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Para sair do Brasil foi muito fácil, nem precisei deixar o ônibus. Fiquei
sentadinho no meu lugar, bastou que o motorista apresentasse uma relação
com os nomes dos brasileiros e tudo bem! Somente os estrangeiros precisaram
se apresentar no posto de fronteira de Foz do Iguaçu (se eu fosse o Beira Mar,
ou alguém procurado pela justiça, não teria problemas para deixar o país). Já
na Argentina, a história foi diferente: todos descemos do ônibus (argentinos e
estrangeiros), nos apresentamos no posto de fronteira, passaram todas as
bagagens pelo raio X, pisamos numa espuma molhada para espantar os maus
espíritos (controle sanitário de doenças) e alguns quilômetros à frente, fomos
inspecionados novamente, mas o objetivo neste momento, era procurar drogas.
Após os cães fungarem no nosso cangote, aí sim: bem vindos à terra do
Maradona!
Depois de pensar com calma, achei que a melhor solução seria pegar
um táxi e me hospedar em um hotel. Para os que me conhecem, sabem que
sou um homem simples e por isso pedi para que o motorista me levasse para
um hotel simples (pero no mucho malo). Ele me levou a um hotel duas estrelas,
muito próximo da rodoviária e das atrações do centro da cidade, portanto bem
localizado. Paguei pela corrida 7 pesos (um pouco mais de 5 reais). Se fosse
em São Paulo estaria perdido, dificilmente ocorreria algo semelhante, se
ocorresse, teria que recomendar o taxista para canonização.
O hotel não era lá essas coisas (óbvio), possuía um “estilo dos anos 60”,
pensando bem talvez até tenha sido construído nesta época, mas tinha uma
boa cama e um banheiro limpinho, com uma faixa dizendo: Higienizado. Isso
era tudo que eu precisava e estava bom para os 70 pesos que estava
desembolsando pela hospedagem (quase uns R$60 ou US$23). Depois de
tomar um bom banho, tudo pareceu se normalizar: estava novamente em
férias! Voltei à rodoviária e comprei uma passagem para Bariloche, dois dias à
frente. Para a cidade que desejava inicialmente só existiria passagem para
depois de sete dias e não achei uma boa idéia ficar tanto tempo esperando.
Eram tantos turistas “não latinos” espalhados pela cidade, que alguns
argentinos pensavam que eu era da terra e, de vez em quando, me pediam
alguma informação. Só mesmo quando notavam minha expressão de bocó, é
que percebiam que estavam perdendo tempo. Os que nunca se enganavam
eram os pedintes de rua, que reconheciam minha "ginga brasileira" e me
pediam "uma colaboração" em razoável português. Aqueles que gostam de
competir não precisam ficar preocupados quanto a isso, pois nós brasileiros
ganhamos em número e miserabilidade de pedintes (eles precisam melhorar
muito neste quesito para poderem se comparar a nós).
O ônibus chegou no horário correto, o único problema foi que ele poderia
parar nas plataformas de 44 a 55 e só apareceu um que pertencia à empresa
"Crucero del Sur", o correto seria "Crucero del Norte", mas como o padrão de
cores era o mesmo, resolvi deixar de lado estas pequenas diferenças de
direção e após perguntar, descobri que se tratava do "ônibus prometido". Ele
era um pouco mais velho, mas o padrão de conforto era mesmo (semi leito).
Estava tudo bem no início da viagem, até que comecei a sentir um "calorzinho"
e a coisa começou a incomodar. Quando um ônibus possui (ou deveria possuir)
ar condicionado, as janelas não se abrem e embora esta cidade fique ao sul do
Brasil, o calor que faz por lá em janeiro é digno de uma cidade nordestina.
Sendo assim, estava um verdadeiro forno ambulante e antes de deixarmos a
grande Buenos Aires, encostamos em uma parada "muquifinho" e fizemos uma
troca de ônibus. Foi ótimo. O tempo foi suficiente para dois sorvetes e um
refrigerante bem gelado de “sei lá o quê”, mas que estava muito bom.
O ônibus que chegou era “novinho em folha” (consciência pesada).
Embarcamos, logo já serviram um lanchinho ninja e passaram um filminho
(uma sessão da tarde). Eu já os havia perdoado (na verdade nem fiquei bravo,
para mim tá valendo), mas de repente ouvi um som de lata de cerveja se
abrindo e não era uma “miragem auditiva” (se é que isso existe). SIN, HAY
CERVEZA A BORDO! Estava muito boa! Pode-se dizer tudo dos argentinos,
mas eles sabem agradar. Viva a terra do Maradona!!!!
Neste dia, pela manhã, o tempo estava lindo. – Não vai chover! – Foi o
meu pensamento. Lá pelas 10:00 parecia haver uma possibilidade remota de
chuva. Meia hora depois, quando começamos a caminhar, já estava
chovendo!!! Então tudo isso que relatei (a caminhada) ocorreu debaixo de uma
chuva contínua. No momento em que elas foram à uma loja, fizeram isso para
comprar capas de chuva. A chuva não era forte, mas estava aumentando a
cada momento e já havia me deixado ensopado da cintura para baixo (apesar
da minha capa de chuva).
Voltei a Bariloche pelo mesmo caminho e consegui hotel por mais duas
noites. Fui até a rodoviária para comprar passagens, o destino poderia ser uns
4 lugares diferentes, mas o que mais combinou foi Puerto Iguazú (ao lado de
Foz do Iguaçu).
O dia seguinte foi meu último dia, inteiro, em Bariloche. Decidi pegar o
ônibus para a colônia Suíça, que seria o local onde eu terminaria minha
caminhada (se tivesse conseguido ir até o fim). O tempo estava ótimo e como
pretendia fazer um "dia turistão normal" e não iria caminhar, não estava
levando capa de chuva. No entanto, quando estava no ponto de ônibus,
conheci outras duas argentinas que iam fazer uma trilha: a mesma que eu
deveria terminar. Tá no papo! Nada como conhecer uma trilha nova, em
companhia tão agradável.
Caminhei por três horas com elas, lanchamos juntos, elas prosseguiram
e eu voltei sozinho. Foi fantástico, pela companhia e pela trilha, o único
problema é que na volta começou a chover e fiquei ensopado. Eu estava
calçando aquele que era o meu tênis limpo (era). Dancei! Ao chegar no ponto
de ônibus às 18:00, já tinha umas 40 pessoas esperando. Ele não demorou
nem 5 minutos, mas quando passou estava abarrotado e nem parou no nosso
ponto. Sacanagem! Tivemos que esperar na chuva por outro, sem ter a certeza
de que haveria lugar.
Até aquele momento não estava sentindo frio, mas como havia parado
de caminhar e estava molhado, não deu outra. Em Bariloche, mesmo quando
havia sol, a temperatura era de uns 20ºC, mas o vento não perdoa e sem uma
proteção para ele, a sensação térmica cai bastante. Neste momento não havia
vento, mas era o entardecer e o frio estava começando a incomodar. O pior
nessas horas é pensar em seu quarto de hotel te esperando: limpinho,
quentinho e pago. E você não podendo chegar lá. É de cortar o coração.
Foram 17 dias de viagem, nos quais gastei uns U$600. Levei uma parte
em reais, porém o melhor é comprar cheques de viajem, que além de ser mais
seguro, ainda garantem uma troca mais vantajosa em relação ao dólar em
espécie. Por incrível que pareça, converter seus reais em dólares (cheques de
viagem) para depois convertê-los em pesos, lhe renderá mais (ou pelo menos
ocorreu comigo) do que trocar reais por pesos, diretamente, ou seja, dê a
benção ao Tio Sam, que você sairá ganhando!!!!