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SEMINAR OO + Duh 429 INTERVENCOES EM CENTROS URBANOS: Objetivos, Estratégias e Resultados Intervengdes em centros urbanos: objetivos, estratégias e resultados Heliana Comin Vargas Ana Luisa Howard de Castilho A pergunta: “Par que a construgdo de Tela prolonga-se por tanto tempo?” os babitantes, sem deisar de icar baldes, de baixar cabas de ferro, de maver lon- . pinetis para cima e para baie, respondem: “Para que nao comece a destrui- $80 [-.]". “Qual €0 sentido de tanta construgao?”, pergunta, “Qual o objetivo de wma cidade em construgio senio uma cidade? [..}”. fralo Calvino (1997: 117) Os centros das cidades tém sido identificados como 0 lugar mais dindmico da vida urbana, animado pelo fluxo de pessoas, vei- culos ¢ mercadorias decorrente da marcante presenga das ativi- dades tercirias', transformando-se no referencial simbélico das cidades. Também historicamente eleitos para a localizagio de di- versas instituigdes puiblicas e religiosas, os centros tém a sua cen- tralidade fortalecida pela somatoria de todas essas atividades, e 0 seu significado, por vezes, extrapola os limites da prépria cidade. ias sfo aquelas que incluem o comércio € os servigos varejiss, incluindo servigos de educagio, de lazer, financeiros, de hospedagem ete. 2 INTERVENCOES EM CENTROS URBANOS No entanto, quando a expansio das éreas urbanas intensifica- se de modo espontineo ou planejado, esta nocdo de centro come- 2a diluir-se pelo surgimento de uma rede de subcentros, que passa a concorrer com o centro principal. Este processo foi, sem divida, responsivel pela aceleragio da deterioragio e degradacio dos centros urbanos, que passaram a ser, na Europa e na América do Norte, objetos de preocupagio, desde a década de 1950. No Brasil, esses processos sio discutidos de modo mais intensivo apés ‘os anos de 1980, Observa-se, no decorrer da que os centros das ci- dades tém recebido diversas adjetivagdes: centro hist6rico, cen- tro de negécios, centro tradicional, centro de mercado, centro principal ou simplesmente, centro. A nogio de centro urbano, como ponto para onde conver- gem 05 trajetos ou as agées particulares que facilitam o encon- tro, 0 descanso eo abastecimento, definindo-o, historicamente, como o lugar das trocas comerciais, conduz ao conceito de cen- tro de mercado. Agregando-se a este ultimo outras atividades urbanas, como a religiosa, a de lazer, a politica, a cultural, as ati- vidades financeiras as de comando, também pode ser utilizado © conceito de Centro de Negécios (Central Business District — cpp). Esta visio funcional do centro, atrelada a espacializagio hierdrquica das atividades urbanas, dé origem aos conceitos de centros principais, subcentros, centros regionais, centros locais, definidos pelos tipos de atividades oferecidas e pelos seus raios de influéncia (Vargas, 1985). Logo, infere-se que este centro ar- ticula-se com a cidade por meio de sua fungio e de seu signifi- cado, transmitindo uma idéia de posigio relativa na area urbana (riedrichs et al., 1987). Jé0 conceito de Centro Histérico esti associado a origem do. niicleo urbano, consegiientemente, 4 valorizagio do passedo (Carrion, 1998). Este iiltimo conceito cristaliza-se, por vezes, como se as demais partes da cidade nio tivessem dado a sua con- tribuigio para a hist6ria da sua gente, refletida sucessivamente na INTERVENGOES EM CENTROS URBANOS: OBJETVOS, ESTRATEGIAS E RESULTADOS sua estrutura em construgzo (Marcuse, 1998), O Centro Hist6ri- co nio deve, portanto, ser analisado como se fosse um lugar pre- destinado a fantasmagoria de perda causada mais pelo desapareci- mento das referéncias do presente do que pela real saudade do passado (Huyssen, 2000). Nessa diregio, sio valorizados os luga- res geograficos, os elementos arquiteténicos (religioSos e civis) e, por extensio, urbanos (estrutura urbana e bairros), em detrimen- to do contetido social, A definigio de Centro, portanto, implica a presenga de uma cidade de diversidade étnica, portadora de processos histéticos conflicuosos, com milhares de anos de existéncia em permanente contradigéo (Carrion, 1998). Nio apenas os edificios expressivos € monumentais merecem ser preservados, mas também as edifi- cagdes de todas as classes sociais que fazem parte da histéria, sem que essa concepgio, no entanto, signifique um congelamento da cidade (Marcuse, 1998). Intervir nos centros urbanos pressupée avaliar sua heranga historica e patrimonial, seu cardter funcional e sua posigio rela- tiva na estrutura urbana, mas, principalmente, precisar 0 porqué de se fazer necesséria a intervencio. Esta idéia de interven¢io sustenta-se na identificagdo de um claro processo de deterioragio urbana que pode ser entendido por analogia aos termos prove- nientes das ciéncias biolégicas. Intervencao e cirurgia sfo pala- vras sinénimas, ¢ o organismo submete-se a uma intervengio ba- sicamente em trés situagdes: para a recuperagio da saiide ou manutengio da vida; para a reparacio de danos causados por aci- dentes e, mais recentemente, para atender is exigéncias dos pa- dries estéticos, Os conceitos de deterioragao degradagio urbana estio fre- qiientemente associados & perda de sua fungio, ao dano ou a rui- na das estruturas fisicas, ou a0 rebaixamento do nivel do valot das transagdes econdmicas de um determinado lugar. Deteriorar é equivalente a estragar, piorar e inferiorizar. Jé a palavra degrada- cio significa aviltamento, rebaixamento e desmoronamento. De- gradar vem de gradus, “grau”, que compée a palavra degrau, na

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