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CAPA: Fachada do Colégio dos Jesuitas de Séo Luiz Gonzai Desenho de Luiz Pery Barreira, baseado em fotografias, <<<@£€8£°°o“-“ CAMARA MUNICIPAL DE SAO LUIZ GONZAGA I! MOSTRA DA ARTE MISSIONEIRA — 1983 — PRESIDENTE DA CAMARA: — Ver. Itaner Panerai COMISSAO EXECUTIVA DA Il MOSTRA DA ARTE MISSIONEIRA: — Presidente: Ver. Luiz Cosme Moreira Pinheiro — Vice-Presidente: Dr. Ney Gioda Malgarim — Secretaria: Prof. Neiva Mairesse da Silva — Tesoureiro: Bel. Nelcindo Rodrigues de Oliveira — Coordenador Geral: Dr. José Alberto Pinheiro Vieira DEPARTAMENTO HISTORIGO-CULTURAL: Coordenadora: Prof.4 Anna Olivia do Nascimento — Prof.@ Zélia Maria Martins Amaral — Prof.4 Vera Wolski de Oliveira — Prof. Eni Aratjo Malgarim — Prof.4 Maria Ivone de Avila Oliveira — Prof.# Olga Gongalves de Farias — Ver. José Gomes — Prof. Maria Helena Martins do Amaral — Clarissa Fabricio Frohlich — Prof. Neiva Genro Ojopi PROTOCOLO DE INTENGOES © PODER LEGISLATIVO de Sao Luiz Gonzaga, Rio Grande do Sul, BRASIL, neste ato representado por seu Presidente, Sr. Vereador Luiz Cosme Moreira Pinheiro, ¢ a INTENDENCIA de Posadas, Provincia de Misiones, REPOBLICA ARGENTINA, neste ato representada pelo Sr. Claudio Otafio Vilanova, Secretario Geral da municipalidade de Posa- das, em nome do ilustrissimo Senhor Intendente Arquiteto Omar Orlan- Go Sanchez, 20s vinte dias do més de margo do ano de mil e novecen- fos © oltenfa e um, na sede da Camara de Vereadores de Sao Luiz Gonzaga, CONSIDERANDO ter 0 Poder Legislative Sao-luizense, nos termos da Lei n° 72 de 04/10/80, regulamentada pelo Decreto Legislativo 21, de 16/11/80, instituldo a Mostra da Arte Missioneira, evento de nature- za artisticocultural, que visa incentivar as pesquisas nestas areas; CONSIDERANDO os vinculos histéricos, antropolégicos © geogra- ficos que unem as Miss6es; CONSIDERANDO a natural aproximagao de regides irmas, comun- gando dos mesmos interesses @ 08 beneficios que adviréo para a oul- {ita popular, pelo avivamento das raizes primitivas comuns, pela valori- zagao da arte nativa, pelo estimulo ao estudo dos temas missionoiros, RESOLVEM firmar este PROTOCOLO DE INTENGOES pelo qual: 4} A MOSTRA DA ARTE MISSIONEIRA passara a ser evento ins- tituido também pela INTENDENCIA DE POSADAS, assumindo carater bina- cional, respeitada a legislagao basica que a originou, constituindo-se em elo de unido das Missdes; 2) A MOSTRA realizar-se-4 anualmente, sendo de responsabilida- de do Poder Legislativo Sao-luizense as atividades nos anos impares e da Intendéncia de Posadas as atividades nos anos pares; 3) A MOSTRA objetivara, especialmente, debater, investigar, dt vulgar @ analisar todas as manifestagdes artistico-culturais da regido missioneira; pedagem e alimentagao dos participantes deste evento, oredenclados pela Cémara Municipal de Séo Luiz Gonzaga, Rio Grande do Sul, Brasil, OS JESUITAS E SUA AGAO CIVILIZADORA NO Sao Luiz Gonzaga, 20 de margo de 1981. : RIO GRANDE DO SUL Luiz Cosme Moreira Pinheiro Presidente da Camara de Vereadores Claudio Otafio Vilanova Secretério Geral da Municipalidade de Posadas Monografia elaborada pelas professoras: Anna Olivia do Nascimento Zélia Maria Martins Amaral Vera Wolski de Oliveira Maria Ivone de Avila Oliveira lit So Luiz Gonzaga, Agosto, 1983. SUMARIO INTRODUGAO .. " 1 — Os Jesuitas no Brasil... 43 ll — A Provincia do Paraguai e as Missdes Riograndenses.... 16 Ill — As Missées do Rio Grande do Sul. lV — A Organizagéo Econémica, Politica, Social e Cultural das Missées 57 V — 0 Tratado de Madrid e as Missées Riograndenses... 69 CONSIDERAGGES FINAIS ..... APENDICE Biografias: 4 — Roque Gonzalez .. 2 — Cristévao de Mendonza ... 3 — Antonio Sepp -.. BIBLIOGRAFIA INTRODUCAO A partir dos Governos Gerais, 0s padres da Companhia de Jesus ‘ealizaram, no Brasil, admiravel obra educacional que influiu de ma- jira significativa na ordem sdcio-econdmica da sociedade colonial. A Hist6ria do Brasil destaca o trabalho dos jesuitas, detendo-se specialmente nos padres que atuaram na regio designada a Portugal helo Tratado de Tordesilhas sem, no entanto, dedicar a mesma atengao os jesuftas espanhdis que viram seu trabalho civilizatério interrompi- lo om conseqiiéncia do Tratado de Madrid. Com 0 objetivo de reunir o testemunho de diversos historiado- les © pesquisadores que se dedicaram ao estudo da agio civilizadora dos jesuitas no Rio Grande do Sul, foi elaborado o presente trabalho, iniciando pela agéo da Companhia de Jesus no Brasil. A seguir, 6 en- focada a Provincia do Paraguai, as Missdes Rio-grandenses, analisando las trés ctapas distintas em que se desenvolveu a sua historia para, nalmente, fazer ampla abordagem do Tratado de Madrid @ suas con- soqiiéncias, Pode-se verificar através da obordagem em seus diversos jaspectos que, embora a finalidade precfpua das Missées jesulticas te- nha sido a catequese, houve uma diversidade de métodos adaptados iis circunstancias e aos territérios em que as mesmas foram fundadas. Com a preocupagéio de compilar um trabalho baseado em obras de valor devidamente comprovado mas, muitas vezes, de dificil aquisi- folio, quer pela raridade, quer pelo custo elevado ou por outros moti- Vos, 0 Departamento Histérico-Culiural da I] Mostra da Arte Missionei- ta, evento artistico e cultural de cardter binacional, promovido pela GAmara de Vereadores de Sao Luiz Gonzaga, Estado do Rio Grande do Sul, decidiu elaborar esta pesquisa dando-lhe uma caracteristica essen- ciaimente didatica, sem outra pretenséo que néo a de auxiliar aqueles que desejarem conhecer um pouco da histéria das Missées Rio-granden- ses. I OS JESUITAS NO BRASIL H. G. Wells, escritor inglés ¢ livre-pensador, afirmava que os je- sultas deveriam ser colocados entre os maiores pensadores que o mun- do teve conhecimento, pois impediram a ruina da lgreja Catdlica e ele- varam a educacdo em tal ordem que os protestantes foram obrigados a competir no campo educacional. Loyola, ao fundar a Companhia de Je- sus, entendeu que para que se pudesse, de fato, comandar a ago civi- lizadora, nao bastava que os membros de sua nova ordem fossem bons Glérigos e também dtimos intelectuais. Com esse propésito, fundou de- zenas de escolas destinadas & preparagéo de elementos que efetiva- mente desempenharam as diretrizes tracadas. De fato, o prestigio dos jesuftas como professores era de téo grande importéncia que, no alvo- tecer do século XVI, quatro quintos dos jesultas estavam no magisté jlo e educando grande parte da Europa. Na realidade, nada disso ocorreria se nfo houvesse ordem e dis- ciplina_rigida sem fugir, no entanto, dos métodos_humanistas hala visto a proibigao dos castigos fisicos aos alunos, fato muito comum na 6poca. bentro dessa infloxivel disciplina, os jesuitas transformaram as front ras da Europa partindo para outras partes do mundo onde muito deve- ia ser feito. ‘Até 1549, 0 Brasil era totalmente desconhecido pois, além das [eitorias e das Capitanias ao longo do litoral, nada se sabia em relagéo ‘’ extensdo do territério. Dois obstaculos impediam esse conhecimento: fo Norte, 0 Indio que estava sempre alerta e, a Oeste, a barreira natural da Serra do Mar. Com 0 Governo Geral teve inicio no Brasil uma colonizacao sis- lomética quo, apesar de seus defeitos, colaborou na expansdo © conhe- Cimento do territorio. Com o primelro Governador Geral chegaram a0 Brasil os primoiros jesuitas que, de imediato, comecaram 2 acao civi- Izadora, procurando resolver inicialmente 0 problema da coexisténcia onire Indios e brancos. 1 18 visto que, quando do decreto do TT Ce Sea bultas do Brasil, havia em todo territério 510 membros da Compan is 316 sacerdotes, servindo a 113 residéncias e, . idglo'de S80, Vicente que havia sido fundado por Leonardo Nunes, um Seminario em Belém e um noviciado na Bahia. A fundacao da Provincia Jesuittica no Brasil estava reservada ao) Padre Sim&o Rodrigues, fundador da Provincia em Portugal. No entan, to, devido a uma série de problemas, essa missdo foi entregue ao Pa, dre Manoel da Nébrega, homem de grande cultura e de acao incontes/ tavel. Veio Nébrega em 1549, acompanhando o Governador Geral Tomé de Sousa, com mais cinco padres da Companhia. Para os educadores da Companhia a civilizagéo no seu trabalho pedagégico néio compreendia somente o ensino mas, ESprer aa) eyed 40 integral, ponto que coincide com os modernos | du Cionals. Talver esse metodo nao se adaptasse & realidade Berenleke) mas negar sua eficdcia seria temerdrio, pois a transformagao opt foi assombrosa. Com a chegada dos jesuitas, a vida da Colénia sofreu uma alte- racao radical, tanto no aspecto econémico como cultural, moral @ edu. cacional. © jesuita ia imprimindo uma. nova mentalidade | nos colonos que, via de regra, eram oriundos do submundo das mais diversas regi. Ges de Portugal. Houve uma natural reagdo dos colonos contra os ms. todos dos padres da Companhia. Para os colonos era bem mais facil viver em total liberdade, sem disciplina, sem responsabilidade, sem obri- gagdes, Apés a chegada dos padres chefiados por Nobrega, toda a vi. da da Coldnia foi alterada, desde as raizes de sua economia alé a mora. lizagéo dos colonos. A par dessa ago educativa, os Jesultas procuraram Gea colo- i iséo racit coisas, pois ent nos ¢ indios uma visdo racional das coisas, mae asi if rio um certo bem material. do bem estar de espirito, era necessar rnmster stale i ica da Colénia, importando « se fez sentir sua agao na vida econémica rtanda da Eu obretudo em Piratininga e, mentes para os campos de cultivo sobre : paralelamente, desenvolvendo um trabalho seletive das plantas ‘pone: cidas pelos indigenas. Também a pecudria foi se desenvolv hovos rebanhos sendo introduzidos no Brasil. A aco dos jesuitas no Brasil pode ser caracterizada por trés gé- Neros de influéncia: a influéncia social, a influéncia profissional e a in- fluéncia nacional. Nestas trés influéncias est4 contido o integralismo ¢- ficaz da acao colonizadora em que uma nacionalidade prepara. a. for. ia it ional exerci- magéo de outra nacionalidade. Outro aspecto a ser considerado foi a influéncia_nacional i entos cruciais. Em todas as ma- ela Companhia de Jesus em mom u Ritcciacces necionals estavamn presentes, ora agindo como conselheiros, Homens ilustres integravam essa equipe: Manoel da Nébrega, i 9 quips a breg ora como mediadores, ora como pacificadores. Luiz de Gra, Reitor do Colégio de Coimbra, Simao de Vasconcelos que se tornou © historiador da Companhia de Jesus e, além desses, Jodo Gocleio, 0 poliglota, que dominava diversas linguas. O cuidado da Companhia de Jesus em enviar elementos para o Brasil foi notado por todos os historiadores © estudiosos, Nao eram apenas clérigos levando a sua doutrina, eram, antes de mais nada, homens de preparo intelectu. al e disciplinar incontestavel onde idéias medievais, to comuns em ou- tras ordens, estavam completamente esquecidas. © trabalho dos padres da Companhia de Jesus no Brasil se tor- nava, a medida que enfrentavam a realidade, estafante. Todo o trabalho de _cristianizagdo exerceu-se com eficdcia extraordinaria, apesar dessa agao ser constantemente atacada e debatida por alguns’ historiadores. De qualquer modo, negéa seria incoeréncia, se levarmos em conta a realidade da 6poca. Os jesuitas tiveram um papel de suma imporiancia no campo e ducacional, pois se tornaram os primeiros educadores do Brasil. Por. tugal, néo tomando nenhuma iniciativa oficial nesse sentido, possibili- tou aos jesuitas exercer enorme influéncia no ambito social no Brasil col6nia. Os colégios foram se proliferando de maneira espantosa, haja "a PROVINCIA DO PARAGUAI E AS MISSOES RIO-GRANDENSES Com a fundagéo de Sao Vicente, ruma do civili: r , para o Sul a agdo civiliza- dora dos jesultas. Em 1554, com a fundacdo do Colégio fea ace Apostélicos de SAo Paulo, que posteriormente dou origem a cidade do 40 Paulo, houve uma expansdo natural para o centro © para o Sul. A fundagao da Provincia do Paraguai decorre justamente panséo da Companhia de Jesus no Brasil. Antonio Rouingubes ceoltaa Portugués, foi o primeiro a informar aos padres de S40 Vicente sobre 08 Indios que viviam nas cercanias da cidade de Assungiio, seus habitos © costumes. Do mesmo modo, solicitou ao Padre Manoel da Nobrega que enviasse um padre da Companhia pois existiam “outros povos nati- vos que demonstravam certa docilidade em relagdo aos brancos”. ____ Em 1851, 0 Padre Leonardo Nunes achou vidvel a idéia da - c&o de uma nova provincia na América e essa foi de tal maneira coe que Manoel da Nébrega chegou a solicitar permissao & Ordem para fun- dar essa nova Provincia, s6 nao ocorrendo o fato, devido a pronta_ in- terferéncia do Governador Geral do Brasil, Tomé de Sousa. ____ Em 1689, quando as Coroas espanhola © portuguesa estavam re- unidas, foi a idéia novamente levantada e sugerido que fossem mandados padres jesultas para o Rio da Prata, Paraguai e outras partes do Brasil. Esta sugestéo foi aprovada em 1585, pelo Superior Geral da Ordem, Pa- dro Claudio Aquaviva. Nesse mesmo ano, 0 Bispo de Tucuma, D. Fran- cisco Vitériaintercedeu junto a0 governo do Brasil e o provincial do Brasil para a ida ao Paraguai de uma missao da Companhia de Jesus. Os omissarios de D. Francisco Vitoria permaneceram na Bahia durante seis meses, tompo suficiente para construir um navio. Na volta a Buenos Aires, alguns padres jesuitas acompanharam os emissérios de. D. Fran- cisco Vitéria, Eram os Padres Leonardo de Arminio, Manoel Ortega, Jo- Go Saloni, Tomas Fields © Estevado da Gra. , 17 Quando chegaram prdximo ao rio da Prata, foram ataca- dos pelos corsarios do inglés Roberto Withrington e somente consegui- ram entrar no porto de Buenos Aires em 1587. Ao chegarem em Cérdoba de Tucuma, encontraram dois padres jesuitas procedentes do Peru, Os dois padres que ai se encontravam consideravam-se praticamente donos daquela Area e, por isso néo admitiam que outros viessem interferir_ em gou trabalho. Imediatamente comunicaram o fato ao Provincial do Brasil fue, prontamente, determinou que voltassem @ sede. No entanto, alguns 6onseguiram licenga para permanecer, voltando somente o Padre Este- lio de Gra e o Padre Leonardo de Arminio. Os que permaneceram nao faviam iniciado os seus trabalhos, quando foi ordenado pelos padres proveniontes do Peru que se retirassem do Paraguai. O Padre Manoel Or- tega foi levado para o Peru e o Padre Tomas Fields ficou, provisoria- mente. Serafim Leite, grande historiador dos jesuftas no Brasil, afirma que o Padre Fields ainda procurou vincular a Provincia do Paraguai & Provincia do Brasil, alegando que “a facilidade de comunicagéo com o Brasil era bem maior que com o Peru”. Essa sugestao foi enviada pelo Padre Fields ao Geral da Ordem em 1601. ‘A idéia do Padre Fields foi prontamente relegada, tendo em vista ft alegagdo de que a Provincia do Brasil estava tomando enormes pro. poredes @ ndo seria aconselhdvel a dilatagdo da mesma. Em 1604, foi briada a Provincia do Paraguai com cardter totalmente independente ¢ dofinitivamente instalada em 1607. Ficaram algum tempo no Paraguai os Padres Ortega e Tomas Fi- pls até a chegada dos Padres espanhdis Santiago del Estero e Barzana. Logo depois da instalacdo, |4 o Superior da Ordem, Padre Clau- ilo Aquaviva, recebia noticias do sucesso e do relevante trabalho de senvolvido no Paraguai e, mais uma vez, justificava-se a separagao da inissio do Paraguai da Provincia do Peru. Foi entregue a diregao da nova Provincia ao Padre Diogo de Tor- fs que, juntamente com outros jesultas, comegou a tracar as novas di- folrizes que deveriam ser seguidas, tanto pela Provincia do Paraguai co- mo pela Provincia de Tucuma. O mesmo Padre Torres, depois de fundar tm noviciado da Companhia em Tucumé, dirigiu-se a Santiago do Chile jnde implantou a primeira Congregacao Provincial, em 12 de margo de G07 .Em companhia de Diogo de Torres iam os novigos Pedro Camero © Antonio Ruiz de Montoya, figuras que, mais tarde, torna-se-iam de grande (xpressdo nas Missdes do Uruguai. Em 1608, chegou a Assungao o Pa- lif Simao Masseta que, devido a seus conhecimentos de lingua guarani, Hullo colaborou na catequese dos indigenas da regido. Em 1609, 0 Padre Yorres fundou as primeiras redugées de Guatra, sendo designado para Iigir ecsas missbes 0 Padre José Gataldino e o Padre Simao de Mas- 18 seta, Nessa mesma época, foi fundada a misséio do Parana pelos Padre: Marcal de Lorenzana e Francisco de San Martin. O Padre Lorenzana, mais tarde, foi designado Reitor do Colégio da, Assungao sendo, poste. riormente, substituido pelo Padre Roque Gonzélez de Santa Cruz qui Gesempenhou, anos depois, grande papel na agéo civilizadora do Ri Grande do Sul. lll. AS MISSGES DO RIO GRANDE DO SUL As primeiras redugées fundadas foram as de Nossa Senhora di Loreto, em 1606 ¢ a de Santo Inacio Guagu, em 1609. Essas redugde: foram destruidas pelos bandeirantes a exemplo do que ocorreu, - ef 1626, com a primeira redugéio do Rio Grande do Sul, Sao Nicolau. An: tonio Raposo Tavares destruiu as redugées de Guafra, San Pablo, Sa Antonio € San Miguel, ficando abandonadas e semi-destruldas a de Lo: feto e Santo Inacio Guacu, mais tarde restabelecidas pelos padres di Companhia pois, em todos os mapas da época, essas duas reduces a4 Parecem. Raposo Tavares conduziu toda a populagéo catequizada para So Paulo na condigao de escravos, 0 que parecia ser um dos objetivos: da expedicao. Esse bandeirante destruiu quinze redugdes que estavam provisoriamente instaladas entre os rios Piratini, Ijui Grande e Jacui. Segundo Aurélio Porto, grande pesquisador da histéria do Rio Grande do Sul, a Histéria das Missées do Rio Grande do Sul desenvol- vou-se em trés etapas. A primeira etapa estendeu-se de 1626 a 1638 © marcou oO inicio das redugées (1). Nesse perfodo, foram fundadas: Sao Nicolau do Pira- tini, Nossa Senhora de Candelaria, Assungéo de Nossa Senhora ou As- sungao do |jui, Todos os Santos do Caaré ou Martires, Sao Carlos do Ca- api, Santos Apéstolos Sao Pedro e Sao Paulo ou Apéstolos, So Tomé, So José, SAo Cosme e Damido, Santa Teresa, Sant’ ‘Ana, Sao Joaquim, Natividade ou Natividade de Nossa Senhora, Jesus Maria e Sao Cristé- yao. Este periodo termina com a emigragaéo ocasionada pela invaséo de Raposo Tavares. Com esses constantes ataques de Raposo Tavares e dos préprios Indios sublevados, como foi o caso da redugéio de Caaré, os padres tive- tam que recuar e sair do territério do Rio Grande do Sul, levando os In- dios & 0 que restou desses consecutivos assaltos, para a regiao loca. lizada entre o Parana e o Paraguai fundando af outras redugdes quo, longe da cobiga dos bandeirantes paulistas, tornaram-se prdsperas, co. mo as de Candelaria,-Apéstolos e Santos Reis. Somente cinqtienta anos. depois, voltaram os jesuftas ao Rio Grande do Sul, com 0 objetivo de re- cuperar 0 territério perdido. do A segunda etapa compreende 0 perlodo de 1682 a 1767, quan ocorreu a volta dos Indios e padres do Rio Grande do Sul e foram fun- dados os Sete Povos. Culminou com a execugao do Tratado de Madrid € a conseqiiente expulsdo dos indios das Missées. A terceira etapa 6 0 periodo da decadéncla, que se estende de Segundo os mapas da época, os jesuftas da Provincia do Paraguai} 4767 a 1828, ano em que ocorreu a extingdo das miss6es guaraniticas. fundaram tinta e trés reduces na’ margem esquerda do Paraguai, des: de o Parana até o rio Uruguai, transpondo este e seus afluentes. No Rio Grande do Sul, além dos Sete Povos, ainda se tornaram senhores de vasta regio que vai ter ao Arepei, na Repiblica Oriental do Uruguai. A primeira etapa foi de curta duragéo, Os jesuitas, com o obietivo prioritério de difundir a catequese entre os gentios, transpuseram 0 Rio Uruguai e, penetrando em terras gatichas, fundaram uma série de redu- ées que, mais tarde, foram arrasadas pelos bandeirantes. Nesta primeira etapa foram fundadas ©, posteriormente, destrul- Gas as seguintes redugdes: () “Bove-so ertondr por redueso 0 aorupamento de nds aus hendonendo sua vida nomade ou semenémade,.vinha junta-se ou reduzir-se. mum povoase fx, fo pueblo ou povo, para ser ctistianizado pela catequese, douling bh evangelizagso"- (RABUSKE, Arthur S. J) 20 Qt SAO NICOLAU DO PIRATINI graram para @ redugéio de ltapud, 4 margem do rio Parand. (1) sul a aol Primelta recucto. criada em tomitério do, Rio Grande Re eee ul. , ocorreu sua fundagao pelo Pad zélez de Santa Cruz. Seu inicio foi Frrezongade a0iten lias indigenas que, juntas, realizaram 0 trabalho costensec a eon , : m © trabalho costumeiro: ta dos Indios, a derrubada da mata, ac ai TAGE , a der , @ construcd ai das lavouras, 0 cuidado dos doentes e a EaLiinaeney eee Localizava-se em Pirapé. Sua fundagao ocorreu em 15 de agosto de 4628, O Padre Roque e o Padre Jodo del Castillo estiveram juntos nos primeiros tempos desta nova reduciio. A regido era liderada pelo cacique Nhecu que enviou seus indios com a incumbéncia de assassinar Jodo dol Castillo, em 17 de novembro de 1628. Tinham, esses indios, ordens para eliminar também o padre Roque e Afonso Rodrigues, que se en- fontravam em Caard. Apés a morte do jesufta, a redugao foi abandona- ‘da, pois as Cartas Anuas (relatérios dos jesuitas sobre os povos) poste- flores nao fazem mais referéncia a cla. A redug&o localizou-se & mart i i _redug C ‘gem Sul do Rio Piratini e, Padre Nicolau Mastrilli, Provincial do Paragual, que a visitor dave on depois, prosperou desde o infcio, ia Eniretanto, quando j4 contava com mais de 4000 habi frou a invasto da bandeira de Antonio Raposo avaresucileate teed 1, A fa a banda ocidenial i i, lizando-se entro as antigas reducées de Santa Manatee Ones Sm paler eu ttaites povo com a redug&o de Apéstolos. No ano del 1687, quase cinglenta anos depois de terem abandonado o Rio Grand , os descendentes da antiga redugéio retornaram, formando, pola segunda vez, Sao Nicolau em local bem perto do anterior. pil TOPOS OS SANTOS DO CAAR6 OU MARTIRES Esta redugéo dominava a regido entre os rios Piratini ¢ Ijul. Sua {undagéo ocorreu em 1.° de novembro de 1628, atendendo o pe- dido de indios que habitavam aquela regio. Ali estavam os pa- (res Roque Gonzalez (fundador| ¢ Afonso Rodrigues, quando, 15 dias Wopois, foram assassinados de forma brutal pelos indios instigados por Nhecu. Em seguida, os selvagens saquearam © queimaram a capelinha & f casa dos missionérios. Sobre a fogueira colocaram o corpo do padre Hoque. Depois tiraramthe 0 coragao que, mais tarde, foi encontrado pe- Jos Indios da redugdo de Candelaria acompanhados pelo Padre Romero entre outros. Atualmente, esse coragéio encontrase num relicario, no Golégio Cristo Rey, dos jesuitas de Assungéo do Paraguai, onde 6 ve- horado. NOSSA SENHORA DA CANDELARIA Sua fundagao deve-se ao Padre Ro A ; 1“ que Gonzalez, em 0: teiro de 1627, no lugar denominado Caagapa-mini. O padre eat fe mero que acompanhava Roque Gonzélez ficou responsdvel pela reducdo, O rapido desenvolvimento desta redugdo re i- mento do govemador da Provincia do Prete, D. Francisco. ce Gespedes que, em 1628, concedeu-Ihe subvengdo de 466 pesos por ano. Nesse. ano ocorreu o martirio de Roque Gonzalez, que j4 havia saldo desta re- dugdo. Os candelaristas, ao tomarem conhecimento do crime, revolta- ram-se @ quiseram vingar a morte do fundador de Candelaria. Foram impedidos pelo Padre Romoro que apenas permitiu fossem recolher o corpo do jesulta. Nessa época, os indios de Nhegu (cacique e feiticeiro: da regido entre o Ijui @ 0 Uruguai-pita) também lancaram-se sobre Can: delaria para matar 0 Padre Romero que, com apenas dois Indios, resis. tu a0 lnvasor, enquanto aguardava 0 relomo dos que estavam nas ché- Nao satisfeitos oom a violéncia praticada, os insurretos resolve- jam atacar outras redugées. Nicolau Nhenguiru, & frente de um grupo do Indios, conseguiu deter os revoltosos. Os padres receberam auxilio também do capitéo Manuel Cabral de Alpoim, fazendeiro portugués re- sidente em Corrientes, Muitos morreram nos combates antes que a re- ido encontrasse paz. Apesar desses brutais assassinatos, os jesultas jiosseguiram em sua misséo e novas redugées foram erguidas. (1) E interessante salientar que, em 1970, foram localizados res~ Jos ,possivelmente, desta redugio, no local denominado Rinofo_dos Melo, entre Ro- Jadot © Santa Inés, junto a0 Arroio Gritador. Equipes da FIDENE E UNISINOS estivo- Nin_no local recolheram material af oxistenta, para estudos. Os jornais Correio do Gyo 0 A Notfela, na época, publicaram noticias referentes a localizagdo desta redugtio. Em 1633, ocorreu um grande incéndio que destruiu f 0 atorze ca sas de indios. Trés anos apés, diante da ameaga dos Bandana 0s: Indios desta reducdo, comandados pelo Padre José de Domenech, emi- 22 20 Durante alguns meses Caaré ficou abandonada mas, em 16: SANTOS APOSTOLOS SAO PEDRO E SAO PAULO OU APOSTOLOS fol restabelecida. Enfrentou sérios problemas relacionados com fome Pesto. Caaré foi definitivamente abandonada, quando os indios, ame: gados pelos bandeirantes, transferiram-se para a redugéo de Corpus, 1 ‘| fundada em 1631 e situava-se entre os rio’ rande e Mi- e situava-se entre os rios Ijuf Grande e outro lado do Uruguai. Fe i i, i imaram-se dos je- orte do feiticeiro Ibapiri, os Indios aproxim meee, Mais. liberdade. Nesta ‘feduato setivoram 0s padres i Luis Ernot, Francisco Jiménez ie A , Rb sccstioradoo médico do povo pela maneira caridosa soniqus 2: dia os enfermos. A exemplo das outras reducées, esta tam ‘indonada diante da agressdo das bandeiras. _ Pesquisas realizadas a respeito da denominagaéo “Caaré” co! Cluiram existir varias grafias deste nome. Sobre o assunto vejamos que se encontra na obra de Aurélio Porto: “Em sua Conquista Espiritual (ed. Bllbau, 1892, 227), diz 0 P. Antonio Rule d Montoya, que” cerea de la reduccién de La Candelaria habla un cacique llamado Gu, robay, ganado con dadivas de poco valor, la voluntad de aqueste facilité la entrada del Padre @ su tierra, llamada Card, que quiere decir Casa de avispas, que aun el nombr del lugar conourrié al dichoso hado de os Padres; casa de avispas fud, pues con's Agullones apresuraron el paso A ta corona”. Os que pretendem se grafo 0 timo pel forma Caard, queriam ver, nessa regiéo, grandes bosques de erva-mate nativa, amarg (caat erva-mate © rob amarga). Em estudo exaustivo sobre 0 assunto coube-no Provar que nessa regigo jamais houve erva-mate nativa e, portanto, os indios sempre Precisos em sua nomenolatura néo Ihe teriam dado uma designagéio de coisa inexistent Garé (cab—vespa r6= casa) provavelmente significando grandes lechiguanas all. en contradas pelos Indios, 6 a grafia certa © assim se deve escrever, nfo s6 em atencdo verdade histérica, com pela justa significagéio do termo, Porsistir em erro SAO TOME Fol a primeira reduoio do Tape, (1) Sua fundagso ovorrey em 02 polos padres Luts Etnot e Manuel Berthot, Antes de completar do s de existéncia, jA contava com 1800 habitantes. a ee i Io de infcio, formou-se uma orquestra com os Indios, sendo um deles Bi ostro. Segundo documentos, a peste e, depois, um Incrvel a eats Ngres foram, responsével* Folia do Urugual, quase em frente & aival se para a margem Uruguai, ° Mane ete Sao Borla, Gevido As incursées dos bandeirantes. : Observagaio de Luiz Gonzaga Jaeger: £ este o respeitavel paracer do Aurélio Entretanto ,desde 0 infcio aparecem nos SAO MIGUEL fazbes indiscutiveis, ficou oficlalizado no processo de Beatificagdo dos tree Martire. Roque, Afonso e Jodo, om 1932 e 1933 a gratia Caaré. Respeitando porém a memori do benemérito Autor, conservemos nesta obra a escrita de Care" (1) Foi fundada em 1692 pelos padres Pedro Romero, Cristévtio de i fireita do Ibicul. Este lugar Paulo Benavides, & margem direit gar sedesignado pelos indigenas’ de Italacecd. O povo desta _redugéo, ffento acs ataques das bandeiras, emigrou para Conceiedo, na marger Urelta do Uruguai. Em 1687, descendentes de Indios desta reduce ver iran 1, fara fundar, pela segunda vez, no Rio tia ae Miguel Arcanjo, escolhendo, porém, outro local. SAO CARLOS DO CAAPI Estava situada no atual campo de Santo Cristo, ao norte de San- to Angelo e do Ijul Grande. Seus fundadores foram os padres Pedro Mo. la e Felipe Viveros, no inicio de 1631. A redugdo estava em franco des senvolvimento quando, passados sete anos, foi destruida pelos bandel. tantes. Sous habitantes conseguiram fugit para o outro lado do Uruguai Ocupando o local onde hoje existe a cidade de Sao Carlos na provincia de corrientes, na Argentina. SAO JOSE ‘ Ficava localizada, segundo Rego Outra redugéo do Tape. oTorop! © o Jaguari, na Monteiro, & margem direita do rio Ibicul, entre (1) PORTO, Aurélio. Histéria das misses Orientais do Urugual : i i longo dos Porto Alegre, Selbach, 1954, Vol. Ill, pag. 67 © 88, a i) A regio do Tapo compreendia as éreas situadas ao long! Ibloui, Jacut e seus afluentes. Cisse, mandaram seus caciques ao Superior dos Jesultas, que onus om Viagem pelas fedugdes, a fim de pedir-ihe um padre efelivo. Fol d Signado 0 padre Catalsino que, a0 chegar, j4 encontrou pronta uma ; cdo a cas ; Seco Sues coycensttucso a casa do padre, o ural para vacas jd SAO COSME E DAMIAO margom deta do Ioou Seid euanfeanetane,Formoso 0 feava ¢ Ibicul. ificuldades enfrento: Tome, Foi uma das ultimas redugdes fundadas na regio do” Tape, a SANTA TERESA Ampliando sua acéo, alcanearam a Bacia do rio guint, Aransforuse pare um local mais acessivel, perto da atual cidad , fas da vertente mais ocidental d gundo Aurélio Porto, a popula i Feacsaacyat foi destruida pelos bandetrantes, °"* SUPeTIOr @ 4000 pessoas, SANTANA Estava situada na foz do atual Arroi: ai Fat e a Padre Indcio Martinez, af chegou om 1685, Confers’ os tedueao chegou a ter mais de 7000 habitantes, Seu registros, est: SAO JOAQUIM Localizou-se na serra do Butuc: . aral, nas pontas do ri rape esa ader mesa) Esta regiao era rica em ervais ta Testtunde aoe ae de 1000 familias e foi completamente. Verlentes do Ival e do Jacui. Teve inicio em 1633. Seu fundador, Hedro Alvarez, foi recebido com muita alegria. Durante muito tempo es- fave No Paran& convivendo com {ndios 0M estes, escreveu na Carta Anua “estes excedem aqueles em capa- pidade © num natural mais brando e décil para as coisas da Fé”. fundador, 26 HATIVIDADE OU NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA Fstava looalizada nas fraldas da Serra de Sao Martinho, entre as padre cristaos. Assim, apés contatar JESUS MARIA Localizave-se A margem direita do rio Pardo. Hoje, seu local esta fedescoberto no atual municipio de Candeléria, perto do Botucaraf, Nesse local, havia ervais nativos que foram explorados. O padre Pedro Mola foi muito bem recebido pelos indios que chegaram a enfeitar 0 oaminho por onde ele deveria passar. Cultivavam trigo @ milho e cria- vam vacas, porcos e ovelhas. Foi tomada e destrufda em 1636, pelos bandeirantes, numa luta que durou cinco horas. Os padres, temendo flovos ataques dos bandeirantes, bem como dos ibirajaras, transmigra- jam para além do rio Uruguai, levando os indios‘catequizados. Sobre sta redugdo, muitas informagées foram obtidas pelos relatos histéricos ©, mais recentemente, através de estudos arqueolégicos feitos no pré- prlo local. SKO CRIST6VAO Foi a ultima redugao criada na primeira etapa. Data de 1634 sua formagao, logo abaixo da foz do Pardinho e @ margem direita do rio Pardo, perto da cidade do mesmo nome. Foi destrufda pela bandeira de flaposo Tavares num combate que durou poucas horas. No ano de 1688, quando ocorreram as invasées dos bandeirantes paulistas © os jesuitas transpuseram o rio Uruguai, terminou a primeira jaso das redugdes do Rio Grande do Sul. Pelo espaco de quase meio §@oulo, 0 gado bovino e ovino proliferou livremente nas vacarias. A presenca de espanhéis e indios na banda oriental do Uruguai, Ho portugueses cruzando entre Laguna e Colénia e a conviccéo da ti- uueza das vacarias, despertando a cobica de uns e outros, determinaram 68 josuitas a retornarem com seus indios. Era uma_tentativa de evitar Hue os tapes sofressem desfalque naquilo que, por direito, Ihes per- tancia. 26 2” A partir de 1682, iniciou-se a segunda eta , inicio pa das fundagées, qua do foram criadas sete redueées que passaram a ser Conhecidas, na His teria Rio-Grandense, como Sete Povos das Misses, Estas também, d uma série de problemas, foram definiti s segunda década do século XIX. Papen Jandes prejulzos humanos @ materiais. Para comandar os Indios cris- ios Gontra 08 guenoas foram designados o padre Jerénimo Herraén e o imo Brazanelli. Como as desavengas continuaram, os jesuftas temiam ma ravolta om Jesus-Maria que fosse capaz de destruir 0 povo de Sao Horja. Diante disso, decidiram-se pela extingaéo da aldeia Jesus-Maria lo@ Guenoas. Os Indios ficaram livres para decidir o que fariam: alguns etomaram a vida némade, outros foram removidos para Nossa Senhora ip Loreto, no Parana. As informagées que hoje possuimos sobre esta ia ie Grande do Sul, advém, principalmente, das famosas Cartas Anuss. (e latérios dos jesuitas sobre os povos) € dos depoimentos ou relatos, co! vertidos em livros, feitos por pesquisadores que mantiveram contatos di retos com a regido das Miss6es, no século passado. Entre eles, pode| mos destacar: Auguste de Saint-Hilaire - boténico francés - quo visito 0 Rio Grande do Sul em 182 ; Roberto Avée Lallemant - médico fran} és - que passou por estes locais em 1858; Hométerio José Velloso di Silveira - médico brasileiro - que conheceu a regiéo das Missées, visit tando-a, pela primeira vez, em 1855 e Wolfgang Hoffmann Harnisch professor de Ciéncias Teatrais da Universidade de Berlim - que tam: bém aqui esteve no século Passado. Sdo impressées, ricas em detalhes; dando. conhecimento de fatos relativos & implantagao, desenvolviment © decadéncia dos Sete Povos das Missées Orientais do Uruguai. Durante muitos anos, a aldeia de Jesus-Maria dos Guenoas es- ieye anexa a de Sao Borla e recebia atendimento do mesmo cura desta feduofio. Apés a extingao daquela aldeia, os s&o-borgenses aceleraram sou desenvolvimento. A igreja, cula construgéio havia sido iniciada em 1696 por Braza- Heli, somente foi concluida doze anos depois. Como todas, tratava-se de lima grandiosa edificagéo de pedra. A pavimentagao interna era de la- Urilhos de formas diferentes. A abdboda era de madeira e bastante alta. ‘Alm da nave principal, havia duas laterais, cada qual com um altar. O ailar central possuia ornamentos dourados. Nao havia coro mas um lo- pal, perto desse altar, destinado aos musicos. Muitas imagens de santos estavam dispostas no interior da igreja. Esta fora construida com a fren- iy voltada para o norte, Em frente a igreja, havia um patio quadrado, (iicundado pelo convento e outras construgées cobertas de telha. AS basas dos indios eram altas, com aproximadamente 20 palmos em to- Jos os sentidos, sem janelas e com duas portas, uma para a galeria da frente e outra para a dos fundos. Vejamos alguns aspectos inerentes a cada um desses Povos: 1. SAO FRANCISCO DE BORJA E 0 mais antigo dos Sete Povos. Sua fundagéo ocorreu em 1682, conforme a Colecao de Angelis, tendo como fundador o padre Francis. co Garcia. Os primeiros habitantes foram 1952 Indios provenientes di antiga redugaio de Séo Tomé, na Argentina. Hé muito tempo, por ess local, era feita a penetracéo em territério rio-grandense, para extraca de gado das vacarias. Devido & localizagéo geogratica, a margem ori ental do rio Uruguai, este povo sempre destacou-se na defesa dos povo' das Miss6es. O imo leigo, José Brazanelli notabilizou-se ndo so com artista mas também como instrutor militar. Saint-Hilaire, em 1821, refere-se ao Regimento dos guaranis, que fli tinha sua sede, com um corpo de 500 Indios. No ano de 1810, 0 Co- mando Geral das Missdes deslocara-se de Séo Luiz Gonzaga para Sao Borja. Esse pesquisador preocupou-se pelo fato de as terras néo serem oultivadas, desconhecendo os mocos os trabalhos relativos ao campo, pois quase todos estavam ligados ao servico militar. O uniforme desses foldados era azul com golas vermelhas, semelhantes a0 dos cossacos, porque, ao marcharem @ manejarem as armas, lembravam aqueles sol- dados. Recebiam soldo, mas sempre com atraso. Sobre os indios solda- dos, assim se expressou SaintHilarire: “...possuem qualidades _ine- Jontes a vida militar como sejam: resignagao com que suportam a fome, © cansaco © as intempéries... Observou-se serem principalmente a- proveitaveis nas manobras de artilharia, mas nada sabendo combinar foi preciso misturé-los com os brancos para Ihes seguir exemplos. Os goldados guaranis tm boa aparéncia e manobram com precisao.” Abriremos um paréntese para um comentario sobre a aldeia di Jesus-Maria dos Guenoas. Fundada pelo padre Francisco Garcia, ui pouco antes de S4o Borja, localizou-se junto ao rio Ibicuf e constituiu-s farefa dificil a converséo dos Indios guenoas (designagdo que abrangia todos os Indios cavaleiros}. Esta aldeia néo prosperou devido a varios) fatores como a nao adaptacdo com os jesuitas e a continua atrac&o exer- cida pelos portugueses da Colénia do Sacramento, com quem os Indio: tealizavam transag6es de gado, couro, sebo e cavalos. Esses indios in= doméveis chegaram a organizar uma ‘confederagdo para destruir as al deias jesuitas © postos castelhanos. Essa luta (1702 - 1707) provocou & interessante salientar que nessa redugdo, em 1756, foram co- {hides os depoimentos dos Indios que lutaram contra a entrega das Mis- ses Orientais. 28 Sao Borja ainda de Fru ee ore ainda sofreu a invaséo de André Artigas, em 1816 6 em 1828. Na primeira visita realiz ada a esta regitio, em yale TencouralN ia sacrsta da nova ‘ere aie eel a r . fe elas: c: i missais, um sacrario, uma pla batismal ete nn Sete? de prata, 9 2. SAO NICOLAU Vimos, anteriormente, ai ic , a , que Séo Nicolau fora ft i ra funda que, por jopasio da agao dos bandeirantes, anes larareTeay comTnee cores puscar um lugar mais seguro: a banda ecidental do rio Urugul i 387, ies dos antigos moradores de Si i i sit eCorOy Es ‘3000 pessoas, retornaram para 0 A aes 4 Ly la re i Ai i Sul, fundando,a segunda reducéo de Sé0 Nicolau 0 trazendo consig Era Superior das Missées o S a j mente, 0 primeifo Cura tonha sido 6 nacre Anecines et aca PrOvaNey © padre Anselmo de La Matta. Essa redugao sofreu as conseqilénci i iseqliéncias _desastros: a e q as de um fura gio eat ecraicecarac O primeiro destruiy a modesta farelaels ; : , ando a provocar até mortes. A " versidade foi responsavel pabecseavond oi pola morte de numerosas cabe Como se néo bastasse, ocorreu um grande incéndio que eraser casa com cobertura de palha e destruiu quase tudo. Apesar desses reveses, p , 0 trabalho continuou sem d dos t ese A opulagdo sfo-nicolauense notabilizou.se por sua dedicacdo ie ie reconstruir sua aldeia. Fabricavam t a cobrir as casas. Dos matos do rio |jul rire deaticanraateecrea . io lui eram extrat i E trabalhos relativos a carpintaria e escultura. Sere aca Como os habitantes dos outr a 0s povoados, estes também eram di votes, de Santo lzidro Lavrader, padrocito dos agriultores e, no camin » lavouras, havia uma imagem desse i em madeira pelos indigenas. Diante d Traeso ’ ja ameaca de qualquer intempéri ou de praga nas plantagées e, até ferseettaiaeich a , até mesmo, frente a proble i dos com a satde, costumavam r 4 romano ; ‘ ecorrer a esse santo. E duzirem-no, em procissao, até i isitarem a ermida . , até a porta da igreja ou visitare para realizar oragées, No Museu da reducd iguel exis . redugaio di i scultura representando Santo zidro, "°° S80 Miguel existe uma Os registros histéricos descrevem esta redugéio dizendo ser um| Wii © as colunas de mat do lado oriental da igreja. Nele se golorias formadas pelo prolongamento dos telhados convento. convento um edificio destinado aos artifices.” ao eves melhor construldo. Suas ruas eram muito largas. A igreja, ae ladrilhos, era adornada com alfaias, estatuas, um pilpito Huey eltares do talha com ornatos dourados e dois retabulos laterais infeeulunados pelos Indios. O responsavel pela construgéo da Igreja © padie Anselmo de La Matta. Este jesuita fol incansdvel no atendi- spiritual © material da redugo que dirigiu por muitos anos. Nos dias 09 e 10 de margo de 1821, Auguste de Saint-Hilaire visi- 4 So Nicolau. Ele experimenntou sentimentos de admiragéo, respei- ‘s amargor, ao verificar 0 estado lamentavel em que se encontravam yulnas da antiga redugdo. Pela importancia do relato testemunhal, revoromos © que ele observou: “‘Entrei em uma larga rua de casas undadas de galerias, e absolutamente semelhantes as de Sao Bor- | Mas quase nao se véem moradores nas casas; as portas estdo ar- ‘Hondas, os telhados e paredes estéo em ruinas por toda a parte.” “fio Nicolau foi construfda segundo o mesmo plano de Sao Bor- A igroja & igualmente voltada para o norte, erguida em uma praca ilar © cercada de casas; tem também um pértico, duas naves late- 4, duas sacristias e trés altares. Nao tem campanério nem coro; en- jim as paredes sao igualmente feitas de terra e pedras, sendo a abéba- deira. O convento fica aqui como em Sao Boria, vé também um patio contornado de da igreja e do ‘Atras ha igualmente um pomar cercado de muros. Ha ainda no “As casas da aldeia néo passam de divisdes de compridas cons- trugdes cobertas de telhas, cujos telhados, prolongados @ ‘sustentados por postes, formam ao redor uma grande galeria.” “Os lados oriental e ocidental da praga possuem cada um duas construgées sepatadas, como separadas sao nos angulos da praga. Ca- da casa compée-se de um s6 quarto. Excetuadas algumas onde ha ja- helas feitas ultimamente, néo possuem outra abertura além de duas portas bstreitas, abrindo-se para as galerias da frente e dos fundos, respectiva- mente.” Nessa época ele encontrou, no local, uns 25 indios vivendo na guarani ensinava a ler, escrever @ con- maior indigéncia. Um professor tar. Os exercicios de leitura eram feitos através de textos da Sagrada Escritura. © hospital construido pelos jesultas estava praticamente aban- donado, apesar de possuir quatro salas respectivamente para a capela, para os homens, mulheres, velhos e aleljados. 30 31 ¢ multiplicado. Sempre que era necessdrio soldados para garantir a seguranga das aldelas apelava'se | para (¢fo, Contribulu, essa redugao, com Indios para fundar So Luiz ga © Santo Angelo. Para a primeira, foram enviados 2922 indios @ nos depois, enviou 2879 habitantes para a segunda. lizou-se, inicialmente, conforme o padre vestigios da antiga reducao de Mais tarde, trasferiu-se para lugar A populagdo, segundo Saint-Hi Hak , segundo Saint-Hilaire, em 1 i 400 pessoas, predominando os velhos, riulheres @ueenent Roioial a f 8 gos haviam sido conduzid fa compor a forga do Regimento ‘idos para lo Regi Bua populagdo havia s Po ii a r ocasiéo da exeougéio do Tratado de Madrid, dirigiam a dugéio de Séo Ni T a Gonzaga loc lu ,Sao Nicolau os padres Carlos Tux e Jodo Gilge, Nessa re Séo Lt (rege . io Luiz Gonzag jel, no Caagapa-mini onde havia elaria, entre o Ijufe o Piratini. » ameno, onde hoje se encontra. A Carta Anua de 1736 informa que o padre Miguel Fernandez aga em que padeceu com muita alegria Wii ioe trabalhos que sdo a colhelta ordindria dessas novas fundacdes’ fo jesuita era natural de Assundo do Paragual. Nasceu om 0) de Iho sie 1659 ©, ja aos 18 anos (12.07.1677) tornou-se novigo da, Com: fpanhia de Jesus. Apés formar-se om filosofia e retérica fo}, ef 1684, en- piinhado para as missées do Urugual, Na reducéo de Sao Lutz Gonza. a, permaneceu durante oito anos. A mesma Anua referese, da seguin- ty 'tdrma a esse jesulta: “tratava carinhosamente os Indios ©, come thecls maravilhosamente seu idioma, em que tinha notavel elogti®neia, rye ande todos as malores demonstracdes de amor @ respeito. Por Unto privilégio de cativar os Indios, resolveram os superiores Ae de filo Lourengo para cuja curazia havia sido removido, passasse Pere Ja- fjoju em 1720 onde serviu 10 anos, até a data de sou falecimento (.--) Tfha°grande caridade © paciéncia com todos, principalmente com IWilois que catoquizou. Vitima de uma tisica pulmonar, que havia mui- to Ihe minava a existéncia, faleceu em Japoiu aos 26 de outubro de 1730 com 72 anos de idade, 53 de Companhia.” ram tomadas em Buenos Ai Pe cu s Aires, como veremos quando for abordado. 3. SAO LUIZ GONZAGA Argentina, i i ne i pomaesco} a Importancia desta redugao, abordaremos alguns a: Rage Mesma. Em 1619, estava 0 padre Diogo de Boroa na redu zo Nossa Senhora da Encarnacéo de Itapua quando recebeu Nen tind ( primeiro com esse nome) eacique principal no Urugual © no Sa mento da ebra dos losuttas 6, por isso, pestam wos on ey aie rent i i 0, pediam qu até suas terras. Assim, a 0B de dezembro de 1618, 0 padre Flog uelGo zéles de Santa Cruz, atendendo as solicitagées, langou as bases ch pemete derzeyo Uruguai, fundando Conceicéio, localizada ae fBguas da margem direita do rio Urugual. A populagao iniial fi ds 250 essoas. Nessa reducdo, o padre Roque permanecu por mais asa eicayeni , com prudéncia, as ameagas de indios que nao 2 presenga dos jesultas, porque lhes apresentavam ‘outras for io em S&o Luiz Gonzaga oca, as casas estavam ‘Ja 0 terceiro Cura foi padre Miguel Fernandez foi substituld polo padre Francisco de Aveddno (1696). Nessa ép hondo terminadas e cobertas com telhas de barro. © padre Francisco Medrano. como as Anuas, a evolugéo demografica Conforme documentos, até a época em que ocorreu Piratini, em 1626 e foi, de| . 45 4 j , depois, batizado com t Jo S40 Luiz Gonzaga, desde sua fundagao, ¢80 de'Conceigdo, voltou o padre Roque no ano seguite oe} eOug Bt extingéo da ‘neste, fol assim: ° 4687 — 2922 habitantes ou 2800 habitantes 4690 — 2922 habitantes 1694 — 3280 habitantes 1697 — 3582 habitantes 4702 — 3473 habitantes 1705 — 3935 habitantes 1707 — 3997 habitantes 4711 — 3339 habitantes Foi t > G je do Sul, i cian possibiltando 0 cruzamento dos tapes ean eben ao en See ae de grandes atividades artisticas, asaciinetsrew retells, Em 1690, 0 pacro Caniaral criou escolas @ oficnas dedicadas a pintura, escultur . Os Indios eram iniciados nessas artes &: 32 ry 1715 — 3830 habitantes 1719 — 4532 habitantes 1724 — 5045 habitantes 1729 — 6215 habitantes 1732 — 6182 habitantes 1735 — 4687 habitantes 1740 — 2390 habitantes 1745 — 2968 habitantes 1749 — 8354 habitantes 1753 — 3783 habitantes 1757 — 3802 habitantes 1762 — 4239 habitantes 1768 — 3500 habitantes 1784 — 3500 habitantes 1794 — 3312 habitantes 1801 — 2350 habitantes 1814 — 1412 habitantes 1822 — 200 habitantes 1827 — 446 habitantes Vojamos 0 quo escreve Roberto Avée Lallemant, em 1858, no seu Vingom ao Sul do Brasil: “A Misséio de Sao Luiz ¢ talvez a mais no- | de todas as da margem esquerda do Uruguai, aliés a mais notavel Is abundancia de ruinas, Logo ao penetrar na Misséo _encontramo- = puma vasia praga verde de 400 pés de largura por outros tantos fundo, cercada por trés lados, pelas ‘antigas habitagSes dos Indios, pando o quarto lado a Igreja ¢ 0 edificio do Colégio.”" Quanto & lgre- fusim ole se expressa: “Dez degraus de pedra conduzem ao vestibulo da Igreja que mo- 100 pés de largura e 20 pés de fundo. A lgreja propriamente con- bom 152 pés de fundo e 60 pés de largura ao que acrescenta, ainda gspago diante do altar-mor de 28 pés de fundo e 32 pés de largura. To- 4 n nave interior parece ser um espago Unico, coberto com um teto de ura, apoiado em colunas de madeira, 0 qual por sua vez era reves: Wo com obras de madeira pintada. Bem no meio da Igreja, perto do lu- at do altar, ainda esta conservada a magnifica abébada de madeira, ie uns 60 pés de altura, em forma de um hemisfério achatado, ricamen- dourada © pintada a cores, de oujo centro pende a candela de fer- que sustinha a lampada. Sobrepdem-se dois grandes nichos, emoldu- auos por 12 colunas, artisticamente enroscadas e 0 conjunto, embora jenham sido retiradas todas as imagens de santos, faz ainda um brilhan- Je ofeito, No altar nicho superior existem, na parede dos fundos, as pa- Javras: ORA PRO NOBIS, D 1728 MAYO Il. Numa sacristal lateral, acham- Sp guardadas todas as estétuas dos Santos de entdo, em ndmero de de- Henove, umas colossais, outras pequeninas, todas sem valor artistico lignas de ateng¢éo somente pelo ponto de vista histérico. Séo entalha- das em madeira e pintadas. Muitos representam sacerdotes ou santos bm trajes eclesiasticos, Sao Luiz Gonzaga com uma caveira natural; Novo impulso demografico mas, a expulséo dos jesuitas em 1768, pr fm frente dele, um jesuita parecendo ser Inacio de Loyola.” procol eidecade rela rapida das Miss6es. Em 1827, Séo Luiz Gonzaga roalGets ae mais de 400 habitantes eram ainda, os mais populoso: Passaram-se vinte e cinco anos apés a visita do notavel Sain- Hi- Jairo, quando Hemetério Velloso chega a Sao Luiz pela primeira vez. \Jsando de uma linguagem que Ihe € peculiar, relata com melancolia 0 estado em que encontrou a antiga redugao de Sao Luiz que, juntamente fom S40 Nicolau e S20 Lourengo, constituia o chamado Rincéo dos Povos. A uma distancia de, aproximadamente, oito quilémetros avis- {ou a cupula e o teto da igreia meio escondido entre os laranjais e o mato. Segundo Velloso « ~ existia nesta o respectivo altar, nicho, co- |unas @ mais obras de talha dourada, com tal perfeigdo, que ainda re- sistia aos insultos da humanidade, que as chuvas torrenciais derrama- vam no pavimento das naves (...) Na parte do fundo da Capela mor xistia uma pilastra com esta inscrigao: BEATE ALOYSII ORA PRO NOBIS: ANNO DOMINI 1718”. © colégio dos padres possula colunas de pedra de grés com capitéis déricos. As salas eram ladrilhadas de tijolos finos @ 0 teto pin- Foi uma reduzida popula Pn 40 de velhos, mulheres e cri SairtHatre encontrou em Sao Luiz Gonzaga, quando Bcetaruif Tans lou em 1821. Assim, ele retrata 0 povoado decadente: caend “Suas casas so mais altas ao Bor) que as de So Borja e Sao Ni mals claras @ construldas com mais cuidado, sendo pasacleres pare Gircundam sustentadas por pilastras de pedras. Também sao pilastra Eelnedc pase as galerias do claustro, ¢ vérias constituidas a u , S40 muito altas”. A igreja néo estava concl JA possufa pavimentagao de pedra. Nao existia mai aster . istia mais o cabildo e 20 redor oe To acaleaveisg em ruines. Saint Hilaire encontrou muita ; celées, Chamou-Ihe atengao i dispensavam ao cultivo de o bela. fearatavallnoniere 01 ertos produtos basicos par: i a como milho, feljéo, mandioca, baiala, abobora e melancias ee 34 tado, © padre Joao Pedro Gay visitou S40 Luiz, ig » em 1863, e 9 descreveu a povoagao: ‘“Ainda estéio de pé dezcito quartos na prag gito salas do colégio, das quais uma serve atualmente de matriz: gf assaz conservadas, se se excetuarem os telhados, que precisam Consertados @ de novo branqueados. Os quartos do colégi os Igreja também esto de pé, mas sem telhado. A fronts teens. ainda esta fechada e no claustro cresceram algumas laranieiras ‘o guns pessegueiros. Desmanchou-se 0 relégio solar que estava no mel (...) © zimborio ou meia laranja ainda existe, se bem que muito dé Prumado. (...) Ali se véem pinturas que parecem frescas nos lugaré que no foram mothados. De todos os ornamentos deste Templo sé tam algumas estétuas de santos, um altar pequeno colocado no quar do colégio, que serve de matriz, onde se encontram uma pia de bat mo de tamanho ordinario, de pedra lavrada.” (1) Wolfgang Hoffmann Harnisch, quando visitou nossa regido nest século, ficou consternado ao verificar que 0 Colégio Jesuita estava det trufdo. Segundo suas palavras: “Até o ultimo dia serviu a policia e exército, Desapareceram as colunas e o arco de ametista. Os capitéi Monoliticos foram usados para guarnecer assoalhos, parte do cine! outros na reconstrugéo da igreja.” Observando a imagem de Sao Francisco de Borja, comparou-s com a do padroeiro de Sao Luiz Gonzaga e julgou-se terem sido felt: pelo Irmao Brazanelli: “A técnica com que foram executadas a gola roupeta, em suma, todo o carater da estatua deixa entrever que se tra ta de dois trabalhos feitos pela méo do mesmo autor.” (2) Esse estudioso refere-se ainda, em seu livro, ao crucifixo dizendd ser o “da mais bem acabada perfeigao técnica que tive ensejo de co ahecer”. (8) ___ Em 1826, com a invasao de Frutuoso Rivera, general uruguaio| Sao Luiz passou por um impressionante abandono. Esse fato tambéi prejudicou as outras redugdes. Apés a assinatura da paz, com o recol nhecimento da independéncia do Uruguai, Rivera abandonou a regia depois de espolié-la de tudo que apresentava algum valor. Dizem qué entrou no Uruguai com sessenta carretas carregadas, mais de vinte mi (1) GRISOLIA, Amado. Resumo Histérico das Redugdes Jesuitica Santo Angelo, Grisolia Artes Graficas Ltda., 1972 - 60 p. (2) HARNISCH, Wolfgang, © Rio Grande do Sul, 260 p. (8) Idem, ibidem, 35 np dois mil e quinhentos indios. Depois disso, alguns Indios mas preferiram morar nos atredores, em casas cobertas de alm definhou a redugéo de Sao Luiz Gonzaga, famosa pelo seu polo frontispicio de sua igreja com corniias de pedra branca o 4 © pelos extensos algodoais com suas flores amarelas enfel- IG # estrada que se ligava & principal rua da povoacao. 4, SKO MIGUEL ARCANJO Jit havia sido fundada em 1632 e, devido aos ataques de bandei- iow, aquela povoacdo viu-se obrigada a emigrar em 1638. fim 1687, os antigos moradores e seus descendentes retornaram, eullzando-se ao norte do Rio Piratini, préximo ao Piratinizinho e Santa JArbara, A populagao inicial foi de 4195 pessoas. Aurélio Porto diz que iio hd documentos que, indiquem o nome do fundador desta redugdo. iro 08 padres que af estiveram durante algum tempo, destacam-se José de Vargas, Miguel Fernandez, Francisco de Avedaio e Joao de Yegros, Sendo que os trés Ultimos prestaram servigos também na redugéo de Bho Luiz Gonzaga. A célebre igreja da qual hoje conhecemos as ruinas foi construlda polo Irm&o Joao Batista Primoli, um italiano que colaborou na constru- glo da catedral de Cérdoba, no Cabildo e na Igreja de Sao Francisco, fm Buenos Aires. 0 ambicioso projeto surpreendia. O padre Provincial pretendia co- memorar os duzentos anos do Encontro de Montemartre (na Franca}, on- do se reuniram os homens que, junto com Inacio de Loyola, langaram os jundamentos da Companhia de Jesus. A imponente catedral, que hoje 6 0 simbolo dos Sete Povos, devia ter, segundo os planos de Joao Batis- ta (planos esses que foram apresentados ao Cabildo), 220 pés de com- primento, por 90 pés de largura, com muros de 10 pés de espessura. Seis Wegraus dariam acesso a cinco portais ogivados enquadrados por colu Nias esculpidas de modo a formar um belo peristilo (galeria de colunas). © interior com trés naves serviria para abrigar cinco altares. A torre se- lla construida para conter um carrilhéo de seis sinos. Em 1734, teve inf- clo a construgao da catedral de Sao Miguel Arcanjo. Foram necessérios dez anos para executar a obra que a todos pntusiasmava. Ao raiar do dia, os Indios bebiam o “caami” (erva mate) f largos goles nas culas. Depois assistiam a missa, faziam uma raépida fofeigéo e lancavam-se ao trabalho. O irmao Primoli a tudo e a todos Supervisionava. Enormes blocos de pedra foram retirados do rio Santa =) 37 isso explica porque as igrejas das outras de pedra ¢ barro e internamente de tijolo .”, no resistiram as intempéries @ aos in- Para Hamotério Velloso, 08, “feitas externamente bom reboque de tabatinga ios. Este historiador comentou em seu livro que, provavelmente, os pa- protendiam canalizar Agua para a redugao, pois deixaram, numa po- ji, lajes prontas para uma galeria subterranea, Recentemente, foram 4h novas descobertas: uma espécie de “piscina” ou reservatorio de ia encontrada a uns 500 metros da igreja e uma fonte jesuitica com 4 anjinhos esculpidos na prépria pedra sendo que, da boca desses, ra Agua cristalina. Nos arredores, ha pedras; muitas delas trabalhadas. Barbi i panera ocalizada a 20 quilémetros dali e transportados em carros Tanta ee Nee ooze Juntas de bois. © maior problema fol icé-los 9 com catia inelta, do lado direito’ do templo, havia um relog eonlctaty iametro. No interior, muitas pinturas e imagel SaintHilaire consider Hil rou esta reducga raat iderou go a melhor cor ouneclelay Sto ‘Miguel 6 a primeira redugéo onde vejo real eerreiad [eberaeses. Se desde 0 infoio tivessem Cuidado disso, sempre wed ao". » as aldeias ndo estariam em quase total destrul ernie x ‘0 visita-la, notou que o curraléo estava em bom estado e nel havia tecelées, um curti i » um curtidor, um serralhei ar io Iheiro @ um aprendiz junto a cad: Gragas ao rapido e impressionante desenvolvimento, esta reduca yo conquistou a condicao de Capital das Missdes Orientais. Mas a tra- dia haveria de se abater também sobre essa povoagdo: saques, incén- jo, destruigaéo e abandono. ‘Atuaimente, nada hé inteiro, Mas os vestigios existentes sd do- unham a acdo civilizadora dos jesultas. Muitos es- Ja Hemetéri lemetério Velloso notou que o colégio dos \mentos que testem mais profundamente, lado o| S a bs posto, Esta redugho, portant, maninha dies hater Bc lostolony token zat cua coat as escolas, © hospital, a casa das vidvas e er esas dos visitanies lelges © da populacdo estavam desmoronads, “Nog z : orre de pedras de ito fi a cimento, outros informaram-nos, que com espigées de reel Its 5, SAO LOURENCO MARTIR Foi a quinta reducfio fundada na segunda fase. O padre Bernardo lp La Vega foi 0 fundador, em 1690. Localizou-se, com os 3512 habitan- os, nas pontas do arroio Uruquazinho, entre Sao Luiz e Sado Miguel. Sua populagao veio da reducao de Santa Maria Maior localizada entre os jos Parana © Urugual e foi muito considerada por seu aspecto econdml- fo e cultural. As conjunturas nos a a onal Angulos sdo colunas guarn i capitéis, de umas carrancas de lego, porfeltamento esculpidass No cimo do zimbério da t isti i do um na cio go, zimbério da torre existiu, por muitos anos, a figur dias, a presenca dos jesuitas manifestou-se na economia, na engenharia e na 10 trabalho de construgéo do povo, mandioca & Desde os primeiros bomo expressdo do saber nas artes, urbanizagéio. O Indios dedicavam-se a enquanto as mulheres indigenas aravam @ plantavam milho, ‘butros gros. de nedras quadriléteras: as inteiores de ijl cozido, mas estas e aqu {35 lgades com argamassa de cimento ¢ arcia. Reparamos nisso ened , con - levido a essa solidez da a redes ainda esto a prumo resi a il Sera create rede resistindo & intempéri isti incéndio, e nem o tempo, ne RAYCRet pains eae SPeRE a éndio, , em a vegetacdo das parasi vagées do subsolo, tem-nas felto abster”’ (1) Nom 88 680 “g igreja tem oitenta @ seis passos do Saint-Hilaire escreve que as naves laterais sao sustidas por comprimento por quarenta de largura; iluas filas de colunas de madeira (...) tem cinco altares, todos com or- hintos dourados e de muito bom gosto (...) Também o convento esta Muito bem conservado, apesar do mais achar-se em ruinas. O “curraléo” apresenta-se completamente destrufdo; afora a praca sé existe um peda- 60 de rua e mesmo a metade de um dos lados da praca acha-se derru- (1) SILVEIRA, Hemeté: seus anigos Domini SLSVEIRA, Hemetéro, Jou6 Vellore da. As MisBes Orentats 38 bada.” (1) fe mo, esse visitante, residiam na reducdo, a época de su: ae de oe ae peor pr cdomninancla de velhos, rune . joradores de So Mi ¢ ra < 2 iguel, os dest gio apresentam-se, em geral, sujos, mal vestidos, tristes © s0nsos, | fe devido aos maus tratos inflingidos pelo chefe.” (2) Hemetério Velloso, ao visitar S& ’ io Lourenco, encontro chamado José Luiz Maitéso, com mais de oitenta anos queiIMe\telout bre 0 tneéndio destruidor da igreja. Tudo que era de madeira fora q mado, © local onde havia agua era muito cistante e, por 1880, nin ‘ tentoy dominar 0 fogo. A causa da calamidade talvez tenha sido a mes destrudara ja de Séo Jodo: uma vela acesa que caiu sobre a t O cénego Gay encontrou, quando vi redugéo, uma bela c , quando visitou a Q de baliene! com caprichosos lavores, escondida entre arbustos tl Padeiras. Essa pega foi mostrada a Hemetério Velloso, servindo co! vasilha para dar milho e sal aos animais de uma casa ond fl j jimais de cas ide recebs quadrigmetsrio Velloso cheyou a conhecer 0 eolégio, um reid E sinos, uma adega subterranea, o quintal i ranjeiras © duas estétuas de pedra lembrando anjas om mutes Hole, restam parte das construgé: i Fe nstruges perdidas no meio de revelando, timidamente, a imponéncia do que deveria ter sido a rede de So Lourengo Martir. cm 6. SAO JOAO BATISTA Foi criada para alojar 2832 element i i os oriundos d eo ere on excesso de populagdo. Sua aca oe i adre Antonio Sepp. Esse Jesuita Condado de Tirol Austriaco, hoj TetaTe no ata , hoje italiano. Ao completar d entrou para a Companhia de Jesus. E: sri otallsies, Te rou par 0 . Estudou Retérica, Metatisi logia, Musica Religiosa e profana, se Sdugdes Mardi | , SeM esquecer as produgées literari Tinha 36 anos quando veio trabalh: i v erdedpseu n al ar na Provincia Jesultica do P: cujo territorio era também chamado Provinci: Te eben rite 1 Paraguala e abrangi que hoje 6 a Argentina, Urugual e Paragual c. 0 Pal u i , ( guai ¢ parte do Brasil nae Rio Grande do Sul). Esse inaciano foi uma das mais ed : 1) SAINT Peat (1) SAINT-HILAIRE, Auguste de, Viagem a0 Rio Grande do (2) Idem, ibidem. sulticas do Rio Grande do Sul, nao somente pelos dotes artisti também p Gragas a ole, 85 © do muitos fatos ante: alemio, revela o progresso, i também de todas as outras ta ao Provincial da Alta Alemanha, comenta a fundagao da reducao lo Joo Batista. 39 elo grande senso de responsabilidade perante a His- temos conhecimento de certas particularidades sobre s desconhecidos. Sua obra, traduzida nao s6 da redugéo de Sao Jodo Batista, dos chamados Sete Povos. Numa carta, “O Senhor concedendo-me a vida quando pensava es- tar no fim de minha carreira, me destinava para outros traba- Ihos. 0 povo de Sao Miguel, o mais populoso do Uruguai, che- gou a ser téo grande que néo cabia mais em sua misséo @ ir tantas almas. A igreja, embora de gran- nem se podia instruil de capacidade, nao era mais suficiente para contélas, @ as terras de cultura s6 davam metade dos gréos necessarios & ma: nutengéio do Povo. Isto deu origem & resolugao de dividir a gen- te que ali havia, transportando uma colénia dela para outro local. Fui encarregado da execugao dessa empresa, cujas di- ficuldades eu nao ignorava. Tratava-se de levar quatro a cinco mil pessoas a um campo limpo, edificar chocas para todos & aproveitar terras completamente incultas para tirar delas a sub- sisténcia do Povo, Sabia eu, por outro lado, quaéo apegados s&0 os Indios ao lugar em que nasceram e sua grande aversao a todo o género de trabalho. Sem embargo, tendo em vista somente a ordem de meus superiores como se fosse do proprio Deus, quanto mais moti- vos tinha de desconfier das minhas forgas, tanto mais confia~ va no socorro do céu, e de momento se desvaneceram todas as minhas repugnancias. Reuni os indios principais a quem chamam caciques e que sao os chefes de familias de que de- pendem 40, 50 e até 100 indios, sobre os quais mandam como donos absolutos. Pus-Ihes diante dos olhos a necessidade que havia de dividir 0 Povo, devido ao nimero excessivo de habi- tantes, Deviam sacrificar a Deus sua natural inclinagéo de ndo desejarem abandonar a patria que amavam; nada Ihes pedia sendo 0 que eu proprio havia feito, deixando minha Patria, meus parentes e amigos, para viver entre eles e Ihes ensinar 0 caminho do céu e, finalmente, que poderiam estar certos de que eu nao os abandonaria, e que me veriam seguir & sua frente © compartir com eles dos mais penosos trabalhos. Estas palavras, pronunciadas com ternura, fizeram tal impressdo em seus Animos que logo 21 caciques e 150 familias se uniram a mim e me prometeram seguir para onde eu os quisesse levar. E quando chegou o Padre Provincial renova- 40 ram junto a ele sua promessa, dizendo-Ihe em sua “Payguagti, agui, yebeti, yebi, oro enyche, angandebe”. O significa: “Pai grande (assim designam o Provincial) damos: gracas pela visita que nos fazeis e iremos de boa vontade ra onde quiserem. ling $6 mesmo Deus poderia inclinar téo prontamente o ragéio dos indios para a realizagéo do nosso projeto. Des aquele instante tive esperanca de conseguir esse intento e ni pensei senéo em me por a caminho, para procurar sitio qi conviesse & nova colénia. Acompanhavam-me os principais ciques. Marchamos todo o dia para o Oriente e, por fim anoitecer, descobrimos um amplo terreno rodeado de colin © bosques espessos. No alto das coxilhas achamos duas font muito claras, cujas aguas serpenieando com declividade pel campos, baixavam a um vale profundo onde formavam um apr zivel arroio. Os rios sdo necessarios a um povo de Indios, p que sentem eles muito calor e precisam banhar-se muitas zes ao dia. Nao foi pouca a estranheza quando vi que, se o miam demasiadamente, era o banho o Unico remédio para Ih curar a indigestao. Entramos logo nos bosques, onde vimos saltar veados outras cacas. A situagao da paragem era téo cémoda que cou assentado fundassemos ali mesmo a povoagao. No dia si Quinte, festa da exaltagéo da Santa Cruz fomos ao ponto mai alto da colina e plantamos ali uma cruz muito grande, tomand| posse desta terra em nome de Jesus Cristo. Adoraram-na t dos os Indios, prostrando-se em terra e depois cantaram o Deum em agao de gracas. Em seguida levei ao Povo de Sado Miguel a agradav noticia da descoberta que acabavamos de fazer, Todos os fi dios destinados a povoar a nova colénia se dispuseram a pal tir, provendo-se dos instrumentos de que podiam dispor pai cortar madeiras e preparar as terras de cultivo. Conduzirai também muitos bois para o trabalho. N&o achei conveniente; que fossem junto suas mulheres e filhos, até que se comeca se a fazer 0 Povo e que a terra tivesse produgéo com qui manté-los. Comegaram os caciques pela reparticao das terras qu caberiam a cada familia, semeando logo muito algodao. Di muito bem essa planta nos campos do Paraguai Quando chegou aos outros Povos a noticia de que hi viam fundado uma colénia, cada qual a porfia nos queri a ajudar, Une mos mandavam bois, outros nos traziam cavalos, alguns nos levaram milho, gréos-de bico e favas para que as semodssemos. Velo a tempo esse socorro que aumentou 0 brio dos fndios. Repartiram eles entre si todo o trabalho. Uma parte se dedicava & lavoura, semeadura de gréos; outra a corlar drvores para construir a igreja e as casas. Meu primeiro cuidado foi escolher terreno para a construcao da igreja e ca- sa do Padre. Dai tracei algumas linhas paralelas, que seriam as ruas nas quais se deviam edificar casas para cada familia, de sorte que a igreja seria como que 0 centro de todo o Povo, ou 0 término de todas as ruas. De acordo com este plano fica- va 0 missiondrio alolado no meio de seus nedfitos e, por con- seguinte, em melhores condigées para velar sobre a conduta deles e exercer os oficios proprios a seu ministério. Havia quase um ano que se ocupavam em edificar 0 Po- vo; estavam ja construfdas igreja e casas e a colhoita exce- dia as melhores expectativas quando julguei conveniente transporiar para ali as mulheres e criangas que haviam ficado em Sao Miguel. Foi um espetaculo empolgante ver tao grande multidéo de indias caminhar pelos campos, carregadas de filhos, que levavam as Costas, ¢ os utensilios caseiros que conduziam nas mos. Logo que chegaram ao Povo, cada qual foi para sua casa e logo se esqueceram das fadigas padecidas para chegar A nova terra. Nada mais nos faltava sendo dar forma de governo a nova col6nia. Elegeram-se para isto os indios de maior auto- ridade e experiéncia para administrar a justiga, © outros para os cargos militares com que se defende o pais ante as corre- rias que, de quando em quando, fazem nestas terras 08 povos do Brasil. Os demais foram destinados as artes mec&nicas.” (1) A redugdo de Sao Jodo Batista foi a pioneira na fundigaéo do ferro 9 do ago nas missées. Nao apenas por esse motivo tornou-se famosa: © templo iniciado em 1708 era rico em alfaias, possuia altares em talha Hourada e um ptilpito com estatuas douradas embutidas de madrepéro- (1) PORTO, Aurélio. Histéria das Missées Orientais do Urugual, vol. W, 72 a 75. bid “0 7, GANTO ANGELO cUSTODIO pests eye que adornavam a igreja eram muito bem pintados. Ne: el i¢do fabricavam-se mais de vinte instrumentos musicais que eram los pelos padres e fndios. Salientou-se um menino de 12 anos tocava harpa com duas filas de cordas. Foi a ultima Missfo fundada na segunda etapa. Localizou-se, ini- ft, proximo a jungtio dos rios lui Grande e Ijuizinho, No ano se- 1707, considerado 0 da sua fundagao, mudou-se para perto do Faquarinxin, na margem direita do rio Ijul. Af teve origem a im- le cidade que lhe herdou o nome. Seu fundador foi o padre Diogo azo, acompanhado de indios vindos da redugéo de Conceigéo, do lado do Rio Uruguai. Assim como nas outras redugd ne ides, nesta também eram culti pessegueiros, laranjeiras, hortaligas e ervais. A criagéo do aaanet tia o fornecimento da came, leite e seus derivados & populacéo. Saint-Hilaire diz, em seu livro, que os Indi z h ios, apesar de serem ti tados com certo desprezo pela administrador, sao bem nutridos porgi as colheitas sao fartas, Esta redugdo desenvolveu-se rapidamente. Partiu para a industria- oll da orva mate, passando a exporté-la, em pouco tempo, para Bue- ‘Airos. Sobressaiu-se também na producéo de algodao. As criancas mm alfabetizadas em espanhol e guarani. Assim como as outras redu- 4, Santo Angelo também destacou-se pelo numero de indios que exe- vam preciosos trabalhos artisticos ligados @ pintura e estatuaria. No projeto urbanistico de Santo Angelo, um fato chama atengao: jgroja deste povo era voltada para o Sul, enquanto nas outras todas lava sempre de frente para o Norte. Em 1821, SaintHilaire relatou: “A Igreja, 0 curraléio @ mesmo o yivento estdo'em ruinas e das numerosas casas seis estdo praticamen- habitaveis.” Hemetério Velloso conheceu o frontispicio da igreja, “perfeita- nto conservado, deixando apreciar seus lavores e adornos. Ao lado da ria principal, existiam dois nichos num do quais notava-se a estatua de dra de Santo Inacio de Loyola, paramentado de casula com um livro de- ‘xo do braco esquerdo; 0 outro nicho tinha uma estétua de Sao Pe- Nolasco. A frente do frontispicio notavam-se quatro grandes colunas podra com capitéis da ordem compésita (quando entram elementos pstilo jonicos e corintios).” (1) O restante das construgdes achava-se tuinas. Todo o progresso de Santo Angelo desapareceu quando Gomes pire de Andrade, comandante das tropas portuguesas, permanecendo onze meses, desencadeou violenta luta com os Indios da missao. Co- iecava al a derrocada de uma civilizacéo que parecia ter brilhante desti- Com a invaséo de Frutuoso Rivera, o restante do povoado sofreu 0 que e a destruigao. Na capela, SaintHilaire encontrou o “Gléri a, | uo “Gloria e 0 Credo escrit com tanta perfeigéo que, somente olhando muito de perto pude conve! -me nao serem impressos. Fora autor um velho In tungdes de escrivao.” (1) Seta As casas dos indios eram pequen: d las, contendo apenas o essenci: como uma marmita, uma chaleira, banquinhos @ catre com tiras de cou! cruzadas. Nos varais havia espigas de milho dependuradas. A presengf de percevejos, pulgas e piolhos era comum. Em sou livro, Hemetério Velloso conta que a a eraleuediacledtcnp itz sel sfeusacttalina om ctcicleiver iar travel Na parte sul, ficava a igreja com trinta metros de frente por setenta d fundo, Segundo este pesquisador “‘o frontispicio era muito singelo, mal todo ele de pedra de grés, com belos lavores, cornijas e colunas de o| dem toscana. (,..) a direita ficava o cemitério. (. ..) Depois do cemitéri era 0 hospital e a cadeia, porém s6 eram visiveis os alicerces. A esque da da igreja, era o colégio, murado frente, com um espacoso porta do qual sé existiam os portais de pedra polida.” (2) As outras consin cées estavam desabadas, muitos de seus materiais foram utilizados par construcao das casas de fazendeiros da regidic. Na época da visita d Hemetério Velloso & regido das Misses, néo passava de quinze o ni mero de familias de indios al residentes, histéria das Missées do Rio Grande do Sul A terceira etapa da a riada pelos inaciamos. Igno- — (1) SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do S facterizou-se pelo declinio da civilizagao c , 159, (2) SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Misses Orientals 18 Velloso da. As Missdes Orientals © seus antigos Dominios. (1) SILVEIRA, Hemetério Jos ius Antigos Dominios, 225. 44 ti ee fades! aolcarsiclcteg tulram sob a acao implacével do tempo. E: res ake ypbordade quando transcrevemos os rolatos detnasaui pelas Missées. Eles deixaram documentadas ae | A ORGANIZAGAO ECONOMICA, POLITICA, SOCIAL E CULTURAL DAS MISSOES © gado, nas Missdes, constituiu-se em elemento basico para a ibsisténcia de seus habitantes. Os historiadores séo unanimes em afir- jar que 0 gado foi introduzido no século XVII_no Rio Grande do Sul, pe- lo padre Cristovio de Mendonza, nome também ligado & primeira fase ino redugdes, Esse notavel missiondrio recebeu especial atengéo_ em josquisas realizadas pelo padre Luiz Gonzaga Jaeger e Aurélio Porto. jambém a COLEGAO DE ANGELIS relata as atividades realizadas pelo josmo, junto aos indigenas. Em 1634, acompanhado do padre Pedro Romero, aquele jesulta irigiu-se a cavalo para Corrientes e, ai, adquiriu de Manuel Cabral Al- joim, fazendeiro portugués, mais de 1000 reses. Esa decisdo foi toma- jt porque os resultados da agricultura eram incertos devido, entre ou- 0s fatores, & sujei¢éo aos fendmenos climaticos. Apés observar as imen- as pastagens desertas, concluiu que essa atividade proporcionaria um Jimento abundante e, além disso, possibilitaria o surgimento da industria lo couro. ‘© gado que aqui chegou, vindo de Corrientes, era descendente os rebanhos brasileiros introduzidos em Sao Vicente por Martim Afon- ‘0 de Souza. Em 1555, algumas dessas cabegas chegaram em Assungao ‘om os irméos Cipiéo e Vicente Géis, trazendo como contrabando as "yole vacas e um touro”, procedentes do engenho de Madre de Deus. E- lps infringiram as disposigdes legais que proibiam comércio entre por- lugueses e espanhdis. A viagem foi bastante acidentada e realizouse jor terra ©, em balsas, pelos rios, Segundo Aurélio Porto foram, na rea- Wade, dezenas de cabecas de gado trazidas também pelos companhei- 198 dos irméos Géis e que proliferaram em abundancia. Em 1569, entrou im Assung&o gado procedente do Peru, mas em menor quantidade. De jsuncao, foi introduzido na povoagao de Santa Fé, pelo General de Ga- y @, dali, espalhou-se pela regido platina. O padre Mendonza distribuiu 0 gado adquirido entre as redugdes. 46 av 6 grandes, distantes da redugéo. As estancias maiores eram E necessario frisar que esse rebanho vindo para as Missées__torno Jue So Miguol. Esta altima foi povoada com 40.000 vacas. responsével pelo povoamento ¢ integracao do 'Rio Grande do Sul. A p tir dos caminhos do gado, surgiram nicleos que deram origem a cid a © gado. Havia des com Vacaria, Lages, Tupancireta, Santa Maria etc... Indios cantores eram encarregados de contar © 9: ue contavam, utiizando as contes 4, Rosério. & interessante Com freqiiéncia, usa-se 0 termo vacaria i ¢ BI 0 padre Jodo de Yegros, fundador aa a i Pee Sa bor gee AERTS a eee aaa a aS aa Rose eo [cco ueE AGS) SoU aay uma diferenca entre elas: a “vacaria’” era o local onde 0 gado criou-s} livres, selvagem, ‘“‘chimarrao”, sem a presenca do homem, A Vacaria Mar localizava-se na area delimitada pelos afluentes dos rios Jacul e Ni gro. Ela formouse depois da emigracéo dos jesuttas e indios, devido q alaque dos bandeirantes, O rebanho dispersou-se ©, descendo as sert nias, esparramou-se pelo litoral. De tempos em tempos, os indios guarat para ld se dirigiam a fim de arrebanhar gado para seu consumo. ih povos. é ificou que, ‘Aurélio Porto, através da Estatistica dos Povos, vert x 708, por ocasiio da expulsdo dos jesuitas havia nas estancias mis- usiras 605.148 vacas, 70.484 cavalos © 85.083 ovelhas. esultas, tornou-se a causa principal de ii ‘i los | Cee yea i as, que retornaram com ‘agtio do extremo Sul. Os préprios _jesult : mn Indios para a terra rio-grandense (1682), foram movidos, no ape i i id também pa- elo desejo de conquistar adeptos para sua religido, mas ismar poses Gos rebanhos que, por direito, pertenciam aos descen- los dos primitivos donos da terra. Esse gado que valorizava as ter- {oi também ob} spanhdis. a Quando a Colénia do Sacramento foi fundada, em 1680, a mand do governo portugués, para facilitar o contrabando da prata peruana, @ espanhéis revoltaram-se. Nas escaramugas pelos campos sulinos cobriram essa riqueza, passando ambos a explorar 0 couro e o sebo. Vacaria do Mar ficou praticamente exaurida devido a essa desordenad procura. eto das disputas entre portugueses © © A agricultura sempre recebeu especial atencao dos jesuitas. De- 0 se Berta indoléncia do indio, era preciso estar sempre atento fn que ele ndo se descuidasse das plantagdes. Entre os rodutos mals Ilivados, destacavam-se o milho, a mandioca, 0 centelo, 0 algocsl, Haiva-mate, a cana-de-acticar, arvores frutiferas, hortalicas eles Mouse nao era utilizado apenas para obier o vestuario. Vendido om tinos Aires @ Santa Fé, permitia a aquisicao de ferramentas, panos, jas @ adornos para as igrelas. Em 1682, comecou o retorno dos indios descendentes dos q haviam fugido dos bandeirantes, dando-se inicio aos Sete Povos Banda Oriental do Urugual. Os jesuitas, em 1702, resolveram criar out vacaria, distante dos espanhéis e portugueses. Escolheram o norte d Estado. Como na regido havia muitos pinheiros, chamaram-na de Vac} ria dos Pinhais (Bacaria de los Pifiares|, area hoje correspondente ag municipios de Lagoa Vermelha e Vacaria. Para esse local foram Ie\ das de 80 a 100 mil cabegas de gado. Os jesuitas no contavam com expanséo dos lagunistas para o Sul, atraidos também pelo gado que off recia couro © sebo, procurados no comércio internacional, e carne pai alimentag&o na zona de mineragao. Havia dols tipos de propriedades: tupambaé, propriedade de Deus ambos. propriedade particular do indio, No primeiro tipo, os indies ean ooo oriesu trée dias da semana.” “Tinh aproximadamente Intro fungdes: 0 produto do trabalho dos Indios servia, em primelt® fe Ir, para pagar 0 tributo, o imposto aos refs da Espanha; om segtne = yar, servia para cobrir os gastos munioipais @ os gastos do Cato: Sf Iisiro lugar, ele servia para socorrer os pobres @ 08 indigentesi © Te Ifnonte, tina uma fungao supletiva, ou seja, ole servia para da’ Go: flos 0 que eles mesmos ndo consegulam produzir por seus proprios los.” (1) Outros animais como ovelhas, cavalos, galinhas eram criados é| abundancia nas Missées. “Estancia” era o lugar de criag&o de gado, onde se realizava rodeio e o aparte dos animais. As estancias eram limitadas pelos rio banhados e matos. Nos trechos abertos eram plantados pinheiros ou fof madas cercas com érvores derrubadas. Ai existia a casa do “posteird responsavel pelo rodeio, que deveria acostumar os animals com a pI senga humana a fim de tornar mais facil a condugao anual do gado pi ra as redugdes. Aproximadamente cinquiienta homens tinham a incu béncia do transporte. resso nas Cartas Anuas, @ propriedade ficou ext 7 PaCuararacil iM dos esperados devido & indiferenga @ ticular n&o produziu os resulta nt, 93. i a ime. In LUGON, Cl6vis. Repdbliea Gt Havia estanclas pequenas, proximas A reducdo, usadas como | (1) HAUBERT, Maxime. In 40. 49 Imprevidéncla dos fndios, Eles nfo possuiam capacidade de prever ul necessidade no futuro. Viviam o momento presente, sem #8 precgt par com o amanh&. Trabalhavam porque o jesufta 08 obrigava @ ami Gava-os com castigos. Os lotes, provavelmente, néo eram heroditarld volvendo 4 comunidade no momento da morte do proprietério. A amalt baé era, geralmente, negligenciada, ao passo que o trabalho realizad na tupambaé, era melhor executado e mais alegre. Segundo relato dé Jesuftas, os indigenas gostavam de ficar na rede descansando, nos d em que deveriam trabalhar nos lotes particulares. Por isso nas teri individuais, somente foram plantadas culturas que dispensavam maior cuidados. Foi por esse motivo, também, que os jesuftas instalaram o pambaé que abrangia a lavoura, a pecuaria e a industria. trabalho do dia...” Essa citagéo é parte da orlentagéo do padre pp sobre “Como se devem distribuir os indios em todas suas fainas.” A erva-mate ja era consumida entre os {ndios quando os jesuitas hotraram no Rio Grande do Sul, em 1626, A “ilex paraguayensis”, com lundagéo dos Sete Povos, passou a ter exploracéo mals sistematica. orvais cram encontrados nas regiées onde hoje se encontram os mu- joipios de Soledade, Lagoa Vermelha, Passo Fundo e Palmeira das Mis- Cada povo possufa seus ervais. A redugéo de Sao Luiz tinha se- etvais no local onde hoje se encontra o municipio de Ijul. Séo Borja java os ervais do Camaqué do Sul que terminava na Lagoa dos Patos lante mais de cem léguas dessa Missdo. Devido as consideraveis istancias ficou decidido que os Povos deveriam cultivar a Arvore da er- nas suas proximidades. Os ervais desenvolveram-se muito. Apés @ pulséo dos jesultas, as plantagdes entraram em declinio. Os missionérios portavam livros europeus sobre agricultura, mg as orlentages ali contidas nao condiziam com a realidade aqui enco} trada. Tornou-se necessdrio conceber orientagdes baseadas na prépri experiéncia, O padre Sepp elaborou um manuscrito cujo titulo é “Ald mas adverténcias tocantes al gobierno temporal de los Pueblos en su fébricas, sementeras, estancias y otras faenas”. Esse documento tra preciosas informagdes a respeito das atividades econémicas das redi ges. No sumario encontram-se os seguintes titulos: Fabricas - Texa (telhas) - Texado (telhado) Chacaras y sementeras - Algodonales - mentares - El maiz (milho) - Yerbales (ervais)_Estancias - Obexas (ove Ihas} - Trasquila (tosquia) - Reparticién de novillos y los toros a la gent (repartigéo dos novilhos e touros a gente) - Como se han de _distribulf los indios en todas sus faenas (como se devem distribuir os indios ef todas as suas fainas) - Adobes (tijolo seco ao sol e utilizado cru} - Garret las (carretas) - Traer palos grandes a el Pueblo (conduzir toradas pal as Redugées) - Quemar texas - Vifla - Podarlos Viendemia (vindima) - Ca cimento (cozimento} - Traséga del vino (trasfega do vinho) - Fener sand as y tunas de un aio al otro (conservar melancias e tunas de um ano 4 outro) - Modo de sembrar maiz para que tengan choolos hasta Mayo qu comer (modo de semear milho para que tenham milho verde até maig para comer] - Chains - Tabaco - Transplantar - Quando se han de atal los bueyes para el trabajo - Hilar (fiar) - Texer (tecer) - Para hacer bue pan cuen en tiempo de frio. © governo civil nas redugées era semelhante ao de qualquer ci- lade da Espanha. Cada redugao possuia o seu Conselho Municipal cha- mado Cabildo ou “Ayuntamento”. Segundo Aurélio Porto eram membros ip Cabildo; um Corregedor (presidente ou cacique), dois Alcaides mo- (julzes), um Tenente de Corregedor (vice-presidente), um Alferes Re- | (subtenente porta-bandeiral, quatro regedores (conselheiros), um Ar Juazil-maior (comissério administrativo) um Alcaide da Irmandade, um rocurador e um Escrivao. As eleigées do Cabildo eram feitas de forma ‘jdiéntica a dos cabildos das cidades espanholas. A escolha faziase nos {itimos dias do ano ou no primeiro dia de cada ano. A eleig&o era por a- blamagaio em assembléia publica. O Governador recebia a relagéo dos loitos para dar seu veredicto. A posse dos eleitos era feita com grandes festas. Em frente & igre- jn cram colocadas mesas e cadeiras para 0 padre e os indios que seriam fHmpossados. Além dos membros do Cabildo, eram, nessa oportunida- He, empossados 05 oficiais militares © os membros administrativos da Igtela. Todos os empossados recebiam insignias que indicavam os seus pnrgos. Apés a prelecéo eram lidas passagens do Evangelho e, final- mente, cada eleito era empossado ao som de charamelas e clarins. Clé- vis Lugon afirma que os jesultas permitiam aos indios que ocupavam argos politicos assumirem suas responsabilidades. Entretanto, sempre ue ocortia um problema mais grave, recorriam ao padre. Esse escrito fol realizado em 1732, época em que as Missdes all cangaram um apreciavel nivel de desenvolvimento © permite conhecel melhor os métodos adotados pelos jesuftas. “Para governar os indios ng temporal, a experiéncia de tantos anos ¢ Redugées me ensinou que o tini co meio 'e modo de dividi-los 6 em turmas. Em cada turma nao devem por mais, antes menos, que dez, conforme os sorvigos, dando a cadaj turma um vigilante, ou ‘secretario, que traga os seus nomes num “vaca pi”, escrito com o fio de cada um, conforme os musicos fazem aos do: mingos para saber os que faltam a Missa. A tarde, depois do Rosario, pedir-lhes conia a cada grupo de dez do que fizeram e os que faltara Os regulamentos e costumes estavam compreendidos no “Libro de Ordenes” existente em cada Reducdo. As penas impostas aos Infrato- fos eram benignas, se forem comparadas com as da Europa, por exem- plo. Entre os castigos utilizados, destacavam-se reprimendas, oragées, priséo e iejuns. A brandura e maderagdo dos jesuftas no exercicio de sua autorl- 60 51 pital, o presidio, o quartel com o depésito de armas e munigées, as jinas de carpintaria e ferraria. As outras faces da praga eram ocupa- polas casas dos indigenas. dade entre os Indios, fol reconhecida, inclusive, por pessoas que erat contrarias & Companhia de Jesus. mn " “ O vestuario utilizado pelos habitantes das Redugées era bastante amplo, Os homens costumavam vestir uma camisa, colete branco de godao, ceroulas e calgées. No verao, usavam um poncho aberto no cel tro, de algodéo e, no inverno, de 1a. Esse poncho era usado em toda a A “Gada redugéio constava de seis, doze e mais quarteirdes_ de Ynuras, formando sete, nove e até onze ruas, a partir da praca, Eram jis @ bem alinhadas até chegar ao campo deserto em derredor da dugdo. Cada quarieiréo da praga e os a esta paralelos, tinham cem me- on de frente sobre quinze de fundo e era distribufdo em vinte salas & “enle e outras tantas a retaguarda, separadas por uma parede com um jgtro de espessura sobre a qual descansava a cumeeira. Cada sala era hlojamento de uma familia, que o dividia interiormente com esteiras biombos de taquara. Para a saida e entrada tinham uma porta @, 20 jo desta, uma janela de rétulos, como vimos em Séo Jodo, So Luiz pm S40 Borja, onde ainda existem conservadas duas casas desse tempo. suportavam 0 uso de calgados. Para serem mais facilmente distinguido} das mulheres, cortavam o cabelo. As mulheres trajavam vestidos sem mangas, no comprimento do calcanhares, um cinto e uma tdnica com mangas, chamada “tipoi”, qui era tirada quando trabalhavam na roga. Toda essa indumentdria era confeccionada pelos préprios indios. © interior de suas casas era singelo. Do nomadismo de seus cestrais, conservavam o costume de dormir em redes e néo acumul objetos intiteis. Os utensilios e roupas eram, geralmente, pendurado nas redes. Todos os quarteirées ou quadras eram circundadas por uma va- nda aberta ou alpendre, sustentado por colunas de pedra de grés, qua- © toque dos sinos, pela manha, era o sinal para todos levantarem é i em toda a parte quadradas e os capitéis de ordem dorica...” (1) e iniciarem um novo dia. A maioria dos habitantes participava da mis sa, durante a qual cantavam em guarani, espanhol ou latim. Mesmo ef quanto trabalhavam, costumavam entoar hinos em honra a Deus, & Vii gem e aos Santos. Eles seguiram os ensinamentos de Cristo. Em sua sim plicidade, conviviam com sentimentos de fraternidade e amor ao préximo, Hemetério Velloso da Silveira teve a satisfagéo de conhecer a Imagem do padroeiro da redugdo de Sao Miguel. Segundo ele, essa es- lllura era de enormes proporgées, sob seus pés um dragéio em cuja ca- ca estava a parte inferior da langa presa na m&o direita do Arcanjo. fovada para Santo Angelo, a imagem foi destrufda por um incéndio. Os jesuitas estabeleceram, em todos os Povos, uma organizagad admiravel, nos mais diferentes setores da vida humana e material. A prét pria técnica de escolha do local para erguer a povoacéio obedecia aos mesmos critérios. Era indispensdvel que oferecesse seguranga, _fertili dade e comodidade. Sempre buscavam um lugar elevado que thes pel mitisse um pido contato com a redugao vizinha. Esta deveria ser avis tada do alto da torre da igreja. Havia, na redugao de Sdo Jodo, um relégio em que os doze apés- jplos apareciam quando marcava meio-dia. Os jesuftas ensinaram ¢ for- jaram hébeis carpinteiros, escultores, pintores e teceldes, que realiza- jam belissimos trabalhos, conforme relatos do préprios padres. O no- vel padre Sepp, homem afinado com 0 gue havia de mais expressivo ia alma de seu povo escreveu: “tenho aqui um indio que sabe fundir om arte desde o tacho de cobre até a campanhia”. As alfaias da redu- Gllo de S20 Miguel eram as mais belas de todas as redugdes, sendo bor- dadas com perfeicao pelas préprias indias das Missées. Hemetério Velloso diz que as primeiras redugées possulam ca sas de pau-a-pique, cobertas com erva chamada carandaf ou com um cai pim conhecido por santa fé, ou ainda com folhas de palmeira. Ja as re dudes definitivas foram construfdas baseadas numa planta Gnica para todas as redugdes: uma praca quadrada, com 250 metros em cada fa: ce, ficando a igreja na face Sul, a direita 0 colégio e a esquerda o co mitério. A redugao de Santo Angelo e a de Sao Jodo tinham o colégio) no lado esquerdo da igreja. Na mesma linha do colégio localizavam-se as) oficinas de tecelagem, a Casa das Vidvas sem filhos, o orfanato, os ce Ieiros e a sala de musica. Do lado oposto, ao lado do cemitério, estava 0 1 (1) SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Miss6es Orientals © 15 Antigos Dominios. 17. 62 53 Quando o Padre Roque Gonzalez comegou sua caminhada em di- ‘agllo A parte oriental do rio Uruguai, seguiu 0 mesmo método de evan- olizecdo, aproveitando ao maximo o talento musical dos Indios no seu fabalho de converséo dos mesmos ao cristianismo. pp escreve: “Em nossas embarca- 608 tocdvamos nossos instrumentos que nos ouviam de longe os bar- jaros daquelas costas e, atraldos pela musica, acorreram, nus como @s- fayam @ escutavam com sumo gosto estas melodias”. Afirma, logo a se- uir, que os indios possulam “prodigiosa habilidade em assimilar qual- or manifestacdo artistica apresentada pelos padres”. Os Indios apren- am, segundo 0 padre Sepp, com facilidade ‘a arte de pintar, fundir sino fabricar rgéos, relogios, em uma palavra: todas as artes e offcios ue se conhecem na Europa, principalmente a misica, como parte fun- jamental do culto divino.”” Muitos indios tornaram-se copistas. Livros inteiros foram oopiads do latim, guarani ou espanhol até em caligrafia gotica. } ____Devido & grande capacidade de imitagéio dos Indios os inacian tiveram uma relativa facilidade para ensind-los. Varias vezes bastava presentarlhes uma cruz, um candelabro ou qualquer outro objeto pal que fizessem outro igual, tornando-se dificil identificar 0 original. Inst mentos musicais, 0s mais variados, eram fabricados com perfeigéo peli Indios. Os reduzidos possuiam instrumentos musicais como os usados Europa: drgaos, violées, trombones, baixos, cornetas, clarinetas, viol nos, flautas, harpas, chirimias (instrumento de sopro, feito de madeira semelhante ao clarinete}. “Notavels as banda e orquestras que tinhal em cada povo, constitufdas de trinta, quarenta @ mais figuras”. (1) Mais tarde, 0 padre Antonio Se __ René Chateaubriand, notavel escritor francés e uma das figuré mais influentes em toda a literatura moderna ocidental, em sua ob! “O Génio do Cristianismo”, quando se refere ao Indio guarani, afirr que, “ao sentir o ruido da embarcacAo, internou-se na mata o filho da fi testa e que, sd depois que se Ihe falou a alma pela vibracéo da nota 6rgaéo, da harpa e do c&ntico, é que ele, absorto, largando inconscier mente © arco e a flecha, atira-se insensivelmente & correnteza dos rio: ao encontro da civilizacao.” Na redugdio de Séo Miguel, segundo narragéio do padre Sepp, vi- Via Inacio Paica que, além de ser masico, fabricava cornetas e clarins. Quando Antonio Sepp morreu, foi elogiado seu trabalho nas redu- Ges. No elogio fiinebre, consta que o padre Sepp “desde a sua menini- fo {oi instrufdo na musica, e por sua preciosa voz tinha sido escolhido & fazer parte do Coro Imperial, e alcangou uma verdadeira celebridade ha Corte de Viena. De muito proveito Ihe foram esses fatos para a sua yocagao de missionario dos Indios guaranis, aos quais instruiu nos pre- boitos desta arte, e compés textos em lingua guarani, cantados com gos- io peculiar pelos Indios.” ‘Além do padre Sepp, outros padres da Companhia destacaram-se ha musica como ficou constatado nas Cartas Anuas, o papel desempe- fhado por Domingos Zipoli, que havia sido mestre de Capela na Casa Professa de Roma. Nao resta dtivida que 0 ponto mais sensivel da alma guarani, e tava concentrado na musica, O indio guarani deixou-se facilmente venc pela mdsica, que foi utilizada pelo missiondrio como meio prodigio: em sua catequese. As dangas exéticas e os cantos lamurientos, pouc a pouco, foram substituidos pelos bailados, corais e orquestras, sob regéncia de eximios maestros, O padre Pedro Lozano, em sua obra “Histéria da Companhia di Jesus do Paraguai”, narra a visita do Provincial da Provincia do Paragual Padre Diogo Torres Bollo, 4 reduc&o de Santo Inacio Guagu, no ano di 1613, quando ai se encontrava o padre Roque Gonzélez de Santa Cruz. Segundo as Cartas Anuas “todos assistiam a quase todas as dife- yontes fungdes e cantavam as matinas, alternando os coros de miusicos, Jo tal modo que, em qualquer parte teria chamado atengao. Do mesmo mnodo, eram cantadas as profecias e lamentagées por meninos coroinhas, gogundo o estilo italiano.” Nessa narragdo fica expressa a alegria dos indios quando entoé vam, em um coral composto de meninos e meninas, canticos, definido: por Lozano, como de “dulcissima hamonia” em homenagem a Mae di Deus. Diz, ainda, que os adultos tocavam instrumentos que “alegravar os ares”. Charlevoix, em sua “Histéria do Paraguai” diz que o Bispo de Bue- fos Aires escreveu certa feita ao Rei de Espanha: “Os jesultas procuram com empenho que nada falte a dignidade do culto divin. Por isso esco- hem, entre os meninos, os mais aptos para a misica, destinam os outros para as dancas, as quais |hes so ensinadas por mestres especiais. As- him pdde solenizar-se muito as prociss6es e as festas. E de ver como 6 praticado 0 culto nos templos, a exatidéio das ceriménias, a destreza do panio e na mésica, a elegancia dos adornos. Impressionou-me sobrema- (1) PORTO, AURELIO. Histéria das Missées Orientais do Urugual Volume IV, 179. 6A 55 felta como, ao amanhecer, quando os passaros saudam a aurora, Uf ex6rcito de meninos de ambos os sexos, acorrem & Igreja para cantar of s concediam ao ensino das crian- louvores de Deus.” do ambos os Sex0s. Até a idade dos sels anos fioavam com Os pais, completarem 12 anos, frequent n Ae ere ascr ntar e mdsica. Os professores eram jesuftas. pond a er eer Ginsino era profissionalizante, pois também eram ios treinados. O ensino era profissi m |clndoe om determinadas profissoes. Na escola, os alunos aprendiam {zor composigées, declamar e represent. Esludlosos que passaram i 6 jesul s 's Misses, anos apés a expulsao dos jesul iis Meoresentavam pacas que haviam eprendido com eles. tivados letavam 15 ou 18 anos, eram incent “faz6-lo entre 14 e 16 anos. Geralmente OS ca~ Clovis Lugon diz que era comum mais de Havia um grande respeito entre Uma especial atengao os jesuita: Continua Charlevoix narrando que “Do inicio da missa até o Evan) gelho os indios tocam 6rgéos, harpas e violinos. Do Evangelho a cons gracéo cantam alguns salmos com todos os intrumentos juntos. Depolf cantam algum motete em latim ou espanhol, variando cada dia os textos © as composigées; @ se sobra tempo até o fim, voltam a tocar os instri mentos. A maior honra do Cacique ou Corregedor 6 tornar seu filho cal tor ou coroinha. Tenho atravessado a Espanha e em poucas catedral tenho ouvido musicas melhores dos que estas.” Quando 08 Indios c oasar. As mogas deviam samentos eram agrupados. r inte noivos casarem no mesmo dia. nis e filhos. Na “Histéria do Paraguai" Charlevoix afirma que “os Indios gt ranis tém ouvido fino, além de uma afeico particular a harmonia.” Loga a seguir acrescenta “assegura o padre Cattaneo, que viu um mening de 12 anos tocar na harpa, com mao segura e rapida, os trechos mais difil ceis dos motetes de Bolonha. Por outro lado tem uma bela voz sonoi © que se atribui &s Aguas de seus rios.”” meee re m relativa facilidade pelos in 1s. “De um lado estavam os brancos escravagistas de Espanha ou For [lgal. Do outro lado os padres jesuftas pregando a een Iintre a cruz e a espada, os Indios fata on aor os nae ‘© ensino religioso esteve sel 108 flanos com 08 Indios. Nas escoles, por exemplo, era ensinade, Gee bee fuienos que ao retornarem para seus lares comentasse pscutado dos padres. A religido cristé foi aceita cot Sendo os jesuitas homens com elevado grau de cultura 6 natura que as cléncias fossem cultivadas, principalmente a medicina, matemé tica e astronomia. Nas redugdes havia hospitais atendidos por enfermelyy tos orientados pelo padre Sigismundo Aperger (Cura de Sao Luiz el 1744) © Irm&o Pedro Montenegro, Joaquim de Sibilia, José Brazanelli Braz Gutierrez entre outros. “Em tempos normais, os enfermos eram ater didos por visitadores domésticos, denominados “curuzuids”, os quais per corriam todas as ruas das redugdes, duas vezes por dia, visitando os enfermos, levando-lhes remédios e alimentos, provendo para quo tives: sem toda a assisténcia material e espiritual que fosse necesséria. Havia de quatro a oito “curuzuids” em cada redugdo e assim se chamavam peio fato de trazerem sempre consigo, em suas visitas domiciliares, uma cruz de dois metros de altura e grossa como o dedo polegar. “Curuzuids” quel dizer crucifiro, 0 que carrega a cruz. Quando necessario esses “Cut zuiés” eram também, as vezes, cirurgides, arte que haviam aprendido com os Irmaos leigos que entendiam de medicina.” (1) Entro as festas religiosas, a de Corpus Christi era comemoracia Com grande fervor, demonstrado na_missa e na prociesdo, As rues, oiat) pnfeitadas com arcos © 0 chao coberto de e aon aed gin que pasoava 0 Sante Secreegnios dos devotos. Os inile da, vz jisturavam seu alari c >: d iat Ho motraam ft ar Bena cao enaieio fnuitos chegaram a pedir para viver nas redugées. omana Santa eram professados com grande recolhimento. © Sacramento dos Enfermos era muito salle aaa ontregar sua alma a Deus sem recebé-lo. Eram mull mais queixavam-se dela, O padre Ventura Suarez foi o grande matematico e astrénomo das Miss6es. Foi o primeiro a fazer observagdes meteoroldgicas. Fez varias observagées de eclipses, imprimiu um lunario para um século e determi- nou as coordenadas geogréficas dos Povos. (1) CHEUICHE, Alcy de Vargas. Correio do Povo de 04 de abril de 1982, p. 16. (1) BERNARDI, Mansueto. MissGes, Indios e Jesuilas, 19 V. O TRATADO DE MADRID E AS MISSOES RIO-GRANDENSES “Os Serenissimos Reis de Portugal e Espanha, desejando eficaz- mente consolidar e estreitar a sincera e cordial amizade que entre si pro- fessam, consideraram que o meio mais eficaz para conseguir tao saudé- vol intento, é tirar os pretextos e os embaragos que possam alteréia, © particularmente os que podem oferecer como motivo dos limites das duas Coroas da América, cujas conquistas se tem adiantado com incer- teza e duvida, por se nao haverem averiguado até agora os verdadeiros limites daqueles dominios ou a paragem de onde se ha de imaginar a linha divisoria, que havia de ser o principio inalteravel da demarcagao de cada Coroa. E, considerando as dificuldades que se ofereciam se hou- yosse de assimilar-se esta linha com o conhecimento pratico que se re- quer, resolveram verificar as razdes e dividas, que se oferecem por am- bas as partes @ a vista delas concluir o aiuste com a reciproca satisfa- do e a conveniéncia.” Com esta introdugao do Tratado de Madrid celebrado entre Por tugal e Espanha, em 1750, estava selado o destino das Missdes Jesulti- cas do Rio Grande do Sul. Por esse Tratado, Portugal devolveria a Colé- nia do Sacramento 4 Espanha e a Espanha devolveria toda a area ocu- pada pelos jesuitas a Portugal, isto é, basicamente, os Sete Povos. Em lugar da linha de Tordesilhas, devia-se combinar nova linha demarcatéria, Um fato interessante e que deve ser registrado 6 0 desconhecl- mento total por parte dos contratantes, da area ocupada pelos Sete Po- vos, segundo palavras de Alexandre de Gusméo, 0 principal negocia- dor do Tratado, pois julgavam os portugueses trocar pela Colénia “uns sertdes indteis e incertos”. No entanto, esses “sertées intteis e incertos”” eram habitados por uma populagéo de mais de trinta mil indios qu certamente, iriam preferir continuar stiditos do Rei da Espanha, o qu ndo foi previsto quando da homologagao do Tratado. A principio, pelo artigo 16 do Tratado de Madrid, ficou estal cido que os habitantes das Missées teriam liberdade de escolhor 58 59 préprio destino, isto 6, optando pela permanéncia no territéri Sob © dominio 'poriugués, ou emigrando para o lado ooidental do Ur gual. Nao obstante, quando os encarregados da demarcagdo recebs Fam instrugdes, essa liberdade foi totalmente omitida. As instrugdes gora eram claras: os indios e padres das tedugdes deveriam ser trans feridos para outras terras sob o dominio espanhol. JA de inicio, o Padre jesulta Luiz Altamirano enviou ao padre Nor- berto uma copia da carta dirigida ao ministro espanhol Carvajal, na qual ifirmava pretender levar a retirada dos Indios das redugdes com 0 ris- 60 da prépria vida, se fosse o caso. Exigiu, por outro lado, que tudo fos- #0 feito com a maxima rapidez. Alegaram os padres das redugdes que havia necessidade do plan- {lo dos novos territérios, 0 que nao convenceu Altamirano ao dar apenas {res meses para a retirada, Depois de longas pesquisas, comegaram a lovar as ferramentas necessérias para o territério onde iam ser assenta- dos e comecaram as casas provisdrias. No entanto, 0 inflexivel Padre Altamirano decidiu ordenar a retirada imediata, obrigando os padres a dirigirem-se ao Rei da Espanha pedindo que fosse aumentado o prazo para a total retirada dos indios das Redugées. Enquanto isso, a agita- glio nas Missdes ia tomando proporgées alarmantes. O Padre Carlos Tux, lla redugéio de Sao Nicolau, escreveu ao Padre Norberto contando da quase impossibilidade de dominar os indios. Diz em sua carta que um deles assim se expressou: “os nossos pais deixaram-vos entrar em nos- 0 pals e agora no quereis expulsar”. O Padre Tux comentou que, de quarenta e cinco caciques, somente trés votaram pela emigracao. Quando 0 Tratado torou-se piiblico, comegaram os protest tanto na Espanha como em Portugal © nas respectivas colonize, Os Jo suitas protestaram com veeméncia ao Vice-Rei do Peru, alegando o pa triménio que a Espanha estava entregando a Portugal. Além disso, aler tava para a iminente luta entre Indios © as tropas de demarcacdo do novos limites. Apesar dos protestos, 0 Tratado de Madrid deveria ser executa do. Foram nomeados os comissédrios: da parte de Portugal, Gomes Frei te de Andrade e, da Espanha, 0 Marqués de Valdelirios. Os governos d Portugal e Espanha, de imediato, comunicaram ao Geral da Companhii de Jesus que determinasse aos missionarios da Provincia do Paraguai retirada dos indios e padres dos Sete Povos. O Padre Francisco Rel escreveu ao Provincial do Paraguai Padre Emmanuel Quirinl, pedindo que os jesuitas entregassem as redugées aos comissérios, to logo es ses af chegassem. O Padre Quirini recebeu a carta em 1751 e convoco os mais antigos missionarios para deliberarem sobre a retirada. Como 0 Novo territério que abrigaria as populagdes dos Sete Povos ainda nao es: tava determinado, os missionérios acharam que deveriam esperar a che gada dos Comissarios. Esta © outras resolugdes tomadas foram enviadas & Espanha através dos padres Aroyo e Gervasoni. Em 07 de novembro de 1752, 0 Padre Nisdorffer expediu uma carta aos missionarios, determinando a saida imediata dos Indios, pois 0 prazo nao havia sido prorrogado. Nesse interim, 0 Padre Altamirano resolveu vir pessoalmente as Missées. De imediato, logo apés sua chegada, relatou a Valdelirios a si- tuagdo, isto 6, 0 estado de animo dos indios que era de grande revolta. Foi feita uma reunigio em Sao Tomé, quando o Padre Altamirano deu or- dens para os missionérios retirarem 08 indios de imediato, o que muito Com a morte do padre Retz, fol eleito Geral da Companhia o 0s irritou, obrigando 0 referido padre a sair fugido das redugées. Padre Visconti que, imediatamente, remeteu carta ao novo Provincial do Paraguai, Padre José Barreda, com ordens de ir as. tedugdes e persua- dir 08 indios a emigragéo. Foi nomeado novo Superior das Redugdes 0: Padre Mathias Strobel mas, como esse estava impedido de assumir o cargo, ficou interinamente 0 Padre Norberto Niisdorffer. Em 02 de agosto de 1752, o Padre José Barreda escreveu ao Pa. dre Rabago, confessor do Rei de Espanha, dizendo: “‘as Sete Redugdes ostdo perto da ruina, como afirmavamos desde o inicio” (1). A revolta ia crescendo e, com a rentincia do Padre Provincial José Barreda, foi o- portunizada aos Comissarios a declaracéo formal de guerra aos indios que responderam com um apelo ao Rei afirmando que “ queriam sempre fecober amigavelmente os espanhéis, nunca porém aos portugueses”. (2) Padre Barreda entregou ao Marqués de Valdelirios um memorial em que se pede que sejam levados em consideragdo “as dificuldades, as. O Padre Norberto Niisdorffer comegou, a 03 de marco de 1752, sua viagem pelas Redugées para aconselhar os indios da necessidade de acatar as determinagées ¢ 0 cumprimento do Tratado. De inicio, con- seguiu um certo éxito nessas visitas pois, além de ser dotado de uma no- tavel capacidade diplomatica, era profundo conhecedor da personalida- de do indio. Tudo caminhava a bom termo, quando chegou a Buenos Aires. com os Comissérios de Espanha e Portugal, o Padre jesuita Luiz Altami- rano, que vinha com poderes e hierarquia’ superiores ao Padre José. Barreda, Provincial do Paraguai. Portuguesa do Rio Grande (1) J. B. Hatkemeyer §. J. A Conquis do Sul, 188, (2) Idem, ibidem, 187. 60 grandes distancias, 08 poucos meios de transportes, 08 diffeeis cami nhos 6 08 rios caudalosos” que os Indios deveriam enfrontar na mudal Ga para 0 outro territério © que tudo exigia tempo. O Marquds de Valdi lirios se recusou a aceitar o apelo e chamou a si toda a responsabilidad de um conflito sangrento, Em 18 de julho de 1753, foi enviada uma carta do Povo da Redu: ¢&0 de So Luis a José de Andonaegui, nos seguintes termos: “Carta do Povo de Sao Luis ao Governador de Bueno: Aires, José de Andonaegui. Sao Lufs, 18 de julho de 1753. Bendito € louvado seja o santissimo Sacramento. Se: nhor Governador: Dizemos-te, em nome de Deus, todos os c: ciques ,de Sao Luls, 0 cabildo e também até as criangas in Gentes, que gozes de muito boa satde. Recebemos ja a tu carta em nossas méos e, tendo-a lido, nos humilhamos a Deu: 86 e também ao santo Rei; porque esta tua carta nos entris teceu muito e nos deixou muito pensativos. Também o mudat nos 6 muito dificil para nés, e também a guerra, porque nao fica bem que nés, todos cristéos e pertencentes a Deus, pele jemos uns contra os outros, Nés nao fizemos mal algum ao Santo Rei, por tanto nao necessitamos de guerra; mas se vie- rem para encontrar-nos © buscar-nos, vingaremos a nossa po: bre vida. Nos os de Sao Luis, estando ao par de que nos mudés: semos, fomos a uma terra muito longinqua, cumprindo a von tade de nosso santo Rei: tendo ido duas vezes todos nds nos cansamos muito e perdemos todos os nossos bens mas n&o gostando os caciques e os Indios juntamente, @ néio querendo os infiéis Charruas e Mojanes que fundassemos naquela ter- ra, dizendo-nos: Nao ha terra para vos quo nto tenha dono, no fez agora Deus nosso Senhor as tertas para vés, se que- reis entrar nelas ha de ser com guorra @ & ponta de langa; voltamos @ nosso povo e nos ficamos, nfio havendo mais terra que se possa buscar. Vés aqui como temos andado para cum- prir a vontade do Rei. Por tanto 86 nos humilhamos a nosso. santo Rei e Ihe pedimos que, segundo 0 que 80 nos tem ofe- recido como a vassalos seus, nos mantenha om nossa terra’ onde nos criamos, porque tu, Senhor Governador, estas cons- tituldo para cumprir a vontade do Deus 6 do Rel. Por tanto em nome de nosso Rei faze-nos justia, porque Nilo fica bem que. tu fagas guerra contra nés, uns pobres Indios oristéos. Nem to pouco esta bem que apartos @ tires de nds os Padres da Companhia de Jesus, nosso§ #ANtOs Mestres, porque a es- tes o mesmo filho de Deus Padre; seals Orlsto, desde antigo 61 norlos dou a nds. temos: so que executamos, @ i terra, antes sim que nela no nos tires de nossa Lb ioe pocgetabelegas © contirmes. Porque nés pobres, ingios, som: mandado de ; i Pro que tem neve mandou que desam soldados a Colénia, prido: sempre eer estejam todo um ano inteiro no Paragual, los: ‘0 temos cumprido, mostrando sempre que pomomvaeralng §e nosso Rel. Mas agora temos este aviso téo difioll © deca: de ross de mudar-nos, que nos tira do julzo, © dizemos: Pols Ores assim nosso Rei santo, depois de termos cumprido muito gue, asim nosgatos, nos euer tirar de nossa terra, nos 4 perder, e nos quer acabar? Por tanto ja te avisamo s Embora no queiramos a guerra, mas. $9. a howe £6 dizemos aos nossos: Preparem-se $6 para ela, componhanos bem a8 armas, busquemos Top nosco ajudador dizemos: confiando em Jesus Cri =m Saivemos nossas dos ona or 6 nose bene (0296 nos convém que co! 63.8 aus om vo, nem que Ros percamos em v8o por ease8 Gampos, pelos ries © Agua e por esses montes. E assim S70: ‘os que aqui sé queremos morrer todos se nos quer & Cabar! nossas mulheres © nossos filhos pequenos juntament®, Esta 6 a torra onde nascemos © nos orlamos e nos batizamee, sim 6 aqui gostamos de morrer. Este so pense: ‘rento; e Deus, senhor Governador, te conceda sempre boa Tieitie’ Aos 48 de julho de 1753 anos. Isto ¢ 0 que dizer caciques e todo o cabildo. (1) i ia dos Indios . indignado com a resisténcia d tinnam culpa, esoreveu de Buonos Aros dare Rabago: "Os missionérios opdomse & execucée do Tracer fpelando para a piedade do Rel © declarando o Tratado ofensive S055 y oe mano”. (2) Continua em sua ¢ 5 a aA feito divine am omigrado e008 padres 0 quisessom seriamente” © & trescenta: “os missionarios tém inteira culpa da revol Companhia”. O Padre Luiz Altamirano 6 julgando que os missionarios ° rs lio. Por= (1) Miseionalia Hispanica, 1949, n.° 18, p. 867-569. In Aurelio Po to. Histéria das Misses Orientals do Uruguai, 2.* parte, IV, 492-439. (2) J. B. Hotkemeyer, 8. J. A Conquista Portuguesa do Rlo Grande do Sul, 187. 63 nos portugueses? Deve estar louca essa gente de Madrid de, entre: | fos portugueses uma povoagéo que nao tem igual em todo o Para: fall...” ‘ Os Indios, apavorados, quando viram as tropas portuguesas © panholas entrando na redugao de Séo Miguel, fugirem estarrecidos, ppalhando 0 pénico entre os habitantes das outras reduces: ‘Sentindo Roininacao iminente, langaram fogo sobre Séo Miguel © outras redu- eiivegbém S40 Lourengo fora ocupada @, depois de uma répida rev: ilo, ficou estabelecido que haveria uma transmigracéo para as redu- hog jesulticas do Parana e que seria cheflada pelos Padres Balda, © He- Hi que, posteriormente, foram severamente atacados pelo Marqués de Honitat’ kemigragao deu-se em grupos, mas muitos indios | preferiram bminuar no territério, refugiados nos bosques que ciroundavam as re- Juigdes. 62 Em a siondriam” gosto de 1752, 0 Padre Altamirano determinava quo 08 ‘i sionaris queimassem toda a poWora existente nas redugées © prolly ay sae traeneriton ee armas € que, se os indios néo safssem até o dia l RS enaato I brarTer Oh TCAMPS CUTTS eee eel and Hiaeaes ay Myce Sut ado, alrate et 9 oe mislnd ficaram estarrecides com tals ordens. Os ieaice eee cad na aa fale ice neomance, com a pronta saida dos indios e missionéf , ofereceu as Redugdes para outras ordens religiosal mas esi ir tas _recusaram © oferecimento. Recorreu entéo & prépria_ lgrejt chegando o Bis i i Ee po de Buenos Aires a interditar os Sete Povos das Mi Em 2 sama £2, 2t a marco de 1759, os portugueses chegaram & capel antedLecla yestsne le Sao Miguel, encontrando alguns {ndios er Seats ara lam sua passagem. Retiraram-se, entao, os ortuat Cane ACHE IE) {ge Sacramento, informando a0 espanhéie’ os 110 vos da retirada. Em 26 de marco de 1754, 0 Marqués de Valdelros, vos de Andonaegul © Gomes Freire de Andrade combinaram as oper 5 milteres ¢, @ 21, de maio, Andonaogul rompeu @ marcha se indo. sere ot gente ins See Seats wae Al sua marcha, aprisionou 72 Indios matando 270, EARS ecg Freire de Andrade chi Si poe chegou a fazer um armisticio e retrocedeu para Rig Em novembro, chegou a Buenos Aires 0 General Pedro de Ce: silos com uma tropa de 1.000 soldados para substituir José de Andorae. iui, que fora mal recomendado pelo Marqués de Valdelirios, Cevallos Wiitia. de imediaio, rumo as Miss6es, acompanhado do Marqués de Val. Muiitigs, Chegande a Sao Borja, Pedro de Cevallos escreveu a0 Ministre jpanhol Ricardo Walll: “Pelos mesmos documentos \vossa Exceléncia rep eieeré que desde minha chegada a estas Missées foram transmigra: Hons goo aimas. Juntandothes 2.500 que se encontravam no novo aldea- Monto de S40 Miguel, 1.812 que se uniram ao de S40 Nicolau. somelr nha chegada sairam para a outra mat~ temos 0 numero de 28.686, Importando os habitantes dos Sete Povos no ano de 1756 em 30.702 Hinbitantes, fattam apenas 2000 que, provavelmente, se espalharam pelo Hivono ocupado pelos portugueses. E, prosseguindo a minha viager, javonhesi, especialmente nos arredores das aldeias, de onde vieram 20 hosso encontro o Padre Antonio Gutierrez com outros trés religiosos {a Gompanhia @ todo o magistério com mutta gente de Japelu, 9s si- fais mais expressivos de um profundo respelto, amor @ fidelidade a Vos tia Majestade 6 este conceito se firmava cada vez mals ao ver & exati- {lio ¢ pontualidade com que se davam todas as providénoias convenien- tee a cubsisténcia das tropas. Isto manifestou-se mutto mais quando, Te8- Rs Jgcamento exortando-os a se mudarem para a outra banda do Uru qual e censurando-os por nao terem mudado mais cedo, me responde- tum feconhecendo humildemente que, embora os padres os tivessem yom ro froquentemente a se mudarem, eles, levados pelo amor do pé Moro, 0 tinham deferido até agora, mas que estavam prontos a aban- llonar suas aldeias com todos os seus pertences” (1). Somente em dezembro de 1755, as expedicd 1 , a8 expedi do andrado de Andonaogu marcharn novamemo om clogs ts Ml s5es, A tropa espanhola era composta de 1870 soldados ¢ a portugue de 1600. Os indios conseguiram mobilizar 1850 guerreiros @, a 22 de SUPA catcet are See eee at 5 . ram as tr fu go tenda an Se CST elas Seta Cumbiu Sopé Tiaruju, comandante dos Indios. No dia 10 de feverei a = Indios foi derrotado definitivamente na Batalha de Calboaté, A 17 de maio do mesmi : f sMO ano, as tropas entraram So Miguel e um de seus oficial, surpreendido pela peleza Sees que via, disse: “E este um dos povos que nos mandaram entre (1) J. B. Hafkemeyer. S. yer. S. J. A Conquista Portuguesa do Rio Grande (1) J. B. Hetkemeyer. S. J. A Conquista Portuguesa do Rio Grande do Sul, 188 do Sul, 199. 64 65 © Ministro espanho! Ricardo Wall, inimigo declarado dos josulta ordenara a Gevallos que fizesse um rigoroso inquérito sobre a cull | denegrir os padres da Companhia que atuavam nas Sete Missdes, gos Padres da Companhia de Jesus. Mas Cevallos que tinha como ufjgy ghamando-os, em uma carta enviada a Ricardo Wall, de 15 de novem- a8 virtudes pessoais a prudéncia e o bom senso, procurou verificar jo de 1756: “Os jesuitas sao os mais ladinos hipécritas do mundo” @ fealmente, havia alguma culpa no caso da resisténcia dos indios na mg lifmando, logo a seguir, que os Padres da Companhia “quebrain os tirada dos mesmos dos Sete Povos. Em carta escrita a Wall, diz Cevallal Mais santos juramentos quando o seu interesse o exige”. E, na mesma Resolvi encarregar das ditas averiguagées ao oficial de mais alta p) arta, Valdelfrios recomendava: “Aos padres da Companhia V. S. nao tente que tenho aqui e sujeito de maior consideragdo por seus acred} ‘it de admitir nem ouvir petig&éo deles quer escrita quer oral, na supo- tados servicos @ conhecida Justica, o Tenente Coronel e Major Genoff) #lgé0 certa que todas as suas propostas so capciosas.” deste exército D. Diego de Salas em quem, além das circunstancias feridas, concorre a de ser prético nos processos militares Por ter servi do muitos anos no Estado Maior. As ordens quo dei a esse oficial sil as mais rigorosas que, sem faltar a justica, pude dar, como o vera Vos Exceléncia pelo processo que remeter junto, em consequéncia das qua © mesmo. praticou com a maior exatidaéo quantas diligéncias foram Post veis para averiguar se os jesuitas dessa Provincia, ou alguns deles, ti Yam parte no influxo na citada rebeliéo, examinando para este fim UN numero avultado de testemunhas, néo sé dos Indios principais deste Sete Povos, que foram os rebeldes, mas também a todos os oficiais Ministros da Fazenda Real que se acham aqui e tiveram parte em umf ‘ou em ambas as campanhas que fez D. José de Andonaegui.” (1) Pode-se perfeitamente imaginar a situagdo de Cevallos perante o Ministro espanhol. E, em 1760, Cevallos escreveu novamente a Wall, Alirmando categoricamente: “Por todos os documentos que remeti a Vossa Exceléncia parecem ficar demonstradas evidentemente como fal- as as afirmacdes com que o Marqués de Valdelirlos tem tentado impu- lar aos jesuitas dessa Provincia”. Mais adiante, afirma: “Pelos docu- jentos © cartas despachadas e pelas respostas que escrevi as cartas lo Valdelirios, Vossa Exceléncia conheceré ser tudo que escreveu e di- yulgou contra'esses religiosos um tremendo enredo de embustes”. Tanto Portugal como Espanha j4 nao tinham tanto interesse em foncluir 0 Tratado de Madrid. Lisboa, com 0 erario quase vazio, néo pode gontinuar dispendendo recursos na resolugdo final da linha demarcatéria, Mais adiante, acrescenta Cevallos: “E concluindo 0 processo ¥ 0 mesmo ocorrendo com Madrid. que nao somente ndo resulta que algum dos padres da dos onze nomeados na minha Re sOR ENS bers rigues nel influido de algum modo na desobediéncia dos indios, antes pelo oo trario, consta pelo depoimento de todos cles, que os’ padres. fizoral quanto esforcos thes foram possiveis para os conterem na devida oba digncia e fidelidade as ordens de Sua Majestade, o que 6 confirmadd pelas declaragdes dos oficiais e principalmente empregados do oxército como tudo isso veré Vossa Exceléncia minuciosamente no mesmo. pro Cesso, cujas provas incontestaveis convencem com evidéncia o que nal carta de 07 de outubro de 1758 expus a Vossa Exceléncia.” (2] Aos indios transmigrados, porém, comunicaram que podiam vol- lar as suas redug6es, pois o seu Rei j4 nao precisava delas e os portu- Queses ndo as queriam. Gomes Freire de Andrade regressou ao Rio de Janeiro ©, na ultima conferéncia com Cevallos, suspenderam todo o pro- pedimento até uma nova vinda o que nao se realizou jamais. Qual foi a reacao dos indios diante da atitude dos demarcadores Ue limites? De inicio, ficaram surpreendidos com tanta incoeréncia que io podiam entender. Onde estavam os espanhéis, represontados por " Valdelirios, Altamirano, Andonaegui e tantos outros que aqui chegaram desprezaram sua lealdade ao Rei de Espanha? Onde estavam os por- lugueses de Gomes Freire que tanto lutaram para conseguir o territério © agora avisavam que nao o queriam mais? ____Para avaliar todo o peso desse depoimento, 6 preciso n é Ricardo Wall queria ver, por forca, os jesuitas na situagao arciee que Cevallos, inocentando os mesmos, colocava em risco o seu proprid posto. Valdelirios, encarregado por Wall de fazer uma verdadeira devas 8a na agéo jesuitica quando da execucao do Tratado de Madrid, procu. Sem nada entender, os indios das Missées tornaram-se errantes, cansados da guerra, dominados pela fome e voltaram pouco a pouco as reduces. No entanto, o que encontraram era bem diferente de tudo aqui- lo a que estavam acostumados. Agora, os Sete Povos das Missées eram apenas uma lembranga de todo 0 seu esplendor, 0 silénoio dominava sua paisagem e, dos trinta mil fndios, apenas dois mil testemunhavam sua decadéncia. (1) J. B. Hatkemeyer. 8. J. A Conquista Port i o aauies rtuguesa do Rio Grand (2) Idem, tbidem, 194, Em 27 de fevereiro de 1767, 0 Rei de Espanha Carlos Ill decro- 66 tou a expulsdo dos jesuitas de todo 0 territ6rio espanhol @, por isso, th ram que ser expulsos das Missées e, efetivamente, tiveram que dei; las em 1768. A redugao de Sao Luiz Gonzaga, antes mesmo da expulséo d Padres da Companhia de Jesus, estava sob a administragéo de mong de outras ordens religiosas. Em carta datada de 28 de fevereiro de 171 9s habitantes da redugao de Sao Luiz Gonzaga enviaram um comoven| apelo ao Governador de Buenos Aires, onde expunham todos os sel temores em face da expulsdo dos jesultas, “Carta da Municipalidade da Misséo de Sao Luiz Gor zaga ao Governador de Buenos Aires. Nés, o cabildo e todos os caciques e Indios, mulher e criangas de S. Luiz, rogamos a Deus que tenha em Sua sai ta guarda Vossa Exceléncia, que 6 nosso pai. © corregedor Santiago Peredo e D. Pantaleén Coyuari com a afeigo que nos dedicam, escreveram-nos solicitand certos passaros que eles desejam enviar ao rei, e nés lamei tamos vivamente nao poder obté-los, pois essas aves vivel nas florestas onde Deus as criou e distanciam-se de nés, di modo que n&o podemos alcangé-los. Mas nés no somos me: nos sujeitos de Deus e do rei, e estamos sempre felizes pol comprazer aos desejos de seus ministros, em tudo o que no} pedem. Com efeito, nao é verdade que fomos trés vezes at & Col6nia para oferecer os nossos socorros? Nao é verdad que trabalhamos para pagar os nossos tributes? E agora rog: mos a Deus cue a mais bela de todas a aves, o Espirito Santo, baixe sobre o rei e o ilumine, e que o seu anjo da guarda acompanhe. Cheios de confianga em Vossa Exceléncia vimos, com toda a humildade e de lagrimas nos olhos, suplicar que sej permitido aos filhos de Santo Inacio, aos padres da Compa: nhia de Jesus, continuarem residindo entre nds e aqui per- manecerem sempre. Pelo amor de Deus, suplicamos a Vossa Exceléncia que se digne pedir isso ao rei, Toda a nossa al: deia, homens, mulheres e criancas, e sobretudo os pobres, di- rigem-vos esta stiplica, os rostos banhados de lagrimas. Quan- to aos monges e padres que nos foram enviados para substi- tuir os padres da Companhia de Jesus, néo os queremos. 0 apéstolo S. Tomé, ministro de Deus, evangelizou ele proprio 08 nossos ancestrais, nestas mesmas regides. Esses monges e padres nao cuidam de nés, ao passo que os filhos de Santo 67 Inacio eram cheios de bondade por nés. Foram eles que, des- de 0 principio, cuidaram de nossos pais, os instruiram, os ba- tizaram e os salvaram para Deus © 0 rel. Mas quanto a estes monges e padres, néo os queremos de maneira nenhuma. Os padres da Companhia de Jesus sabiam ser indul- gentes com as nossas fraquezas € sentiamo-nos felizes sob a diregdéo deles, pelo amor que dedicavamos a Deus e ao Rei. Se Vossa Exceléncia, bom senhor governador, quer escutar a nossa suplica e conceder o que solicitamos, pagaremos um tributo mais considerével em erva-mate, N&o somos escravos © queremos fazer ver que ndo nos agrada o costume espanhol que quer que cada um cuide de si, em lugar de se ajudarem mutuamente em seus trabalhos cotidianos. Esta 6 a verdade nua e simples, e fazemo-la saber a Vossa Exceléncia, para que nela atente, sendo esta Missdo perderse-4 com as outras, Estaremos perdidos para Deus @ para o rel; cairemos sob a influéncia do Demédnio, ¢ onde en- contraremos entéo socorro, na hora da nossa morte? Os nos- 508 filhos, que esto atualmente nos campos © nas Bela se, no seul regresso, néo mais encontrarem os filhos de Santo Indcio, fugitéo para as florestas, para af praticarem o mal. Ae que parece, jd os povos de S. Joaquim, S. Estanisiau © Tim! esto perdidos; nés bem o sabemos € o declaramos a Vossa Exceléncia. As proprias municipalidades j& néo séo capazes do os fazer voltar sob a autoridade de Deus e do rei, como eles estavam antes. ‘Assim, bom governador, autorizai o que vos pedimos, & que Deus vos ajude e guarde. Eis 0 que vos declaramos, em nome do povo de S. Luiz, hoje, 28 de fevereiro de 1768. Vossos humildes servidores e filhos. {a) Os membros do Cabildo da Missdo de S. Luiz. (1)” Os clamores dos Indios, no entanto, n&o encontraram eco nas oN toridades do reino. As Missées Orientais do Uruguai, pouco a pouco, (1) Lugon, ©. A Repiblica “Comunista” Crista dos Guaranis, 3.° ed. 807 a 309. 68 foram perdendo toda a sua magni : nitude. Cada visitante qu sava,levava oonsigo alguna cosa, Eas recuvees Genpoas, pea mais apresentavam o esplendor da civilizagéo que aqui florescel CONSIDERAGOES FINAIS estudo da acao civilizadora dos padres da Companhia de Jesus Rio Grande do Sul, sem divida alguma, fascina, empolga e, ndo raras os, traz contraditorios pensamentos que parecem direcionar ora a uma ‘a outra concluséo que, apés analisar profundamente, verifica-se se- m invidveis, sob pena de incorrer-se em radicalismos, ou em profana- (0 do fato historico em si. Vem-nos, entéo, presente a sabia expressao Mare Bloc: “A vida 6 demasiado breve, excessivamente demorada a uiisiggo de conhecimento, para ser possivel, mesmo ao maior génio, ma experiéncia total da humanidade”’. O registro dos viajantes estrangeiros que aqui estiveram no sécu- passado, Auguste de SaintHilaire © Roberto Avée Lallement, assim 1omo o de Hemetério Velloso e outros, a obra do padre Anténio Sepp ‘0 relato das Cartas Anuas, analisadas por Aurélio Porto, afora o teste- \inho mudo dos resquicios dessa civilizagdo, perpetuada através dos gculos pelas ruinas que ainda restam, tém langado luzes sobre a expo- léncia civilizatoria que aqui existiu, despertando o interesse © a atengao A aco clvilizadora dos jesuttas no Brasil foi amplamente comen- da por diversos historiadores, como Serafim Leite que Ihe dedicou am- lo e minucioso estudo. No entanto, no aspecto essencialmente didatico, lio 6 dada a devida relevancia ao trabalho dos jesuitas espanhdis no io Grande do Sul, haia visto que Roque Gonzalez de Santa Cruz s6 & onhecido em nosso Estado, ndo obstante sua missao tenha sido tao importante quanto a de José de Anchieta. ‘As conseqiiéncias arrasadoras do Tratado de Madrid que determi. jou a decandéncia e o exterminio da civilizagdo guaranitica, principal tmpecilho para o estudo aprofundado da mesma, parecem determinar fis controversias existentes a respeito da agéo civilizadora dos padres dda Companhia de Jesus. 70 De posse de uma ampla bibliografia, percebem-se ainda male controvérsias ¢ afloram inumeras perguntas. No aspecto social a pergill ta que poderfamos formular seria: — O indio foi um colaborador nos ac&o ou simplesmente um elemento passivo? Existiam ou nao classi sociais na comunidade organizada pelos jesultas? No aspecto polltid poderiamos, facilmente, questionar sobre a tao falada fidelidade dos [h dios ao Rei. O Rei, realmente, tinha pleno conhecimento da esplendo sa civiliza¢ao nos confins da América do Sul? Se tinha esse conhecimel to, como se explica 0 préprio Tratado de Madrid? No aspecto culturdl em todas as manifestagées artisticas nota-se uma auséncia da realidad do Indio. Por que os padres da Companhia néo permitiram que o indi em vez de, simplesmente copiar, criasse algo seu? O indio tinha capadl dade de criar alguma coisa ou seria ele mero copista? Quanto a religi 9 Indio fol obrigado a aceitar 0 cristianismo ou este cristianismo foi ceito por convicgéo? No todo, poderiamos ainda perguntar: os jesuital tiveram culpa quando os indios nao aceitaram entregar as redugdes tropas de Gomes Freire e de José de Andonaegui? E possivel formularmos ainda uma série de outras perguntas, mak bastante temerario respondé-las de modo definitivo. Se, por vezes, encontramos julgamentos precipitados, de flagral te parcialidade, apresentados sob a ética de paixdes ou de convicgde sociais, politicas e religiosas, por outras, encontramos registros objelh vos e imparciais como os dos enciclopedistas, inimigos confessos df Catolicismo, que se impressionaram com a agdo da Companhia de Ji sus na oriagao da civilizagao guaranttica. Montesquieu, que ndo s6 manifestou seu descrédito e ridiculatl zou dogmas importantes da Igreja, como também declarou-se inimi da Ordem de Santo Inacio de Loyola, admirou que a mesma tivesse | vado a efeito obra de tao grande impotancia. Voltaire, que se preocupou em destruir a Igreja, tendo declaradd que “combaté-la era o maior servigo que se podia prestar & humanidade’ @ reconhecia a Companhia de Jesus como a maior forga terrena do Pap: do, cognominou de “grande triunfo aquela pujante organizagdio dos ji D’Alembert reconheceu “que por meio da religiéo os jesuitas con) seguiram uma autoridade monarquica, apoiados exclusivamente na arlé da convicgdo @ no seu brando sistema de governo. Tornaram felizes a: queles povos, logrando submeté-los sem o emprego da violéncia”. Cabe-nos apenas apresentar os fatos, sem uma andlise pretencio: sa e, dentro das limitagées préprias de quem a isso se propée, resta-no refletir sobre a grandiosidade dessa obra civilizadora que tem desperta do interesse de tantos historiadores, antropdlogos e pesquisadores, sus: citando inumeras hipéteses e controvérsias, APENDICE ROQUE GONZALEZ Roque Gonzalez de Santa Cruz nasceu em Assungo do Paragu- | no ano de 1576, Seus pais, Bartolomeu Gonzalez de Villaverde ¢ Ma- fn de Santa Cruz, eram espanhéis. Aos 22 anos foi ordenado sacerdote ft trabalhou como missionario entre os indlos ao norte de Assungéo. Nes- In época j4 era respeitado por suas virtudes. Fol Cura da Catedral de Jssungao. Convidado para assumir o cargo de Vigério Geral da Diocese, filo aveitou pois queria dedicar-se inteiramente aos Indios. Em 1609, pntrou para a Companhia de Jesus. Falava o guarani ¢ conhecia outros Halstoe do Paraguai. Assim, foi destinado, junto com o padre Vicente Grif, a pacificar os guaicurus do Chaco que, ha muitos anos, aterrorl- Tivatn og colonos. Por distinguir-se nessa atividade, fol enviado em 1611 para a Missdo de Santo Inécio Guacu que, dois anos antes, havia sido Mindada pelo padre Marciel Lorenzana. Nessa redueao, que era a mais intiga do Paragual, dedicou-se com afinco a seu trabalho evangelizador. Nesce mesmo ano, substituiu 0 padre Lorenzana e tornoua redugdo-mo- delo. Em 1615 fundou, & margem esquerda do rio Parané, as, redu- ges de Sant’Ana ¢ tapud e, na margem direita desse rlo, fundou Jagua- fooa, em 1618, No ano seguinte, fundou Concepoién | ou Conceigéo, froximo & margem direita do rio Uruguai, onde permaneceu por seis a pee ats consolidar a reducdo. Em 1626, atravessou o rio Urugual e fun. flow a redugao de SAo Nicolau. Nesses dois anos que precederam 0 Sou tov iiio, ainda fundou Sao Francisco Xavier, Nossa Senhora da Cande- livia, Agsuncao de Nossa Senhora e Todos os Santos do Caaré ou Mar tics em todos os momentos esteve sempre acompanhado de um pal- He sa'virgem Conquistadora de quem era devoto. Na redugao de Todos mente com o padre Afonso Ro- os Santos do Caaré ou Martires foi, junta drigues, morto pelos emissarios do Cacique Nhecu. Muito se poderia escrever sobre 0 padre Roque Gonzalez, seu grande idealismo e seu desprendimento a0 penetrar em terras inospi- tas levando consigo a confianga de conquistar os Indios. zélez, Afonso Rodrigues e Jo- Atualmente, os padres Roque Gon: “tres Martires das Missées”. do de Castilhos sao conhecidos como os 2. CRIST6VAO DE MENDONZA Seu nome completo era Rodrigo de Mendonza y Orellana, 0 que evidencia ascendéncia nobre pois, seus antepassados haviam sido “Grandes de Espanha”, titulo do mais alto quilate na corte ibérica, Nas- ceu na cidade de Santa Cruz de la Sierra em 1589, onde seu pal foi Go- vernador. Contrariando a vontade de sua familia partiu para Cordoba del Tucuman, centro da antiga provincia jesultica do Paraguai. Ao ingres- sar na Congregagao, adotou 0 nome de Cristévao de Mendonza, devido a sua devogao aquele santo. Desde 0 inicio, dedicou um especial interes- se as problemas ligados com 0 Indio. Os documentos que se referem a ele chamam-no “el buen padre Cristobal”. Aos 30 anos foi ordenado sa- cerdote. Guaira foi seu primeiro campo de trabalho, em 1622. Essa regiéo localizava-se entre as margens esquerdas do ltararé, Paranapanema © Parana e direita do Iguacu, no interior do Estado do Parana. Junto com © padre Anténio Ruiz de Montoya, destacou-se logo pelas atividades em favor dos silvicolas. Quando os bandeirantes atacaram essas redugées, decidiram partir junto com os Indios em busca de seguranga no Paraguai. Continuando sua missdo atravessou o rio Uruguai e entrou no Tape onde fundou Sdo Miguel, em 1632. Abriu-se, assim, um novo cam- po de acao ao padre Cristovéo de Mendonza. Depois, fundou Sao José. Esteve presente em S40 Cosme e Damiéo, Candelaria e Jesus-Maria. Percorreu a serra, transportando os leitos do Caf e Taquari, tornando-se conhecedor da regiéo e de suas imensas pastagens desertas. Foi ele quem introduziu 0 gado no Rio Grande do Sul em 1634, como forma de resolver o problema de alimentagéo dos habitantes das redugées. O padre Luiz Gonzaga Jaeger disse: “Quanta poesia nao encerra ainda hoje, apés trés longos séculos, contemplar, em espirito, esses dois tro- peiros improvisados, vestidos de batinas surradas, cobertos de poeira Vermetha, maltrapilhos, causticados pelos raios de sol, escarranchados semana a flo em estropeados matungos, porém, imensamente felizes, tangendo carinhosamente 0 seu rico tesouro através de impetuosos ri- os, invias serranias, densas florestas, campos abertos, banhados profun- dos, até verem os animais nos hospitaleiros currais das redugées rio- 7A grandenses, Quem negaria ao pac ‘istvai Padroeiro de nossas cotancias?” rig Crisiovko de Mendonza o td Em 1685, estando em Jesus-Mari 'y | ia, apareceram al i sidentes nos aluais campos do Sto Francisco de Paula, eee para oristianizalos, Ficou sabendo que, por Ia, era treqlente 0 tratico d Sci : jade de ver “‘in loco” a regido a fi Gla 0. que fazer, para Id se dlrigly o padre Cristevéo cuiMondereat m uirito” como era chamado carinhosame pelos indios. Provavelmente, prometeu-the eleecreaT oat um futuro bem préximo. Ao retornar, ETO SSIS aaa . , passando pelo arroio Ibi do. segundo 0 padre vaeger, entre ‘Sa i i 0 Gaxiee , entre Santo Indcio da Feli Sul, junto ao atual rio Pial, fol atacad infisis. Algun fed Sul, ° i io por Indios infiéis. Al ide sua comitiva foram mortos, “Pai Quirito” foi sa ata 28 ‘ . 0” foi trucidado. Era di abril de 1635. O local do massacre foi locali fet healinorhe nicipio de Caxias do Sul. mer eel (1) in Correio do Povo - 03-03-70 — a Grande do Sul. Mério Gardelin, eet ace cmaas nal Eg 3, ANTONIO SEPP ‘Antonio Sepp von Seppenburg nasceu em Caldaro, no Tirol Aus- {rfaco, hoje Italiano, em 22 de novembro de 1655. Quando crianga, fez parte ‘do Coral dos “Meninos Cantores da Corte de Viena”. Aos 19 a fos, entrou para a Companhia de Jesus. Era portador de um alto nivel cultural. Foi aluno brilhante e, depois de graduar-se em Filosofia e Teo- jogia, tornou-se Mestre em Retérica em varios colégios de sua provin- cia obtendo sompre uma grande aceitacdo. Faleceu na redugéo de Sao Sosé, situada no territério entre o Parand e o Uruguai, em 1733. Dedi- cou mais de quarenta anos de sua vida a0 convivio com indios da banda Scidental do rio Uruguai. Foi o responsdvel pela fundagao de Sao Jodo Batista, O padre Arthur Rabuske revela que, no manuscrito “Destruicao da Jerusalém Paraguaia”, do padre Sepp, percebe-se que ele esteve de 1710 a 1713, na redugao de Sao Luiz. © notaével padre Sepp destacou-se na mtsica como “cantor, mu- sicista, mestre de canto & mtisica instrumental, compositor e fabricante de instrumentos musicais” (1). Era amigo das criangas que o chamavam de “Pay Anté”. Conhecia varias Iinguas como o latim, grego, hebratco, ‘aleméo, espanhol e guarani. Embora nao fosse médico, precisou de- sempenhar fungées similares como aconteceu também com os outros padres. Destacou-se na literatura escrevendo varias obras onde comenta gua viagem da Europa a América e descreve os costumes © habilidades dos Indios. Traduziu para o alemao algumas obras do padre Antonio Viei- ra, de quem era admirador. “Viagens as Missdes e Trabalhos Apostoli- cos” de autoria do padre Sepp constitui-se num trabalho de real valor pe- las informagdes que oferece. (1) RABUSKE, Arthur, P. Antonio Sepp, S. J., © Génlo das Missées Guaranis, p. 24. o gue See [Sage esta a eee ae 1626 a 1638 com a lacallzacao aproximada is EDUGOES JESUI“ICAS LnceNoa gates cua ocaizsae eter ‘Sen is espns Corte do mspado Rio Gre: 2 do Sul de 1626-1638, com a localizago aproximeda dss Redupbes José tices... Mapa Organizado pelo P. Luiz Gonzaga Jaeger, S. J. Maracaju le} Naptae’ ued Conceigag 2 0 imen.so compo apostélico-missionsrio do Pe, Roque Gonzblez entre os anos que vbo ou, so qusermos,jbde 1etDemdlanta, nS BIBLIOGRAFIA BACK, Silvio. Reptblica Guarani. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982. 116 p. BERNARDI, Mansueto. Missées, Indios e Jesuitas. Porto Alegre, Sulina, 1982. 174 p. BRUXEL, Amaldo S. J, Padre Roque: a epopéia da libertagao guarani. S40 Paulo, Loyola, 1977. 283 p. CORREIO DO POVO. Porto Alegre, 1970, 28-07-70 e 10-01-71. FACULDADE DE FILOSOFIA, CIENCIAS E LETRAS DOM BOSCO. Anais do Il Simpésio Nacional de Estudos Missioneiros. Santa Rosa, , 1977, 240 p. FERREIRA FILHO, Arthur. Historia Geral do Rio Grande do Sul. Porto Ale gre, Globo, 1978. 289 p. FORTES, Amyr Borges. Compéndio de Histéria do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Sulina, 1976. 183 p. FRAGOSO, Tasso. A Batalha do Passo do Rosario. Rio de Janeiro, Mi: litar, 1922. 368 p. FREITAS, Décio. O Socialismo Missioneiro. Porto Alegre, Movimento, 1982. 79 p. GAY, Jodo Pedro. 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Hafkemeyer, expressa em seu trabalho “A Conquista Portuguesa no Rio Grande do Sul” por julgarmos que a anélise do assunto enfocado pel autor 6 acessivel para os fins a que se propée a presente monografia, AGRADECIMENTO ‘A impressao desta monografia somente tornou-se possivel ofa a gentileza da Prefeitura Municipal administragao Joaquim Luiz Nasi mento e Camara de Vereadores de Sao Luiz Gonzaga, bem como apoio da Grafica A Noticia. A essas entidades, 0 Departamento Histérh co-Cultural da II Mostra da Arte Missioneira apresenta penhorados agri: decimentos. Composto ¢ Impresso na Grafica A Noticia Ltda. Ay. Senador Pinheiro, 2510 SAO LUIZ GONZAGA — RS.

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