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Está nas mãos do TSE: ficha limpa e cotas femininas nas eleições de 2010

José Eustáquio Diniz Alves1

Duas leis aprovadas no Congresso Nacional, se colocadas em prática, podem melhorar a


política brasileira.

A primeira é a Lei da Ficha Limpa que foi fruto de ampla mobilização popular e torna
inelegíveis os condenados em órgãos colegiados da Justiça. Segundo o site do G1:
“Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) de quatro estados já vetaram desde segunda-feira
(26) as candidaturas de 12 políticos (três a deputado federal e nove a deputado estadual)
para as eleições de outubro com base na Lei da Ficha Limpa. Em todos os casos os políticos
impugnados poderão recorrer das decisões”.

O cumprimento desta Lei pode contribuir para a moralização da política e para evitar a
situação de impunidade que torna a política um refúgio para pessoas que não se pautam
pelo respeito à coisa pública.

A segunda Lei é aquela que estabelece um percentual mínimo de 30% para cada sexo nas
listas de candidaturas para os cargos nas eleições proporcionais. Originalmente a Lei de
Cotas falava em reservar 30% das vagas para o sexo com menor participação, o que não
implicava o preenchimento da reserva estabelecida. Para mudar esta situação a Lei foi
modificada em 2009 e agora diz que os partidos precisam preencher os 30%, com o
objetivo de garantir maior igualdade de oportunidade dos eleitores na hora de escolher as
candidaturas a deputados/as federais e estaduais.

A nova lei de cotas já apresentou resultados favoráveis, pois as eleições de 2010 já


apresentam um recorde no número de mulheres candidatas. Contudo, este recorde poderia
ser ainda maior se os 30% de piso mínimo de candidaturas para cada sexo fosse respeitado.
Infelizmente, algumas autoridades da justiça estão dizendo que a cota não foi cumprida
porque não podem obrigar as mulheres a serem candidatas. Acontece que, neste ano de
2010, o país tem 2,5 mulheres para cada vaga da Câmara e quase 3 mulheres para cada
vaga das Assembléias Legislativas (e distrital).

Portanto, não falta mulher candidata. Para que a disputa fique equilibrada e os eleitores
tenham maior igualdade de oportunidade de escolha, em termos de gênero, a solução é
restringir o número de homens, pois, o que não é possível e nem justo é o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) ignorar a mudança da Lei e fazer uma interpretação contrária ao caminho
que favorece ao tradicionalismo machista na política. Os partidos podem mudar suas listas
até o dia 04 de agosto de 2010. O que se espera é que os 30% sejam respeitados.

1
Professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Tel: (21) 2142 4696 ou 2142
4689 E-mail: jed_alves@yahoo.com.br.
Segundo o site Último Segundo, o ministro Henrique Neves, do Tribunal Superior Eleitoral
disse que caberá à Justiça Eleitoral interpretar a lei nos casos concretos que chegarem a
julgamento. Ele acredita que a medida mais drástica que poderia ser adotada é o
indeferimento do registro de todos os candidatos do partido ou coligação que não
apresentar a porcentagem mínima de registro do sexo minoritário.

Assim, está nas mãos do TSE garantir a efetividade destas duas importantes Leis que
podem contribuir para a melhoria da qualidade da política nacional, pois o Brasil precisa de
um Poder Legislativo mais “limpo” e mais democrático em termos de representatividade de
gênero.

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