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284 Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 17, n° 4, dezembro, 1995 Nascimentos da Fisic Idade Renascentista (4-95-2) José Maria Filardo Bassalo Departamento de Fisica, Universidade Federal do Pard 66075-900, Belém, PA, Brasil ‘Trabalho recebido em 15 de abril de 1995 Resumo Com este trabalho, iniciamos uma nova saga. Desta vez, a exemplo do escritor uruguaio Eduardo Hughes Galeano (1940- ) em sua fantéstica trilogia Meméria do Fogo (Nasci- mentos, 1986;As Caras ¢ as Mascaras, 1985; 0 Século do Vento, 1988 - Editora Nova Fronteira), apresentaremos em forma de verbetes, ¢ na ordem cronoldgica (seguindo a di- visio clissica das idades histéricas), os principais fatos (nascimentos) referentes aos conceitos fisicos, 08 quais serio apresentados por temas separados. Para isso, basicamente, usaremios 05 dados que coletamos nos quatro tomos de nossas Crénicas da Fisica (EUFPA: 1987, 1990, 1992, 1994) ¢ nas referéncias afindicadas. Abstract With this work, we begin a new saga. This time, as the Uruguayan writer Eduardo Hughes Galeano (1940- ) made in his fantastic trilogy Meméria do Fogo (Nascimentos, 1986; As Caras ¢ as Miscaras, 1985;0 Século do vento, 1988 - Editora Nova Fronteira), we present in entries, and in chronological order (fonowing the classical division of historical ages), the main events (births) concerned to the physical concepts, which win be presented in separated subjects. For that, basicany, we use the data that we gather in our four books Cronicas da Fisica (BUFPA: 1987, 1990, 1992, 1994) and in the references therein, Idade renascentista: astronomia Sol. Ora, isso nao acontecia com 0 modelo ptolomaico Pos neste os planetas giravam também em érbitas cir- culares, mas a rotacéo era uniforme em relagio a um Ponto equante, que nao coincidia com o centro da cir- cunferéncia. Portanto, o equante situava-se préximo Século 16 Em 1530, 0 astronomo polonés Nicolau Copérnico (1473-1543) em seu livro intitulado Commnentariolus (Pequeno Comentério) apresentou suas primeirasidéins — &* Te*t®- sobre © heliocentrismo. (Esse livro circulou apenas centre seus alunos ¢ amigos dentre os quais encontrava- #¢ © matemitico e astronomo austrinco Georg Joachim yon Lauchen (Rheticus) (1514-1576).) Ao analisar o modelo geocéntrico de Ptolomeu, Copérnico criticou 0 conceito do equante, pois o mesmo entrava em con- ito com a “a regra do movimento absoluto” segundo 0 qual tudo deveria se mover em movimento uniforme de rotagio em torno do centro do mundo que ests perto do Em 1543, estimulado por Rheticus, Copémnico veio 8 publicar 0 seu famoso livro De Revolutionibus Or. bium Coelestium (Das Revolugées dos Corpos Celestes), no qual apresentou os seguintes postulados que carac- terizavam seu famoso modelo heliocantrico: 1) O Principio metafisico bésico era o da perfeigio do movi- mento circular; 2) O centro da Terra no era o centro do Universo, e sim, apenas o centro da esfera lunar; 3) O centro do mundo era perto do Sol; 4) E a Terra e nio a J. M, Filardo Bassalo cesfera das estrelas fixas que gira em torno de seu eixo, cada 24 horas; 5) A distancia Terra-Sol é muito me- nor do que a distancia Sol-estrelas fixas. (Foi Rheticus quem ficou encarregado da impressio desse livro, sendo © clérigo alemio Andreas Osiander (1498-1552) o res- ponsivel pela sua supervisio técnica. No preficio (nio assinado ¢ mais tarde descoberto ser de autoria de Osi- ander), era expresso 0 ponto de vista de que as hipsteses apresentadas no livro ni eram necessariamente verda- deiras ¢ que nem sequer se exigia que fossem prova- das.) Através desse modelo de Copérnico se péde ex- Plicar, naturalmente, 0 movimento retrogrado dos pla- netas como sendo devido as velocidades dos mesmos em relagdo a ‘Terra. Assim, a razio da retrogradagio de Merciirio ¢ de Venus s6 ocorrer quando estio em conjungio, deve-se a sua maior velocidade, ¢ a razio da retrogradagio de Marte, Jupiter e Saturno sé ocorrer em oposigio, deve-se a menor velocidade deles. Além dessa explicagio, 0 modelo de Copérnico permitiu de- terminat a escala do sistema solar, em Unidade As- trondmica (UA) - distancia Terra-Sol: Merciirio 0,3763 UA; Venus ~ 0,7193 UA; Marte ~ 1,5198 UA; Jupiter ~ 5,2192 UA; Saturno ~ 9,1743 UA. Apesar do modelo de Copernico haver mostrado como ocorrem os movi- mentos retrégrados dos planetas sem a necessidade dos epiciclos, ele préprio teve de lancar mio de 48 deles, para explicar diversas observacées sobre os movimen- tos dos planetas e da Terra. (E oportuno registrar que Copémnico teve necessidade de langar mio de novos. epiciclos, em virtude de considerar apenas movimen- tos cireulares uniformes para descrever os movimentos observados dos planetas.) Também usando seu modelo, Copérnico fez uma revisio no catéilogo estelar de Ptolo- meu, calculou e interpretou a precessio dos equinécios como sendo devido a uma pequena oscilagao do eixo da ‘Terra, estimou os tamanhos relativos da Lua, ‘Terra © Sol como sendo 137, € aceiton o calculo que Aris- tarco de Samos havia feito da UA, isto é, como sendo de aproximadamente 1200 raios terrestres. Para justificar @ auséncia de observacéo de qualquer paralaxe anual das estrelas fixas, Copérnico justificou-a afirmando que grande distancia em que as estrelas se encontravam, da Terra e a deficiéncia dos instrumentos astronémicos, 285 dificultavam sua medi car porque um corpo langado para cima (na superficie terrestre) nao caitia a oeste de sua posi jal, con- forme indicava a fisica aristotélica, Copérnico admitia que isso nao acontecia em razio do ar ser arrastado pela ‘Terra em seu movimento em torno do Sol. Embora essa, resposta fosse engenhosa, ela nio pode set mais usada para explicar porque a Lua acompanha a Terra quando esta se desloca em seu movimento orbital Em 1551, 0 matemético e médico inglés Robert Re- corde (¢.1510-1558) - célebre por haver inventado simbolo de igualdade (=) - em seu livro Castelo do Co- nhecimento, se manifestou favoravelmente ao modelo de Copérnico, Em 1551, © matemético alemio Erasmus Rein- nold (1511- 1553) publicou, com base no modelo co- pernicano, novas tabelas astronémicas - as chamadas Por outro lado, para expli- pruténicas ou prussianas- superiores is alfonsinas, que haviam sido publicadas em 1252. Em 1552, 0 fisico e filésofo italiano Giambattista Della Porta (¢.1535-1615) em sua obra Magia Naturalis chegou a descrever um telescépi Em 1572, o matemético e engenheiro inglés ‘Thomas Digges observou um novo fendmeno nos céus, qual seja, © aparecimento de uma estrela nova, conforme seria, denominada posteriormente, Em 1572, em 11 de novembro, o astrénomo di- namarqués ‘Tycho Brahe (1546-1601) observou (e, também, astrénomos chineses e coreanos) na cons- telagio de Cassiopéia, uma nova estrela tio brilhante quanto Vénus, visivel de dia e por um periodo de 16 meses. Em 1574, ‘Tycho Brahe escreveu o livro intitulado De Stella Nova (A Estrela Nova) para registrar a ob- servasio que fizera, em 1572, sobre a existéncia de uma nova estrela nos céus. Em vista desse livro, eventos desse tipo ficaram conhecidos como nova, Ao anali- ‘sar suas préprias medidas ¢ ao comparé-las com as de outros observadores europeus, inclusive com as de ‘Tho- mas Digges, Tycho Brahe descobriu que essa nova es- trela estava muito além da Lua, indicando, portanto, um rompimento com a tradigio aristotélica, segundo ‘qual tal objeto deveria estar na esfera sublunar, jé 286 Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 17, n° 4, dezembro, 1995 que 0 eéu era imutavel. Registre-se que Tycho Brahe recusou o modelo de Copérnico porque ele contradizin « Biblia e, também, porque ni se observavam parala- natural desse modelo, Em vista disso, formulou seu préprio modelo: Terra parada ¢ fera das estrelas fixas, a Lun e 0 Sol; este, por sua ver, xes anuais das estrelas, uma conseqil rando em torno dela estavam a es carregava em torno de si os demais planetas. Em 1576, 0 Rei Frederico II (1534-1588) construiu ¢ instalou o Observatério Uraniborg (castelo dos céus), localizado na ilha de Hveen (hoje, denominada Ven), a 30 km ao norte de Copenhague). Esse Observatorio foi dirigido por Tycho Brahe e foi dotado dos melho- res instrumentos Spticos, alguns deles construidos pelo préprio Tycho Brahe, Com tais instrumentos, ass ou com grande preciso, a posigio de 777 estrelas bem como as dos planetas até entio conhecidos Em 1576, no apéndice (intitulado Perfit Descrip- tion of the Celestial Orbes) que publicow para 0 nova edigio do popularissimo livro de seu pai Leonhard Dig- ges, © Proguostication Everlastinge of Righte Cood Bf. Jecte (Prognéstico Bterno), Thomas Digges apresentou um diagrama do Universo no qual o Sol era 0 seu cen- tro © os planetas, inclusive a ‘Terra, giravam em torno do mesmo. Além do mais, considerava ainda o Universo como infinito, sendo as estrelas espalhadas nesse espaco infinito © nio mais presas & esfera celeste conforme in- dica a Copérnico em seu modelo. Em 1577, Tycho Brahe observou um brilhante co- meta ¢, a0 fazer observagdes do mesmo, chegou a conclusio de que estava muito além da Lua, a uma distancia maior que & de Venus, 0 que mostrava ser ele um verdadeiro objeto celeste ¢ niio um fendmeno mete oroligico formado de vapores quentes ou secos, retira- dos do ar (0 que gerava condigdes favordveis para 0 de- senvolvimento de doencas endémicas) segundo os aris- totélicos. Observou ainda ‘Tycho que a extremidade da cauda desse cometa sempre apontava em sentido oposto 80 do devido & ago dos raios solares; desse modo, a cauda nio poderia ser formada de gordura seca, con- forme afirmavam também os aristotélicos. Chegou a ensinar que a érbita desse cometa era ligeiramente ova- Inda. Com a morte de Frederico I, em 1588 subiu ao trono seu filo que, contudo, nio aceitando © modo como Tycho Brane administrava a itha de Hveen (uma vex que usava todos os recursos para manutengio dessa a, para o Uraniborg) demitiu-o. Em 1584, o filésofo italiano Giordano Bruno (1548- 1600) em sew livro Acerca do Universo Infinito ¢ dos Mundos, public mente 0 heliocentrismo, bem como a pluralidade dos mundos habitados, j4 admitida pelo astronomo, ma- temitico € filésofo, Cardeal Nicolau de Cusa (1401- 1464), no século 15. A defesa dessas i heresias de natureza religiosa, parecem indicar as razdes pelas quais Giordano Bruno foi excomungado ¢ quei- mado vivo pela Santa Inquisigio, uma vez que o texto do em Londres, defendeu ardorosa- jas, bem como completo do processo inquisitétio foi perdido. Em vir- tude da defesa dessas idéias, Giordano Bruno foi exco- mungado e queimado vivo pela Santa Inquisigio. Em 1595, 0 astronomo alemio Johannes Kepler (1571-1630) procurava uma demonstragio matemética para o modelo copernicano, desde que o aprendera com ‘© também astrsnomo alemio Michael Maestlin. Assim, em 9 de julho daquele ano, ao situar um tringulo entre dois circulos, percebeu que a razio entre os raio’ desses citculos era a mesma entre os das érbitas de Saturno 14 desse resultado, tentou inscrever outras figuras geométricas planas entre as érbitas dos ¢ Jipiter. Em planetas. Como tal modelo nao se enquadrou com o de Copémico, Kepler partiu entao para os sélidos regula- tes pitagdricos-platénicos: tetraedro, hexaedro (cubo), octaedro, dodecacdro ¢ icosaedro. Inicialmente, inscre- veu entre as esferas dos planetas, apenas 0 eubo. No entanto, ao comparar a relagiio entre 08 raios dessas ¢s- feras ¢ as distancias das érbitas dos planetas dadas pelo modelo copernicano, verificou que havia uma grande dliscrepancia, Em seguida, fer uma nova tentativa, dei- xando 0 cubo entre as esferas de Jhipiter Saturno ¢ substituiti o cubo entre as esferas de Jiipiter e Marte por lum tetraedro. Por outro Indo, os cubos entre as esferas de Marte © Terra, Terra e Vénus e Venus e Mercirio foram substituidos, respectivamente, pelo dodecaedro, icosaedro ¢ octaedro. Relacionando agora os rios des- ‘sas esferas com as distancias planetérias copernicanas, verificou que a diserepaincia diminuira, & excessio de J. M. Filardo Bassalo Merciirio, cuja esfera tangenciando 0 octaedro, no ex- plicava seus movimentos. Desse modo, teve de apelar para um attificio (*pequena fraude", segundo alguns historiadores da ciéncia), qual seja, o de inscrever a es- fera correspondente a Merciirio, no quadrado formado elas quatro arestas medianas do octaedro. Em vista desse sucesso parcial, Kepler continuou melhorando seu modelo matemético cada vez mais. Assim, substituiu cada esfera por duas, onde o raio da menor era a me- nor distincia do planeta ao Sol ¢ 0 raio maior, con- seqiientemente, a maior distancia orbital. Em 1596, no livro intitulado Precursor dos Trata- dos Cosmogréficos, contendo 0 Mistério Césmico das admirdveis proporcées entre as drbtas celestes ¢ as ver- dadciras e corretas razées dos seus Niimeros, Grande- 248 ¢ Movimentos Periédicos, conhecido popularmente apenas Mistério Cosmogréfico, Kepler publicou os pri- meiros resultados de seu modelo planetitio. Ao rece- ber esse livro das maos do proprio Kepler, Tycho Brahe convidou-o para trabalhar em Praga, onde chegou em janeiro de 1600. Com a morte de Tycho Brahe em 1601, Kepler foi designado matemudtico imperial em seu lu- ‘gar, em 1602. Quando ainda vivo, ‘Tycho Brahe confiou a Kepler 0 cileulo da érbita de Marte, tendo em vis- tas as observagdes que fizera sobre o movimento desse planeta, Século 17 Em 1602, a0 observar que a velocidade orbital de Matte era variavel (mais répido préximo do Sol e mai lento longe do Sol), Kepler apresentou a Lei das érens: ~ “O raio vetor ligando um planeta ao Sol, descreve ‘reas iguais em tempos iguais.” Em 1604, no dia 30 de setembro, Kepler observou © aparecimento de uma estrela nova nos eéus, na cons- telagio de Serpentirio, e 0 registro da mesma foi apre- sentada por ele no livro Estrela Nova, publicado em 1606. Em 1604, 0 astronomo italiano Galileu Galilei (1564- 1642) também observou a nova de Kepler. Em 1604, Zacharias Jenssen imitou um teleseépio que havia sido construfdo na Itélia, em 1590, Em 1607, Kepler observou uma mancha solar do “tamanho de uma pulga magra”. Em 1608, 0 dptico holandés Hans Lippershey (€.1570-c.1619) apresentou em Middelburg seu pedido de patente para 0 telescépio. Em 1609, para poder obter a forma das érbitas dos planetas, tendo em vista quie as observagées de Marte indicavam uma pequena excentricidade em sua érbita, Kepler fez cerea de setenta de tentativas com o objetivo de encontrila. Assim, cada esfera caracter jalmente, considerou que ica de um planeta era na reali- dade uma earapaca esférica de espessura suficiente que pudesse explicar a excentricidade observada. Depois, experimentou ovais. Contudo, como nio consegui ex- plicar uma diferenga de 8’, entre a forma escolhida 8 Grbita real observada, finalmente Kepler propés sua Lei das drbitas: - “Os planetas se deslocam em torno do Sol em érbitas elipticas, tendo o Sol como um dos focos”. Esta lei, juntamente com a lei das éreas, foram apresentadas no livro Astronomia Nova, ¢ num capitulo intitulado Comentérios sobre 08 movimentos de Marte, editado naquele mesmo ano. Em 1609, 0 matemitico ¢ astrénomo inglés Tho- mas Harriot (1560-1621) - o introdutor dos simbolos matemiticos > © < - utilizou 0 teleseépio para elabo- rar um mapa lunar, observar os satélites de Jupiter, as manchas solares ¢ os cometas, Em 1609, 0 astronomo alemio Simon Marius (Ma- yer) (1570-1624) descobriu quatro satélites de Jiipiter, tendo denominado-os de Io, Europa, Ganimedes © Ca- listo. Em 1609, Galileu construiu um teleseépio usando um tubo cilindrico ¢ colocando lentes em cada extre- midade, uma plano-céneava e uma plano-convexa, que ele préprio havia polido. Olhando os céus com esse ins- trumento, Galileu fez uma sétie de observagées. Por ‘exemplo, ao olhar para a Lua, viu que a mesma possuia montanhas, vales, “mares” e “oceanos", Ao medir a sombra projetada pelas montanhas chegou a estimar suas alturas (~ 6.500 m). (Mais tarde, observou nito existir 4gua na superficie lunar). Novas observagies com 0 telescépio mostraram a Galileu que o eéu de es- trolas fixas havin aumentado bastante, tendo inclusive 288 observado que na constelagio de Orion, conhecida ape- ‘nas como composta de 9 estrelas, sendo 6 na espada e 3 no cinturio, havia mais de 80. Notou, também, que a nossa galiixia Via Lactea, nada mais era do que “uma reuniiio de inumerdveis estrelas enfeixadas em grupo”. Nessas observacdes estelares, descobriu que havia estre- as com grandeza acima da 6%, segundo a classificagio de Hiparco e Ptolomeu. Em 1610, no dia 7 de janeiro, ao fixar seu te- lescépio no planeta Jupiter, Galileu descobriu que o ‘mesmo possuia 3 satélites, Mais tarde, no dia 13, descobriu © quarto satélite. Galileu denominou es- ses satdlites de estrelas medicianas, em homena- ésimo II de Médici, 0 quarto grio-duque de ‘Toscana. Essas primeiras observagdes telescépicas fo- gem a ram reunidas no livto Siderus Nuncius (O Mensageiro das Estrelas), publicado em marco de 1610. Como essas observacdes colocavam em cheque as afirmagées aristotélicas, Galileu foi bastante criticado, em vista disso, suas novas observagdes telescépicas, a forma trigemea de Saturno, em julho de 1610 © as fuses de Vénus, em setembro de 1610, ele as comunicou em forma de anagrama: SMAISMRMILMEPOETA- LEUMIBUNENUGTTAURIAS (ALTISSIMUM PLA- NETAM TERGEMINUM OBSERVAVI- Observei 0 planeta mais alto (Saturno) em forma trigémea) ¢ HAEC IMMATURA A ME JAM FRUSTRA LE- GUNTUROY (CYNTHIAE FIGURAS AEMULATUR MATER AMORUM - A mie do Amor (Vénus) emula as formas de Cfntia (Lua). Em 1611, 0 astrénomo holandés Johannes Fabricius (1587-¢.1615) publicou um livro no qual fea referencias ‘as manchas solares. Em 1611, 0 astronomo ¢ jesuita alemio Christop- her Scheiner (1575-1650) fez observagées das manchas solares usando um objetiva convexas. Também fez observagies solares usando apenas vidros escuros. Tais observagées (rea- lizadas com seu jovem assistente Cysat) foram comu- nicadas em cartas a Marcus Welser de Augsburg, um mecenas da Ciéneia, No entanto, como seus superiores eram aristotélicos, bem como a maioria dos que perten- ciam & Academia dei Licei (4 qual pertencia Welser), luneta astronémica com ocular e Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 17, n® 4, dezembro, 1995 le usou o pseudénimo de Apelles Latens post Tabulam, Para comunicar em 1612, a essa Academia, o resultado de suas pesquisas sobre as manchas solares, além de interpreté-las como pequenos corpos celestes, mesmo Porque Aristételes nio falara delas em seus escritos. Em 1612, Simon Marius (Mayer) foi o primeito a mencionar a nebulosa de Andrémeda. Em 1613, ao tomar conhecimento das cartas de Ape- nes sobre as manchas solares, Galileu comentou que ja as havia observado, em 1610, e dedicou-se com afineo para estudar melhor esse fendmeno. Desses estudos, re- sultou o livro Istoria ¢ Dimostrazioni Intorno alle Ma chie Solari ¢ loro Accidenti (Histéria ¢ Demonstracées Relativas ds Manchas Solares ¢ seus Fenémenos), pu- blicado naquele mesmo ano, no qual Galileu demonstra ‘que as manchas solares sao fendmenos relacionados com © préprio Sole por intermédio de sua observagiio, deter- minou a velocidade de rotagio solar, encontrando um periodo de pouco menos de um més terrestre. Em 1616, a Igreja Catélica e, em particular, 0s do- -anos, rejeitaram a teoria copernicana através de um édito, Em 1619, clepois de vérias tentativas para determi- nar a relagio entre as distancias ¢ os periodos dos pla- netas, Kepler chegou & Lei dos perfodos: - “A relacio centre 0 quadrado do periodo de revolugio dos planetas e © cubo de sua distancia média ao Sol é uma constante”.. Acreditando que os planetas em suas érbitas entoam verdadeiros cantos musicais, Kepler chamou essa lei de harménica, ¢ apresentou-a em seu livro Acerca das Harmonias Celestes, publicado naquele mesmo ano. Entre 1619 e 1621, depois de entender a cinemitica do sistema planetirio, Kepler tentou entender a sua dinamica. Assim, influenciado pelo fisico inglés William Gilbert (1544-1603) que havin mostrado, em 1600, ser Terra um intenso ima, Kepler supés que o Sol exercia, ‘uma influéncia magnética sobre os planetas, a chamada, anima motrix. Como a fungio dessa forga magnética, é mover os planetas e como estes se situam quase todos no plano da eclitica, Kepler admitiu que a forga solar io agia em todas as diregies ¢ sim, apenas, na diresio do raio eclitico, ¢ que a mesma era proporcional ao in- verso da distancia. Essas idéias foram apresentadas em J. M. Filardo Bassalo seu livro Epitome da Astronomia Copernicana, escrito em trés partes, © publicadas naquele periodo. Em 1623, Galileu (embora advertido pela Santa $é) Publicou o livro Il Saggiatore (O Ensaiador) (dedieado a0 seu amigo Cardeal Maffeo Barberini (1568-1644), que acabara de ser eleito Papa com o nome de Ur- bano VIII) no qual demonstrou que as observagies as- tronémicas estavam mais de acordo com o heliocen- trismo, afirmou que os cometas ¢ as auroras boreais eram ilusdes épticas causadas por reflexes em vapores terrestres, que atingem o céu além da Lua, bem como enunciou sua famosa frase: - “A mateméticac a lingua- gem da natureza”. Em 1627, Kepler publicou seu tiltimo trabalho: Ta- belas Redolfinas, em homenagem ao Imperador romano- austriaco Rodolfo UI (1552-1612) ¢ dedicadas memo- ria de ‘Tycho Brahe, as quais contém as observagdes de ‘Tycho € dele préprio sobre 0 movimento dos planetas. Em sua confeesio, Kepler utilizou um novo método de lo matemético - os logaritmos - que havia sido inventado pelo matematico escocés John Napier (1550- 1617), em 1614, Em 1632, Galileu publicou Dialogo sopra i due Massimi Sistemi del Mundo Tolemaico Copernicano (Didlogo sobre os dois Principais Sistemas do Mundo, © Ptolomaico ¢ 0 Copernicano). Por considerar esse ¥ro muito copernicano, em 1633, a Santa Inquisigao 0 processou. Em 1637, usando mais uma vez o telescépio, Galileu descobriu as libragdes mensais ¢ diurnas da Lua. Em 1638, Galileu publicou na cidade protestante de Leiden, © livro Discorsi ¢ Dimostrazioni Matematiche sobre Duas No- vas Ciéncias), que tratava, basicamente, da Mecanica e da Resisténcia dos Materiais Por volta de 1639, o astrénomo inglés Jeremiah Hor- rocks (1619-1641) corrigiu as Tabelas Rodolfinas de Ke- pler com telagio ao transito de Vénus pelo Sol, pre- vendo, com muita preci ara o dia 24 de novembro dese mesmo ano. Foi defen- ‘sor entusidstico das érbitas elipticas keplerianas, che- Sando a mostrar que a érbita da Lua tinha aproxima- damente essa forma geométrica. Defendew ainda a tese intorno d due Nuove Scienze (Discurs , essa ocorréncia astronémica 289 de que Saturno e Jupiter podiam influenciar-se mutua- mente que, pela mesma razio, o Sol influia na érbita da Lua, Ble também calculou a paralaxe solar em torno tancia Terra-Sol. de 14 minutos ¢ estimou ainda a Em 1641/1642, em seus dois dltimos anos de Galilew embora cego, ele os viveu ditando nos seus disefpulos, o fisico italiano Evangelista Torricelli (1608- 1647) ¢ © matemético, também italiano, Vincenzo Vi- viani (1622-1703), suas iltimas idéias sobre a teoria do. impacto, mais tarde incorporada aos Didlogos como a sexta jornada (Da Forca de Percussio), j que a digo original continha apenas quatro jornadas. (Na sexta jornada, Galileu interpretou 0 Livro dos Elemen- tos de Geometria de Euclides. Nesta jornada, porém de man incipiente, Galileu compreendeu claramente que o trabalho necessirio para elevar um corpo a uma certa altura era 0 mesmo independente do cai colhido. E mais dois fatores siio fundamentais: peso e velocidade. jinho es- inda, que num corpo em movimento, Em 1644, 0 matemético francés Marin Mersenne (1588-1648) construiu um péndulo cuja massa percorria, uma trajetéria cicloidal, utilizando, para isso, antepa- 08 que limitavam a oscilago do fio desse péndulo. Em 1644, 0 astrénomo polonés Johannes Hevellius (1611-1687) confirmou as fases de Merciirio. Em 1644, 0 filésofo ¢ matematico francés René Des- cartes (1596-1650) apresentou em seu livro Princfpios de Filosofia, a idéia da infinitude do Universo, por nio se poder pensar sobre um limite para a extensio do mesmo, como também rejeitou a existéncin do étomo, Ja que podemos pensar em dividir a matéria ad libitum (conforme desejamos), concluiu Descartes. Também re- Jeitou a idéin de vacuo ao considerar o espago como um plenum, cheio de matéria da mesma espécie e em mo- vimento, movimento esse dado inicialmente por Deus. Como nio admitia a idéia de forga de agio & distancia, € considerando que a interagio de sistemas fisicos 66 podia ocorrer por contacto, Descartes foi levado ao con- ceito de éter - 0 seu plenum - e, em conseqiiéncia, for- mulou a teoria dos vértices para explicar a gravitagio. Para a formulagio dessa teoria, Descartes admitiu que a matéria, embora toda da mesma espécie, fosse cons- titufda de particulas que variavam em tamanho: as mai- 290 Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 17, n° 4, dezembro, 1995 ores compunham a terra, as médias, o ar, e as meno- tes, o fogo. Todas essas particulas eram agrupadas em vértices, em cujo centro ficavam as particulas de fogo, que eram répidas. Ainda para Descartes, no centro de cada vértice formava-se uma estrela. As estrelas, con- tudo, tinham tendéncia a se cobrir com matéria grossa para se constituir num planeta; se, contudo, este ti- vesse uma excessiva massa que o fizesse vaguear de um vértice para o outro, ele tornar-se-ia planeta. Por fim, nesse modelo de Universo cartesiano, os planetas eram capturados e anotados por vértices (redemoinhos) de particulas de éter, em cujo centro estava o Sol; por sua ver satélites planetarios eram velhos planetas formados muito tempo atras. Em 1647, Hevellius publicou um atlas da Lua com o nome de Selenographia. Em 1655, 0 astrénomo, matemitico e fisico ho- landés Christiaan Huygens (1629-1695) (com auxilio de seu irm&o Constantijn) usou um telescépio mais potente que o de Galileu (construido com um novo método de polimento) e descobriu que “Saturno era envolto por um anel fino e plano e que em nenhum lugar toca o seu corpo”. Essa desco- berta, foi anunciada por ele na forma do seguinte anagrama: a’c°d'e5g*h'i7l4m?n%otp?q'r?stt°us AN- NULO CINGITUR TENUI, PLANO, NUSQUAM CO- HAERENTE AD ECLIPTICAM INCLINATO. Ainda em 1655, Huygens descobriu Titan, o satélite mais bri- Ihante de Saturno. Em 1656, Huygens disinguiu componentes estelares, na nebulosa de Orion; observou pela primeira vez sul- cos na superficie de Marte; estimou a distancia entre a ‘Terra e as estrelas; e calculou o afastamento da estréla Sirius (suposta do mesmo tamanho do Sol) de nosso sistema solar em 4 trilhdes de quilémetros. Mediante experiéncias feitas com uma esfera de barro, Huygens explicou.o achatamento polar observado em Juipiter e, em analogia, inferiu que a Terra era também achatada e fez, em conseqiiéncia, um primeiro célculo numérico, antecipando-se & futura verificago geodésica. Nesse mesmo ano, Huygens descobliu que 0 perfodo de um péndulo é independente de sua amplitude. . Em 1657, Torricelli e Viviani fundaram a Acca- demia del Cimento (Academia da Experiéncia) uma das primeiras agremiagées cientificas. Em 1657-1658 Huygens inventou o péndulo como mecanismo de regular relégios. Em 1659, Huygens descobriu que para ter um péndulo rigorosamente independente da amplitude, a trajetéria da massa do péndulo de ser cicloidal. Em 1678, ao observar que existia uma analogia en- tre a forca que mantém tenso um fio girante (em cuja extremidade se ecnontra uma pedra), e a rotagéo dos planetas em torno do Sol, Hooke foi levado a afirmar que a forga de gravitacao entre os planetas e o Sol, va- riava na razdo inversa do quadrado da distancia entre eles. Em 1664, o fisico inglés Robert Hooke (1635-1703) descobriu que a estrela Gamma Arietis, a quinta estrela da constelag&o de Orion, era uma estrela dupla. Em 1665, 0 matematico e fisiologista italiano Gio- vanni Alfonso Boreni (1608-1679), em uma carta que escreveu sob o pseudénimo de Pier Maria Mutoli, in- titulada Del Movimento della Cometa apparsa il mese di decembre 1664 (Do Movimento do Cometa aparecido em dezembro de 1664), admitiu que os cometas descre- viam érbitas planetérias. Em 1665-1666, 0 matemitico e fisico inglés Isaac Newton (1642-1727) comecou seus primeiros trabalhos sobre a teoria da gravitagéo. Em 1666, no livro Theorica Mediceorum Planeta- rum (Teoria das Estrelas Medicianas), Borreli admitiu que o movimento de um planeta era devido a uma com- binagao de trés forgas: a primeira, um instinto natu- tal que o puxava para o Sol; a segunda, uma forca late- ral ou tangencial, devido’ aos raios solares; ¢ a terceira, uma forga tipo centrifuga que tendia a fazer o planeta recuar em dirego contréria ao Sol. Essas trés forgas em equilibrio, aduziu Borreli, eram as responsaveis pe- las 6rbitas estdveis dos planetas. Usando essas mes- mas idéias, explicou os movimentos dos quatro grandes satélites de Jupiter. Em 1666, Hooke sugeriu que a forga de gravitacio poderia ser medida utilizando-se o movimento de um péndulo e, com isso, tentou mostrar que a Terra e a Lua descreviam érbitas em elipticas em torno do Sol. J. M. Filardo Bassalo Em 1669, Huygens formulou sua teoria da gra- vitagfo na qual hé uma explicagéo mecanica dos vortices cartesianos. (Essa teoria foi apresentada por Huygens & Royal Society, em 1689, e publicada no li- vro Discurso sobre a causa da Gravidade, editado em 1690.) Em 1669, Hooke fez uma série de observagées da estrela Gamma Draconis com 0 objetivo de medir sua paralaxe, sem, contudo, obter éxito. Em 1671, o astrénomo franco-italiano Giovanni Do- menico Cassini (1625-1712) descobriu Iapeto, satélite de Saturno. Em 1672, Cassini descobrin mais um satélite satur- niano: Réia. Em 1673, Huygens publicou seu grande livro so- bre o péndulo, o famoso Horologium Oscillatorium sive de Motu Pendulorum, no qual hé um tratamento ma- tematico sobre as curvaturas e a deducio do periodo do péndulo simples, bem como uma anilise correta do péndulo composto. Em 1675, Cassini descobriu que o “anel” de Saturno descoberto por Huygens era na realidade dois, separa- dos por uma regido escura, conhecida desde ento como divisao de Cassini. Em 1678, ao observar que existia uma analogia en- tre a forca que mantém tenso um fio girante (em cuja extremidade se encontra uma pedra), e a rotacao dos planetas em torno do Sol, Hooke foi levado a afirmar que a forca de gravitagao entre os planetas ¢ 0 Sol, va- tiava na razdo inversa do quadrado da distancia entre eles. Em 1684, Cassini descobriu mais dois satélites de Saturno: Dione e Tétis. : Em 1684, os fisicos ingleses Sir Christopher Wren (1632- 1723), Edmund Haney (1656-1742) e Hooke acei- taram a hipdtese de que a forga exercida pelo Sol so- bre os planetas varia na razio inversa do quadrado da distancia, porém, no foram capazes de deduzir, dessa hipétese, as famosas leis de Kepler. Nesse mesmo ano, Newton fez uma série de conferéncias na Univer- sidade de Cambridge na qual apresentou suas idéias sobre o movimento dos corpos em geral, inclusive o movimento dos planetas em torno do Sol. Com es- 291 sas idéias e partindo da hipétese do inverso do qua- drado das distancias, demonstrou que esse movimento era eliptico. Em 1690, apés a morte de Hevellius, foi publicado seu livro Prodomus Astronomiae, contendo um catélogo eum atlas celestes, € no qual hé a afirmagao de que Sa- turno tinha uma forma eliptica com dois apéndices li- gados & sua superficie. Também nesse livro, ha registro de suas observagdes sobre as manchas solares. Idade Renascentista: Optica Séculos 16 e 17 Em 1588, 0 fisico e filésofo italiano Giambatista De- lla Porta (c.1535-1615) em sua Magia Naturalis, pa- rece haver sido 0 primeiro a descrever a viséo bino- cular e 0 telescépio. Na segunda edigio desse livro, em 1589, além da explicago ¢ descrigio do telescépio, Della Porta descreve ainda a maneira de se obter ima- gens em uma cémara escura (comparada por ele ao olho humano), bem como apresenta as primeiras idéias do estereoscopio. Ao realizar experiéncias com espelhos esféricos, particularmente os céncavos, descobriu que foco dos mesmos tinha a propriedade de inverter a ima- gem, isto é, enquanto objetos colocados entre 0 foco e 0 espelho apresentavam imagens virtuais e diretas, as mesmas se tornariam reais e invertidas, quando os objetos fossem colocados além do foco. Isso 0 levou a denominar 0 foco de um espelho céncavo de ponto de inversio. Essas experiéncias levaram-no, tambem, & observagio do efeito incandescente de raios solares in- cidindo nesse tipo de espelho. © fisico italiano, © abade Francesco Maurolycus (1494-1575), parece haver sido o primeiro a mostrar que a luz se desloca paralelamente ao atravessar uma lamina de faces paralelas. Em 1590, 0 éptico holandés Hans Jenssen, auxili- ado por seu filho Zacharias (1580-1638), utilizando uma lente céncava e uma outra convexa de pequeno poder de aumento, inventou 0 microscépio composto. Por volta de 1591, Antonius de Dominis, Arcebispo de Spalato fez experiéncias semelhantes as realizadas por Teodorico de Freiberg, em 1304, isto é, estudow 292 Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 17, n° 4, dezembro, 1995 © trajeto de raios solares através de esferas cristalinas ‘ocas cheins de égua. Por volta de 1600, 0 astronomo e fisico italiano Ga- lileu Galilei (1564-1642) sugeriu a seguinte experiéncia com 0 objetivo de medir a velocidade da luz: se dois homens ficassem em duas colinas separadas por alguns quilometros ¢ emitissern luz através de lanternas pro- vidas de obturadores, a velocidade da luz poderia ser conhecida desde que se medisse o tempo gasto para a in entre as duas lanternas, A ve- luz percorrer a dista locidade seria, entio, a relagio entre essa distancia © aquele tempo. Apesar de Galileu e seus assistentes ten- tarem realizar essa experiéncia, a mesma malogrou em virtude de serem pequenas as distancias conisideradas. Essa experiéncia foi descrita por Gi Discorsi ¢ Dimostrazioni Matematiche intorno & due ileu em seu livro Nuove Scieze (Discursos sobre Duas Novas Ciéncias), Publicado em 1638. Em 1603, foi fundada em Roma a Accademie dei Lincei (Academia Licenceana), por quatro jovens che- fiados pelo Principe Frederico Cesi. Os cientistas dessa Academia tentaram, sem éxito, medir a velocidade da luz pelo método proposto por Galieu. Em 1604, Zacharias Jenssen imitou um telesedpio em 1590. Em 1604, 0 astronomo alemio Johannes Kepler (1571-1630) em seu livro Suplemento @ Witelo expli- cou o prineipio da cimara escura, o funcionamento dos culos para miopes ¢ presbitas, ¢ expds sua teoria de que havia sido construido na It que a visio decorre do estimulo da retina que é atin- sida com 0 raios coloridos do mundo visivel, ¢ depois transmnitida ao cérebro por uma corrente mental. Ainda esse livro, Kepler afirmou que a intensidade da luz va- rin com o inverso do quadrado da distincia e, com isso, pode ser considerado o precursor da fotometria. Por sua vez, para explicar as cores, Kepler supunha que ‘as mesmas dependiam da densidade e da transparéncia dos objetos. Em 1608, 0 Sptico holandés Hans Lippershey (€.1570-c.1619) apresentou em Middelburg seu pedido de patente para o telescépio. Com esse instrumento Sptico, observou um catavento de uma torre distante que Ihe parece ampliado. Em 1609, a0 tomar conhecimento do instrumento 6ptico holandés, Galileu construiu o seu préprio te- lesedpio, constituido de duas lentes de éculos (uma convergente ¢ uma divergente), montadas em dois tu- bos corredigos de chumbo, ¢ com um aumento equiva- lente a trés didmetros. Percebendo a importancia de tal dispositivo, Galileu passou a polit suas préprias len- tes, conseguindo com isso construir telescépios cada vez ‘mais potentes, sendo que 0 maior que conseguiu cons- truir tinha um didmetro de 4,4 cm e um poder de au- mento de 33 didmetros. Com tais instrumentos, Galileu fer, em 1610, uma série de descobertas astrondmicas. Apesar de usar cientificamente o telescépio, Galileu io formulou nenhuma teoria sobre o mesmo que pus dese responder is criticas que seus adversérios faziam ‘is suns observacies astrondmicas. Dentre esses ad- versirios destacam-se os italianos Cesare Cremonini ¢ Giulio Libri que, inclusive, se recusavam a olhar para © céu por meio do telescdpio. Por ocasiio da morte de Libri, Galileu teria feito 0 seguinte comentario: -“Libti nao quis ver as minhas bagatelas celestes quando es- tava na Terra; talvez sim, agora que foi para 0 céu”, (O nome teleseépio foi dado por ocasiio de um ban- quete oferecido a Galileu, pela Academia Licenceana.) Em 1609, 0 astrénomo ¢ matemético inglés ‘Tho- ‘mas Harriot (1560-1621) fez observagies teleseépicas da Lua, com as quais organizou mapas da superficie lunar. Para haver sido ele um dos primeiros a descobrir a lei da refragio da luz. Em 1610, depois de tomar emprestado um telescépio do Duque Ernesto de Colénia, Kepler comegou seu es- tudo teérico das lentes para poder entender o funciona. mento do telescépio. Em vista disso, escreveu o livro Dioptrice composto de definigdes, axiomas, problemas © proposicdes (num total de 141), no qual desenvolveu toda a teoria éptica instrumental. Nesse livro, desere- veu um teleseépio formado de duas lentes convexas eum microseépio composto; demonstrou a maneira de deter- minaro foco de um espelho parabélico; ¢ completou sua. tcoria pioneira da visio afirmando que os raios lumino- 808 provenientes de objetos visiveis, apés refratarem-se ‘nas lentes dos olhos, projetam-se em forma invertida na retina. Sobre a refracio, achava que a mesma se de- J. M. Filardo Bassalo vin & maior resisténcia dos meios densos. Tentou, sem éxito, obter matematicamente a lei da rofragio da luz usando, para isso, fungdes trigonométricas. Kepler defendia, também, a idéia aristotélica (incorreta) sobre a infinitude da velocidade da luz. Em 1612, Galileu utilizou um telescépio as avessas ~ microseépio - para descrever 0 olho complexo de ‘um inseto, bem como para descrever a textura das fo- thas Maravilhado com 0 que acabara de ver, chegou a oferecer esse novo instrumento éptico a seu amigo, 0 Principe Frederico Cesi, para que esse visse milhares de coisas curiosas e, também, verificasse como a pulga & horrivel. Em 1621, 0 matemético holandés Winebrord van Roijen Snen (1591-1626) observou experimentalmente que a mudanga do raio refratado em relagio i diregio do raio incidente era decorrente de uma lei do tipo seno. Em'1637, 0 filésofo ¢ matemético francés René Des- cartes (1596-1650) em seu La Dioptrique, escrito como suplemento de seu famoso Discours sur la Methode (Discurso sobre 0 Método), apresenta um tratamento, matemético da lei da refragio da luz. Nesse trabalho, Descartes demonstra que siio as semicordas do dobro dos angulos de incidéncia ¢ de refragio que permane- cem constantes quando a luz atravessa a superficie de separagio de dois meios transparentes. Usando a te- oria corpuscular da luz, concluiu que a velocidade da mesma é maior nos meios mais refringentes, isto 6, mais densos. Ainda em La Dioptrique, apés descrever 1 visio através do olho, Descartes abordou o problema de projetar lentes para teleseépios, microseépios, e outros instrumentos épticos porque acredi desses instrumentos para a Optica e a Biologia. Nesse livroe no Livro II de La Geometrie, escrito também em 1637, como terceiro suplemento ao seu Discours, Des- cartes estudou o problema geral de encontrar qual a superficie que separando dois meios, faria com que os raios Iuminosos partindo de um mesmo ponto ¢ apés se refratarem nessa superficie, convergiria para um ou- tro ponto bem determinado. Descobriu entio Descartes, que ® curva que gera tal superficie é uma oval - a oval, de Descartes: (A definigio moderna dessa oval é a inte: Iugar geométrieo dos pontos M que satisfa- wa na importancia * tatérios das particulas lu 293 gem i condigio - FM + nF'M = 2a -, onde Fe F’ sio pontos fixos (focos), 2a é um niimero real > FF’, en é qualquer mimeo real. Se n = 1, a oval torna-se ‘uma elipse.) Descartes preocupou-se, também, com a. natureza da luz, havendo entio formulado uma teoria, segundo a qual a luz era essencialmente uma pressio que se transmitia através de um meio perfeitamente clistico- 0 éter luminffero- que enche todo o espago. Ele atribufa a diversidade das cores a movimentos ro- inosas com diferentes veloci- dades através desse meio, No trabalho Les Météores, es- ctito ainda em 1637, e também como suplemento de seu. Discours, Descartes utilizou seu estudo da refragio da luz para explicar 0 angulo de visio do arco-iris (~ 42°) que havia sido medido pelo filésofo inglés, o monge fran- ciseano Roger Bacon (1214-1202), em 1266. BE (1601-1665) utilizou 0 sen prinefpio do tempo minimo - “A Natureza sempre escolhe os menores ca- minhos” - formulado em 1657 para demonstrar a lei da refragio da luz. Para fazer essa demonstragio, formu- ou hipdtese de que as resisténcias (inverso da velo dade da luz) dos meios mais densos eram maiores que ‘as dos meios menos densos, em frontal desacordo com o ponto de vista de Descartes que afirmava exatamente to 6, a velocidade da luz é maior nos meios mais densos, 1661, 0 matemitico francés Pierre Fermat Em 1653, 0 matemitico e astrénome escocés James Gregory (1638-1675) aventou a hipdtese de que pudesse ser construido um tipo de telescépio que usava um espe- Iho parabélico, ao invés de uma lente, para concentrar ‘luz vinda de um astro. Em 1665, 0 fisico inglés Robert Hooke (1635-1703) registrou, em seu livro Micrographia, observacées que mostravam a presenga de lu na sombra geométrica de um objeto iluminado e, também, a presenga de co- res produzidas por uma lamina transparente ¢ fina, de faces paralelas ¢ iluminada com lus branca. Desere- veu ainda Hooke nesse seu livro, a presenca de andis coloridos quando uma das faces da lamina é uma su- perficie esférica. (Observagies semelhantes foram reali- zadas, neséa mesma época, pelo fisico inglés Robert Bo- yle (1627-1691).) Como a concepgio tradicional de raio 204 Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 17, n° 4, dezembro, 1995 luminoso era insuficiente para explicar esses fenomenos, relacionados & difragio ¢ interferéncia da luz, conforme ficou demonstrado mais tarde, Hooke tentou pela pri- meira vex uma nova hipdtese sobre a natureza da luz, a0 propor a idéia de que esta consistia de répidas vibragies que se propagavam instantaneamente, em alta veloci- dade e em qualquer distincia, porém, a frente dessa ‘onda nao era necessariamente perpendicular diregao de propagagéo da mesma em um meio homogéneo. Neste, acteditava ainda Hooke que cada vibragio gera- rin uma esfera que cresceria constantemente. Por outro Jado, afirmava também Hooke que em um meio trans- Parente opticamente denso, a velocidade da luz aumen- tava, Além dessas experiéneias descritas em Micrograp- hia tambéi que realizou de insetos, plumas de aves escamas de nese livro Hooke falou das observacdes peixe usando um microscépio composto de vérias len- tes, porém de fraco poder de aumento, Com esse ins- tr 10, Hooke fez uma importante descoberta para Biologia; através de cortes delgados em um pedago de cortiga, observou que a estrutura da mesma era cons- tituida de unidades ocas, retangulares ¢ regularmente alinhadas, is quais denominou eélulas. Em 1665, no livro Physico-Mathesis de Lumine, Co- loribus et Iride publicado apds sua morte, o fisico itai ‘ano Francesco Maria Grimaldi (1618-1663) desereveu algumas experiéncias nas quais mostrou que a. pro- pagacio da luz pode se realizar de uma quarta ma: neira (além das trés tradicionalmente conhecidas & sua época: reflexio, refragio e difusio), denominacla por ele, entio de difragiio. Sua conviccio a respeito desse novo fendmeno Iuminoso foi tio grande que o apre- sentou como Proposigio I desse seu livro e, a partir dai , passou a relatar algumas experiéncias que reali- zou explicando-as por intermédio desse novo fenémeno fisico que acabara de descobrir. Na descrigio de uma dessas experiéncias, Grimaldi demonstrou que se um ixe de luz branca passar através de dois estreitos orificios, situados um atris do outro, e em seguida atin- gir um anteparo branco, havera neste uma regiao ilumi- nada além da que deveria existir se a luz se propagasse em linha reta, E como a luz se “encurvasse” ao pas- sar pelos orificios, afirmou Grimaldi, Nesse tipo de ex- periéncia, observou ainda que, nas bordas dessa regifio iluminada, havia uma ligeita coloragéo avermelhada € azulada, Fendmenos anlogos aos descritos acima, Gri- maldi também observou no iluminamento de objetos opacos ou coberto de fendas finas. Em 1666, 0 fisico © matemético inglés, Sir Isaac Newton (1642-1727) estudou as cores exibidas por peliculas finas, fendmeno esse até hoje conhecido como, angis de Newton. Em suas experiéncias sobre as, cores, Newton descobriu o fenémeno da dispersio da luz, isto &, que a luz solar branca ao passar por um prisma de vidro era decomposta nas cores do arco-fris.. Convencido de que essas cores estavam presentes na prdpria luz branea e que as mesmas nao foram cria- das no prisma, Newton realizou um outro tipo de ex- periéncia na qual fez passar essas cores do arco-iris por tum segundo prisma invertido em relagio ao primeiro, reproduzindo, dessa forma, e em uma tela, a luz branca original. Observou ainda Newton que se apenas uma cor do arco-itis atravessasse um prisma, nao haveria mais a decomposigao cromatica, j4 que o feixe de luz que emergia do prisma apenas alargava-se ou estreitav se dependendo da incidéncia inicial, permanecendo, as- sim, da mesmacor, A hipdtese de que a luz branca nada mais era do que uma combinago das cores do arco-iris foi confirmada por Newton na célebre experiéncia do 0 de Newton, como hoje é co- nhecido -, que, a0 ser gitado, aparece branco. Usando disco colorido - © esse fendmeno que acabara de descobrir, Newton mos- trou que o arco-iris era devido & dispersio da luz solar nas goticulas de dgua nas nuvens. E mais ainda, que a existéncia de um arco-iris duplo era conseqiiéncia de uma dupla reflexao sofrida pelo raio luminoso no in- terior das goticulas. Ainda nessas experiéncias sobre Optica, Newton observou que o indice de refragio de uma substancia variava com a cor, pois, ao examinar através de um prisma, um pedago de papelio pintado de vermelho ¢ azul, notou que para uma mesma in- cidéncia de raios luminosos, os raios refratados pelo prisma eram diferentes para cada cor, j4 que as ima- gens das cores do papelao cram deslocadas, havendo, dessa forma, superposicdo da parte lim{trofe das duas regides pintadas. Esse fendmeno da dispersio da luz J. M. Filardo Bassalo mostrou a Newton que 0s telescdpios convencionais até entiio usados, tipo galileano ou kepleriano, apresenta- vam um limite de aplicabilidade, pois a formagio de sombras coloridas em torno das imagens dos astros se acentuaria na medida em que se tentava obter maio- Fes aumentos com esses telescépios, produzindo desse modo imagens turvas, devido ao fendmeno conhecido como aberracio cromitica. Em 1668, Newton inventou o telescépio refletor que concentrava a luz vinda de um astro, depois de se refletir em um espelho parabélico, em lugar da refraio através de uma lente. Esse teleseépio (tipo gregoriano) inventado por Newton apresentava duas grandes van- tagens: primeiro, eliminava 0 fendmeno da absorcio luminosa, jé que a luz é refletida ao invés de ser refra- tada; segundo, nao ha nele 0 fendmeno da aberragio cromética. Esse telescépio newtoniano media 15 cm de comprimento e 2,5 cin de diametro, com a capacidade de aumentar de 30 a 40 vezes, 0 objeto real Em 1669, cm uma pequena meméria intitulada Experimentis Crystalli Islandici Disdiaclastici, quibus Mira ct Insolita Refractio Detegitar, 0 médico dina- marqués Erasmus Bartholinus (1625-1698) descreveu as experigneins que realizou com um cristal transparente de carbonato de calcio trazido por alguns comercian tes da Islandia, razio pela qual esse cristal passou a ser conhecido como espato-da-islindia. Nas primei- ras experiéncias que realizou com esse cristal, percebeu que 0 mesmo duplicava objetos quando estes eram vis tos através dele, fendmeno esse que Bartholinus deno- minou de dupla refragio. No prosseguinento de suas Pesquisas com esse cristal, observou que se 0 mesmo so- fresse uma rotagio, uma dais imagens permanecia fixa, enquanto a outra se deslocava acompanhando o giro do cristal concluiu, entio, que havia dois tipos de re- fragao, uma responsivel pela imagem fixa, & qual deno- minou de refragao ordinéria (que obedece & lei de Snen-Descartes), ¢ uma outra responsivel pela ima- gem mével, denominada por ele de refragio extra- ordinéria. 295 Em 1671, Newton construiu um novo teleseépio re- fletor de 23 cm de comprimento, porém com 0 mesmo diametro do anterior: 2,5 cm. Em 1672, ao estudar com mais detalhes a difragio da luz, Hooke confirmou sua hipétese da transversabi: lidade da onda luminosa. Em 1673, 0 microscopista holandés Anton van Le- euwenhoek (1632-1723) - um eximio construtor de len- tes muito delicadas e de pequena distancia focal -, foi © primeiro cientista a deseobrir seres vivos unicelula- res, lioje denominados protozodrios, usando um mi- simples. Entre 1672 ¢ 1676, Newton comunicou suas pesqui- sas sobre Optica & Royal Society de Londres. Alias, as pesquisas de Newtou sobre fendmenos fisicos fizeram-no croseép membro desta Sociedade Cientifica Em 1675, 0 astrénomo dinamarqués Olaus Roemer (1644-1710) fez observagdes cuidadosas dos eclipses dos tes de Jhipiter, que G "u havia descoberto em 1610. Nessas observacdes, Rocmer percebeu que havin lum certo atraso desses eclipses que ocorriam quando Jupiter se afastava da Terra, em relacio aos que ocor- riam quando Jupiter se aproximava da Terra. Em vista disso, concluiu que aquele atraso era devido ao tempo, gasto para que a luz, com velocidade finita, atravessasse a érbita da Terra, Em vista disso, concluiu que aquele atraso era devido ao tempo gasto para que a luz, com Yelocidade finita, atravessasse a érbita da Terra, Com base nesse resultado, Roemer conseguiu prever alguns eclipses, porém seu trabalho no chegou a impressionar (os cientistas que freqiientavam a Academia Francesa de esta, o resultado de suas Pesquisas. Nessa época, prevalecia a idéin aristotélica sobre a infinitude da velocidade da luz, defendidas por grandes cientistas, inclusive Descartes. (F importante destacar que 0 uso dessas observacées de Roemer, levou. Ciencias, quando comunicou outros astronomos a estimar a velocidade da luz como sendo ~ 220.000 km/s.) Em 1683, van Leeuwenndek descreveu as primeiras bactérias, usando um microseépio simples.

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