1) Awareness refere-se à "consciência da experiência" no fluxo contínuo da existência, dando sentido através da formação espontânea de gestalten no campo organismo-ambiente.
2) A neurose ocorre quando há perda da plasticidade deste campo, interrompendo o livre fluxo da awareness.
3) A terapia gestalt busca restaurar este fluxo através do trabalho com a awareness, permitindo a configuração flexível de novas formas que restabeleçam o equilíbrio dinâmico.
1) Awareness refere-se à "consciência da experiência" no fluxo contínuo da existência, dando sentido através da formação espontânea de gestalten no campo organismo-ambiente.
2) A neurose ocorre quando há perda da plasticidade deste campo, interrompendo o livre fluxo da awareness.
3) A terapia gestalt busca restaurar este fluxo através do trabalho com a awareness, permitindo a configuração flexível de novas formas que restabeleçam o equilíbrio dinâmico.
1) Awareness refere-se à "consciência da experiência" no fluxo contínuo da existência, dando sentido através da formação espontânea de gestalten no campo organismo-ambiente.
2) A neurose ocorre quando há perda da plasticidade deste campo, interrompendo o livre fluxo da awareness.
3) A terapia gestalt busca restaurar este fluxo através do trabalho com a awareness, permitindo a configuração flexível de novas formas que restabeleçam o equilíbrio dinâmico.
Awareness vem do ingls e significa "conscincia", mas distingue-se de
conscincia como representao, reflexo ou conhecimento. Em Gestalt-terapia, quer dizer "saber da experincia". A Gestalt compreende a existncia como um fluxo contnuo de transformao e crescimento dado a partir do contato no campo, onde a existncia se faz e refaz, num movimento temporal de configurao de formas que do sentido/significado a si e ao mundo. Ao conceber a existncia como uma situao de interao, campo de experincia e presena, a Gestalt-terapia est a utilizar referenciais fenomenolgicos, existenciais e humanismo, bem como a teoria holstica, teoria de campo.
Concebendo a awareness como um fluxo ou continuum pela experincia aqui e
agora no contato com a novidade do outro, do diferente. um processo que envolve contato, sentimento, excitamento e formao da gestalten. A formao espontnea da gestalten compreendida como configurao de sentido que emana da interao entre organismo e ambiente.Sendo a awareness um fluxo da experincia aqui-agora que, a partir do sentido e do excitamento presentes no campo , orienta a formao de gestalten, produzindo um saber tcito, da experincia.
Robine ressalta que a awareness um conhecimento imediato e implcito do
campo, um saber da experincia, dado de modo pr-reflexivo. A awareness no pode produzir um saber explcito, reflexivo, visto que a conscincia reflexiva interrompe o fluxo da experincia, uma vez que "re-flexo" voltar-se para o que j passou, implicando a inciso dessa totalidade organismo/ambiente. No possvel uma awareness dualista/ditocmica, mecanicista ou determinista-causal. O princpio bsico de awareness a perspectiva de campo, que compreenda o processo da conscincia como um dado a partir desse processo pessoa-mundo em um tempo-espao presentes. O contato um processo que acontece entre os extremos da atividade e passividade.
A Gestalt-terapia no trabalha com a ideia de que na organizao desse campo
haja predominncia de partes. No h, na awareness, um papel preponderante de "lado" organismo ou ambiente. No h um sujeito/ego/conscincia constituindo o sentido da experincia. A noo de awareness indica um tipo de concepo no egoica. No considerando o inconsciente como instncia determinante do sentido da experincia, nem mesmo acreditanto no determinismo social. O sentido espontaneamente dado na experincia. a voz mdia que indica o modo de funcionamento do sistema self de contatos e da awareness, no enquadrando inteiramente na voz ativa nem na passiva. A ideia de existncia baseia-se na ao que se d como espontaneidade no modo mdio. A espontaneidade o sentimento de estar atuando no organismo/ambiente, sendo no somente seu arteso, mas crescendo dentro dele. No diretiva nem autodiretiva, um processo de descobrir-e-inventar medida que prosseguimos, engajados e aceitando o que vem.
Duranto o fazer, o arteso no inconsciente em sua atividade, tampouco
calculista, mas sua awareness est no modo intermedirio, aceitando as condies, se dedicando ao trabalho e crescendo no sentido da soluo. Propor essa nuana passiva da awareness diferente de pensa-la como determinada de fora. A passividade um tema bastante presente nas discusses fenomenolgicas sobre a intencionalidade da conscincia e seu carter de temporalidade. Para Husserl, o ego est envolvido por uma atmosfera passiva em que ocorre uma organizao autnoma do campo de significaes. Ele descreve a conscincia como um fluxo temporal onde cada ato intencional se modifica, no dependendo da atividade do ego para se manter e modificar. A atividade da intencionalidade operativa sinttico-passiva presente tambm na noo de awareness. A experincia se d de maneira espontnea como uma organizao estrutural que configura sentidos em formao. Ato espontneo de formar ou configurar formas.
O corpo a origem da correlao eu-mundo. nessa correlao e na experincia
primeira do sujeito que uma forma espontnea nasce, brota como figura fundo comum, indicando o sentido que aquela experincia vai assumindo. O corpo um campo perceptivo-prtico, a conscincia corporal. A noo de corporeidade indica que a experincia do corpo dada como uma totalidade imbricada no mundo e que o poder expressivo da forma no est localizado no corpo ou na subjetividade, mas na corporeidade, nessa experincia no mundo. Corpo e mente no so modos isolados, sendo abstraes da situao de interao
H na awareness uma integrao sensrio-motora que envolve a aceitao e
trabalho de transformao e crescimento. Esse carter de aceitao est envolvido com a experincia da fronteira, momento de encontro com a novidade. A fronteira no um lugar, mas um campo de presena, vivido temporal e corporalmente quando deparo com o novo. Aqui entra em jogo a dimenso sentir da awareness, discutida com base em algumas perspectivas. necessrio enfatizar o sentir ser e aceitar ser afetado, ambas so experincias pr-reflexivas intimamente ligadas. Para ser afetado pelo outro necessrio que haja abertura, entrega e aceitao.
A experincia aquilo que nos passa, nos acontece. O sujeito da experincia ,
em sua perspectiva, territrio de passagem, lugar a que as coisas chegam e que se define por certa passividade, no sentido de receptividade e abertura, mas essa passividade trata- se de uma anterior oposio entre ativo e passivo, sendo, assim, uma abertura essencial. O sentir envolvido no fluxo de awareness uma experincia de abertura e disponibilidade que permite um arrebatamento por aquilo que est dado no campo, na situao vivida. A experincia exerccio do que no foi submetido separao sujeito- objeto.
A dimenso da aceitao da awareness est relacionada tenso atividade-
passividade inerente experincia, esse processo temporal compreendido como aquilo que nos passa, nos toca e ocorre no campo complexo da interao eu/outro/mundo, do contato. A demarcao da fronteira de contato se d a partir da experincia de alteridade, o que nos leva dimenso de travessia que est na origem do termo "experincia". A experincia uma travessia "perigosa" ou "excitante" entre o eu mesmo e outrem. A dimenso sentir da awareness envolve, assim, abertura sensvel para ser afetado nessa travessia.
O excitamento, segunda dimenso da awareness, marca o surgimento de uma
figura de interesse no campo, a evidncia de realidade. Quando na experincia, algo surge como figura, significa que est conectado com o surgimento de uma necessidade e o fundo indiferenciado comea um processo de diferenciao. O excitamento flui do fundo em direo figura. O interesse e excitamento so testemunhos do campo/ambiente. A noo de dominncia relaciona-se com o ponto o qual o interesse emerge como figura, se diferenciando do fundo. O excitamento cresce em direo soluo vindoura mas ainda desconhecia, a energia que nos movimenta para o futuro, em direo novidade e sua descoberta e inveno. Quando a novidade surge no campo e vista e aceita, o fundo se diferencia e o excitamento permite a formao da figura dominante. Quando h conflito, isso impede que uma figura ntida e forte surja. Esse conflito representa diferentes situaes, mas so sempre um conflito nas premissas da ao. Essas premissas envolvem uma complexidade de dimenses na totalidade do campo: Necessidades, desejos, valores, situaes inacabadas, objetos etc. Quanto mais movimentado o fundo, tanto mais conflitos e figuras opostas, em consequncia mais a figura que emerge dbil, fraca. O gesto corporal envolvido na ao reflete esse conflito em sua forma, podendo mostrar contradio na fala, ser vacilante ou hesitante. O movimento de excitamento no fragmentrio, mas fluido e indica que uma parte do campo tomou um lugar de centralidade/importncia. Cada movimento em direo ao novo nos coloca na experincia da unidade, caso contrario, a existncia seria destituda de fluidez.
Da o terceiro elemento da awareness, a formao da gestalten, que nos d essa
unificao como uma configurao espontnea que reintegra otodo em um significado. Uma vez dada essa integrao, a figura retraiu-se e se reintegrou, tornando-se fundo para novas experincias. Esse desdobramento temporal descreve nossa concepo de existncia. Em suma, a noo de awareness no dicotomiza conscincia-inconscincia como formao ou configurao de formas espontneas que se configuram no campo organismo/ambiente. Compreende a forma espontnea como totalidade de partes que se relacionam mutualmente. Awareness definida como fluxo da experincia aqui-agora que a partir do sentir e excitamento no campo, orienta para a formao de Gestalten, produzindo um saber tcito, ou saber da experincia.
-----A neurose, A terapia e O trabalho com Awareness---
A existncia humana saudvel marcada pelo livre fluxo de awareness,
possibilitando uma contnua configurao de formas. O critrio de doena est relacionado capacidade plstica do campo organismo/ambiente, mantendo a totalidade em equilbrio dinmico. A neurose um conflito do campo e no intrapsquico e est envolvida com perda da capacidade plstica dessa totalidade. O indivduo adoece na medida em que o mundo est doente. Conflitos sociais, crises culturais, polticas e econmicas afetam o equilbrio da totalidade. A ideia de doena restrita ao indivduo no se sustenta.
A awareness pode assumir algumas qualidades nas experincias singulares:
impotente, ociosa, criativa, fora integrativa. So verdades da situao aludindo ao equilbrio dinmico do campo e afirmao da proposta de que, a verdade ltima provm da situao de interao. A awareness impotente reflete a uma experincia na qual o sentido dado de fora e o modo da ao pura passividade. Ansiosa indicaria uma experincia na qual o saber-se na situao no mobiliza rumo ao integradora, havendo passividade e paralisia. A criativa mostra uma forma ativa na situao e, se exerce uma fora integrativa, colabora para o equilbrio que permite a formao de gestalten.
A situao uma estrutura complexa que envolve dimenses prximas e
distantes do organismo, entrelaadas compondo uma totalidade. As partes dessa estrutura compem uma totalidade em tenso, que movimenta o campo e o excitamento. O excitamento relaciona-se sempre com uma dominncia que no envolve apenas uma necessidade interna do organismo. A manuteno do fluxo de awareness depende do grau de tenso na interao organismo/ambiente na fronteira de contato. Quando a interao simples, h pouca tenso e o excitamento flui livremente, orientando na formao de gestalten. Essas condies no esto apenas no organismo, mas no campo. Quanto mais fcil a interao, significa que o sistema funcionou no modo mdio e a formao de gestalten deu-se espontaneamente, sem esforo. Houve pouca awareness.
A dificuldade de interao ocorre quando h um conflito, gerando tenso no
campo. So foras opostas no campo que podem envolver diversas dimenses: necessidades, desejos, crenas, valores, moral introjetada, situaes inacabadas, conflitos sociais, familiares etc. Quanto mais conflito e tenses, mais barreiras e impedimentos ao fluxo de awareness surgem, resultando numa demora e indefinio na formao de uma figura de interesse. Esse retardamento do fluxo exige esforo de deliberao, atividade e separao da situao, transformando a awareness em conscincia reflexiva, rompendo a totalidade mente, corpo e mundo externo e perdendo integrao espontnea no campo.
Em situaes de interao com desequilbrio muito grande, o alto grau de tenso
ativa funes fisiologias de emergncia para reduzir a tenso e restaurar o equilbrio. Essas funes sao parte do sistema autnomo que ocorre de modo no consciente/voluntario. uma resposta ao movimento de conservao do organismo, promovendo um rompimento radical da unidade organismo/ambiente. Quanto as situaes de perigo ou frustao so recorrentes, pode haver um reajustamento fisiolgico (fisiologia secundria) que representa a fixao em um modo de funcionamento automatizado e no consciente, fechado sobre si e desconectado do ambiente. Esse automatismo um padro motor, um estado corporal tenso que impede o excitamento de fluis. nesse sentido que a neurose definida como situao de emergncia crnica, onde funes temporrias de emergncia se cronificam. Ela est relacionada de modo central com sua perturbao. A sensao crnica de perigo afeta o sentir em suas dimenses de abertura e afetao. H dessensibilizao e medo, distanciamento da experincia da situao de interao, o excitamento no flui. E existncia perde a plasticidade e no h fluxo de formao de gestalten, no h awareness.
O descobrir e inventar, que se refere espontaneidade e a voz mdia, est
prejudicada, esquecida ou perdida. O sentido demporal de possibilidade, segurana diante do novo e rumo inveno do futuro so substitudos por fixao em forma do passado. O corpo age de forma mecnica, desligado do desejo e da situao. A terapia feita para retomar o fluxo de awareness. Aquilo que foi o principal interesse e ocupao do organismo, do relacionamento/grupo/sociedade venha para o primeiro plano para ser integralmente experienciado e manejado. A proposta do mtodo teraputico concentra-se na estrutura concreta da situao, tornando presente as fixaes e tenses na forma que se configuraram. trazer de volta para a figura as fixaes que se tornaram petrificadas, cristalizadas. A terapia busca propiciar a percepo das formas fixadas, das tenses musculares, do corpo e do gesto presente, o que permite acessar o conflito presente na estrutura. A partir do contato com essa estrutura, h um resgate da confiana de interao, aceitando o desafio de enfrentar o risco da travessia implcito na experincia.
A terapia de concentrao da Gestal-terapia visa restabelecer o continuum de
awareness. O trabalho teraputico com aquilo que est em via de se formar, com o fluxo de configurao de formas, de sentido. Visa a fluidez do processo da conscincia atravs da corporeidade, retomada da noo de ser um corpo que devolva pessoa a sensao de possibilidades, o sentido de eu posso.