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Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Programa de Trainees – Sebrae Nacional


14 a 16 de julho de 2010

Relatório de Viagem
Espírito Santo

Lucas Paranhos Quintella

Introdução
Eu - Lucas Paranhos Quintella - e André Mendonça, trainees do Sebrae Nacional,
realizamos uma visita técnica ao estado do Espírito Santo. Tivemos a oportunidade de
observar de perto a realidade das micro e pequenas empresas no estado e a atuação do
Sebrae Espírito Santo como gestor de projetos de apoio a esta realidade.

De modo simplificado, nosso roteiro abrangeu os seguintes assuntos:


 Sebrae/ES
 Projeto Comércio Total
 Atendimento Individual
 Prefeitura de Cariacica
 Setor Moveleiro

Desta forma, este relatório destrincha brevemente cada assunto visto em nossa
viagem, com as observações realizadas e discutidas em cada evento, levando em conta o
conhecimento adquirido nas palestras e cursos ministrados em nosso programa.

Deixo aqui os meus agradecimentos a toda equipe do Sebrae/ES com quem tive
contato, pela solicitude, simpatia e presteza. Agradeço e parabenizo também os membros
da prefeitura de Vila Velha e Cariacica, pelo bom trabalho realizado e, ainda, a realizar.
Aos pequenos empresários, sempre prestativos e bem-humorados, desejo sorte em seus
empreendimentos.

Sebrae e Espírito Santo


O Espírito Santo se encontra no sudeste do Brasil. Como é um estado
relativamente pequeno, sua fronteira com três grandes nomes - Bahia, Rio de Janeiro e
Minas Gerais - dificulta a formação de uma identidade própria em sua população - como
assim ouvi dos próprios capixabas - similar, ainda que em menor proporção, ao caso de
Brasília e sua população de imigrantes. A economia do estado possui como destaque o setor
de móveis e madeiras, mármore e granito, petróleo e gás natural. Agroturismo, café e
vestuário são também fortes nesta região.
A sede do Sebrae Espírito Santo encontra-se em Vitória e há, além, cinco pontos
de atendimento, chamados, cada um, de Agência de Desenvolvimento Regional (ADR). Os
municípios do estado foram agrupados em regiões, gerenciadas,
cada uma delas, por uma agência.

A instituição é referência nacional em vários aspectos,


tais como na implantação da Lei Geral - foi o primeiro estado a
atingir a meta de 100% de aprovação -, na seriedade de algumas
prefeituras - o prefeito de Cariacica, Helder Salomão, foi o
vencedor nacional do prêmio Prefeito Empreendedor -, ou no
sucesso de projetos - como é o caso do Comércio Total, que,
provavelmente, será exportado a outros Sebraes estaduais.
O Sebrae/ES e seu corpo técnico trabalham com toda
a seriedade e bom humor necessários para o provimento de um Sede do Sebrae/ES
ambiente competente e agradável para a organização. Foi interessante observar também
que, da mesma forma já percebida no Sebrae Nacional, a satisfação do trabalho é uma
unanimidade nesta instituição.

Projeto Comércio Total


O primeiro projeto que nos foi apresentado é o Comércio Total. Tomam-se ruas,
em bairros carentes, onde o comércio é bastante intenso, mas precário devido à falta de
estrutura ou má gestão dos empresários, e implanta-se um evento de capacitação para
atender a todos os empreendedores deste bairro. O evento consiste em uma semana de
palestras com os principais temas de gestão empresarial focados no comércio varejista e
de prestação de serviços. Após este evento de capacitação, os empresários ainda podem
requisitar, posteriormente e de graça, consultorias e planos de negócio para aprimorar os
seus empreendimentos.

Seu grande sucesso - já estão previstos setenta e quatro eventos até o final do
ano, em contraste com os vinte inicialmente planejados em janeiro - deve-se, entre outros
fatores, à sua atuação direta na comunidade. Palestras ministradas nas próprias ruas dos
comerciantes, com uma divulgação entre conhecidos e amigos certamente possui um
impacto e aceitação maiores do que um cerimonial formal, por exemplo, em algum outro
canto da cidade - o Sebrae, neste projeto, praticamente bate na porta de cada empresário
e o capacita.
Em nosso primeiro dia de viagem, foi
possível presenciar o planejamento prévio de um
evento do Comércio Total. Fomos, com o gestor
Abel Monteiro, ao bairro de Cristóvão Colombo,
município de Vila Velha, local onde ocorreria um
evento do projeto. Participamos de uma reunião de
definição do evento: local, data e divisão de
tarefas foram acordados no encontro. Estavam
presentes, além da dupla e do gestor, um peixeiro -
Reunião em Cristóvão Colombo representante dos comerciantes -, membros da
Associação dos Moradores do Bairro de Cristóvão
Colombo (AMBCC), e um secretário da prefeitura de Vila Velha.
No mesmo dia, após participar de um planejamento pela manhã, fomos à noite
presenciar a realização de um evento que ocorria durante a semana no bairro da Glória, em
Vila Velha. Testemunhar o que havia sido antes planejado foi muito útil para entender os
pormenores e a dimensão deste projeto. A palestra foi um sucesso e mais de duzentas
pessoas estavam presentes no local.

Um dos pontos a serem melhorados no Comércio Total é a explicitação dos


resultados pela equipe na gestão do projeto. Aprendemos insistentemente no Sebrae
Nacional a importância da métrica e clareza dos resultados em um sistema de gestão
orientado a resultados. O Projeto Comércio Total não possui resultados mensuráveis muito
claros para sua equipe: o alcance do orçamento previsto parece ser a principal métrica
deste projeto.

Outro aspecto negativo é a sua suscetibilidade à influência política, ainda que,


provavelmente, não seja uma característica exclusiva deste projeto, mas sim de todo o
Sebrae. Eventos foram realizados em bairros de classe alta, onde o comércio já era
bastante desenvolvido e não havia necessidade para tal. Como este projeto possui um
grande apelo social, prefeitos pleiteiam os eventos para o seu município com o objetivo-mor
não de apoiar os empresários, mas sim de promover-lhes a imagem. Estas foram as
situações em que o projeto obteve o seu pior desempenho, como era de se esperar.

Atendimento Individual
Tivemos a oportunidade de observar, na manhã de nosso segundo dia de viagem, a
realidade de um atendimento individual. O Espaço Empreendedor - uma das Agências de
Desenvolvimento Regional - se encontra logo em frente à sede do Sebrae/ES, no centro de
Vitória e é responsável pelo atendimento dos empresários. A maior parte do público
atendido é formada por empreendedores individuais formais, informais e aspirantes a
empresários.

Foi fácil perceber que o principal problema a ser solucionado pelos atendentes é
sempre o esclarecimento. Todos os empresários atendidos possuíam muitas dúvidas e, por
vezes, estavam na ilegalidade, mesmo achando-se já formais. Há uma diferença não muito
bem compreendida entre formal e legal.

Da mesma forma, há também uma necessidade intensa de simplificação e melhor


divulgação das informações. Alguns detalhes que não foram muito bem esclarecidos
previamente, em algum outro atendimento, não seriam provavelmente sanados antes de uma
retaliação do Estado se estes empreendedores não fossem suficientemente pró-ativos para
buscar a ajuda do Sebrae.

Cariacica
Em nosso segundo dia de viagem, conhecemos, por intermédio do gestor Fernando
Gadelha, da Unidade de Políticas Públicas, o município de Cariacica, um dos mais precários e
violentos do estado, e pudemos observar a importância de uma boa prefeitura aliada ao
Sebrae para o apoio aos empresários e desenvolvimento de uma
cidade.

O prefeito de Cariacica é o vencedor nacional do


prêmio Prefeito Empreendedor, e foi possível perceber esta
atitude pró-ativa em prol das micro e pequenas empresas em
todo o corpo técnico desta prefeitura - ao menos, em todos os
funcionários que conheci. Projeto Fique Legal
Há vários projetos, iniciativas e estratégias que nos foram apresentados. O
CIAMPE - Centro Integrado de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - é uma iniciativa da
prefeitura de reunir em um só local todas as secretarias e órgãos necessários à abertura,
fechamento ou regularização de empresas. Outro projeto, com parceria do Sebrae, é o
Fique Legal: carros de som divulgam nos bairros de Cariacica a localização de um posto
provisório de atendimento individual para formalização de Empreendedores Individuais. É
uma forma eficaz de levar a formalização até os empresários, em vez de se esperar o
contrário.

Empreendedores recém-formalizados no Projeto Fique Legal

Setor Moveleiro
No terceiro dia, fizemos uma viagem ao interior do Espírito Santo, com o gestor
Thiago Freitas, para conhecer um pouco da realidade das MPEs da seção moveleira do
estado e como se dá o atendimento coletivo neste setor. Fomos a duas cidades, Marilândia
e Colatina, analisar as indústrias de móveis de um município em que o Sebrae atua há muito
tempo, e comparar com as do outro, onde a instituição apenas iniciou seu trabalho.

Marilândia é uma pequena cidade que se


encontra no centro do estado. Possui uma
população estimada em dez mil habitantes e o
setor de móveis é um dos principais regentes da
economia do município. O Sebrae lá atua há pouco
tempo - cerca de três meses - e é evidente a
precariedade e dificuldade da situação dos
empresários desta região.
A maioria das indústrias de móveis
visitada não possui um ambiente adequado. Foi
Indústria moveleira de Marilândia possível observar, por entre as poeiras e lascas de
madeira, a falta de máquinas e de infraestrutura no
local. Também não foi raro encontrar trabalhadores sem camisa, óculos, luvas ou qualquer
tipo de proteção. A despeito de todas as dificuldades, as indústrias visitadas possuem um
alto faturamento, o que ilustra a forte demanda e justifica a intensa concorrência da
situação.

Colatina já é um município - vizinho de Marilândia - maior e mais desenvolvido -


cerca de cem mil pessoas. A indústria que nos recebeu é de um porte muito maior do que as
de Marilândia e demonstra a importância da atuação do
Sebrae neste setor - a instituição atua há anos em
Colatina. Boa infraestrutura, segurança dos
trabalhadores, higiene do local e maquinário importado
da Europa são algumas das discrepâncias encontradas
entre ela e as indústrias de Marilândia. Os principais
clientes deste empresário não estão sequer no Espírito
Santo, mas sim em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Indústria moveleira de Colatina
Esta indústria de Colatina, conquanto já
bastante desenvolvida, continua a receber ajuda do Sebrae para facilitar o financiamento
de seu maquinário, e este foi exatamente um dos pontos negativos observados nesta viagem
ao interior: a atuação do Sebrae em empresas que já não são pequenas. Isto, porém, não
parece tão grave, uma vez que o Sebrae acompanhou todo o crescimento desta indústria e a
delimitação da atuação não deve ser fácil e nem tão necessária assim de se definir.
Entretanto, quando as indústrias já são sabidamente grandes o suficientes e utilizam de
mecanismos terceiros para burlar a lei - utilização de vários CNPJs, por exemplo - e se
enquadrar como uma MPE, é certo de que, já que o Sebrae não possui o papel de
fiscalizador, deve-se ao menos interromper o atendimento.

Conclusão
Ainda que soubéssemos de antemão os objetivos de nossa ida ao Espírito Santo,
somente após o retorno percebi, de fato, a real importância da viagem ao desenvolvimento
de nós, trainees. Foi de grande importância observar na prática a aplicação e as
dificuldades de se aplicar os conceitos e metodologias da instituição, aprendidos nos cursos
e palestras do programa.
Perceber os aspectos positivos e os negativos de cada programa, atividade ou
projeto incitou e afiou o nosso senso crítico, indispensável como analistas que almejamos
ser. Do mesmo modo, conhecer, discutir e conversar com os empreendedores fez-me olhar
com outros olhos aquele pequeno empresário, pipoqueiro ou sapateiro - olhos, ao mesmo
tempo, mais técnicos e empáticos.

Além disso, foi gratificante testemunhar a importância do Sebrae para o


desenvolvimento econômico e social dos municípios. Isto é algo que escutamos com
frequência no Nacional, mas poder ver ao invés de ouvir foi recompensador. O
empreendedorismo em locais com baixo índice de desenvolvimento é uma necessidade real
de sobrevivência, e foi muito importante observar como o Sebrae contribui diretamente
para este desenvolvimento e concluir que, mesmo com poucos recursos, grandes mudanças
podem ser feitas.

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