HIPNOSE EM CRIANCAS (*)
Dr. Luiz Fernanpo DA Sitva Constanza (**)
1 - Introducao:
Em 1889, no Congresso Internacional de Hipnotismo, em Paris,
Bertillond demonstrou o valor da hipnose no tratamento de criangas, moral
e psicologicamente anormais. Relatou que muitos fatos, cuidadosamente
observados, provaram o valor terapéutico da sugestéo nos seguintes
disturbios infantis: enurese, terror noturno, tiques nervosos e outros
disturbios funcionais do sistema nervoso.
E na infancia que so impregnadas todas as imagens, emoges, vivéncias,
sensages, traumas, conflitos, etc., que vio formando o chamado mosaico
cortical. Esta estrutura, baseada nas impressées recebidas desde o
nascimento, é responsavel pela formagio de esteredtipos dinamicos que
irao determinar 0 comportamento do individuo.
As criancas em geral sfio imaginativas, curiosas, tornando-se facil a
utilizagao da maior parte das técnicas empregadas pela hipnose.
A crianga pode ser hipnotizada a partir do momento que consegue
fixar a atengao, o que ocorre em torno dos cinco anos de idade, porém,
criangas muito irrequietas, sO sAo hipnotizaveis mais tarde.
Nos recém-nascidos, a cortex cerebral ¢ pouco desenvolvida, por
isso, em geral, desenvolvem relagdes condicionadas ligadas a estimulos
térmicos, cutaneos, etc.
Com um ano e meio, a crianga ja ¢ capaz de apresentar reflexos
condicionados, a partir dos érgaos da percepgao como visao e audig&o,
porém de uma forma muito lenta.
De 2 a3 anos, os mecanismos dos reflexos condicionados atingem seu
(*) TRABALHO ENVIADO PELO AUTOR PARA PUBLICA
(**) PepiaTra roRMADO PELA Escoia be Mepicina £ Cirurci po Rio pe,
| Jaxemo (Unio), Hipworerarevta FoRMADO PELs SociepapE, DE HIPNOSE!
Mépica po Estavo po Rio nr Janeiro (SOHIMERJ).
Enpereco: Prata pa Rosa, 1335 - Inna po Governapor - RJ.completo desenvolvimento e perfeigao funcional, sendo ainda entretanto
dificil obter-se um transe hipnotico. O que pode ser feito nesta faixa etaria
a inducao do sono fisiolégico, através de estimulos débeis, monétonos,
titmados, como o obtido no embalar do bebé (com carinho, afago e falando
baixinho). A crianca neste periodo nao apresenta zona de transferéncia ou
Pponto vigil sendo as conexdes temporarias, isto , os reflexos condicionados
ainda muito labeis, s6 se conseguindo por isso, o transe hipnético em torno
dos 4 e meio a 5 anos de idade, quando pode ser estabelecida a ligagao
entre o terapeuta e a crianga.
2 - Hipnoterapia Infantil:
‘Na terapia com criangas, particularmente do ponto de vista médico, é
normalmente desnecessario se realizar uma hipnose muito profunda, ja
que suas vividas imaginagdes e memoria visual possibilitam ganhos em
outros niveis,
Um extenso trabalho realizado por Gordon Ambrosem, quando atuava
como psiquiatra num centro de orientagao infantil, evidenciou 3 regras
principais que se deve ter em mente quando se usa hipnose em crianga:
1* - Conquistar sua confianga.
2° - Dizer-lhes o que vai ser feito.
3° - Utilizar qualquer técnica.
‘Na abordagem hipnotica da crianga, tanto para corrego de habitos
como para educa¢ao, em qualquer aspecto particular, precisa-se sempre
ter em mente que essa deve aprender a respeitar a si mesma, respeitando
sua propria mente e seu corpo, assim como sua capacidade de
comportamento e de aprendizagem.
3. Disturbios psicossociais em criancas:
Um disturbio psicossocial numa crianga pode manifestar-se como uma
perturbagdo dos sentimentos (p.ex., depressio, ansiedade), das funcdes
corporais (disturbios psicossomaticos), do comportamento ou do
rendimento (problemas de aprendizado). A disfungao pode envolver
qualquer uma ou todas estas areas.
Os problemas psicossoci:
is podem ser produzidos por estresses fisicosou emocionais, defeitos congénitos, traumatismos, praticas incoerentes de
educacao da crianga, conflito conjugal, maus tratos infantis, negligéncia e
assim por diante.
Esses problemas de origem multifatorial, tém sua expressio variavel
de acordo com o temperamento, nivel do desenvolvimento, natureza e
duragao do estresse, experiéncias passadas e a capacidade de convivio e
adaptacao da familia.
Os lactentes e criangas pré-escolares tendem a reagir a situagdes
esiressantes, com debilitag&o das fungSes fisiolégicas como alteragdes da
alimentagao e sono, com expressdes de ddio ou medo, acesso de fitria,
retraimento e comportamento de fuga. Os escolares demonstram suas
dificuldades através da alterag&o das relagdes com amigos e familiares,
queda do rendimento escolar, aparecimento de sindromes psicologicas como
fobias ou distiirbios psicossomaticos, “regressio” para modos antigos
mais “infantis” de funcionar, etc.
Algumas atitudes “sintomaticas” das criancas fazem parte do
desenvolvimento normal, por exemplo, um acesso de firia num pré-escolar
pode expressar 0 negativismo normal; por outro lado, um acesso de furia
4 menor provoca¢ao numa crianga de 6 anos pode indicar um disturbio
psicossocial.
A distingao do comportamento como uma variagao do desenvolvimento
ou uma evidéncia de um problema mais grave depende da idade da crianca,
da freqiiéncia, intensidade e ntimero de sintomas e especialmente do grau
de comprometimento funcional
4, Situacdes nas quais podemos utilizar a hipnose em criancas:
4.1. Distirbios relacionados As fungées vegetativas:
a) Enurese:
Consiste na eliminag&o involuntaria de urina apés a idade na qual o
controle da bexiga se estabelece.
E um dos problemas mais comuns e desconcertantes que chegam ao
pediatra, sendo maior a ocorréncia em meninos.
A enurese divide-se em 2 tipos: persistente (ou primaria), no qual acrianga jamais se manteve seca a noite, e regressiva, no qual uma crianga
previamente continente volta a urinar na cama.
A enurese noturna persistente freqiientemente decorre de um
treinamento deficiente no uso do banheiro. Os pais que exigem que a crianca
passe logo a usar o banheiro podem gerar uma resposta de Odio, ea crianga
pode desafia-los inconscientemente urinando na cama.
A enurese regressiva ¢ desencadeada por eventos ambientais estressantes
como a mudanga para um novo lar, conflito conjugal, nascimento de um
irmao(a) ou morte em familia. Esta enurese é intermitente e transitdria; 0
progndstico é melhor e 0 tratamento é menos dificil do que na criangacom
enurese primaria.
Uma das coisas mais importantes no tratamento da enurese é conseguir
que a crianga melhore a confianga em si mesma, para que pare de preocupar-
se com suas falhas. Assim, é melhor convencé-la, e mais propriamente
convencer sua familia, a parar de falar sobre “camas molhadas” e comegar
a discutir sobre “‘camas secas”. Deve-se ajudar a crianca a entender o
significado das agressdes das atitudes paternas e assim por diante.
Naturalmente, com freqiiéncia, é muito importante incluir os pais no
tratamento,
Um sistema de reforgo positivo que marque num calendario 0 progresso
da crianga é bem sucedido em 80-85% dos casos.
Nos casos de enurese, pode-se utilizar uma sugestio hipndtica, no
sentido da crianga levantar toda vez que tiver vontade de urinar, indo ao
banheiro, embora, na maioria das vezes, no se lembre disto ou ainda criar-
se fantasias, por meio de uma estoria, nas quais ela se sinta inserida, fazendo-
se sugestdes positivas.
b) Distirbios do sono:
As criangas maiores podem sentir medos noturnos transitérios (de
barulhos, de ladrdes, de serem seqitestradas, etc.), que interferem no sono.
A crianga procura dormir na cama dos pais e muitas vezes entram no quarto
deles depois que adormecem. A ansiedade de separaciio, freqiientemente
contribui para este problema.
282As criangas podem considerar inconsciente ou simbolicamente 0 sono
como um pericdo no qual sao afastadas do amor e interesse dos pais. Se
houver conflito dentro da familia ou se tiver ocorrido separagao ou divércio,
esta ansiedade se exacerba.
Os medos na hora de dormir muitas vezes est&o relacionados a
separacdes normais, como as que ocorrem quando a crianga vai pela
primeira vez a creche ou jardim de infancia.
A depress&o também causa anormalidade do sono.
Os pesadelos sao mais freqiientes nas meninas do que nos meninos e
costumam comegar antes de 10 anos.
O terror noturno geralmente comeg¢a nos anos pré-escolares e ocorre
quando, ao despertar do sono no estagio 4 (nao REM), a crianga confusa
e desorientada, mostra sinais de atividade autonémica intensa (respiragao
tuidosa, midriase, sudorese, taquipnéia, taquicardia) e parece assustada.
Em geral, ela nao recorda do conteudo do sonho que causou o terror
noturno.
Os terrores noturnos muitas vezes sao auto-limitados e podem estar
relacionados a um conflito especifico do desenvolvimento ou a um evento
traumatico desencadeante.
Nos disturbios do sono, deve-se discutir com a crianga o verdadeiro
significado do problema, as razdes dele e seus propdsitos. Isto deve ser
feito no nivel intelectual e educacional da crianga. Os problemas devem
ser discutidos com os pais e as criangas.
Nesses casos, pode-se fazer sugestdes hipnoticas positivas a fim de
tranqiiilizar a crianga, ou no caso de pesadelos, fazer uma regressio de
memoria, levando-a a se lembrar do sonho, onde através de indugao
modificamos as imagens do mesmo por meio de sugestdes positivas,
4.2. Distirbios dos habitos:
Compreendem fenédmenos de descarga de tensdo tais como: bater com
a cabega, oscilar o corpo, chupar o polegar, roer unhas, puxar os cabelos
(tricotilomania), ranger os dentes (bruxismo), bater ou morder partes do
proprio corpo, fazer vocalizagdes repetidas, tiques, prender a respiracao edeglutir ar (aerofagia).
A gagueira é citada com os disturbios dos habitos, mas, em geral, nao
é considerada uma atividade aliviadora da tensao,
Todas as criangas, em fases diversas do desenvolvimento, mostram
padres repetitivos dos movimentos que podem ser descritos como habitos.
A sua consideragao como distiirbio, depende do grau no qual interfere na
fungo fisica, emocional ou social da crianca. Alguns padres de habitos
s&o aprendidos por imitago dos adultos.
a) Bruxismo:
Parece advir de tensao origindria de édio ou ressentimento nao
expressado. Pode ser um sintoma de uma neurose disfarcada. A ajuda da
crianga para encontrar meios de expressar_o ressentimento, pode aliviar o
problema.
Pode-se ensinar a crianga a entrar num transe profundo e dizer-lhe que
toda vez que ranger os dentes, acordara e ficaré com raiva de ser acordado
por ranger os dentes. Além disso, dé-se uma sugestao pds-hipnotica para
que ela se sinta muito feliz porque pode voltar rapidamente a dormir. A
idéia é amarrar a reacdo de raiva ao bruxismo e uma reagao de prazer em
voltar rapidamente a dormir.
A sensagao de poder vencer o bruxismo é um fator positivo muito
importante. Pode-se também ensinar a crianga, como a um adulto, alguma
coisa como relaxar a mandibula e manter os dentes separados.
b) Sucgiio do polegar:
E normal no inicio da lactancia e pode ser entendida como um meio de
garantir auto-estimulagio extra. Os pais devem ignorar 0 sintoma, se
possivel, e demonstrar atengdio a aspectos mais positivos do comportamento
da crianga.
A necessidade da crianga de sugar 0 dedo deve ser respeitada, uma vez
que reagira com antagonismo, ressentimentos e nao-cooperacao se
ameagada. Por outro lado, se alguém diz a crianga que ela pode precisar
chupar o dedo e que realmente deveria suga-lo, uma certa divida e um
-10-questionamento surgem em seu pensamento.
A crianga que tenta ativamente restringir a sucgéo dos dedos deve
receber elogios e incentivo.
c) Gagueira:
A gagueira leve (Stammerring) e a gagueira propriamente dita
(Stutering) so disturbios nos quais a hipnose pediatrica ¢ util.
Os casos iniciais sio naturalmente os mais faceis de manejar, ja os
casos crénicos sio mais dificeis pois envolve uma grande quantidade de
tempo e esforgo para trabalhar com as idéias e atitudes da crianga.
Ha necessidade em reforgar o ego da crianga, melhorando o conceito
que ela tem sobre si mesma, sugerindo-lhe atividade de interesse e discutindo
as idéias de agresses que possa ter.
Nao se deve tentar remover os sintomas 4 forga; deve-se tentar
simplesmente limita-los, restringi-los e torna-los realmente uteis para a
pessoa. Tao logo os sintomas tornem-se conscientemente uteis, ao invés
de express6es dos mecanismos defensivos inconscientes, 0 paciente tem a
oportunidade de altera-los para adapt-los a sua personalidade.
Deve-se mostrar a crianga que falar é apenas uma das formas de
comunicaciio, assim como a escrita e o desenho. Ela pode entender melhor
quando se mostra como uma crianga aprende a escrever. O paciente pode
fazer um paralelo entre o comportamento fisico da crianga para aprender a
escrever e€ 0 seu proprio comportamento fisico quando gaguejar (fazer
caretas, encolher os ombros, entortar o pé, morder a lingua). Pode-se
afirmar que, quando a escrita melhora, a crianga nao morde mais a lingua,
seus movimentos de perna e outros cessam e suas caretas nfo sio mais
evidentes. Assim, o jovem paciente tem a idéia de que ha uma possibilidade
de resolugdo de seu problema. Esta é a base de qualquer desenvolvimento
terapéutico.
d) Unicofagia (roer unhas):
O fator desencadeante em geral é a inseguranga, seguido do
desenvolvimento do habito. Pode-se achar que ele também denota uma
tendéncia masoquista: a crianga dirige sua agressividade para si mesma.
SeUma forma de abordagem é fazer com que a crianga esteja satisfeita
por ter roido apenas uma unha, enquanto o observador interessa-se na
beleza das outras. O que importa é fazer com que restrinja a sintomatologia
roendo apenas uma ou duas, ou mesmo cinco, ao invés de dez. Aos poucos
o problema deve ser contornado.
4,3, Distirbios de ansiedade:
A ansiedade, 0 medo e a preocupagio sio sentidos freqiientemente
como parte do desenvolvimento normal das criangas. Quando estes
sentimentos tornam-se desvinculados de situagdes ou eventos especificos,
ou quando acabam por prejudicar a interag&o social e o desenvolvimento
da crianga, sao considerados patolégicos e merecem intervengao.
a) Fobias:
As criangas com fobias estado ansiosas apenas em condigdes especificas e
tentam evitar determinados objetos ou situacdes que automaticamente produzem
ansiedade. Os pais de criangas fébicas devem permanecer calmos diante da
ansiedade ou panico da crianga, se eles ficarem perturbados, a crianga concluira
que de fato existe algo a temer.
b) Disturbio do estresse pés-traumatico:
Caracteriza-se por recordagées recorrentes, inoportunas, e sonhos de
eventos nocivos, além de softimento patoldgico e fisiolégico intenso,
intermitente, em situagdes que simbolizam o trauma original. Ocorre em
criangas e adolescentes, sobretudo nos que sofreram maus tratos fisicos
ou sexuais,
Para os distirbios de ansiedade utiliza-se a hipnose tentando-se buscar
as situagdes ou eventos que desencadeiam medo e até mesmo panico nas
criangas.
Com acrianga no estado hipnotico, pode-se fazer com que ela visualize
uma cena que lhe provoque medo, e por regressio de memoria ou
alucinagdo, modifica-se a mesma com sugestées positivas.
4,4, Distirbios afetivos:
a) Depressiio importante:
As criangas pré-puberes e adolescentes sofrem disturbios do humor
aloesemelhantes aos que afetam os adultos.
A prevaléncia de depress&o importante em criangas pré-puberes foi
relatada como 1,8% e em adolescentes como 3,5%. As meninas relatam
significativamente mais sintomas depressivos que os meninos.
Os sintomas depressivos variam de acordo com a idade e o nivel do
desenvolvimento.
As criangas escolares deprimidas, apresentam-se com uma variedade
de sintomas tais como: expressdes faciais tristes, lagrimas faceis,
irritabilidade, afastamento de atividades geralmente agradaveis, além de
alteragdes da alimentagaio e do sono. 50% das criangas deprimidas também.
apresentam sintomas Obvios de ansiedade e 20-30% tem disturbios do
comportamento.
Os adolescentes apresentam-se tipicamente com impulsividade, fadiga,
depressao e ideagdo suicida.
Os sintomas de um episddio depressivo importante geralmente se
desenvolvem ao longo de um periodo de dias ou semanas. A duragao dos
sintomas € bastante variavel e se nfo tratados, muitas vezes persistem por
varios meses.
Na terapia com auxilio da hipnose, deve-se tentar localizar 0 motivo
da depressao e combaté-lo através de sugestées positivas.
b) Disturbio disti
Consiste em periodos de humor normal durante varios dias a varias
semanas, alternados com epis6dios de depressao intermitente.
¢) Distirbio Bipolar (PMD):
Geralmente acomete a segunda ou terceira década de vida mas também
pode ocorrer antes da puberdade.
ico:
Durante os primeiros anos da doenga, os episddios maniacos so mais
comuns que os depressivos.
Manifestagdes clinicas em adolescentes sao semelhantes as que ocorrem
em adultos, hiperatividade, ins6nia, percepgao grandiosa de si mesmo,
humor expansivo e delirios paranoides, apresentando fases de depressiio e
e165euforia, intercalados por periodos de normalidade. Quanto mais cedo o
inicio dos sintomas bipolares, mais suscetivel é 0 paciente a suicidio
posterior.
A hipnose deve ser utilizada nos periodos de normalidade, tomando-se
muito cuidado, pois 0 paciente com tendéncia ao suicidio pode usar uma
unica palavra como incentivo para 0 ato.
5, Dificuldades encontradas na hipnose em criancas:
5.1, Labilidade das conexdes temporarias:
Os reflexos condicionados se formam com rapidez mas também se desfazem
com rapidez, assim as ligagdes sfio fugazes e a crianga facilmente entra e sai da
hipnose.
A zona motora, mesmo em criangas maiores, esta ligada ao aprendizado.
A crianga, em geral, entra em transe profundo sem precisar da execugio
de todos os passos da hipnose, somente atingindo a catalepsia ou os
movimentos automaticos. Havendo inibigao da zona motora, pode-se dizer
que a crianga esta em transe profundo.
As vezes, quando temos certeza de que esta em hipnose bastante
profunda, a crianga abre os olhos subitamente e parece acordar, porém
n&o se deve dar atencdo a esse fato, deve-se continuar com a indugao
como se nada tivesse acontecido, ja que da mesma forma que ela sai de um
transe, ela entra nele novamente.
§.2. Instabilidade da atencio:
Os métodos usados na hipnose infantil devem procurar ganhar a mais
completa ateng&o da crianga.
Deve-se fazer a crianga se concentrar em apenas uma idéia, j4 que a
hipnose é baseada no monoideismo.
6. Métodos utilizados na hipnose em crian¢as:
Rapport:
E 0 didlogo travado com a crianga antes da hipnose, buscando adquirir
sua confianga. E 0 primeiro passo empregado em todos os métodos de
hipnose.
Devemos preparar o ambiente e a nossa maneira de atuar, de modo aeliminar qualquer fator de medo que possa impedir 0 inicio ou o
prosseguimento do processo. Nesse sentido, devemos deixar alguns objetos
ou brinquedos 4 mao da crianga, enquanto conversamos com seus pais,
para que a mesma se habitue com o ambiente e se sinta 4 vontade.
Deve-se perguntar a crianga sobre suas preferéncias por brinquedos,
diversdes, filmes, etc. Estas informagdes serao aproveitadas nao so para
indug&o do transe hipnotico, no método da visualizacao cénica, como
também para fazer sugestGes posteriores.
E melhor que ela afaste a idéia de que o terapeuta é um médico, uma
vez que esta pode lhe trazer algum sentimento de medo.
Pode-se brincar e fazer a crianga imaginar fatos, os quais favoregam
posteriormente, a indugao hipnética.
Para fazer a hipnose em criangas, devemos obter autorizagao dos pais
ou permitir que os mesmos assistam a sesso. Isso é muito importante.
6.1. Método do Péndulo:
Rapport - Estimula-se a vaidade da crianga, convencendo-a de que
vai ser capaz de vencer o desafio que vai ser proposto, isto é, manter um
péndulo sobre o centro de um “X”, tragado numa folha de papel, sem
deixa-lo balangar.
Posigéo - A crianga deve estar sentada,
Execuciio — Faz-se um “X” num papel e pede-se para a crianga por o
braco uns 30-40 cm do papel, segurando um cordao com um objeto
pendurado no mesmo, p.ex., um anel. Pede-se para que olhe fixamente
para o centro do “X”, onde as linhas se cruzam,e que tente manter o péndulo
sobre o mesmo, sem balangar.
Deve-se frisar que ela é inteligente e que tem capacidade para isso.
Diz-se que seu brago comega a ficar pesado, que o cordao esta ficando
pesado como uma pedra, e que ela nfo vai conseguir sustenta-lo no ar,
arriando o brago sobre a mesa, sugere-se que a visdo vai ficando turva e
que os olhos (palpebras) vao ficando pesados, cada vez mais pesados... e
se fecham, sendo impossivel abri-los. Segue-se a inibig&o dos movimentos
voluntarios, relaxamento profundo, anestesia superficial ou hiperestesia e,
08por fim, as sugestdes terapéuticas.
6.2, Método da encenacio ou visualizacao cénica:
Rapport ~ Estabelece-se uma conversa franca com a crianga, com
palavras que demonstrem nosso sincero interesse pela sua vida e pelas
suas coisas. Depois, perguntamos sobre as diversdes habituais as quais
costuma entregar-se, qual a que mais aprecia, qual a que pratica com mais
assiduidade. O que interessa finalmente ao terapeuta, é extrair da crianga,
em suas proprias palavras, algo que retenha o seu interesse.
Podemos pergunta-la qual a estéria, filme ou desenho animado de sua
preferéncia, qual a parte que mais aprecia, e devemos atentar para todos
os detalhes, principalmente na seqiiéncia dos fatos que forem relatacos.
Posigao — A crianga deve estar sentada.
Execucio — Propde-se a crianga a recordag&o viva da situagao relatada,
de sua preferéncia, pedindo que feche os olhos ¢ procure imagina-la. Relata-
se a cena, nos seus minimos detalhes e pausadamente. Sugere-se o
levantamento do brago, em meio ao relato, com o objetivo de sua mao
tocar a sua testa, sincronicamente ao término do relato. Isso é muito
importante. A seguir, sugere-sea catalepsia palpebral, relaxamento do corpo
e demais passos, culminando com as sugestées terapéuticas.
6.3. Método do entrecruzamento dos dedos:
Rapport - Sem caracteristicas especificas.
Posig&o — A crianga deve estar sentada.
Execugao — Pede-se a crianga que encoste as palmas das maos e cruze
os dedos, bem apertados. Os bragos devem ficar projetados, sem apoio, na
horizontal, com os cotovelos langados para a frente.
Estimula-se a crianga a apertar 0 mais forte que puder, dizendo que ela
6 muito forte e que para ela sera muito facil. Sugere-se que os dedos estéio
presos, cada vez mais presos e que vai ser impossivel abri-los. No
apagamento, enquanto se diz que os dedos vao se soltando, pede-se paraa
crianga olhar fixamente para eles e que seus olhos ficam pesados, muito
pesados, que a vis&o vai ficando turva, visando a catalepsia palpebral e
demais passos.6.4, Método do olhar mutuo:
Rapport — Pergunta-se a crianga qual a cor dos seus proprios olhos e
propGe-se uma brincadeira interessante.
Posig&o — A crianga deve estar sentada, de frente para o terapeuta,
olhando para os seus olhos.
Execugao — A crianga deve olhar fixamente para os olhos do terapeuta,
sem piscar, de tal maneira que seu olho esquerdo mire o olho direito do
terapeuta e seu olho direito mire o olhar esquerdo. Sugere-se que se assim
proceder, a cor dos olhos irao se alterar para uma outra cor pré-determinada.
Em seguida, observa-se o cansago visual da crianga (catalepsia palpebral
apés visao turva).
Segue-se os demais passos da hipnose.
6.5. Método da moeda:
Rapport — Sem caracteristicas especificas,
Posig&éo — A crianga deve estar sentada, com o cotovelo apoiado no
braco de uma cadeira,
Execugao — Da-se uma moeda para a crianga, pedindo para a mesma
olhar fixamente para a mao que segura a moeda, Sugestiona-se que a medida
em que a visao vai ficando turva, o seu bra¢o vai se tornando mais pesado,
cada vez mais pesado. Em seguida, ocorre a catalepsia flacida das palpebras,
caida do brago, catalepsia rigida das palpebras e as demais fases da hipnose.
7. Conclusiio:
Na hipnose em crianga, assim como nos adultos, devemos ensinar ao
individuo o respeito por si mesmo, sua mente, seu corpo e suas capacidades.
As criangas geralmente sdo mais receptivas a hipnose do que os adultos,
ja que possuem maior capacidade de imaginagao e memoria visual e um
desejo incontrolavel de vivenciar novas experiéncias e conhecimentos.
Assim, as criangas respondem muito bem a hipnoterapia, muitas vezes sem
a necessidade de se atingir planos profundos.
E lamentavel que o uso da hipnose na infancia seja tao reduzido, apesar
da sua indugao ser tecnicamente facil e sua aplicagao indcua.
ateResumo:
O autor descreve os principais distarbios psicossociais na infancia,
enfatizando sua abordagem, baseada nos métodos apropriados de
hipnoterapia.
Summary
The author describes the main psychosocial disturbance on childhood,
emphasizing his broaching, based on the appropriated methods of
hypnotherapy.
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