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Prof. Dr. Juarez Citino dos Santos sidade Federal do Parana DIREITO PENAL Parte Geral 2 edigio revista ¢ ampliada LUMENAJURIS ICPC 2007 CapiTuLo 6 ‘TEoRIA DA AcAo I. Introdugao Meio século de controvérsia dos modelos causal ¢ final sobre 0 conceito de agio nio conseguiu reduzir a discussie da matéria. Ao contratio, com 0 surgimento de outras definicdes de aco, qualquer consenso sobre o tema parece mais distante do que nunca: 0 modelo social de ago, uma espécie de tentativa de conciliagio dos modelos causal e final, define agio como comportamento humano socialnente relevante; 0 modelo negativo de agio define ag%0 como néo evitagio do comportamento ptoibido; o modelo passoal de acio define agio como manifestagia da personalidade humana. B,existem, também, o modelo lég «o-analttico, que define ago como emprego de regras da experiéncia, da logica, da linguagem etc.,! ¢ 0 modelo de ago intencional, que a define como atuacio decisiva para o acontecimento®— cujo interesse cientifico, ainda restrito aos respectivos autores, patece nao exigit imediata to- mada de posiso. Considerando que aqueles modelos estio vivos na doutsina e na jurisprudéncia contemporineas, estruturando diferentes sistemas de fato puntvel, com solucées, as vezes, divergentes, é neces- sitio descrever a controvérsia entre as diferentes definigdes do concei- to de aco, bem como mostrar a importincia tedtica e pratica do con- ceito de ago para compreensio e aplicagio do Direito Penal. Vee HRUSCHKA, Sionkinror dor Zarechnung, 1976, p. 13; do meseno, Safire such legirvanabrticber Method, 1988. 2 KINDHAUSER, Inentoncle Handang, 1980, p. 202 Parsuma exposigio critica de alguns esses modelos, ver TAVARES, Arcontonisas 00 tor dos eines emia, 1996, p. 13-50 ‘Teoria de Fato Punteel Copiinlo 6 II. Definigoes do conceito de agéo 1. Modelo causal de agao A teoria causal da ago, elaborada basicamente por LISZT, BE- LING e RADBRUCH ~ 0s fundadotes do sistema eléssi¢o de fato pu- nivel, uma construgio tedrica estraturada com base nas categorias entificas do mecanicismo do século XIX -, define agio como produ- cao causal de um resultado de modificapao no mundo exterior,’ hoje conhecico como modelo aléssico de agio. O modelo causal de acio possui estrutura exclusivamente objeti- va: a a¢io humana, mutilada da vontade consciente do autor, determi- ‘aria 0 tesultado como uma forma sem conteddo, ow um fastasma sem sangue, confotme a expressio do proprio BELING; a voluntariedade da agio indicaria, apenas, auséncia de coagio fisica absoluta; o resultado de modificagio no mundo exterior seria elemento constitutive do concei- to —e, assim, niio existiria ago sem resultado. Como afirmatia, mais tarde, WELZEL, a teotia causal da agio desconhece a funpZo constitutiva da vontade dirigente da ago e, por isso, transforma a acio em simples _processo causal desencadeado pot um ato de vontade qualquer © modelo dléssico de ago estrutura o sistema elisieo de crime, baseado na separago entre processo causal exterior (causagio do re- sultado) ¢ relagao psfquica do autor com o resultado (conteddo da + LISZ:T, Singfebt, 1891, p. 128. 5 Nesse sentido, WELZEL, Das Densche Sirf, 1969, §8, 1112, p. 39-42; ROXIN, Sirafrecb, 1997, §8, n. 10-16, p. 187-189. “ WELZEL, Das Dentche Sinaect, 1969, 68, 12, p. 40. No Brasil, vera crtica de MESTIERI, Manca de Dirato Penal, 199, p. 111-112; ambém, ZAPFARONI/ PIERANGELL, Marna do Dirato Peval brake, 1997, 0, 203-204, p. 421-427 Capital 6 Teoria da Aga vontade, sob as formas de dolo ¢ imprudéncia), que fundamenta a concentragio dos elementos caasais/objetivas na antijuridicidade tipica, e dos elementos psiquicas/subjetivos na culpabilidade.” O sistema eléssca de ctime se desintegra, progressivamente, a partir de descobertas cien- tificas que zevelam conteadigdes metodoldgicas insandveis: a) na teotia do tipo, a vetificagio da necessidade do dolo para catacterizat a tenta- tiva de qualquer crime doloso — se presente na tentativa, niio pode desaparecet no fato consumado ~, mostra que o tipo de conduta proi- bida nfo contém, exclusivamente, elementos objetivos; b) na teoria da antijuridicidade, a descoberta dos elementos subjetives do injusto (hoje, ele mentos subjetivos especiais do tipo e da culpabilidade, como intengdes, ten- dincias.e atitudes especiai), revela a existéncia de uma dimensio subjetiva na ftea do injusto, entio reservada aos elementos objetivos; ¢) na teo- tia da culpabilidade, a verificagio de que a imprudéncia inconsciente so contém elementos psiquicos mostra um defeito da definigio de culpabilidade como relagio psiquica do autor com o fato, proprio do conceito pricolfgico de culpabilidade da teoria causal.® A desintegracio do sistema eléssca de fato punivel do modelo causal de agio originow o atual sistema neo-ldssica de Fato punivel? um produto da reorganizagio teleolégica do modelo ransa/ de acio segun- do fins € valores do Dieeito Penal 0 conceito de apo deixa de ser ape- nas naiuralista para ser, também, normatio, redefinido como comporta- mento bumano voluntérios" a tipieidade perde a natureza lore-de-valor pare incluir elementos normativos, como documento, motivo torpe etc, € ele- mentos subjetivos, como a intengio de apropriagio no furto ¢, até mes- 7 Vee TAVARES, Teorae do debt, 1980, n, 22, p. 20. * Ver WELZEL, Dar Deutsche Strafect, 1969, §8, 111 2, p. 39-40. ° ROXIN, Sérghecbs, 1997, 67, IIL, 14-15, p. 151-2, JESCHECK/WEIGEND, Lelriuch des Stafiehts, 1996, 622, II, p. 204-208. No ver TAVARES, Tur 42-45, p. 42-43, 8 Assim, MEZGER, Modarne afetsdegaai’s, 1950, p. 12. ‘Teavia do Fato Punioel Capita 6 mo, 0 dolo na tentativa;! a antijuridicidade indica nfio apenas a infragio formal da norma juridica, mas o significado material de dano social, admitindo graduacio do injusto conforme o valor lesionado;! a cuipa- bilidade, sensivel a juizos de valor, se estrutura como conceito paicolé co-normativo, com a teprovagio do autor pela formagiio de vontade contritia ao dever: somente comportamentos teprovaveis podem set atribuidos & culpabilidade do autor." O sistema neo-lassic de fato punivel esta presente em comentii- 08 famosos da legislagao penal, como DREHER-TRONDLE," ou em autores modernos como NAUCKE, por exemplo, ¢ na jurispru- déncia dominante dos tribunais alemies, com resultados muito seme- Ihantes aos dos demais modelos — 0 que parece demonstrat que niio existiriam métodos certos ou errados, apenas métodos melhotes ou piores. 2. Modelo final de ago A teoria final da agio, desenvolvida por WELZEL com contti- buigdes de MAURACH-ZIPF,” ARMIN KAUFMANN, "® STRA- "Na base dessus mudanges estio os tabalhos de FISCHER, Die Recisuidhighsit ‘nit berondeverBevicksichtgnng des Privarects,19U1, p. 138; HEGLER, Die Merkmal ches Verbrechens, ZW 36 (1915) p. 27; MEZGER, Die subjektven Unrectslemert, GS 89 (1924), p, 207. "3 Ver JESCHECK/WEIGEND, Lebrbuch des Strafiedts, 1996, §22, IT ¢, p. 206- 207. \* Assim, FRANK, Uber den Aufbau des Sebulibegriff, 1907, p. 11. No Brasil, ver TAVARES, Teoria do deli, 1980, 0. 48, p. A546, ® DREHER-TRONDLE, Sirafisetzbuch und Nebengesetge, 1995. “ NAUCKE, Singfect, eine einfidrang, 2000, 0, 151-161, p. 258-261 " MAURACHY/ZIPR, Singfech I, 1992, §16, a. 38-42, p. 201-203. ARMIN KAUPMANN, Zia Staud der Labre vow Peronalon Unrei, WelzclPS, 1974, p. 393. | | Capitulo 6 Teoria da Ago TENWERTH,” HIRSCH” ¢ outros, surge como ctitica a0 modelo causal ¢ define ago como realizacio de atividade final: o saber causal, adquitido pela experiéacia e preservado como ciéncia, fandamenta a capacidade humana de prever as conseqiiéncias posstveis da agio, de propor diferentes fins ¢ de ditigir planificadamente a atividade para realizagéo do fim. Assim, na formulagio classica de WELZEL?" ‘Agito bamana é exercicio de atividade final. Aga 6, par iss, cacontecimento final, no meramente causal. A finalidade 1 0 sentido final da ago se baseia na poder bummana de prever, em deteminadas limites, por forga de seu saber causal, os poss- eis efeitos de sua atividads, propor-se diferentes fins e digi, Planificadamente, sna atividade para realixario deste fins (6) Porque a finalidade se baseia na capacidade da untae cde prever, em determinados limites, as conseqiténcias da inter vengio causal, e através desta, dirig-ta planificadamente para «a realizagio do fir, a wontade consciente do fi, que dirige 0 cacontecer causal, é a espinha dorsal da ago final.” © ponto de partida do modelo final de acio é a disting&o entre Sato natural e agio bumana: 0 fato natural 6 fendmeno determinado pela causalidade, um produto meciinico de relagdes causais cepas; 2 ago humana é acontecimento dirigido pela vontade consciente do fim.” Na ago humana, a vontade a enetgia produtora da ago, enquanto conscigncia do fim é sua direcZo inteligente: a finalidade ditige a causa- ° STRATENWERTH, Strgfect T, 1981, n. 140. HIRSCH, Der Streit am Handlngs- und Unvediebre, 258 93 (1981), p. 831. 3 WELZEL, Dar Densce Strarect, 1969, §8, I, p. 33-34. No Brasil, ver a excelente Aesctigio clo desenvolvimento do modelo final de agio, em TAVARES, Terias do dilito, 1980, n. 57-64, p. 52-60. 2 Assim, MAURACHY/ZIPE, 1992, Sirafiedt 1, §16, n. 41, p. 202; WELZEL, Dat Duinhe Sirafncht, 1969, §8, 1, p. 34 ‘Teoria do Fato Priel Capitals 6 lidade para configurar o futuro conforme o plano do autor. Na teoria de WELZEL a vontade consciente do fim ¢ a espinha dorsal da agio,” enquanto 0 acontecinento causalé a resultante casualde componentes cau sais preexistentes. 4 finalidade 6, por isso— figurativaments falando— viden- te, a causalidade, cega.™ ‘A unidade subjetiva ¢ objetiva da ago humana é 0 fundamento real da esteutura subjetiva ¢ objetiva do tipo de injusto. A homogenia entre teoria da apd ¢ teoria da apie tpica (agio concreta adequada a um tipo legal, pottanto, substantive adjetivado) € um dos méritos do modelo final de agio. No ambito da ago, a dimensio subjetiva da ago (ou projeto de realizarie), cujs expinka dorsal € 2 vontade consciente do fim, compreende: 1) a proposigio do fim, como conteiido principal da vontade cons- ciente, que unifica e estrutura a ago (no tipo subjetivo, constitu 0 dolo dircto de primeiro grav); 2) a solego das maios de ago para realizar ofim, determainados regres- sivamente pela natuteza do fim proposto (no tipo subjetivo, integram 0 dolo diteto de segundo grau, se configuram resultados tipicos). Como a utilizagio dos meios escolhidos pode determinat omtras efeitos diversos do fim, surge 0 problema da relagio desses efeitos colaterais ou secundérios com a ago: objetivamente, em relagio 4 natute- za dos meios, os efeitos colaterais podem set asvessérias ow possives; sub- jetivamente, em telagao & vontade consciente do autor, os efeitos cola- terais podem ser (a) inclufdos na vontade consciente, (b) incluidos na consciéncia, mas excluidos da vontade, ou (c) excluidos da consciéncia Ver WELZEL, Das Dentsebe Strafrcht, 1969, §8, 1, p. 34; MAURACH/ZIPR, 1992, Sirafrecht T, §16, «. 41, p. 202, * WELZEL, Das Deutsche Copte6 Tia da Ago da vontade. Assim, a dimensio subjetiva da agio compteende, se- cundariamente: 3) a representagao dos efeitos colaterais necessitios ow possiveis liga- dos causalmente aos meios selecionados: 0 autor pode dirigir a agio pata inci ou para exeluiresses efeitos colaterais, conforme as seguin- tes alternativas: 2) 08 efeitos colaterais representados como neressdrios integram a vontade consciente do autot, ainda que lastimados ou indesejados: se 6 autor of representa como necessirios e realiza a acto, integram sua vontade consciente ¢, conseqiientemente, a ago (no tipo subjetivo constituem, também, dolo direto de segundo grau); b) os efeitos colaterais representados como posiveis integram:a conscigncia do autor, mas dependem da atitude pessoal deste para inte- grarem, também, a vontade: 1) se 0 autor consente na produgio dos efeitos colaterais representados como possiveis (conforma-se ou concorda com eles), entio, eventualmente, esses efeitos intgram também 2 vonta- de do autor e, por extensio, a ago como acontecimento final (ao tipo subjetivo, constituem dolo eventual, também chamado dolo condicio- nado); 2) se 0 autor ndo consente na produgio desses efeitos colaterais, representados como possiveis (ndo se conforma ow nao concorda com eles), mas, a0 contritio, canfia em sua niio-ocorréncia, ou espera, honestamen- te, poder enti-las pelo modo concreto de execucio da ago, entio esses efeitos nao integram a vontade do autor, nem a aio como fendmeno estruturado pela finalidade (podem ser atribufdos ao autor como im- prudéncia consciente, se existir 0 tipo respective); 3) enfim, efeitos colaterais necessarios ou possivels ndo-representados pelo sujcito néo po- dem integrar nenhuma vontade consciente do autor ¢, assim, estiio ex- cluidos da ago como realizacio do propésito (podem set atribuidos 0 autor como imprudéncia inconsciente, se existir 0 tipo respective). Por outro lado, a dimensio objetiva da agio (ou realizagio do pro- _jetd) vepresenta sua materializagio no mundo real, com a utilizagio dos far o fim proposto, mediatizada pela meios selecionados pata rei Teoria do Fato Punivel Capitulo 6 tepresentagio (ou nfo) dos efeitos colaterais necessitios ou possiveis® (constitui a matéria do tipo objetivo). A teotia final da agio contribuiu, decisivamente, para identifica 0 fiindamento psicossomatica do conceito de crime: a unidade subjetiva e objetiva da aco humana, qualificada pelos atributos axiolégicos da tipicidade, da antijutidicidade e da culpabilidade, como base teal do conceito de fato puntvel. Além disso, a estrutura final da ago seria pressuposta na fingdo atribuida As normas penais, que se ditigem & von- tade humana como proibigdes ou como determinayées de agao: a estrutura _final da ago humana setia consttutiva pata o Direito Penal, cujas praibi- fies ou mandados no se ditigem a processos causais cégos, mas a agdes humanas que configuram finalisticamente o futuro. A validade dessa tese parece reconhecida por setores significati- vos da doutrina moderna, MAURACH/ZIPF definem a estrutura fi- nal da ago humana como 0 componente antropoldgico da responsa- bilidade penal?” EBERT destaca a concordancia entre 0 conceito final de ago e a fingao das normas penais, como prozbiptes € determinayies de aco ditigidas & vontade humana, actescentando que a inclusio do contei- do da vontade no conceito de agéo permite compreendet o seu significa- do como afiio tipica e como agéo injusta® Por diltimo, a critica de quc © modelo final — cuja capacidade explicativa da aco dolosa é amplamente reconhecida — tetia dificulda- des para explicat a agio imprudente e a omissiio de agio,® é incon- sistente. A apdo impridente & definivel como exeeugao defeituosa de uma ® Assim, WELZEL, Das Deusohe Stich, 1969, §8, 1, p. 34-35. % Assim, WELZEL, Das Devtsle Strafiely, 1969, §8, 11, p. 37. 2 MAURACH/ZIPE, 1992, Sing I, §16, a. 48, p. 205. 2 EBERT, Singheds, 1994, p. 22:3. * esse sentido, a ctftica de JESCHECK/WEIGEND, 1 ebrineh des Strafiehts, 1996, §23, IIL, 2b, p. 2215 eambém, ROXIN, Singers, 1994, §8, n. 18.23, p. 185-188, Capitulo 6 : avin da Aga ago perigosa, ou como execugio de uma agio defituasa (a aco deveria ser tealizada de modo diferente): 0 defeito da afao (final) reside no ‘modo conereto de sua tealizagio, lesivo do cuidado objetivo exigido ou do risco permitido em ages socialmente perigosas, porque 0 autor confia na evitagiio de conseqiiéncias sociais indesejiveis, ou sirmples mente nfo pensa nelas.» A amis de ago, ao conttatio da ago dolosa (que nio deveria ter sido realizada) ou da aco imprudente (que nio deveria ser tealizada daquele modo), deve ser perisada a partir do con- ceito de aro mandada, como acontecimento social construido pela fina- Aidade de proteger bens jutidicos em situagio de perigo: a inexecugao da agio mandada por um sujeito capaz de agir para impedir 0 resulta- do € proteger o bein juridico caracteriza a omissio de aco, Nessa perspectiva, a teoria final da ago permite compreender as aces dolo- sas como execugio de aries proibidas, as ages imprudentes como exe- cugio deftitwasa de agio perigosa ¢ a omissao de ago como inexecugio de apdo mandada, dolosa ou imprudente." 3. Modelo social de ago A teoria serial da agio, fundada por EBERHARD SCHMIDT e desenvolvida por JESCHECK e WESSELS, entre outros, representa posi¢io de compromisso entre os modelos cassal ¢ final de agio ¢, talvez por causa disso, parece ser a mais difundida teoria da agio hu- mana ~ assim como patece ser, também, o modelo com maiores pro- % Ver MAURACHY/ZIPR, Srgfect I, 1992, §16, 9. 40-81, n, 202; WELZBL, Dar Deatscbe Sirafreht, 1969, §8, Il, p. 37-38 e §18, p. 129 s No Brasil, ver ZAFEA- RONI/PIERANGELI, Manual de Diveto Poual brasiire, 1997, 0. 201, p. 421 Ver WELZEL, Das Dauische Siraelt, 1969, §8, Ul, p. 38. No Brasil, também , CIRINO DOS SANTOS, Teoria do Crime, 1993, p. 41-42; MESTIERI, ‘Manual de Direito Penal 1, 1999, p. 113; ZAPFARONI/PIERANGELI, Manwal de Dirite Penal bsitcre, 1997, n, 202, p. 422. ‘Teoria do Kato Panivel Capitulo 6 blemas de definicio de conceitos ¢ de uniformizacio de linguagem. Nesse sentido, HAPT destaca a miltipla diversidade de definigdes do conceito sosial de agio, ora apresentada como fendmeno social, ora como comportamento humano socialnente relevante, sem esclarecer, imediata- social da agio;” essa relativa imprecisio do conceito parece inevitavel, porque as teorias soviais da ago setiam teorias conciliadoras, que no excluem, mas incluem as teorias causal e final da agio™ mente, em que consiste o fenémeno social ow a relevin: Nio é estranhivel que as énfases recaiam, variavelmente, em pé- los diferentes desse conceito difuso, com resultados, as vezes, diver: gentes, como observa EBERT: a teoria social da aciio seria uma molda- ra preenchivel, is vezes, pelo conceito causal de aio, como cansapio de Essa caracteristica permanece em definigdes atuais, com 0 acen- to sobre 0 componente finaldo conceito, qualificado pela relevéncia so dialda agio, como WESSELS/BEULKE, por exemplo: a agio consti- tui comportamento socialmente relevante dominado ou domindvel pela von- Jade humana ~ um fator formador de sentido da realidade social, com TAVARES, Teoriar do delito, 1980, n. 100, p. 92, modelo. > HABT, Strafactt, 1994, p. 31: “A teoria social da ago & hot, defendida por numer os antores, com nfases diferencias, elas quais estan mnitas deinigbes pareidas, gral rte nda rite coprensocis, nas ats a age, por exenpl,& definida como fenmeno social na sua producto de efeitos dentro da realidade social (Eb. Sebm con comportamento bumano socialmente releoante (eschck), pear quis neo se silertce insdiatamente 0 que se deve entender por fendmeno social ow por televincia social. A coisa fica mais clara quando se comprcnde que ar teoiassoiis da ag so tors comida que, en concuta, nao eeche, sas incon as terias causal final de epdo ete esfrs de media resulta ineitéel towa eta sprecto de con -ava os problemas.do to 6 Teavia la Ago todos os seus aspectos pessonis, finais, causuis € normativos:® Pot outeo Jado, JESCHECK/WEIGEND mostram como 0 modelo social de ago se otigina da busca de um conceito unitério superior compreensivo da agio € da omissio de agio, que nao setiam formas estruturalmente diferentes," nem formas equivalentes do comportamento humano:” “as formas em que se realiza o intercdebio do bomem comm seu meio (finalidade no atuar positive ¢ dirigibilidade na omissaio. de ago) nai sao unificiveis ao nivel ontoligia, porque a onis- so mesma néo é final, pois o enprego esperado da finalidade ‘nao ecciste nela, Agia ¢ omissio de agio podem, contudo, ser compreendidas ers una conceto de agao unitario, se conseguir. ‘10s encontrar um ponto de vista valorativn superior, que unifi- que no dmbito normativo elementos név-unificéveis no dmbito do ser. Esta sintese deve ser procurada na telagio do com- portamento humano com seu meio. Este é0 sentido do conceito social de ago. Agdo é comportamento huma- no de relevdncia social,”* Conceitualmente, o atributo da relewinda social introduzido pelo modelo social de acio nao integra a tealidade descritivel pela observa- ho sensorial: é uma qualidade da acho atsibuivel por juigo de walor px6- ptio dos conceitos axiolégicos que qualificam a aco como crime —e, tesponsivel pela selegio de agi € de omissies de apo no tipo legal, Como esclarece ROXIN, 0 conceito de releinda social designa, apenas, uma 2% WESSELS/BRULKE, Sirect, 1998, n. 91, p. 24.25 € n. 93, p. 26. No Bras TAVARES, As contrvésias om tran dos erimes anzsivos, 1996, p30. % Assim, RADBRUCH, Der Handlanybepif in seiner Bedeutung fr das Strafrebisy zeae, 1904, p, 131 2 Nesse sentido, BAUMAN/WEBLR, Sich, 1985, p. 1915 també MEZGER, 996, §23, VI, p. 223. ‘eoria do Fito Pinte Capt 6 propritdade necessisia para valorat o ijisto, pore existsiem ages s0- dalmente releuantes ¢ ages socialmente nZo-rlenantes, 01 Se) 8 relevincia soda & uma propriedads que 2 aio pode fer ow pode nao fre, susen'® Fy propriedade, nao departs a agio, mas somente sua signifcagao social.” afim, no obstante juizos complacentes de que a impreasde do conceito sel de agio devetia sr flerada,® ou juizos exticas de qe 0 coneeito social de ago, ainda nfo esté claramente delineado como 0% conceitos causal final de aco," alguns autores ~ como, POF exemplo, EBERT - so mais incisivos, afirmando a existéncia de somente dois sistemas de fato punivel: o sistema causal ¢ o sistema final, pordve © conceito social de ago nao desenvolveu um sistema prOpHo. vinculan- Sense ona com o sisterna cans, orn com o sistema final Seja como fou a tnica diferenga entre os conceitos sale final de acho ~ pelo toe em relagio 3s definigdes formuladas por JESCHECK/WEI- GEND e por WESSELS/BEULKE, talvez 05 mals prestigiados re- presentantes da teoria soa da ago, na atuaidade fica por conta Gaquela acibatda rena socal, uma catscteristicn normnabva busca- dja para construir um conceito superior unitio compteensivo daacio sch omissio de ago, Na verdade, nfo existe nenhuma tazio cientifica para tejetar 0 modelo soal ce ago, ‘as mesmas categorias venceituais e adota 08 mesmos prineipios metodologicos do modelo final de ago pata construir 0 conceito de fato punivel as teotias social egal de acio nio diferem em relacio & natuteza ¢ 3 ordenagio dos cementos conceitvais do fato puntvel, especialmente em selagio apo- sigio do dolo ¢ da imprudéncia no tipo de injusto. “ F ROXIN, Siac, 1997, $8, n. 32, p. 196, No Brasil, vera cn de ZAPFARO- RA/PIERANGELS, Manel de Druto Pnel baste, 1997, % 206, $29. Nesse sentido, HAFT, Sirafiteht, 1994, p. 32-33. fice, 1995, 0. 240, p. 250. 1998 1 24, ‘Troria des Agao 4. Modclo negativo de ago ‘A teotia negative de aco, elaborada pincipalmente pot HERZ. BERG" ¢ BEHRENDT' — e cuja aplicacio sistemética ma notivel parece sera obra de HARRO OTTO“ integra acategoria da apéona categoria do fpo, excluindo qualques definigso ontolégica ou pré-jurh dica do conceito de acio. © modelo negativo de aco tem como niicleo fandamental o prin- dipio da eitabildade, segundo 0 qual wm resultado é atribuivel ao autor se.0 diteito ordena sua evitagio € 0 autor nao 0 evi cembora possa evita Jo” Comportamentos penalmente relevantes Si0 comportamentos acessiveis & diregio da vontade, definides como evitével ndo-evitasiio do resultado nd posigao de garantidor,* ou como omissio da contradirepao man- vlada® ern que 0 autor sealiza 0 ue no deve realizar, ov io realiza 0 que deve realizar. Fondamento do conceito negativo de acio € a possibilidade de divegio da vontade em compostamentos contrries a0 devr sociaimente Gunosos: 0 autor deve tera possibilidade de cumpiit o dever, median- te mito do comportamento proibido, por aso ou omissio de agio, tou aeja, deve ter © poder de influir sobre o carso causal concketo de- terminante do resultado.” A possibilidade de evitar 0 ‘comportamento proibido constituiria © pressuposto da cbrigatoriadade da norma penal, _—_ WT HERZBERG, Din Cvs in Street wd das Garter, 97 6 BBHRENDT, Die Unerlasung im Stfectt, 1979. 46 OYTO, Gonna Strict, 1996, WV, n 32-42, p. 4851. 8 QREIRS, Dae Momeni nad lent sineQua-no-Forel i 50 1968, p. 36 1 HOREBERG, Die Unarleing in Siege nd dar Garantie, 7s 174 © BEHREND®, Die Untedaseeng ion Stafect, 1979, p- 143. S8 Yer OTTO, Grandia Srfireht, 1996, $5, m. 39-40, p. 50. Toor do Fato Panioel Capitale 6 independente de ser norma de proibipio ow norma de comando:" acho e omissio de agio no seriam conceitos pré-tipicos, elaborados por uma teoria pré-juridica ou ontolégica da acio, mas conceitos pertencentes 10 tipo de injusto. © ponto de partida do conceito negativo de aco, por- tanto, setia o exame da agio dentro do Apo de injusta, pata saber se © autor teria a possibilidade de influenciar 0 carso causal concreto condu- cente ao resultado, mediante conduta dirigida pela vontade. Do ponto de vista tedtico, o modelo negativo de aco inverte 0 inal da categoria pasitiva da agio ~na verdade, substituida pela catego- ria negativa da evitavel nio-evitagio — e, do ponto de vista metodolbgi- co, 0 modelo negativo de ago desloca a discussio de questdes especi- ficas do conceito pté-jurfdico de apo para a categoria jutidica da ago ‘ipicaconcreta, Essas inovagées parecem criticaveis: conceitualmente, a existéncia da ago humana independe da existéncia do tipo legal; meto- dologicamente, € desaconselhvel congestionat a érea complexa do tipo legal com problemas ou questdes de natureza extra-tipica. Uma vatiante pricanalitia do modelo proposta por BEHRENDT,? telaciona o conceito da enidével ndo-enitagao do resultado com as manife Jogbes da destrutividads humana, que exprimem as pulsécs instintivas do id sem o controle do syperiga. Nao obstante a honestidade de propésitos, parece impr6prio reduzir os conceitos fundamentais da psicandlise aos limites funcionais do conceito de ago (ou de agi tipica): as categorias psicanaliticas contém um potencial te6rico-explicativo de natureza cti- minol6gica que transcende os limites do conceito de agio (ou de ago tipica), para tentar apreender o sentido conereto das ages humanas na plenitude do significado incorporado por todos 08 atributos do con- ceito de crime, 8 Assim, OTTO, Grundkur Siraivelt, 1996, §5, n. 39, p. 50. 2 OTTO, Grundéurs Staines, 1996, §5, n. 40, p. 50. * BEHRENDT, Die Unterlssany in Straps, 1979, 132 Capit 6 Teoria da Aga Em conclusio, o principio da evtabitidade que fundamenta 0 con ceito megativo de aco, integta todas as categorias do conceito de crime constituindo, portanto, um prinefpio gera/ de attibuiglo que no pode ser apresentado como caracteristica especfica do conceito de agio.* 5. Modelo pessoal de agao A teoria pessoal de ago, que identifica o substrato material de sistema de fato punivel de ROXIN, define agio como manifestapo de personalidade, um conceito compreensivo de todo acontecimento atri buivel ao centro de arto psiquico-espiniual do homem. A definigio de agic como manifestayao da pervonalidade permitiria excluis, por um lado, to: dos os fenémenos somético-corporais insuscetiveis de controle do 4g ©, portanto, ndo-dominadas ou ndo-daminéveds pela vontade humana: forge fisica absoluta, convulsdes, movimentos reflexos etc,, nfo constituem menifestago da personalidade; por outxo lado, exclui pensamentos ¢ emogdes encertados na esfera psiquico-espiritual do ser humano, por que nio representa manifestacio da personalidade® A agio como manifestagaa da personalidade constitui a mais geral por isso mesmo, a mens especfica definigiio do conceito de ago, capaz de apreender todas as modalidades de objetivages da personalidade — pars usara formula semethante de ARTHUR KAUFMANN® - mas pate- ce excluir o trago humano expecfco que distingue 2 agio de qualquet Ver a critica de ROXIN, Sirgfecht, 1997, §8, n. 40, p. 200, Outros detalhes, "TAVARES, As controvésias em trno dos aries amissves, Rio, 1996, p. 23-26. 5 ROXIN, Sirafect, 1997, §8, 0. 44, p. 202. No Brasil, vet TAVARES, Ar eontrovir sias en loruo ds eines omisives, 1996, ps 21-2. ARTHUR KAUFMANN, Dic anfoegzce Strukine der Handling, Skigze sner perso raten Handingnere, B. Nay 6, p. 79, ‘Teoria do Fato Punivel Capita outro fenémeno natural ou social: a tealizagao do propésito. Em ou- tras palaveas, a manifesagio da perronalidade como meta telagio entre Pensamentos/emogées ¢ acontecimentos exteriores, parece negligen- ciat a natureza constitutive dos atos psiquicos paca a estrutura da ago hu- mana, conhecimento ja incorporado a teoria cientifica da acéo. Além disso, os limites incertos ou difusos do conccito de personalidade” no permitem atribuir todos os fendmenos definiveis como suas ma- nifestagdes ao controle do ego a instncia perceptiva-consciente que controla o movimento confotmne exigéncias do sxperego ~, porque pul- sdes instintuais reprimidas do d podem assaltar o ego sob 2 forma de obsessées, fobias e, mesmo, atos falhos ou sintomaticos, que sio max nifestagdes da personalidade independentes de controle do ¢goe in. diferentes as conveniéncias do syperego,® na dinimica das telagdes entre 08 segmentos do aparelho psiquico que constituem a petsonalidade hurmana.® Em suma, nem a personalidade, cujas manifestagdes cons- tituem ago, se teduz ao ego, nem todas as manifestagées attibuiveis 4 petsonalidade “est2o ob controle do ego, a instncia de governa poiquicorepi- ritual do homen”® como afitma ROXIN. Nio obstante, é necessario reconhecer a simplicidade da definicho de acio como manifestagio da personalidad, bem como a eqpacidade dessa definigio para executar as fungdes atribuidas ao conceito de ago em face do conceito de fato punivel. 8 Vee BYSENCK, Chine and Personal, 1971, p. 19. % Nesse sentido, FREUD, luibies, sintonas ¢ ansiedade, 196, IMAGO, vol. XX, p. 95.200. “Ver FREUD, 0 Fg ¢ 0 ld, 1976, IMAGO, vol. XIX, p. 23-83. ROXIN, Sénjra, 1997, §8, TH 1,1, 44, . 202 Coptulo 6 Teoria da Ago ILL. Fungies do conceito de agéo © conceito de ago tealiza, no sistema de fato punivel, fungoes tedticas, metodoligicas e praticas de unificagio, de fundamentagio € de delimitagao das aces humanas, que nfo podem ser cumptidas no fimbito das categorias constitutivas do conceito de crime. 1. A fungio tedtica de unificagao do conceito de acio refere-se a sua capacidade de compreender a agio e a omissio de aco, sob as formas dolosa e iniprudente, como espécies de comportamentos humdnos, Em geral, 0 conceito de condita é empregado como género de ajdo e de omissio de agéo, dolosa e imprudente, mas esse conceito superior — cuja busca engendrou o conceito sacial de acio, por exemplo — parece des- necessitio: a ajo tealizada ou omitida é 0 nacleo pasitiv ou negativo de todos os tipos de ctimes dolosos e imprudentes e, portanto, constitu © objeto material exclusivo da pesquisa juridico-penal. De fato, a pes- quisa no ptocesso penal no tem por objeto verificar a existéncia do géneto condita, mas a realizacio de uma agto proibida ou a omissio de uma ajao mandada, dolosa ou imprudente, 2. A fangio metodolégica de fundamentagio do conceito de ago tefere-se a0 poder de constituir a base psicossomatica real do conceito de crime, como unidade subjetiva e objetiva qualificavel pelos atribu- tos de tipicidade, de antijutidicidade e de culpabilidade. A agéo repre senta a substdncia capaz. de portar os predicadas valorativos do conceito analitico de crime, fundamentando o fato punivel como adagaaydo 20 tipo legal, como contradigao com o conjunto de proibigdes ¢ de permis- sbes do ordenamento jutidico e como objeto de reprovagao de culpabili- dade sobre um sujcito que realiza, sem justificacio, um tipo de crime, com consciéncia real ou possivel da antijuridicidade, em condigdes de ces Strafrechts, 1996, §23, 1 2, p. 219. JESCHECK/WEIGEND, Len Teoria de Fato Punivel _Copttule6 exigibilidade de conduta diversa (ou de normalidade das circunstincias da agio). Desse ponto de vista, a teotia da aco é a chave pata compre- ender a teoria do fato puntvel, como ago dolosa ou imprudente, proi- bida ou mandada, descrita sob as formas positiva ou negativa do tipo legal. 3. A fungio pritica de delimitagao do conceito de agio refere-se as tarefas complementates de inaluir objetivagées da subjetividade huma- ‘na que apresentam os requisitos do conceito de agdo, é de exeuir fend- menos, movimentos ou comportamentos que no apresentam esses tequisitos, como situagSes de auséncia de agdo. Aacio é fendmeno exclusivo de pessoas natutais, independente da idade ou da satide mental, porque capacidade de acéo é atributo natural de seres humanos, inconfundivel com eapacidade de culpabili dade, condigio de responsabilidade penal.“ Conseqiientemente, é im- portante identificar hipdteses que no atingem o status de agio e, por isso, no podem ser acées tipicas. 3.1, Assim, niio constituem agio: a) acontecimentos da natuteza, como terremotos, inundagées, tempestades, desabamentos, raios tes b) ataques de animais ferozes — que podem, contudo, ser usados como instrumentos de agressio; ©) atos de pessoas jutidicas: somente as pessoas naturais, como drgdos reptesentativos das pessoas juridicas, podem realizar ages; ¢) pensamentos, atitudes e emogdes como ates psiquicos sein obje tivagios ©) movimentos do corpo como massa mecinica: estados de invons- eiéncia, como desmaios, delitios ou convulsdes epilépticas (a mie sufo- Ver WESSELS/BEULKE, Sinyjiedr, 1998, n, 94, p. 26-27. Capita 6 Teoria da Ago ca ou lesions o filho na amamentagio, 20 softer desmaio ov convulsio epiléptica); movimentos sob forza fiviea absolute (A empurta B sobre uma vitrine, quebrando-2) — mas nio sob forpa compulsiva, que nio ex- clui a ago, mas permite exculpagio (B quebsa a vitrine sob ameaca sétia de agressio de A) 3.2. A natureza de movimentos reflexos, agdes automatizadas, teagSes instintivas de afeto e ages sob hipnose pode set controvertida. a) Hipétese de movimento rflexo: motorista realiza movimento manual para proteger olho atingido por inseto em curva dé rodovia, perde 0 controle do veiculo e produz. acidente. Ago, segundo a teoria pervoal de agio: movimento de protesio dirigido a finalidade psiquicamente intermediada constitui manifestago da personalidade/” nfio-a¢io, confor- me a teoria final da aco: movimentos reflexos desencadeados por es- timulos sensotiais ou fisiolégicos a partir do sistema nervoso periféri- co, em geral incorporados filogeneticamente como seag6es motoras de defesa ou auto-proteso, sem 0 concurso da vontade consciente do autor, nfo constituem acio, b) Hipétese de apées automatizadas, ou de curto-irenite: motorista de au- tomével, em velocidade aproximada de 90km/b, vé animal do tama- aho de cachorro 10 a 15 metros a frente do vefculo, gira o volante, bate na protecio lateral de cimento e passageito morte, Disposigdes automatizadas aprendidas constituem ago, independente de sua utili- dade ou dano. ©) Hipstese de reagies instintivas de afo: em movimento compulsive, vendedor beija ¢ morde seios de mulher, sibita e involuntariamente expostos préximos 4 sua boca, durante ajuste de medidas de vestido, na loja. A satisfagio de impulsos instintivos de afeto constitui ago segundo qualquer dos modelos. © ROXIN, Sirfiect, 1997, §8, 0. 66, p. 211-212 4 ROXIN, Singivolt, 1997, §B, n. 67, p. 212. ‘Teoria do Fato Pantoel Ceopitn 6 4) Hipétese de artes sob bipnose: cumprindo sugestio hipnética, hipno- tizado tealiza fato definido como ctime. ‘A teoria dominante admite ago, porque o hipnotizado niio pode realizar agdes reprovadas pela censura pessoal,“ mas um segmento respeitivel fala em nio-agio.® IV. Conelusao Considerando as fungdes tedricas, metodolégicas e praticas do conceito de ago, definido causalmente como causagio de resultado ex- terior por comportamento humano voluntatio, finalistcamente como tealizagio de atividade final, socialmente como comportamento social mente relevante dominado ou dominavel pela vontade, negatioamente como evitivel nfio-evitagio na posigio de garantidos e pessoalmente como manifestagao da personalidade, é possivel concluir que a definigzo ca- paz de identificar o trago mais especifico e, 0 mesmo tempo, a carac- teristica mais geral da ago humana, parece set a definicio do modelo final de agio, A definigéo de a¢io como atividade dirigida pelo fim (nobre ou ab- jeto, altruista ou egoista, legal ou ctiminoso) destaca 0 trago que dife- rencia a acio de todos os demais fendmenos humanos ou natatais, ¢ permite delimitar a base real capaz de incoxporar os attibutos axiold- gicos do conceito de crime, como a¢io tipica, antijutidica ¢ culpavel Ao contritio, a exclusio da finalidade, como propésito consciente que unifica.os movimentos particulares em um conjunto significativo, des- wi a especificidade da agio como fendmeno exclusivamente humano. Os critétios da causalidade, da relewdncia social, da evitdvel néo-evitaséo ou JAURACH-2APP, Strfrct, 1992, 16, 0.19, p. 195; tomxém, ROXIN, Siafrect, 1997, 66, 0. 11, ps 214 WESSELS/BEULRI, Smgfiht, 1998, n, 98, p. 27. Capitulo 6 Teoria da Agi da manifestagao da personalidade nfo parecem possuir 0 poder definidor proptio do critério da finalidade, que permite integrar qualquier seciiién- cia de atos isolados na unidade psicossomatica da ago humana. A causakdade & uma lei geral da natureza, a relerdndia soial pode existic ou niio existit na agio, a evtével nio-evitagéo & um né conceitual e a manifista 0 da personalidade parece transcendet os limites do ego, como persona- idade consciente, para incluir fendmenos do id e do superego, dimen- s6es insconscientes da personalidade, cujas manifestagdes definem confi: tos humanos incontroliveis.

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