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HIPNOSE EM CRIANCAS (*) Dr. Luiz Fernanpo DA Sitva Constanza (**) 1 - Introducao: Em 1889, no Congresso Internacional de Hipnotismo, em Paris, Bertillond demonstrou o valor da hipnose no tratamento de criangas, moral e psicologicamente anormais. Relatou que muitos fatos, cuidadosamente observados, provaram o valor terapéutico da sugestéo nos seguintes disturbios infantis: enurese, terror noturno, tiques nervosos e outros disturbios funcionais do sistema nervoso. E na infancia que so impregnadas todas as imagens, emoges, vivéncias, sensages, traumas, conflitos, etc., que vio formando o chamado mosaico cortical. Esta estrutura, baseada nas impressées recebidas desde o nascimento, é responsavel pela formagio de esteredtipos dinamicos que irao determinar 0 comportamento do individuo. As criancas em geral sfio imaginativas, curiosas, tornando-se facil a utilizagao da maior parte das técnicas empregadas pela hipnose. A crianga pode ser hipnotizada a partir do momento que consegue fixar a atengao, o que ocorre em torno dos cinco anos de idade, porém, criangas muito irrequietas, sO sAo hipnotizaveis mais tarde. Nos recém-nascidos, a cortex cerebral ¢ pouco desenvolvida, por isso, em geral, desenvolvem relagdes condicionadas ligadas a estimulos térmicos, cutaneos, etc. Com um ano e meio, a crianga ja ¢ capaz de apresentar reflexos condicionados, a partir dos érgaos da percepgao como visao e audig&o, porém de uma forma muito lenta. De 2 a3 anos, os mecanismos dos reflexos condicionados atingem seu (*) TRABALHO ENVIADO PELO AUTOR PARA PUBLICA (**) PepiaTra roRMADO PELA Escoia be Mepicina £ Cirurci po Rio pe, | Jaxemo (Unio), Hipworerarevta FoRMADO PELs SociepapE, DE HIPNOSE! Mépica po Estavo po Rio nr Janeiro (SOHIMERJ). Enpereco: Prata pa Rosa, 1335 - Inna po Governapor - RJ. completo desenvolvimento e perfeigao funcional, sendo ainda entretanto dificil obter-se um transe hipnotico. O que pode ser feito nesta faixa etaria a inducao do sono fisiolégico, através de estimulos débeis, monétonos, titmados, como o obtido no embalar do bebé (com carinho, afago e falando baixinho). A crianca neste periodo nao apresenta zona de transferéncia ou Pponto vigil sendo as conexdes temporarias, isto , os reflexos condicionados ainda muito labeis, s6 se conseguindo por isso, o transe hipnético em torno dos 4 e meio a 5 anos de idade, quando pode ser estabelecida a ligagao entre o terapeuta e a crianga. 2 - Hipnoterapia Infantil: ‘Na terapia com criangas, particularmente do ponto de vista médico, é normalmente desnecessario se realizar uma hipnose muito profunda, ja que suas vividas imaginagdes e memoria visual possibilitam ganhos em outros niveis, Um extenso trabalho realizado por Gordon Ambrosem, quando atuava como psiquiatra num centro de orientagao infantil, evidenciou 3 regras principais que se deve ter em mente quando se usa hipnose em crianga: 1* - Conquistar sua confianga. 2° - Dizer-lhes o que vai ser feito. 3° - Utilizar qualquer técnica. ‘Na abordagem hipnotica da crianga, tanto para corrego de habitos como para educa¢ao, em qualquer aspecto particular, precisa-se sempre ter em mente que essa deve aprender a respeitar a si mesma, respeitando sua propria mente e seu corpo, assim como sua capacidade de comportamento e de aprendizagem. 3. Disturbios psicossociais em criancas: Um disturbio psicossocial numa crianga pode manifestar-se como uma perturbagdo dos sentimentos (p.ex., depressio, ansiedade), das funcdes corporais (disturbios psicossomaticos), do comportamento ou do rendimento (problemas de aprendizado). A disfungao pode envolver qualquer uma ou todas estas areas. Os problemas psicossoci: is podem ser produzidos por estresses fisicos ou emocionais, defeitos congénitos, traumatismos, praticas incoerentes de educacao da crianga, conflito conjugal, maus tratos infantis, negligéncia e assim por diante. Esses problemas de origem multifatorial, tém sua expressio variavel de acordo com o temperamento, nivel do desenvolvimento, natureza e duragao do estresse, experiéncias passadas e a capacidade de convivio e adaptacao da familia. Os lactentes e criangas pré-escolares tendem a reagir a situagdes esiressantes, com debilitag&o das fungSes fisiolégicas como alteragdes da alimentagao e sono, com expressdes de ddio ou medo, acesso de fitria, retraimento e comportamento de fuga. Os escolares demonstram suas dificuldades através da alterag&o das relagdes com amigos e familiares, queda do rendimento escolar, aparecimento de sindromes psicologicas como fobias ou distiirbios psicossomaticos, “regressio” para modos antigos mais “infantis” de funcionar, etc. Algumas atitudes “sintomaticas” das criancas fazem parte do desenvolvimento normal, por exemplo, um acesso de firia num pré-escolar pode expressar 0 negativismo normal; por outro lado, um acesso de furia 4 menor provoca¢ao numa crianga de 6 anos pode indicar um disturbio psicossocial. A distingao do comportamento como uma variagao do desenvolvimento ou uma evidéncia de um problema mais grave depende da idade da crianca, da freqiiéncia, intensidade e ntimero de sintomas e especialmente do grau de comprometimento funcional 4, Situacdes nas quais podemos utilizar a hipnose em criancas: 4.1. Distirbios relacionados As fungées vegetativas: a) Enurese: Consiste na eliminag&o involuntaria de urina apés a idade na qual o controle da bexiga se estabelece. E um dos problemas mais comuns e desconcertantes que chegam ao pediatra, sendo maior a ocorréncia em meninos. A enurese divide-se em 2 tipos: persistente (ou primaria), no qual a crianga jamais se manteve seca a noite, e regressiva, no qual uma crianga previamente continente volta a urinar na cama. A enurese noturna persistente freqiientemente decorre de um treinamento deficiente no uso do banheiro. Os pais que exigem que a crianca passe logo a usar o banheiro podem gerar uma resposta de Odio, ea crianga pode desafia-los inconscientemente urinando na cama. A enurese regressiva ¢ desencadeada por eventos ambientais estressantes como a mudanga para um novo lar, conflito conjugal, nascimento de um irmao(a) ou morte em familia. Esta enurese é intermitente e transitdria; 0 progndstico é melhor e 0 tratamento é menos dificil do que na criangacom enurese primaria. Uma das coisas mais importantes no tratamento da enurese é conseguir que a crianga melhore a confianga em si mesma, para que pare de preocupar- se com suas falhas. Assim, é melhor convencé-la, e mais propriamente convencer sua familia, a parar de falar sobre “camas molhadas” e comegar a discutir sobre “‘camas secas”. Deve-se ajudar a crianca a entender o significado das agressdes das atitudes paternas e assim por diante. Naturalmente, com freqiiéncia, é muito importante incluir os pais no tratamento, Um sistema de reforgo positivo que marque num calendario 0 progresso da crianga é bem sucedido em 80-85% dos casos. Nos casos de enurese, pode-se utilizar uma sugestio hipndtica, no sentido da crianga levantar toda vez que tiver vontade de urinar, indo ao banheiro, embora, na maioria das vezes, no se lembre disto ou ainda criar- se fantasias, por meio de uma estoria, nas quais ela se sinta inserida, fazendo- se sugestdes positivas. b) Distirbios do sono: As criangas maiores podem sentir medos noturnos transitérios (de barulhos, de ladrdes, de serem seqitestradas, etc.), que interferem no sono. A crianga procura dormir na cama dos pais e muitas vezes entram no quarto deles depois que adormecem. A ansiedade de separaciio, freqiientemente contribui para este problema. 282 As criangas podem considerar inconsciente ou simbolicamente 0 sono como um pericdo no qual sao afastadas do amor e interesse dos pais. Se houver conflito dentro da familia ou se tiver ocorrido separagao ou divércio, esta ansiedade se exacerba. Os medos na hora de dormir muitas vezes est&o relacionados a separacdes normais, como as que ocorrem quando a crianga vai pela primeira vez a creche ou jardim de infancia. A depress&o também causa anormalidade do sono. Os pesadelos sao mais freqiientes nas meninas do que nos meninos e costumam comegar antes de 10 anos. O terror noturno geralmente comeg¢a nos anos pré-escolares e ocorre quando, ao despertar do sono no estagio 4 (nao REM), a crianga confusa e desorientada, mostra sinais de atividade autonémica intensa (respiragao tuidosa, midriase, sudorese, taquipnéia, taquicardia) e parece assustada. Em geral, ela nao recorda do conteudo do sonho que causou o terror noturno. Os terrores noturnos muitas vezes sao auto-limitados e podem estar relacionados a um conflito especifico do desenvolvimento ou a um evento traumatico desencadeante. Nos disturbios do sono, deve-se discutir com a crianga o verdadeiro significado do problema, as razdes dele e seus propdsitos. Isto deve ser feito no nivel intelectual e educacional da crianga. Os problemas devem ser discutidos com os pais e as criangas. Nesses casos, pode-se fazer sugestdes hipnoticas positivas a fim de tranqiiilizar a crianga, ou no caso de pesadelos, fazer uma regressio de memoria, levando-a a se lembrar do sonho, onde através de indugao modificamos as imagens do mesmo por meio de sugestdes positivas, 4.2. Distirbios dos habitos: Compreendem fenédmenos de descarga de tensdo tais como: bater com a cabega, oscilar o corpo, chupar o polegar, roer unhas, puxar os cabelos (tricotilomania), ranger os dentes (bruxismo), bater ou morder partes do proprio corpo, fazer vocalizagdes repetidas, tiques, prender a respiracao e deglutir ar (aerofagia). A gagueira é citada com os disturbios dos habitos, mas, em geral, nao é considerada uma atividade aliviadora da tensao, Todas as criangas, em fases diversas do desenvolvimento, mostram padres repetitivos dos movimentos que podem ser descritos como habitos. A sua consideragao como distiirbio, depende do grau no qual interfere na fungo fisica, emocional ou social da crianca. Alguns padres de habitos s&o aprendidos por imitago dos adultos. a) Bruxismo: Parece advir de tensao origindria de édio ou ressentimento nao expressado. Pode ser um sintoma de uma neurose disfarcada. A ajuda da crianga para encontrar meios de expressar_o ressentimento, pode aliviar o problema. Pode-se ensinar a crianga a entrar num transe profundo e dizer-lhe que toda vez que ranger os dentes, acordara e ficaré com raiva de ser acordado por ranger os dentes. Além disso, dé-se uma sugestao pds-hipnotica para que ela se sinta muito feliz porque pode voltar rapidamente a dormir. A idéia é amarrar a reacdo de raiva ao bruxismo e uma reagao de prazer em voltar rapidamente a dormir. A sensagao de poder vencer o bruxismo é um fator positivo muito importante. Pode-se também ensinar a crianga, como a um adulto, alguma coisa como relaxar a mandibula e manter os dentes separados. b) Sucgiio do polegar: E normal no inicio da lactancia e pode ser entendida como um meio de garantir auto-estimulagio extra. Os pais devem ignorar 0 sintoma, se possivel, e demonstrar atengdio a aspectos mais positivos do comportamento da crianga. A necessidade da crianga de sugar 0 dedo deve ser respeitada, uma vez que reagira com antagonismo, ressentimentos e nao-cooperacao se ameagada. Por outro lado, se alguém diz a crianga que ela pode precisar chupar o dedo e que realmente deveria suga-lo, uma certa divida e um -10- questionamento surgem em seu pensamento. A crianga que tenta ativamente restringir a sucgéo dos dedos deve receber elogios e incentivo. c) Gagueira: A gagueira leve (Stammerring) e a gagueira propriamente dita (Stutering) so disturbios nos quais a hipnose pediatrica ¢ util. Os casos iniciais sio naturalmente os mais faceis de manejar, ja os casos crénicos sio mais dificeis pois envolve uma grande quantidade de tempo e esforgo para trabalhar com as idéias e atitudes da crianga. Ha necessidade em reforgar o ego da crianga, melhorando o conceito que ela tem sobre si mesma, sugerindo-lhe atividade de interesse e discutindo as idéias de agresses que possa ter. Nao se deve tentar remover os sintomas 4 forga; deve-se tentar simplesmente limita-los, restringi-los e torna-los realmente uteis para a pessoa. Tao logo os sintomas tornem-se conscientemente uteis, ao invés de express6es dos mecanismos defensivos inconscientes, 0 paciente tem a oportunidade de altera-los para adapt-los a sua personalidade. Deve-se mostrar a crianga que falar é apenas uma das formas de comunicaciio, assim como a escrita e o desenho. Ela pode entender melhor quando se mostra como uma crianga aprende a escrever. O paciente pode fazer um paralelo entre o comportamento fisico da crianga para aprender a escrever e€ 0 seu proprio comportamento fisico quando gaguejar (fazer caretas, encolher os ombros, entortar o pé, morder a lingua). Pode-se afirmar que, quando a escrita melhora, a crianga nao morde mais a lingua, seus movimentos de perna e outros cessam e suas caretas nfo sio mais evidentes. Assim, o jovem paciente tem a idéia de que ha uma possibilidade de resolugdo de seu problema. Esta é a base de qualquer desenvolvimento terapéutico. d) Unicofagia (roer unhas): O fator desencadeante em geral é a inseguranga, seguido do desenvolvimento do habito. Pode-se achar que ele também denota uma tendéncia masoquista: a crianga dirige sua agressividade para si mesma. Se Uma forma de abordagem é fazer com que a crianga esteja satisfeita por ter roido apenas uma unha, enquanto o observador interessa-se na beleza das outras. O que importa é fazer com que restrinja a sintomatologia roendo apenas uma ou duas, ou mesmo cinco, ao invés de dez. Aos poucos o problema deve ser contornado. 4,3, Distirbios de ansiedade: A ansiedade, 0 medo e a preocupagio sio sentidos freqiientemente como parte do desenvolvimento normal das criangas. Quando estes sentimentos tornam-se desvinculados de situagdes ou eventos especificos, ou quando acabam por prejudicar a interag&o social e o desenvolvimento da crianga, sao considerados patolégicos e merecem intervengao. a) Fobias: As criangas com fobias estado ansiosas apenas em condigdes especificas e tentam evitar determinados objetos ou situacdes que automaticamente produzem ansiedade. Os pais de criangas fébicas devem permanecer calmos diante da ansiedade ou panico da crianga, se eles ficarem perturbados, a crianga concluira que de fato existe algo a temer. b) Disturbio do estresse pés-traumatico: Caracteriza-se por recordagées recorrentes, inoportunas, e sonhos de eventos nocivos, além de softimento patoldgico e fisiolégico intenso, intermitente, em situagdes que simbolizam o trauma original. Ocorre em criangas e adolescentes, sobretudo nos que sofreram maus tratos fisicos ou sexuais, Para os distirbios de ansiedade utiliza-se a hipnose tentando-se buscar as situagdes ou eventos que desencadeiam medo e até mesmo panico nas criangas. Com acrianga no estado hipnotico, pode-se fazer com que ela visualize uma cena que lhe provoque medo, e por regressio de memoria ou alucinagdo, modifica-se a mesma com sugestées positivas. 4,4, Distirbios afetivos: a) Depressiio importante: As criangas pré-puberes e adolescentes sofrem disturbios do humor aloe semelhantes aos que afetam os adultos. A prevaléncia de depress&o importante em criangas pré-puberes foi relatada como 1,8% e em adolescentes como 3,5%. As meninas relatam significativamente mais sintomas depressivos que os meninos. Os sintomas depressivos variam de acordo com a idade e o nivel do desenvolvimento. As criangas escolares deprimidas, apresentam-se com uma variedade de sintomas tais como: expressdes faciais tristes, lagrimas faceis, irritabilidade, afastamento de atividades geralmente agradaveis, além de alteragdes da alimentagaio e do sono. 50% das criangas deprimidas também. apresentam sintomas Obvios de ansiedade e 20-30% tem disturbios do comportamento. Os adolescentes apresentam-se tipicamente com impulsividade, fadiga, depressao e ideagdo suicida. Os sintomas de um episddio depressivo importante geralmente se desenvolvem ao longo de um periodo de dias ou semanas. A duragao dos sintomas € bastante variavel e se nfo tratados, muitas vezes persistem por varios meses. Na terapia com auxilio da hipnose, deve-se tentar localizar 0 motivo da depressao e combaté-lo através de sugestées positivas. b) Disturbio disti Consiste em periodos de humor normal durante varios dias a varias semanas, alternados com epis6dios de depressao intermitente. ¢) Distirbio Bipolar (PMD): Geralmente acomete a segunda ou terceira década de vida mas também pode ocorrer antes da puberdade. ico: Durante os primeiros anos da doenga, os episddios maniacos so mais comuns que os depressivos. Manifestagdes clinicas em adolescentes sao semelhantes as que ocorrem em adultos, hiperatividade, ins6nia, percepgao grandiosa de si mesmo, humor expansivo e delirios paranoides, apresentando fases de depressiio e e165 euforia, intercalados por periodos de normalidade. Quanto mais cedo o inicio dos sintomas bipolares, mais suscetivel é 0 paciente a suicidio posterior. A hipnose deve ser utilizada nos periodos de normalidade, tomando-se muito cuidado, pois 0 paciente com tendéncia ao suicidio pode usar uma unica palavra como incentivo para 0 ato. 5, Dificuldades encontradas na hipnose em criancas: 5.1, Labilidade das conexdes temporarias: Os reflexos condicionados se formam com rapidez mas também se desfazem com rapidez, assim as ligagdes sfio fugazes e a crianga facilmente entra e sai da hipnose. A zona motora, mesmo em criangas maiores, esta ligada ao aprendizado. A crianga, em geral, entra em transe profundo sem precisar da execugio de todos os passos da hipnose, somente atingindo a catalepsia ou os movimentos automaticos. Havendo inibigao da zona motora, pode-se dizer que a crianga esta em transe profundo. As vezes, quando temos certeza de que esta em hipnose bastante profunda, a crianga abre os olhos subitamente e parece acordar, porém n&o se deve dar atencdo a esse fato, deve-se continuar com a indugao como se nada tivesse acontecido, ja que da mesma forma que ela sai de um transe, ela entra nele novamente. §.2. Instabilidade da atencio: Os métodos usados na hipnose infantil devem procurar ganhar a mais completa ateng&o da crianga. Deve-se fazer a crianga se concentrar em apenas uma idéia, j4 que a hipnose é baseada no monoideismo. 6. Métodos utilizados na hipnose em crian¢as: Rapport: E 0 didlogo travado com a crianga antes da hipnose, buscando adquirir sua confianga. E 0 primeiro passo empregado em todos os métodos de hipnose. Devemos preparar o ambiente e a nossa maneira de atuar, de modo a eliminar qualquer fator de medo que possa impedir 0 inicio ou o prosseguimento do processo. Nesse sentido, devemos deixar alguns objetos ou brinquedos 4 mao da crianga, enquanto conversamos com seus pais, para que a mesma se habitue com o ambiente e se sinta 4 vontade. Deve-se perguntar a crianga sobre suas preferéncias por brinquedos, diversdes, filmes, etc. Estas informagdes serao aproveitadas nao so para indug&o do transe hipnotico, no método da visualizacao cénica, como também para fazer sugestGes posteriores. E melhor que ela afaste a idéia de que o terapeuta é um médico, uma vez que esta pode lhe trazer algum sentimento de medo. Pode-se brincar e fazer a crianga imaginar fatos, os quais favoregam posteriormente, a indugao hipnética. Para fazer a hipnose em criangas, devemos obter autorizagao dos pais ou permitir que os mesmos assistam a sesso. Isso é muito importante. 6.1. Método do Péndulo: Rapport - Estimula-se a vaidade da crianga, convencendo-a de que vai ser capaz de vencer o desafio que vai ser proposto, isto é, manter um péndulo sobre o centro de um “X”, tragado numa folha de papel, sem deixa-lo balangar. Posigéo - A crianga deve estar sentada, Execuciio — Faz-se um “X” num papel e pede-se para a crianga por o braco uns 30-40 cm do papel, segurando um cordao com um objeto pendurado no mesmo, p.ex., um anel. Pede-se para que olhe fixamente para o centro do “X”, onde as linhas se cruzam,e que tente manter o péndulo sobre o mesmo, sem balangar. Deve-se frisar que ela é inteligente e que tem capacidade para isso. Diz-se que seu brago comega a ficar pesado, que o cordao esta ficando pesado como uma pedra, e que ela nfo vai conseguir sustenta-lo no ar, arriando o brago sobre a mesa, sugere-se que a visdo vai ficando turva e que os olhos (palpebras) vao ficando pesados, cada vez mais pesados... e se fecham, sendo impossivel abri-los. Segue-se a inibig&o dos movimentos voluntarios, relaxamento profundo, anestesia superficial ou hiperestesia e, 08 por fim, as sugestdes terapéuticas. 6.2, Método da encenacio ou visualizacao cénica: Rapport ~ Estabelece-se uma conversa franca com a crianga, com palavras que demonstrem nosso sincero interesse pela sua vida e pelas suas coisas. Depois, perguntamos sobre as diversdes habituais as quais costuma entregar-se, qual a que mais aprecia, qual a que pratica com mais assiduidade. O que interessa finalmente ao terapeuta, é extrair da crianga, em suas proprias palavras, algo que retenha o seu interesse. Podemos pergunta-la qual a estéria, filme ou desenho animado de sua preferéncia, qual a parte que mais aprecia, e devemos atentar para todos os detalhes, principalmente na seqiiéncia dos fatos que forem relatacos. Posigao — A crianga deve estar sentada. Execucio — Propde-se a crianga a recordag&o viva da situagao relatada, de sua preferéncia, pedindo que feche os olhos ¢ procure imagina-la. Relata- se a cena, nos seus minimos detalhes e pausadamente. Sugere-se o levantamento do brago, em meio ao relato, com o objetivo de sua mao tocar a sua testa, sincronicamente ao término do relato. Isso é muito importante. A seguir, sugere-sea catalepsia palpebral, relaxamento do corpo e demais passos, culminando com as sugestées terapéuticas. 6.3. Método do entrecruzamento dos dedos: Rapport - Sem caracteristicas especificas. Posig&o — A crianga deve estar sentada. Execugao — Pede-se a crianga que encoste as palmas das maos e cruze os dedos, bem apertados. Os bragos devem ficar projetados, sem apoio, na horizontal, com os cotovelos langados para a frente. Estimula-se a crianga a apertar 0 mais forte que puder, dizendo que ela 6 muito forte e que para ela sera muito facil. Sugere-se que os dedos estéio presos, cada vez mais presos e que vai ser impossivel abri-los. No apagamento, enquanto se diz que os dedos vao se soltando, pede-se paraa crianga olhar fixamente para eles e que seus olhos ficam pesados, muito pesados, que a vis&o vai ficando turva, visando a catalepsia palpebral e demais passos. 6.4, Método do olhar mutuo: Rapport — Pergunta-se a crianga qual a cor dos seus proprios olhos e propGe-se uma brincadeira interessante. Posig&o — A crianga deve estar sentada, de frente para o terapeuta, olhando para os seus olhos. Execugao — A crianga deve olhar fixamente para os olhos do terapeuta, sem piscar, de tal maneira que seu olho esquerdo mire o olho direito do terapeuta e seu olho direito mire o olhar esquerdo. Sugere-se que se assim proceder, a cor dos olhos irao se alterar para uma outra cor pré-determinada. Em seguida, observa-se o cansago visual da crianga (catalepsia palpebral apés visao turva). Segue-se os demais passos da hipnose. 6.5. Método da moeda: Rapport — Sem caracteristicas especificas, Posig&éo — A crianga deve estar sentada, com o cotovelo apoiado no braco de uma cadeira, Execugao — Da-se uma moeda para a crianga, pedindo para a mesma olhar fixamente para a mao que segura a moeda, Sugestiona-se que a medida em que a visao vai ficando turva, o seu bra¢o vai se tornando mais pesado, cada vez mais pesado. Em seguida, ocorre a catalepsia flacida das palpebras, caida do brago, catalepsia rigida das palpebras e as demais fases da hipnose. 7. Conclusiio: Na hipnose em crianga, assim como nos adultos, devemos ensinar ao individuo o respeito por si mesmo, sua mente, seu corpo e suas capacidades. As criangas geralmente sdo mais receptivas a hipnose do que os adultos, ja que possuem maior capacidade de imaginagao e memoria visual e um desejo incontrolavel de vivenciar novas experiéncias e conhecimentos. Assim, as criangas respondem muito bem a hipnoterapia, muitas vezes sem a necessidade de se atingir planos profundos. E lamentavel que o uso da hipnose na infancia seja tao reduzido, apesar da sua indugao ser tecnicamente facil e sua aplicagao indcua. ate Resumo: O autor descreve os principais distarbios psicossociais na infancia, enfatizando sua abordagem, baseada nos métodos apropriados de hipnoterapia. Summary The author describes the main psychosocial disturbance on childhood, emphasizing his broaching, based on the appropriated methods of hypnotherapy. BIBLIOGRAFIA: 1, ABLON, S. L., MARK, J. E. - Sleep Disorders - In: Noshpitz J.D. (ed): Basic Handbook of Child Psychiatry - New York, Basic Books, 1979, pg 643-660. 2. BERNSTEIN, G.; GARFINKEL, B. - School Phobia: The Overlap of Affective and Anxiety Disorders - J. Nac. Acad. Child Adol. Psychiatry - 25: 235, 1986 3. CANTWELL, D. - Depressive Disorders in Children - Psychiatr. Clin. North Am. 8: 779, 1985. 4. ERICKSON, M. H. , HERSHMAN, S., SECTER, I. - Hipnose Médica e Odontologica, Aplicagées Praticas - Ed. Psy I, 1994. 5. FARIA, O. A. - Manual de Hipnose Médica e Odontoldgica - 4° ed., Ed.Atheneu, Rio de Janeiro, 1979. 6. FORMAN, M. A. - Psychossomatic Iiness - In: Gellis, 8., Kagan, B. (eds): Current Pediatric Therapy - 12 Philadelphia, W. B. Saunders, 1986, 7, PINCHERLE, L. T., LYRA, A., SILVA, D. B., GONCALVES, A.M. - Psicoterapia e Estados de Transe - 2° ed., Ed. Summus, Sao Paulo, 1985. -18-

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