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ILUSTRAÇÃO DE MODA: PRIMÓRDIOS A 1990

PAULA PEREZ SANCHES

Resumo: Uma viagem pelo mundo da história da ilustração de moda.

Palavras-chave: Moda, Ilustração, História, Desenho.

Introdução

O desenho é uma linguagem que irá possibilitar a expressão e a comunicação de


idéias visuais ainda não concretizadas.

Vale ressaltar que a linguagem pode ser verbal, como um texto narrativo, ou não
verbal, como uma imagem indicando silêncio.

No que se refere ao desenho de moda, existem três modalidades, a saber:

1) O desenho técnico

Esse desenho tem como objetivo demonstrar de forma clara e objetiva o produto
de moda. É um desenho que deve ser limpo e preciso, já que visa a sua produção em
escala industrial.

2) Croqui

O croqui é a linguagem que o estilista ou designer utiliza para comunicar as suas


idéias, suas criações que ainda não foram concretizadas. O croqui simula uma possível
realidade, ele guia a trajetória da criação e não tem a necessidade de ser tão rigoroso.
Mas deve-se atentar para os detalhes como os tecidos que serão utilizados, o caimento
etc.

3) Ilustração de moda

A ilustração de moda carrega em si os traços do tempo onde está inserida, ela


interpreta a sua época, sempre experimentando novas técnicas e conceitos.
Dada essas breves definições, abrangeremos agora a história da ilustração de
moda através dos tempos. Podemos observar que, assim como a moda, a ilustração
segue tendências e também dita tendências e ideais de beleza e padrões estéticos.

Nesta nossa viagem, percorreremos os primórdios da ilustração de moda até os


anos 1990.

Na metade do século XVII, os desenhos super detalhados de Wenceslaus Hollar,


nascido em 1607, dão início a ilustração de moda. Hollar foi um dos artistas mais
hábeis, mesmo sendo quase cego de um olho. Morreu em 1677, produzindo em vida um
total de 2700 gravuras.

No século XVIII as idéias de moda passam a circular pela Europa, América do


Norte e Rússia por meio de jornais e revistas. Foi na The Lady’s Magazine, primeira
revista a ter uma mulher, Sarah Josepha Hale, como editora, de 1827 a 1836, que foram
publicadas as primeiras gravuras de moda.

No século XIX, com os desenvolvimentos técnicos na impressão, a moda se fez


presente na imprensa.

Antes de 1900 dois ilustradores começaram a ganhar fama com seus desenhos.
Suas pinturas marcaram profundamente a moda da época.

O primeiro ilustrador é Alphonse Mucha, nascido em 1860 em Praga foi, além


de ilustrador, designer gráfico. Seus trabalhos mais conhecidos são os cartazes para
espetáculos que fez.

Mucha criava cartazes no estilo Art Nouveau (ou Arte Nova). Esse estilo marcou
o início do design moderno, constituído de formas orgânicas e motivos botânicos. O Art
Nouveau usava o ornamento como peça útil e não meramente decorativa. Muitos
artistas, além de Mucha, produziram diversos pôsteres baseados nessa estética, entre
eles Henri de Toulose-Lautrec e Eugène Grasset.

As linhas de Mucha eram fluídas, espiraladas e os motivos eram bem detalhados.

As mulheres desenhadas eram lânguidas, com cabelos esvoaçantes e uma


elegância dramática. Muitas mulheres da sociedade tentavam imitar o estilo e as roupas
das mulheres retratadas por Mucha.
O segundo ilustrador é Charles Dana Gibson, famoso por criar a “Garota
Gibson”, outro símbolo de beleza que as mulheres tentavam alcançar. Suas ilustrações
foram publicas em revistas como a Times, a Life e a Harper’s Bazaar.

Com a criação da “Garota Gibson” (ou “Gibson Girl”), Charles, norte-


americano, lançou as bases para o gênero do estilo usado para a ilustração de pin-ups.

Com o início dos anos 1900 a ilustração de moda viveu seus anos de ouro
durante seus primeiros 30 anos. Essa época é anterior a fase onde os fotógrafos
assumiram o posto dos ilustradores para mostrar a moda.

Dois ilustradores se destacam neste período, Leon Bakst e Paul Iribe.

Bakst nasceu em 1866, percorreu toda a Europa e conheceu grandes artistas. Em


1906 torna-se professor de desenho na escola de arte Yelizaveta Zvantseva, onde teve
como aluno, entre outros, Marc Chagall.

Bakst, assim como Iribe, captou o espírito das novas tendências. Famoso por seu
trabalho como figurinista nos Ballets Russes, Bakst mostrou ao mundo as cores vivas da
moda oriental, indo de encontro aos tons sutis do Art Nouveau. Foi por meio de Bakst
que o orientalismo foi introduzido na moda, influenciando o costureiro Paul Poiret, que
trabalhou com Worth. Worth instituiu as regras da alta-costura. Uma curiosidade, Paul
Poiret, em 1911, mais de dez anos antes de Chanel, produziu perfumes batizados com o
nome de sua primeira filha. Ele também inovou com sabonetes perfumados, batons,
cremes e maquiagem.

Ilustradores e estilistas passam a trabalhar juntos.

Até 1919 Georges Barbier e Pierre Brissaud, ilustradores franceses, trabalharam


em uma das primeiras revistas de moda, a La Gazette Du bom ton.

Georges Barbier teve sua primeira exposição quando tinha 29 anos. A partir
desse momento, passou a se envolver com o teatro, na concepção de peças para
espetáculos. O balé também influenciou muito seu estilo, especialmente o balé oriental.
Suas linhas sinuosas remetiam ao Art Nouveau.

Muitas ilustrações dessa época retratavam a moda em cenas sociais


movimentadas. Os motivos Art Déco começaram a surgir. Esse novo estilo era
influenciado pelo Cubismo e foi muito utilizado na publicidade dos anos 20 e 30. Suas
características são os retângulos, círculos e outras formas geométricas, contrastando
com o estilo Art Nouveau.

Com a Primeira Guerra Mundial houve uma queda nas publicações de


ilustrações de moda nas revistas e nos jornais. No entanto, a indústria cinematográfica
crescia significantemente.

Figurinistas e estilistas de teatro e cinema ganharam muita atenção, entre eles,


Erté, que contribuiu com ilustrações de moda para a Harper’s Bazaar durante vinte
anos.

Nos anos 1920 surge uma nova imagem de mulher, duas mulheres famosas
foram Coco Chanel e Madame Vionnet, pioneira do processo de drapeados, inventando
o corte em viés e liberando as mulheres dos espartilhos.

Até os anos 20, a figura ilustrada era desenhada de forma bem realista. Mas, com
a moda e a arte se tornando simplificadas, angulosas, a silhueta da moda mudou e as
ilustrações refletiram isso.

Ilustradores como Eduardo Garcia Benito, Guillermo Bolin, George Plank,


Douglas Pollard, entre outros, apresentavam em suas ilustrações figuras magras e
alongadas.

John Held Jr., durante a década de 1920, realizava charges para revistas como
The New Yorker e Life. Seu estilo humorístico retrava personagens ao som do jazz em
fundos coloridos, estilo que até hoje é utilizado.

Nos anos 1930 a ilustração de moda é largamente utilizada. A silhueta, que na


década de 20 perdera as curvas, volta mais realista. Os traços são suaves e as linhas
curvas. Há um resgate ao feminino, que nos anos 1920 foi trocado pelo aspecto
andrógino.

As ilustrações de Carl Erikson, Marcel Vertes, Francis Marshall, Ruth


Grafstrom, René Bouët-Willaumez e Cecil Beaton, refletem um ar romântico.
Carl Erikson, mais conhecido como Eric, foi um notável ilustrador que teve
influência nas 3 décadas seguintes. As roupas eram traçadas com leves pinceladas e para
capturar a beleza da vida real sempre usava modelos vivos.

Nos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, muitos ilustradores


europeus foram para os Estados Unidos. Na primeira metade da década a ilustração
continuou com seu aspecto leve e romântico.

Três grandes ilustradores, com o mesmo nome, fizeram sucesso nessa década.

René Bouët-Willaumez, que trabalhou na Vogue inspirado pelo estilo


expressionista, René Bouché, que começou suas ilustrações em preto e branco e depois
adquiriu um gosto pela cor e René Gruau, mais conhecido por criar os anúncios para o
“New Look” de Christian Dior. Gruau era ousado, influenciado por Matisse e Picasso.
Confessou uma vez que fazia pelo menos trinta esboços antes de criar uma ilustração.

Nos anos 1950 a vida e o glamour eram representados pelo cinema e a televisão
divulgava os produtos de beleza. Neste momento, a ilustração de moda começa a decair.

No entanto, muito ilustradores das décadas passadas continuaram com seus


trabalhos e dois artistas surgiram, Kiraz e Dagmar.

Kiraz, que do Cairo foi para Paris, desenhava tanto as idéias de moda quanto as
características de personalidade de suas personagens. Já Dagmar possuía uma
abordagem simples e direta. A ilustradora trabalhou para a Vogue durante vinte anos.

Nos anos 1960 a cultura jovem é predominante e isso se reflete na ilustração de


moda. A moda é mais jovem e moderna.

As poses das ilustrações, que antes eram recatadas e contidas, viraram


provocativas e dinâmicas. Apesar disso, essa década é o momento dos fotógrafos e das
modelos.

No entanto, um ilustrador brilhou nesta década. Antonio Lopez fez sucesso com
a sua versatilidade, retratando a atitude rebelde da época com cores vibrantes ligadas ao
psicodelismo.
Nos anos 1970 a fotografia ainda domina os editoriais. Antonio Lopez é um dos
ilustradores que continua o seu trabalho, sempre inovando, descartando técnicas já
usadas para experimentar novidades.

Na primeira metade dos anos 70 as ilustrações mantinham padrões ousados e


cores dramáticas. Já no final da década, surge um realismo rebuscado que pode ser visto
nas ilustrações de David Remfrey.

Na década de 1980 a ilustração volta. A moda pede um novo traço, ombros


largos e ângulos agudos.

A maquiagem na ilustração era expressiva, as poses, teatrais. Antonio Lopez


mais uma vez é chamado para retratar homens e mulheres deste período. Outros
ilustradores também fizeram seus trabalhos, como Zoltan e Gladys Perint. Seus
trabalhos eram experimentais.

Zoltan costumava incluir em suas ilustrações montagens tridimensionais com


fotos e colagens de objetos. Os materiais artísticos eram usados com maior liberdade
agora.

Palmer realizou várias campanhas publicitárias com suas ilustrações (Vivienne


Westwood, Oscar de La Renta, Missoni).

Nos anos 1990 a ilustração de moda equipara-se a fotografia. Com os avanços


tecnológicos surgem diversos trabalhos experimentais que chamam a atenção e
rivalizam com a fotografia.

Jason Brooks, François Berthold, Mats Gustafson etc., foram alguns dos
ilustradores que surgiram nessa época adotando o computador e a tecnologia digital para
radicalizar com suas ilustrações.

Considerações finais

A ilustração de moda está extremamente ligada a história da moda. As


características, os estilos usados, as técnicas, englobam os ideais de beleza de
determinada época.

A ilustração também está intimamente ligada com a arte, recebendo desta,


influências.
Estudar a história da ilustração de moda é estudar a história da moda e a história
da arte.
Referências citadas e consultadas

A CRIAÇÃO. Wenceslaus Holar Digital Collection. Disponível em:


<http://acriacaocom.blogspot.com/2008/10/wenceslaus-hollar-digital-collection.html>.
Acesso em 17 de maio de 2010.

GRUMBACH, Didier. Histórias da moda. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

KOPP, Rudinei. Design Gráfico Cambiante. Teresópolis: 2AB Editora, 2009.

MORRIS, Bethan. Fashion Illustrator: Manual do ilustrador de moda. São Paulo:


Cosac Naify, 2007.

WIKIPÉDIA. Ladie’s Magazine. Disponível em:


<http://en.wikipedia.org/wiki/Ladies'_Magazine>. Acesso em 17 de maio de 2010.

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