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~129- AGRICULTURA EM SAO PAULO Boletim Técnico do Instituto de Economia Agricola Ano 37 Tomo 3 1990 0 PLANO NACIONAL DE DEFENSIVOS AGRICOLAS E A CRIAGAO DA INDOSTRIA BRASILEIRA DE DEFENSIVOS(1) José Maria F.J. da Silveira(2) Ana Maria Futino(3) RESUMO Este texto visa analisar o efeito das Polfticas do Plano Nacional de Defensivos Agrfcolas (PNDA) na constitutcao da indistrta no Brasil. 0 prineiro item determina as principais caracter{sticas a estrutura de mercado da indstria de defensivos. Ele reconstrét "teoricanente” seus principais elenentos. © segundo itea analisa o sentido das polfticas contidas no PNDA'e seus resultados inediatos, ou seja, relacionados ao estabelecimento da indistria no Pais, que é narcada pela internailzecso, pelas firmas ifderes mundiais de etapas finals da cadeia produt iva. . : 0 tercetro item avalia os resultados das polfticas enfatizando papel das inovagSes tecnolé= gicas no surginento de pressoes para importacao de produtos. 5 7 Conelui=se que as polfticas de substituisgo de importagses tém pouca eficténcia en oligops= Mos diferenciados on que inovacdes en produtos é 0 principal fator competitive das eapresas. Con= cluicse que o estabelecinento de una estrutura industrial produtora de defensivos demands capaci. 80 tecnoldgica, mesno para aconpanhar os "gaps" eriados pelo seu proprio dinami sao. ‘THE NATIONAL PESTICIDE PROGRAM AND THE CREATION OF THE INDUSTRY IN BRAZIL SUMMARY This text aims to analyse the effect of the National Pesticide Program (PNDA) policies on the establishment of the industry in Brazil. ‘This first iten determines the nain characteristics of the pesticides market structure. It is a theoretical reconstitution of its principal elements. ‘The second item analyses the means of the PNDA policy and ite samediate results, in other words, the establishment of the industry in Brazil, arising from the final market, of the world leadivg firm. (Q) Trabalho referente a0 projeto SPIC 16-004/87. Recebido en 28/04/89, Literado para publicacio en 06/11/90, (2) Professor Assistente de Economia do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP), (3) Pesquisadora ‘Cientifica do Instituto de Eeonoata Agricola (IEA). Agricultura em So Paulo, SP, 37/9:125-146, 1990, =130- The third rote of the tecnological inno The differentiated oligopolies, wre The item evaluates the results of this policy in {ons in the enersion of iaporting pressures. SOnclusion. is that polivtes of substitution of inportations have little ‘technological innovation in product is a prine power in Taea of establishment Of the industry structure in the country the recent period, emphazasing the eficetency in ‘competion ‘denands strategies of technolopic Tubecivation, even for the ocupation of gaps in the market created by its own dymenisn. 1 = INTRODUCAO 0 objetivo deste trabalho é discutir os resultados da politica de criacao e internalizacao de etapas produtivas da industria de defensivos agricolas no Brasil. Este tipo de estudo, ainda que ndo esteja diretamente referenciedo a questao da producdo agricola, mantém com ela estreitas ligacoes. Em primei- ro lugar, porque os defensivos agrico- las tornaram-se essenciais 4 producao, ou seja, elemento estrutural da compo- sicdo do produto agricola. Em segundo lugar, os defensivos sao produzidos por uma indistria com caracteristicas de dinamismo tecnolégico como elemento do processo de competicao e sua adocdo pelos agricultores implica impactos oriundos da inovacao. Em terceiro lu- gar, estd a questao das especificida- des do processo de instalacdo da indis tria no Brasil, com reflexos sobre @ disponibilidade desses produtos quimi- cos, e determinando, dentro de certos limites, a composicao do consumo pelo: agricultores. Em resumo, conhecer forma de desenvolvimento da indistria de defensivos no Brasil é fundamental para a compreensao de sua importancia para as mudangas de padrao tecnoldgico na agricultura e dentro dela. © item 2 tem como objetivo estabelecer uma caracterizacdo geral da indistria de defensivos, que permi- ta a visualizacdo da importancia do padrao competitivo internacional para Bs questdes tratadas nos itens seguin~ tes. (4) Essa caracterfstica fol analisada en profundidade ‘Agricultura em S80 Paulo, SP, 37(3):129-146, 1990. © item 3 é fundamentalmente descrito e procura mostrar as dimen~ sdes modestas de investimento requeri— do a implementacao das etapas propos- tas no periodo do PNDA, Evidencia, também, a importancia da combinacao da polftica de incentivos com uma politi~ ca tariféria ndo liberal. 0 item 4 contém as questes centrais do texto? © processo de internalizacao da indiis- tria no Brasil é contraposto ao retor~ no das importacdes de princ{pios ati- vos e de intermediarios, em condicao de retomada do consumo e de diferen~ ciacao de produtos. 0 item 5 apresenta as conclusces do trabalho. 2 - CARACTERIZACAO GERAL DA INDOSTRIA DE DEFENSIVOS AGRICOLAS A industria de defensivos aericolas apresenta algumas caracteris ticas fundamentais que sio determinan- tes de seu dinamismo e que condicionam seu padrao competitive em um dado perfodo. Pode-se dividir essa caracte~ em dois itens basicos: a) o primeiro relacionado 4 inddstria, como parte do complexo quimicos b) 0 segun- do relacionado 4 ligacao “para fren- te", da indistria com a agricultura. A industria de defensivos agricolas, como parte do complexo qui- mico apresenta-se, na atualidade, como segmento da qu{mica fina(4). Isto é justificado por: a) seus produtos sao resultantes de complexos processos de sintese quimica, obtidos a partir de rizagao por SILVEIRA (23). certas moléculas organicas basicas; b) @ semelhanca da industria farmaceuti- ca, determinadas trajetérias inovati- vas sao exploradas até a exaustéo; c) os produtos caracterizam-se por seu elevado valor unitdrio e por sua uti- lizagao em pequenas quantidades em relacao outros produtos da indistria quimica e petroquimica. A insercdo da indistria de defensivos agricolas no complexo qui~ mico faz com que: a) exista uma base tecnolégica para diferenciscao de pro— dutos, segundo subtrajetorias que por vezes se completam no tempo, mas que tém por critério basico de seu desen- volvimento e superioridade de uma de- las sobre as outras, segundo deterai- nados parametros; b) as patentes si tornem um elemento decisive para a definigéo de politica de Precos das empresas, condicionando, também, deci. sides de estratégias de longo prazo. Ha o caso particular de muita importan~ cia, dos paises que nao reconhecem pa- tentes sobre produtos, mas somente so- bre processos; c) se busque associar o nais precocemente possivel marcas a in gredientes ativos, que sustentem por maior tempo as vantagens propiciadas pelas Patentes, inclusive, por um pe- tfodo apds seu vencimento; 4) haja in- teresse no controle do produto final, ou seja, do processo de distribuicao do produto e, finalmente; e) sejam fa~ vorecidas formas de contrato, associa~ cho e mesmo de integracdo vertical "pa ra tras" com fornecedores de matérias~ primase bens intermedidrios a indus tria. Quanto a este dltimo ponto pode-se enfatizar que a dinamica do processo é dada pela industria de de- fensivos. En muitos casos relevantes, como da Bayer, Dupont, Hoescht, Monsan to, a participacao das empresas na indiistria petroquimica é a principal fonte de faturamento (ainda que com (3) A. participa pode ser visvalizada en SILVEIRA (13). ‘Agricultura em S80 Paulo, SP, 3%3):128-146, 1990. -131- lucratividade menor) e a producao de insumos basicos se dirige a vario segmentos do complexo quimico, entre eles, o de defensivos agricolas. Nes- tas empresas, poucos sao os produtos voltados unicamente para esta indiis- tria (5). Como sera visto adiante, a questdo dos bens intermediarios é in- Portante para formulacces de politicas para a industria de defensivos agr{co- las. Jd se pode perceber que o processo de gerasdo e difusio de tec- nologia assume importancia fundamental para o padrao competitive da indés~ tria. Pode-se, assim, caracterizad-lo, pois: a) o lancamento de produtes no- vos é resultado de um demorado proces- so (9 a 10 anos, em média) de selecao ("screening") de princfpics ativos (50.000 produtos testados, na maioria das vezes), composto por varias eta~ pas: selecdo, testes em laboratérios, testes de campo e registro; b) geral- mente, a base dos ingredientes ativos testados sao compostos quimicos origi- nados da manipulagao de determinadas moléculas organicas basicas, que por seu turno sao resultantes da combina- cdo de produtos intermediarios utili- zados em varias industrias do comple- xo, principalmente as de quimica fina ©) adicionese 0 fato de que a obten— 40 de novos produtos, além de denora- da, é, na atualidade, cara (US$ 30 a 80 milhées). Grande parcela do conhe- cimento gerado e obtido é internaliza- do pelas empresas NAIDIN (8) insiste na questao do aproveitamente da econo- mia de escopo pela industria de defen- sivos como fato mais importante que a integracdo vertical no desempenho das enpresas. Estas caracteristicas deter- minam que: a) as empresas Tesponsdveis pela introducéo de una inovacao primé— o dos principats bens internedidrios nos diferentes grupos de ingredientes ativos 132+ ria continuem a pesquisar novos produ- tos dentro desta trajetéria. 0 sentido do termo cumulatividade ganha, assim, enorne importancia; b) que se estabe~ leca, até certo ponto, uma divisdo em “greas de especializacdo" entre as empresas lideres, no que se refere as etapas de lancamento de produtos que é feita também nos paises e regioes onde as firmas inovadoras ndo tém partici- pacao importante no mercado; c) 0 esforco de vendas seja feito de forma altamente qualificada, para que o processo de diferenciacao, que foi explicitado antes, possa ser associado a vantagens outorgadas pelas patentes e permita a obtencao de margens eleva~ das de lucro; ou seja, para que efeti- vamente o lancamento de novos produtos se torne, via esforco de vendas, um ueio de erigir barreiras @ entrada en certos submercados ou mesmo em fatia: destes. Este tipo de obstdculo ao prolongamento da vida Util de produtos protegidos por patentes interage com 0 esforco de pesquisa das empresas, dando configuracao a trajetorias ino- vativas (6). A capacidade de "potenciali- zar" o uso de um principio ativo esta também relacionada 4s diferentes for- mas de aplicacao: em tratamento de sementes, pulverizacao da parte aérea (por aviao), das raizes, em polvilha- mento. Estas correspondem a diferentes formulacdes. £ um ponto importante, onde se dé a articulacao coma indis- tria de equipanentos agricolas. Isto remete ao fato de que os produtos, obviamente da indistria, se voltam para um mercado com certas peculiaridades: a agricultura. Em pri- meiro lugar, o mercado para a indis- tria @ segmentado em subnercados inseticidas, formicidas, acaricidas fungicidas e herbicidas. Este fato. propiciado pela natureza das intera— ses planta~patégenos-ambiente, poten~ cializa a utilizacaéo dos grupos de ingredientes ativos, sendo que alguns deles tornan-se basicos para produtos utilizedos nos submercados. Sone-se a isso, o dado de que ‘Agricultura em So Paulo, SP, 3719:129-146, 1890, os produtos da indistria sao multidi- mensionais. Sao avaliados através de uma série de critérios segundo parane- tros de desempenho e eficacia no con- trole de pragas, patogenos e ervas daninhas, maior ou menor facilidade de aplicacao (@ que condiciona a perfor- mance do servico de assist’ cia técni- ca da empresa); custo por hectare (ja existem diferentes formulagoes, vincu- ladas a diferentes formas de aplica- sao); seguranca na aplicacdos_fitoto- xidade; volatilidade; persisténcia no ambiente e capacidade de combinacdo com outros produtos (sinergismos, supe racao de fendmenos de resisténcia, re~ ducao da toxicidade). Como resultado das trajeté- rias inovadoras, 0s produtos se tor- nam, em geral, mais seletivos, efica~ zes, mas mais caros. As técnicas de aplicacéo passam a exigir maior dom{- nio dos equipamentos, cuja regulagea torna-se mais complexa. As condicoes ideais de aplicacao dos produtos, por vezes, tornam-se mais restritivas. Ha, ainda, toda uma série de produtos complementares aos defensivos, cujo lancamento poderia ser. considerado como parte do conjunto de inovacoes secundarias (via “learning by using” da indistria: surfactantes, proteto- res, enulsionadores, compatibilizado- res, adesivos), Estes produtos visam permitir a utilizacdo de produtos que, por exenplo, apesar de sua eficdcia, sejam fitdxicos; e também, permitir combinagdes entre produtos da indus tria vao se diferenciando e se adap- tando 4 abertura do leque tecnoldgico entre agricultores. Todas estas caracteristicas tém uma consequéncia: propiciam o processo de diferenciacao de produtos por parte das empresas. Ainda mais, permitem que determinadas empresas ex- plorem 0 processo de diferenciacao de produtes através de determinadas sub- trajetérias que acabam tedundando em "area de especializacao". Hé uma interacdo dindmica entre pesquisa e ambiente que merece ser destacada: o préprio uso continua- do de defensivos cria motivacdes para © lancamento de novos produtos. 0 uso prolongado de inseticidas e fungici- das de certos fendmenos de resistencia que reduzem a vida util dos produtos. Paradoxalmente, esta é uma fonte de est{mulo & geraczo de inovacgdes e de barreiras entrada de firmas imitado- tas. Por outro lado, abre oportunida~ des para que concorrentes que tenham potencial (volume mfnimo de capital para enfrentar o risco elevado) para o lancamento de inovacées primarias ou mesmo secunddrias (imitativas) superem 0s problemas citados. 0 fluxo acelera- do de langamento de produtos pode acabar favorecendo 0 "retardatario" que ja entra ao mercado com um produto melhor. Logo, a estratégia imitativa pode tornar-se eficiente para conquis- ta de uma maior parte de um submercado ab. Hi mais um ponto a discutir. Gono indistria que gera produtos toxi- cos, esta opera com reduzida margem de tolerancia. Em paises desenvolvidos, a forte regulacéo estatal acaba por estimular pesquisas com produtos nao toxicos, de origem bioldgica e estim- la formas de controle integrado d pragas que afetam o faturamento global da indistria, principalmente no submer cado de inseticidas. Esta reducao ira afetar diferenciadamente as empresas mudando a configuracéo do mercado Deve-se ter claro que é uma perspecti- va ingénua pressupor que a reacdo das empresas se dé unicamente no campo tAtico; ou seja, quando fatos relevan- tes acontecam, A configuracao presente do mercado é resultado de estratégias montadas no passado e de ajustes tati- cos devido ao surgimento de mudancas imprevisfveis em fatos que determinan © comportamento dos submercados (6). © mercado mundial é liderado por apenas 17 empresas - geralmente -133- grandes empresas do Complexo quimico - altamente diversificadas (mas dentro do setor), que lancam de 1 a 2 produ- tos realmente inovadores a cada cinco anos e que permitem o faturamento anual de US$35 a 100 milhdes (para cada produto) ou US$25 2 50 milhoes/ ano (no caso de 2 produtos). Ou sejay trata-se de uma estrutura onde a per- manéneia ou crescimento de uma empresa exige o dom{nio de um assunto de varia veis e de procedimento rotineiros e inovadores (13). Ainda que _nao se possa dedu- zir da caracterizacao geral uma tendén cia inequfvoca 4 maturidade da indis- tria (que deve ser demonstrada através de fatos), pode-se afirmar que ha elementos que permitem correlacionar as trajetérias inovativas, os fatores responsaveis por seu dinamismo, com as causas que determinam a compreensao das margens de lucro. A saber: o enca~ recimento do custo de Pesquisa e Desen volvimento € 0 esgotamento de certas trajetérias inovativas (em parte. pela obsolescéncia acelerada que dinamiza o processo competitive). Com isto, o vencimento do prazo de patentes torna- se variavel e crucial para o processo de concorréncia. Os bens intermedia- rios representam 30Z-40% do custo dire to dos produtos e em mercados maduros (ou melhor, em certos seguentos dos submercados) a reducao destes custos & fator importante de competitividade. A reducdo crescente do volume de produto final, através de moléculas de alta atividade, motiva que se dé preferén- cia ao comércio internacional de in- gredientes ativos e de bens interme~ diarios. A entrada de novas empresas neste mercado é, pois, extremamente diffcil. A possibilidade de realizacao de "joint-ventures" entre firmas 1ide- res, inovadores e empresas nacionais (6) 0 resultado desta complexa estrutura de mercado foi resumida por STLVEIRA(L3). Agricultura em $80 Paulo, SP, 3%3):129-146, 1990. 134 depende de una série de fatores, prin- cipalmente do estinulo de medidas de polftica. A importancia do controle da comercializacao do produte, dos proces sos de “learning by using" reduzem a ‘probabilidade de acordos comerciais e licenciamento, envolvendo empresas 1i- deres mundiais empresas de base 1o- cal. Adicione-se, o fato de que as ex- portacdes de produtos desta industria sao fundamentais para certos paises, como Alemanha Ocidental, Gra-Bretanha, Sufca e Israel. Nao por acaso, estes paises sediam importantes firmas 1ide- res deste mercado. Ja no caso dos EUA, as exportacdes podem ser vistas como resultantes de excedentes da ocupacao da capacidade ociosa em determinadas conjunturas. Ainda assim, em determi- nados anos, os EUA exportam elevadas porcentagens de sta producdo. Raramen- te os paises recém-industrializados tornaram-se exportadores de interme- didrios ou de ingredientes ativos. Co- mo serd visto, o Brasil constitui uma excegao. Alemanha Ocidental, Suica, Israel_ exportam 80% ou mais de suas produgSes. Jd nos EVA esta porcentagem raramente supera os 302 (7). Uma altima qualificacdo se coloca sobre questées de mudanca da base tecnolégica, na qual a industria apola seus processos inovativos. Ha varios trabalhos que demonstran a postura ofensiva da indiistria quimica, em face a emergéncia das novas biote nologias. Deve-se obsetvar que os ii vestimentos de certas empresas em PD nesta drea contemplam fundamentalmente estudos em pesquisa basica que permi- tam avancar nas metodologias de obten— sao de produtos: melhores conhecimen~ tos de fendmenos de acao fisioldgica e bioquimica, de mecanismos de toleran- (7 STUYBTRACA2) e _ASSOULINE & DAUID (2) conércio arterior de defensivos agricoias. (8) Por exenplo, Instrucées 49" e 70 da SiMOCs modernizacso” da” agricultura, a0 colocar 03 esta Gitina Foi de ingunos agefeolas “na cla e, inclusive, de substancias chave para determinados caminhos de produgao de metabdlitos. Em outras palavras, busca-se a geracdo de conhecimentos para obtenco de moléculas que, por analogia, deverao ser copiadas, visan- do novos produtos. Em um futuro préximo, essa trajetéria de aprofundamento da base de conhecimentos acumulados na indis- tria conviverd com outras, baseadas na obtencao de novos defensivos por vias fermentativas ou de multiplicacao celu lar. 3 - A INTERNALIZAGAO DA ESTRUTURA PRO- DUTIVA DA INDUSTRIA DE DEFENSI- OS AGRICOLAS NO BRASIL Pode-se tracar resumidamente algumas especificidades do processo de eriacao da indistria de defensivos no Brasil, através de uma breve periodi~ zacdo: a) do pés-guerra até 1967: este perfodo @ marcado por prolongada politica liberal por parte dos varios Orgios governamentais envolvidos, en- tre eles, a SUMOC (8) e 0 Conselho de Politica Aduaneira (CPA). Este ultimo nada mais fez que referendar as listas de ingredientes ativos e produtos formulados propostos através de Porta- rias do Ministério da Agricultura e que deveriam ser importados. Este periodo é marcado pela inexisténcia de protecdo cambial a indistria, o con- texto de modernizacao da agricultura. Mesmo aps a resolucdo 204, da SUMOC (1961) manteve-se a politica liberal que favorecia a importacdo de defensi- vos. Neste perfodo, a producao brasi- leira se limitava a alguns organoclo- epresentam ua tratanento nats detathado da questéo do grande inportancta para a categoria de produtos essenciais. Isto significa ter prioridades nos leilées de cambio, entre outras vantagens. Agricutura em So Paulo, SP, 33}: 129-146, 1990, rados muito difundidos: DDT e BHC; b) de 1967 a 1974: neste perfodo o CPA nontou uma polftica visando evitar “dumping” por parte das empresas lfderes mundiais que prefe- riam exportar para o Brasil, contra as empresas aqui instaladas, ajustando as taxas de importacao ao nivel de precos das empresas nacionais. Mesmo com a eriacao de precos de_referéncia no periodo 1967/69, a indistria de defen- sivos agricolas era uma das mais des- protegidas (9); c) de 1974 a 1980: hd uma politica aduanefra seletiva, onde se combinam isencées para as importacdes de princ{pios ativos com a protesao as formulacées feitas no local, através de taxas ad valorem. 0 perfodo é tam- bén marcado pelo II Plano PND e pela instalacao, em 1975, do Plano Nacional de Defensivos Agricolas (PNDA). relevante no perfodo, a politica de crédito de custeio pare agricultura, cujo volume de recursos j4 havia se intensificado desde o infcio da década de setenta. Trata-se, por consequén- cia, de um perfodo de acelerado cres~ cimento da indistria; 4) 9 perfodo de 1981 até o presente momento: ocorreu, até 1985, significativa retracéo da demanda, exceto de acaricidas e de herbicidas (que mantén a tendéncia do perfodo (9) Ba 1967, a5 resolugdes 478 © 502, ¢o CPA retiraran os produtos ¢ -135- anterior). Neste perfodo a instalacao da estrutura produtiva das etapas finais dos produtos mais difundidos ao nivel internacional. Apés 1985, téarse oscilacces de merca~ do que refletem a instabilidade das principais culturas que consomen defen sivos. completarse Analisarse, a seguir, no que consistiu o PNDA. 0 PNDA foi criado em 1975 e procurou motivar a internaliza- cao de etapas produtivas finais de defensivos, com o objetivo de reduzir as importacgoes, principalmente de pro- dutos formulados, reduzir os precos dos produtos e, se possivel, gerar excedentes exportaveis. Paralelamente a0 PNDA, estabeleceu-se uma regra de retirada progressiva das isencdes tari farias de formulacées e ingredientes ativos 4 medida que estes passassem a ser produzidos no Pats (10). A reducdo desses incentivos foi extremamente significativa (3) e (8). A internali- zacao da produgao de defensivos foi feita via incentivos fiscais em proje- tos aprovados pelo Conselho de Desen~ volvimento Industrial (CDI). Um primed ro resultado visfvel do PNDA € que este foi_capaz de estimular a rapida instalacdo de plantas produtivas de empresas 1{deres em produtos largamen- te difundidos. A saber: 9 inseticidas, 4 fungicidas e 6 herbicidas. A analise patentes vencidas da categoria dos produtos favorecidos. Esta medida, conbinada com a definigso jé feta ex 1966 dos “instrunentos necessarios para a atuacdo do Consetho de Desenvolvinento industrial (CDT)" é um prendncio da polftica que serd adotada a partir de 197% ( (20) beste fato se deriva a necessaria "sofisticacao" de pol{tica do OPA. Na Res. no. 137 e over. fonadas en 1950. defintran-se alfquotas de 5% para importacdo de matérias-prinas a0. produzidas Jocelaente destinades % fabricagao de defensivos agricolas; allquotas de 30% incidentes na Amportasao de produtos técnicos e de 50% sobre preparagdes. fn 1986, esta sofisticasao chegou ao. ponto de que se relacionassen as allquotas incilentes a certos limttes de valor adicionado pelos produtos inportados. Produtos inportados que agregassen ate 25% ao valor do produto final Einhan aifquota de 5%. Produtos que superen 75% tinhan alfquotes superiores a 30%. Tal polfetea sofreu sodificacces en 1989 estando eu revisao atualmente, pos Plano Color. Preve=se a queda nas alfquotas que protegen produtos taenicos, o que poderd, se feito de forma pauco culdadosa, Yeverter os resultados obtides com a politica praticada na década de 80. Agricultura em Séo Paulo, SP, 3%°1:129-146, 1890. -136— dos dados referentes @ instalacao dos projetos incentivados ou nao pelo PNDA pode ser feita a partir do quadro 1. Pode-se observar que alguns produtos Patenteados na época foram introduzi- dos no perfodo pela ‘Dupont (uréias) Ciba Geigy (atrazinas) e Elanco (tri- fluralina), sem incentivos do plano, revelando que este teve um_ significa- tivo efeito sobre as decisdes de inves timento das empresas (algumas, como Bayer 34 produziam antes do PNDA, organofosforados muito difundidos, co- mo 0 parathion). Os mesmos dados indicam que o PNDA permitiu a entrada de deres cada qual em sua especializacdo". Com raras excesses, as empresas entraram com produtos consagrados (com patente e marca regis trada associada ao nome da empresa), cuja inovacdo primaria(11) foi obtida pela empresa, a partir do aproveita- mento de trajetérias comuns a varias indistrias do complexo em que atuavam como firmas multidimensionais. Deve-se observar que a insta- lacdo das etapas finais de producao (ingrediente ativo e formulacao) nao requerem elevados volumes de capital (ha excecdes, como no caso da producag verticalizada de carbofuran, feita @ época, péla Union Carbide, e atualmen- te desativada). Isto torna muito dis tintos os graus de importancia da + polftica de incentivos e investimentos para “esta industria em comparacao com (11) Segundo 0 4 ttido no item 2. outras indistrias do setor petroquimi- co e quimico, como exemplo, a de fer- tilizantes(12). Este ndo pretende ser éxaus~ tivo, mas apenas evidenciar as dimen- sdes de volume (escala) e valor de alguns investimentos realizados no pe~ rfodo (13). 0s valores de importantes investimentos realizados no perfodo de 1978-85 servem para evidenciar as dimensdes de volume (escala) e valor de alguns investimentos realizados no perfodo (quadro 2). As seguintes observacdes po- dem ser feitas a respeito do investi- mento na industria de defensivos agri- colas: a) 0s investimentos em formu lacgéo consistem em 10% a 20% do total (de ingrediente ativo a produto fi- nal). Estao numa faixa de US$150 a US$200/tonelada/ano (délares de 1980); ) Os investimentos em ingre~ dientes ativos (e consequentemente em formulagao, uma vez que os dados do quadro 2 nao discriminam o que é ‘feito apés 0 investimento para producdo de ingrediente ativo) variam de US$500 a préximo de US$4.000 a tonelada/ano. A excecdo refere-se a instalacao da planta Union Carbide para produao de Aldicarb, que envolve investimentos em etapas intermediarias, visando atendi- mento também a outras indistrias. Os exemplos de verticalizacao sao recen- tes (por exemplo, methamidophos) e tém (12) Tal comparagao & importante, uma vez que defensivose fertilizantes so Produtos que determinan consideravel parcela de dindsica inovativa na agricultora. ee (45) loe""dados" aprosentadoe no" qundre 2," aeve aiicionsr’ trés observacSes; a) excluturse os Fungicides, “Une "yer gues gaforia dos investincreos folvaetes antes eas Sp/geetMurss, 8 Produtos dé protegio; b) sé mais recentenente for de siguns heterocfelicos nitrogenados; wram instalados projetos de produgao de captan e ‘¢) no caso dos inseticidas, 0 quadro é incomplete, por do incluir investinentos para produsac de dicrotophos, malathion, Dipv, dimetoato, photate, ethion, endogulfan, Algunas plantas Ji foram desativadas na atualidade; d) a lista de herbicidas nao ineiuf os investimentos em paraquat e diuron pela Dupont e 2,4 e derivados pels Dow. ‘Aarieuttura em So Paulo, SP, 37(3:129-146, 1990, “0661 SPL-E2L EME “ds ‘omeg ong wie eAmyrUBy . . . . 7 QUADRO 1, ~ Iovestinentos na Produgio de Ingredtentes Ativos por Classe de Defensivos no Perfodo do Plax no Nacional de Defensivos Agricola (NDA), Grasil, 1975/79 Chases Fira Cap. produtiva Data de. Conformidade ie Existéneta (efano) implantacio —‘mataa do PNDA do incentive Insecicidas ‘Clorados, ‘BHC Matarazzo 7.000 1970 ‘suplanca Toxafeno Wercules 111300 suspense ‘auspenso Agroquisa 7200 ir conforne por Noesehe 8000 1970 anterior Fosforados Mone ¢ dterotofon 2 srr suplanca Parethion 2 1974 inferior parathion in 1978 suplanta perathion a 1978 suplanta Malachion td 5 i977 inferior Dimeeoato Novtox u 1979 ‘suplanta Herdtetdas Teifluratinns Noreox 4.000 1977 conforae Boones 5.000 1977 svplanta Tetazines coxa 3.500 1979 contorme Horbicuentee 350 puapense Cha Celay 3.000 1978 suplanta Propand cana 700 1977 infertor Rew 600 1977 contorne Duron Dupont 2.000 1976 conforms dopant 2000 1980 suplanta Herditventen 3.000 suapenno Brosactt Herbituentea 350 Sunpenso 2,60 Dow chen. 9.000 1976 conforme ota Paraquat ct 1000 1s78 conforme ots Fungtetdas . Dithane nan a 1967 inferior ee Maneb Dupont a 1976 inferior a Dupont mi 978 Anfertor Raw “ 1974 inferior Ra 3 1978 conforme sia Oxteloreto de cobre Sandoz 10 1978 conforme ot Oxiclorete de cobre G. Adolfolace 34 1978 suplanes Oxide cuprons Sandor i977 Biitean e Talran Rhoeia 1977 infector Rhodia 1 1980 conforms Fonte: Compatibilizasio feite pelos eutores 9 partir de dados bisicos de CIAVES(3) « NAIDIN(3). -1e1- 66) “OPL-€2L RE “26 ‘olneg OFS wo EIMNIUEY QUADRO 2, ~ Prinetpate Investimentos: indistria de Defensivon no Brant, 1976/85 8e1- Grupo quinteo Expresa Produto Volune Varor Eeapa (elana)—(US$/t)) Insetictdar Orgencclorados « Boyer (1972) Parathton ¢ outros 10.020 155.7 Prod. form. © Ing. acivo (etx) Orgenofosforedes Sinteaul (1980) ‘Trichlorfon siz 512,53 Ing. ative Beyer (1980) Tetchlorfon ¢ ovtron vam 164,53 Prod. form. ¢ ing. actvo (mtx) Defenaa (1980) Trichlocfon e outros 1100 451.0 Ing. ative, prods form, (nix) Sandoz (1981) Disulfoton, Thkoneehion 16.575 125,35 -Pred. formulado teorginicon Beet (1978) Eaxofre 5.000 451,0 Ing. ative Peraol ¢ C. Bernardo 1980) Foofete de aluafate 150 -3.701,5 ng. ative carbonates U. Carbide (1980) Aldteaed 450 43.3844 Ing. ative @ Ainternedtirtos Pirserdides Ctbe Cotyy (1985) Cypermeerta 350 1.764, Ing. ative Nerbictdas Carbanaton Stauffer (1978) THocarbamatow 2.160 5568 Ing. ative Triazinas (suletprop.) Ciba Getgy (1978) Triaetnas ¢ clorobenzilaco $.400 —«$.279,0 Ing. ativo, internediariox asides Stauffer (1977) Propantt 1.560 427.5 Ing. ativo, formulacio Urétan Wortox (1981) Dturoa 3.000 121,6 Ing. attvo, formutacie Elanco (1982) ‘Thebuehicon Sus 6. 886,0 ative, intereedtirio Aoinas Defensa (1981) Tetfluraling 500 364.9 Ing. ative Fenoxiieidoa Noreox (1982) Gliphosaco (522) 1,560 -2.152,8 Ing. ative Monsanto (1983) Gl iphosaco, (953) 1750 21919,3. Ing. attvo (2) Ba valores constances de 1980, usando como deflator of {ndices de inflacdo des EUA, Banco Mundial. Fonte: NAIDIN (8) © ANDEF/SINDAG. se tornado frequentes devido ao esfor- go de empresas nacionais; cc) Comparando com a indistria de fertilizentes, REYDON (10) observa que estes exigem valores em torno de US$100 @ US$1.000 por t/ano de produ- to, em paises com alguna infra-estru- tura, 0 que significa uma faixa de va lores um pouco abaixo & requerida pe- jos defensivos. Todavia, para estes va lores sejam obtidos, a escala requeri- da é de 200 a 400 vezes superior aque- 1a economicamente viavel 4 producao de defensivos. Assim, a instalacao de um parque produtor de mitrogénio e fésfo- to, alem da necessidade de fontes de matérias-primas, implica investimentos proximos @ US$1 bilhao (quadro 2) (3). As informaces obtidas até aqui, permitem o estabelecimento de algumas' conclusées preliminares, que se adicionarao as do proxino item a) perfodo 1974-80 concentrou © maior volume de investimento da indistria. Ou seja, houve relevancia nas medidas de incentivo derivadas do PNDA, no sentido de internalizar parce 1a importante da producao de princf- pios ativos. Jé 0 processo de interna- lizacdo de intermediarios foi quase nu 1o no perfodo citado. Os investimentos acumulados atingirem US$200 milhdes 2% dos realizados pela industria qui- mica no periodos >) Na década de 80, refletin- do a crise econdmica e a mudanga do tipo de produto, os investimentos foram bem maiores centrados em plantas multiproposite de alguns produtos pro- nissores (Inazaquin, Fenvalerate, Del. tametrina). A indistria nacional ver- ticalizou parte da produgao de inter- nedidrios (aminas, clorobenzenos, dini troanilinas) sem, todavia, internali- zar alguns intermedidrios-chave, como © cloreto cianirico (para atrazinas), permitindo que os grandes grupos impor tassem intermediarios de "alto valor adicionado". Na mesma década ocorrem desa- tivacdes de plantas e o retorno a importacdes de produtos "mal sucedi~ ‘Agricultura em Séo Paulo, SP, 3713:129-146, 1990. -139- das" ou que sofrem 2 competicao de novas moléculas (malathion, dimetoato, endosulfan, phorate e fenitrothion). © proximo item dara énfase no processo de substituicdo tecnoldgica de produtos, que é caracteristico da indistria, evidenciando seus efeitos sobre 0 processo de internalizacao da indiistria no Pais. 4 - INDUSTRIA DE DEFENSIVOS NA DECADA DE OLTENTA: IMPORTACAO, EXPORTA~ KO E TENDENCIAS RECENTES DITA- DAS POR INOVACGES TECNOLOGICAS 0 periodo 1982/84 apresentou como resultado de polfticas macroeco- némicas recessivas (ditas de ajuste), uma queda no investimento global da economia. Apenas alguns segmentos mais dinamicos da economia mantiveram ou superaram os niveis de investimento anuais verificados na década anterior. Na inddstria de defensivos, o efeito do ajuste macroecondmico se da tanto pelo lado do clima de instabilidade financeira (afetando as expectativas do investimento direto), quanto pelo efeito sobre a demanda corrente por defensivos, causado pela reducao dos volumes disponiveis de crédito de custeio para agricultura (a partir de 1983, sem subs{dios). A dltima safra, 1989/90, também ressentiu-se dos cor- tes rtealizados pelo Governo nos volu- mes correntes destinados ao crédito rural, afetando a performance da indis tria. Acrescenta-se que cono resul- tado da elevacao persistente dos pre~ cos dos defensivos e da emergéncia de inovacdes biotecnolégicas (principal- mente, 0 uso de manejo integrado de Pragas (mip) e de maior importancia do controle biolégico de pragas), ocorreu persistente queda no uso de insetici- das. A queda do consumo de fungicidas de 1981 a 1985, se deveu em parte a fenomenos climaticos (por excesso de chuvas em 1982 e 1983), elevando-se, 140— em funcao do bom desempenho cultura depois, dos fungicidas sistémicos na de trigo. Confrontando os dados de capa cidade instalada (quadros 1 e 2), no perfodo, com os de vendas de defensi- vos, 0S mesmos indicam uma capacidad ociosa média de 73% na indistria (12) © que explica o baixo nivel de inves- timento. nos anos 80. 0s efeitos da internalizacéo produtiva no saldo da balanca comercial da indistria poden ser analisados a partir dos dados refe rentes a importacao e exportacao da indistria, em anos selecionados entre 1975 e 1988 (quadro 3). Observa-se qu a) ha quase total redugdo da importacio de produtos formulados, fruto da politica tarifaria, combinada aos incentivos do PNDA; b) cresce de 1975 a 1980 a importacio de bens intermediarios e matérias-primas, que todavia se reduz de 1980 a 1984, principalmente devido & queda da producao; ¢) eleva-se de 1975 2 1980 a produgao de ingredientes ativos. Es- tes, todavia, vao sendo substitufdos 20 longo da primeira metade da década, © que faz com que se elevem as impor- tacdes ja em 1986, pelo efeito do Plano Cruzado sobre 0 consumo de defen sivos. Tal tendéncia mantém-se nos anos seguintes; @) elevam-se as exportacdes, reduzindo o déficit da indistris de um pico de US$335 milhoes em 1980 para menos de US$200 milhoes no periodo 1986-88(14). Apés 0 perfodo de investinen- tos _correspondentes ao PNDA seria possivel esperar uma certa estabilida- de da estrutura de mercado da indis- tria, principalmente nos submercados de inseticidas e fungicidas. A esta “naturidade" da indiistria corresponde~ ria uma contribuicdo positiva aos sal- dos comerciais da agricultura observa- dos no perfodo, mesmo sen a recupera~ co dos precos da maioria das "commo- dities". Alguns fatores contribuiriam para estas expectativas: a) nos submercados de fungi- cidas e inseticidas havia uma gama de produtos de largo espectro ja interna~ lizados, com excesso de capacidade produtiva face 2 demand em retracao. Este fato, combinado politica tari- faria e A forma com que foi estimulada a constituicao da indistria no Brasil (cada firma lfder instalou-se em sua area de especializacao), sugeriria elevada estabilidade oligopolista; b) no submercado de herbici- das existiria a possibilidade de en- trada de novas empresas, com produtos novos. Tratava~se do submercado com menos problemas relacionados a criti- cas ecoldgicas e ao aparecimento de fendmenos de resistencia. Em outras palavras, neste submercado as barrei- ras 3 entrada seriam menores, mais frageis que os do resto da indiistria, dada a expansio do mercado (6% ao ano, entre 1977 e 1985), aliado ao processo ainda recente de difusao de produtos © que efetivamente ocorreu? Por que as importacées de ingredientes ativos voltaram a crescer em anos de maior demanda de produtos? Em primeiro lugar, este crescimento se deveu & entrada de empresas que estao se expan dindo internacionalmente, como, por exemplo, Iharabras (Ihara/Kumiai). Estas empresas estao se expan dindo para fora de seu mercado de otigem, buscando formas aceletades de penetracao de seu subprodutos. Em paises no estégio do Srasil, a consti- tuicao de uma rede de vendas € condi (24) 0 valor 088335 mfihdes € quase 0 dobro do investimento feito na indistria de 1975 a 1979, como visto no item 3, ‘Agricultura em Sao Paulo, SP, 3%3):128-145, 1990. Of uo emynouby “D661 “OPL-S2L:IEME “ES ‘Om . . . . . . QUADRO 3. ~ Balanca Comercial de Defensivos, Brasil, 1975-1988 (em US$ milhao FOB) (1) Item 1975, 1980 1984 1985 1986 1987 1988 Inportacko Prod. técnico 39,4 231,1 124,4 119,56 189,6 149.5, Matéria~prima 16,2 120,6 93,5 80,7 86,2 121,5, Prod. formulado 179,8 34,0 9,0 Total 235,4 385,46 218,2 203,5 27656 280,0 Exportacio Formulado 10,6 50,7 72,4 65,1(2) 83,7(2) 107,9(2) 112,7(2) Deficit 224,8 334,9 145.8 138,4 192,9 17241 177,1 (2) Em valores constantes de 1986, utilizando-se como deflator o GNP deflator/USA. (2) Inclui também produtos téentcos. Fonte: Agroanalysis (4) e ANDEF/SINDAG. -tbl- -142- cio primordial para.a conquista das parcelas do mercado. Isto as leva, in- clusive, a licenciarem seus produtos e, principalmente, cederem o direito a comercializacdo para empresas concor- rentes em certas dreas. Em segundo lugar, quando se observa a pauta de importacées da in distria no perfodo recente, verifica~ se que as empresas nacionais e algumas "joint-ventures", basicamente, atendem a sua pequena parcela de mercado através da compra de ingredientes ati- vos de firmas sediadas em paises expor tadores de defensivos: Israel, Ale! nha Ocidental, Espanha e EVA (em ordem decrescente de importancia). Estas Gltimas concorrem fundamentalmente através da venda de produtos banalize- dos ou ja hd muito difundidos: Isto & possivel pela maior escala produtiva (15) e nela, a maior integracao verti-~ cal existente nestas firmas do que na maioria das empresas instaladas no Brasil. Este fenomeno é vis{vel no Bra- sil, no submercado de inseticidas. Ba casos (como o do malathion, produzido no Pais apenas pela Cyanamid), em que a propria empresa produtora voltou a importar, abandonando sua planta produ tiva. A producao de novos produtos, como de piretréides, é por demais mo- desta para contrabalancar este efeito. Ha, todavia, uma terceira causa, a_mais importante. Refere-se a situa~ ¢o em que as pressdes impértadoras se originaram diretamente das firmas 1{- deres (no mercado internacional e no Brasil). As empresas 1fderes mundiais, tendo capacidade ociosa para produtos tradicionais, nao consideraram impres- cindivel para 0 processo competitivo a producdo local de ingredientes ativos (mesmo com tarifas ad valorem de 302 a (45) Quando os produtos se banslizam, sous precos se retracn fortexente pela entrada destas 50%). A razdo fundamental é que a superioridade dos produtos novos em relacéo aos convencionais justifica seus precos mais elevados no mercado interno. Este fendmeno é facilmente ma- pedvel nos fungicidas, A andlise deta~ Inada deste submetcado, segundo SIL~ VEIRA (12), revela que o crescimento da parcela de mercado de novos fungi- cidas sist@micos (triazolas, benzami- dazolas) nao sé é acompanhada pelo aumento da parcela das importacoes nas vendas, mas pelo reforco da participa- sao no submercado das firmas 1fderes: Ciba Geigy, Bayer e Dupont, em detri- mento de firmas que optaram por produ- tos convencionais (de protecdo, como Maneb, Zineb, Thiram, Zhiram e inorga- nicos), como Sandoz, Rohm and Hass e CNDA/Rhodia. Curiosamente, ao que seria previsfvel, é no mercado de herbicidas onde a estabilidade da estrutura do submercado é maior. Veri- ficou-se no perfodo atual que: - a) 0 mercado cresceu & taxa média de 6% ao ano de 1977 a 1985; b) varias empresas tentaram di- versificar os submercados de fungici- das e de inseticidas (Rohm and Hass e Shell, respectivamente) para'o d herbicides (em um momento estratégico nem sempre bem sucedido); €) através de acordos comerciais com firmas Japonesas, algumas empresas (como Imperial, Chemical Industries - ICI) procuraram introduzir novos pro- dutos (como éteres de Phenyl), que sao herbicidas seletivos em pés-emergén- cias e 4) @ penetracdo de novos herbi- cidas em pds-emergencia revelou-se lenta e dificil, em funcdo das exigén- clas da agricultura, Todavia, um pro- contraério do firas fos nercados (por exenplo, tiakhetesin, de Israel) ou mesno pela busca de Iideres ee” real iter guerra de pregos com firmas nacionais recémventrantes. Neste monento, a redugao de custo f fundanental 4 concorréncis. Quanto as "joint=ventures", ae duas existentes foran desfeitas: GNDA ‘transformou~se en Rhodia-Agro © 0 grupo Spican desfez a sociedede con © grupo Zpiranse, Agricultura em So Paulo, SP, ¥M3):129-146, 1990. Guto de sucesso, om pré-emergéncia, o Imaziquin, alterou o equilfbrio de nercado de industria. Estes fatores nao foram signifi- cativos para alterar a configuracdo de nercado resultante do perfodo de inves timentos do PNDA. Por duas razces: 2) 0 desempenho dos_ produtos "tradicionais" em pré-emergéncia man- teve-se satisfatorio nas principais culturas demandantes; b) 0 segmento ampliou fortemente sua participaczo nas exportacces de defensivos. Em geral, 0 esforco de interna- lizagao das etapas produtivas finais da indistria resultou na ampliacao das exportagdes que atingiran mais 15% do faturamento em herbicidas no per{odo 1986-88. Nota-se, também, a modesta participacao das exportacdes de inse- ticidas nas suas vendas (quadro 4). As exportagoes brasileiras no periodo recente podem ser divididas em dois tipos. 0 primeiro relacionado ao consu mo de paises vizinhos que nao interna- lizaram a producdo de defensivos agri- colas: Argentina, Paraguai, Bolivia Uruguai e Peru (a Argentina , em 1984, foi a maior importadora de inseticidas herbicidas do Brasil). Ha um segun- do tipo que se refere a exportacces intrafiliais de grandes empresas e que dirigen nossas exportacdes para os BUA, Alemanha Ocidental, Colombia e Paises Baixos. No caso dos herbicidas, Naidin identifica claramente portacées de ingredientes ativos pela Dow Chemical (2,4D), a razdo das expor tacoes para Colombia, EUA e Paises Baixos, que sediam filiais da empresa (8). 0S principais ingredientes ativos exportados até 1984, se referiam a estruturas produtivas antigas, insta~ ladas na vigeneia do PNDA. Atualmente destaca-se, também, 0 Imaziquim (Aja~ namio) e€ 0 Bentazon (RCSF) como produ- tos relativamente novos, de exporta~ 143 ¢G0, ou seja, ja em 1985 verificou-se a exportacao de herbicidas novos, a partir de plantas recentemente insta~ ladas no Pais. Resta fazer répidas observacdes sobre os produtos intermedidrios. Sen- do utilizados em varias indistrias do complexo qufmico, boa parte destes produtos nao tem sua producdo interna~ lizada em funcdo de maiores rendimen- tos em escala das plantas situadas nos polos matrizes, petroquimicos, cloro- quimicos e de derivados do etanol. Com isso, dada a fragil integracao para tras de nossa indistria de quimica fi- na, a producao local é restrita a cer- tos bens intermediarios, fortalecendo nossa parte importadota neste item (16). 5 = OBSERVACOES FINAIS 0 perfodo relativo a implemen- tac’o do Plano Nacional de Defensivos Agricolas (PNDA) relaciona-se, basica~ mente, ao de internalizacdo da etapa final’ de producio de defensivos: a etapa de produtos formulados. 0 esfor- so necessério para a_instalacao de unidade de formulacdo é modesto, muito menor que o requerido a instalacdo de uma rede de vendas de Ambito nacional. Além disso, sendo o Brasil o quarto mercado mundial de defensivos agricolas, 0 cumprimento desta etapa produtiva foi praticamente uma decor- rancia do processo competitivo. ‘A instalacao de plantas produto- ras de ingredientes ativos também foi incentivada no perfodo e resultou numa reducao significativa das importagces da indtistria no inicio da decada de oitenta, Todavia, a reducdo drastica dos investimentos diretos, ocorrida apés o PNDA, combinou-se dois fatos importantes: (16) Vide SILVEIRA (23) ¢ NATDIN (8), para une discussie mais detathada deste ponto. ‘Agricultura em Sao Paulo, SP, 37(3):123-148, 1980. 2 QUADRO 4. - Valor das Vendas e Participacdo das Exportacdes nas Vendas Globais da Indistria de De~ 2 fensivos(1), Brasil, 1977-88 g 5 g c 7 « Valor das vendas (US$ milhao)(2) Participacéo das exportacdes nas vendas (%) E Ano ~ none — -~ = = g Inseticidas Fungicidas Herbicidas Total Inseticidas Fungicidas Herbicidas Total g 5 1977 21,4 84,7 172,7 478,8 0,7 4,0 0,0 1,0 3 1978 255,6 79,9 170,6 506,1 1,6 7,0 0,3 2,0 8 1979 322,0 106,5 2448 673,3 0,6 12,0 21,7 3,2 1980 31547 155,9 349,3 756,0 1,1 11,0 17 3,5 1981 -235,5, 123,5 397,0 756,0 2.6 12,9 2,3 451 1982 192,0 139,0 329,0 660,0 4,6 10,4 547 6,4 1983 167,0 130,0 338,0 635,0 5,3 8,6 7,2 7,0 1984 234,4 115,0 364,7 4,1 Sok 10,7 12,0 945 1985 236,0 99,9 37,7 653,6 344 14,3 12,9 10,0 1986 281,7 185,4 368,7 835,8 2,6 9,2 15,0 10,0 1987 25142 173,3 401.4 226,3 449 15,6 17,9 13.4 1988 332,5 183,2 506,2 1,021,9 3,8 11,0 17,4 11,8 (1) Produtos finais e produtos técnicos. (2) Valores correntes. Fonte: Dados cedidos pela ANDEF-SINDAG, preparados pelos autores. . 7 7 . . . 7 ° ~i- a) a crescente. participagao no mercado nacional, de ingredientes ati- vos provenientes de paises exportado- res de produtos muito difundidos da in distria, principalmente do submercado de inseticidas; b) 0 surgimento de novos produ- tos, protegidos por patentes e dirigi- dos a culturas de nivel tecnolégico elevado. No submercado de herbicidas - de maior dinamismo tecnolégico no lanca- mento de novos produtos, principalmen- te na década de setenta - fol onde se verificaran os melhores resultados quanto a reducao das importacdes em face a internalizacdo da produgdo. Este também adquire, no perfodo, impor tAncia como segmento exportador de de- Fensivos. Conclui-se que: a) a estratégia do PNDA, neados da década de oitenta, claros sinais de esgotamento; b) persistiram pontos de estran- gulanento no fluxo produtivo de varios defensivos, principalmente pela fragil ligacao da indiistria coma _producao de bens intermediarios. 0 valor leve- mente declinante da importacao destes produtos nao eliminou a possibilidade de estrangulamento produtivo em épocas marcadas por problemas cambiais; c) a estratégia do PNDA, de estimulo a "joint-ventures" nao signi- ficou nem transferencia da estrutura produtiva alocada internacionalmente e, menos ainda, de tecnologia. Em resumo, este texto procura evidenciar que dada a importancia das inovacdes tecnolégicas e da producao de bens intermediarios, 0 processo de internalizacao da indistria de defen- sivos, jd no inicio da década de oiten ta, mostrou enorme fragilidade. As politicas de "ajuste recessi- vo" levam, se prolongadas no tempo, a perda do esforco feito em periodos anteriores, tornando indcuas as poli- ticas tarifarias implementadas com 0 objetivo de estimulo producao inter~ na, Manifestam-se, desta forma, pontos de estrangulamento na indistria que ji en mostrou Agricultura em So Paulo, SP, 3%9):129-145, 1990. ~145— permitem a maior participacao no mer- cado de empresas importadoras de in- gtedientes ativos, o que inclui firmas lfderes instaladas no Pais. Finaluente, mais frégil que o processo de internalizacao da indis- tria de defensivos é a hipstese gene— ralizadora acerca da importancia dos investimentos feitos 4 época do II PND para a contribuicao da agricultura na obtencdo de “saldos estruturais na balanca comercial brasileira". No cenério atual, criado apés o Plano Collor, reforca-se a idéia de que a liberalizacdo de comércio, via reducdo de tarifas aduaneiras, seja um investimento eficiente de elevacao da competitividade interna da indistria com reflexos favoraveis na agricultu- ra, Todavia, no caso da industria de defensivos é preciso estar atento para © poder das empresas Ifderes em: a) realizar a substituicdo de produtos banalizados por produtos no- vos, de maior custo e maiores exigén- cias para aplicacio; e b) reduzirem ao maximo a produ- cdo interna de principios ativos de intermediarios, desequilibrando a ba~ lanca comercial do setor e da agricul- tura. LITERATURA CITADA i. ANCISES, W. & CASSIOLATO, J.E. Biotecnologia e seus impactos no setor industrial. Brasilia, CNPq, 1985. 1172p. 2. ASSOULINE, G. & DAVID, E. Les pays en voie de devaloppenent el l‘industrie francaise des to~ Sanitaires: report d'etape, Pa tis, ADEC, 1986, S6p. (mi- meo). 3. CHAVES, A.M. PNDA: situacao atu- al. Brasilia, s.ed., 1978. 29p. (mimeo) 4. 0 DEFENSIVO agricola. Agroanaly- sis, Rio de Janeiro, 4(10):7-30, our. 1980. -146- 5 10. ul. 12. 13, DUCOS, C. & JOLY, J.B. Seménces et biotechnologies: les grands groupes strangers. Toulouse, LEREP, 1985. 208p. (mimeo) FUTINO, Ana M. & SILVEIRA, José M. FJ. da. Biotecnologia na agricultura brasileira: a indis- tria quimice e 0 controle biolé- gico, Campinas, — IE/UNICAMP, 1986. 94p. (mimeo) HAGUENAUER, L. et alii. 0 com plexo qufmico brasileiro: orga- nizagéo e dindmica interna. Rio de Janeiro, IEI/UFRJ, 1985. 112p. NAIDIN, L.C. Crescimento e compe- ticdo na industria de defensivos agricolas no Brasil, Rio de Ja neiro, UFRJ, 1965. 269p. (mi= meo) (Tese-Mestrado) A QUESTAO dos agrotéxicos. Agro- analysis, Rio de Janeiro, 9(9)? 2-22, set. 1985. REYDON, B.P, A indiistria de fer— tilizantes no Brasil. In: KAGEY AMA, Angela, coord. & dinami= ca da agricultura brasileira Campinas, s.ed., 1987. (mimeo) Versao preliminar. ROSEMBERG, N. 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