). $6 apés esta data, faz sentido considerar que os estudos epidemioldgicos realizados se referem todos 4 mesma sindrome, todos ao mesmo conjunto de sintomas, nomeados como critérios e, nfo a sintomas isolados; como a compulsdo alimentar ou vémitos auto-induzidos sem referéncia ou concordancia ios bulimicos. O famoso estudo de Halmi (1981) com quanto A frequéncia dos epi estudantes universit ias desenhou uma prevaléncia para a bulimia nervosa de 19%, no entanto, critérios de inclustio para o quadro clinico eram na altura discutiveis e os resultados foram auferidos sem critério de frequéncia. Actualmente, 0 DSM-IV-TR (APA, 2001) estima uma prevaléncia de 1% a 3% para a bulimia nervosa em mulheres no final da adolescéncia e jovens adultas. O mesmo manual DSM-IV-TR (APA, 2001) estima uma prevaléncia da anorexia nervosa de aproximadamente 0,5 % para mulheres no final da adolescénicia e jovens adultas. 18 Em relagiio & populaglio feminina das escolas secundétias, os resultados encontrados vio desde a constatagiio da inexisténcia de qualquer caso na amostra estudada por Azevedo e Ferreira (1992), até 2,1%, valor resultante do estudo de Pope A. (1984) em escolas secundérias dos E. ‘Ao contrério dos estudos de prevaléncia que so descritos com alguma regularidade, os estudos de incidéncia ocorrem em muito menor nimero. Hoek (2002) numa recente revisio da literatura anota como dados provaveis para a incidéncia da anorexia nervosa pelo menos 8 por 1 00 000/ano ¢ para a bulimia nervosa 13 por 1 00 000/ano. A taxa de incidéncia em mulheres dos 15 aos 24 anos, © grupo de maior risco, tem aumentado ao longo dos tltimos 50 anos. Investigagdes com populagées de risco — habitualmente estudantes do sexo feminino — estimam uma frequéncia de 10% para a bulimia nervosa e aproximadamente 1% para a anorexia nervosa. Apesar da extensissima literatura acerca das perturbagdes do comportamento alimentar, os dados epidemiolégicos em Portugal so escassos (Machado, 2005). O primeiro estudo publicado em Portugal foi realizado por Azevedo e Ferreira no inicio da década de 90 na Ilha de S. Miguel nos Agores (Azevedo, 1992). Participaram 580 homens e 654 mulheres estudantes dos 12 aos 20 anos. Os autores encontraram uma prevaléncia muito baixa (0,16%) de bulimia nervosa e nao registaram nenhum caso de anorexia nervosa. Tendo em considerando as sindromes parciais, os autores encontraram um valor de 0,76% nas raparigas e 0,17% nos rapazes. Um estudo realizado por Baptista, Sampaio, Carmo, Reis, Galvao-Teles (1996) procurou avaliar unicamente a prevaléncia da bulimia nervosa na populagiio feminina da Universidade Classica de Lisboa. Participaram 1542 estudantes seleccionadas de forma aleatéria a partir dos ficheiros de algumas faculdades desta universidade. 3% das jovens da amostra em estudo deram respostas que preencheram diagnéstico de bulimia nervosa e 13,2% referiam pelo menos dois episédios de ingestio compulsiva por semana, sem comportamentos compensatérios. Relativamente ao desejo de perder peso: 55,1% queria perder peso e destas, 45% tinha peso baixo. As flutuagdes de peso (mais que 4 kg num ano) eram referidas por 25% e, 12% mencionavam estar a fazer dieta (Baptista, Sampaio, Carmo, Reis, & Galviio-Teles, 1996). 19 Num outro estudo, Carmo, Reis, Varandas, Bouga, Padre-Santo, Neves et al. (1996) avaliaram 2,422 jovens do sexo feminino da area de Lisboa com idades compreendidas entre os 10 ¢ os 21 anos. Os resultados obtidos permitiram estimar uma prevaléncia de 0,4% para a anorexia nervosa e 12,6% para sindromes parciais, (Carmo et al., 1996). Mais recentemente, Carmo, Reis, Varandas, Bouga, Padre-Santo, Neves et al. (1999) levaram a cabo uma investigagtio com 2,398 alunas de 29 escolas secundérias dos distritos de Lisboa e Setibal a quem foi distribufdo um inquérito contendo perguntas relativas & satisfago e imagem corporal, aos hébitos alimentares a as eventuais perdas de peso ¢ amenorreia, de modo a atingir os seguintes objectivos: determinar a prevaléncia da anorexia nervosa; calcular 0 mimero de jovens com sindrome parcial; calcular 0 nimero das jovens com peso normal ou baixo que praticava restrigdo alimentar e o mimero de jovens que se sentiam insatisfeitas com 0 corpo. Os resultados revelaram uma prevaléncia de 0,4% para a anorexia nervosa e a sindrome parcial atingiu 12,6% da populagio com peso normal ou baixo. Independentemente do agrupamento por sintomas, verificou-se que 38% das jovens com peso normal ou baixo desejavam ser mais magras; 49% proferiam que tinham “uma parte do corpo gordo” ¢ 51,5% tinham “horror a aumentar de peso”. Verificou- se ainda que a idade com maior prevaléncia de desejo de perder peso € aos 19 anos e ade menor frequéncia aos 10 anos, (Carmo et al., 199). Pocinho (1999 cit por Machado, 2004) avaliou 549 estudantes do ensino secundario e superior (224 homens e 325 mulheres) com idades compreendidas entre os 12 € 0s 22 anos, da érea de Coimbra, Baseado nas respostas de auto-relato dos participantes do sexo feminino o autor estimou uma prevaléncia de 0.6% para a anorexia nervosa; 1,2% para a bulimia nervosa ¢ 19% para PCA sem outra especificagaio (SOE) ou sindroma parcial. Um estudo realizado no norte do pais a 486 estudantes universitérias (Machado, 2004) revelou que 25% da amostra apresentava um peso inferir ao normal. © desejo de perder peso exprimia-se em 70% das participantes, destas apenas 7% tinha um peso superior ao normal e 19% tinha um peso inferior a0 normal. Quando inquirida a presenga de possiveis casos de perturbago do comportamento alimentar, 29 participantes preenchem critérios de diagnéstico para 20 bulimia nervosa, 50 ingestao alimentar compulsiva e um caso parcial de anorexia nervosa, Apesar dos estudos referidos anteriormente manifestarem algumas limitagdes metodolégicas, nomeadamente, a auséncia de amostras representativas a nivel nacional ¢ entrevistas para confirmagao de diagnéstico, os dados parecem apontar para mimeros semelhantes aos de outros paises europeus (Carmo, 1999). Um crescente interesse por esta area est a florescer, acreditamos que pelo clevado mimero de sindromes parciais que se estiio a tornar legiveis. Casos que nfo sto contabilizados como anorexia nem bulimia nervosa, porque nfo preenchem todos os requisitos necessérios para assumir este rotulo, porque nao preenchem todos critérios de diagnéstico, mas suficientemente graves e disfuncionais para nos preocuparmos com eles, falamos das chamadas Perturbagdes do Comportamento Alimentar ~ Sem Outra Especificagdo (PCA-SOE) (APA, 2002). No ano transacto, foram apresentados os dados preliminares de um estudo ‘europeu multicéntrico, coordenado em Portugal por Machado (2005). Este assume o titulo de “1° estudo epidemiolégico nacional sobre PCA”. © objectivo que se colocou foi, no s6 0 de encontrar a prevaléncia da anorexia ¢ da bulimia nervosa, tal como definidas pelos critérios de diagnéstico (APA, 2002), mas também outras PCA, as PCA - SOE, uma vez que os estudos anteriores apontam para uma grande prevaléncia deste tipo de perturbagdo na populagio. Neste sentido, foi estudada uma amostra de 2028 mulheres entre os 14 € os 20 anos de idade, Analisados os resultados, obtidos através da aplicagéo do “Eating Disorders Examination Questionaire” ¢ da realizagdo de uma entrevista estruturada, foi encontrada uma prevaléncia de 0,3% para a bulimia nervosa e 0,39% para a anorexia nervosa. O valor de prevaléncia encontrado para a Anorexia corresponde ao valor encontrado por Carmo et al. (1996). No entanto, ¢ este talvez seja o dado mais importante deste estudo a nivel nacional, é 0 facto das PCA-SOE comporem a maioria dos casos identificados, correspondendo a 80% da prevaléncia da populagdo. Este resultado assume um valor inferior (50%), apenas quando se identificam casos em que esto presentes todos os ctitérios de diagnéstico do DSM-IV-TR & excepgao da amenorreia, para a anorexia nervosa, ou a frequéncia de comportamentos de ingestiio compulsiva e mecanismos 21 compensatérios, para bulimia nervosa, provocando esta manipulagdo dos critérios um consequente aumento da prevaléncia destas PCA (Machado, 2005). No seu conjunto, os estudos de prevaléncia realizados em Portugal, onde a prevaléncia da anorexia nervosa € baixa, mostram que est generalizado o ideal da magreza ¢ as alterag6es do comportamento que levam a uma perturbagaio da imagem corporal ¢ pritica de dieta. A grande percentagem de jovens que tendo um peso normal ou baixo, referem ter “partes gordas no corpo”, sugere que 0 nosso pafs se encontra sob a influéncia dos padrdes culturais dos paises mais industrializados (Carmo, 1999). Clinica das Perturbacdes do Comportamento Alimentar A historia da Anorexia Nervosa comega na Europa Medieval com os casos da Anorexia Mistica, sendo Paradigmatico o de Santa Catarina de Siena, cuja motivagaio teré sido religiosa, entendendo na época os comportamentos como rituais de sacrificio ¢ de purificagio (Vandereycken, 1996) e ndo como ideais de magreza que surge nas situag6es clinicas actuais, no entanto, os sintomas ndo sofreram grandes alteragdes. Fasting Girls: Their Physiollogy and Pathology, uma obra da autoria de William Hamond publicada em 1879 em Nova York, (cit por Strober, 1986) descreve varios casos de jovens que, por razdes religiosas, tinham feito jejuns prolongados, “néio comendo nada” ou “quase nada”, mantendo-se apesar disso, com capacidade de sobrevivéncia. A primeira descrig&io de cardcter cientifico de Anorexia Nervosa é feita por Morton em 1694 num tratado de Tisiologia. Descreve um “estado de atrofia nervosa” com falta de apetite, aversio & comida, emagrecimento, hiperactividade amenorreia, tecendo consideragdes sobre a etiologia e consequéncias da doenga, que antecipam a actual perspectiva psicossomatica (Strober, 1986). Considera-se no entanto, que a identificagao da sindrome Anorexia Nervosa, designada como tal, surge simultaneamente com o francés Charles Laségue ¢ 0 britanico William Gull nos finais do século XIX, tendo prevalecido a designagio Anorexia Nervosa da autoria de Gull versus a designagao Anorexia Histérica, como a designou Laségue, (Carmo, 1999). 22 Elisio de Moura (1947), pioneiro dos escritos sobre Anorexia Mental, titulo do primeiro livro sobre esta doenga no nosso pais, coloca a questo de no haver uma verdadeira Anorexia, j4 que as doentes nao tinham falta de apetite, mas sim vontade de n&io comer (Moura, 1947). © enquadramento sécio-cultural, as motivagées, os caminhos, séo bem diferentes para a anorexia mistica medieval e para a anorexia nervosa, mas 0 estado fisico e psicoldgico a que chegaram umas e a que chegam outras tem muito de comum, pelo que poderemos compreender a antiga anorexia através do conhecimento da moderna anorexia (Sampaio, 1999). Actualmente, a anorexia nervosa é caracterizada por uma restri¢&o alimentar progressiva e severa que pode levar & desnutrigdo, com a ideia persistente de ter que continuar a perder peso para néo engordar. Desta perda abrupta de massa muscular resultam complicagdes que conduzem a uma significante morbidez bioldgica, psicolégica e social e por vezes & propria morte. ‘De acordo com a classificagaéo da APA (2001), os crit anorexia nervosa sio: a) recusa em manter 0 peso corporal igual ou acima do norma jos de diagnéstico para para a idade e para a altura, o que deve ser entendido como perda de 15% de peso em relagaio ao esperado ou fracasso no ganho ponderal justificado para o periodo de crescimento; b) medo intenso de aumentar de peso ou ficar gordo/a, mesmo quando muito emagrecido/a; ¢) perturbagio na apreciagdo do peso e forma corporal, indevida influéncia destes na auto-avaliagio ou negagfo da gravidade do baixo peso actual e d) nas mulheres, amenorreia durante pelo menos trés meses consecutivos. Segundo 0 mesmo manual de classificagio devemos considerar dois subtipos de Anorexia nervosa: a restritiva, caracterizada por dieta rigorosa e recusa em manter um peso normal; e 0 sub tipo ingestéo compulsiva/purgativo onde predominam os episédios bulimicos e os comportamentos desadequados ou excessivos para evitar 0 aumento de peso. Por outro lado, a bulimia nervosa como entidade nosolégica independente tem uma historia mais recente. A palavra bulimia deriva do termo grego bous que significa boi ¢ limos que significa fome, que usados conjuntamente delineavam 0 significado de bulimia: uma fome de boi (Gamer, 1997). Assumindo uma dupla conotagiio: ter apetite de um boi e uma capacidade de consumir como um boi. 23 No final dos anos cinquenta e durante os anos sessenta alguns casos clinicos publicados chamaram a atengéio para certas formas de anorexia nervosa, nas quais se detectavam crises de ingestéio compulsiva de alimentos. Em 1979, esta sindrome surge como entidade auténoma num artigo de Russell, onde so descritos de forma sistematica trinta casos clinicos que observard entre 1972 € 1978, tendo sido a partir desta data que a sindrome ganhou autonomia (Garner, 1997). Na Bulimia Nervosa o peso pode sofrer ligeiras oscilagdes mas, de modo geral, mantem-se no valor normal para a idade e altura sendo que, normalmente, os comportamentos purgativos e/ou compensatérios apés uma ingestio alimentar excessiva se iniciam apés uma dieta para perder peso. Os critérios de diagnéstico do DSM (APA, 2001) para a bulimia s&o: a) episédios recorrentes de voracidade alimentar; b) comportamento compensatério inapropriado recorrente para impedir o ganho ponderal; c) os episédios de voracidade alimentar os comportamentos inapropriados ocorrem, em média, duas vezes por semana durante trés meses; d) a auto-avaliagdio esta exageradamente influenciada pelo peso e formas corporais e, e) a perturbagaio nao surge exclusivamente no curso de um quadro de Anorexia Nervosa. ‘Nesta classificag&o existe a bulimia subtipo purgativo, onde a doente recorre a vémitos, laxantes e diuréticos e 0 subtipo nao purgativo, onde os comportamentos compensatérios se restringem a pritica de jejum ou exercicio fisico excessivo. Uma nova entidade nosol6gica € tido em consideragdo, a chamada sindrome parcial, situago sub-clinica ou ainda Perturbagiio do Comportamento Alimentar sem outra especificagio (PCA-SOE) que acolhe actualmente uma atengao especial pelo crescente mimero de casos. 0 individuo preenche todos os critérios para a anorexia nervosa, except amenorreia; e/ou, excepto o facto do peso actual se encontrar dentro da mé mesmo havendo perda significativa de peso; comportamentos de control do peso apés ingestio de pequenas quantidades de comida; ou ingestao alimentar compulsiva “binge-eating disorder” na auséncia de comportamentos _compensatérios inapropriados (Beaumont, 1995). Dois factores parecem contribuir para este aumento: Um decorre do facto dos critérios de diagnéstico terem variado ao longo do tempo. Detectavam-se casos clinicos que eram considerados como niio preenchendo todos os critérios, mas que 4 actualmente preenchem. Assim, a fronteira entre as formas clinicas bem definidas ¢ as menos definidas é apenas a convencionada. Outro tipo de factores, diz respeito aos habitos culturais; alguns autores consideram que ha um continuum entre o ideal da magreza, a pritica da dieta e a sindrome da anorexia nervosa preenchendo todos os ctitérios de diagnéstico (Nylander, 1971). Etiologia ‘As perturbagées do comportamento alimentar so determinadas por um complexo conjunto de factores que culminam num determinado momento permitindo © eclodir do quadro clinico. Garner (1997) ¢ Moreno (2004) salientam a ideia de que se mantém em aberto a definig&o de uma etiologia multifactorial inica, 0 que nos leva a considerar que as perturbagdes do comportamento alimentar ou sindromas parciais devem ser entendidas de um ponto de vista biopsicossocial. No momento actual da investigagio etioldgica destas sindromes podemos considerar os factores bioldgicos (genéticos e neuroendoctinos), os factores psicologicos, os familiares e os factores sécio-culturais como principais intervenientes. © modelo etiopatogénico mais consensual € 0 modelo biopsicossocial, permite explicar a génese e a manutengo das perturbagdes do comportamento alimentar € apresenta vantagens do ponto de vista terapéutico © preventivo, Este modelo considera que as PCA sio uma consequéncia da interacgio de factores individuais (biologicos ¢ psicolégicos) junto com outros de tipo familiar e s6cio-cultural. Esta integragio multifactorial como modelo etiopatogénico permite-nos distinguir na génese ¢ na manutengio da Anorexia e da Bulimia Nervosa a acgéio conjunta dos diferentes factores sob a forma de predisponentes, precipitantes © factores de manutengao. Factores Genéticos Os factores genéticos enquadram-se no grupo dos factores predisponentes, tal como os tragos de personalidade ou mesmo o indice de massa corporal ¢ a distribuigdo de gordura corporal ao longo das fases do desenvolvimento, 0 chamado set point. 25 ‘A anorexia nervosa est associada a determinantes genéticos de varia ordem, assistindo-se a um aumento da vulnerabilidade nos familiares préximos dos doentes. Familiares do 1.° grau dos doentes com anorexia e bulimia nervosa apresentam um risco de contrair a doenga 6 a 10 vezes maior do que a populagio geral. Bulik (1998) numa investigagdo sobre a etiopatogénese da anorexia e bulimia nervosa, evidencia a componente familiar e hereditéria da extrema ansiedade relativa ao peso ¢ forma corporais ¢ tragos de personalidade com agregagfo familiar, tais como evitamento, perfeccionismo e rigidez para a anorexia nervosa e impulsividade, instabilidade emocional e depressividade para a bulimia nervosa. Treasure (1995), refere que no caso da anorexia nervosa a investigagio realga valores de concordancia mais elevados em gémeos monozigéticos do mesmo sexo, do que em gémeos dizigéticos ou na populagdo geral. Quando a analise se fixa nos gémeos monozigéticos, 0 gémeo que adoece com anorexia nervosa mostrou ter uma maior incidéncia de acontecimentos vitais antes do comego da doenga. Holland et al. publicaram em 1988 um estudo que confirmou dados anteriormente divulgados noutros trabalhos sobre a hereditariedade na anorexia nervosa. Nesta investigagao, 45 pares de gémeos (25 monozigéticos e 20 dizigéticos) forma estudados, tendo sido obtida uma concordancia de 56% e 5%, respectivamente para os gémeos monozigéticos e dizigéticos. Os estudos mais recentes referem que a anorexia e bulimia nervosa tém uma forte componente familiar. Parecem existir elevadas taxas de patologia alimentar entre os familiares mais préximos, bem como incidéncia elevada de doencas do humor, abuso de substincias ¢ perturbagiio da personalidade e ansiedade nesses elementos. A hereditariedade para tragos de personalidade familiar tais como evitamento, obsessionalidade ¢ contengio emocional pode ser um factor para o desenvolvimento de anorexia nervosa e; instabilidade emocional e impulsividade para a bulimia nervosa. Em 121 familiares do 1.° grau do sexo feminino, (APA, 2001) (4,9%) obtiveram um diagnéstico de anorexia nervosa. Estudos posteriores forneceram dados semelhantes, no momento actual parece mais prudente afirmar-se que a patogénese da anorexia nervosa inclui factores hereditirios, cuja natureza no esté completamente esclarecida. Num estudo recente de prevaléncia da anorexia e bulimia nervosa em familiares de doentes era de 5,1 ¢ 4,3% respectivamente (Woodside, 1998). ‘A susceptibilidade para o desenvolvimento de comportamentos ou atitudes caracteristicas das PCA poderia explicar-se por uma combinagio de factores genéticos e ambientais com um fenotipo latente tinico para tais perturbagdes que iria supor uma elevada hereditariedade, até cerca dos 60% (Wade, 1999). Lilenfeld (1997) levou a cabo um estudo com familiares de doentes com bulimia nervosa e verificou uma maior taxa de abuso de substdncia ¢ alcoolismo nos familiares de bulimicos do que na populagao normativa. No mesmo sentido, Vitousek e Manke (1994) numa reviséio da literatura, encontraram estudos de familias e gémeos relacionados com as PCA que sugerem que existe uma propensdo genética para o desenvolvimento da anorexia nervosa e da bulimia nervosa. Diversos investigagées permitem comprovar que mulheres familiares de doentes com PCA tém um risco muito superior de desenvolver perturbagdes deste tipo do que a populagao geral, tanto no caso da anorexia nervosa (e.g. Strober, 1990) como na bulimia nervosa (Bulik, 1998). Especificamente, nos dois subtipos de anorexia nervosa parecem existir diferengas nalguns tragos de personalidade dos pais, como: hostilidade, impulsividade e descontrolo nos pais de anorécticos bulimicos (Strober et al., 1982) e; reserva, conscienciosidade ¢ orientagéio para a realizagfio nos pais dos anorécticos restritivos (Garfinkel et al., 1983). F grande a quantidade de informagao e de estudos cientificos que procuram delinear conclusées, caracterizar os familiares ¢ o que é transmitido. No entanto, a maior parte dos investigadores na area da genética duvidam que existam genes para a inanigdo voluntaria ou para a ingestdo compulsiva, especulando que os factores herdados podem incluir varidveis da personalidade (tais como evitar a dor na AN e instabilidade emocional na BN), a susceptibilidade a distirbios afectivos owa obesidade na familia. Continua por esclarecer o que é herdado. Factores Neuroendécrinos Tém sido descritas alteragdes na actividade ou concentragao de determinados neurotransmissores, tais como a serotonina e a noradrenalina, que teriam uma repercussao directa sobre o comportamento alimentar. 27 Russell (1979) sugeriu que a patogenia da Anorexia poderia estar relacionada com uma alteragio da fungi hipotalamica. O aumento da activadade da serotonima no hipotélamo poderia explicar alguns tragos desta doenga, sobretudo os tragos obsessivos e a inibigio psicossexual, embora ainda nao seja claro se muitas destas alterag6es sao primérias ou secundarias A perda de peso. O que parece indiscutivel ¢ que 0 aumento da fungéo da serotonina conduz & redugo da ingestfio. O aumento da actividade serotoninérgica pode tomar os individuos mais vulnerdveis a desenvolver uma doenga do comportamento alimentar com pensamento obsessivo e perseverante associado a distorgSes cognitivas sobre as consequéncias de uma alimentag&o nao controlada e ganho de peso. Os valores de 5-HIAA (metabolito da serotonina) no liquido cefalorraquidiano que estiio baixos nos doentes anorécticos de baixo peso, normalizam-se ¢ inclusive aparecer elevados durante muito tempo em pessoas que recuperaram totalmente, melhorando depois da normalizagiio do peso, 0 que nos leva a especular que uma perturbagéo pré-morbida da fungaio serotoninérgica poderia constituir-se_ um importante factor de risco na génese da AN. Kaye (1997) encontrou niveis persistentemente elevados de 5-HIAA no liquido cefalorraquidiano de individuos apés longo periodo de recuperagao de AN e BN que podem reflectir um aumento de actividade do sistema serotoninérgico, associado a comportamentos rigidos e inibigaio do apetite. Moreno (2003) conclui que parece existir nestes doentes um deficit na actividade noradrenérgica hipotalémica, o que corresponderia a uma predisposi¢&o para diminuir a ingestio de comida; ou uma alteragiio nas concentragdes de serotonina, implicada na mediagiio de respostas de saciedade durante a ingesto, com uma acedio de inibigdo do apetite. Factores Psicolégicos Quando o olhar se ditige para os factores psicolégicos, estudos sobre a personalidade invadem artigos em revistas cientificas ¢ nos famosos Handbooks of Eating Disorders. Tradicionalmente tém-se identificado tragos tipicos na personalidade dos doentes com PCA ¢ PCA-SOE. 28 Vitousek e Manke (1994) numa reviséo da literatura, concluem que todos os modelos explicativos das perturbagdes do comportamento alimentar implicam variéveis da personalidade que emergem de preocupagdes com o peso e do desenvolvimento de sintomas especificos tais como a ingestio compulsiva e métodos purgativos. Em conformidade com o objectivo deste estudo iremos abordar detalhadamente, mais adiante, os tragos de personalidade ¢ a sua relago com 0 comportamento alimentar. Acontecimentos de Vida Traumdticos A vulnerabilidade ao stress € uma caracteristica das PCA, cujo inicio é normalmente precedido por um acontecimento de visa stressante (Schmidt, et al., 1997) com disrupgiio das relagSes com a familia ¢ amigos. Ainda que o significado dos acontecimentos desencadeantes seja varidvel, em 1/5 dos doentes com anorexia nervosa ha um acontecimento traumético ligado & sexualidade e na bulimia nervosa hé habitualmente histéria de factores de stress no desenvolvimento. Tendo em linha de conta que o stress pode apenas ser relevante quando interfere com as estratégias de coping, este poderi provocar uma desadaptagio crénica que favorece alterag6es tanto no sistema fisiologico como no psiquico. Factores Familiares Varios autores, como Minuchin e Selvini chamaram A atenglo para o funcionamento tipico das familias onde eclodiam sintomas de Perturbagdes do Comportamento Alimentar. ‘As familias caracterizam-se por serem conflituosas, desorganizadas, criticas, pouco eoesas e com incapacidade para estabelecer relagdes de ajuda miitua. Nos familiares de doentes com bulimia nervosa observou-se uma maior incidéncia de hébitos dietéticos, obesidade e mAes com alteragbes da percepgao da sua imagem corporal e com insatisfagdo familiar. De acordo com o modelo sistémico, a doente anoréctica, a filha anoréctica assume a fungdo de sintoma. Sintoma de uma familia doente no seu conjunto, que exige um tratamento global e familiar (Selvini, 1978, 1999). 29 Minuchin (1978) escreve que a maioria das descrig6es teéricas convergem no sentido de considerar que a anorexia nervosa se faz acompanhar de padrdes transaccionais familiares disfuncionais. © modelo da familia psicossomitica conceptualizado por Minuchin (1978) idéntica e descreve varios padrdes de interacgto disfuncional: aglutinagdo, onde as relagdes so caracterizadas por uma grande proximidade e intensidade na interacgo entre os elementos da familia, o individuo perde-se no sistema familiar, existe uma intrusio no pensamento ¢ nos sentimentos dos outros, resultando numa diferenciagio pobre da percepedo de cada um e de si mesmo; superproteceao, os pais preocupam- se muito com o comportamento dos filhos e estes por sua vez tomam-se excessivamente conscientes de si e das expectativas dos outros, dificultando o desenvolvimento da autonomia, competéncia e interesse ou actividades fora do circulo familiar; rigidez, os elementos da familia tém uma enorme dificuldade em se confrontarem com periodos de mudanga ou crescimento, negam a necessidade de mudanga na familia e so vulnerdveis a acontecimentos exteriores; e evitamento do conflito, aparentemente uma familia sem problemas, nem atritos (Minuchin, 1978). As diferentes posigdes teéricas empiricas, que estabelecem uma ligagdio entre perturbagées na vinculago e anorexia nervosa, evidenciam as dificuldades da anoréctica em autonomizar-se das figuras parentais, ressaltando o fracasso na consolidagiio de uma identidade propria e separada dessas figuras (Bruch, 1979; O’Keamey, 1996; Ward et al., 2000). Bruch (1978) refere mesmo que um dos maiores enigmas da anorexia nervosa é precisamente 0 de saber como ¢ que as familias com aparente sucesso e bom fancionamento transmitem aos filhos um precdrio sentimento de auto-estima. ‘Na bulimia nervosa os estudos a este respeito ndo so téo conclusivos. sistema familiar € um dos factores fundamentais a ter consideragdo, ainda que a causalidade nfo seja clara, nem definitiva, para nenhum interveniente deste complexo proceso. © sistema familiar pode manter, mediatizar ou complicar a evolugiio da doenga. As PCA na familia so sempre um problema de grupo, um sintoma da familia que uma jovem transporta. E com base nesta ideia que se desenham as propostas terapéuticas do modelo sistémico, um modelo comprovadamente eficaz no tratamento destas doengas. 30 Factores Sécio-culturais Os factores io-culturais dio um contributo importante para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos disfuncionais face ao corpo ¢ a alimentago, principalmente no mundo ocidental, onde a sobreabundancia de alimentos se identifica com 0 bem-estar social e a magreza é considerada sinénimo de atracgiio fisica. Entre os determinantes do comportamento alimentar reconhece-se, a elevada pressio cultural para a magreza e a necessidade de evitar a obesidade, particularmente na cultura ocidental que podem contribuir para o aumento da preocupagiio com o peso, a imagem corporal e, consequentemente, levar a restrigio da ingestfo ou seguimento de dietas. Alias, o desejo de perder peso, ou manter um peso relativamente baixo, através de dieta, estende-se aos que tém peso normal ou mesmo abaixo do normal, nomeadamente mulheres jovens. (Baptista Sampaio, Carmo, Reis & Galvao-Teles, 1996; Carmo, 1997). Nao € possivel ignorar o papel da press cultural na patogénese destas sindromes ou unicamente na vivéncia de comportamentos desadequados perante a forma, imagem corporal ¢ a alimentago. A sociedade valoriza o controlo, a forma corporal ¢ faculta todos os meios de para atingir os ideais de beleza agora padronizados. No entanto, e apesar da generalizagao do recurso a dietas para perder peso no é possivel atribuir-thes um papel determinante ¢ causal, uma vez que a anorexia nervosa atinge apenas 0,3% a 0,7% da populacdo e a bulimia nervosa 1,5% a 2,5% (Hoek, 1995). A Personalidade Como Factor de Risco Como ja tivemos oportunidade de salientar, os tragos de personalidade ocupam um lugar importante na origem das doengas do comportamento alimentar. O objectivo geral das investigacSes neste ambito é, a partir do estudo da personalidade detectar determinadas caracteristicas que possam interferir no desenvolvimento destas sindromas, tornando algumas jovens vulnerdveis ao seu desenvolvimento. Investigagdes actuais consideram os tragos de personalidade de acordo com a sua intensidade e forma de expresso como factores importantes que influenciam 0 31 comportamento alimentar, desempenhando um papel importante na origem, evolugio, prognéstico ¢ tratamento do decurso da anorexia, bulimia nervosa sindromas parciais. A anorexia nervosa € sem diivida a sindrome mais estuda, tendo sido através da lente psicanalitica que durante anos conhecemos esta doenga ¢ a sua relagio com questdes sexuais reprimidas. Em 1973, Bruch introduzia 0 conceito de limite da personalidade e autonomia na etiologia da AN, contribuindo grandemente para a compreenstio desta perturbagao. Halmi (1977) escreve que séio individuos com tendéncia ao perfeccionismo, 4 obediéneia ¢ a submissao, mas com atitudes competitivas ¢ uma busca de ideais elevados. Associam sentimentos de incapacidade para enfrentar as exigéncias da vida, de sacrificio ¢ uma enorme laboriosidade, com tendéncia ao isolamento, & labilidade emocional e irritagao. Johnson e Connors (1987) uma década depois sublinham como caracteristicas mais importantes nas doentes com anorexia nervosa: a baixa auto-estima, as alteragées da imagem corporal, os receios da separagio ¢ individualizacao, o humor deprimido, as distorgées cognitivas ¢ uma clara tendéncia ao perfeccionismo, obediéncia, submisstio e desconfianga. Em linhas gerais, as doentes com anorexia de tipo restritivo so reservadas, inibidas, retraidas, pensativas, serias e com tendéncia para a obsessio. No subtipo bulimico stio mais extrovertidas, simpaticas, emocionalmente lébeis ¢ impulsivas ¢ ‘com comportamentos mais desorganizados. Strober (1991) atribuiu primazia ao temperamento como factor de risco para as PCA, bascou-se no modelo psicobiolégico de Cloninger (1987). Este modelo relaciona cada uma das dimensées da personalidade com um sistema cerebral particular, onde a partilha desequilibrada destas dimensdes assumiria o determinante da perturbagfo da personalidade. Estas dimenstes so, de acordo como 0 modelo de Cloninger, o resultado de factores genéticos, constitucionais e de aprendizagem. Assim, em conformidade este modelo, os doentes com anorexia tipo restritivo caracterizavam-se por evitar 0 risco, baixa busca de novidade ¢ dependéncia de reforgo. A configuragio deste temperamento daria lugar a comportamentos met6dicos, repetitivos, restrigaio das emogoes, baixa adaptagdio a mudangas, rigidez, dependéncia dos outros ¢ elevada sensibilidade diante da aprovago ou negagiio dos outros. Sempre se atribuiu aos doentes com anorexia nervosa determinadas alteragdes da personalidade, de tal forma que se chegou mesmo a falar numa “personalidade anoréctica”, Sto conhecidos alguns tragos de personalidade como _ingredientes preponderantes no desenvolvimento quer da anorexia quer da bulimia nervosa. Estes esto relacionados com a imagem corporal e magreza, evitamento da dor, disforia, obsessées sobre simetria ou exactidao e perfeccionismo, podendo persistir mesmo apés a recuperago do distirbio (Diaz-Marsa, 2000). Muitos profissionais e tedricos tém tentado definir quais as variéveis de personalidade que influenciam o desenvolvimento e manutengdo das perturbagées do comportamento alimentar. Tem sido algumas as variéveis identificadas, incluindo a introverstio, necessidade de aprovagiio, desconfianga, e o perfeccionismo. Diferentes tragos pré-morbidos parecem justificar o direccionamento de individuos semelhantemente preocupados com o peso para a anorexia ou bulimia nervosa, 0 que tem justificado muito do interesse contempordneo pelas varidveis da personalidade. No entanto, a complexidade nfo se fica por aqui, uma vez que, os factores de personalidade variam significativamente também nos dois subtipos de anorexia nervosa, (Halmi, 1992; Vitousek & Manke, 1994) e de bulimia nervosa (embora aqui exista um hiato nas investigagdes). A populago com PCA foi subdividida em sujeitos com peso baixo que reduzem somente através da dieta e do exercicio (anorécticos restritivos), sujeitos com peso baixo que também aderem ao comportamento ingestZio compulsiva e recorrem a0 vémito (anorécticos bulimicos) e, sujeitos com um peso normal ou superior que manifestam comportamentos de ingestiio compulsiva e purga ou outros comportamentos compensatério, como 0 exercicio fisico exagerado ou o jejum, falamos da bulimia nervosa subtipo purgativo e niio purgativo. Os contrastes mais consistentes figuram entre os sujeitos que praticam e no praticam comportamentos purgativos, tendo ou no conseguido um estado de peso baixo; todavia, os investigadores tém chamado a atengdo para o facto de uma 33 consideravel heterogeneidade continuar presente dentro ¢ transversalmente nos subgrupos com PCA, divididos por comportamentos purgativos ou estado do peso. Quando 0 objectivo ¢ descrever os tragos ou caracteristicas da personalidade, que poderio predispor um individuo do sexo feminino a experienciar sintomas que encaixam nalguma das perturbagdes do comportamento alimentar, cada vez mais temos a certeza, de que seria extremamente simplista ¢ redutor entender as PCA com uma tinica e singular natureza. Embora existem caracteristicas de personalidade partilhadas pela velha entidade nosolégica, a anorexia nervosa e pela bulimia nervosa, existem tragos & perfis que as distanciam. E muito dificil detectar uma perturbagéio pura, porque os quadros clinicos ¢ os diferentes subtipos se confundem e porque nfo raramente se apresentam de forma simultanea. Contudo, é possivel obter dados convincentes ao relacionar as doengas do comportamento alimentar com determinadas caracteristicas de temperamento ¢ de cardcter que moldam a personalidade e que aparentemente determinam a evolugaio da perturbagio. Anorexia Nervosa Estudos iniciais que nio distinguiram doentes com anorexia nervosa nos diferentes subtipos, restritivos ¢ bulfmicos, apresentaram um grupo razoavelmente consistente de tragos relacionados com 0 neuroticismo (DaCosta & Halmi, 1992). Tem sido demonstrado com consisténcia assinalével, que em particular a anorexia tipo restritivo é caracterizada por um conjunto tragos especificos. Estudos clinicos ¢ familiares coincidem na observagio das seguintes caracteristicas comuns de comportamento pré-mérbido em doentes com anorexia nervosa tipo restritivo: obsessio, rigidez, perfeccionismo, dependéncia e tendéncia a0 evitamento social (Sohlberg & Strober, 1994), inflexibilidade necessidade de controlo rigido (Strober & Salkin, 1982), repressiio emocional, evitamento da novidade, anxious worry, dividas relativamente a si proprio, ansiedade relacionada com 0 peso e a forma corporal, conformidade, submissio, controlo exagerado e perseveranga mesmo sem recompensa (Beumont, George, & Smart, 1976; Bruch, 1978; Halmi et al., 2000; Lilenfeld, Kaye, & Strober, 1997; Pryor & Wiederman, 1996; Strober, 1980, 1995). 34 No final da década de setenta do século passado, Hilde Bruch na st emblemitica obra The enigma of anorexia nervosa (Bruch, 1978) chamou a atengo dos investigadores em relagio ao facto destes fazerem generalizagdes quando se referem etiologia da anorexia nervosa através de informago obtida durante o episédio grave, quando esté presente a semi-inadigio, sabendo que esta exerce a sua propria influéncia na psicopatologia e nas relagdes familiares. A futura avaliagio integral das populagdes de alto risco, deveria permitir aos investigadores examinar a personalidade, 0 comportamento e os processos familiares, sem os confundir com a propria doenga. A maioria dos individuos dos dois subtipos so caracterizados como perfeccionistas, timidos e submissos (Strober, 1981). No entanto, individuos que encaixam no subtipo bulimico adicionam a esta base comum de caracteristicas uma disposig&o social expansiva (Casper, 1980), aspectos histriénicos (Beumont et al., 1976) e indicadores que sugerem instabilidade afectiva (Strober, 1981). O perfil mais consistente tem emergido no caso da anorexia nervosa restritiva. Descobertas empiricas adicionaram detalhes ao retrato classico esbogado ha muito tempo atrés por observadores elinicos astutos, sem se alterar as suas linhas base. Arriscariamos mesmo a dizer, ou melhor, a escrever, que grande parte dos clinicos contemporéneos concordaria com a descrig&i0 de DuBois (1949) dos tragos evidentes naqueles que embarcam na inanigSo auto induzida: “A jovem mulher afectada com anorexia nervosa tem determinadas qualidades de personalidade que a distinguem. Ela é uma pessoa tensa, hiperactiva, alerta e rigida. Geralmente anda, fala © pensa rapidamente. £ excessivamente ambiciosa, muito exigente consigo propria, marcadamente sensfvel e obviamente sente-se insegura, Uma consciéncia severa e imatura guia as suas acces ¢ diz-se que é hiperconscienciosa. A sua preocupagio com a arrumagio, a meticulosidade ¢ uma teimosia obstinada nada maledvel a tolerdncia fazem-na entrar na categoria dos perfeccionistas. Geralmente introvertida, séria, com forga de vontade, e com falta de espontaneidade e de calor, 0 que é visivel no seu olhar” (p. 109). De todas as formas de psicopatologia, a anorexia nervosa restritiva pode representar um dos mais fortes casos para associagiio causal entre tragos de personalidade e um especifico distirbio comportamental 35 Os anorécticos restritivos, ou cldssicos, mostram rigidez e constrangimento, enquanto os bulimicos manifestam modelos de consumo erriticos nos quais a restrigo ea desinibigo se alternam, sugerindo alguma combinagio de caracteristicas de compulsividade, impulsividade e instabilidade afectiva subjacentes. Em varios relatos tebricos sobre a bulimia nervosa, o ciclo de ingestio compulsiva- purga, também tem alegadamente uma base funcional no contexto destas varidveis de tragos, ao proporcionar um meio para aleangar a regulag%o (Johnson, Lewis, & Hagman, 1984) e facilitando a supresstio temporaria da dolorosa auto-consciéncia (Baumeister, 1991). Bulimia Nervosa Ligada anorexia nervosa pela partilha do seu cee psicopatolégico de preocupaciio extrema com 0 peso e a forma, a bulimia nervosa envolve a expressfio de alguns comportamentos que tém sido atribuidos a tragos aparentemente opostos da anorexia nervosa. A bulimia nervosa apresenta uma menor consisténcia, principalmente, quando em comparagio com a sintomatologia da anorexia nervosa subtipo restritivo. Dentro destes tragos incluem-se: procura de emogo e excitag’o, instabilidade e impulsividade afectiva ¢ uma tendéncia para a disforia em resposta a rejeigfo ou a no recompensa (Vitousek & Manke, 1994). Estas caracteristicas podem proteger os individuos contra restrigées impostas por dietas prolongadas, no entanto, torna-os mais vulnerdveis a perdas de controlo periédicas e a eventuais dietas caéticas. Strober (1991) assinala também tragos de personalidade predisponentes para doentes bulimicos, como a busca de emogées, excitabilidade, falta de persisténcia, tendéncia para a disforia perante situagdes de recusa, rejeigiio ou de falta de gratificago e preocupagio com o peso e imagem corporal. Kasset (1989) faz a distingdo, diante da mesma conduta bulimica, assinala dois tipos de individuos bulimicos: uns caracterizam-se pela presenga de desinibigao, instabilidade afectiva, e impulsividade; um outro grupo teria um padrio de personalidade mais ajustado e desenvolveria um quadro mais em fungdo da restrigao dietética. O perfil da bulimia nervosa com peso normal continua contraditério ¢ indefinido. Nesta populagio a informago disponivel € minima no que se refere aos 36 aspectos premérbidos. Muito pouco se sabe sobre a natureza ¢ 0s limites do distirbio que continua apés 0 controlo do sintoma. ‘A informagao reunida sobre os tragos e distirbios da personalidade enquanto a doenga esté activa, revelam uma enorme diversidade nas amostras clinicas. Os perfis médios em algumas investigagdes retratam niveis moderados de patologia, dominada por sinais de depressiio que pode ser secundéria ao distirbio; outros estudos produzem cotagdes médias indicativas de patologia profunda e difusa, consistente com a designagdio de perturbagio estado-limite da personalidade (Moreno, 2003). Os resultados que indicam que os bulimicos com aspectos da perturbacao estado-limite da personalidade, descrevem uma diminuigdo na ansiedade e na depressio quando completam um ciclo de ingestio compulsiva ¢ depois de purgagao, pode ajudar a definir esta divisio, enquanto que outros relatam um pequeno aumento (Steinberg, Tobin, & Johson, 1990). Tem-se especulado que pelo menos dois mecanismos podem fundamentar 0 desenvolvimento do comportamento bulimico em grupos dispares de sujeitos (Cooper ot al., 1988): um tipo pode ser caracterizado pela desinibigo ¢ instabilidade afectiva, estes individuos podem recorrer a ingesto compulsiva e ao vomito como meio de regular estados intoleraveis de tensio, raiva, ¢ fragmentagiio. O outro grupo de bulimicos mais “puros”, pode entrar neste distirbio através de um caminho menos complicado de dieta restritiva. Ao se esforgarem repetidamente por manter um peso com niveis culturalmente desejaveis e nao o conseguirem; comem demais, quando o seu empenho se desmorona, recorrem ao vémito para aliviar a culpa ¢ minimizar 0 consequente ganho de peso. © movimento transversal pelas categorias é muito comum — um iinico paciente pode ser diagnosticado por tumos com anorexia nervosa restritiva, anorexia purgativa e bulimia nervosa. Vandereycken ¢ Pierloot (1983) chamaram a atengfo para o facto de “cada classificagao ¢ 0 produto de uma dada avaliagéo num dado momento, i.e., uma fotografia estética, um instantineo ou estudo transversal das caracteristicas observadas temporariamente” (p. 548). Existe uma variedade de motivos pelas quais uma mulher jovem, na nossa cultura, pode vir a controlar 0 seu peso, na procura de uma solugdo para o softimento pessoal. O conjunto de sujeitos que encaixa num determinado subgrupo serd 37 constitufdo por alguns que alcangaram a classificagao terminal dentro dos distirbios alimentares € outros que esttio meramente a passar por uma fase do sintoma, a caminho de uma categoria diferente. Estudos retrospectivos sugerem que as caracteristicas de personalidade frequentemente sio um ponto de partida para as perturbagdes do comportamento alimentar, mantendo-se presentes ap6s a recuperagtio do peso (Cassin, 2005). Todos os relatos sobre caracteristicas premérbidas so retrospectivos e por essa razio, partilham da instabilidade na imprecisfio da medigio e nos efeitos enviesados do conhecimento de um resultado patolégico. A investigagao futura pode, por si s6, fornecer evidéncias indiscutiveis que conectem as caracteristicas da personalidade & iniciag&io da anorexia nervosa, da bulimia nervosa e dos sindromas parciais. ‘A diversidade dentro das categorias de diagndstico tem pelo menos trés explicagdes teéricas: 1) se existe uma ligagio fundamental entre tipo de trago e forma de sintomatologia, a variabilidade pode ser atribuida ao facto de que os sujeitos no alcangaram todos a fase final da evolugao do seu distirbio alimentar. A adolescente que neste momento mantém um padrio de abstinéncia, pode cair em comportamentos bulimicos & medida que a sua perturbagdo progride, influenciada pela tendéncia para a acgio impulsiva medida mesmo durante a sua fase restritiva; 2) altemadamente, individuos com tragos uniformes podem deflectir em diferentes direcgBes por varidveis independentes do tipo de personalidade. A mulher bulfmica com peso dentro da média pode ser impedida de alcangar o “destino” da anorexia nervosa sugerido no seu perfil temperamental, devido a uma intolerdncia biolégica & fome ou deslocamento abaixo do peso de partida e finalmente, 3) a relagiio observada entre a personalidade e os subtipos de perturbagdes do comportamento alimentar pode ser imperfeita e imprecisa, com caracteristicas especificas aumentando a probabilidade de pertencer a uma determinada categoria, sem ditar um curso previsivel. Tomando em consideragdo todas estas possibilidades, € de salientar que se encontra por esclarecer a direccionalidade da relag&io entre tragos aparentemente estiveis e padrées de sintomas: os bulimicos podem parecer-se uns aos outros em parte porque se tornaram bulimicos, em vez de se tornarem bulimicos porque tém em comum alguns elementos da personalidade. Em suma, as perturbagées do comportamento alimentar devem ser entendidas como doengas que reflectem a confluéncia entre a psicologia individual, os determinantes biol6gicos, as dindmicas familiares ¢ os factores sécio-culturais, Estas doengas sfo 0 exemplo da necessidade de um novo paradigma na leitura psicolégica consequentemente uma nova abordagem na prevengdo € no tratamento. Tornar-se- ia uma leitura a varios niveis de anilise, tais como a psicopatologia, os padres alimentares, as cognigdes, as dificuldades interpessoais e familiares. Sem nunca esquecer, que o entendimento, a interpretagdio ¢ a compreenstio dos comportamentos e atitudes disfuncionais perante o corpo e a alimentagdo, s6 fardio sentido numa perspectiva multidimensional, cada um destes factores por si s6, € necessario, mas nao suficiente. METODO ‘A presente investigagdo teve como principal objectivo identificar a relago, entre tragos de personalidade e atitudes, comportamentos ¢ caracteristicas psicolégicas frequentemente associadas as perturbagdes do comportamento alimentar e sindromas parciais numa amostra nao-clinica. Tratase de um estudo correlacional inscrito numa metodologia epidemiol6gica. Participantes estudo foi realizado em 190 jovens e jovens adultos do sexo feminino a frequentar o ensino universitério na regio do Algarve. ‘As alunas frequentavam uma das faculdades da Universidade do Algarve ou 0 Instituto Superior Dom Afonso Ill. Foi uma amostra de conveniéncia, nao probabilistica, As turmas foram seleccionadas tendo em consideragio a disponibilidades dos docentes com mais do que duas horas lectivas consecutivas tendo em consideragao as turmas com um maior ndmero de alunos do sexo femninino. Optimos por proceder A caracterizagio da amostra de acordo com dois niveis descritivos: uma anélise s6cio-demogréfica e uma andlise antropométrica. Em seguida serfio apresentados os dados sécio-demogrificos, reservando a andlise antropométrica para a apresentagio de resultados. Andlise sécio-demogréfica ‘A média das idades das participantes neste estudo foi de 21 anos, com um desvio padrio de 3,32 e um intervalo de confianga a variar entre os 20,60 e os 21,55; um valor minimo de 17 anos ¢ um valor mximo de 36 anos (Figura 1). Como jé anotimos todos os sujeitos da amostra stio do sexo feminino. Este facto foi intencional, dada a elevada prevaléncia de preocupagdes com a imagem corporal ¢ adopgdo de comportamentos alimentares desadequados neste sexo. 40 20 20 Froquenct 104 “0 Figura 1. Histograma para a idade dos sujeitos da amostra. Quanto ao estado civil dos sujeitos, de acordo com dois grupos de idade, a Figura 2, mostrou que os sujeitos solteiros estéio em maioria, especialmente no grupo etirio mais jovem, onde 100% dos sujeitos sao solteiros. Para uma idade superior ou igual a 21 anos, 82% sio solteiros ¢ 12% das participantes sto casadas. Os restantes 6% vive em unio de facto. =a 1000) a Di<20 anos De=21 anos oxo ‘ : : z B é ool Ape vem cameltoe weicena Figura 2. Distribuigéio da varidvel “Estado Civil” das estudantes. 41 Os resultados apresentados na Figura 3 indicam que a maioria dos sujeitos frequentavam a licenciatura em Psicologia nos dois grupos de idades. Outras licenciaturas representativas sfio: Gestio para o grupo acima dos 20 anos, Ortoprotesia, Farmacia e Ciéneias da Educagio para o grupo de idades menor ou igual a 20 anos. dade l<2t anos co D>=21 anos z g 8 4004 2 8 . AAAS, ON curse Figura 3. Distribuigao da variavel “Curso” das participantes. No que diz respeito ao ano de frequéncia da licenciatura os sujeitos revelaram- se pertencentes na sua grande maioria ao 1.° ano na faixa etéria menor ou igual a 20 anos (77%). Para o grupo etirio acima dos 20 anos 0 valor percentual mais elevado foi registado no 3.° ano de licenciatura (Figura 4). 42 Demme D> eaters thn An «3A AAO ‘Ano do curso Figura 4, Distribuigio da variavel “Ano de Curso” das participantes. Para o facto de os sujeitos serem ou nao, trabalhadores-estudantes, observou-se nos dois grupos etirios, por nés definidos, que as participantes do estudo pertencentes ao grupo estudante apenas apresentaram um valor percentual de 94% para o grupo menor ou igual a 20 anos ¢ um valor de 66% para as idades acima dos 20 anos de idade (Figura 5). 200-4 600-4 Percentagem (4) 400 2004 00: sim Nio ‘Trabalhadorestudanta ? Figura 5. Distribuigo da varidvel “Estatuto trabalhador estudante” das participantes. 43 Material Para realizar a nossa investigagao ¢ atingir os objectivos a que nos propusemos, utilizamos trés instrumentos de avaliagdo: um questionario de caracterizagio da amostra, o Inventario de Perturbagdes do Comportamento Alimentar (Eating Disorder Inventory - EDI-2) ¢ o Inventirio da Personalidade - NEO-PIR. Questiondrio de Caracterizagao da Amostra Para proceder & caracterizagio da amostra, construiu-se um instrumento descritivo de auto-preenchimento especifico para esta investigagao (Anexo A) Este questiondrio versou questdes relativas & caracterizagao sécio-demografica, tais como: idade, estado civil e naturalidade; questdes relativas & situago académica actual: ano curricular, curso ¢ instituigdo a frequentar; e, tendo em consideragao os objectivos da investigacao, a ultima componente do questionario versou a recolha de dados auxiol6gicos, tais como; peso actual, altura, peso mais alto ¢ mais baixo nos liltimos trés meses. Na sua totalidade o questiondrio versou 22 questoes. Inventario de Personalidade NEO - Revisto (NEO-PI-R) Para avaliar as dimensdes da personalidade foi utilizado o Inventirio da Personalidade NEO Revisto (NEO-PI-R) (Anexo B) desenhado por McCrae ¢ Costa (1992) (NEO-PI-R; Costa & McCrae, 1992) e aferido a populagao portuguesa por Lima (1997) tendo sido esta a versio utilizada neste estudo A escolha deste instrumento foi realizada tendo em consideragao a natureza niio clinica da amostra. Sendo pois desejével utilizar um instrumento que permitisse avaliar dimensdes normativas da personalidade. “Por diversas razes, os autores no elaboraram perfis para grupos clinicos. Primeiro, porque os doentes em psicoterapia mostram, geralmenie, a mesma amplitude de variagio nos tragos de personalidade que os adultos normais, diferindo apenas nas pontuagdes médias de alguns tragos. Segundo, porque diagnésticos especificos podem estar associados a perfis especificos e estes observam-se melhor, por comparagdo com o grupo normativo, Por 44 fim, porque os autores opinam que a “utilizagao de normas é um auxiliar valioso, que pemnite recordar que sujeitos submetidos & psicoterapia so, em muitos aspectos, (Costa & McCrae, 1992, p.14). Este instrumento é direccionado para medir as cinco principais dimensdes da semelhantes a voluntarios normai personalidade, estando teoricamente sustentado pelo Modelo dos Cinco Factores € avalia as dimensdes da personalidade que correspondem a cada um dos dominios gerais: Neuroticismo, Extroversio, Abertura 4 Experiéncia, Amabilidade e Conscienciosidade. Cada um dos dominios é constituido por seis facetas. No total o instrumento é composto por 240 itens que consistem em afirmagdes as quais é possivel responder numa escala de cinco pontos, classificadas de 0a 4 valores. A verso do instrumento que utilizamos neste estudo, sendo a mais recente, passou por trés fases de desenvolvimento, na sequéncia de um trabalho continuo por parte dos seus autores. Foi em 1978 que pela primeira vez surge o entfio chamado, Inventério NEO, cujo propésito foi somente a avaliagiio de trés dimensées: 0 Neuroticismo, a Extroversio e a Abertura 4 Experiéncia, através de 18 escalas constituidas por 144 itens. Com o desenvolvimento tedrico-conceptual do Modelo dos Cinco Factores (FFM) foram-the adicionadas posteriormente, mais duas escalas para avaliar as dimensdes Amabilidade e Conscienciosidade, passando entio de 144 para 181 itens. Finalmente, em 1992, Costa e McCrae dedicam-se a um novo aperfeigoamento deste instrumento, chegando configuragao e formatagao do questiondrio que conhecemos com o qual trabalhamos hoje. Este aperfeigoamento traduziu-se no acréscimo do niimero de itens, que passou a 240 e, na consagragio do Inventario da Personalidade NEO-PI Revisto (NEO-PI-R), dotado de validade convergente ¢ discriminante em todos os dominios e facetas. Quadro 2: Breve resenha Histérica sobre a Construgiio e Desenvolvimento do NEO- PLR. DATA | DESIGNACAO DIMENSOES DAS | N° DE ITENS FACETAS. 78 [NEO ‘NEO. 1983/1985 NEO-PI ‘NEOAC ~~ 1990/1992 NEOPER «| NEOAC 45 O NEO-PI-R é um dos primeiros questionarios a operacionalizar 0 Modelo dos Cinco Factores da Personalidade ¢ a fazé-lo de uma forma néo-direccionada, ou seja, € um instrumento susceptivel de utilizagdes variadas, aplicando-se a diferentes contexts, onde uma visio global ¢ abrangente sobre a personalidade pode ser 0 objectivo pretendido. E também, paradoxalmente, “um inventario inovador e tradicional. Inovador porque dé corpo a um modelo novo, no quadro das concepgdes actuais sobre a personalidade; porque pressupde uma visdo de tipo eclético em relagio a diversidade de constructos existentes; porque corta com alguns pressupostos psicomeétricos tradicionais (...); porque ¢ fruto de uma reflexdio cuidada, em tomo da construgo, do significado e possiveis aplicagées, tanto tedricas como praticas, dos questiondrios de personalidade. Mas ¢ também tradicional, porque a sua histéria se inscreve numa determinada orientagio, adentro da psicologia da personalidade, e porque os tragos escolhidos no so descobertas originais mas redescobertas, baseadas em revistio da literatura e contacto com a realidade psicolégica” (Lima, 1997, p. 258). Na sua versio final, 0 NEO-PI-R & constituido por cinco escalas, que correspondem a cada um dos dominios gerais considerados: Neuroticismo, Extroversaio, Abertura 4 Experiéncia, Amabilidade e Conscienciosidade. Cada dominio, por sua vez, é constitufdo por seis facetas, o que eleva para trinta o nimero de escalas especificas que 0 compdem. Cada uma das escalas é composta por oito itens, perfazendo um total de 240 itens, que sto apresentados sob a forma de afirmagiio, em relagiio A qual o sujeito ter que se posicionar, As respostas sio dadas segundo uma escala Likert (Discordo Fortemente; Discordo; Neutro; Concordo; Concordo Fortemente). 46 De forma simplificada, a estrutura do NEO-PI-R, pode ser descrita esquematicamente da seguinte forma: Quadro 3. Dominios ¢ Facetas que integram 0 NEO-PI-R. DOMINIO FACETA TTENS Nis Ansicdade TP a] a] pa stp aT aT Nt: Hostitdade 6 | 36 | 66 | 96 | 126 | 156 | 186 | a6 | Nearotcismo | N3: Depressi a} av | {tor | a1 | a61 | 91 | 22 ®) ‘N4: Auto-Consciéneia 16 | 46 | 76 | 106 | 136 | 166 | 196 | 226 ‘NS: Impulsividade 21 | si | 81 | ant | 141 | 171 | 201 | 231 | Né:Valnerabitiade | 26 | 56 | 86 | 116 176 | 206 } 236 er TPR] ew | oe | wae | wae | ae | 21 2: Gregariedade 7 | 37 | 67 | 97 1s7 | 187 | 217 Extroversio | £3: Assertividade | a} | 102 162 | 192 | 222 © EA: Actividade 17 | 47 | 7 | 107 137 | 167 | 197 | 227 5: Procura de Excitagso | 22 | 52 | 82 | 112 | 142) 172 | 202 | 252 6: EmogtesPositivas | 27 | 57 | 87 | 117 | 147 | 177 | 207 | 257 Oi: Fantasia TPB] S| os] | aes | ae (02: Rsttica 8 | 38 | oe | 98 | ize | 158 | 128 | 18 Abertura, 03: Sentimentos 13 | 43 | 73 | 103 | 133 | 163 | 193 | 223 | © 08: Acgies 18 | as | 78 | 108 | 138 | 168 | 198 | 228 | 08: Ideas as | 53) 3) 113 | 143 | 173 | 203 | 233 | 06: Valores 2s | 58 | se | us | 148 | 178 | 208 | 238 { ‘Ai Confianga Te] | me | Tae | Tse | 1a | ae | ‘At: Rectidio 9 | 39 | 69 | 99 | 129 | 159 | 189 | 219 Amabitidade | A3: Altruism us | 44 | 74 | 106 | 134 | 168 | 198 | 224 “ ‘Ag: Complacéncia 19 | 49 | 79 | 109 | 139 | 169 | 199 | 229 AS: Modéstia 24 | 54 | e4 | 114 | 144] 176 | 206 | 256 AG: Sensibilidad 29 | 59 | a9 | 119 | 149 | 179-| 209 | 259 Ci: Compeicia Pas | ow | S| Was | Ts] as | 2S | 2: Ordem 10 | 40 | 70 | 100 | 130 | 160 | 190 | 220 | conscienciosidade | C3: Dever 15 | 45 | 75 | 105 | 135 | 165 | 195 | 225 | © C4: Esforgo de Reatizsao | 20 | 50 | 80 | 110 | 140 | 170 | 200 | 230 C5: Auto-Discipina 2s. | ss | 85] 11s | 4s | 175 | 205 | 235 30 | 60 | 90 | 120 | 150 | 180 | 210 | 240 | | C6: Deliberagso ‘Adapiado de Lima (1997, p. 172). Para uma descrigdio mais pormenorizada, apresentaremos a compreens&o de cada um dos cinco dominio com as respectivas facetas, de acordo com a autora da aferigdo portuguesa (Lima, 2000). 41 Neuroticismo (N) Esta escala global pretende avaliar a adaptagdo vs. a instabilidade emocional. Valores elevados em N identificam individuos preocupados, nervosos, emocionalmente inseguros, com sentimentos de incompeténcia, hipocondriacos, com tendéncia para a descompensagtio emocional, desejos e necessidades excessivas e respostas de coping desadequadas, bem como com tendéncia geral para passar (tendéncia a experimentar afectos) por afectos negativos como 0 medo, tristeza, embarago, raiva, culpabilidade e repulsa. Talvez pelas emogées disruptivas interferirem na adaptagio, os homens e mulheres com pontuag&o mais alta nesta escala tém também tendéncia para ideias inracionais, para serem menos capazes de controlar os impulsos e controlar-se pior do que os outros com o stress. Por outro lado, valores baixos em N, revelam uma estabilidade emocional que se traduz em individuos geralmente calmos, com humor constante, tranquilos descontraidos, seguros, satisfeitos consigo mesmos e capazes de enfrentar situagdes de tenséio sem ficarem descontrolados ou assustados. O dominio do Neuroticismo inclui seis facetas: NI: Ansiedade Os sujeitos ansiosos so apreensivos, tensos, medrosos e preocupados. Embora as fobias especificas nfio sejam medidas nesta escala, os sujeitos com pontuagdes clevadas neste trago tém tendéncia a ser fobicos. Uma baixa pontuagdo, pelo contririo, surge associada a sujeitos calmos, relaxados, estéveis, menos medrosos & sem tendéncia para se fixarem naquilo que ocorre mal. N2: Hostilidade Observa-se nos sujeitos hostis uma tendéncia para experienciar a raiva, a frustragio e a amargura, revelando um temperamento “quente” que resulta muitas vezes num estado de frustrago ou zanga. Esta escala encontra-se geralmente relacionada com uma Amabilidade baixa. Os sujeitos com N2 baixo, inversamente, sfio amigaveis, tém um temperamento mais moderado e dificilmente se ofendem ou se zangam. N3: Depressiio Esta faceta visa a avaliagio das diferengas normais no vivenciar do afecto depressivo. Os sujeitos com pontuagdes elevadas em N3 tém pouca esperanga, so tristes, melancélicos, sente-se sozinhos, desesperados e com graus elevados de culpabilidade. Por oposi um valor N3 baixo é indicativo de individuos que 48 raramente estio tristes e que em geral so pessoas confiantes, para quem a vida faz sentido e vale a pena. ‘N4: Auto-Consciéneia Sujeitos com uma pontuagio elevada nesta escala acham-se pouco a vontade perto dos outros, sfio sensiveis ao ridiculo e tém tendéncia para se sentirem inferiores, envergonhados, timidos ¢ com ansiedade social. Um valor baixo em N4, por seu lado, no revela, necessariamente, sujeitos com boas aptids ‘ociais; revela apenas que estes tenderio a sentir-se menos perturbados em situagdes sociais, traduzindo-se esse A vontade numa maior seguranga e em comportamentos socialmente mais adequados. NS: Impulsividade ‘A impulsividade a que esta faceta se refere tem a ver com a incapacidade de controlar e resistir as tentagdes. Os desejos de comida, cigarros ¢ propriedade so tio fortes em sujeitos com valores elevados nesta escala, que estes no Ihes conseguem resistir, mesmo que mais tarde se possam arrepender de tal impulsividade. Inversamente, as pessoas com um baixo nivel de N5, possuem uma maior tolerancia & frustragfo ¢ resistem com mais facilidade as tendéncias acima enunciadas. Retenha-se que a impulsividade avaliada pela presente escala nfio deverd ser confundida com espontaneidade, a decisio répida e a capacidade de arriscar. N6: Vulnerabilidade A vulnerabilidade avaliada nesta faceta identifica individuos que, confrontados com situagSes de emergéncia, facilmente se enervam e entram em panico, revelando-se incapazes de lidar com a tensio e tornando-se dependentes. Uma baixa pontuagiio é habitualmente indicador de pessoas que conseguem “manter a cabega fria”, que sto componentes, resistentes, ¢ dai o lidarem melhor com situagdes dificeis. Extroversio (E) ‘A extroversfio, conforme & considerada nesta escala, traduz a quantidade e intensidade das interacgdes interpessoais, 0 nivel de actividade, a necessidade de estimulagtio e a capacidade de exprimir alegria. Assim sendo, os individuos extrovertidos so socidveis, afirmativos, optimistas, amantes da diversio, afectuosos, alegres © conversadores. Gostam de pessoas, preferem os grupos grandes e as reunides, so assertivos ¢ loquazes, apreciando a excitacio e a estimulagiio. Este 49 dominio correlaciona-se fortemente com o interesse em ocupagées de iniciativa e de empreendimento. ‘As caracteristicas do introvertido sto de apresentago mais dificil. Em certos aspectos, a introversio deve ser considerada mais como a auséncia de extroversio do gue 0 que poderia ser afirmado como o seu oposto. Deste modo, os introvertidos so sobretudo sujeitos reservados, nao tanto “inamistosos”; so sobretudo independentes, no tanto seguidores; tém sobretudo um passo certo € no tanto lento. Os introvertidos podem dizer que sao timidos, quando 0 que querem dizer é que preferem estar s6s, ¢ nfio sofrem necessariamente de ansiedade social. Finalmente, embora nfo sejam dados & animagio exuberante dos extrovertidos nao sao infelizes nem pessimistas (Lima, 1997, p. 183). ‘As facetas da Extroverstio incluem: E1: Acolhimento Caloroso No que respeita a intimidade interpessoal, 0 Acolhimento é a faceta da extroversio de maior relevancia ¢ a que est mais préxima da dimenstio de Amabilidade. As pessoas com valores elevados em E] so calorosas ¢, consequentemente, amigaveis, conversadoras ¢ afectuosas; gostam verdadeiramente dos outros ¢ estabelecem lagos estreitos com eles. Pontuagées baixas so habitualmente reveladoras de pessoas mais formais, distantes e frias, nao significando tal que sejam necessariamente hostis. 2: Gregariedade O individuo com pontuagiio elevada nesta faceta gosta de conviver, tem muitos amigos ¢ procura o contacto social. Pelo contrério, pontuagées baixas em E2 estiio associadas a sujeitos solitérios, que evitam multidées e preferem estar sozinhos. E3: Assertividade Os sujeitos assertivos so dominantes, com ascendente social, forga de vontade, sfio confiantes e decididos. Falam sem hesitagdes ¢ facilmente se tornam lideres de opiniio. Aqueles que apresentam pontuagdes mais baixas nesta faceta séo individuos ‘menos assertivos, com uma conduta mais reservada, evitando afirmar-se e preferindo niio dar nas vistas, acabando por deixar os outros falar. Ed: Actividade Valores elevados de E4 correspondem a pessoas enérgicas, com ritmo rapido ¢ vigoroso e que necessitam de estar ocupadas. Valores baixos, por seu turno, no implicam obrigatoriamente que se tratem de individuos preguigosos, mas sim de sujeitos que nao tém pressa e que so mais vagarosos. ES: Procura de Excitagao No extremo mais elevado desta escala temos sujeitos que procuram estimulagées fortes, aceitam riscos e gostam de ambientes ruidosos e de cores coloridas. No extremo oposto situam-se 0s individuos que evitam a sobre-estimulagio, stio cautelosos, sérios e preferem um tipo de vida que os primeiros facilmente considerariam aborrecido. E6: Emogées Positivas Uma elevada pontuagao em E6 revela uma pessoa alegre, espirituosa, divertida e que tem tendéncia a experienciar emogées positivas, tais como a alegria, a felicidade e 0 ‘amor. O individuo com baixa pontuagiio, nao sendo propriamente infeliz, sera menos exuberante, pouco entusiasta, placido e sério. Esta é a faceta da Extroversdo mais relacionada com a satisfagao com a vida. Abertura a Experiéncia (0) Sendo a Abertura a Experiéncia a dimens%io menos conhecida ¢ a mais controversa das cinco dimensdes, é também aquela que é considerada pelos autores deste instrumento como a de maior relevancia para o estudo da imaginagdo, da cognigao ¢ da personalidade (Costa & McCrae, 1992). Globalmente, esta dimenstio traduz a procura proactiva, a apreciagdo da experiéncia por si propria, a tolerdnc ea exploragéo do niio-familiar. Coresponde amplitude, profundidade permeabilidade da consciéncia e & necessidade continua de alargar ¢ examinar a experiéncia; curiosidade ¢ experiéncia de um leque muito variado de emogdes, positivas © negativas, grande diversidade de interesses, pouco tradicionais ¢ convencionais. Os individuos abertos & experiéneia so curiosos, quer no que respeita ao mundo interior, quer a0 exterior, e as suas vidas so mais ricas de vivencias do que comum, Tém inclinagdo para alimentar novas ideias e valores n&o convencionais ¢ vivem as emogées positivas ou negativas de modo mais agudo do que os individuos fechados. Facilmente péem em causa a autoridade e optam por novas ideias sociais, politicas e/ou éti 51 Os homens e mulheres com nota baixa nesta dimensdio tendem a ter comportamentos convencionais e uma aparéncia exterior conservadora. Preferem 0 conhecido ao novo @ as suas reacgdes emocionais so algo silenciosas. Tém uma esfera e uma intensidade de interesses mais estreita e tendem a ser pouco artisticos ou analiticos. ‘As facetas da Abertura & Experiéncia, de modo sucinto, podem ser descritas da seguinte forma: O1: Fantasia Pontuagdes elevadas nesta faceta indicam sujeitos com imaginagio viva ¢ fantasia activa, que apreciam sonhar acordados e elaboram fantasias. Pontuagdes baixas identificam aqueles que preferem o pensamento realista, so priticos ¢ evitam sonhar acordados. O2: Estética Nesta escala, uma pessoa que obtenha pontuago elevada, valoriza a experiéncia estética e aprecia a arte ¢ a beleza. Se a pontuagdo for baixa, tratar-se-4 de pessoas com pouca sensibilidade a beleza e que no apreciam a arte. 03: Sentimentos Pontuagdes elevadas sio indicadoras de pessoas sensiveis, empéticas, que valorizam os proprios sentimentos e que respondem emocionalmente as situagdes. Um baixo valor para 03 indica um leque emocional mais limitado ¢ uma desvalorizagiio dos diferentes estados emocionais. 04: Acgies Um sujeito com pontuagio alta nesta faceta denota a procura da novidade, da variedade, que se traduz, por exemplo, na busca de novas actividades e no experienciar de diferentes passatempos. J4 um sujeito com baixa pontuagio prefere 0 familiar & novidade, segundo preferencialmente a sua rotina normal ¢ a sua habitual maneira de ser. O5: Ideias ‘As pontuagdes elevadas so conotadas com a curiosidade intelectual, com a apreciagtio de argumentos filosdficos ¢ a resolugio de quebra-cabegas. Esta faceta nao implica, necessariamente, inteligéncia elevada, mas favorece o desenvolvimento do potencial intelectual. O sujeito com baixa pontuagio é mais pragmitico, factualmente orientado, no aprecia desafios intelectuais ¢ tem uma curiosidade mais limitada. 52 06: Valores Subjacente a esta faceta encontra-se a capacidade para re-equacionar os valores sociais, politicos e religiosos. Uma pontuagio elevada ¢ indicativa de “horizontes largos”, tolerdincia, nfo-conformismo ¢ “abertura de espitito”, enquanto os baixos valores estiio associados ao dogmatismo e conservadorismo. Amabilidade (A) ‘A Amabilidade é uma dimensio que diz respeito as tendéncias interpessoais, referindo-se & qualidade da orientagiio interpessoal, num continuo que vai da compaixo ao antagonismo, tanto nos pensamentos, como nos sentimentos e acgdes. ‘A pessoa amivel, a luz deste dominio, é fundamentalmente altruista, de bons sentimentos, benevolente, digna de confianga, prestével, disposta a acreditar nos outros, recta ¢ inclinada a perdoar; é também simpética para com os outros ¢ acredita que os outros serdo igualmente simpéticos. Por oposigiio a estas caracteristicas, a pessoa hostil é egocéntrica, cinica, rude, desconfiada, pouco cooperativa, vingativa, irritavel, manipuladora, céptica em relagio as tendéncias dos outros e mais competitiva do que cooperativa. ‘As facetas que constituem este dominio sao: Al: Confianga Individuos com pontuagfio elevada nesta faceta tendem a atribuir intengdes benévolas 0s outros € a consideré-los honestos ¢ bem intencionados. Aplica-se 0 inverso no que diz respeito a pontuagdes baixas, com uma evidente tendéncia para o cinismo, para o cepticismo e suspeita das intengdes dos outros. A2: Rectidio ‘A franqueza, a frontalidade, a sinceridade e a ingenuidade no lidar com os outros s0 caracteristicas associadas aos sujeitos que obtém pontuagdes elevadas. Pelo coniririo, as pontuagdes baixas denotam pessoas calculistas, com tendéncia para a manipulagdo do outro através do elogio ou da chantagem. A3: Altruismo Um resultado elevado nesta escala revela uma preocupagao activa pelos outros, que se traduz pela generosidade, filantropia, cortesia mundana, consideragio, interesse social, auto-sacrificio ¢ vontade de ajudar. Um baixo valor em A3 seré indicador de 53 pessoas mais centradas em si proprias e relutantes em se envolver nos problemas dos outros. ‘Ad: Complacéncia ‘Um sujeito com uma pontuagéo elevada nesta faceta revela uma boa capacidade de aceitagdo da opiniao dos outros, sendo geralmente um individuo brando, capaz de inibir a agressividade ¢ com capacidade de perdoar ¢ esquecer. Por outro lado, se a pontuago for baixa, isso indicaré uma pessoa agressiva, antagénica, contestatéria, competitiva e que no se coibe de se manifestar com inritagdio. A5: Modéstia sujeito com elevada pontuagio é humilde e pouco preocupado consigo proprio, 0 que nio tem necessariamente que significar uma baixa auto-estima e/ou falta de confianga em si. Uma pessoa arrogante, com uma visio exaltada de si proprio ¢ com tendéncias narcisistas apresenta, partida, uma baixa pontuagdo nesta faceta. AG: Sensibilidade Esta escala avalia atitudes de simpatia e de preocupagao com os outros. Um resultado clevado € indicador de um individuo que se deixa guiar pelos sentimentos, particularmente os de simpatia ao ajuizar os outros. Estas pessoas terdo tendénci a realcar o lado humano da politica social. O sujeito com pontuagao baixa considera-se ‘mais realista e racional e ndo se deixa comover facilmente. Conscienciosidade (C) Este dominio pretende avaliar 0 grau de organizagio, persisténcia e motivagiio pelo comportamento orientado para um objective. Num dos extremos da escala encontram-se individuos dignos de confianga, escrupulosos, dotados de forga de vontade, determinados, enérgicos, pontuais e organizados; enquanto que no outro extremo esto reunidos os sujeitos preguigosos e descuidados. As seis facetas que integram a Conscienciosidade si: C1: Competéncia O sujcito com um bom resultado nesta escala é alguém que se sente preparado ¢ capaz de lidar com a vida. Inversamente, uma pontuagao baixa € reveladora de uma fraca opinidio relativamente as proprias aptiddes, o que se traduz num sentimento de se estar mal preparado ¢ incapaz de levar a sua vida & avante com sucesso. 54 C2: Ordem Num dos pélos desta escala encontramos sujeitos com tendéncia para manter € preservar 0 meio que os rodeia limo e bem organizado. No outro pélo, esto sujeitos com baixa pontuagio em C2, revelando dificuldades de organizagio e descrevendo- se a si mesmos como pouco metédicos. C3: Obediéncia ao Dever Uma elevada pontuagao nesta faceta revela um individuo que adere estritamente aos seus padres de conduta, principios éticos e obrigagdes morais. Os individuos com baixa pontuagdo, sendo menos rigorosos em relago a estas questdes, tornam-se, por vezes, irresponsaveis. C4: Esforgo de Realizagao Pontuagdes elevadas nesta escala sio caracteristicas de pessoas diligentes, com niveis altos de aspiragio. Séo determinadas ¢ tém um sentido de orientagéio na vida; apresentando niveis de realizago elevados e encontrando-se fortemente motivadas para os atingir, correm por vezes 0 risco de investir excessivamente nas suas carreiras, tornando-se viciadas no trabalho. Quem apresenta valores baixos em C4 so, geralmente, individuos sem vigor e talvez mesmo preguigosos. Nio sto impulsionados para ter sucesso, tém falta de ambigio © podem parecer sem objectivos, mas estio muitas vezes satisfeitos com os seus baixos niveis de realizagio. C5: Auto-Disciplina Entendendo-se a auto-disciplina como uma aptidao para iniciar ¢ concluir uma determinada tarefa, independentemente do factor cansago ou das distracgdes, admite- se que uma pontuagéo elevada signifique que 0 sujeito em questo revela boa capacidade para se motivar na prossecugfio de um objectivo. Inversamente, uma baixa pontuagao nesta escala seré indicadora de sujeitos que ficam mais facilmente prostrados e, perante a frustragdio desistem. C6: Deliberacio Sujeitos com pontuagfio elevada na faceta de Deliberagdo revelam tendéncia a pensar com cautela, a planificar e a ponderar antes de agir. Por oposigao, os individuos com baixo desempenho nesta escala actuam muitas vezes sem pensar nas consequéncias — contudo, no seu melhor, séo esponténeos ¢ revelam ser capazes de, no momento, tomar decisdes perspicazes. 55 No que respeita as condigdes de administragio do NEO-PI-R, o inventério compreende uma forma de auto-avaliagio - forma S (Self-Report) e, uma forma de hetero-avaliaglio - forma R (Observer Rating) que pode ser realizada por observadores, profissionais ou nao, A forma R, tem 240 itens paralelos aos da anterior, escritos na terceira pessoa e destinados a avaliagio por observadores, colegas, cOnjuges ou especialistas, podendo ser utilizada para obter estimativas independentes sobre os cinco dominios da personalidade e, para validar ou complementar as auto-avaliagdes. (Costa & McCrae, 1992). A forma S do questiondrio de auto-avaliagao foi a utilizada neste estudo. Destina-se a individuos a partir dos 17 anos de idade, que nfo sofram de perturbagdes que impegam uma auto- administragao e um preenchimento valido; pode ser aplicado individualmente ou em grupo e, a média de tempo para o seu preenchimento completo é entre 30 a 40 minutos, nao existindo um limite estipulado. f de salientar que, aquando da leitura e interpretag&o dos resultados do NEO- PI-R tivemos em consideragao o facto de, na concepualizagao deste instrumento, ¢ a0 contririo do que acontece noutros inventérios da personalidade, nio existirem limiares discriminativos ou pontos discriminantes que separem as pontuagdes consideradas normais daquelas que podem indicar uma psicopatologia: uma pontuagio elevada pode ser tio informativa como uma baixa. Em si mesmas, as pontuagdes brutas deste inventério no tém significado, s6 assumindo significado quando comparadas com as respostas de outros sujeitos. As normas publicadas tém, por conseguinte, 0 objectivo de servirem como grupo-padrao de referéncia (Lima, 1997). © NEO-PI-R fornece material que permite diferentes possibilidades de interpretagdio, que pode ser esquematizado, em termos de sequéncia de profundidade, da seguinte forma: 1.* Descrigdo global da personalidade: os cinco factores; 2.° Descrigio pormenorizada da personalidade: as trinta facetas; 3.° Descrigtio da personalidade por uma anélise bidimensional. © procedimento de cotagiio do NEO-PI-R é bastante simples, obedecendo a ‘uma matriz de célculo, onde so somadas as pontuagSes dos itens corespondentes a cada faceta, obtendo-se assim os valores que correspondem as trinta facetas que 0 56 constituem. Por tiltimo, sto somados os valores encontrados para os conjuntos de seis facetas que integram um dominio, resultando dessa soma a pontuagao de cada um dos cinco factores/dominios ou dimensdes. Existe também uma cotagéo computorizada que permite, apés a introdugo manual dos dados assinalados nas folhas de resposta, aceder ao perfil (histograma) com as respectivas pontuagées directas e percentis para todos os dominio ¢ facetas (Anexo ©). Para além do procedimento de cotagio atris referido, este instrumento exige apenas que se tenha em atengiio alguns critérios de validagao do questionatio, que caso nao sejam cumpridos obrigam A invalidagao do mesmo. ‘As investigages existentes a respeito do seu desenvolvimento € aplicagéo, segundo diversos autores, apontam evidéncias a favor da _validade, compreensividade, universalidade, hereditariedade ¢ estabilidade longitudinal das dimensdes do modelo operacionalizado pelo NEO-PI-R, bem como da qualidade psicométrica deste inventério (Lima, 1997). Relativamente consisténcia interna do teste, na verso original, Costa, McCrae € Dye (1991) encontraram 5 factores perfeitamente distintos, apresentando uma correlago entre os factor score ¢ as escalas dos dominios N, F, 0, A e C de 0,91; 0,89; 0,95; 0,95 e 0,89, respectivamente. Todas as escalas do NEO-PI-R est&o construidas de forma a ter em conta os efeitos da aquiescéncia, 0 que significa que, se um sujeito assinala 150 ou mais vezes ‘as opgdes concordo ou concordo fortemente, 0 seu teste deverd ser interpretado com cuidado, podendo verificar-se o fenémeno da aquiescéncia. O mesmo se verifica para a discordancia, sempre que 0 sujeito responde mais de 50 vezes com discordo ou discordo fortemente. Da mesma forma 0 questiondrio nfo deve ser cotado se faltarem 1 respostas ou mais por assinalar e, se nfo for este o caso, os dados omissos devem ser assinalados como respostas neutras. Como aspectos controversos do NEO-PI-R podemos apontar a nfo existéncia de escalas que permitam avaliar a desejabilidade social, ou especificamente destinadas a detectar a falsidade na resposta. No entanto, os autores originais, nfio recomendam a aplicagéo de escalas de desejabilidade social por advogarem que estas se correlacionam com o Neuroticismo e Abertura Experiéncia, conduzindo por isso a informagio redundante. A fim de colmatar e prevenir 0 efeito da desejabilidade 357 social, do cansago devido ao elevado niimero de itens ¢ & desmotivagao das alunas, no inicio da aplicago dos questionario foi referido que quem deseja-se poderia ter acesso a0 sumério do seu perfil de personalidade. Para tal, teria apenas que memorizar 0 codigo que se encontrava no conto superior esquerdo da sua folha de protocolo para que mais tarde fosse entregue via correio ou na aula o seu sumério, Em suma, este ¢ um instrumento de ficil aplicagio, sempre que sejam ponderadas as condigdes basicas para a pratica de uma avaliagao psicologica Eating Disorders Inventory (EDI-2) ‘A escolha desta escala deveu-se ao facto de ser reconhecida a sua validade fidelidade e por possibilitar uma levantamento exaustivo de _atitudes, comportamentos @ caracteristicas psicoldgicas frequentemente associados as perturbagdes do comportamento alimentar ¢, ou a vulnerabilidade de vir a desenvolver uma doenga deste tipo. O estudo da fidelidade do Inventério de Perturbagdes do Comportamento Alimentar — 2 (Eating Disorders Inventory - EDI- 2), composto por 91 itens, revelou valores que podem ser considerados bons. Obtivemos um coeficiente alfa de Cronbach de 0,92 para as 190 participantes do estudo para o total do instrumento. Dada a semelhanga entre o EDI e 0 EDI-2, utilizamos no presente estudo a versio mais longa (EDI-2) por se tratar de uma revisio mais actualizada e por acrescentar trés sub-escalas (Asceticismo, Impulsividade e Inseguranga Social). Consideramos que seria relevante 0 uso de um instrumento mais completo € actual, embora as tltimas quatro sub-escalas no tenham sido validadas no estudo de Machado (2001). Contudo, uma vez que a maioria das sub-escalas que compéem a verso por nos utilizada (EDI-2) no foram alteradas e, tendo sido desenhadas todas clas de forma independente entre si, julgamos ser uma oportunidade poder utilizar este instrumento Eating Disorder Inventory -2 (EDI-2) foi um inventario desenvolvido por Gamer, Olmstead e Polivy em 1991 (Anexo H). Originalmente este instrumento de auto-preenchimento foi desenvolvido por Garner, Olmstead ¢ Polivy (1983) com o objectivo de avaliar alteragdes psicolégicas e do comportamento alimentar em doentes com anorexia ¢ bulimia nervosa. © EDI na sua versio original € composto 58 por 64 itens, divididos em oito sub-escalas que procedem a um levantamento de atitudes e comportamentos relacionados com as perturbagdes do comportamento alimentar. A fidedignidade ¢ validade do EDI foram estudadas por Gamer, Olmstead e Polivy (1983). As 8 sub-escalas originais do EDI forma deduzidas e empiricamente validadas com o objectivo de diferenciar raparigas com anorexia nervosa de um grupo comparativo sem perturbagées alimentares. Os coeficientes de fidedignidade para as sub-escalas do EDI variaram entre 0,83 0,93, no grupo com perturbacdes alimentares, enquanto que no grupo comparativo os valores oscilavam entre 0,72 ¢ 0,92. Gamer © Olmstead (1984) avaliaram a consisténcia interna nas 3 novas escalas, que variou entre 0,70 e 0,80 no grupo anoréctico e entre 0,44 ¢ 0,80 no grupo comparativo. Relativamente a validade convergente e discriminante, foi demonstrado haver correlagio das sub-escalas com outros instrumentos psicométricos que avaliam constructos relacionados: “Eating Attitudes Test”, “Restraint Scale”, “Beck Depression Inventory”, “Feelings of Inadequacy Scale”, “Locus of Control”, “Physical Anhedonia” e “Hopkins Symptom Checklist”. As sub-escalas do EDI que avaliam atitudes e comportamentos relativos & comida, peso e forma estavam mais correlacionados com instrumentos que avaliam comportamentos alimentares ¢ dietéticos, enquanto que as sub-escalas que avaliam caracteristicas psicol6gicas apresentavam uma correlagio mais forte com instruments gerais de psicopatologia (Gamer et al., 1983). ‘A validade concorrente foi confirmada no EDI pelo acordo entre os resultados da autoavaliagdo ¢ as avaliagdes clinicas independentes realizadas por terapeutas, variando entre 0,43 e 0,68. ‘Através de uma anélise discriminante verificou-se que as sub-escalas do EDI classificavam correctamente 85% dos individuos anorécticos como pertencentes aos subtipos restritivo e bulimico e que cada uma das 8 sub-escalas do EDI conseguia diferenciar a populagao anoréctica de um grupo comparativo normal (Gamer et al., 1983), Demonstrou-se deste modo que o EDI ¢ um teste fidedigno e valido. Mais recentemente, como ja tivemos oportunidade de referenciar, foi publicado EDI-2 (Gamer, 1991) com mais 27 itens que o inventério original, o que equivale a 59 mais quatro sub-escalas, Actualmente esta medida é composta por um total de 91 itens divididos por 11 sub-escalas. ‘As trés primeiras sub-escalas dizem respeito as atitudes e comportamentos relacionados com a comida e forma corporal: Desejo de Emagrecer (DT): Avalia a excessiva preocupagdo com a dieta e com 0 peso: reflecte 0 desejo intenso de emagrecer, assim como o medo de ganhar peso; Bulimia (B): Indica a tendéncia para episédios de ingestéo compulsiva, ingestio alimentar sem controlo, que poder ser seguida de comportamentos compensatorios para compensar estes episédio, recorrendo por exemplo ao vomito auto-induzido; Insatisfagio Corporal (BD): Reflecte a convicgdo de que partes especificas do corpo, associadas com a mudanga do corpo na puberdade feminina, estéio demasiado largas examina as perturbagées da imagem corporal. ‘As sub-escalas Desejo de Emagrecer e Insatisfago Corporal constituem 0 melhor indicador da possibilidade de posterior desenvolvimento de desordem alimentar (Garner, 1987). ‘As restantes oito sub-escalas contém itens associados a caracteristicas psicologicas clinicamente relevantes para as perturbagdes do comportamento alimentar: Ineficécia (I): Revela os sentimentos de inadequagio geral, inseguranga © 0 sentimento de nfo controlar a propria vida, Reflecte também uma auto-estima negativa; Perfeccionismo (P): Indica expectativas pessoais excessivas em relagdo a realizagao; Mal-estar interpessoal / Desconfianga Interpessoal (ID): Reflecte um sentimento de relutiincia para ter relagdes préximas com os outros; Mal-estar / Consciéncia Interoceptiva (1A): Avalia a falta de confianga em reconhecer ¢ identificar emogoes e sensagdes, nomeadamente de fome e saciedade - dificuldade no reconhecimento de sensagées fisicas; ‘Medo da Maturidade (MF): Mede o desejo de voltar 4 seguranga dos anos de pré- adolescéncia e a recusa das responsabilidades do adulto, i.c., examina a recusa da maturidade psicolégica devido as exigéncias da idade adulta; Ascetismo (A): Avalia a tentativa de procurar virtudes através de ideias espirituais; Regulagio do Impulso (RI)/Impulsividade ([): Reflecte a tendéncia para o abuso de substincias, relacionamento interpessoal destrutivo, impulsividade, negligéncia, hostilidade e comportamento auto-destrutivo; 60 Inseguranca Social (IS): Avalia a crenga de que as relagdes sociais stio tensas, inseguras, pouco gratificantes e pobres em geral. quadro 3 mostra-nos os itens pertencentes a cada uma das 11 sub-escalas. Quadro 4, Itens de cada sub-escalas do EDI-2. Sub-escala Node itens | Itens Desejo de emagrecer 7 1-7-li-16-25-32-49 Bulimia 7 4-3-2838 46-53-61 Tnsatisfagao corporal 9 2-9-1219 31-45-5559 62 Tneficdci io 10-18 —20—24—27-37 41 43-50-56 Perfeccionismo 6 13-29-3643 52-63 Desconfianga interpessoal | 7 15— 17-23 30-34-5437 ‘Mal-estar interoceptivo 10 8-21 -26— 33-40-44 47-51-60 — 04 Medo da maturidade 8 3- 6-14-22 35-39 48-58 “Ascetismo 8 6668-71-75 718-8286 8B Tmpulsividade 8 65-61-10 72-74-7119 Bi 83 - 85-90 Taseguranga social $ @—13— 16-80 8487-89-91 Cada sub-escala deste inventério mede uma caracteristica independente, pelo que a interpretago da cotago total nfo é relevante. No entanto, de acordo com Gamer, (1998) foi demonstrado que individuos com pontuagdes totais elevadas apresentam maior indice psicopatolégico através de outros instrumentos. ‘As respostas so dadas numa escala de 6 pontos que varia entre: sempre, normalmente, frequentemente, as vezes, raramente e nunca. A resposta mais extrema para cada pergunta (sempre ou nunca, consoante a direcgo dada) vale 3 pontos, a resposta imediatamente adjacente, 2 ¢ a seguinte, J. As trés respostas seguintes nfo tém pontuagdo. As respostas so assinaladas numa escala do tipo Likert e a cotagtio varia entre 0 ¢ 3, sendo a pontuag&o maxima referente & sintomatologia agravada. As pontuagdes das sub-escala so a soma de todos os pontos dessa sub-escala especifica. A pontuagéo total méxima corresponde a 3 pontos por cada uma das 91 afirmagées, 0 que corresponderd a um maximo possivel de 273 pontos. Quanto mais clevada a pontuagio mais patolégico. Os 91 itens, escritos sob a forma afirmativa, nao tém respostas certas nem erradas. 61 Procedimento A recolha de dados foi efectuada directamente pelo préprio experimentador, apés contacto prévio com as instituigdes, Universidade do Algarve e Direcgfio do Instituto Superior Dom Afonso III, que se mostraram prontamente receptivos & aplicagtio dos questiondrios. A recolha dos dados foi efectuada entre Novembro de 2005 e Fevereiro de 2006. Os instrumentos foram aplicados de forma colectiva em sala de aula com a autorizagio prévia do docente da disciplina que disponibilizaram parte do seu tempo lectivo. No inicio da aula e, sem aviso prévio aos alunos, o docente apresentou 0 investigador que explicou sumariamente 0 estudo ¢ formalizou o convite para a participagio das estudantes. © auto-preenchimento do protocolo foi entio precedido de uma breve explicagio sobre os objectivos do estudo, a sua liberdade de participar ‘ou no, a garantia de anonimato ¢ confidencialidade dos resultados ¢ da possibilidade dos participantes no estudo poderem ter acesso ao seu sumério de personalidade. Para tal teriam de fixar 0 cédigo do seu questionério colocado no canto superior direito para que quando o investigador voltasse sala, passadas duas a trés semanas, perfil pudesse ser entregue a respectiva aluna. S6 excepcionalmente, em sete casos, os perfis foram enviados por correio, por solicitagdo das alunas. A folha de perfil entregue fez-se acompanhar de uma breve descrig#o de cada uma das dimensdes e facetas das respectivas normas da populago portuguesa encontradas por Lima durante a aferigao do instrumento (Anexo E). O critério de selecgfio das turmas teve por base a maior concentrago de alunos do sexo feminino nessas aulas e a durago superior das mesmas, de forma a facilitar o preenchimento completo dos trés questiondrios dada a sua extensio. ‘Apés 0 seu consentimento verbal e passando a patticipagao dos sujeitos pelo preenchimento de questionérios. Iniciou-se a aplicagao dos instrumentos, procedendo pontualmente ¢ individualmente ao esclarecimento de diividas relativas 4 forma de preenchimento dos questiondrios, ou ao assim como aos itens dos mesmos. Os jinstrumentos foram aplicados segundo uma ordem de aplicagio contrabalangada (de acordo com Lima, 1997): a aproximadamente metade dos sujeitos foi aplicado em primeiro lugar 0 NEO-PI-R, seguindo-se o EDI-2 ¢, a 62 aproximadamente outra metade, a ordem foi inversa. O tempo dispendido por cada sujeito para a execusao desta tarefa foi, em média, 60 minutos Terminada a fase de recolha de dados junto da populagdo da nossa amostra, seguiu-se a cotagio do NEO-PI-R, do EDI-2 e a sistematizagtio da informago contida no questionério de caracterizagio. O tratamento e anélise dos dados foi a fase metodolégica seguinte, Para tal recorremos A anilise descritiva dos dados, A anilise corelacional (Coeficiente de Pearson) ¢ ao Teste de Student. Com o objectivo de organizar, apresentar ¢ interpretar os dados recolhidos, efectuou-se uma andlise estatistica recorrendo ao programa informatico SPSS 14.0 (Statistical Package for the Social Sciences). RESULTADOS Tendo em consideragio os objectivos deste estudo, procedemos a uma analise descritiva dos dados, para caracterizar a amostra do ponto de vista antropomeétrico quanto a questées relativas & pritica de dieta e A sua satisfag&o com 0 corpo; a uma andlise de correlagao r de Pearson, com o intento de averiguar o tipo € 0 grau de associagdo entre as variiveis e; por ultimo, utilizamos o Teste de Diferenga de Médias para verificar a existéncia de diferengas ao nivel das condutas alimentares de acordo com a idade, IMC, panico de engordar e adopgdo ou nfio de comportamentos de dieta para perder peso. Estatistica Descritiva Na totalidade da nossa amostra observamos que 0 valor mais baixo do peso minimo, considerando os dois grupos etarios (17-20 e 21-30) foi igual. O valor mais elevado do peso minimo foi ligeiramente inferior no grupo etario mais velho (Tabela 1. Tabela 1. Valores das estatisticas descritivas para o peso minimo e peso méximo, considerando o grupo etério. re ade 21 anos, >= 21 anos Peso Peso Peso. Peso rminimo mimo __einimo ___ maximo rr oe Minimo 38,00 4300 38,00 45,00 Maximo 8600 108.00 «82,00 95,00 Média 5282 ona saat 63,14 ae 748 942 750 9.90 Excepcionalmente neste contexto realizimos um teste Student para a diferenga de médias (grupos dependentes) com 0 objectivo especifico de verificar se existiriam diferengas entre 0 Peso Actual ¢ o Peso Ideal (0 que gostaria de pesar). Pudemos constatar que existem diferengas estatisticamente significativas (p<0,00). As participantes gostariam de pesar menos do que na realidade pesam (Tabela 2). Tabela 2. Teste t-Student, estatisticas do teste para os valores do peso actual e peso ideal. Peso aciual- Peso idea! Weiaaioena SSOS~—SS~ Desvie Paco 856 Méta do Peso Peso actual 57,85 Peso ideal 53,52 ‘ a7 a $7700 P 00 ee Foram recolhidos dados de modo a caracterizar a amostra relativamente & condiggio fisica. Procedemos ao calculo do indice de Massa Corporal (IMC = peso / (altura)*, que nos indica se um adulto, de acordo com a sua altura, se encontra acima, ‘ou abaixo do peso ideal considerado saudavel. No ambito das perturbagdes do comportamento alimentar, a avaliag&io do IMC assume mesmo o cardcter de critério de diagnéstico. Apresentamos na Tabela 3 os valores de referéncia para o indice de Massa Corporal de acordo com a Organizagiio Mundial de Satide (OMS). Tabela 3. Valores referenciais do IMC de acordo com a OMS. Condigio IMC em adultos ‘Abaixo do peso abaixo de 18,5 Peso normal entre 18,5 625 ‘Acima do peso centre 25 © 30 ‘Obeso ‘acima de 30 ‘daptado de Carmo, 2000 ‘A média do IMC dos participantes foi de 21,48, com um desvio padi de 3,07 um intervalo de confianga a variar entre os 21,04 ¢ os 21,92; um valor minimo de 15,62 e um valor maximo de 37,22. 65 © IMC analisado em fungao do grupo etério mostrou que existem diferengas estatisticamente significativas entre os dois grupos com f757=-2,10; p = 0,04. O grupo mais jovem apresentou um valor médio de 21,03 com um desvio padrao de 2,73 © um intervalo de confianga para a média (a 95%) a variar entre os 20,49 e os 21,58; um valor minimo de 15,62 e um valor maximo de 30,11. Em contrapartida o mais velho apresentou um valor médio ligeiramente superior de 21,96 com um desvio padrio de 2,73 ¢ um intervalo de confianga para a média (95%) a variar entre 08 21,26 e os 22,66; um valor minimo de 16,36 e um valor maximo de 37,22. A Figura 6 representa 0 grifico de extremos e quartis para a distribuigo do IMC por grupo de idade. 1020 35004 x000-+ oe g 25004 2000+ 1500-4 <24 anos >= 21 anos Figura 6. Representagiio dos extremos e quartis para o IMC por grupo etério. ‘A média do IMC na globalidade da amostra, considerando os cursos de licenciatura, mostrou-se ligeiramente superior na licenciatura de gestio ¢ farmadcia (Tabela 4) mas da comparagdo dos grupos formados pelas licenciaturas no se observaram resultados estatisticamente significativos (Fs,1¢0 = 1,05; p = 0,40), nao existindo diferengas entre os grupos quanto ao IMC. Tabela 4. Estatfsticas descritivas para o IMC de acordo com licenciatura, wc curso, Ciencias da Gest __Psicalooia_Educagio_Orloprotssia_Disitica Farmacia Mec a Intervalo do Lite inferior 298 mez 1888181 2000888 ‘confianga para a superior aaa moo 7B 23t7 8882877 zee 270 moze 2882045 20,20 Desvio Pedro 236 3.05, 328 3.09 290 4.30 Mnimo 19291562 77B 18258 Maio 2785 s722 288580 2BNG 8,1 & nS, Quanto A questi : “Sente-se bem com o seu corpo”, 56,3% (n=107) diz, sentir- se bem com o seu corpo (Tabela 5). Tabela 5. Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente & questo: “Sente-se bem com o seu corpo?” t % % Sir 07 ws we No e 42 6 Tota 109 995 1000 No resposta 1 5 Total 10 1000 Relativamente a questo: “Acha-se gorda?”, podemos verificar que das jovens que responderam, 73,3% responden que se acha gorda. No entanto, na globalidade da amostra esse valor passa para 34,7%, uma vez que 100 jovens ndo responderam a esta questiio (Tabela 6). 67 ‘Tabela 6. Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente & questiio: “Acha-se gorda?”. el t % * Sin 6 3a 7s Nao m 26 2e7 oval %0 aa 100.0 No resposta 100 26 Total 180 100.0 Quanto questo: “Acha gorda alguma parte do seu corpo?”, a maior parte das jovens considera gorda alguma parte do seu corpo (73%), Tabela 7. Tabela 7. Valores de frequéncia (f) observada e valor percentual (%) relativamente & questo: “Acha gorda alguma parte do seu corpo?”. ft * % Sin 1 Tat 735 Nao 50 268 zr Tots 107 204 1000 No rosposta 3 18 Total 190 1000 Quando a questiio é: “Acha-se magra?”, a resposta parece ser conclusiva. A grande maioria respondeu que ndo. Assim da totalidade das respostas obtidas, 91,6% respondeu negativamente (Tabela 8). Tabela 8. Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente 4 questo: “Acha-se magra?”. ee t % % Sem T aT aa Nilo 7 400 ors. Total 83 4a7 100.0 do resposta 107 663 Total 190 100.0 Ne, ae 68 Quanto a questdo: “Jé fez dieta para perder peso?”, 45,3% respondeu que sim (Tabela 9). Tabela 9, Valores de frequéncia observada (/) e valor percentual (%) relativamente & questiio: “J4 fez dieta para perder peso?”. t % Sim 6 ws Nao 108 ea Total 190 100.0 ee Na Tabela 10 siio apresentadas as respostas recolhidas quanto vivéncia de amenorreia aquando da perder de peso. A maioria das respostas foi negativa (apenas 157 sujeitos deram respostas validas), 93,5% das respostas vilidas foram negativas, pois 22 participantes no responderam a esta questio. Tabela 10. Valores de frequéncia (f) observada e valor percentual (%) relativamente a presenga de “amenorreia ”. 1! % % Sn 7 3 35 Nao 187 6 935 Total 168 eae 100.0 ‘Nao resposta 2 ne oval 100 +1000 No momento da recolha dos dados 24 jovens responderam que estavam nesse momento a fazer dieta para perder peso (12,6%) (Tabela 11). ‘Tabela 11. Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente & questio: “Faz actualmente dicta para perder peso?” ee f % ‘Sin ca 728 io 168 ora Tota! 190 1000 69 Quando consideramos as respostas A questiio: “Faz dieta actualmente para perder peso?” e os dois grupos etatios, verificémos que no existem diferencas estatisticamente significativas entre os dois grupos quanto a resposta dada (" 1; os 1,09; p > 0,05), 0 que significa que em ambos os grupos os valores observados para a resposta sim ou ndo, nao diferem. Tabela 12. Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente & questio: “Faz actualmente dieta para perder peso?” considerando o grupo etdiio. Far Gita actualmento? Sim Nao Total Tage <2tanos 7 5 = 700 % lade 15.0% 85.0% 100,0% >eDienes ° cr 30 1% dade 10.0% 90.0% 100,0% Total 7 7m 168 730 Ida 126% 87.4% 100,0% ‘Tendo em consideragio 0 IMC e as respostas & questo: “Faz dieta actualmente para perder peso?”, podemos verificar que existe uma independéncia entre os valores do IMC e a resposta dada a questiio supracitada (77 1;09s= 0,99; p > 0,05). ‘Tabela 13. Valores de frequéncia observada (f) e valor percentual (%) relativamente A questo: “Faz actualmente dieta para perder peso?” considerando o IMC. Faz deta actualments? Sm No Total Sa oo 1 Indice de massa 1 corporal a a6 91.7% 00.0% veers 7 rn) 72 7 6 Indice de massa mm = 13.9% 88, 100,0% Dies? 2 6 7 pe 14% 50% 100,0% corpora aor — 7 ee 25.0% 750% 000% comport Toul 7 Ey co 7 oe 127% 73% = 100.0% 70 Na resposta 4 questo: “Tém panico de aumentar de peso?”, 54% das jovens assinalou que sim (Tabela 14). ‘Tabela 14. Valores de frequéncia (/) observada e valor percentual (°%) relativamente & questi: “Tem pénico de aumentar de peso?”. —————e ft % % Sir TE BT a No "7 458 480 Tot! 180 oo ‘000 No repost 1 5 Total 10 1000 Da anilise de independéncia entre 0 IMC e a questio supramencionada 1,25; p < 0,01). Podemos analisar a sua associagio através do Coeficiente V de Crimer, que verificou-se que as duas varidveis nao sdo independentes (77° 1; 09> revelou um valor de 0,24. Existe associagio, embora fraca. Da anélise de frequéncias apresentada na Tabela 15 podemos inferir que as jovens com um IMC entre os 25,1- 30 so aquelas que denotam maior pinico de aumentar de peso (77,8%) logo seguidas das jovens com IMC igual ou superior a 30 (75,0%). Tabela 15. Valores de frequéncia observada (f) ¢ valor percentual (%) relativamente 4 questo: “Tem pénico de aumentar de peso?” considerando 0 IMC. —wre—_e— orp seumeniay ot Set eee ST 7 7 = =, Sinscocemeneacomirl any Taek S000 Te Mende mansoni saa ash tt Sa indemasincore ray zag 100.0% I t . ‘ ‘ ee ‘lnc de massa corpora! 43% 457% 100.0% Se mn Anilise correlacional A anilise dos valores totais do EDI-2 nao € aconselhada pelos autores deste inventério, uma vez que todas as sub-escalas foram construidas de forma independente. Deste modo, tivemos em consideragiio os valores médios nas 11 sub-escalas do EDI-2, onde verificémos que a sub-escala BD (Insatisfagéio corporal) revelou um valor médio mais elevado (8,08) que todas as outras. Tendo a sub-escala B (Bulimia) apresentado o valor médio mais baixo (0,87) de todo o instrumento. Tabela 16. Valores médios das 11 sub-escalas do EDI-2 na amostra. N Mésia_—_Deevio Padto a 8 190 ar 2.03 80 190 8.08 12 1 190 236 316 P 180 359 0 190 2ar 285 a 190 248 320 MF 190 4st 286 a 190 267 195 ® +90 261 378 ‘Nota: NV = Némero de participantes. DT - Desejo de emagrecer; B - Bulimia; BD - Insatisfacio corporal; I - Ineficdcia, P - Perfeccionismo; ID - Desconfianga interpessoal; IA - Consciéncia interoceptiva; MF - Medo da maturidade; A - Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranga social. Quando estud4mos os valores médios nas varias sub-escalas do EDI-2 e os diferentes escaldes de IMC, pudemos observamos uma correlagio significativa (nivel 0,05) entre a sub-escala BD (Insatisfagao corporal) e o IMC igual ou inferior a 18,5, com r (24) = 0,43. A variancia explicada da correlagiio encontrada foi de 18,4% (Tabela 17). R Tabela 17. Valores de correlagées entre as 11 sub-escalas do EDI-2 e os sujeitos com IMC igual ou inferior a 18,5. IMG <=185 r 2 N or B 2 Ey B 3 m 28 8D Ast 4 2 1 15 48 2 P =A. 85 24 D 14 53 4 "a 32 a3 24 Me =08 7 4 A 7 B ca R a4 st 2 sl aT or 24 Nota: + = Coeficiente de Pearson; p = probabilidade de significdncia bilateral * = correlagéio significativa para um nivel de 0,05; N= Nimero de participantes com IMC menor ou igual a 18,5. (DT - Desejo de emagrecer; B - Bulimia; BD - Insatisfagio corporal; I - Ineficécia, P - Perfeccionismo; ID - Desconfianga interpessoal; IA - Consciéncia interoceptiva; MF - Medo da ‘maturidade; A - Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranca social). Na Tabela 18 apresentamos os valores da correlagiio entre as sub-escalas do EDI-2 € o IMC superior a 18,5. Podemos salientar duas correlagées positivas e fracas entre 0 IMC (superior a 18,5) e as sub-escalas: DT (Desejo de emagrecer) ¢ BD (lnsatisfagio corporal), com valores de correlagdo de r (167) = 0,23 e r (167) = 0,40, respectivamente. Tabela 18. Valores de correlagdes entre as 11 sub-escalas do EDI-2 ¢ os sujeitos com IMC superior a 18,5. IMC >165 ——_—_.__+_____ oT B x} 77 8 a2 2 167 =D 0 00 187 ' 06 ar 167 P “01 ! 167 » 08, 8 187 a o = 167 Me 3 mn 187 A 06 a 167 ® 0 8 187 st ot 3 107 Nota: r = Coeficiente de Pearson; p = probabilidade de significéincia bilateral; correlagio significativa para um nivel de 0,01 (érea sombreada); N= Numero de participantes com IMC superior a 18,5. 73 Da anélise do coeficiente de Pearson entre os valores menores ou iguais a 18,5 de IMC podemos concluir que apenas ha a registar uma correlagdo significativa entre a dimensio Conscienciosidade ¢ 0 IMC com um valor de r (24) = -0,41 (varianeia comum de 16,6%) (Tabela 19). Tabela 19. Valores de correlagdes entre as Dimensdes do NEO-PI-R e o IMC para sujeitos com valores menores ou iguais a 18,5. t Pp N ‘Neuroticismo 08 69 2 Extroversao 15 48 24 Abertura a experiéncia aM 61 24 ‘Amabilidade “24 32 24 Conscienciosidade oAtt 05 24 ee Coeficiente de Pearson; p = Probabilidade de significincia bilateral *correlagio significativa \imero de participantes com IMC (indice de massa corporal) menor ou Nota: para um nivel de 0,05; igual a 18,5. Em contrapartida nao encontrémos valores de correlagdo significativos entre as jovens com IMC superior a 18,5 ¢ as dimensOes do NEO-PI-R (Tabela 20). ‘Tabela 20. Valores de correlagdes entre as Dimens6es NEO-PI-R ¢ 0 IMC para os sujeitos com valores superiores a 18,5. IMC> 18.5 r P N Neuroticiemo 04 20 167 Extroverso -04 a7 167 Abertura & experiencia 08 32 167 Amabilidade 09 6 167 Conscienciosidade -08 at 167 I Nota: r = Coeficiente de Pearson; p = probabilidade de significdncia bilateral; N = nimero de participantes com IMC (indice de massa corporal) superior a 18,5. © coeficiente de correlagiio de Pearson para 0 EDI-2 e as cinco dimensdes NEO-PLR, revelou trés correlages significativas para um nivel 0,01 (Tabela 21). Verificémos uma correlagio positiva forte entre 0 EDI-2 e a dimenstio Neuroticismo, com um valor do coeficiente de correlagio de r (190) = 0,59. 4 Entre o EDI-2 e as dimensdes Extroverséo e Conscienciosidade podemos assinalar ‘uma correlagdo negativa fraca, de r (190) = - 0,36 er (190) = -0,31, respectivamente. Tabela 21. Valores de correlagées entre o EDI-2 ¢ o NEO-PI-R. 5S Eating Disorders Inventory (ED!) r Pp N Neuroticismo 8 00 790 Extroversio -36 00 190 ‘Abertura & experiéncia 1 15 190 Amabilidade 03 cc 190 Conscienciosidade -31 00 190 ple ‘Nota: r = Coeficiente de Pearson; p = Probabilidade de significdincia bilateral; correlagio significativa para um nivel de 0,01 (rea sombreada); V = Namero de participantes. O coeficiente de correlacdo de Pearson, entre as cinco dimensdes do NEO-PI-R ¢ as 11 sub-escala do EDI-2 mostrou a presenga de correlagdes significativas (nivel 0,01 € ao nivel de 0,05). A dimensiio Neuroticismo apresentou correlagées positivas com todas as sub- escalas do EDI-2. Salientamos as correlagdes moderadas, com as sub-escalas I (Ineficdcia) com um valor de r = 0,55, IA (Consciéncia interoceptiva) com um valor de r = 0,49, IR (Impulsividade) com um valor de r = 0,41 € com a sub-escala SI (Inseguranga social) com um valor de r = 0,4. A dimensio Extroverséio apresentou correlagées negativas com todas as sub- escalas do EDI-2, excepgtio com a sub-escala B (Bulimia correlag6es negativas moderadas; com a sub-escala I (Ineficicia) com um valor de r = -0,48, a sub-escala ID (Desconfianga interpessoal) com um valor de r = -0,58 com a sub-escala $I (Inseguranga social) com um valor de r = -0,46. Destacamos trés ‘A dimensio Abertura a experiéncia apresentou uma correlagiio positiva, muito baixa, com a sub-escala B (Bulimia) (r = 0,1) ¢ quatro correlagdes negativas, todas 0,13), ID (Desconfianga 0,17) e com a sub-escala A clas muito fracas com as sub-escalas I (Ineficdcia) (r interpessoal) (r = -0,28), MF (Medo de maturidade) ( (Asceticismo) (r= - 0,14). ‘A dimensio Amabilidade apresentou trés correlagdes, muito baixas; duas negativas, com a sub-escala P (Perfeccionismo) (r = -0,21) e a sub-escala IR 15 (Impulsividade) (* = -0,19) e, uma positiva, com a sub-escala MF (Medo da maturidade) com um valor de r = 0,13. Por ultimo a dimensio Conscienciosidade apresentou correlagdes negativas fracas © muito fracas com todas as sub-escalas do EDI-2, excepto com a sub-escala, P (Perfeccionismo), onde verificémos uma correlagdo positiva, embora também muito fraca. Esta dimensio apresentou correlagbes negativas fracas com a sub- 0,32), BD (Insatisfagéio corporal) (r = - 0,24), I (Ineficécia) (r = - 0,35), IA (Consciéncia interoceptiva) (r = - 0,26) IR (Impulsividade) (r = - 0,26) (Tabela 22). escalas B (Bulimia) (r Tabela 22. Valores de correlagdes entre as 11 sub-escalas do EDI-2 ¢ as cinco dimensdes do NEO-PI-R. —EEE Te Rooruraa Neuwoticemo Extoverséo ‘Amablidade Conecioncosidade ex exverincia rr 7 cy “oT 00 so ry or P 0 Br 97 £2 10 7 a 08 70 “97 3 p 20 20 35 4 03 ‘Nota: 7 = Coeficiente de Pearson; p= probabilidade de significancia bilateral, correlacao significativa para um nivel de 0,01 (Grea sombreada) c com asterisco (*) as correlagbes significativas a um valor de alfa de 5% (DI - Descjo de emagrecer; B - Bulimia; BD - Insatisfagio corporal; 1 - Incficécia, P - Perfeccionismo; ID - Desconfianga interpessoal; IA - Consciéncia interoceptiva; MF - Medo da ‘maturidade; A - Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranga social). 76 Para um estudo mais detalhado, procedemos & andlise das correlagdes entre as 11 sub-escalas do EDI-2 e cada uma das facetas que compdem as cinco dimenséo do NEO-PER. © coeficiente de correlagio de Pearson entre as facetas da dimensio Neuroticismo e as 11 sub-escala do EDI-2 mostrou a presenga de correlagdes significativas (nivel 0,01 e ao nivel de 0,05). Verificdmos uma correlagao positiva, moderada, entre a sub-escala B (Bulimia) ea faceta NS (Impulsividade) com um valor do coeficiente de correlagio de r = 0,42. ‘A sub-escala I (Ineficécia) apresentou trés correlagdes positivas, moderadas com as facetas N3 (Depressiio) com um valor do coeficiente de r = 0,59, N4 (Auto- consciéncia) e N6 (Vulnerabilidade), r = 0,49 e r = 0,53, respectivamente. ‘A sub-escala IA (Consciéncia interoceptiva) apresentou correlagdes positivas ,51) ¢ N6 (Vulnerabilidade) (r = moderadas com as facetas N3 (Depressio) (r = 0,46), ‘A. sub-escala IR (Impulsividads) apresenton uma correlago positiva, moderada, com a faceta N2 (hostilidade) (r = 0,43). E por titimo, a sub-escala SI (Inseguranga social) apresentou correlagdes positivas, moderadas, com as facetas N3 (Depressio) com um valor de correlagao de = 0,42 e N4 (Auto-consciéncia) com um valor de r = 0,40 (Tabela 23). 7 Tabela 23. Valores de correlagdes entre as sub-escalas do EDI-2 e as facetas da dimensao Neuroticismo do NEO-PI-R. ‘Aneiedade Hostidade Depressso 7 ae oe Es or op 03 zB 0 N 190 190 190 7 2 ae zB a op om 8 0 N 100 190 199 190 190 120 7 a 73 a cy a = BD p 00 on r) 09 90 0 N 190 190 19 190 180 190 7 2 = o “5 er ee Pe 00 0 0 00 on 00 N 120 190 190 190 190 180 7 ae ZB 2 74 “08 a Poop o 0 on 05: 68 2 N 190 199 190 190 190 190 7 72 B = % =08 2s Dp 0 0 00 00 40 00) N 190 199 190 190 190 190 7 Eo a a cy B ry wp 00 0 0 00 0 00 N 190 190 190 190 190 190 7 ae 70 a 28 rc a MF op 02 15 0 90 ar rc) N 100 190 190 190 190 190 7 Ec} 8 @ a 73 ey Ap on oO 00 0 08 90 N 180 190 190 190 190 190 7 @ s = a a = Roop 0 00 0 09 00 0 N 190 190 190 190 190 190 7 a z oy 20 cy cy sip 0 0 0 00 BA 0 N 190 190 10 190 190 +00 eS Nota: r = Coeficiente de Pearson; p = probabilidade de significéincia bilateral; correlagio significativa para um nivel de 0,01 (rea sombreada); * probabilidade de significdncia bilateral; correlagio significativa para um nfvel de 0,05; N'= Nimero de participantes. (DT - Desejo de emagrecer; B - Bulimia; BD - Insatisfagdo corporal; 1 - Ineficécia, P - Perfeccionismo; ID - Desconfianga interpessoal; IA - Consciéncia interoceptiva; MF - Medo da maturidade; A - Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranca social). No que diz respeito as facetas da dimensio Extroversio e 0 Comportamento ‘Alimentar, observamos uma correlag&o negativa moderada entre a sub-escala I (Ineficécia) e a faceta E6 (Emogées Positivas) (r = -0,47). 78 A sub-escala ID (Desconfianga interpessoal) apresentou de igual modo correlagées negativas, moderadas, com as facetas E1 (Acolhimento caloroso) (r = - 0,57), E2 (Gregaridade) (r =-0,45), E3 (Assertividade) (r =-0,42) ¢ E6 (Emoges 0,45). ‘A sub-escala SI (Inseguranga social) apresentou no mesmo sentido correlagdes negativas, moderadas, com as facetas E1 (Acolhimento caloroso) (r = -0,48), E2 (Gregaridade) (r = -0,44) e E6 (Emog6es positivas) (r= -0,43). positivas) (r Tabela 24, Valores de correlagdes entre as sub-escalas do EDI-2 e as facetas da Extroversdo do NEO-PI-R. ‘Acahimento Prosua Emotes Caboose Gregeriedace _Ascertvidade _Actividade __exclacdo__postvas 7 oe =O = 46 9 38 a 92 o N 190 190 +00 190 100 190 @ 7 “6 7 “ae =e p 00 00 0 00 00 N 190 120 180 190 190 w 7 “aT 730 oy a4 =08 e 00 po o 0s 2 0 N 180 190 120 180 +00 190 We Te “2 210 a ~B e 3 78 a8 0% 0 N 180 180 190 190 100 a r oT ae =e" 710 =10 ry e 2 om on a8 45 ” N 190 180 190 100 100 190 mr “2B =10 <0 20 7 “ae e 90 a6 se 98 38 0 N 190 120 10 190 180 +90 ar oe 7 =30 “08 720 7 e 0 90 00 st 90 po N 190 190 190 10 190 100 19 Nota: r= Coeficiente de Pearson; p = probabilidade de significdncia bilateral; correlacao significativa para um nivel de 0,01 (érea sombreada); * probabilidade de significdncia bilateral -correlagio Significativa para um nivel de 0,05; N= Nimero de participantes. (DT - Desejo de emagrecer; B - Bulimia; BD - Insatisfagio corporal; 1 - Ineficécia, P - Perfeccionismo; ID - Desconfianga interpessoal; IA - Consciéncia interoceptiva; MF - Medo da ‘maturidade; A - Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranga social). No que diz respeito as facetas da dimensio Abertura 4 experiéncia do NEO-PI- Reas 11 sub-escala do EDI-2 verificou-se que as relagdes lineares entre as variaveis consideradas (Tabela 25) para um nivel de significdincia de 0,01 e de 0,05, mostraram valores de correlagdio fracos muito baixos. Contudo, podemos salientar a comelagéo positiva entre a sub-escala B (Bulimia) ¢ a faceta Ol (Fantasia); as correlagdes negativas entre da sub-escala ID (Desconfianga interpessoal) € as facetas O1 (Fantasia), 03 (Sentimentos) ¢ O4 (Acgses) ¢ as correlagdes negativas entre a sub-escala A (Ascetismo) ¢ a faceta O4 (Acgdes). 80 ‘Tabela 25. Valores de correlagdes entre EDI-2 e as facetas da Abertura a experiéncia do NEO-PER. er a nT RSE Foriasa Estética _Senlimentos Acres Ideia_Valores, Fantasia sttica_ Sentinenies ho oF 7 o o7 oT OSS P 4 at 89 88 88 N 190 190 190 190 190190 B 7 a mT oO > 00 0 15 8 38 N 180 190 180 19 190 190 a 7 ee cm p 0 as 4 o ST st N 199 190 190 190190 190 TTT oF ee OT » cy 7 on oot ot N 0 190 190 190190190 D 7 <05 «8 eC p 3 “ 28 ~ 80 05 N 190 100 190 190 190190 wo 7 aa 38 rr a e 90 on 0 mo 8 = N 190 190 y90 190190 190 « 7 wae a - 33 09 st a 90 N +90 180 190190100 190 8 =05 » 4 as 08 ot ar N 190 190 190 190 180 100 x 7 708 05 Ta p 38 0 mo a2 ca N 190 190 190 190 180 ® 7 2 rn 0 p so “4 8 2 AS 95 N 190 190 10180190 19 a a a - 28 2 3 3 88 5 N 120 190 190190190 199 Nota: r= Coeficiente de Pearson; p = probabilidade de significineta bilateral; comelagi significativa ara um nivel de 0,01 (Grea sombreada); * probablidade de sigifictncia bilateral - correlagtio Eignificativa para um nivel de 0,05; NV = Nimero de participantes. (br = Dessjo de emagrecer, B - Bulimia; BD ~ Insatisfacio corporal Incficdcia, P - O' conienos TD - Desconfianga interpessoal; IA - Conseiéncia inteoceptiva; MF - Medo da uaturidade; A ~ Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranga social) No que diz respeito as facetas da dimensio Amabilidade do NEO-PI-R e ds 11 sub-escala do EDI-2 verificdmos algumas correlagbes, quer positivas, quer negativas, embora apresentando sempre valores de coeficiente fracos ¢ muito fracos. No 81 entanto, destacamos as correlagdes negativas entre a sub-escala I (Ineficécia) ¢ as facetas Al (Competéncia) ¢ AS (Auto-disciplina) e; entre a sub-escala SI (Inseguranga social) e a faceta Al (Competéncia). Tabela 26. Valores de correlagdes entre as sub-escalas do EDI-2 e as facetas da Amabilidade do NEO-PI-R. Sn mniero Conpetncs—Hosinte__ Seeticoe 7 =10 72 0 oa “8 = P 18 10 98 5 8 02 N 190 190 190 190 190 190 @ 7 “08 o =08 v8 a » 0 “2 2 ov sr 3 N 190 190 190 190 190 190 oF w ar 04 05 08 “a0 P 7 2 81 “8 2 49 N 190 190 190 190 190 7 7 20 ai 7 Bt “a2 p 2 o a 33 0 at N 190 190 190 190 190 190 ? 7 aT =06 oH a7) =a e 2 38 00 05 a N 190 190 190 190 D 7 08 or B =A0 P 2 32 00 18 N 190 190 190 w 7 =a 08 =08 72 P 08 2 18 a 8 N 190 190 190 190 120 190 we =05 or =08 0 at 08 e 48 2 2 a9 0 a N 190 190 +90 190 190 180 * 7 “08 1 <8 “06 70 = P 73 04 Py a“ 16 83 N 190 +90 190 190 190 RS a = 8 “7 P o a 4 as 08 N 190 190 +90 190 +190 ai 7 —ae cry =20 06 2B “or p o 08 00 a 0 at N 100 190 190 190 190 190 Nota: r= Goeficiente de Pearson; p = probabilidade de significancia bilateral; correlagSe significativa para um nivel de 0,01 (érea sombreada); * probabilidade de significdncia bilateral -correlacao Sinficativa para um nivel de 0,05; N= Niimero de participantes, (DT - Desejo de emagrecer, B - Bulimia; BD - Insatisfasso corporal; I - Ineficécia, P - (oe accivnismo; ID - Desconfianca interpessoal; 1A - Consciéncia interoceptiva; MF = ‘Medo da naturidade: A ~ Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranga social). 82 No que diz respeito as facetas Conscienciosidade podemos referenciar algumas das relagbes encontradas. Realgamos os valores do coeficiente de correlagao negativos entre a sub-escala Ineficécia (1) ¢ as facetas C1 (Competéncia) (r= -0,48) € C5 (Auto-disciplina) (r = -0,42). Uma outra conexao importante nesta anélise refere- se A relagdo entre a sub-escala SI (Inseguranga social) ¢ a faceta C1 (Competéncia) com um valor de r = -0,40 (Tabela 27). ‘Tabela 27. Valores de correlagdes entre EDI-2 ¢ as facetas da Conscienciosidade do NEO-PLR Obecéncia Competéncia _Ordem __aodever_Reaizagéo __Auto-. —8 soe “08 =08 we ry p 0 st 2 “0 ot a N 190 190 190 180 190 190 a “a8 =08 =28 =08 Tae ae Pe 0 2 0 53 0 ry N +80 190 190 180 190 190 we ae rc ae ar] =a =a » o1 6 4 or 00 oy N 120 190 190 190 180 190 xr “ar ToT 2 = ar) 18,5 Desvio Desvio t ol e N___ Média Padiéo ON Média Pesto Tost iis 185 (Oo NAT 2808185982083 or 158 185 m2 488 388 858.88 44 8 et 185 A A 225185 85 202, 8D 303185 mo 8858815 720 1 “3 185 A 2M 2d 85,88 328 P 185 ee ee 383 r sor 185 2 805 8081854. 260 ” 28185 mm 2a 8h 165 (246 322 Me -83 185 A 395285185487 397 A 148 185 4 e205 TS 201 R m2 185, ne st 2185 eas TB 18508 ‘Nota: t= Estatistica do teste; g/ = Graus de liberdade; p = Probabilidade de significdncia; N ~ Nimero de participantes. (DT - Desejo de emagrecer; B - Bulimia; BD - Insaisfasdo corporal I - Ineficdcia, P c perfeccionismo; ID - Desconfianga interpessoal; 1A - Consciéncia interoceptiva; MF - Medo da ‘aturidade; A - Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranga social). Para a questo sobre 0 piinico de aumentar de peso realizamos um teste comparativo, /-Student, entre os dois grupos formados pelas respostas: Sim e Ndo, relativamente ao total do EDI-2 e suas sub-escalas Tabela 30. O teste revelou um valor de probabilidade de significdncia unilateral inferior ao valor de alfa considerado para as seguintes varidveis: total do EDI-2 (total), DT, B, BD, |, IA, MF ¢ SI. Podemos concluir, para uma probabilidade de erro (tipo 1) de 5%, que ha evidéncias estatisticas significativas de que os dois grupos diferem no que diz respeito ao valor médio. Pelas estatisticas dos grupos apresentados na mesma Tabela 30 podemos referir que 0 grupo que revelou panico de aumentar de peso, mostrou também valores médios para as varidveis referidas anteriormente, superiores ao grupo que nfo revelou medo de aumentar de peso. 86 Tabela 30. Teste #- Student ¢ valores das estatisticas descritivas do EDI-2 em dois grupos “Sim e “Nao” quando A pergunta o piinico de aumentar de peso. Leone eee eet EEE TT TT Tra Eestatisteas: Grupo Sim Estalistoas: Grupo NSO Desvio Desvio tt pp _N__Méla__—Paro__—N__Méia_Padro Toe gon 107 00 0248.18 2524 8727.40 15.48 oT 790 187 00 02848 sx 8778 ast 8 343 18700 1021.3 253 «87 8 8D 651 187 00102 «10.98 700 87482 572 1 261 187 ot 102,291 365 871,72 2.50 P 47 ak 048 am aT 82 337 0 1e7 5310289 25087 2.04 a 187 102325 383 871860 Me 187 102 527 4a0 8387 A 187 02 281 22587282 R 4187 102 2,87 426 aT 210 si 187 102 e7__357 ‘Nota: 1 = Estatistica do teste; g/ = Graus de liberdade; p = Probabilidade de significéncia; de participantes. {DT - Desejo de emagrecer; B - Bulimia; BD - Insatisfagio corporal; I~ Ineficacia, P- Perfeccionismo; ID - Desconfianga interpessoal; IA - Consciéncia interoceptiva; MF - Medo da maturidade; A - ‘Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranga social). Para a questiio “Faz dieta actualmente?”, a aplicagao do t-Student para o valor médio de dois grupos independentes, formados pelas respostas: Sim e Nao, relativamente ao total EDI 2 ¢ suas sub-escalas os resultados so apresentados na Tabela 31. O teste revelou um valor de probabilidade de si valor de alfa considerado para as seguintes variaveis: EDI-2 (total), DT, B; BD, I, IA, gnificdncia unilateral inferior a0 'A, Re SI. Podemos concluir, para uma probabilidade de erro (tipo 1) de 5%, que existem evidéncias estatisticas significativas de que os dois grupos diferem no que diz respeito ao valor médio. ‘Através das estatisticas dos grupos apresentados na mesma Tabela 31 podemos referir que o grupo que se encontra a fazer dieta, mostrou valores médios superiores nas variaveis referidas. 87 Tabela 31. Teste t- Student e valores das estatisticas descritivas do EDI-2 em dois grupos “Sim e “Nao” a questo: “Faz dieta actualmente?” Estatstioas do Grupo: Sim Eeuatisteas do Grupo: Pedro Tse or one B 297 BD 440 ' 330 Pe 430 0 t2t a aat Ne 8 A 284 R 323 st 3.43 ‘Nota: t= Estatistica do teste; g/ = Graus de liberdade; p = Probabilidade de significancia; de participantes. (DT - Desejo de emagrecer; B o 18 188 188 108 108 188 108 108 108 108 108 188 A N__ Meda 0 HTS 99 2 1004 (0 28 = 2.00 13,79 mo AZ 2 488 2h (8.08 0 450 4 e487 mart ATO 0 28804 31,58 554 287 601 518 3.88 3at 483 521 268 64 495 N 466 168 166 166 106 168 168 166 166 168 166 166 N= Naimero - Bulimia; BD - Insatisfagéo corporal; I - Ineficécia, P- Perfeccionismo; TD - Desconfianga interpessoal; 1A - Consciéncia interoceptiva; MF - Medo da maturidade; A ~ ‘Ascetismo; IR - Impulsividade; SI - Inseguranga social). Depois da apresentagio dos resultados, iremos no capitulo seguinte proceder A discussio e reflexo sobre os mesmos. DISCUSSAO Iniciamos este estudo com o intuito de encontrar tragos de personalidade que se relacionassem com as atitudes, comportamentos e caracteristicas psicolégicas frequentemente associadas as perturbagdes do comportamento, embora se tratasse de explorar uma amostra no clinica. Da anélise dos dados recolhidos, apresentada no capftulo precedente, constatimos que existem correlagGes fortes, estatisticamente significativas, entre as dimensdes de personalidad, Neuroticismo, Conscienciosidade e Extroversio ¢ 0 comportamento alimentar. De modo a que esta discussfio se possa tornar mais clara, acreditamos ser benéfico apresentar as nossas consideragdes organizadas em torno de cada uma das correlagdes que sobressafram no grupo em estudo. Assim, como jé referimos, 0 Neuroticismo, de entre as cinco dimensdes que compdem 0 NEO-PLR, é a tinica dimenstio que apresenta uma correlagio positiva ‘com 0 comportamento alimentar disfuncional. De acordo com a literatura revista, este nosso resultado corrobora as da investigagiio de Podar, Hannus e Allik (1999), onde exactamente as mesmas medidas de avaliago foram aplicadas as participantes. © que parece no ser coincidente com a maioria dos restantes estudos que utilizam 0 NEO-PI-R, ou 0 NEO-FFI como instrumento de medida para avaliar a personalidade e a sua relagdo com o comportamento alimentar é, 0 facto de no nosso estudo 0 Neuroticismo ser a tinica dimenstio que se correlaciona positivamente com elevados valores no EDI-2 (quanto mais elevada a pontuagio, mais disfuncional patolégico o comportamento alimentat). Contudo, sem qualquer chivida 0 Neuroticismo é a dimensiio que em todos os estudos revistos, aparece como a dimenso que apresenta uma correlagao positiva mais forte com o comportamento alimentar disfuncional (Heaven, Mulligan, Merriless, Woods & Fairooz, 2001; Ghateri & Scott, 2000; Podar, Hannus & Allik, 1999; Brookings & Wilson, 1994). O que leva estes autores a concluir a este respeito que 0 Neuroticismo e a Conscienciosidade se apresentam como os principais preditores das perturbagdes do comportamento alimentar no ambito da personalidade. Nés, diante dos dados da nossa amostra, podemos apenas dizer que o Neuroticismo foi a tnica dimenséio preditora das perturbagdes do comportamento alimentar.

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