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Cognigdo social refert-se aos proces- sos cognitivos por meio dos{quais as pessoas compreendem e explicam ak outras pessoas ¢.a si mesmas. Essa comprdensao ocorre de forma instanténea, quase qutomdtica, mas também pode envolver congderagdes ¢ and- 4ises detalhadas e lentas. Quando considera- mos a complexidade das pefsoas, a primeira caracteristica que chama a afencao na cogni- cdo social é a rapidez com alqual compreen- demos e julgamos os outros] Essa rapidez de julgamento tem seu preco: Fmbora sejamos bons avaliadores em geral, também comete- mos intimeros erros quando julgamos o que so 0s outros @ © que somds nés. Talvez 0 estudo da cognigao social ppssa ajudar-nos a diminuir esses erros melhorando nosso autoconhecimento e nossa fapacidade per- ceptiva e interpretativa dos butros. PLANO DO CAPITULO Este capitulo comeca pela definigao e evo- lugdo da inteligéncia social Humana e intro- dugao aos componentes bdsicos (schemas © atribuigdes) dos processds da cognicao social. A inteligéncia social i junto com o aumento do nimero de mem- bros dos primeiros grupos de hominideos. Os humanos desenvolveran “teorias da mente” para que pudessem \julgar os com- Portamentos dos outros, | especialmente ©S comportamentos de recprocidade. Os schemas dizem respeito aos kontetidos (es- COGNICAO SOCIAL Bartholomeu T. Tréccol truturas de conhecimentos armazenados na meméria) de nossa cognigao social. As atri- buicdes sao respostas as indagagdes das cau- sas dos comportamentos que observamos e tentamos compreender. Na segunda parte do capitulo, analisa- remos os diferentes processos da cognigao social: atengio, memoria e inferéncia. Cada um desses componentes é analisado em ou- tras dreas da psicologia, tais. como a psicolo- gia cognitiva, mas também sao, com ajustes ¢ adaptacées, fundamentais para nossa au- tocompreensao e para nossa compreensao dos outros. COGNIGAO SOCIAL: COMPREENDENDO OS OUTROS De uma forma direta e simples, a cognigao social pode ser definida como o pensar do individuo a respeito de si proprio e dos ou- ros. Entretanto, embora a énfase inicial tenha sido no pensar (cognigdo), os psicd- logos sociais também procuram associar sentimentos e comportamentos 4 cognicao social. O estudo das relacées entre nossos pensamentos a respeito dos outros e de nos- sos sentimentos, avaliagdes, emogdes e com- portamentos deu origem a distingdo entre a “cognigéo quente” versus “cognigao fri bem como a viséo pragmatica que relaciona cognicao ao comportamento: as ages $40 causadas pelos processos mentais envolvi: dos no pensamento. 80 TORRES, NEIVA & COLS. Pensar sobre os outros ¢ a atividade cential de nossas vidas. Todos nés somos psicdlogos amadores, pois estamos constan- temente explicando nossas acdes e as acdes dos outros. Quando, por exemplo, alguém nos agride verbalmente em resposta a uma observacao qualquer que acabamos de fazer, entendemos imediatamente que essa pessoa “pode ter se sentido ofendida ou ameacada pela minha posicao”. Estamos apenas reco- nhecendo que 0 outro possui uma crenca (acredita que tenho alguma intencdo) e um desejo (quer evitar algo que considera nega- tivo). A explicagao das ages como resulta- dos das crencas e desejos ¢ 0 que define a chamada “psicologia senso comum” ou “psi- cologia leiga” A psicologia leiga é produto do perio- do formative da espécie humana, periodo que comecou depois da separacao da linha- gem humana da linhagem dos chipanzés ha cerca de 6 milhées de anos'. Ambientes diferentes colocam problemas adaptativos diferentes, exigindo diferentes adaptacoes. Para compreender a evolucao da mente hu- mana, 0 ambiente social da espécie € mais importante do que o ambiente fisico. Como 0s Outros primatas, nossos ancestrais viviam inicialmente em pequenos grupos ~ mas que foram ficando maiores com as consequentes estruturas sociais cada vez mais complexas =, nos quais as questées colocadas pelas interacdes eram (40 importantes quanto a sobrevivéncia aos predadores. Quais os pro- blemas adaptativos enfrentados por nossos ancestrais? Varios autores (p. ex., Evans € Zarate, 1999; Buss, 2005S) sugerem os se- guintes: + Evitar predadores * Achar a comida certa + Formar aliancas e amizades + Ajudar criangas e parentes + Entender a mente dos outros * Comunicar-se com os outros + Selecionar parceiros sexuai Todos esses problemas colocaram obstéculos cruciais para a sobrevivéncia de nossa especie, e 0 modelo predominante na psicologia evolucionista atual defende que a selecao natural provocou o surgimento de médulos mentais responsaveis pela supera- do desses obstéculos (Cosmides e Tooby, 1992; Buss, 2005). O modelo da mente modula’ propée que a mente é composta de varios médulos que se comunicam e in- teragem como uma estrutura inata que se desenvolveu naturalmente e de forma se- melhante aos érgaos biolégicos. Para a psi- cologia evolucionista, os diversos médulos mentais sao adaptagoes que surgitam para resolver problemas adaptativos, permitindo a sobrevivéncia e a reproducado de nossa es- pécie. Alguns médulos surgiram ja nos an- cestrais de nossos ancestrais e so comparti- Ihados com outros animais; outros sio bem mais recentes ¢ resultaram de adaptaqées a ambientes radicalmente diferentes dos ambientes de outras espécies. De qualquer maneira, os médulos ndo param de evoluir e todos foram se modificando durante o pe- riodo formativo da espécie humana Os problemas colocados pelo ambien- te social foram inicialmente compartilhados pelos humanos assim como por todos os ou- tros primatas. A luta por recursos escassos poderia ser enfrentada com o surgimento de coalizées formadas por dois ou trés mem- bros da espécie. No entanto, apés a sepa- tagao de nossa linhagem da linhagem dos chipanzés, 0 tamanho dos grupos humanos foi aumentando cada vez mais, criando um valor também cada vez maior para a estra tégia de formacao de aliangas e coalizées A associacdo com outros em busca de for- macéo de amizades passou a ser téo im- portante quanto saber escolher a comida certa ou possuir a habilidade para detectar predadores. Mas a formacio de aliancas é uma tarefa dificil, porque envolve questées de altruismo reciproco: a troca de favores s6 funciona se forem observadas regras do tipo judo vocé agora e vocé me ajuda depois Existe sempre o risco de que um membro da lianga fique com os beneficios sem contri: buir com nenhum dos custes envalvidos © problema da nao reciprocidade ¢ tbo grave que a espécie que nao desenvolver mecanismos para enfrenté-lo nao sobrevive, PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 81 A questio é simples: 0 mdmbro da espécie que nao colabora com o pdcto do altruismo reciproco tem mais chances de sobreviver e reproduzir do que os que sao facilmente enganados. Genes que favprecem esse tipo de comportamento vao fichr cada vez mais eventualmente, todos serab egoistas ¢ nao altruistas. Como ninguém|mais vai ajudar ninguém, as aliangas se dtsfazem, ficando impossivel viver em grupo: Nao surpreende, porfanto, que todas as espécies que vivem.em rupos descobri- ram mecanismos para enffentar a questéo dos membros egoistas e apfoveitadores. Ao analisar as solugdes enconfradas por diver- sas espécies, Axelrod propds, na década de 1980 (p. ex., Axelrod, 1944), a existéncia de trés condigdes, que, qukndo implemen- tadas. neutralizam 0 protflema dos apro- veitadores: (1) organismop encontram os mesmos organismos repeydas vezes; (2) organismos podem reconhdcer aqueles que jd encontraram antes, diferpnciando-os dos que so totalmente estranijos; e (3) orga- hismos possuem meméria| suficiente para lembrar de como aqueles que ja encontra- ram os trataram nesses enkontros prévios. Por que a existéncia dessa} trés condicdes elimina o risco do altruismd nao cortespon- dido? Porque os aproveitadores podem ser punidos € os cooperadored podem ser re- compensados. Quem se rechisou a retornar 0s favores pode ser punido kom a expulsio do grupo ou coma recusa dq qualquer ajuda posterior. Quem cooperou q retribuiu pode ser recompensado com ajufa continua na hora da necessidade. Todas as trés condigbes foram surgindo em nossos ancestrais homiifideos ao longo de seu perfodo formativo. A }nteracao cont- nua entre eles demonstrava flue a existéncia desses grupos s6 era possivdl porque a evo- lugao tinha projetado tanto Inédulos sofisti- cados de reconhecimento fagial quanto uma boa meméria para interacdeb sociais. Todos nés somos extremamente sesiveis ao altru- ismo reciproco e mantemos lima espécie de “contabilidage social” para ¢ada conhecido ou amigo. Se nossos registrps indicam que alguém tem feito menos bem por nés (ou nossos amigos de aliancas cooperativas) do que o fazemos por ele, entao, na proxima vez que houver uma solicitagéo de ajuda, nos sentiremos bem menos inclinados ~ ou mesmo nos recusaremos - a ajudar. Essa contabilidade social também envolve me- canismos mentais complexos, porque exige que, de alguma maneira, sejam atribuidos diferentes valores para diferentes acdes. Quando uma pessoa doa seu bem para outra que esta necessitada, os valores associados a essa agdo de cooperacio e a consequente retribuico véo depender de outros fatores contextuais, Neste caso, a contabilidade so- cial levaré em conta, por exemplo, a situa- do econémica de quem fez a doagao ou empréstimo: a bondade de uma pessoa rica é valorizada de uma forma bem diferente da bondade de quem tem muito pouco e faz um grande sacrificio em favor do outro. O valor da agdo também vai depender do custo para 0 doador e do beneficio para o receptor da aco, mas os custos e beneficios de qualquer ato de bondade nao podem ser fixados pre- viamente, pois dependem do contexto no qual ocorrem?, Esse é 0 ponto principal para a apre- sentacao da cognicao social. Nés humanos desenvolvemos sistemas sociais complexos que sé podem funcionar - no sentido do sucesso reprodutivo e da sobrevivéncia da espécie ~ se alicergados em sistemas cogni- tivos igualmente complexos que se manifes- tam em nossa inteligéncia social CRESCIMENTO DOS GRUPOS HUMANOS E 0 SURGIMENTO DA INTELIGENCIA SOCIAL No periodo entre 6 milhdes a 150 mil anos atrés, o tamanho médio dos grupos homini- deos saltou de cerca de 50 para 150 mem- bros. Como jd abordamos anteriormente, medida que os grupos foram aumentando, varios médulos dedicados as trocas sociais foram evoluindo, favorecendo a formacao de aliancas estéveis que mantiveram os gru- 82 TORRES, NEIVA & COLS. Pos sociais coesos (o que também pode ser observado nos varios tipos de primatas). No caso dos humanos, entretanto, a evolucdo fez surgir um médulo bastante complexo e sofisticado: o “médulo de leitura da mente”, isto é, 0 modulo mental que permitiu que fizéssemos suposicées ou inferéncias sobre o que as outras pessoas estao pensando, tendo por base suas aces, palavras e comporta- mentos?. Grupos maiores exigem mais capa- cidade de meméria para acompanhar os comportamentos dos outros, bem como” capacidades de raciocinio social bem mais sofisticadas, que possibilitem manter equi- librios delicados entre lealdades e amiza- des conflitantes. Nesse ponto, ja estamos considerando estratégias e jogos politicos bastante sofisticados, nos quais mentiras, promessas, jogos de cena e até mesmo sin- ceridade e franqueza, ajudam-nos a manter nossos amigos e a enganar nossos inimigos. Aos poucos, surgem os psicélogos amadores armados com uma “teoria da mente”: uma teoria sobre como a mente humana funcio- na. O principal axioma dessa teoria afirma que as agGes séo causadas por processos mentais, tais como crengas e desejos. A explicagéo do surgimento da teoria da mente dentro de uma perspectiva evo- lucionista de adaptacéo a selecdo natural e sexual implica que a psicologia leiga nao é uma invencdo cultural. Ela é uma parte inata, herdada, da mente humana, que se desenvolve nos primeiros anos de vida até estar completa por volta dos 4 anos e meio. Nessa idade, a criancga ja consegue passar nos “testes de falsa crenga”: Uma psicdloga apresenta dois bonecos a crianca. Os bonecos, chamados Sally e Ana, est4o em um quarto de uma casa de brinquedo, junto de uma cama onde ha almofadas. Primeiro, a crianca observa Sally colocar alguns doces debaixo de uma almofada para logo em seguida sair do quarto. Enquanto Sally esta fora, Ana tira os doces debaixo da almofada e os coloca em seu bolso. Quando Sally volta ao quarto, a psicdloga pergunta a crianca “Onde Sally pensa que os doces estao?” Antes dos 4 anos e meio, a crianga respon de “no bolso da Ana” o que € uma resposty tipica de quem ainda nao desenvolvey uma teoria da mente. A crianga nao tema nogao de que os outros podem ter crencas diferentes de suas proprias crengas. Ela acha que todas as outras pessoas acredi tam no que ela acredita. E ela acredita no que ela viu: Ana colocou os doces no bol. $0, Portanto, Sally também tem a mesma crenga. Apds os 4 anos e meio, a resposta muda radicalmente: “Sally acredita que os doces esto debaixo da almofada”. Com o surgimento da teoria da mente, a crianga ja compreende que outras pesso as podem manter crencas que sao diferen- tes das suas e que também podem manter crencas que sao falsas. Sé entao a crianca pode tentar manipular outras pessoas por meio da indugao de falsas crengas, isto é, sé ent&o a crianga aprende a mentir. E sema capacidade para mentir, nao é possivel jogar 0s jogos politicos necessdrios para a vida em grupos sociais. LINGUAGEM E ALTRUISMO RECIPROCO Nossos ancestrais adquiriram a capacidade para usar linguagens complexas e sofisti- cadas antes de deixar a Africa ha cerca de 100 mil anos. Na década de 1950, Noam Chomsky demonstrou que seria impossivel para as criangas aprenderem uma lingua de forma tao rapida apenas com os estimulos dados pelos pais e pelo ambiente cultural A crianga sé aprende uma lingua porque ela nasce pré-programada para este tipo de aprendizagem. Por que entdo nossos ances trais desenvolveram mais essa capacidade inata? Qual o problema adaptativo supera do com 0 uso da linguagem? Ateoria mais comum sugeria que 4 lin: guagem é um sistema de comunicacao qu evoluiu para ajudar nossos ancestrais na ca? ena defesa contra os predadores. De acordo com essa teoria, a funcdo da linguagem ¢ a de troca de informacées sobre o ambienté PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMASEVERTENTES 83 iisieo ¢ ecoldgico, uma vez que sons s4o bem mats elicazes do que sinais visuais na Pscuri- lao da noite ¢ através cle longas dist4ncias. ssa teoria, entretanto, foi contestaga por Robin Dunbar (2004), quando propds que «a lungao basica da linguagem é a trdca de inlormagées sobre o ambiente social] Mais uma vez, a questao do altruismo reclproco na raiz de uma nova proposi¢aq para um mecanismo inato. Em grandes ghupos, © altruismo reciproco 6 funciona qhando existe informagao suficiente sobre qfem é on nao é de confianga, Com grupos caga vez maiores, no é possivel distinguir - abenas por meio da experiéncia direta, pesdoal — entre os aproveitadores e os que cooppram. scm a linguagem, isto é, sem um sistema de comunicagao sofisticado, os grupos no po- deriam crescer, ficando bastante limitados no niimero possivel de membros. Existe um limite no mimero de pessoas que um|indi- viduo pode manter relacées fisicas dlretas © constantes para que possa estimar probabilidade de cooperacao Futura’. Para Dunbar (2004), a linguage: Na helecer sua reputagdo como generoso confianga. Esse é um bom exemplo e1 a linguagem ajuda na troca de informacées sociais, permitindo que os humanos us{ifru- am das vantagens de se viver em grades stupos. Dai o fascinio humano pela fofoca: cla & a forma mais eficaz de comunichcao ara se obter informacées sobre a confidbili- dade dos outros. CARACTERISTICAS GERAIS DA COGNICAO SOCIAL ‘Me agora, estabelecemos as bases evofuti- ‘as de algumas das caracteristicas do fun- “onamento do cérebro humano, que surgi- "4m como adaptacdes as primeiras quesfes colocadas pelas interacdes sociais de nos- sos ancestrais. Agora, descrevemos alguns dos principios que norteiam os estudos da cognigio social: (1) 0 individuo como um avarento cognitivo: (2) orientacao para os processos; (3) pessoas como agentes cau- sais; (4) percepcao muitua; (5) centralida- de do eu; (6) qualidade da percepcao; (7) orientacao pragmatica (tético- motivada); € predominancia dos processos autométicos (individuo como ator-ativado). 1. O individuo como um avarento cognitive As pessoas ndo gostam de pensar muito, exceto quando acham que é necessdrio Elas procuram fazer render ao maximo © pouco do esforgo cognitive que conse- guem exercer. Devido a essa tendéncia, Fiske e Taylor (1991; 2008) definiram as pessoas como “avarentas” no uso de seus Tecursos cognitivos. Nao que as pessoas nao consigam realizar trabalhos cogniti- vos complexos. Elas o fazem quando eles séo importantes e necessarios. Mas 0 mun- do € muito complicado, especialmente as outras pessoas e, frente a essa realidade, é melhor utilizar “atalhos cognitivos", buscar simplificacdes e aproximagées, em vez de proceder com andlises minuciosase bem fundamentadas. Varios dos processos que sera’ analisados mais adiante esto tela¢ionados com a “sovinice cognitiva” das pessoas. 2. Orientasdo para processos. A abordagem da cognicao social sempre utilizou a abor- dagem predominante na psicologia cogni- tiva, na qual os processos cognitivos s40 descritos como processos computacionais: as pessoas recebem informagées (input), codificam 0 que receberam, armazenam na meméria, recuperam da memoria para realizar inferéncias e para gerar produtos (output). A psicologia cognitiva tende a definir os processos cognitivos como for- mados por estdgios sequenciais. © mesmo ocorre na cognicao social. A sequéncia atengéo > meméria + julgamento, bem como outras sequéncias paralelas (aten¢do — julgamento ou atengéo —> meméria) sao alguns dos principais referenciais 84 = TORRES, NEIVA & COLS. descritivos da psicologia cognitiva ¢ da abordagem da cognicdo social. . Pessoas como agentes causais. Parte funda- mental da teoria da mente que recebemos por meio de nossa heranca evolutiva é a percep¢ao de que as pessoas sao agentes causais. Percebemos as pessoas como sendo impulsionadas internaménte em diregdo a suas agées e objetivos. Sentimos que Os outros possuem agendas internas, nao observaveis. Isso faz com: que as pessoas fiquem bem mais interessantes e complexas como alvos de percepcdo e julgamento, . Percepgdo mitua, Outra caracteristica que torna as pessoas interessantes e nossa Percepcdo sobre elas em algo bem mais complexo, é que elas também retornam a Percep¢ao afetando o observador. Nossos impulsos naturais para compreender e explicar os outros se misturam com o que percebemos como a percépcdo e o julgamento deles a nosso respeito, A cog- nigdo social é uma percepcdo mutua, um Processo de mao dupla. Centralidade do eu. Uma das consequén- cias do processo de mao dupla mencio- nada no item anterior é que a percépcao de outra pessoa envolve o.eu de quem percebe. O observador olha para outra pessoa e termina por também perceber a si proprio. As reagdes que a pessoa julga per- ceber nos outros também define o que ela é: a adequagao de seus comportamentos, opinides e crengas, da maneira de vestir, etc. A centralidade do eu do observador é inevitavel. Qualidade da percep¢do. Todas as carac- teristicas mencionadas até 0 momento chamam a atencao para a questao da exatiddo e da qualidade do processo de observacao de fendmenos nao observa- veis. Tracos nao observados sao dificeis de comprovar, e este é também um grande problema em areas como a Psicologia da Personalidade, por exemplo. Nas dreas da avaliacdo psicoldgica, so utilizados modelos e andlises estatisticas comple- xas em busca de algum tipo de validacéo dos tracos ndo observados que possam pr descrever as pessoas. Qual a qualidade da psicologia leiga? Embora cometamos muitos erros, é evidente que, em média, chegamos a interpretacées razodveis, uma vez que conseguimos conviver razoavel- mente bem. Uma das razGes esta no uso de opinides alheias como técnica de va- lidacao de nossos julgamentos. E sempre Possivel confrontar nossa percepcao com a percepcao de um amigo em comum em busca de algum respaldo coletivo. + Orientagdo pragmdtica (tdtico-motivada). Seguindo William James, um dos lemas enfatizados na cognicao social é que o “pensamento tem por objetivo a agao” (Fiske e Taylor, 1991, 2008). Como ana- lisamos anteriormente, esta caracteristica esté profundamente alicercada em nossa historia evolutiva. O pensamento social das pessoas surgiu em funcao do planeja- mento, da preparacdo e do ensaio prévio para as interacgdes do individua com seu grupo social de aliancas e amizades. O individuo é um tatico-motivado ao pensar para agir, escolhendo entre varias estraté- gias politicas e sociais que garantam suas aliangas e reciprocidade mutua. Para Fiske e Taylor (1991): . O contexto pragmiatico social do pensar sobre Os outros significa que:a cognicao social tanto é causa quanto efeito da in- teracdo social. A ligacdo com a interagao social significa que (a) a qualidade e a exatidao-das Percepcdes das pessoas sao suficientes para os Propésitos do dia a dia: (b) elas constroem significados baseados NOs {ragos, esteredtipos e histérias mais uteis (convenientes € coerentes); e (c) seus objetivos determinam como pensam. (Fiske, 1995, p. 157) , Predomindncia dos Processos automdticos (individuo como ator-ativado). Nos tiltimos anos, outro modelo do ser humano tem surgido na cognicao social. O modelo individuo como ator-ativado considera que hd uma predominancia de Processos afetivos e comportamentais automdticos, isto é, nao acessiveis 4 consciéncia. A qua- | PSI se maioria das acées do tatico-rmhotivado nao acontece como fruto de deliberagdes conscientes. Pelo contrario: asspciacées inconscientes, ativadas em milégimos de segundos, ativam/preparam riming effects) cognigdes, avaliagdes, afatos, mo- tivagdes e comportamentos (Dij sterhuis e Bargh, 2001; Fazio e Olson, 2003). ELEMENTOS DA COGNICAO SOCIAL As pessoas usam suas estruturas ¢ para chegar a uma compreensdo #dpida e bastante satisfatéria a respeito dos putros e de si mesmas. Quais sao os elemertos que formam os contetidos das estrutur: cogni- tivas? Sao dois os elementos principais que preenchem nossas estruturas cognitivas: schemas e atribuigdes. Schemas Os schemas sao estruturas cognitivas com- postas de conhecimentos sobre conceitos, objetos ou eventos, representados por seus atributos e pelas relacdes entre esdes atri- butos (Fiske, 1982; Fiske e Neuberg] 1990), Os quais expressam pré-concepcées jou teo- tias sobre conceitos, objetos ou everftos. No Nosso caso, os schemas que nos int¢ressam sio pré-concepgdes ou teorias a despeito das outras pessoas e de nds mesmok. Vocé, por exemplo, provavelmente tem um sche- ma sobre o que é uma pessoa extroyertida: quais sao suas principais caracterist|cas? O que ela faria em uma situacao tensaq E uma Pessoa confidvel? Amiga? Prestativa? cionalmente Instavel? Barulhenta? Hor pos- Suir um schema “pessoa extrovertidd”, vocé tesponde facilmente a estas perguntas por- que vocé tem uma série de pré-con lepgdes sobre ela. Para os psicdlogos cognitivistas, um schema nao passa de um termb com- Plicado para representar esse conj Conhecimentos ou pré-concepcdeg, “Concepgdes possuem muitos ele; entos, informacées conectadas entre si, fo: LOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 85 uma teoria sobre “pessoa extrovertida” ou sobre quaisquer outros conceitos, objetos ou eventos. Uma implicagdo € que vocé pode nao ter um schema sobre um conceito ou algo em particular. Quais sao os tipos de schemas? No exemplo acima, temos um schema de pessoa extrovertida. Mas as pessoas também pos: ° suem todo tipo de schemas sobre tracos de personalidade (estavel, agressivo, cordial), ou de pessoas em uma determinada situa- gao (comportamento em um restaurante, na sala de aula, no cinema). Neste caso, te- mos 0 equivalente a scripts que descrevem ou prescrevem como a pessoa deve se com- portar em certas situagdes. Outros tipos sao os schemas sobre objetivos sociais (vinganca, sedugao, ajuda) e os schemas sobre papéis sociais que contém os comportamentos e os atributos que esperamos de determinadas pessoas que ocupam posicGes sociais (che- fes, lideres, administradores, professores, estudantes de. graduacdo, estudantes de pos-graduagao, membros de uma quadrilha, Politicos, etc). Os:schemas sobre papéis sao schemas equivalentes a esteredtipos. Schemas sobre o préprio eu (self-sche- mas) constituem a base de nosso autoconcei- to, mas também pode ser que nao tenhamos nenhum schema sobre uma determinada di- mensao de nosso eu. Se vocé nunca foi do Upo esportivo, par exemplo, nao ha como ter uma rede de conhecimentos e de pré- “concepgoes sobre esse componente de seu eu. Como 08 self-schemas sao bastante elabo- rados, tendemos, entre outras coisas, a nos lembrar mais de informagées que nos dizem Tespeito do que de informacoes que nos sao indiferentes. (Kihlstrom, Cantor, Albright, Chew, Klein e Niedenthal, 1988), Qual, ent4o, so as fungées dos sche- mas? Schemas influenciam a maneira como codificamos, relembramos e julgamos as informages que temos acesso sobre con- ceitos ou eventos. Os schemas também di- rigem nossa atencao para determinados as- Pectos das informagées a que temos acesso. Um exemplo retirado de uma pesquisa de Owens, Bower e Black (1979). serve para ilustrar as fungdes dos schemas. Nessa pes- 86 TORRES, NEIVA & COLS. quisa, trés grupos de participantes leram cada um uma versao do seguinte relato: Cris(tina) acordou sentindo-se enjoada novamente e ficou pensando se poderia estar gravida. Como iria dizer ao professor que ela estava namorando? E a questéo do dinheiro ainda era outro problema... Cris foi para a cozinha, tirou a chaleira do arméario, fez café, olhou o café e decidiu adicionar um pouco de leite e acuicar. Depois, vestiu-se e foi ao médico. Quando chegou ao consultério do médico, Cris foi examinada inicialmente pela enfermeira, que procedeu com os exames prelimina- res rotineiros. Cris subiu na balanga, e a enfermeira registrou seu peso. O doutor entrou na sala, examinou os resultados desses procedimentos, sorriu e disse “Bom, parece que todas as minhas ex- pectativas foram confirmadas.” Cris foi embora e, quando foi chegando a sala de aula, decidiu sentar-se na primeira fila. Cris entrou na sala e sentou-se. O pro- fessor foi para frente da sala e comecou sua aula, Durante toda a aula, Cris nado conseguiu se concentrar no que estava sendo dito. A aula parecia nao terminar nunca. Mas, finalmente, terminou. Como © professor foi cercado pelos alunos logo apés a aula, Cris saiu rapidamente da sala. No final daquela tarde, Cris foi a olhando para ver quem estava la. Cris foi até o professor, querendo conversar com ele, sentindo-se um pouco nervosa sobre o que dizer. Um grupo de pessoas comecou a jogar alguns jogos. Cris foi até uma mesa onde estavam refrigerantes e salgadinhos. O lanche estava bom, mas Cris nado se interessou por conversar com as outras pessoas presentes. Depois de certo tempo, Cris decidiu ir embora. (Owens, Bower e Black, 1979 apud Fiske, 1995, p. 163) . Um dos trés grupos da pesquisa de Owen e colaboradores (1979) leu esta ver- sdo da historia, Agora, considere a mesma historia com uma’ introducdo diferente, Substituindo as primeiras linhas até os trés Pontinhos (...): “Cris(tiano) acordou se per- guntando quanto peso tinha ganho até 9 momento. O treinador de seu time de fute. bol tinha dito que ele sd seria escalado para © préximo jogo se ganhasse bastante pesoe passasse no teste antidoping. A pressdo era muito grande..." Continue com a mesma historia ja transcrita acima. Para o terceiro grupo, grupo controle, nado foi fornecida nenhuma introducdo, e a historia se inicia depois dos trés pontos (...). Entre a primeira e a segunda versao da histéria, o significado muda radicalmente por conta dos schemas ativados. Na primei- ta, temos 0 schema “gravidez indesejada” e, na segunda o schema “candidato a atleta”. Essa mudanga radical ocorre porque nossos schemas para as duas situagées levam a dife- rentes codificagdes e a ativacdo de conheci- mentos e reagGes emocionais adicionais que trazem para o que esta escrito. Por exem- plo, para entender melhor a influéncia do schema “gravidez indesejada” da primeira historia, imaginemos que -nossa_persona- gem tivesse tido oportunidade de conversar com 0 professor. Como ela.estaria se sen- tindo em uma situagdo dessas? Ansiosa? Desconfortavel? Vocé nao acha que teria sido melhor ter combinado um encontro com o professor em outro momento em vez de tentar conversar na recepcao? Cristina ficou feliz quando descobriu que aumen- tou de peso desde a ultima consulta? E na segunda versao da historia, como Cristiano €stava se sentindo com relacdo a seu pro- fessor? Por que queria falar com o professor na recepcao? Como ele estava se sentindo em relago a seu peso? Qualquer pessoa que tenha schemas ativados por essas historias é capaz de compreendé-las, preenché-las, Imaginar caminhos e cenarios alternativos, € assim por diante. ‘Para analisar mais ainda o Papel dos schemas, Owen e colaboradores (1979) so- licitaram, meia hora depois da leitura, que Os participantes relatassem de memoria tudo que tinham lido nas histérias, pro- curando ser o mais fiel possivel ao relato original. Os resultados mostraram que os dois grupos, cujas histérias ativaram sche- mas distintos, relembraram mais detalhes PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 87 na ordem correta e com Menos erros e acréscimos de informagées ¢xtras do que o grupo de controle. Os schenjas ativados di- rigem a atengdo das pessoas para detalhes cruciais, guiam a memdria q influenciam 0 julgamencto. . A rapidez com a qual Bs pessoas jul- gam as outras acontece porque o julga- mento € feito automaticamehte on-line. Os schemas permitem que facamps julgamentos c avaliagdes simplificadas, pdlarizadas e au- tomaticas. Somos apresentados a alguém que nunca vimos antes e, imediatamente, temos reagoes positivas ou fegativas ja a partir do momento que coregamos a re- ceber informagées (tom de voz, aparéncia, postura, conteudo do que diz). Acontece que, quando encontramos alguém que ati- va algum schema ligado a ouftra pessoa ou evento, ocorre uma reacao ou transferéncia cal de nascimento) sobre as quais temos for- tes reacées afetivas ou de opin Sas nas outras pessoas. Os schemas afetam nossa outras evidéncias e informagdes que perce: bemos ou recebemos de outras fontes. Os schemas atuam em confronto com as evidén- Cias; eo equilibrio que surge dkpenderd de varios fatores. Em algumas situpgSes, nossa Motivagéo — quando temos pduco tempo, sobrecarga cognitiva, cansaco, por exemplo *- Nos leva a uma predominancla de nossos schemas sobre as evidéncias (Brewer, 1988; Fiske e Neuberg, 1990; Gollwitzer, 1990; Hilton e Darley, 1991). Em outras situagoes, os fatores que influenciam esta relagao sao a congruéncia entre schernas e dados (Fiske, Neuberg, Beattie e Milberg, 1987) e o valor diagnéstico dos dados (Hilton e Fein, 1989; Leyens, Yzerbyt e Schadron, 1992). Trata- -se, de fato, de uma questao de superacao de nossos schemas e esteredtipos em fungao dos dados e informacées a respeito de uma ‘determinada pessoa em particular. Os fa- tores que podem diminuir a influéncia dos schemas e esteredtipos sao mais atengao e mais motivacdo para que possamos ir além das reacdes automaticas altamente influen- ciadas por nossos schemas. Atribuigdes Os schemas sao definidos como um dos dois elementos basicos da cogni¢ao social. O ou- tro sao as atribuicdes, As pessoas sao perce- bidas como agentes causais e é importante _saber como elas atribuem causas aos com- portamentos dos outros e a seus compor- tamentos. Nao so atribuimos causas, como essas atribuigdes tém profundas influéncias sobre’ nossas reagGes afetivas e comporta- mentos futuros. Esta é a razdo pela qual as atribuigées sao parte fundamental de nossos pensamentos a respeito dos outros e de nds mesmos. Quando atribuimos disposicdes ou tragos como causas de comportamentos ob- servados, fornecemos toda informacao ne- cessaria para ficar armazenada no schema relativo aos tracos, comportamentos e rea- Ges afetivas em questao. Weiner (2000; 2005) propde duas teo- tias para explicar as atribuicdes de causas a que 0 individuo recorre para explicar os proprios comportamentos (teoria da arribui- do intrapessoal) e os comportamentos dos outros (teoria da atribuigdo interpessoal). Embora os modelos atribucionais de Weiner tenham sido desenvolvidos para explicar quest6es motivacionais nos comportamen- tos de desempenho, vamos utilizar suas pro- posig6es para descrever como as atribuicdes de causalidade sao realizadas elas nessnas 838 TORRES, NEIVA & COLS. quando tentam entender a si proprias e/ou entender os outros. Teoria da atribuigao intrapessoal O processo de atribuicdo de causas que o in- dividuo realiza para explicar e compreender seu comportamento é desencadeado a partir Se positive: * Feliz Se 0 evento foi inesperado, negativo ou importante, Alcangou objetivo Nao alcangou’ objetivo tridimensional: + bocus * Estabilidade + Controlabitidade FIGURA 4.1 de eventos considerados negativos, inespe rados ou importantes, A Figura 4.1, a seguir, apresenta uma adaptacio do modelo da Teoria da Atribuicao Intrapessoal de Weiner (2000, 2005). Nesse modelo, eventos que significam a obtencao ou nao de algum ob. jetivo provocam automaticamente reagées afetivas positivas (alegria, felicidade) ou negativas (tristeza, frustracao). Essas emo- Tipos de causas e suas consequéncias Aptidéo: expectativa alta de - sucesso; emogSes positivas. Esforgo: boas expectativas de sucesso; emogées positivas + determinagso + precaucio. Hobilidade: boas expectativas de sucesso; emogées positivas + incerteza quanto a habilidade. Sorte, acaso, ajuda: baixa expec- tativa de sucesso; emogées ime- diatas positivas, mas passageiras. Evento Positive ° Tipos de causas 6 suas consequéncias. Folta de aptidéo: expectativa muito baixa de sucesso; emogdes egativas (vergonha, humilhagio, embaraco). Baixo esforgo: boas expectativas de sucesso; emogées negatives Passageiras (baixa autoestima, culpa). Fotta de habilidade: expectativas méderada de sucesso; emo- ‘ses negativas substituldas por apreensio Falta de sorte, acaso ruim, falta de ajuda: expectativa positiva _prmmelosa de Sucesso;:emmagses Negativas, mas passageiras. Evento, Teoria de Atribuigao Intrapessoal. (Baseado em Weiner, 2005). neia cognitiva. ocionais é que desencadeado goes ocorrem sem interfe! so a partir dessas reagdes o processo de atribuicéo se o evento ocorrido for cbnsiderado pelo individuo- como negativo,| inesperado ou muito importante. De acodo com Weiner, mensées locus (interno ou ekterno), estabili- dade (estavel ou instavel) elcontrolabilidade (controlavel ou incontrolav@l). Vamos supor, por exemplo, que o indi- viduo acaba de ser aprovadd em um concur- so ptiblico. Devido a importancia do evento, “desencadeia-se um proceso atribucional no qual a questao é atribuif uma causa ao “evento “fui aprovado no conturso”. Por uma série de fatores, que nao digcutiremos aqui, o individuo termina considgrando que sua aprovacao foi consequéncial de sua grande competéncia inata. O individuo atribui sua aptiddo & causa do que ocorfeu. Nesse caso, ele fez uma atribuigéo que pode ser defini- da no espago tridimensional como interna, . estdvel e incontroldvel. Interraa porque é pro- priedade dele, estdvel porque é permanente e constante, e incontroldvel porque ele ja nasceu com elevada capacidade cognitiva e intelectual que sao cardctPristicas inatas. Vamos contrastar agora esge tipo de atri- buigdo com a atribuicdo de gutro candidato que, embora também tenhatsido aprovado, considerou que tudo aconteqeu em razao de seu esforgo. Diferentemente-Ho primeiro in- dividuo, temos uma causa inferna, ndo estd- vel e controldvel. So as seguintes algunjas das atribui- §6es mais comuns com suas jrespectivas de- finigdes no espaco tridimensfonal: * Aptiddo: interna, estavel,Jincontrolavel * Esforco: interna, instével] controlavel Habilidade: interna, ingtdvel, contro- lavel Acaso: externa, instavel, #rcontroldvel Ajuda: externa, instavel, Incontroldvel Sorte: externa, instavel, ipcontrolavel PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 89 Para Weiner, o enquadramento das cau- sas no espaco tridimensional (locus, estabi- lidade e controlabilidade) é de fundamental importancia, porque os tipos de atribuigdes causais possuem diferentes consequéncias motivacionais que se manifestam nas expec- tativas e reacdes afetivas das pessoas. E sao essas expectativas e emogdes que Weiner considera como os principais determinantes das acdes motivacionais. Um fracasso atri- buido 4 falta de aptidao, por exemplo, leva a sentimentos de vergonha, humilhagdo e embaraco, além de nenhuma expectativa de que serd possivel reverter a situagao no futu- ro. Afinal, o fracasso decorreu de uma causa interna, estavel e incontroldvel. JA um fra- casso atribuido a falta de esforgo, também provoca emogées negativas (baixa autoesti- ma, culpa), mas que sao passageiras. Além do mais, as expectativas para um sucesso no futuro ainda permanecem: a causa do fra- casso foi interna, instavel e controlavel. Na Figura 4.1, estao listadas estas e autras con- sequéncias motivacionais que ocorrem em fungdo das expectativas para o futuro’e das reacées afetivas do individuo. Teoria da atribuicdo interpessoal Os mesmos mecanismos sao desencadeados quando ocorre nossa percepcdo em: relacao aos outros. O comportamento do outro nos chama a atengdo e desencadeia uma busca automatica por uma causa. Assim como no caso da percep¢ao do proprio comportamen- to, as causas que atribuimos aos comporta- mentos dos outros também sao classificadas dentro da mesma tridimensionalidade. Nesse ponto, ocorrem grandes dife- rencas entre os dois tipos de atribuicao. Primeiro, na atribuicdo intrapessoal, o indi- viduo sempre enquadra o evento como algo que correspondeu ou nao a seus objetivos. Os eventos podem ser resumidos como su- cesso ou fracasso provocando reacées afe- tivas positivas ou negativas de imediawo e sem a participagéo de processos cognitivos. O mesmo nfo ocorre na atribuicfio interpes- soal. Os eventos podem ser os mais diversos, 90 TORRES, NEIVA & COLS. tais como sucesso ou fracasso em tarefas, doengas, pedidos de ajuda, etc. Mas, qual- quer que seja o evento, é desencadeada uma atribuicdo de causas — que, da mesma forma que na atribuigdo intrapessoal, podem ser descritas em funcao do locus, estabilidade e controlabilidade -, com a diferenca que a dimensionalidade da causa é usada apenas para considerar o outro como résponsavel ou nao pelo evento. Isto 6, o observador atribui ou nao a responsabilidade pelo que ocorreu ao individuo observado e sé entdo sente a reacdo afetiva de raiva (o individuo € percebido como responsavel) ou simpatia (0 individuo nao é percebido como respon- savel). Na Figura 4.2, encontram-se as sequén- cias envolvidas na atribuicao interpessoal considerando-se algumas das causas mais comuns. Se acompanharmos as duas primei- Evento Causa Fracasso em Falta de'esforgo uma tarefa Cancer do pulmao Comportamento por ser fumane * irresponsavel Nao apareceu Alcoolismo no trabalho Agrediu uma Intencional pessoa maldade Fracasso em Falta de aptidao _ uma tarefa Cego de Inata sem nascimento controle Faltou a escola Resfriado forte Agressao Esbarrou sem querer FIGURA 4.2 Teoria da Atribuigao Interpessoal, (8aseado em Weiner, 2005). Condenagao Responsavel —® Raiva Abandono tas linhas dos dois conjuntos da Figura 4.2 ~ fracasso em uma tarefa por falta de esfor. 0 ou por falta de aptidao -, veremos que o modelo prevé duas reag6es afetivas opostas com consequéncias comportamentais igual. mente distintas. Para 0 mesmo evento, o ob. servador sente raiva ou simpatia € procede com comportamentos opostos. Comparando os dois modelos das Figuras 4,1 e 4.2, podemos observar que atribuigdes de falta de esforgo como causa de um fracasso, por exemplo, levam a re- acées afetivas e comportamentais opostas. Quando se trata do individuo, a atribuicdo _ de pouco esforco - em contraste com a atri- buicao de falta de aptidao -, resulta em sen- timentos moderadamente negativos e pas. sageiros, bem como em comportamentos de Persisténcia e esperanca de sucesso no futu- to, Ja para um observador, ocorre 0 oposto: Reacao comportamental Reprimenda Retaliagao Decide nao recriminar Nenhuma . condenacio. ——}> Simpatia responsavel Ajuda Nenhuma retaliagao sforco a um fracas- ortamentos negati- com a atribuigdo de rovoca sentimentos entos compreensi- yatribuigdo de falta de a» provoca raiva € co vos quando contrastad fala de aptiddo. Esta ile simpatia e comport vos ou de ajuda. PROCESSOS DA COGNICAO SOCIAL schemas € atribuicdes, Jobjetos dos dois ul- limos tépicos, sao os jcontetidos sobre os quais formamos nossak impressdes. Neste « nos proximos dois qpicos, considerare- mos os trés principais pfocessos que operam sobre os schemas e as gtribuiges: atengao, memoria e inferéncia. Atengao A atencdo é constituida| por dois outros pro- cessos: codificagao e ¢| nsciéncia. Na codi- ficagdo, transformamos toda estimulagao que nos atinge através Ho(s) sentido(s) que atendemos no momentp, em algo que toma- mos consciéncia e gudrdamos temporaria- mente ou permanentemente em nossa me- moria. Consciéncia é qquilo de que temos conhecimento em um determinado momen- to. Podemos ficar quiegos e estar cientes de nossas cognicées, dos fuidos externos, das sensacdes que o ambierte provoca em nosso corpo, e assim por diartte. A atencdo pode| entao ser definida como a codificagéo e 4 consciéncia de esti- mulos internos ou extefnos a nosso organis- mo. A principal caracteristica da atencdo é que ela é limitada. Nag podemos atender a todos os estimulos quq nos atingem; temos que nos restringir a uma pequena parte a cada momento. Como fossa atencao é bas- tante limitada, ela tern que ser bem sele- tiva, Na cognigao socipl, a seletividade da atengao é importante porque os objetos do pensamento social, og outros e nds mes- Mos, s4o-muito complexos e multifacetados. Nossa atencdo seletiva, portanto, jA esta- PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 91 belece propriedades tinicas aos conteudos de nossa cognicgao social (schemas e atri- buicdes). Sd podemos perceber e lidar com aquilo que percebemos e, até certo ponto, com aquilo de que temos consciéncia. Sendo a atencdo seletiva, quais os fa- tores que a influenciam? Um dos principais é a saliéncia do estimulo. Se estivermos em um ambiente onde existe um excesso de es- timulacdo, nossa atencao sera dirigida para estimulos que sdo salientes no ambiente. Claro que podemos ter nossa atengao to- talmente voltada para alguma preocupagao premente e nao prestamos mais aten¢ao ao ambiente. Neste caso, entretanto, a salién- cia é de nossos problemas e pensamentos internos. A saliéncia é determinada pelo contexto imediato do estimulo. Uma pessoa alta em uma festa tem uma saliéncia bem diferente de um jogador bem alto em um time de basquetebol. Dois outros fatores ajudam na captu- ra da atencao da pessoa. O primeiro sao os schemas. Qualquer comportamento que va de encontro ao conhecimento prévio que temos de papéis ou schemas de pessoas vai chamar nossa atengao. A inconsisténcia com © schema chama a atencao. Fiske (1995), por exemplo, descreve um professor que decide ir dar aula vestido de palhago como um caso tipico de contraste entre o compor- tamento e o schema de papel de professor. O segundo fator que provoca a saliéncia do estimulo sao os objetivos do observador na- quele determinado momento. Esses objeti- vos ajudam a focatizar a atengao, tornando saliente aquilo que lhe esta relacionado. Quais as consequéncias da saliéncia? O que esta saliente assume uma importancia maior do que outros estimulos nao salientes, inclusive, em termos de causalidade. Isto é, as atribuicées de causalidade das pessoas vao sofrer influéncia do que é mais saliente para elas. Os estimulos salientes passam a ter maior probabilidade de assumir 0 papel causal principal em um determinado con- texto, Uma determinada pessoa que chame a atencdo do observador, por exemplo, vai ganhar mais crédito e parecer mais influen- te do que os outros que nao chamaram tanta 92 TORRES, NEIVA & COLS. atencao, simplesmente porque o observador prestou mais atengdo a esta pessoa. Uma maior atengao também tende a polarizar ou exagerar as avaliagdes do observador a res- peito da pessoa saliente. Se quem observa gosta da pessoa sendo observada, o gostar aumenta mais ainda. Se nao gosta, também aumenta 0 no gostar. As avaliagdes ficam polarizadas. Finalmente, maior saliéncia também aumenta a probabilidade de a pes- soa ser lembrada posteriormente. Aumenta a probabilidade de ela ficar registrada na meméria de quem observa. Quaisquer que sejam as razdes para que prestemos mais atengao a certas pessoas ‘ou aspectos dessas pessoas, a principal con- sequéncia é que a atencao vai mudar a ma- neira como julgamos e interagimos com elas. Boa parte do que pensamos sobre os outros acontece on-line, automaticamente, em uma velocidade muito grande. A atencdo influen- cia enormemente que tipo de informacao teremos para fundamentar nossa compreen- 40 dos outros ou de nés mesmos, Memoria Pesquisas que investigaram as memérias sobre outras pessoas demonstraram que os objetivos, envolvimento do observador e a impressao geral formada pelo conjunto de informagées, tem um grande impacto sobre © quanto nos relembramos posteriormen- te (Devine, Sedikides e Fuhrman, 1989; Hamilton, 1981; Hamilton, Katz e Leirer, 1980; Srull, 1983). Ao tentar memorizar in- formacées sobre outra pessoa é bem mais efi- caz tentar formar uma impresséo ou descri- do geral dela do que tentar gravar pedacos isolados de informacdo, tais como descricdes de tracos de personalidade. Por exemplo, se descrevemos para vocé uma pessoa como ousada, convencida, distante ¢ teimosa, a melhor estratégia é tentar formar uma im- Pressdo geral desse tipo de pessoa (imagine uma pessoa descrita por esses adjetivos), e no tentar memotizar cada adjetivo ou usar truques mneménicos do tipo “memorize as Primeiras letras de cada adjetivo tentando formar uma sigla”. Por que é mais facil dessa forma? E mais facil por causa da integracio das informacdes, em um todo coerente, da formacao de ligagdes entre os tracos descri. tivos da pessoa (a ligacdo entre teimosia ¢ ousadia reforga mais ainda a impressio ge. ral, por exemplo). Quanto mais tragos e mais ligagdes, melhor a memorizagao Além disso, quanto mais o observa. dor esta envolvido com a pessoa observada e quanto mais relevante para o observador é a impressao (autorreferente) geral do ou- tro, melhor seré sua meméria. A ctiago de certa empatia (tentar se colocar no lugar do outro) ajuda mais ainda a relembrar infor macées sobre outra pessoa. Estranhamente, tentar se colocar no lugar do outro ou, me- hor ainda, antecipar uma interagao com a pessoa (como poderiamos lidar com alguém que é ousado, convencido, distante e teimo- so?) é ainda melhor em termos mneménicos do que interagir de fato com a pessoa. Em uma interagdo real vocé estaria decidindo também sobre seu comportamento, além de tentar formar uma impressao a respei- to do outro. Vocé estaria muito ocupado (Hastie, Ostrom, Ebbesen, Wyer, Hamilton € Carlston, 1980; Srull e Wyer, 1989; Wyer e Srull, 1984) Inferéncia A questo da inferéncia na cognicao social diz respeito ao que fazemos com a informa- G40 que obtivemos por meio dos processos de atencao e retengdo (meméria). Como fa- zemos para ir além da informacao de que dispomos? Qual a qualidade de nossas in- feréncias? Qual a qualidade de nossos jul- gamentos? Para determinar a qualidade de nossas inferéncias e julgamentos precisamos nos re- ferir a quest6es normativas. A pergunta pas- saa ser “Qual a qualidade de nossas inferén- cias € julgamentos quando comparadas com © que € sugerido por principios normativos ou padrées de qualidade?" (Nisbett ¢ Ross, 1980; Kahneman, Slovic e Tversky, 198: Gilovich, 1991; Sutherland, 1992; Goldstein « Hogarth, 1997: Baron} 2000; Gigerenzer, 2900; Gigerenzer e Selten, 2001; Gilovich, Griffin e Kahneman, 2002). As respostas obtidds nas pesquisas re- alizadas nas ultimas déqadas nao tém sido muito boas. Diferentes pesquisadores tém «emonstrado que os megmos processos cog- nitivos, sociais € motivagonais responsaveis pelas grandes realizagégs da inteligéncia e julgamento humanos tanjbém estao envolvi- dos em falhas e distorgd¢s que vao dos sim- . ples aos grandes erros de julgamento. Nao se trata de falta de inforrnacao ou de educa- cio. A superutilizagdo of a ma aplicagao de nossas capacidades cognitivas é que causam os problemas. Eles constituem os custos ine- vitaveis de nossos poderef cognitivos porque- os problemas de inferéndias e de julgamen- to ocorrem quando utiligamos nossas capa- cidades cognitivas no linjite e sem o auxilio de um bom conhecimenfo normativo. Este iiltimo ponto tem levadp varios autores a° questionarem as conclusges pessimistas das tiltimas décadas de pesquisa. Afinal, a ma qualidade de nossas infeencias e julgamen- tos nao tem impedido o fucesso adaptativo ¢ reprodutivo de nossa egpécie. E os proble- mas surgem quando nostas inferéncias sao confrontadas com pad nem sempre explicitados He forma relevante ¢ pertinente a linguagem cognitiva cotidia- na, adaptada ao mundo feal (Gigerenzer e Selten, 2001; Gigerenzer]2000). Temos que ter cautela quando julgamnos nossas capaci- dades inferenciais. Afinal lidamos com um mundo que se apresentajcomo um conjun- to de dados confusos, fr¢quentemente ale- atorios, incompletos, nap representativos, inconsistentes, secundarips, de dificil com- Preensdo. Sao justamentg nossos sucessos € fracassos para lidar com Pste tipo de dados que revelam a grande capacidade do racio- cinio juntamente com sua limitagdes de jul- gamento e de racionalidafle. E quais s4o as prircipais limitagées? Elas podem ser agrupadas em algumas ca- tegorias: interpretagao dg dados aleatérios, de dados incompletos e n4o representativos, a profecia autorrealizantd de ver o que ja se €sperava ver. PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES s de qualidade — 93 Interpretando dados aleatorios Tendemos a “ver” ordem onde nao existe ne- nhuma e percebemos um processo coerente atuando onde existe apenas a presenca do acaso (os testes psicoldgicos projetivos se aproveitam dessa propensdo). Relacionada a esta percepcdo de ordem, consideramos que eventos aleatérios séo por definicao aqueles eventos que n4o apresentam ordem “aparente”, isto é, S40 eventos que tém uma aparéncia “desordenada”. Uma das pesqui- sas de Tversky e Kaheman (1973) ilustra bem essa tendéncia. Estudantes foram soli- citados a avaliar a probabilidade relativa de trés sequéncias de nascimentos de meninos (H) e meninas (M), considerando os primei- ros seis bebés nascidos em’um determina- do dia no hospital da cidade. As sequéncias apresentadas aos estudantes foram as se: guintes: 1. HHHHHH ‘2. HHHMMM 3. MHHMMH A probabilidade de ocorréncia de cada uma das trés sequéncias é quase idéntica. No entanto, a maioria dos sujeitos da pesquisa escolheu a sequéncia (3) como a que apre- senta a maior probabilidade de ocorréné¢ia. Considerando o que sabem sobre a distri- buicgdo de nascimentos e sobre o processo de geracao do evento aleatério, as pessoas julgam a terceira sequéncia-como a mais re- Ppresentativa. A segunda sequéncia tem uma aparéncia muito “ordenada” e a primeira representa menos ainda uma sequéncia ale- atoria: ela nao reflete a aleatoriedade do Processo de nascimento nem a distribuica dos sexos na populagdo. O mesmo ocorre na chamada “falacia do jogador™. Apds observar uma longa sequéncia de numeros baixos em um langamento de dados, o jogador tende a acreditar que o préximo ser4 um numero alto porque tal resultado tornaria a sequén- cia geral dos eventos mais “representativa de uma sequéncia aleatéria. Para Kahneman, Slovice Tversky (1982) é 0 heuristico da “representatividade” que 94 TORRES, NEIVA & COLS. se encontra na raiz da percepcao errénea de sequéncias aleatérias. Esses heuristicos sao atalhos cognitivos que simplificam e facili- tam a inferéncia e o julgamento. As pessoas recorrem a esse heuristico quando conside- ram que os efeitos devem se assemelhar a suas causas (grandes efeitos exigem grandes causas, efeitos complexos decorrem de cau- sas complexas); que eventos que estdo inter- ligados devem aparentar essa interligagao e que exemplares devem aparentar semelhan- a com a categoria da qual fazem parte (p. ex., um psicologo deve ter a “aparéncia” do prototipo representativo do psicdlogo). Muitas vezes o julgamento baseado na representatividade é um julgamento corre- to, Outras vezes, porém, o uso excessivo da representatividade leva a julgamentos erré- neos. Nem todos os psicdlogos tém “cara” de psicdlogos e alguns grandes efeitos (p. ex.: epidemias) possuem causas praticamente invisiveis (p. ex.: virus). Mas, qual a relacdo do heuristico com a questao da aleatorieda- de? No caso do lancamento de umia moeda, por exemplo, o aspecto mais saliente é o conjunto de resultados que deve produzir - espera-se uma divisdo meio a meio com 50% de caras e 50% de coroas. Ao examinar uma sequéncia de resultados, esse aspecto salien- te-dos 50% - 50% é comparado automati- camente com a sequéncia que se obteve. Se a sequéncia estiver grosseiramente dividida em 50% ~ 50% perceberemos um processo aleatorio — isto é, a sequéncia “representa” uma distribuicao aleatéria. Qualquer outra diviso provoca julgamentos de nao aleato- riedade. O erro est4 em nao saber que isso € o que deve ocorrer sé a longo prazo. A “lei dos grandes nuimeros”, de acordo com os estatisticos, assegura a ocorréncia de uma diviso 50/50 somente apdés um grande nu- mero de langamentos da moeda, Para poucos langamentos, sequéncias “desequilibradas” sdo perfeitamente possiveis. A “ilusdo do agrupamento” manifesta- -se em varias outras formas. Pessoas que trabalham em maternidades observam uma série de nascimentos de meninos seguidos Por uma série de nascimentos de meninas € terminam por atribuir tais eventos a vd- rias forcas misteriosas do tipo “fases da lua”. As pessoas também “percebem” uma face na lua, Sao Jorge lutando contra o dra- gao, canais em Marte, ou, para as que sao religiosas, todo tipo de imagens em panos, madeiras, nuvens, arvores e no campo. Sao simplesmente exemplos de sequéncias alea- torias, mas que ndo possuem a “aparéncia” aleatéria. Interpretando dados incompletos A reacado mais comum das pessoas a qual- quer atitude um pouco mais cética sobre a veracidade de crencas e fendmenos consiste no relato de um testemunho préprio ou do depoimento dado por outra pessoa. Reagdes como “Conhego alguém que ficou bom de- pois que colocou este amuleto debaixo do travesseiro”, sao as respostas favoritas das pessoas que acreditam ém praticas e crencas alternativas: “Eu vi acontecer”. “Minha vizi- nha ficou completamente curada”. “Acontece © tempo todo com muita gente”. O que estas afirmagées possuem em comum é a apresentagao de evidéncia po- sitiva que justifica.e explica a conviccao da pessoa. Mas 0 problema com esse tipo de evidéncia é qué no é suficiente para a comprovacdo de nenhum fendmeno, Casos de pacientes que relatam terem ficado cura: dos com a ajuda de tratamentos pela ho- meopatia ou tratamento espiritual existem aos milhares, mas nao constituem evidéncia suficiente de que esses tratamentos interfe- tiram ou promoveram a remissao de alguma doenca ou condicdo. Ainda seria necessario levar em conta, por exemplo, o nimero de pacientes que apresentaram remissio sem 0 recurso aos tratamentos (receberam um pla- cebo acreditando que era o tratamento ver- dadeiro), os que nao apresentaram melhora alguma mesmo recorrendo aos tratamentos, e os que nao melhoraram, mas também nao foram tratados (mas acreditavam que tinham sido tratados). A Tabela 4.1 a seguir apresenta graficamente os grupos que de- vem ser observados para que possamos tes- tar a eficdcia de um tratamento. Sao quatro PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES. 95 TABELA 4.1 Cada cela deve ser preenchid: A = numero de pacientes qu B = numero de pacientes qui C = numero de pacientes qu placebo} e foram curados D = numero de pacientes qu placebo) néo foram curado! Situagées que devem ker investigadas para que se possa verificar a suposta relagao entre cura de #oengas e os tratamentos homeopaticos ou espirituais eae et ey Receberam tratamento: A Receberam placebo c com 0 numero de casos observados de acordo com as condigées das marginais receberam os tratamentos e foram curados receberam os tratamentos e nao foram curados nao receberam os tratamentos (mas acreditavam que sim, pois receberam um nao receberam 08 tratamentos (mas acreditavam que sim, pois receberam um ee Ce RL as evidéncias necessdrias|e suficientes para que possamos julgar e inferir. Para verificarmos cbrretamente se 0 tratamento leva & cura, tpriamos que com: parar as quatro informaches das condicdes A,B, Ce D. Mas nao é€ ikso que as pesso- as fazem (cf., Crocker, 1981). O que mais chama nossa atencdo sad as condicées “A” eB", pois confirmam qu “pacientes foram uratados e foram’curados'| e “pacientes nao ntimero de casos positivps para concluir que o tratamento funciong. Infelizmente, a evidéncia da condigao A q necessaria, mas nao € suficiente. Cognitipamente, ¢ bem mais facil lidar com a cohfirmacao positi- va, jd que encerra toda evifiéncia necessaria Para a ocorréncia de um jhlgamento. Jé as informagées das celas B elC, isoladamente, nao dizem 14 muita coisa + exceto quando fazemos um grande esforgh de anilise e as Sonsideramos juntas com ag outras duas ce- 'as. Como conciliar esses fatos com 0 “avaro cognitivo” que somos? Finalmente, outras ptsquisas indicam igualmente que a excessivp suscetibilidade das pessoas a confirmacao positiva é apenas um dos aspectos da questad. As pessoas nao 8ostam do papel de “advogado do diabo” e Procuram ativa e deliberadamente apenas os dados que confirmem suas crengas e julga- mentos (cf, Skov e Sherman, 1986; Snyder e Swann, 1978; Trope e Bassok, 1982). Profecia autorrealizante A profecia autorrealizante ocorre quando Nossa expectativa termina por provocar o Proprio comportamento que originalmente antecipamos. Imagine uma situacdo em que acreditamos que alguém é antipatico e hos til. Nosso comportamento em direcdo a essa Pessoa vai com certeza refletir nossa expec. tativa, podendo entao provocar respostas que comprovam o que é esperado. Pesquisas indicam que profecias dessa natureza sio muito comuns em situagao de aprendiza- do, nas quais o professor nao acredita na capacidade do aprendiz. Por nao acreditar, termina agindo de uma forma que provoca, induz a nao aprendizagem do aluno. Nesse caso, ocorreu uma profecia autorrealizante porque existiu algum mecanismo que trans- formou a expectativa em acao confirmats- ria (muitas vezes inconsciente por parte de quem tem a expectativa inicial). Sem esse Mecanismo, nao existe profecia autorrea- lizante. Ao provocarmos a realizacao de Nossas expectativas, terminamos por basear 96 TORRES, NEIVA & COLS. nossos julgamentos sobre informagdes que nao estariam disponiveis se nao tivéssemos provocado o surgimento delas em primeiro lugar. Lidamos com 0 que observamos sem considerar como as coisas seriam diferentes se tivéssemos agido diferentemente. Outras profecias sio apenas aparente- mente autorrealizantes e ocorrem quando Nossas expectativas alteram as circunstan- cias que impedem ou limitam as agdes da Outra pessoa — agdes que poderiam descon- firmar nossas expectativas. Suponha que al- guém ache vocé agressivo e se afaste evitan- do todo tipo de contato. Como vocé podera mostrar que a crenga e a expectativa do ou- tro em relagdo a vocé nao sao verdadeiras? Ele vai continuar achando vocé agressivo Porque ja achava antes e nada de novo vai desconfirmar essa crenca. Problemas inferenciais: o que fazer? Embora os estudos sobre os fundamentos de nossa cognicdo social possam transmitir uma visdo pessimista da qualidade de nos- sos julgamentos e inferéncias, duas obser- vagées devem ser consideradas. Primeiro, a maneira como pensamos sobre os outros é boa o suficiente para que consigamos so- breviver razoavelmente bem em sociedade. Com a: pratica advinda da experiéncia e da maturidade, chegamos a um ponto em que, na maioria das vezes, conseguimos negociar de forma relativamente adequada nossos relacionamentos sociais. Apesar dos heuristicos, vieses, atencdo limitada e me- moria seletiva, conseguimos nos adaptar e aprender com nossos erros e com os erros dos outros. Segundo, é esta possibilidade de apren- dizagem e de aperfeigoamento que deve ser explorada quando se considera a qualidade de nossos julgamentos e inferéncias. Varios estudos demonstraram que é possivel melho- Tar nossos julgamentos e evitar parte dos vie- ses € erros que cometemos (Cheng, Holyoak, Nisbett e Oliver, 1986; Fong, Krantz e Nisbett, 1986; Nisbett, Krantz, Jepson e Fong, 1982; Trdccoli, 2005; ver também Gigerenzer ° Selten, 2001; Gigerenzer, 2000). COMENTARIOS FINAIS A cognicao social compreende estudos sobre como percebemos, processamos, armazena. Mos e usamos informacdes que recebemos de nosso mundo social. Nos tiltimos 20 anos, surgiram revistas e livros especializa. dos contendo centenas de pesquisas sobre como pensamos a respeito de nos e dos ou- tros (p. ex., Hamilton, 2005; Fiske e Taylor, 2008). Nao so isso, mas novas teorias, ques- t6es e metodologias (p. ex., a neurociéncia cognitiva social) também surgiram como consequéncia do estudo do fendmeno social a partir da perspectiva da cogni¢ao social. A cogni¢ao social, entao, deve ser considerada nao como mais um tdpico da psicologia so- cial, mas como uma abordagem nova sobre seus diversos topicos (cf., Devine, Hamilton e Ostrom, 1994). A psicologia social abran- ge uma grande variedade de tépicos, tais como atitudes, agressao, altruismo, amor. Percepcao interpessoal, tomada de decisées e relagdes grupais, entre outros. A cognigae social é uma novidade conceitual e metodo: logica que introduz as questdes cognitivas subjacentes aos topicos tradicionais da Psi- cologia social. Em todas as areas de estudo da psicologia social, as pessoas processam informagdes do mundo social; a questao é compreender como a informacao esta sendo processada e usada quando desenvolvemos atitudes, reagimos agressiva ou altruisti- camente, como decidimos e participamos dos diversos grupos sociais. Neste capitulo, apresentamos de forma bem resumida um Pouco dessa nova abordagem. Esperamos que o incentivo tenha sido suficiente para que vocé continue descobrindo os novos ho- rizontes da cogni¢ao social. NOTAS 1. Considera-se que esse periodo formativo durou até cerca de 150 mil a 100 mil anos e wo > auras, quando nossos fncestrais sairam da Africa e comegaram a qolonizar o mundo. A partir da saida da Afriga, 0 tempo tem sido muito curto (100 mil afos ou cerca de 5 mil geracdes) para a evolu¢4o produzir quaisquer mudangas significativaslem uma espécie. Isto implica que toda a histdria do surgimento da civilizagao e cultura hungana (a agricultura sé surgiu ha 10 mil anos) é |rrelevante quando se tata de compreender a mente humana. Como nossas mentes n&o evolyiram em um mundo de cidades de tecnologia avancada, temos cérebros da “idade da pddra” vivendo em um mundo de alto desenvol Descontando todos os prpblemas decorrentes desse fato, ndo podemos fleixar de reconhecer a tremenda capacidade hdaptativa de nosso cérebro. | Embora nao seja nosso| objetivo discutir a questao do altruismo e Ha cooperacdo, de- vemos acentuar que estks comportamentos nao evoluiram apenas nat situacdes com base estritamente reciproca. 10 bidlogo William Hamilton (1964) demongtrou que a grande ocorréncia de altruismoj nao reciproco em todo o reino animal (reldcdes pais e filhos e entre outros parentes, por exemplo) sd pode ser compreendida quandb se considera que a unidade fundamental dp evolucdo nao é o organismo, mas o gene indjvidual. O altrufsmo nao reciproco so ocorre e@tre organismos ge- neticamente relacionados} parentes proximos compartilham muitos gerfes, e os genes que predispdem o individuo fa ajuda-los estado, na verdade, ajudando subs proprias copias. Posteriormente, 0 bidlogd Richard Dawkins (1989) popularizou e apedfeicoou essa teoria em seu livro antolégico O (Gene Egoisca. Outras espécies desenvplveram sistemas semelhantes. A separacap radical entre a espécie humana e espécie4 ndo humanas de- nuncia 0 que Dawkins (2003, cap. 3) chama de “mente descontinua”, ifto é, a crenca em uma separacao radical qupndo o que existe éuma diferenciagdo gradual e, as vezes, até sutil entre nds e outros anifnais, tais como os chipanzés. Isto é 0 que ocorre entre of chimpanzés, que dedicam boa parte do tempallivre ao comporta- mento de grooming. No grod zés se limpam retirando par: Sujeiras presos nos pelos daq mantém aliangas, Existem ev}dés que, na necessidade, h4 maior probabilidade de ajuda por parte daquelesique sao compan- heiros de grooming. O aungento dos grupos com os quais jas indicando imento tecnoldgico. - PSICOLOGIA SOCIAL: PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES 97 humanos para cerca de 150 membros, em mé- dia, tornou invidvel a manutencao das aliancas com base em cooperacées diretas e mutuas. N&o haveria tempo para outras atividades, além de ser extremamente cansativo manter esse tipo de relacionamento com todos os out- tos membros de grupos tao grandes. Dunbar considera que o equivalente nos hominideos foi a evolucao da linguagem para a transmis- sao de informagao verbal, principalmente por meio das fofocas. Uma implicagdo é que os meios modernos de comunicagao a distancia (e-mails, salas de bate-papo na internet, etc.) jamais substituirao inteiramente a necessidade humana de boas conversas ao pé do ouvido, REFERENCIAS ANDERSEN, S. M.; COLE, S.W. “Do I know you?”: The role of significant others in general social Perception. Journal of Personality and Social Psychology, v. 59, p. 384-399, 1990. AXELROD, R. The evolution of cooperation. New York: Basic Books, 1984. BARON, J. Thinking and deciding. 3 ed. New York: Cambridge University Press, 2000. BREWER, M. B. In-group bias in the minimal inter- group situation: A cognitive-motivational analysis. Psychological Bulletin, v. 86, p. 307-324, 1979. BREWER, M. B. A dual process of impression. In: SRULL, T. K.; WYER JR, R. S. (Ed.). Advances in Social Cognition. Hillsdale, NJ: Erlbaum, 1988. v.1, p.1-36, BUSS, D. M. (Ed.). The Handbook of Evolutionary Psychology. New York: Wiley, 2005. CHENG, RW.; HOLYOAK, K. J.; NISBETT, R. E.; OLIVER, L. M. 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