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ARTIGO ARTICLE 195

Limites e alternativas para a implementação


de um programa para dependentes químicos
em risco para infecção pelo HIV utilizando
o conceito de Rede Social
Flavio Pechansky 1
Silvia C. Halpern 1
Mauro Soibelman 2
Limits and alternatives to the implementation of
Carla Bicca 1 a program for intravenous drug users at risk of HIV
Cláudia Maciel Szobot 1 infection using the Social Network Approach
Ana Flávia Barros da Silva Lima 1

Akemi Scarlet Shiba 1

1 Departamento de Abstract The authors describe the development of a preventive program focused on intravenous
Psiquiatria e Medicina Legal,
drug users at risk of HIV infection, using the Social Network Approach as the intervention mod-
Faculdade de Medicina,
Universidade Federal el. The authors describe the project’s steps in a large university hospital in southern Brazil, em-
do Rio Grande do Sul. phasizing the unique methods and techniques developed by the treatment staff. Problems en-
Rua Ramiro Barcelos 2350,
countered during the project development are discussed, aimed at identifying the reasons why
4 o andar, sala 400N,
Porto Alegre, RS the program only achieved partial success. The authors identify critical issues, such as the use of
90035-003, Brasil. a new technique not previously tried in Brazil, difficulties in maintaining IV drug users in treat-
fpechans@conex.com.br
2 Rua Vieira de Castro 150, ment, lack of infrastructure for walk-in treatment, and the challenge of motivating staff and pa-
sala 102, Porto Alegre, RS tients to continue treatment. The authors conclude by listing suggestions aimed at facilitating
90040-320, Brasil. the development of new projects based on the same conceptual model.
Key words HIV; Acquired Immunodeficiency Syndrome; Community Networks; Substance Abuse

Resumo Os autores descrevem as etapas de execução de um programa de ações preventivas para


usuários de drogas sob risco de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV ), utili-
zando como paradigma de intervenção um modelo de abordagem de redes sociais. São descritos
os passos de instalação do projeto dentro de um grande hospital universitário do sul do Brasil,
com ênfase nos métodos e técnicas originais desenvolvidos pela equipe de atendimento. As difi-
culdades de implementação do projeto são discutidas ao longo das seções, buscando identificar
os motivos pelos quais o programa obteve êxito apenas parcial. Os autores destacam alguns pon-
tos críticos, tais como a utilização de uma técnica ainda não difundida em nosso meio, a dificul-
dade de reter em tratamento usuários de drogas injetáveis, a falta de estrutura para atendimen-
tos imediatos, e as dificuldades em motivar equipes e pacientes para o tratamento. Ao final do
texto, são feitas sugestões com o objetivo de facilitar o desenvolvimento de novos projetos que
busquem utilizar o mesmo modelo conceitual.
Palavras-chave HIV; Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; Redes Comunitárias; Abuso de
Substâncias

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196 PECHANSKY, F. et al.

Introdução homossexual era responsável pela maioria dos


casos, havendo uma modificação significativa
No Brasil, as abordagens de cunho preventivo neste quadro nos anos seguintes. É possível ci-
para usuários de drogas, em especial as injetá- tar, por exemplo, o estudo de Santos et al. (1994),
veis (UDI), ainda apresentam lacunas. É fre- que descreviam através de um estudo longitu-
qüente o UDI ser estigmatizado pelo seu pro- dinal com 405 pacientes, a modificação do per-
blema, devido à associação entre abuso de dro- fil de clientes que buscavam atendimento rela-
gas e a transmissão do HIV. Faz-se portanto ne- tivo à disseminação do HIV. Havia um aumento
cessária uma abordagem que considere o UDI do número de mulheres infectadas pelo vírus,
não apenas em seus aspectos clínicos, envol- assim como uma percepção de que a transmis-
vendo sua desintoxicação e cuidados terapêu- são por via heterossexual era progressivamente
ticos iniciais, mas também sua progressiva rea- responsável pela maioria dos casos.
daptação às condições sociais de seu meio, rein- Porto alegre tem sido responsável por apro-
serindo-o de forma produtiva na sociedade. ximadamente 50% do total de casos notifica-
Os modelos de prevenção atuais nos obri- dos de AIDS nos últimos anos, e se acrescen-
gam a perceber que o UDI convive com com- tarmos a esta proporção os casos de outros
panheiros de droga e parceiros sexuais que não municípios da área metropolitana, a propor-
são necessariamente seus familiares, ficando ção de casos pode chegar a 70% (Barcellos,
portanto de fora das abordagens convencio- 1998). Portanto, na iminência da descoberta de
nais propostas até então. Estudos recentes rea- focos específicos para a transmissão do HIV
lizados por Mandell et al. (1994) demonstraram através de múltiplos vetores também em nosso
ser vantajosa a inclusão da rede social neste meio, é de utilidade conhecer e abordar algu-
modelo. Latkin et al. (1995) utilizam-se do con- mas das circunstâncias peculiares onde usuá-
ceito de rede social para descrever os seis do- rios injetáveis que se dizem francamente preo-
mínios que comporiam o que se chama de “re- cupados com a infecção pelo HIV (Pechansky
de pessoal de suporte” de um indivíduo: assis- et al., 1997) se encontram em situação grupal.
tência material, socialização, interação íntima, O Programa POAVHIVE – Venha Enfrentar o
assistência física, informação de saúde e refor- HIV, foi desenvolvido dentro desta filosofia de
ço positivo. A abordagem de rede social parte trabalho. O presente artigo descreve este proje-
do princípio que o UDI compartilha uma fra- to, financiado pelo Ministério da Saúde e o
ção significativa de sua vida com seu grupo de United Nations Drug Control Program (UNDCP)
iguais, e que intervenções orientadas e focais e desenvolvido em parceria com o Departa-
podem gerar resultados positivos nas relações mento de Psiquiatria e Medicina Legal da Fa-
sociais entre UDI (intra-redes) e nas relações culdade de Medicina (FAMED) da Universida-
da rede social com o meio que o cerca (inter- de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Este
redes). Para fins deste projeto os autores consi- artigo relata os passos de execução do projeto
deraram como rede social o grupo que compar- inicial e descreve seus componentes, equipe
tilha drogas ou que possui práticas sexuais em técnica, infra-estrutura, pacientes e modalida-
comum, buscando valorizar as relações intra- des de atendimento. Os acertos e falhas perce-
redes. Segundo Pechansky et al. (1996), o uso bidos pelos autores são comentados ao longo
diário de álcool e maconha nestes grupos de do texto, com o objetivo de compartilhar criti-
UDI é freqüente (46%) além de cocaína por camente a experiência e os resultados obtidos.
mais de uma via (83% aspiram ocasionalmen-
te, 84% injetam). Quando usam a via endove-
nosa, estes indivíduos o fazem na maioria das Antecedentes do projeto
vezes em grupos e se dizem francamente preo-
cupados com a infecção ou disseminação do Ao propor a execução do POAVIVHE, o Depar-
HIV para terceiros. É freqüente o ato de com- tamento de Psiquiatria e Medicina Legal da
partilhar equipamentos de injeção ou a droga UFRGS iniciou uma série de projetos em cola-
em si, como também o ato de injetar-se com o boração com a Universidade de Delaware, a
cônjuge, parceiro sexual ou amigos. É portanto Universidade de Miami, e com a Universidade
evidente que os UDI se expõem à infecção da Pennsylvania (Pechansky et al., 1994; Woody
e/ou reinfecção pelo HIV, sendo que as redes et al., 1995). Estes projetos permitiram docu-
sociais desempenham um papel fundamental mentar as características dos UDI que buscam
na manutenção desse processo. atendimento em diversos locais de Porto Ale-
Por volta de 1991, a cidade de Porto Alegre gre, além de estimar seu risco de infecção pelo
tinha a quarta maior concentração de casos co- HIV, criando uma pequena estrutura para pes-
municados de AIDS no Brasil e a transmissão quisa e atendimento desta comunidade. Como

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IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA PARA DEPENDENTES QUÍMICOS 197

parte integrante desta linha de atuação, o Pro- da no programa, sendo após submetidos a uma
jeto POAVHIVE se propõe a desenvolver e tes- série de instrumentos de avaliação padroniza-
tar métodos de recuperação social para estes dos, com a finalidade de mensurar o impacto
pacientes, incluindo tratamento psicoterápico do uso de drogas, a relação do sujeito com elas
em grupo com técnicas motivacionais, jogos em seus aspectos físico, psiquiátrico e social,
terapêuticos, psicofarmacologia, intervenções assim como seus potenciais comportamentos
psicossociais junto à rede do UDI e sua família, de risco para a transmissão ou infecção pelo
e a articulação do programa com recursos da HIV. Todos os pacientes receberiam as instru-
comunidade. ções sobre o preenchimento destes fomulários,
além de serem submetidos a procedimento pa-
drão de pesquisa com consentimento informa-
Principais objetivos do. Os diferentes componentes relativos à apli-
cação de instrumentos e identificação de situa-
Os objetivos principais do POAVHIVE, na sua ções de risco podem ser acompanhados atra-
concepção inicial, foram: (a) Identificar e regis- vés da Figura 1. Os pacientes seriam atendidos
trar características de 36 UDI e suas redes so- em fluxo contínuo sem marcação de consulta,
ciais na cidade de Porto Alegre; (b) estabelecer em um regime de atendimento rápido, desen-
características motivacionais e estágios de mu- volvido e já utilizado pelo programa de depen-
dança no UDI e em sua rede social; (c) conhe- dência química do Hospital de Clínicas de Por-
cer o impacto do uso de drogas nas principais to Alegre (HCPA). O programa previa um máxi-
áreas de vida do UDI e de sua rede: família, lei, mo de aquisição de quatro novos grupos de pa-
status físico, status emocional, uso geral de cientes por mês. As consultas teriam um tem-
drogas; (d) aplicar módulos terapêuticos e pre- po médio de 90 minutos e os paciente seriam
ventivos, desenvolvidos a partir das informa- testados sistematicamente para o HIV. A fre-
ções produzidas pelos próprios UDI, visando qüência proposta às consultas seria semanal
esclarecimento e mudanças de atitude com o nos dois primeiros meses do projeto, passando
objetivo de diminuir o uso de drogas em geral após para atendimentos bimestrais. Um super-
– particularmente o uso das injetáveis, e com- visor de campo e um de atendimento seriam
portamentos sexuais de exposição a risco; (e) responsáveis pela captação e atendimentos dos
buscar identificar modelos de reinserção fami- pacientes, servindo de elo de ligação com as
liar e social do UDI em seu meio; (f ) formar comunidades envolvidas no projeto. As ativida-
multiplicadores sociais e agentes de saúde trei- des de grupo iriam utilizar as técnicas de abor-
nados especificamente em técnicas grupais de dagem de rede social descritas por Latkin et al.
atendimento e prevenção; (g) descrever os pro- (1995) e Mandell et al. (1994), traduzidas e adap-
cessos e resultados obtidos ao longo do proje- tadas para a utilização em nosso meio. Esta me-
to; (h) formar uma base de dados detalhada so- todologia consiste de sessões de grupo utilizan-
bre características de uso de drogas e hábitos do o paciente-chave como ponto de referência
sociais de UDI e suas redes sociais na cidade de para a formação progressiva da rede no am-
Porto Alegre; (i) desenvolver e centralizar con- biente do POAVHIVE. A cada sessão o terapeu-
tatos entre profissionais especialistas e super- ta encorajaria o paciente-chave através de téc-
visão sistemática do trabalho por experts do nicas motivacionais a manter a sua rede social,
país, e discutir sistematicamente os achados desenvolvendo técnicas de negociação para se-
do projeto com profissionais especialistas. xo seguro e não compartilhamento de seringas,
em parte baseadas na experiência já existente
nos Centros de Orientação e Apoio Sorológico
Métodos e técnicas (COAS) de Porto Alegre, com os quais os auto-
res do projeto já trabalhavam previamente. Se-
O tempo total de duração do projeto foi de 13 ria realizado um inventário de necessidades so-
meses, com os três primeiros destinados à ins- ciais dos indivíduos e de cada rede social, utili-
talação do programa, e do terceiro ao quinto zando um modelo social de uso de substâncias.
mês a previsão de ampla reforma do espaço fí- Para cada indivíduo estava previsto o reforço
sico onde o programa iria operar. Devido a dos laços com membros da família que estives-
atrasos no cronograma os atendimentos tive- sem disponíveis para participar das atividades
ram que ser realizados dentro do hospital, o que do programa e auxiliar na recuperação do UDI.
modificou a logística do projeto. Os pacientes Este trabalho seria supervisionado sistematica-
encaminhados para o projeto seriam inicial- mente por uma assistente social com treina-
mente acolhidos por uma enfermeira psiquiá- mento específico na área. Também seriam rea-
trica, que explicaria o procedimento de entra- lizados grupos focais em que se registraria o dis-

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Figura 1

Fluxograma de atendimento proposto

Recepção Aplicação
Recrutamento
v

v
ao projeto de instrumentos

v
Identificação de
situações de risco
na 1a e 2a consultas

v v
Oficina de
Grupos focais –
prevenção ao HIV –
2a e 6a consultas
2a e 6a consultas

v
Levantamento
das necessidades
sociais – 1o trimestre
de atendimento

v v
Identificação da
Seminário sobre
rede de contato –
drogas – 5o e 11o mês
6o e 12o mês

v
Treinamento de volun-
tários e criação de catá-
logos de monitores –
5o e 11o mês

v v
Atelier de aptidões – Reuniões temáticas
6o e 12o mês com voluntários –
(encontros 6o e 12o mês
independentes)

curso do paciente e de seu grupo para posterior Equipe técnica


análise de conteúdo. Quando necessário seriam
utilizadas visitas in loco por assistentes sociais A equipe técnica do POAVHIVE sofreu altera-
especificamente treinados. Nas atividades de ções ao longo da execução do projeto, o que
desenvolvimento de aptidões específicas (Ofi- certamente ilustra as mudanças de rota que se
cinas de Prevenção), seriam mantidas listas de fizeram necessárias em sua trajetória. Ao final
profissionais treinadores em diversos ofícios de um ano, a coordenação do POAVHIVE era
que poderiam, sem ônus para o projeto, desen- composta por um psiquiatra sênior, especialis-
volver diversos cursos com os pacientes. Ao final ta em dependência química, uma analista de
do projeto, agentes de saúde oriundos do progra- dados, uma secretária, quatro psiquiatras ju-
ma seriam treinados para disseminar aspectos niores, três assistentes sociais, um consultor
preventivos e didáticos para a comunidade. médico e uma consultora em Serviço Social.

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IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA PARA DEPENDENTES QUÍMICOS 199

Inicialmente, o gerenciamento do trabalho era de atendimento, um projeto “hospitalocêntri-


feito por uma enfermeira psiquiátrica, que co” já teria dificuldades em sua origem. Segun-
após alguns meses desligou-se desta atividade, do o relato dos pacientes, passar por uma série
passando tal função a ser realizada pelo coor- de postos de identificação, um labirinto de cor-
denador do projeto. Alguns terapeutas também redores, secretárias que atendem uma enorme
se desligaram da atividade em seu início. À me- quantidade de pessoas, e uma longa espera até
dida que a equipe foi se familiarizando com a o atendimento, torna-se uma tarefa claramen-
proposta de trabalho, assim como integrando te insuportável. Na tentativa de solucionar este
as diferentes maneiras de utilizar as técnicas, o problema, pensou-se em desenvolver uma
grupo não sofreu mais alterações. Os atendi- abordagem extra-muros. Com o auxílio de
mentos clínicos eram realizados pelos psiquia- profissionais do projeto já treinadas em abor-
tras, dos quais apenas um tinha treinamento dagens de Redução de Danos, fez-se tentativas
prévio adequado para trabalhar com depen- de realizar atendimentos na casa ou em locais
dência química. Os demais estavam realizando de reunião dos UDI com sua rede. Tal atitude
seu treinamento in loco. As três assistentes so- funcionou a contento para os pacientes que já
ciais eram responsáveis por integrar aspectos haviam se identificado no centro de tratamen-
sócio-familiares ao atendimento psicoterápico to ambulatorial e portanto já possuíam víncu-
dos UDI, sendo este trabalho supervisionado los com as terapeutas. Porém, a saída das tera-
pela consultora de serviço social. peutas para a comunidade, além de criar difi-
culdades logísticas, como falta de segurança e
perda de tempo no deslocamento e na locali-
Estrutura física e relações do projeto zação dos domicílios, não produziu o efeito
com o HCPA desejado na captação de mais pacientes para
o projeto.
O POAVHIVE foi o primeiro projeto pensado
exclusivamente para o atendimento de UDI no
HCPA, e as reflexões descritas abaixo ilustram Encaminhamento dos casos
a necessidade de desenvolvimento de uma cul- e evolução do atendimento
tura prévia para a realização de projetos de tal
natureza. Os casos atendidos vinham encaminhados de
O local destinado aos atendimentos do um dos centros de referência da Prefeitura de
POAVHIVE foi o Ambulatório de Álcool e Dro- Porto Alegre para HIV/AIDS, o COAS Paulo Cé-
gas do HCPA, que se localiza no andar térreo, sar Bonfim. Além disso, alguns encaminhamen-
ligado a um corredor de passagem comum a tos de UDI vieram diretamente de profissionais
várias áreas do hospital. Esta é uma zona de do Projeto de Redução de Danos da Prefeitura,
grande fluxo de pacientes das diversas especia- por profissionais de saúde que conheciam o
lidades, não dispondo assim de uma sala ou programa, ou por procura direta de atendi-
área de espera específica para esta atividade. mento no Ambulatório de Álcool e Drogas do
Mesmo com a negociação com a direção do HCPA. Os critérios de inclusão no programa
hospital quanto aos aspectos de gratuidade, compreendiam pacientes que tivessem rede
cuidados éticos – como sigilo e privacidade – e social identificável e relativamente regular, fa-
conceitos relativos à redução de danos, a coor- zendo uso de drogas EV, compartilhado ou não,
denação do hospital sugeriu que não se fizes- não estando abstinentes há mais de um mês
se qualquer tipo de campanha de divulgação (sendo portanto usuários ativos). Após a tria-
pública do POAVHIVE, temendo um aporte gem o paciente era encaminhado para uma das
excessivo de pacientes ao serviço. Tal atitude, terapeutas que passava a acompanhá-lo siste-
entretanto, dificultou o fluxo de pacientes ao maticamente. A rotina dos atendimentos con-
POAVHIVE, e este aspecto merece uma espe- sistia em estabelecer um vínculo terapêutico e
cial discussão, uma vez que são muitas as va- avaliar o estágio de motivação em que o pa-
riáveis que fazem com que um UDI consiga ciente se encontrava, de acordo com o modelo
chegar a um local de atendimento, mesmo de Estágios de Mudança proposto por Prochas-
quando já lhe são extremamente facilitados os ka & Diclemente (1986), utilizando elementos
meios para tal. Este é um processo seqüencial motivacionais como a alavanca principal para
e elaborado, que se inicia com a percepção da o desenvolvimento de mudanças estruturadas
existência de um problema, e continua até o na trajetória de uso de drogas de um depen-
real encontro com um profissional de saúde. dente químico, conforme descrevem Miller &
Considerando a caracterização da população Rollnick (1991). Latkin (1995:182), ao revisar a
atendida e sua dificuldade em chegar ao local literatura referente à utilização de redes sociais

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sob forma preventiva, confirma que “a estraté- que não a de tratamento, também não foram
gia de utilizar sub-redes de compartilhamento incluídos no programa.
de drogas, que ocorrem naturalmente, como um Após o estabelecimento da rede de contato,
veículo para mudanças de comportamento é o programa propunha o desenvolvimento com
baseada em teorias de influência social, e que os pacientes de uma listagem de situações de
(...) normas e pressões de grupo são determinan- exposição e transmissão do HIV que se aplicas-
tes de práticas de injeção arriscadas e atividade se à sua rotina de vida, através de drogas e/ou
sexual desprotegida”, o que daria consistência circunstâncias que envolvessem relaciona-
a modelos de intervenção desta natureza. mentos sexuais, com o objetivo de conhecer as
Cada paciente, ou grupo de parceiros, era características peculiares de funcionamento de
convidado a comparecer ao ambulatório do uma rede de parceiros (Vide na Figura 1: Iden-
HCPA uma a duas vezes por semana para en- tificação da Rede de Contato). Um ponto teóri-
trevistas conduzidas por uma das psiquiatras co importante: mesmo que se estivesse traba-
do projeto, que ficava, a partir daí, responsável lhando com as redes de indivíduos, e com a
pelo atendimento do paciente e de sua rede. malha de interações existente naquela rede so-
Utilizou-se para a captação de pacientes um cial, o objetivo final da intervenção sempre se-
modelo de “amostragem por alvos” (targeted ria o de modificar as atitudes de cada indivíduo
sampling) (Watters & Biernacki, 1986; Inciardi que pudessem refletir em uma melhora nas in-
et al., 1997) e “bola de neve” (snowballing, ou terações de grupo. Para tal, buscava-se desen-
chain referral) (Inciardi, 1986). Estes modelos volver uma maior consciência crítica, associa-
foram utilizados porque os pacientes não são o da a um maior conhecimento sobre o “patamar
que se poderia chamar de uma população fa- de risco” em que cada indivíduo se encontrava.
cilmente identificável em seu meio natural, Desta forma, o grupo de terapeutas ensinava
sendo extremamente difícil a sua chegada a formas menos prejudiciais de injeção (como
serviços de saúde, conforme já descrito ante- por exemplo a assepsia prévia do local da pica-
riormente. A “amostragem por alvos” se carac- da) ou através de demonstrações práticas so-
teriza pela identificação inicial de um pacien- bre técnica de limpeza de seringas potencial-
te-chave (“alvo”) da temática em questão – fre- mente contaminadas através do uso de hipo-
qüentemente o UDI que procura o centro ou clorito de sódio. No que compete à transmis-
que apresenta grande intensidade de sintoma- são sexual, além dos ensinamentos básicos re-
tologia, sendo por isto facilmente identificável. ferentes ao uso de preservativos masculinos,
A partir deste indivíduo, busca-se esgotar a re- com a utilização de próteses penianas, tam-
de de círculos concêntricos de suas relações, bém era ensinado o uso e a função do preserva-
com o objetivo de estender a intervenção a to- tivo feminino, com o intuito de aumentar a
dos os sujeitos potencialmente envolvidos em adesão a este método. As técnicas clássicas de
seus relacionamentos pessoais. O objetivo aqui Prevenção de Recaída (Marlatt & Gordon, 1993)
é o de esgotar as redes conhecidas, seja por um e os conceitos de Redução de Danos e elemen-
indivíduo de uma rede só, seja por vários de tos de Entrevista Motivacional eram sistemati-
várias redes. Muitos sujeitos nos foram enca- camente utilizados pelas terapeutas. A aborda-
minhados assim, com o objetivo de esgotar a gem contou também com um componente só-
rede de conhecimento dos sujeitos-chave, e cio-familiar, trazido para a equipe através do
neste sentido estimulando a participação de in- trabalho das assistentes sociais do projeto, e
divíduos que não iriam buscar atendimento que é descrito em mais detalhes abaixo.
por iniciativa própria, portanto inacessíveis à A intervenção realizada pelo Serviço Social
sistemática passiva de amostragem por conve- dentro do POAVHIVE fundamentou-se no pres-
niência no seu formato convencional. Não se suposto teórico da Abordagem de Rede (Sluzki,
deve esquecer, entretanto, que apesar de todos 1997). Segundo Sluzki, a rede social inclui o
os cuidados com o método descrito acima, o conjunto de vínculos interpessoais do sujeito
uso de drogas é sempre uma prática ilegal ou como a família, amigos, relações de trabalho,
“para-social”, o que faz com que qualquer abor- estudo, inserção comunitária e práticas sociais.
dagem sobre o uso de drogas – em particular as Esta abordagem prevê colocar em movimento
injetáveis – esteja sujeita a uma subapreciação as forças, potencialidades e recursos dentro do
e distorção das características in natura dos sistema familiar que possam gerar suporte, sa-
casos existentes (Sorensen et al., 1991). Muitos tisfações e controle necessários para lidar com
pacientes que não apresentavam rede social os estresses, problemas e doença (Hartman &
foram triados, porém encaminhados para ou- Laird, 1983), gerando uma compreensão dos
tros programas de tratamento. Pacientes que à processos de integração psicossocial, promo-
triagem demonstrassem outras motivações ção do bem-estar, desenvolvimento da identi-

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IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA PARA DEPENDENTES QUÍMICOS 201

dade, consolidação dos potenciais de mudan- “Sexo seguro”– É jogado com um baralho de
ça e reinserção social e pessoal na comunida- cartas que descrevem situações de envolvimen-
de. Com a inclusão do serviço social, as neces- to sexual em diferentes níveis de risco para a
sidades foram levantadas e atendidas através transmissão do HIV. Participam seis pacientes
de ações que envolviam entrevistas com fami- mais o facilitador, em um tabuleiro com as al-
liares dos pacientes, no hospital ou em visitas ternativas: Sem Risco, Arriscado, Muito Arrisca-
domiciliares, contato com instituições e enti- do. O objetivo do jogo é promover discussões
dades, e identificando recursos comunitários a sobre a transmissão do HIV através do contato
serem utilizados por pacientes e suas famílias. sexual e maneiras de prevení-lo, utilizando uma
Observou-se que, contrariando a teoria inicial- estratégia lúdica. O facilitador deve ser um pro-
mente proposta, na maioria das vezes a rede fissional treinado em HIV/AIDS e ter algum co-
familiar era a única com a qual realmente o pa- nhecimento prévio em aconselhamento para de-
ciente contava, e mesmo assim os familiares se pendência química, uma vez que o jogo foi de-
descreviam como “em estado caótico”, desgas- senvolvido para usuários de drogas que se envol-
tados devido à patologia do paciente. A busca vem em comportamentos sexuais de alto risco.
constante de abordagens mais interacionais e “Céu e Inferno” – É jogado com 20 fichas de
criativas gerou a elaboração de alguns instru- texto por um grupo de não mais do que cinco
mentos que suscitassem uma participação mais indivíduos mais o facilitador. Dez fichas são
constante dos pacientes e suas redes. Vários ele- caracterizadas como “Céu” e dez como “Infer-
mentos com esta característica foram criados, no”, exemplificando as cognições contrastan-
e uma breve descrição destes é feita a seguir. tes e hipersaturadas que estão presentes no
tratamento de abusadores de drogas. As fichas
contêm expressões pessoais que contemplam
Elementos de facilitação das os riscos e benefícios do uso de drogas em di-
intervenções terapêuticas ferentes situações grupais e individuais. Para
cada carta “inferno” existe ao menos uma carta
• Vídeo sobre preservativo feminino “céu”, mas freqüentemente há cinco ou seis
cartas “sadias” parar cada carta “perigosa”. O
Foi criado, em parceria com a Faculdade de objetivo do jogo é o de gerar um grupo de res-
Comunicação da UFRGS, um vídeo educativo postas positivas, adequadas e potencialmente
sobre o Preservativo Feminino (Surratt et al., utilizáveis para cada uma das situações com-
1998). O vídeo mostra as circunstâncias que plexas que são apresentadas pelas cartas “in-
envolvem as decisões sobre utilizar ou não o ferno”, permitindo desta forma aos pacientes o
preservativo convencional e o feminino, além desenvolvimento de habilidades para prevenir
de divulgar, através de uma inserção de caráter recaídas. O papel do facilitador é o de promo-
mais técnico, as formas de infecção conhecidas ver a discussão e eliciar exemplos vívidos, per-
do vírus da AIDS. O mesmo foi desenvolvido sonalizados, dos membros do grupo para cada
como coadjuvante de uma intervenção preven- situação. O facilitador deve ter um treinamen-
tiva com mulheres usuárias dos COAS que esti- to prévio em aconselhamento para dependên-
vessem motivadas a experimentar este novo cia química, uma vez que esta é uma atividade
método contraceptivo e de prevenção das do- tipicamente orientada para terapia.
enças sexualmente transmissíveis, e que pode-
riam se beneficiar de elementos motivacionais
para sua tomada de decisão. Avaliação e críticas ao POAVHIVE

• Jogos interativos O relato deste projeto tem a finalidade de ana-


lisar a aplicabilidade de alguns conceitos utili-
A partir dos conceitos do modelo de Crenças zados, bem como sugerir alternativas às difi-
em Saúde (Rosenstock, 1974), e utilizando a es- culdades encontradas.
trutura de estágios de mudança proposta por Constatou-se que houve dificuldades em
Prochaska & DiClementi (1986), foram criados vários níveis do projeto, desde a fase de planeja-
dois jogos de cartas com a finalidade específica mento até o período de execução. O POAVHIVE
de auxiliar os pacientes e suas redes a desen- em seu desenho original possuía uma proposta
volver habilidades para a utilização de práticas inovadora baseada em metodologias testadas
seguras para atividade sexual e, negociação em centros especializados em tratamento e
com parceiros da rede visando prevenção de pesquisa com UDI de países desenvolvidos, e
recaída quanto ao uso de drogas. Estes jogos com repercussões terapêuticas de grande porte
são descritos brevemente abaixo: no meio científico da área.

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Logo no início do trabalho houve mudan- (Pechansky, 1994) é uma das causas pelas quais
ças substanciais na equipe devido à saída de não houve seleção dos pacientes que nos eram
alguns integrantes e à entrada de novos técni- enviados por outros centros ou profissionais
cos, que participariam em várias etapas do de referência.
processo terapêutico: o projeto passou para Outra questão importante a ser avaliada no
uma segunda fase com a entrada de assistente projeto diz respeito ao número de pacientes e
sociais, sendo então reavaliados algumas con- suas redes. São muitas as explicações que su-
dutas e objetivos do trabalho. Logo ficou evi- gerem o motivo pelo qual somente 16 UDI con-
dente que a magnitude proposta no projeto era cluíram sua participação, apesar de termos
inviável, o que motivou uma diminuição do avaliado um número bem maior de casos. Uma
número de casos atendidos e de objetivos a se- das primeiras dificuldades encontradas foi a
rem atingidos. Também foram evidenciadas pouca aceitação dos pacientes em trazer a sua
dificuldades inerentes à captação de pacientes rede à terapia, dificuldade comum a todos os
e na implementação metodológica do traba- casos. Entendemos que a estrutura adequada
lho, uma vez que muitos dos instrumentos do para atender a população de UDI não é a que
POAVHIVE eram simultaneamente criados e se insere dentro de um hospital, onde existe
testados, gerando insegurança nos técnicos, um policiamento presente dentro e fora da ins-
que lidavam com métodos ainda em desenvol- tituição, e uma sensação onipresente de que
vimento. Algumas características estruturais e este tipo de paciente não é bem vindo. Tam-
filosóficas do projeto também foram alteradas bém, o difícil acesso às salas de atendimento, a
neste momento para permitir ainda alguma necessidade de identificar-se ao entrar no hos-
factibilidade ao trabalho proposto. As princi- pital, o fato de não existir um local específico
pais modificações foram as seguintes: (a) Ma- dentro de um ambulatório com outras especia-
nutenção da existência de uma rede social jun- lidades para o atendimento deste grupo de pa-
to ao paciente, mas sem a obrigatoriedade de o cientes em especial, acabou estimulando an-
paciente comparecer ao hospital trazendo sua siedades que constrangiam os participantes
rede em um primeiro momento; (b) a obrigato- que eventualmente conseguiam chegar até o
riedade de trabalhar apenas com pacientes local de atendimento. Pensa-se que o indicado
motivados ou motiváveis para a intervenção, para esta população seja o modelo não hospi-
excluindo portanto casos em que este atributo talar, como hospital-dia, hospital-turno ou
não estivesse explicitamente presente; (c) a po- Centros de Atenção Psicossocial . Esta estrutu-
tencial inclusão de usuários não injetáveis, ra existe noutros países, mas ainda é pouco ha-
mas de grande risco para exposição ao HIV, e bitual em nosso meio. O trabalho de rede como
que tivessem algum tipo de rede de suporte, preconizado inicialmente acabou não tendo o
aumentando assim o escopo do programa. êxito desejado, apesar dos resultados indivi-
Como resultado destas modificações pro- duais terem sido bastante favoráveis aos pa-
postas, aos poucos foi se evidenciando que os cientes que se envolveram no programa. Por
pacientes que estavam sendo encaminhados parte dos terapeutas, é importante lembrar que
não vinham acompanhados de suas redes de o atendimento de redes sociais é prática inco-
parceiros de uso, mas sim de seus familiares e mum em nosso meio. As terapeutas envolvidas
cônjuges, que em alguns casos também usa- no projeto haviam recebido uma formação psi-
vam drogas. Outra observação importante da quiátrica voltada para o atendimento indivi-
equipe foi a de que os pacientes que chegavam dual, no máximo incluindo familiares. A falta
para atendimento estavam em situação muito de um modelo já padronizado de atendimento
grave de descontrole do uso de drogas, even- pode ter sido outro fator limitante no anda-
tualmente apresentando risco de suicídio e de mento do trabalho. Acredita-se que a insegu-
overdose. Como o HCPA não possui um pro- rança quanto ao método proposto, além do
grama de internação para dependentes quími- pouco treinamento dado aos terapeutas (ape-
cos, estes foram sempre internados dentro da nas o coordenador do projeto havia sido trei-
unidade psiquiátrica, sob a responsabilidade nado nesta técnica específica nos Estados Uni-
de um psiquiatra sênior especialista em depen- dos) possam ter sido fatores decisivos para este
dência química. Além da ansiedade natural ex- desvio de rota. Outro fator a ser considerado
perimentada por nossos pacientes neste mo- para a pouca manutenção do atendimento das
mento, os riscos de abandono de tratamento redes é o de que possivelmente o paciente-cha-
aumentavam nestas condições. A percepção ve, que era inicialmente identificado para o
dos autores é a de que a falta total de estrutura projeto, estivesse em um estágio de motivação
para atendimento de pacientes usuários de diferente do de seus parceiros, os quais não te-
drogas – injetáveis ou não – em nosso meio riam então o mesmo interesse em comparecer

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IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA PARA DEPENDENTES QUÍMICOS 203

ao centro de atendimento. Além disso, muitos doença psiquiátrica associada ao uso de dro-
dos UDI já tinham tido experiências prévias de gas, também é fundamental que o técnico te-
tratamento e, certamente, em nenhuma destas nha sido treinado no atendimento de comorbi-
foram incentivados a incluir sua rede para te- dades; (b) considerar a importância das ques-
rapia. Mesmo assim, todos os elementos clíni- tões geográficas e logísticas para o atendimen-
cos dos pacientes avaliados apontavam para to destes pacientes. É provável que o melhor
uma significativa redução do número de dro- local de abordagem desta população não seja
gas utilizadas, da quantidade de utilizações de um hospital ou mesmo qualquer ambiente mé-
cada droga, e em alguns casos a migração do dico, mas sim algum outro centro com caracte-
uso injetável diário para um consumo ocasio- rísticas mais de atendimento comunitário, e
nal, ou mesmo a interrupção total do uso de com uma identidade mais próxima à do pa-
drogas por via endovenosa. O resultado, neste ciente; (c) diminuir o tempo de espera para
sentido, parece encorajador, apesar de não ser atendimento, por fatores já previamente des-
mensurável sob um formato estandardizado, critos. Progressivamente, após as primeiras ve-
para este tipo de paciente submetido a tama- zes em que o paciente for recebido de forma
nho risco. quase imediata, sua capacidade de aguardar
seu tempo de atendimento irá aumentar; (d)
realizar estudos-piloto tanto no que compete à
Sugestões para projetos futuros sistemática de captação de pacientes quanto à
utilização de métodos inovadores; (e) certifi-
É possível considerar um amadurecimento ge- car-se da firmeza das relações entre a equipe
ral dos profissionais envolvidos neste tipo de assistencial e os diversos focos de auxílio para-
atendimento, em particular dos psiquiatras, me- lelo em projetos desta natureza: prefeitura, hos-
nos acostumados a abordagens generalizadas pitais, centros comunitários, grupos voluntá-
de pacientes em seu meio sócio-cultural, e pre- rios de apoio; (f ) inserir o projeto em uma ma-
dominantemente treinados para atendimentos lha de atendimento que inclui a opção de as-
individuais focados em sintomatologia clínica sistência ambulatorial, internação hospitalar
presente. Entretanto, é nossa vivência que o total e parcial, e projetos similares a interven-
eventual desenvolvimento de novos projetos ções terapêuticas da magnitude de uma hospi-
nesta área deveria acarretar um grande núme- talização em regime parcial (hospital-dia ou
ro de modificações, devendo obrigatoriamen- hospital-turno); (g) propiciar acesso facilitado
te: (a) Discutir e homogeneizar os conceitos e a outros serviços médicos especializados, co-
técnicas a serem empregados, no sentido de mo infectologia, que devem manter estreita re-
que todos os profissionais envolvidos estejam lação com o projeto, inclusive no que diz res-
de acordo com os modelos de intervenção pro- peito aos pressupostos teóricos e filosóficos
postos. Como é frequente a presença de outra que embasam o atendimento.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Dra. Alayde Pilla Barcellos e


às assistentes sociais Maria Aparecida Grossini, Cin-
tia da Silva Leal e Maria Regina Philomena, pela va-
liosa contribuição quando da confecção dos primei-
ros textos referentes a este artigo. Os autores também
agradecem ao Ministério da Saúde, através do United
Nations Drug Control Program, por ter financiado o
Programa POAVHIVE – Venha Enfrentar o HIV.

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