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1 Centro de Estudos em Abstract The offshore oil industry is characterized by complex systems in relation to technology
Saúde do Trabalhador
and organization of work. Working conditions are hazardous, resulting in accidents and even
e Ecologia Humana, Escola
Nacional de Saúde Pública, occasional full-scale catastrophes. This article is the result of a study on work-related accidents
Fundação Oswaldo Cruz. in the offshore platforms in the Campos Basin, Rio de Janeiro State. The primary objective was to
Rua Leopoldo Bulhões 1480,
provide technical back-up for both workers’ representative organizations and public authorities.
Rio de Janeiro, RJ
21041-210, Brasil. As a methodology, we attempt to go beyond the immediate causes of accidents and emphasize
underlying causes related to organizational and managerial aspects. The sources were used in
such a way as to permit classification in relation to the type of incident, technological system,
operation, and immediate and underlying causes. The results show the aggravation of safety
conditions and the immediate need for public authorities and the offshore oil industry in Brazil
to change the methods used to investigate accidents in order to identify the main causes in the
organizational and managerial structure of companies.
Key words Occupational Accidents; Occupational Health; Petroleum; Accident Prevention
trolíferas no Mar e Assuntos Conexos”, da Or- maior estresse devido às características impre-
ganização Internacional do Trabalho (OIT, 1993) visíveis do trabalho e pelo fato de não gozarem
são: a) uma ampla série de atividades perigo- da mesma situação do pessoal das empresas
sas que se realiza em um espaço de trabalho exploradoras no que tange aos rendimentos e
bastante reduzido; b) os trabalhadores das pla- perspectivas de carreira. Estes dados são preo-
taformas não só têm de trabalhar, mas também cupantes quando consideramos que os traba-
viver em contato permanente com os riscos; c) lhadores terceirizados, embora realizando ati-
as situações de perigo de incidentes e aciden- vidades que variam em função do tipo de ins-
tes se agravam pela presença de hidrocarbo- talação, em geral chegam a representar dois
netos, de modo que se colocam dificuldades terços a três quartos do total da mão de obra
no tempo requerido para evacuar o pessoal em ocupada nas plataformas (OIT, 1993).
condições de segurança, acrescentando-se ain- No que se refere especificamente aos aci-
da os relacionados possivelmente ao mau tem- dentes de trabalho nas plataformas, Suther-
po no mar; d) há uma grande variedade de em- land & Cooper (1991) constataram na amostra
presas e de gestão do trabalho que atuam no estudada que 29% dos trabalhadores referiu ter
ambiente confinado das plataformas associa- sofrido danos corporais em acidentes ocorri-
do a um grande número de trabalhadores em dos nas plataformas. Percentual próximo foi
regime de subcontratação, muitos dos quais de- encontrado no estudo realizado por Rundmo
vem mudar continuamente de local e de ativi- (1994) em cinco empresas e oito plataformas
dade de trabalho; e) as dificuldades de regula- da Norwegian Continental Shelf, na Noruega, o
mentação de numerosas instalações móveis e qual envolveu 915 trabalhadores (92% do total
que requerem critérios particulares, especial- de trabalhadores). No estudo de Rundmo (1994),
mente para reduzir ao mínimo as duplicações 25% (n = 229) dos trabalhadores responderam
e evitar conflitos entre as legislações munici- que foram lesionados alguma vez durante o
pal, estadual e federal, além de convênios ma- seu trabalho nas plataformas e, dentre estes,
rítimos internacionais. A diversidade de atores 40% (n = 92) vivenciaram mais de um acidente,
e instituições reguladoras e fiscalizadoras co- totalizando 355 lesões. Do total de 355 lesões,
mo por exemplo a Marinha e diversos órgãos apenas 34% não resultaram em ausência do
públicos nas áreas da saúde, do trabalho e do trabalho até o próximo turno. Do restante, 54%
meio ambiente, além dos poderosos interesses geraram a necessidade de repatriação, visto
políticos e econômicos envolvidos tornam haver grande número de trabalhadores estran-
mais complexas as atividades de regulamenta- geiros, e 12% implicaram o afastamento do tra-
ção e fiscalização na área. balho para tratamento fora da plataforma.
Se o trabalho nas plataformas já é em si pe- De acordo com o estudo de Rundmo (1994),
rigoso, é importante considerar que os riscos as atividades de trabalho predominantes in-
são agravados por outros fatores identificados cluídas no universo de 355 lesões foram manu-
pelo estudo realizado por Sutherland & Cooper tenção preventiva (10%), trabalhos de reparo
(1991) com trabalhadores em alto mar na Eu- (15%) e operações manuais de levantamento
ropa (310 homens empregados em 18 empre- de cargas (16%). Os resultados de Rundmo
sas contratadas e 14 companhias petroleiras (1994) apontam que os trabalhadores envolvi-
em 97 instalações), sendo os mesmos fontes de dos nas atividades de levantamento de cargas,
estresse e conectados com os anteriormente particularmente as manuais, e de manutenção
apontados, podendo estar contribuindo para e reparo, os quais são em sua quase totalidade
os acidentes, dos quais gostaríamos de desta- terceirizados, foram os que sofreram o maior
car: a) o caráter rotineiro do trabalho; b) o des- número de acidentes.
conhecimento do que se constitui o trabalho no Em relação à freqüência, segundo a OIT
mar por parte do pessoal de gerência que se en- (1993), a maioria das análises estatísticas reve-
contra em terra, agravando a insatisfação dos la uma incidência muito maior entre os traba-
trabalhadores das plataformas com a gestão ad- lhadores terceirizados. Dentre as causas para
ministrativa por parte dos mesmos; c) o trans- isto podemos citar o fato de estes trabalhado-
porte quando as condições meteorológicas são res realizarem a maioria das atividades mais
desfavoráveis; d) a falta de segurança no em- perigosas ao mesmo tempo em que possuem
prego; e) as desagradáveis condições de traba- tanto menor capacitação e treinamento, como
lho devido ao ruído. desfrutam menos direitos quando comparados
Particularmente, no que se refere aos traba- com os trabalhadores diretos das empresas,
lhadores terceirizados, Sutherland & Cooper tendo isto diversas implicações em termos de
(1991) identificaram que o descontentamento segurança (OIT, 1993). Um estudo realizado na
era maior entre os mesmos, os quais sofriam Noruega pelo sindicato dos trabalhadores, por
exemplo, revelou que os trabalhadores terceiri- que um efetivo gerenciamento dos riscos no
zados realizavam tarefas de manutenção de processo de produção. Objetivando o desen-
poços de um modo em que eram violadas de volvimento de estratégias de controle e preven-
forma regular e sistemática as leis e regula- ção mais eficazes, novas abordagens metodo-
mentações sobre horas de trabalho, descansos, lógicas de investigação vêm sendo criadas, es-
tempo de permissão para ficar em terra, regis- pecialmente no que se refere aos sistemas tec-
tro e pagamento de horas extras, além de ou- nológicos complexos presentes em setores co-
tros (OIT, 1993). mo tecnologia aeroespacial, usinas nucleares,
Em relação à gravidade, registrou-se um to- indústrias químicas de processo contínuo e
tal de 960 óbitos em 47 acidentes ocorridos em plataformas de petróleo. Tais abordagens enfa-
plataformas de petróleo no mundo entre 1970- tizam os contextos social e organizacional em
1991, com uma média de 20,4 óbitos por aci- que padrões de produção inseguros são fixados
dente (OIT, 1993). É importante observar que e acidentes ocorrem. Dentre estas abordagens
os riscos de acidentes variam conforme o tipo destacamos as desenvolvidas nos âmbitos da
de instalação e de atividade. Pode se observar engenharia (Kletz, 1993; Paté-Cornell, 1993;
na Tabela 1, que em relação as atividades de Lorry, 1999), da ergonomia (Leplat & Terssac,
trabalho que apresentaram maior número de 1990; Meshkati, 1991; Wisner, 1994), da socio-
óbitos, predominaram as de perfuração, cor- logia (Perrow, 1984; Wynne, 1988; Dwyer, 1991)
respondendo a 61,8% do total, vindo em segui- e da epidemiologia (Andersson, 1991; Menckel
da a de produção, com 37,4% e de reparo e & Kullinger, 1996), possibilitando o desenvolvi-
construção, com 0,8%. Na Tabela 1 chama a mento de sistemas de informações que permi-
atenção o fato de 79,1% (n = 349) dos óbitos nas tam revelar e apreender os aspectos gerenciais
atividades de perfuração e 70,0% (n = 187) dos e organizacionais (Drogaris, 1992; Rasmussen,
óbitos nas atividades de produção terem ocorri- 1995). No Brasil, estas abordagens vêm sendo
do em acidentes em que houve perda total (Ní- incorporadas a AVSTs e trabalhos acadêmicos
vel 1) ou danos materiais graves (Nível 2) nas (Porto, 1994; Freitas, 1996; Machado, 1996); to-
plataformas, com predomínio de eventos co- davia, ainda pouco divulgadas em revistas cien-
mo incêndios, explosões e colapsos estruturais. tíficas nacionais.
Estas abordagens de investigação são pode-
rosos instrumentos para revelar as subjacentes
Metodologia e fontes fragilidades da matriz sócio-organizacional das
empresas em que ocorrem os acidentes e con-
Nos últimos anos tem se revelado cada vez duzem a uma ampla análise. Em termos meto-
mais a ineficiência das abordagens de investi- dológicos, esta estratégia permite uma maior
gações de acidentes de trabalho que, ao atri- aproximação com o trabalho real que é realiza-
buírem continuamente a responsabilidade aos do no dia a dia do chão-da-fábrica dos proces-
trabalhadores pelos eventos em que são víti- sos produtivos, o que inclui a participação dos
mas, acabam tendo muito mais o papel de man- trabalhadores (Backström & Döös, 1995) e a
ter determinadas estratégias de controle das ampliação da análise para além das causas ime-
relações sociais de trabalho pelas empresas do diatas dos acidentes, visando caracterizar fa-
Tabela 1
Número de óbitos por atividades de trabalho (perfuração, produção, reparo e construção) e nível de danos
materiais no mundo entre 1970-1989.
tradas nas indústrias de processo químico. Em atual regime. Pesquisa realizada por Pessanha
relação à variável 12, destacamos a inclusão do (1994) com trabalhadores embarcados na Ba-
item “subcontratados” na categoria omissões cia de Campos aponta a defesa quase unânime
gerenciais/organizacionais, considerado espe- de um regime de 10/20 dias.
cialmente importante pelo envolvimento de Quanto às condições de alojamento, em
trabalhadores de empresas terceirizadas em muitas plataformas, os trabalhadores terceiri-
um número elevado de eventos. Para este arti- zados, em vez de residirem nos camarotes como
go produzimos tabelas para as variáveis 3, 6, 7, os trabalhadores diretos, são alocados em con-
11 e 12. Um dos tipos de conseqüências (variá- juntos de três ou quatro containers e um banhei-
vel 9) consideradas por nós, as lesões em tra- ro colocados sobre o convés, designados Mó-
balhadores, foram inseridas na tabela dedica- dulos Temporários de Alojamento que acabam
da à variável 3, em que uma das colunas repre- se tornando permanentes (Sevá Filho, 2000).
senta o número de trabalhadores lesionados O panorama atual é de ampliação intensa
para cada tipo de acidente. do volume de operações e de instalações e suas
interligações, acelerando a complexidade e a
interdependência dos desempenhos e dos in-
Os acidentes de trabalho nas cidentes nas diversas partes deste sistema pro-
plataformas de petróleo da Bacia dutivo. Até hoje foram investidos 17 bilhões de
de Campos dólares na exploração e produção de petróleo
nesta região. A produção média é de 850.000
Condições de trabalho nas plataformas barris/dia (cerca de 75% da produção nacio-
de petróleo da Bacia de Campos nal), com o Brasil chegando em 1997 a entrar
no seleto grupo dos países que produzem mais
Antes de procedermos à análise dos acidentes de 1.000.000 barris/dia, e de 15 milhões de me-
de trabalho nas plataformas de petróleo na Ba- tros cúbicos de gás natural (aproximadamente
cia de Campos, iremos caracterizar as condi- 50% da produção nacional) ( Jornal do Brasil,
ções de trabalho nas mesmas. 20/06/99). Neste processo vem ocorrendo a
De acordo com um dossiê elaborado pelo utilização intensiva e simultânea de instala-
SINDIPETRO-NF (1997) sobre condições de tra- ções antigas e novas. Todo o sistema vem sen-
balho na Bacia de Campos, em 1997 estimava- do pressionado a cumprir performances de pi-
se que havia cerca de 6.000 trabalhadores em ati- co, operando nos limites de sua capacidade ins-
vidade. Deste total, uma proporção muito maior talada e de vida útil (SINDIPETRO-NF, 1997). A
era de empregados de empresas contratadas e degradação média das instalações físicas tem
que estariam em condições gerais de jornada, avançado em ritmo mais intenso do que a de-
salário, comunicação com a costa, de transpor- preciação projetada de tais equipamentos e
te e hospedagem piores do que o pessoal efeti- sistemas, pois não se tem priorizado a manu-
vo da empresa responsável pela exploração. tenção preventiva nem a reforma estrutural de
As condições de trabalho nas plataformas instalações de alto risco (Sevá Filho, 2000). Este
envolvem, além do confinamento, o trabalho quadro se agrava à medida que não são realiza-
em turnos de 12 horas pelo dia e pela noite, al- dos alguns procedimentos cruciais para o rigor
ternadamente durante o mesmo período de na prevenção de acidentes, tais como: vistorias
embarque, prejudicando seriamente o estabe- e inspeções; certificação e calibração de equi-
lecimento de um ritmo de sono/vigília adequa- pamentos e instrumentos; medições de corro-
do à total recuperação do trabalhador para o são, de integridade de materiais e da geometria
reinício da sua jornada de trabalho (SINDIPE- de peças; perícias após deformação, fratura, ou
TRO-NF, 1997). Por exemplo, a carga horária do rompimento de peças; e mensurações quími-
operador de produção embarcado é de 12 ho- cas, físicas e ambientais não são realizados (Se-
ras de trabalho/dia, durante 14 dias, resultan- vá Filho, 2000).
do no que os trabalhadores chamam de “vira- Esta ampliação e intensificação da capaci-
da”, no sétimo dia de embarque (nesse dia as dade produtiva vem sendo acompanhada da
equipes que estão “virando” trabalham em tor- redução de efetivos de trabalhadores, intensifi-
no de 18 horas), quando se faz a troca de turno cação do trabalho e exigiência de polivalência.
do dia com a noite (Pessanha, 1994). A prática da redução do quadro próprio de fun-
Em relação ao regime de trabalho e descan- cionários se deu notadamente a partir da se-
so, o mesmo é de 14/21 dias para os trabalha- gunda metade da década de 80.
dores diretos e de 14/14 dias para os trabalha- Dados referentes ao total de trabalhadores
dores terceirizados. Mesmo os trabalhadores embarcados em seis plataformas na Bacia de
diretos não se consideram satisfeitos com o Campos entre 1989 e 1992 demonstram uma
redução média de aproximadamente 25% (Pes- dade econômica Extração de Petróleo e Servi-
sanha, 1994). Em relação à polivalência, a pers- ços Correlatos, indicam a ocorrência de 203
pectiva atual da empresa é que estas mudan- acidentes com afastamento superior a 15 dias,
ças sejam etapas intermediárias na busca do 27 acidentes que provocaram incapacidade
chamado operador mantenedor, ou seja, traba- parcial permanente, três acidentes que provo-
lhadores que além de supervisionar e controlar caram invalidez permanente e três acidentes
as variabilidades presentes na operação, tam- fatais (Anuário Brasileiro de Proteção, 1999).
bém intercedam na manutenção do sistema, Para o ano de 1998, trabalho realizado por
parcial ou totalmente, com base na indicação Bartolotti (1999) nas plataformas da Bacia de
dos pontos de defeitos acusados pelo sistema Campos revela a ocorrência de nove óbitos em
de controle (Pessanha, 1994). Todo este proces- acidentes de trabalho (um trabalhador direto,
so de redução de efetivos e polivalência tem na sete trabalhadores terceirizados e um sem in-
prática resultado na intensificação do trabalho, formação).
contribuindo para ampliar os riscos de inci- Embora de difícil compatibilização e com-
dentes e acidentes. paração, considerando-se também a fragilidade
Estatísticas da própria empresa citadas pe- das estatísticas oficiais, que não representam a
lo dossiê do SINDIPETRO-NF (1997) demons- real dimensão do quadro de acidentes relacio-
tram ser o setor de exploração e produção o que nado com a exploração de petróleo, os dados
apresenta a maior freqüência de acidentes de citados anteriormente apontam para um grave
trabalho. Em 1995, a taxa de freqüência de aci- quadro de acidentes de trabalho neste setor.
dentes na exploração e produção foi de 16,7,
contra 13,3 no refino, a segunda maior taxa, Tipos de eventos, sistema envolvido
sendo a média da empresa 11,9. Em 1996, a ta- e modo de operação
xa foi de 17,3 na exploração e produção, fican-
do a segunda maior freqüência com a enge- • Panorama geral dos incidentes/acidentes
nharia (16,6), contra a média da empresa de
14,7. As estatísticas também mostram uma dis- De acordo com a Tabela 2, no período compre-
tribuição claramente diferenciada dos riscos endido, verifica-se a ocorrência do total de 64
entre os trabalhadores diretos e os terceirizados eventos. Destes, 51 corresponderam a aciden-
nas plataformas de petróleo. Por exemplo, da- tes, 10 a incidentes e três a eventos sobre os
dos nacionais da empresa, em 1996, registram quais não havia informações que permitissem
uma taxa de freqüência de acidentes com afas- defini-los como acidentes ou incidentes.
tamento de 10,6 para os trabalhadores próprios Os 51 acidentes ocorridos resultaram em 41
e uma de 17,3 para a mão de obra contratada. trabalhadores lesionados, e o total dos aciden-
Os dados disponibilizados pelo Ministério tes que resultaram em lesões foi de 27 (53% do
da Previdência e Assistência Social (MPAS), total), o que corresponde à média de 1,5 traba-
fundamentados no estudo realizado por Ávila lhador lesionado em cada acidente que tenha
& Castro (1998) sobre o ano de 1996, que ado- resultado em lesões. Do universo de acidentes
tam uma metodologia mais moderna para o com lesões, seis (11,8%) resultaram em mais de
cálculo de indicadores, revelam que o setor de um trabalhador lesionado, totalizando 20 e
extração de petróleo e gás natural possuía um correspondendo a 48,8% do total, expressando
total de 2.143 trabalhadores vinculados, com o grande potencial de acidentes com múltiplos
866 acidentes de trabalho registrados, sendo trabalhadores afetados. Do total de 41 traba-
781 típicos. Tanto o índice de freqüência (42,86), lhadores acidentados, 29 (71%) eram de empre-
quanto o de gravidade (25,18) foram estimados sas prestadoras de serviço. Quanto aos demais,
pelos autores como os maiores deste ano den- 10 eram trabalhadores próprios e dois não tive-
tre todos os setores, segundo a Classificação ram a empresa a que pertenciam identificada.
Nacional de Atividades Econômicas, confir- Em relação ao tipo de acidente, do total de
mando a importância, em termos de riscos à 51 acidentes, 20 (39,2%) corresponderam a
saúde dos trabalhadores, do setor de extração eventos envolvendo quedas de trabalhadores e
de petróleo e gás natural. materiais, bem como rompimentos de cabos
Em termos de números absolutos, os dados corroídos e mangueiras, resultando no total de
nacionais do ano de 1996, disponibilizados pe- 22 (53,7%) trabalhadores lesionados. Dentre es-
la Secretaria de Segurança e Saúde no Traba- tes 17 (77%) eram de empreiteiras e cinco (23%)
lho/Ministério do Trabalho (SSST/MTb) com da própria empresa. De acordo com estes da-
base em dados brutos de benefícios concedi- dos, para cada trabalhador da empresa aciden-
dos pelo Instituto Nacional de Seguridade So- tado com lesão, houve uma média de 3,4 de
cial (INSS/MPAS), referentes ao grupo de ativi- empreiteiras na mesma situação.
Tabela 2
Distribuição dos incidentes/acidentes nas plataformas de petróleo. Bacia de Campos, Rio de Janeiro
entre 18/08/95 e 14/04/97.
De acordo com a Tabela 3, 22 (34,4%) dos inci- Na Tabela 4 podemos verificar o modo de ope-
dentes/acidentes ocorreram em operações físi- ração em que os incidentes/acidentes ocorre-
cas. Deste total, mais da metade (n = 13) estive- ram, destacando-se as atividades de operação
ram relacionados à operação dos poços. Cor- normal, com 23 casos (36%). Em seguida se en-
Tabela 6 Conclusão
Causas subjacentes identificadas no universo de 64 incidentes/acidentes ocorridos Neste artigo objetivamos demonstrar tanto o
nas plataformas de petróleo de acordo com a classificação adotada pelo Major potencial de risco existente na atividade de ex-
Accident Reporting System. Bacia de Campos, Rio de Janeiro, entre 18/08/95 ploração marítima de petróleo, quanto a sua
e 14/04/97. gravidade nas condições existentes no Brasil,
particularmente na Bacia de Campos. Tais con-
Tipos de causa subjacentes Número de causas dições ressaltam os conflitos existentes entre o
gerenciamento de riscos e o gerenciamento da
Omissões gerenciais/Organizacionais 64 69,6%
produção, a segurança e as características da
Ausência de cultura de segurança 1
terceirização, que tendem a aumentar o perigo
Organização de segurança inadequada 1
para os trabalhadores, não somente daqueles
Procedimentos de segurança pré-determinados 4
terceirizados nas atividades de manutenção,
não observados
mas também para o conjunto dos trabalhado-
Procedimentos insuficientes/obscuros 25
res das plataformas, frente aos riscos de aci-
Operação 4
dentes ampliados.
Manutenção 12
O fato de a maioria dos trabalhadores aci-
Testes, autorizações, inspeção ou calibração 3
dentados serem terceirizados expressa a ten-
Permissões de trabalho 4
dência mundial de constituírem de dois terços
Armazenamento de material 1
a três quartos do total da mão de obra empre-
Não definido 1
gada nas plataformas. Como estratégia geren-
Supervisão insuficiente 5
cial, tem como principal objetivo a redução de
Treinamento insuficiente do operador 3
custos operacionais fixos mediante a redução
Subcontratados 21
do efetivo de trabalhadores diretos com inten-
Instalações de segurança insuficientes 4
sificação do seu trabalho e exigência de poliva-
Inadequacidade do projeto 24 26,1% lência e da contratação de mão-obra precariza-
Aplicação de códigos/práticas não sustentáveis 7 da em seus direitos sociais, com salários mais
para o processo baixos e, na maioria dos casos, desqualificada,
Processo analisado inadequadamente do ponto 7 de modo a possibilitar a maximização dos lu-
de vista da segurança de modo que perigos cros financeiros (OIT, 1993). Esta estratégia ge-
não tenham sido identificados
rencial tem implicações diretas na organização
Erro de projeto 9
do trabalho nas plataformas, que são normal-
Falha na aplicação de princípios ergonômicos 1
no projeto da interface homem-máquina
mente caracterizadas por uma ampla diversi-
dade de atividades, passando a incluir também
Procedimentos apropriados não seguidos 4 4,3% uma multiplicidade de empresas e de gestão
Procedimentos relacionados à manutenção 2 do trabalho envolvendo um grande número de
Procedimentos relacionamentos a testes, a autorizações, 2 trabalhadores em regime de subcontratação;
à inspeção ou à calibração trabalhadores que atuam no ambiente confi-
nado das plataformas, tendo de mudar conti-
Total1 92 100%
nuamente de local e de atividade de trabalho
1 O número total de causas subjacentes é maior que o número total de incidentes/ (Sutherland, 1991).
acidentes devido ao fato de para vários acidentes terem sido identificadas mais Toda a organização do trabalho e o geren-
de uma causa.
ciamento da produção e dos riscos nas plata-
formas da Bacia de Campos têm sido direcio-
nados para o aumento da produção e dos lu-
mais da metade diretamente referentes à ope- cros, por meio da ampliação do volume de ope-
ração de poços. Este índice é preocupante, já rações, de instalações e de suas interligações,
que a operação de poços é a atividade mais crí- com a utilização intensiva e simultânea de ins-
tica em termos da produção em uma platafor- talações. Muitas destas operam nos limites de
ma de petróleo e que se encontra relacionada sua capacidade instalada e vida útil, o que en-
com a possível ocorrência de eventos catastró- volve milhares de trabalhadores, tendo como
ficos que ameaçam simultaneamente a integri- resultado o potencial de ampliação e agrava-
dade estrutural da instalação e a vida dos tra- mento dos riscos à saúde e à vida dos mesmos.
balhadores. Os dos dois acidentes mais graves Para os trabalhadores diretos, os riscos se am-
ocorridos no Brasil, ambos na Plataforma de pliam e se agravam por meio de uma maior
Enchova (1984 e 1988), tiveram como evento carga de trabalho e desgaste resultantes da re-
inicial blow-outs (erupções descontroladas) de dução do efetivo, além da exigência da poliva-
poços de produção. lência. Para os trabalhadores terceirizados, os
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