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Filosofia: Do pensamento mítico religioso ao pensamento político

O homem pode ser identificado e caracterizado como um animal que pensa e cria explicações.
Criando – as, cria pensamentos. Nesta criação estão presentes a base mitológica (pensamento por figuras e
explicações metafísicas) e a base racional (pensamento por conceitos).
Os mitos cumpriam uma função social moralizante de
tal forma que essas narrativas ocupavam o imaginário dos
cidadãos da polis grega direcionando suas condutas.
Nesse mundo mítico nada é natural, ao contrário, tudo
é sagrado e independe da vontade do ser, já que todo o seu
destino é previamente traçado pelos deuses, e deles depende.
Cabe, portanto, a esse estado de sacralização determinar quais
ritos, leis e princípios normativos todos devem acatar, se
quiserem estar em conformidade com a vontade dos deuses.
O mito é, assim, determinista e trágico, absolutamente
pessimista, uma vez que os indivíduos não têm controle sobre
seu próprio destino: a determinação deste, cabe aos deuses.
Foi nessa ordem de ideias que o mito foi o primeiro
modelo de construção da realidade, na Antiga Grécia. Ele teve
como função além de explicar a própria realidade, acomodar,
tranquilizar, apaziguar o indivíduo diante de um mundo tão Eros e Psique:
assustador. Eros, também conhecido como Cupido, é o
Essas narrativas possuíam um fundo moral, o alerta deus grego do amor. O que mais chama a
atenção na mitologia de Eros talvez seja a
para os desígnios dos deuses, que não devem ser contrariados estória de sua paixão por Psique, uma mortal,
apesar de alguns atos heroicos. Contudo, uma nova tão linda, que teria despertado a ira de

aristocracia se formava e a vida na pólis cada vez mais é Afrodite, que vinha perdendo a devoção que os
mortais lhe tinham para a bela mortal. Afrodite
direcionada pela política, e aos poucos a moral estabelecida enviou, então, seu filho Eros para fazer com
pelas narrativas míticas foi sendo substituídas pela ética e que Psique se apaixonasse pelo homem mais
feio e vil que existisse. Mas Eros acabou se
pelos valores da cidadania grega. O cidadão grego cada vez apaixonando por Psique, e os dois acabaram
mais participativo não considerava a ideia de não controlar a se casando, sem que, porém, Psique pudesse
ver o rosto do marido, pois ela pensava que
própria vida. Na vida pública da “polis”, os homens livres esse casamento era um castigo dos deuses.
manifestavam suas posições escolhendo entre iguais o Psique acabou por quebrar as regras impostas
e viu o rosto de Eros que, enfurecido,
direcionamento das decisões e das ações da cidade-estado. abandonou-a. Mas seu amor por Eros era tão
O nascimento da filosofia pode ser entendido como o intenso que a bela Psique findou por procurar

surgimento de uma nova ordem do pensamento, complementar Afrodite para pedir-lhe que intercedesse por
ela, ajudando-lhe a encontrar Eros. Afrodite
ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. Uma visão de impôs-lhe, então, uma série de tarefas que
mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas deveriam ser cumpridas para que Psique
pudesse voltar a ver seu amado Eros. Depois
de geração a geração por séculos e que transmitiam aos jovens de receber a ajuda de vários seres, Psique
a experiência dos anciãos. conseguiu cumprir todas as tarefas, e Zeus
ratificou o seu casamento com Eros, a pedido
Os mitos apresentavam uma religião politeísta, sem deste. Essa união resultou ainda no
doutrina revelada, sem teoria escrita, isto é, um sistema nascimento de seu filho Voluptas (Prazer).
religioso, sem corpo sacerdotal e sem livro sagrado, apenas concentrado na tradição oral. Ao aliar crenças,
religião, trabalho, poesia, os mitos traduziam o modo que o grego encontrava para expressar sua integração
ao cosmo e à vida coletiva. Os gregos a partir do século V a.C. viveram uma experiência social que
modificou a cotidianidade grega: a vivência do espaço público e da cidadania. A cidade constituía-se da
união de seus membros para os quais tudo era comum.
A reflexão filosófica acerca da ‘política’ contribui para nossa
educação enquanto cidadãos e nos fornece uma base para o exercício
da cidadania.
Aristóteles (384-322 a.C.), é tido como o mais erudito e sábio dos
filósofos gregos. Em seu livro Política, Aristóteles intentou reaproximar
o exercício da política ao exercício da ética, na busca de restaurar a
moral política grega, conspurcada pela sofística, ainda em voga naquele
momento.
Para Aristóteles, o grande objetivo da vida do homem era ser
feliz; para isso, deveria desenvolver suas aptidões. A natureza, tal qual
era, não permitia que um homem isolado se desenvolvesse plenamente.
Por essa razão, os homens se uniam (sociedade) para a realização de um bem maior e mais importante: a
constituição e manutenção da polis.
Esse fenômeno, segundo Aristóteles, acontecia naturalmente, e o homem seria assim, naturalmente
um "animal da cidade" (em grego, polis), ou seja, o homem seria, por natureza, “um animal político”,
escreveu Aristóteles.

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